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Disciplina: Interpretação dos Evangelhos

Professor: Leandro Lima / Sérgio Lima


AULA 01 – O NT: Confiabilidade e unidade.

AULA 01 - O NOVO TESTAMENTO: CONFIABILIDADE E UNIDADE


Como surgiu o Novo Testamento? A resposta dos conservadores é precisa: Deus
usou os apóstolos, ou pessoas do círculo apostólico para registrar sua Palavra,
utilizando-se organicamente das capacidades intelectuais, físicas, emocionais e
espirituais de cada autor. Esses homens registraram os fatos históricos com precisão,
mas sua preocupação maior não era simplesmente contar história, e sim proclamar a
mensagem divina aos homens. Deus superintendeu a todo o processo, de modo que 27
livros foram compostos, e reconhecidos como “inspirados”, vindo a fazer parte do
Cânon do Novo Testamento, a partir do reconhecimento da Igreja.

I. Testemunho ocular
O Novo Testamento surgiu a partir de um testemunho ocular. Pedro, escrevendo
sua segunda carta, tinha a certeza da integridade de suas revelações: “Porque não vos
demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas
engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua
majestade” (2Pe 1.16).
Os Evangelhos são praticamente o único relato que temos sobre a vida de Jesus.
Historiadores do primeiro e do segundo século como Josefo, Suetônio, Tácito e Luciano
escreveram sobre a existência de um homem chamado Jesus. Eram homens hostis ao
Cristianismo e desinformados a seu respeito. Não obstante, mostram-nos que o
Cristianismo estava espalhado por toda a parte no começo do segundo século, e que a
existência histórica de Cristo era aceita como fato até por seus inimigos 1. Mas se não
tivéssemos os Evangelhos, saberíamos muito pouco sobre Jesus Cristo.
A confiabilidade do Novo Testamento repousa sobre a base deste testemunho
ocular. Praticamente todos os eventos da vida de Jesus foram registrados por alguma
testemunha ocular. Como diz Josh MacDowell, “quando ocorre um acontecimento na
história e existem pessoas vivas suficientes que foram testemunhas oculares ou
participaram do acontecimento, e quando se publica essa informação, é possível
verificar-se a validade de um determinado acontecimento mediante as provas
circunstanciais” 2 . Quando os Evangelhos foram escritos, toda uma geração de
testemunhas oculares estava viva. Os fatos poderiam ser facilmente negados caso
fossem falsos. Não podemos ignorar que a presença de duas testemunhas oculares é
considerada como prova em qualquer tribunal do mundo. Nesse sentido, o Novo
Testamento é uma prova histórica documental dos fatos que relata. Comparando o
Novo Testamento com as teorias críticas modernas, percebe-se que essas têm muito
mais cara de “fábulas engenhosamente inventadas” pelos homens, do que os escritos
apostólicos, que permanecem como os mais confiáveis da história.

1 Ver J. I. Packer, M.C. Tenney, W. White Jr. O Mundo do Novo Testamento. São
Paulo: Editora Vida, 1988, p. 101-102.
2 Josh McDowell. Evidência que Exige um Veredito. 2ª Edição. São Paulo: Editora

Candeia, 1992, p. 239-240.


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II. Testemunho documental

O que faz o Novo Testamento algo confiável, além do caráter ocular de seu
testemunho, é sua comprovação documental. Se o Novo Testamento não puder ser
aceito como um documento histórico confiável, então toda a história antiga deverá ser
questionada. A razão é simples: O Novo Testamento é o documento histórico mais
fundamentado historicamente de todos os tempos. A Bíblia, quando submetida aos
critérios usados para testar todos os documentos históricos, se demonstra extremamente
confiável3.
Atualmente sabe-se da existência de mais de cinco mil e trezentos manuscritos
gregos do Novo Testamento. São ainda mais de dez mil manuscritos da Vulgata Latina
e, pelo menos, nove mil e trezentos de outras antigas versões. Assim, a soma de cópias
de porções do Novo Testamento chega a vinte e quatro mil. Nenhum outro documento
da história antiga se aproxima desses números e dessa confirmação. O segundo
documento antigo mais comprovado, nesse sentido, é a Ilíada de Homero, que consta
de 643 manuscritos sobreviventes, sendo que o mais completo e conservado é de mais
de mil e quinhentos anos depois da escrita da obra. Já o Novo Testamento possui
manuscritos contendo fragmentos do texto bíblico, com menos de cem anos de espaço
entre os originais. Quando comparado a outras obras históricas da antiguidade, o Novo
Testamento desponta como incomparável 4 . Para o historiador imparcial, a história
antiga deveria ser abandonada, se o Novo Testamento não puder ser aceito como um
livro histórico.
Apesar de não dispormos dos originais (autógrafos) do Novo Testamento, o
testemunho sobre os livros do Novo Testamento é muito convincente. Entre os
principais manuscritos históricos estão os Papiros. Esses manuscritos são antigos e
testemunhas importantíssimas da confiabilidade do Novo Testamento. Um exemplo de
manuscritos assim é a série de manuscritos Chester Beatty (P45 P46 P 47) datado do
terceiro século, que contém boa parte do NT. Ou o manuscrito Papiro Ryland 457 (P52),
datado do início do segundo século, que contém o Evangelho de João 5.
Existem também os Manuscritos Unciais, que são cerca de duzentos e quarenta.
Um deles é o Codex (livro) Sinaiticus, que contém todo o Novo Testamento e data de
331 d.C. O Codex Vaticanus contém a maior parte do Novo Testamento e data do quarto
século. O Codex Alexandrinus data do quinto século e contém todo o Novo Testamento,

3 Josh McDowell. Evidência que Exige um Veredito. 2ª Edição. São Paulo: Editora
Candeia, 1992, p. 49.
4 Por exemplo, da obra “As Guerras Gaulesas” de César, escrito entre 58 e 50 a.C.,

apenas nove ou dez manuscritos existentes são valiosos e o mais antigo data de cerca
de 900 anos após os eventos. Dos 142 livros da História Romana de Lívio (59 a 17
d.C.), sobrevivem apenas 35, e que dependem de vinte manuscritos, e apenas um
deles é de data tão remota quanto o século quarto. Dos 14 livros das Histórias de
Tácito (100 d.C.), apenas quatro e meio sobrevivem, e dependem de apenas dois
manuscritos, um do século nono e o outro do século onze. A História de Tucídides
(460-400 d.C.) depende de oito manuscritos, e o mais antigo do ano 900. O mesmo se
dá com a história de Heródoto (480-425 d.C.). Ver F.F. Bruce. Merece Confiança o
Novo Testamento? 2ª Edição. São Paulo: Edições Vida Nova, 1993, p. 23.
5 Ver Wilson Paroschi. Crítica Textual do Novo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 1993, p. 45-46.


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exceto parte de Mateus. Há ainda o Codex Ephraemi (quinto século), o Codex Bezae
(quinto-sexto século), e o Washington Codex (quarto-quinto século).
Existem também os Manuscritos minúsculos, que são cerca de 280, e que
embora não sejam tão antigos quanto os maiúsculos, revelam similaridade com os mais
antigos, demonstrando toda uma tradição de cópias com acurada técnica. Sem falar nas
versões antigas. Muitas versões (traduções) primitivas do Novo Testamento ajudam a
entender o texto corretamente. Várias versões “Siríacas” existem, entre elas a Tatian’s
Diatessaron (170 d. C.), a Old Syriac (200 d.C.), a Peshitta (quinto século), e a
Palestinian Syriac (quinto século). A Vulgata Latina, traduzida por Jerônimo (cerca de
400 d.C.), influenciou a Igreja Ocidental. As traduções Cópticas (traduzidas no terceiro
século), incluindo a Sahidic Versão e a Bohairic Versão, influenciaram o Egito.
Através do estudo dos manuscritos gregos e das versões primitivas, os eruditos
têm sido capazes de determinar o texto que é substancialmente fiel ao original. É
evidente que a mão de Deus tem preservado os vários textos através dos séculos, para
habilitar os eruditos a esse trabalho. O resultado dessa pesquisa é que o Novo
Testamento desponta como o livro histórico mais estudado e mais confirmado
documentalmente de todos os tempos.

III. Antigo e Novo Pacto


No estudo do Novo Testamento, uma das questões mais importantes diz respeito
ao relacionamento entre os testamentos. Há aqueles, como Bultmann, que veem uma
completa descontinuidade entre os testamentos. Bultmann considera o cumprimento da
profecia do Novo Testamento uma espécie de aborto, uma contradição ao que foi
prometido no Antigo Testamento. Mas é evidente que há uma continuidade entre os
testamentos, e isso fica claro pela simples dependência que o Novo Testamento tem em
relação ao Antigo Testamento. Não existiria um Novo Testamento se não existisse um
Antigo Testamento. O Novo Testamento faz milhares de citações diretas e indiretas ao
texto do Antigo Testamento. Além disso, há uma dependência de vocabulário, história,
temas, personagens, etc. Livros inteiros como Hebreus, por exemplo, simplesmente não
existiriam sem o Antigo Testamento. Todo o conceito de redenção repousa sobre a
autoridade do Antigo Testamento.
Por outro lado, sem o Novo Testamento, o Antigo Testamento seria
absolutamente incompleto. Muitos temas ficariam como que “soltos no ar”. Haveria de
fato um grande vácuo profético e uma imensa ruptura da revelação com a história se o
Antigo Testamento terminasse em si mesmo. As vezes se fala de uma reinterpretação
feita por Jesus da teologia da redenção do Antigo Testamento no Novo Testamento6. É
verdade que Jesus é a pessoa chave para o Novo Testamento, e que este só existe por
causa dele, mas é totalmente improvável que Jesus tenha feito uma reinterpretação do
Antigo Testamento. Parece mais verdadeiro que ele tenha feito a única e verdadeira
interpretação, pois na pessoa dele todas as promessas do Antigo Testamento se
cumprem, ou se cumprirão (Ver Jo 5.39).
Teologia Bíblica do Novo Testamento 7 é Teologia do Novo Pacto. Para

6 Ver Alan Richardson. Introdução à Teologia do Novo Testamento. São Paulo:


Aste, 1966, p. 24-25.
7 Oficialmente, a diciplina Teologia Bíblica começou no século XVIII. Foi J. P.

Gabler que em seu discurso de abertura na Universidade de Altdorf em 1787


trabalhou com o tema “Sobre a distinção apropriada entre Teologia Bíblica e Teologia
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entender o Novo Pacto ou a Nova Aliança é preciso entender a Aliança como um todo.
Entender a Aliança, ou o Pacto é vital para se entender profundamente a Escritura e
para entender a maneira como Deus dirige e organiza seu plano para esse mundo, e
como se relacionam os testamentos. A Aliança é uma espécie de modus operandi
Divino. É a maneira como ele se relaciona com o ser humano. Não há relacionamento
entre Deus e o homem fora da Aliança, pois desde o início Deus estabeleceu sua Aliança
com o homem e, até o final, Deus permanecerá sendo fiel às estipulações dessa Aliança.
Devemos ver todas as ações de Deus na história como cumprimento ou renovação de
sua Aliança. Assim, a Aliança é o tema que unifica o Antigo e o Novo Testamento que
poderiam ser perfeitamente chamados de Antiga Aliança e Nova Aliança, embora sejam
a mesma Aliança, pois apesar de haverem várias ministrações da Aliança ao longo da
história bíblica, tecnicamente há apenas uma Aliança. Detalhes particulares podem
variar sendo que há progresso à medida que cada nova aliança é ratificada, até porque
a revelação é progressiva, mas elas unem-se de duas perspectivas: manifestam unidade
estrutural e unidade temática8. A unidade estrutural pode ser vista pelo fato de que cada
vez que Deus iniciava uma nova aliança com Abraão, Moisés ou Davi, não limpava o
quadro e começava tudo de novo, mas avançava em relação a seus propósitos originais

Dogmática e os objetivos específicos de cada uma”. A partir daí, o mundo acadêmico


começou a se interessar pela Teologia Bíblica. A princípio ela visava ser uma espécie
de reação à Teologia Dogmática ou Sistemática. Hoje se questiona qual foi a intenção
principal dos estudiosos desse período.Será que estavam tentando romper com o
dogmatismo em relação à Bíblia, tentando resgatar os verdadeiros princípios bíblicos,
ou estavam tentando adaptar a Bíblia à modernidade, usando o linguajar bíblico
disfarçado sobre o conteúdo científico moderno? Uma coisa parece bem clara: sob a
pretensa bandeira de voltar aos princípios bíblicos, rejeitando ao dogmatismo
teológico, muitas vezes a Teologia Bíblica cedeu ao dogmatismo científico e
filosófico. Sob o pretexto de descobrir o que realmente a Bíblia queria dizer, muitas
vezes, o que realmente menos importou foi o que a Bíblia queria dizer. Após o
discurso de Gabler em 1787, outros estudiosos seguiram e desenvolveram suas idéias.
F. C. Baur de Tubingen (1792–1860) foi um líder da abordagem racionalista. Ele
empregou a filosofia de Hegel sobre “tese – antítese – síntese” para os escritos do NT.
Então Baur viu contradições entre as ênfases judaicas dos escritos de Pedro e a ênfase
gentílica dos escritos de Paulo. H. J. Holtzmann (1832–1910) incrementou esse
pensamento, denegrindo uma idéia de divina revelação e expondo a teoria de
teologias conflitantes no NT. Wilhelm Wrede (1859–1906) influenciou
consideravelmente a teologia do NT em sua ênfase da abordagem da história das
religiões. Wrede negou que o NT fosse um documento de teologia e o definiu como
uma visão histórica da religião do primeiro século, expressando a crença, a esperança,
e o amor dos escritores. Rudolf Bultmann (1884–1976) enfatizou a abordagem da
crítica da forma para o NT buscando descobrir seu material subjacente. Oscar
Cullmann (n. 1902) enfatizou os atos de Deus na história na realização da salvação do
homem. Isso foi chamado Heilsgeschichte ou “história da salvação.” Cullmann
rejeitou muitas das conclusões da crítica da forma, advogando no lugar a exegese do
Novo Testamento, com uma ênfase histórica. Como outros de sua formação,
Cullmann enfatizou a Cristologia do NT. (Cf. Paul Enns. The Moody Handbook of
Theology. Chicago, Ill.: Moody Press, 1996, Parte 1, Cap. 9).
8 Parte da abordagem a seguir pode ser vista em: O. Palmer Robertson. Cristo dos

Pactos. Campinas: Editora Luz Para o Caminho, 1997, p. 85-268.


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a um nível superior de realização. Já a unidade temática observa-se porque os temas da


Aliança são desenvolvidos a cada nova ministração. No Antigo Testamento foram cinco
as vezes em que a Aliança foi estabelecida ou renovada. Deus estabeleceu e renovou
sua aliança com Adão, Noé, Abraão, Moisés e Davi. O Novo Testamento vem
estabelecer o caráter final da Aliança. O fato é que todas as ministrações prévias da
Aliança deixaram algum vácuo, algo que não foi preenchido, pois promessas e
expectativas não foram plenamente cumpridas. Somente a Nova Aliança, a Aliança em
Jesus, fecha todas as lacunas. A última Aliança une os vários conceitos da promessa
através da história. Ela, portanto, suplanta e traz pleno cumprimento a todos os
propósitos divinos revelados ao longo das várias ministrações anteriores. Portanto,
apesar de haver uma progressividade evidente entre os testamentos, há uma profunda
união entre o Antigo e o Novo Testamento, pois “tanto o Antigo como o Novo
Testamento nos revelam um e o mesmo pacto da graça, o mesmo Evangelho do pacto,
o mesmo Mediador do pacto, a mesma promessa básica do pacto e as mesmas
obrigações do pacto para os membros do pacto”9.

IV. Unidade e diversidade


A questão da unidade do próprio Novo Testamento também é muito importante
para o seu estudo. São 27 livros escritos por autores variados num período que, embora
não seja tão longo (cerca de 55 anos), ainda assim apresentou situações muito variadas.
A tendência dos estudos críticos atuais é considerar o Novo Testamento um livro sem
coesão. Facilmente os críticos aceitam contradições entre escritos de escritores
diferentes e entre escritos dos mesmos escritores. A ideia correta de que os documentos
do Novo Testamento surgiram para tratar de situações específicas da Igreja local é
exagerada a ponto de, muitas vezes, significar que os escritores tinham a intenção de
combater a essência do cristianismo dos outros, ou de assegurar a ortodoxia de uma
suposta comunidade em questão. É quase que um dogma da modernidade entender que
cada escritor do Novo Testamento representava uma “comunidade” individual que
muitas vezes se chocava com o restante do cristianismo. Assim se fala em “comunidade
mateana”, “comunidade lucana”, “comunidade joanina”, etc. Nesta perspectiva de
estudo, a ideia é descobrir, em certos detalhes dos textos bíblicos, indicações de
intenções ocultas e até uma espécie de “mensagem subliminar” do autor. Mais uma vez,
as teorias serão abundantes e a falta de concordância entre os proponentes, mais do que
evidente, prejudicando irremediavelmente qualquer conclusão.
Ainda que existam ênfases individuais nos escritores do Novo Testamento, há
elementos suficiente nele para considerá-lo um livro com temas unificados. Donald
Guthrie aponta algumas características do Novo Testamento que testemunham em prol
de sua unidade, que podemos resumir do seguinte modo10: 1) A figura chave do Novo
Testamento é Jesus Cristo: Em todos os escritos do Novo Testamento, Jesus aparece
como a figura central. Embora os críticos contra-ataquem que há diversas
“cristologias”, preferimos dizer que há diversos aspectos da Cristologia, pois cada autor
procurou enfatizar um aspecto da pessoa de Cristo que julgou apropriado, mas todos

9 William Hendriksen. El Pacto de Gracia. Grand Rapids: Libros Desafio, 1985, p.


24-25.
10 Ver Donald Guthrie. New Testament Theology. Downers Grove, IL: Inter-Varsity

Press, 1981, p. 54-56. A exposição a seguir segue apenas em linhas gerais o texto de
Guthrie.
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estão falando do mesmo Jesus. 2) A importância da obra e da missão de Cristo: Os


escritores do Novo Testamento não apenas têm a pessoa de Jesus como figura central
do cristianismo, mas também sua obra e sua missão, o que reforça grandemente a
unidade desses escritos. É fator comum no Novo Testamento como um todo que Cristo
veio ao mundo para salvar os pecadores, e fez isto oferecendo a sua vida como um
sacrifício. Jesus morreu e ressuscitou, este é o centro da proclamação cristã que
repercute por todos os escritores do Novo Testamento. 3) A questão do cumprimento
profético: Os escritores do Novo Testamento compartilham a forte convicção de que os
eventos relacionados a Jesus e a Igreja são o cumprimento das antigas profecias do
Antigo Testamento. Isto não apenas estabelece a unidade entre os testamentos, como já
vimos acima, como estabelece a unidade do Novo Testamento, pois todos os escritores
vêm Cristo como o cumprimento do Antigo Testamento. 4) A ideia da nova
comunidade estabelecida: Todos os escritores do Novo Testamento compartilham a
ideia de que, aqueles que creram em Jesus, passaram a fazer parte de uma nova
comunidade. A Igreja é a instituição que todos os escritores do Novo Testamento
entendem ser o instrumento do cumprimento das promessas de Deus no mundo, bem
como do desenvolvimento da missão dos crentes no mundo. A Igreja é vista em seu
duplo aspecto: universal e local. Não há ideia de comunidades individuais defendendo
pontos de vistas particulares, ao contrário, há uma grande preocupação de manter a
unidade contra os falsos ensinos que estão sempre rodeando os crentes das Igrejas e
tentando jogá-los uns contra os outros. 5) A esperança da vinda de Cristo: Todos os
escritores do Novo Testamento compartilham a esperança da segunda vinda de Jesus
que consumará todos os propósitos de Deus para o mundo, colocará fim a todo o
período de sofrimento e perseguição, e inaugurará definitivamente o tempo de paz e
prosperidade para o povo de Deus. A Escatologia (realizada e em realização), embora
se apresente com ênfases diferentes em cada escritor, é um dos elementos mais
unificadores da mensagem do Novo Testamento. 6) A presença do Espírito: Com
ênfases distintas, os escritores do Novo Testamento reconhecem a presença do Espírito
por detrás da existência da Igreja e dos seus próprios escritos. Todos estes elementos
unificam fortemente o Novo Testamento.

Conclusão
Concluímos que o Novo Testamento é um documento testado, confirmado e
coeso. Apesar de ser uma coletânea de Escritos produzidos durante um período de mais
de 50 anos por vários e diferentes autores, ele possui uma unidade básica indestrutível.
As afirmações dos críticos de que não há unidade interna básica são completamente
improcedentes. Por outro lado, devemos estar atentos para a diversidade que existe,
pois de fato cada autor demonstra sua peculiaridade e sua visão, uma vez que a
revelação é progressiva e a inspiração é orgânica. Dessa forma, não é errado falar da
Teologia de Paulo, de Lucas, ou de Pedro, porém, o que não se deve esquecer é que
existe uma unidade profunda de temas que está por detrás das aparentes ênfases
distintas. Essa unidade do Novo Testamento aponta para sua origem divina e inspirada,
e é o que possibilita a existência da Teologia Bíblica como um estudo não apenas
descritivo, mas também normativo. Caso contrário, esta disciplina não passaria de uma
exaustiva e angustiante discussão sobre métodos e pressuposições, não fazendo ao final
nada de concreto, esvaziando completamente a Mensagem do Novo Testamento.

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