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JASIEL SODRÉ VELLOSO

HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DO CÂNON

Bíblias Hebraica, Católica e Evangélica

São Gonçalo, 13 de abril de 2020

Jasiel Sodré Velloso


HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DO CÂNON

Bíblias Hebraica, Católica e Evangélica

Trabalho apresentado como requisito parcial para


obtenção do grau de bacharel em Teologia, na
disciplina de introdução bíblica.

Professor Marcos Luiz Lopes

São Gonçalo, 13 de abril de 2020

ÍNDICE

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Introdução ..................................................................................................................04

Canonização ..............................................................................................................05

A Septuaginta (LXX)...................................................................................................06

O Cânon do Velho Testamento .................................................................................07

O Cânon do Novo Testamento ..................................................................................09

Conclusão ..................................................................................................................10

Referências Bibliográficas .........................................................................................12

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INTRODUÇÃO

A Bíblia, livro sagrado, sagradas escrituras ou simplesmente "a palavra de


Deus", hoje em particular no Brasil, é facilmente encontrada em qualquer loja, em
tamanhos diferentes, com capas para todos os gostos e grande variedade de
versões e traduções. Existem versões comentadas, em Braile e ainda em formatos
digitais ou áudio. Mas nem sempre foi assim. As escrituras sagradas começaram a
ser desenvolvidas em tempos bem remotos, muito antes da vinda de Cristo.
Algumas perguntas muito frequentes são: como e quando as santas
Escrituras ganharam o formato que temos hoje? Como chegou-se à conclusão de
que os livros contidos na Bíblia são realmente inspirados por Deus? O trabalho a
seguir tem o objetivo de esclarecer as perguntas, mostrando o processo conhecido
como canonização.

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CANONIZAÇÃO

As palavras cânon e cânone vem do grego, kanon, que significa vara reta,
régua, regra de padrão. Na própria Bíblia, no livro de Ezequiel, vemos a expressão
"cana" ou "cana de medir" sendo utilizadas várias vezes
No contexto da literatura bíblica a palavra cânon passou a designar as obras
que "estão em conformidade com a regra ou padrão da inspiração e autoridade
Divinas" (Archer, p. 69).
No ano 350, Atanásio usou a expressão "cânon da igreja" para se referir aos
livros reconhecidos como inspirados por Deus, sendo eles, portanto padrão de fé e
conduta.
Quando dizemos que um livro foi canonizado, estamos afirmando que o
mesmo se conforma com o padrão de inspiração divina e foi aceito como regra
autorizada em matéria de fé e prática.
O processo de canonização dos livros bíblicos envolveu três aspectos:
Revelação, inspiração e canonização.
1. Revelação: a manifestação de Deus revelando-se e revelando a sua vontade ao
homem.
2. Inspiração: o registro escrito sobre atuação específica do Espírito Santo da
Verdade que Deus tornou conhecida na revelação
3. Canonização: o reconhecimento dos escritos que são registros da Revelação
divina e que são divinamente inspirados. A canonização então é o
reconhecimento humano sobre a licença do Espírito Santo de uma coleção
definitiva de livros que contém Autoridade Divina por serem inspirados pelo
Espírito de Deus.

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A SEPTUAGINTA (LXX)

A cidade de Alexandria, planejada por Alexandre e seu arquiteto, tornou-se a


capital e logo o centro da cultura grega. Soter iniciou uma biblioteca, que se tornou a
maior do mundo antigo. Ele desejava ter ali, uma cópia de todos os livros
conhecidos, traduzidos para o grego e foi então que Filadelfo solicitou ao sumo
sacerdote Eleazar para providenciar a tradução dos escritos hebraicos. Resultou-se
então, na Septuaginta (LXX), tornando-se a escritura para a comunidade hebraica
de fala grega.
A tradução ocorreu entre os séculos III e I a.C.

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O CÂNON DO VELHO TESTAMENTO

Depois que Jerusalém e o templo foram destruídos, no ano 70, os eruditos


judeus mudaram-se para a cidade de Jâmnia e ali, no ano 90, um concílio discutiu a
questão de quais livros deveriam ser incluídos no cânon do velho testamento. Foram
reconhecidos oficialmente 24 livros da bíblia hebraica (39 livros nas nossas
traduções em português). Esses livros já eram aceitos como inspirados, como
podemos perceber na utilização dos mesmos pelo próprio Jesus e seus apóstolos.
Apesar de não sabermos com mais detalhes como só livros do antigo
testamento foram selecionados, algumas referências nos informam que alguns
textos do povo israelita eram aceitos como inspirados por Deus já a muito tempo
(Êxodo 20:1-24:8). Podemos ver também (II Reis22) que durante o reinado de
Josias (cerca de 621a.C) o sacerdote Hilquias descobriu o livro da Lei e depois de
ter ouvido a leitura dele, o Rei reconheceu que estavam desobedecendo a Deus pois
estavam contra as palavras daquele livro. O rei Josias e o povo de Israel
reconheceram a autoridade divina expressa no livro sagrado.
Outro fato importante é que depois da volta do povo de Israel do cativeiro da
Babilônia, em 458 a.C., Esdras trouxe o livro da Lei para o povo (Esdras 7:25), que
foi aceito como autoridade divina para a vida do homem. A reverência do povo para
com a Lei se revela no fato de ficarem de pé para ouvirem sua leitura (Neemias 8:5).
Alguns fatores foram determinantes na canonização dos livros do velho
testamento: a atuação do Espírito Santo determinava quais livros eram divinamente
inspirados; o povo Judeu aceitava e ensinava que até a época de Alexandre o
grande (333a.C); os profetas profetizaram através de atuação do Espírito Santo.
Assim os judeus não aceitaram como inspirado por Deus nenhum livro produzido
depois desta época. Somente os livros escritos em hebraico poderiam ser aceitos
como canônicos.
Na formação do cânon mais um aspecto precisa ser destacado: o que diz
respeito aos livros apócrifos. A palavra apócrifo vem do grego e significa escondido;
oculto; secreto. Os livros chamados de Apócrifos também são conhecidos como o

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pseudoepigrafos (escritos falsos) porque seus autores usavam pseudônimos. A
palavra grega deuteros significa segundo, assim referindo-se aos livros
secundariamente canônicos. Os livros Apócrifos foram escritos em grego e depois
da época do profeta Malaquias (período inter bíblico).
Os livros apócrifos são: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, I e II
Macabeus. Além desses, algumas partes do livro de Ester e acréscimos ao livro de
Daniel.
Quando o Concílio de Jâmnia fixou os livro canônicos do velho testamento,
deixou de fora aqueles livros e textos que hoje conhecemos como apócrifos, embora
estes livros estivessem presentes na tradução que foi feita no velho testamento para
o grego em 250 a.C. e que se tornou conhecida como septuaginta ou LXX.
Em 383 d.C., Jerônimo, quando fez a tradução da Bíblia para o latim, não
tinha a intenção de traduzir os livros Apócrifos, mas depois incluiu na sua tradução
os livros de Tobias e Judith. Mais tarde foram incluídos os demais livros. A vulgata
(como se tornou conhecida a tradução de Jerônimo), tornou-se o foco de uma
acirrada polêmica em torno dos livros Apócrifos. Só no século XVI quando a Igreja
Católica Romana reagia contra a reforma protestante, que afirmava não ser os
apócrifos inspirados por Deus, foi que o Concílio de Trento, em 8 de Abril de 1546
tornou obrigatório aceitar os livros apócrifos sob pena de excomunhão e lançando
um anátema contra as bíblias protestantes. Essa afirmação da igreja católica da
autoridade dos livros apócrifos deve-se ao fato de que vários de seus erros teriam
base nos textos apócrifos como a doutrina do purgatório que é baseada em II
Macabeus.

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O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO

Num período de mais ou menos 100 anos após a ressurreição e ascensão de


Cristo, foram escritos os 27 livros do Novo testamento. A coletânea foi reconhecida
como autorizada pela igreja cristã, tendo sido a partir desses livros a determinação
de que seriam incluídos na seleção, que só foi oficializada em 397d.C.
Os livros que formam o cânon do Novo Testamento (segundo Viertel, 1989,
p.122), foram selecionados de acordo com os seguintes critérios: consistência
doutrinária, escrito originado nos apóstolos, quando não escrito por Apóstolo escrito
por alguém ligado a um representante do corpo apostólico, e inspiração.
Com surgimento dos grupos heréticos, tornou-se necessário uma relação dos
livros aceitos como inspirados por Deus para as igrejas cristãs. Esses livros já
existiam, pois o primeiro livro do Novo Testamento foi escrito no ano 50 d.C. e o
último no ano 95. Pelo que notamos em segunda Pedro 3 :15-16, na época em que
Pedro escreveu esta carta, as epístolas de Paulo já eram aceitas como escrituras.
No começo do segundo século, as cartas de Paulo já estavam colecionadas e
aceitas como inspiradas.
Uma das primeiras listas de livros, ou Cânon, foi feita pelo herege Marcião
(cerca de 144 d.C.) que só aceitava os livros que julgou livres de influência do velho
testamento e do judaísmo. Os cristãos reagiram a essa lista e isso mostra que as
igrejas cristãs já tinham aquela época um conjunto de livros que reconheciam como
inspirados.
Em 367, Atanásio, Bispo de Alexandria escreveu uma carta às igrejas que
estavam sobre a sua responsabilidade e nesta carta relacionou os 27 livros do novo
testamento.
O Concílio de Cartago em 397 d.C. adotou uma lista de livros que deveriam
ser lidos nas igrejas como escritura divina e essa lista contém exatamente os livros
que hoje conhecemos como Novo Testamento.

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CONCLUSÃO

A bíblia hebraica é composta dos antigos escritos, inspirados por Deus,


conhecida pelos cristãos como Velho ou Antigo testamento. Uma coleção de 24
livros assim distribuidos:
- Torah ou Torá, que significa Lei, são os cinco primeiros livros de Moisés
conhecidos pelos cristãos como pentateuco. Os livros são os segujntes: Genesis,
Êxodo, Levíticos, Números e Deuteronômio.
- Neviim (Profetas): esta seção inclui os profetas anteriores, os profetas posteriores
e os doze profetas, que estão assim distribuídos: Josué, Juízes, Samuel, Reis,
Isaías, Jeremias, Ezequiel e Os doze profetas.
- Ketubim (Escritos): esta terceira parte, reúne os demais livros, que aparecem em
última posição no cânone hebraico. Eles estão na seguinte ordem: Salmos,
Provérbios, Jó, Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras e
Neemias, e por último, Crônicas.
As letras iniciais dessas divisões formam o acrônimo TaNaK, que é o nome
que os judeus dão à Bíblia.
A bíblia hebraica, como já citado acima, é composta apenas pelo que os
cristãos chamam de velho ou antigo testamento. Já a bíblia cristã, que está
obviamente ligada a bíblia hebraica, além do antigo, também é composta pelos
escritos inspirados após a vinda de Cristo, que são denominados como Novo
testamento. No entanto, católicos e evangélicos (ou protestantes) divergem sobre a
divina inspiração de alguns livros do antigo testamento: os livros apócrifos. Os
evangélicos, assim como os judeus, não creem na divina inspiração desses livros, e
por esse motivo, a bíblia evangélica possui o antigo testamento semelhante a bíblia
hebraica, havendo diferença apenas na forma como estão distribuídos , ou ainda
livros que na versão evangélica aparecem divididos em duas partes (como I e II
Samuel, por exemplo), mas que na versão hebraica aparece como um só livro. Já a
bíblia católica, possui o Antigo testamento "maior". São sete livros a mais, além de

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adições aos livros de Ester e ao de Daniel, e também alguns livros que embora
sejam semelhantes, são chamados de forma diferente (em algumas versões) como
acontece com os livros de I e II Reis e I e I Samuel, que na bíblia católica são
chamados de I, II, III e IV Reis.
A bíblia católica fica então assim: Antigo testamento: Genesis, Êxodo,
Leviticos, Números, Deuteronomio, Josué, Juízes, Rute, I e II Samuel, I e II Reis, I
e II crônicas, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, Jó, Salmos, I e II Macabeus,
Provérbios, Eclesiastes, Cantares, Sabedoria, Eclesiástico, Isaías, Jeremias,
Lamentações, Baruque, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amos, Obadias, Jonas,
Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. O Novo
testamento: Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos, Romanos, I e II Coríntios,Galatas,
Efesios, Filipenses, colossenses, I e II tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito,
Filemom, Hebreus, Tiago, I e II Pedro, I, II e III João, Judas e Apocalipse.
A Bíblia evangélica está distribuída da seguinte maneira: o Velho
testamento: Genesis, Êxodo, Leviticos, Números, Deuteronômio, Josué, juízes,
Rute, I Samuel, II Samuel, I reis, II reis, I crônicas, II crônicas, Esdras, Neemias,
Ester, Jó, Salmos, provérbios, Eclesiastes, Cântico dos cânticos, Isaías, Jeremias,
Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias,
Naun, Habacuque, Sofonias,Ageu, Zacarias e Malaquias. O Novo testamento:
Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos dos apóstolos (ou atos do Espírito Santo),
Romanos, I Coríntios, IICoríntios, Gálatas, Efesios, Filipenses, Colossenses,
ITessalonicenses, IITessalonicenses, I Timóteo, Timóteo, Tito, Filemom, Hebreus,
Tiago, IPedro, IIPedro, I João, II João, II João, Judas e Apocalipse de João.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Imprensa da Fé,


1991

HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. Tradução de


Cláudio Vital de Souza. 2ª ed, revisada e ampliada. Rio de Janeiro: JUERP, 1986.

VIERTEL, Weldon E. A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro: JUERP, 1989

LIMA, Delcinalva de Souza. Introdução Bíblica. Delcinalva de Souza Lima; Delcir


de Souza Lima. Apostila do curso de teologia do Seminário Teológico Batista de
Niterói, 1994.

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