I. Testemunho ocular
O Novo Testamento surgiu a partir de um testemunho ocular. Pedro, escrevendo
sua segunda carta, tinha a certeza da integridade de suas revelações: “Porque não vos
demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas
engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua
majestade” (2Pe 1.16).
Os Evangelhos são praticamente o único relato que temos sobre a vida de Jesus.
Historiadores do primeiro e do segundo século como Josefo, Suetônio, Tácito e Luciano
escreveram sobre a existência de um homem chamado Jesus. Eram homens hostis ao
Cristianismo e desinformados a seu respeito. Não obstante, mostram-nos que o
Cristianismo estava espalhado por toda a parte no começo do segundo século, e que a
existência histórica de Cristo era aceita como fato até por seus inimigos 1. Mas se não
tivéssemos os Evangelhos, saberíamos muito pouco sobre Jesus Cristo.
A confiabilidade do Novo Testamento repousa sobre a base deste testemunho
ocular. Praticamente todos os eventos da vida de Jesus foram registrados por alguma
testemunha ocular. Como diz Josh MacDowell, “quando ocorre um acontecimento na
história e existem pessoas vivas suficientes que foram testemunhas oculares ou
participaram do acontecimento, e quando se publica essa informação, é possível
verificar-se a validade de um determinado acontecimento mediante as provas
circunstanciais” 2 . Quando os Evangelhos foram escritos, toda uma geração de
testemunhas oculares estava viva. Os fatos poderiam ser facilmente negados caso
fossem falsos. Não podemos ignorar que a presença de duas testemunhas oculares é
considerada como prova em qualquer tribunal do mundo. Nesse sentido, o Novo
Testamento é uma prova histórica documental dos fatos que relata. Comparando o
Novo Testamento com as teorias críticas modernas, percebe-se que essas têm muito
mais cara de “fábulas engenhosamente inventadas” pelos homens, do que os escritos
apostólicos, que permanecem como os mais confiáveis da história.
1 Ver J. I. Packer, M.C. Tenney, W. White Jr. O Mundo do Novo Testamento. São
Paulo: Editora Vida, 1988, p. 101-102.
2 Josh McDowell. Evidência que Exige um Veredito. 2ª Edição. São Paulo: Editora
O que faz o Novo Testamento algo confiável, além do caráter ocular de seu
testemunho, é sua comprovação documental. Se o Novo Testamento não puder ser
aceito como um documento histórico confiável, então toda a história antiga deverá ser
questionada. A razão é simples: O Novo Testamento é o documento histórico mais
fundamentado historicamente de todos os tempos. A Bíblia, quando submetida aos
critérios usados para testar todos os documentos históricos, se demonstra extremamente
confiável3.
Atualmente sabe-se da existência de mais de cinco mil e trezentos manuscritos
gregos do Novo Testamento. São ainda mais de dez mil manuscritos da Vulgata Latina
e, pelo menos, nove mil e trezentos de outras antigas versões. Assim, a soma de cópias
de porções do Novo Testamento chega a vinte e quatro mil. Nenhum outro documento
da história antiga se aproxima desses números e dessa confirmação. O segundo
documento antigo mais comprovado, nesse sentido, é a Ilíada de Homero, que consta
de 643 manuscritos sobreviventes, sendo que o mais completo e conservado é de mais
de mil e quinhentos anos depois da escrita da obra. Já o Novo Testamento possui
manuscritos contendo fragmentos do texto bíblico, com menos de cem anos de espaço
entre os originais. Quando comparado a outras obras históricas da antiguidade, o Novo
Testamento desponta como incomparável 4 . Para o historiador imparcial, a história
antiga deveria ser abandonada, se o Novo Testamento não puder ser aceito como um
livro histórico.
Apesar de não dispormos dos originais (autógrafos) do Novo Testamento, o
testemunho sobre os livros do Novo Testamento é muito convincente. Entre os
principais manuscritos históricos estão os Papiros. Esses manuscritos são antigos e
testemunhas importantíssimas da confiabilidade do Novo Testamento. Um exemplo de
manuscritos assim é a série de manuscritos Chester Beatty (P45 P46 P 47) datado do
terceiro século, que contém boa parte do NT. Ou o manuscrito Papiro Ryland 457 (P52),
datado do início do segundo século, que contém o Evangelho de João 5.
Existem também os Manuscritos Unciais, que são cerca de duzentos e quarenta.
Um deles é o Codex (livro) Sinaiticus, que contém todo o Novo Testamento e data de
331 d.C. O Codex Vaticanus contém a maior parte do Novo Testamento e data do quarto
século. O Codex Alexandrinus data do quinto século e contém todo o Novo Testamento,
3 Josh McDowell. Evidência que Exige um Veredito. 2ª Edição. São Paulo: Editora
Candeia, 1992, p. 49.
4 Por exemplo, da obra “As Guerras Gaulesas” de César, escrito entre 58 e 50 a.C.,
apenas nove ou dez manuscritos existentes são valiosos e o mais antigo data de cerca
de 900 anos após os eventos. Dos 142 livros da História Romana de Lívio (59 a 17
d.C.), sobrevivem apenas 35, e que dependem de vinte manuscritos, e apenas um
deles é de data tão remota quanto o século quarto. Dos 14 livros das Histórias de
Tácito (100 d.C.), apenas quatro e meio sobrevivem, e dependem de apenas dois
manuscritos, um do século nono e o outro do século onze. A História de Tucídides
(460-400 d.C.) depende de oito manuscritos, e o mais antigo do ano 900. O mesmo se
dá com a história de Heródoto (480-425 d.C.). Ver F.F. Bruce. Merece Confiança o
Novo Testamento? 2ª Edição. São Paulo: Edições Vida Nova, 1993, p. 23.
5 Ver Wilson Paroschi. Crítica Textual do Novo Testamento. São Paulo: Vida
exceto parte de Mateus. Há ainda o Codex Ephraemi (quinto século), o Codex Bezae
(quinto-sexto século), e o Washington Codex (quarto-quinto século).
Existem também os Manuscritos minúsculos, que são cerca de 280, e que
embora não sejam tão antigos quanto os maiúsculos, revelam similaridade com os mais
antigos, demonstrando toda uma tradição de cópias com acurada técnica. Sem falar nas
versões antigas. Muitas versões (traduções) primitivas do Novo Testamento ajudam a
entender o texto corretamente. Várias versões “Siríacas” existem, entre elas a Tatian’s
Diatessaron (170 d. C.), a Old Syriac (200 d.C.), a Peshitta (quinto século), e a
Palestinian Syriac (quinto século). A Vulgata Latina, traduzida por Jerônimo (cerca de
400 d.C.), influenciou a Igreja Ocidental. As traduções Cópticas (traduzidas no terceiro
século), incluindo a Sahidic Versão e a Bohairic Versão, influenciaram o Egito.
Através do estudo dos manuscritos gregos e das versões primitivas, os eruditos
têm sido capazes de determinar o texto que é substancialmente fiel ao original. É
evidente que a mão de Deus tem preservado os vários textos através dos séculos, para
habilitar os eruditos a esse trabalho. O resultado dessa pesquisa é que o Novo
Testamento desponta como o livro histórico mais estudado e mais confirmado
documentalmente de todos os tempos.
entender o Novo Pacto ou a Nova Aliança é preciso entender a Aliança como um todo.
Entender a Aliança, ou o Pacto é vital para se entender profundamente a Escritura e
para entender a maneira como Deus dirige e organiza seu plano para esse mundo, e
como se relacionam os testamentos. A Aliança é uma espécie de modus operandi
Divino. É a maneira como ele se relaciona com o ser humano. Não há relacionamento
entre Deus e o homem fora da Aliança, pois desde o início Deus estabeleceu sua Aliança
com o homem e, até o final, Deus permanecerá sendo fiel às estipulações dessa Aliança.
Devemos ver todas as ações de Deus na história como cumprimento ou renovação de
sua Aliança. Assim, a Aliança é o tema que unifica o Antigo e o Novo Testamento que
poderiam ser perfeitamente chamados de Antiga Aliança e Nova Aliança, embora sejam
a mesma Aliança, pois apesar de haverem várias ministrações da Aliança ao longo da
história bíblica, tecnicamente há apenas uma Aliança. Detalhes particulares podem
variar sendo que há progresso à medida que cada nova aliança é ratificada, até porque
a revelação é progressiva, mas elas unem-se de duas perspectivas: manifestam unidade
estrutural e unidade temática8. A unidade estrutural pode ser vista pelo fato de que cada
vez que Deus iniciava uma nova aliança com Abraão, Moisés ou Davi, não limpava o
quadro e começava tudo de novo, mas avançava em relação a seus propósitos originais
Press, 1981, p. 54-56. A exposição a seguir segue apenas em linhas gerais o texto de
Guthrie.
Disciplina: Interpretação dos Evangelhos
Professor: Leandro Lima / Sérgio Lima
AULA 01 – O NT: Confiabilidade e unidade.
Conclusão
Concluímos que o Novo Testamento é um documento testado, confirmado e
coeso. Apesar de ser uma coletânea de Escritos produzidos durante um período de mais
de 50 anos por vários e diferentes autores, ele possui uma unidade básica indestrutível.
As afirmações dos críticos de que não há unidade interna básica são completamente
improcedentes. Por outro lado, devemos estar atentos para a diversidade que existe,
pois de fato cada autor demonstra sua peculiaridade e sua visão, uma vez que a
revelação é progressiva e a inspiração é orgânica. Dessa forma, não é errado falar da
Teologia de Paulo, de Lucas, ou de Pedro, porém, o que não se deve esquecer é que
existe uma unidade profunda de temas que está por detrás das aparentes ênfases
distintas. Essa unidade do Novo Testamento aponta para sua origem divina e inspirada,
e é o que possibilita a existência da Teologia Bíblica como um estudo não apenas
descritivo, mas também normativo. Caso contrário, esta disciplina não passaria de uma
exaustiva e angustiante discussão sobre métodos e pressuposições, não fazendo ao final
nada de concreto, esvaziando completamente a Mensagem do Novo Testamento.