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O casamento matuto deve ser encenado na quadrilha junina, tendo como personagens os próprios
dançadores da festa. Sendo eles: Um padre, um sacristão, um coronel, a mulher do coronel, o noivo, a
noiva e os convidados, que fica a critério do diretor da quadrilha. Como cenário deve ser usado apenas
o altar e poucos objetos cênicos (Uma mesa forrada com toalha branca, um castiçal e a bíblia). Para
melhor caracterizar o sacristão, deve ser um garoto ou rapaz muito medroso.

O CASAMENTO

Padre: Queridos irmãos. Estamos aqui para unirmos esses dois no matrimônio. O noivo é Frederico
Ferrera Ferraz Ferrado, e a noiva, Josefina Travanca Geléia Furtada. Esses dois, ele e ela, os noivos...

Santa: Vixe! Agora lembrei que deixei a panela de feijão no fogo, Valha-me-Deus! (sai correndo)

Padre: Silêncio, por favor! Meus irmãos aqui é uma igreja e estamos no meio de um casamento. Mais
respeito. Onde eu parei? Ah, lembrei. Ele e ela, o noivo e a noiva, esses dois, enfim, procuraram a
santa igreja para se casarem. Diferentes de outros que antes de receber a autorização da igreja...

Coronel: Prossiga com o casamento, Padre.

Padre: Sim, Coronel, desculpe. Pois bem. Esses dois, o noivo e a noiva...

Colatina: O senhor já disse mais de mil vezes isso aí, o noivo e a noiva, ele e ela, os dois. Claro que
são eles dois, Padre.
Padre: Ai, ai, ai, Meu Deus! Se for desse jeito já sei o casamento não sai.

Coronel: Sai! Hora se não sai! Sai sim! Quem ta dizendo é eu. Continue, Padre.

Padre: Mas sempre aparece alguém pra atrapalhar.

Coronel: É essa sua enrolação. Prossiga com o casamento.

Padre: Pois bem. Como ia dizendo os dois, bom como eu já disse, esses dois...

Carmosa: Credo em cruz, e Santa saiu pra tirar a panela do fogo e não volta, vai perder o casamento.

Zefinha: Pois é, tia. To pra ir chamar ela.

Padre: Silêncio! Vocês estão é na igreja não na cozinha. Posso continuar?

Todos: Continue pelo amor de Deus!

Padre: Pois bem. Como já disse mais de mil vezes estamos aqui para celebrar o casamento de...
Bom, vocês já sabem. Prossigo dizendo que o casamento é sagrado e a partir de hoje esses dois, ele e
ela, os noivos, irão se comprometer a manter-se unidos na alegria e...

Santa: (entrando) Perdi muito, cumade Carmosa? Os noivo já se beijaram?

Carmosa: Que nada, o Padre ta só enrolando e até agora só saiu, o noivo e a noiva, ele e ela, os
dois...

Padre: E se as senhoras permitirem que eu continue, pode ser que terminamos esse casamento hoje,
porém se continuarem a me atrapalhar vou ser obrigado a pedir ao sacristão para tirar as senhoras da
igreja.

Santa: Daqui eu não saio e não tem quem tire, e pronto.

Coronel: Padre, se continuar assim, esse safado do noivo vai querer inventar coisa e ir embora.

Padre: Pois vamos continuar, agora não me atrapalhem. Estamos aqui perante o altar para celebrar
esse casamento. Pergunto ao noivo, você está de comum acordo com esse casamento?
Noivo: Olha, seu Padre, eu não tô de comum acordo, não...

Coronel: Como é que é Cabra?

Noivo: Mas devido às circunstâncias eu posso até dizer que tô.

Padre: Afinal de conta, ta ou não ta?

Noivo: Bom... Eu...

Coronel: Ta, Padre, continue, ele ta, sim.

Padre: Pois bem. Pergunto a noiva, você está...

Noiva: Tô, Padre, eu tô, tô sim, ô se tô!

Padre: Ainda não é hora de responder.

Noiva: Pois pergunta logo, seu Padre.


Padre: Volto de onde eu parei. Pergunto a noiva, você está de comum acordo com esse casamento?

Noiva: Tô, seu Padre! Tô sim! Ô se tô!

Padre: Então continuemos. Pergunto agora ao noivo, você promete ser fiel a sua noiva na alegria e na
tristeza, na saúde e na doença até que a morte os separe?

Noivo: Bem, seu Padre...

Coronel: Promete! Promete sim! Quem ta dizendo é eu! Continue Padre.

Padre: Mas Coronel, não é bom deixar que ele mesmo responda?

Coronel: Ele se engasgando eu respondo por ele. E vê se continua logo esse casamento.

Padre: Pois sim, Coronel. Pergunto a noiva, você...

Noiva: Prometo! Prometo sim! Ô se prometo!

Padre: Pelo amor de Deus! Deixa eu terminar a pergunta.

Noiva: Mas eu já sei o que o senhor vai perguntar.

Padre: Sim, mas temos que seguir as normas do casamento.

Noiva: Pois vá.

Padre: Pois bem. Volto de onde parei mais uma vez. Pergunto a noiva, você promete ser
fiel na saúde e na doença, na alegria e na tristeza até que a morte os separe?

Noiva: Prometo, Padre! Já disse que prometo e prometo mesmo! Ô se prometo!

Padre: Pois bem. Agora dirijo a palavra aos presentes. Quem tiver alguma coisa contra
esse casamento, fale...

Rosinha: (chorando em desespero)

Padre: O que foi que aconteceu meu povo?

Dorinha: Calma, minha filha! Desculpa, Padre. É que no casamento dela, bem nessa
parte, o noivo inventou que tava com uma dor de barriga e saiu dizendo que ia ao
banheiro, depois disso nunca mais apareceu.

Rosinha: (chorando mais forte ainda)

Padre: Minha filha se acalme! Pode ter certeza que com choro não se desenterra
defunto.

Rosinha: (chorando bem forte) E ele morreu, Padre?


Padre: E eu sei lá! Nem o conheço.

Rosinha: E como o senhor falou em desenterrar defunto.

Padre: Isso é um ditado usado há muito tempo, choro em pé de cova não arranca
defunto.

Rosinha: Ainda bem, Padre.

Coronel: Prossiga, Padre. Senão quem vai embora é esse cabra aí (apontando o noivo
que coloca a mão na barriga).

Padre: O que foi rapaz?

Noivo: Faz tempo que tô sentindo uma dor aqui na barriga.

Coronel: Se tiver de fazer alguma coisa, vai fazer aí mesmo.

Padre: Mas Coronel, aqui vai ficar fedendo.

Coronel: Esse cabra ta com enrolação. Prossiga o casamento.

Dorinha: Se for não volta mais nunca. Minha filha que o diga.

Rosinha: (começa a chorar de novo)

Padre: Virgem minha santa! Depois desse casamento, vou pensar duas vezes se ainda
caso alguém. Tirem essa maluca daqui.

Dorinha: (saindo com a filha) Vamos minha filha, esquece aquele traste.

Rosinha: Mãe será que ele não morreu de caganeira?

Padre: Posso continuar?

Todos: Continue, Padre.

Padre: Pois bem. Dirijo a palavra a todos. Quem tiver alguma coisa contra esse
casamento, fale agora...

Rosinha: (fora da igreja, chora bem alto)

Carmosa: Vige! Que essa menina tem sofrido.

Santa: E é porque o noivo não valia um juá pode.

Zefinha: Eu bem que queria pelo menos um desse, nunca fui pedida em casamento.

Paulo: Hora, Zefinha. É que eu nunca tive oportunidade de conhecer você melhor.
Santa: Minha filha não é pra qualquer um, não. Mas respeito.

Zuleide: E meu filho não é pra qualquer rabo de saia, não. Tome vergonha, Paulo.

Padre: E aí, vai acabar com essa fêra? Ou vou precisar mandar mais gente sair?

Colatina: Padre, desse jeito a comida da festa vai apodrecer.

Padre: Pois bem. Falando em comida é bom terminar logo, pois aí que ta o bom.

Coronel: E olha que não vai faltar carne. Apesar do traste não valer nada, eu não deixei
de cumprir meu trato. A festa vai ser de arromba.

Padre: E eu quero ta presente.

Colatina: E se vocês continuarem com esse papo vai ficar pra amanhã a comida.

Padre: Minha Nossa Senhora! Esqueci que o casamento ainda não acabou. Agora vou
terminar. Prossigo dizendo que esses dois, ele e ela, os noivos...

Colatina: De novo! Padre, pelo amor de Deus, encerra esse casamento que já ta me
dando gastura.

Padre: Desculpe, vou prosseguir. Termino aqui esse casamento dizendo que, os dois, ele
e... Deixa pra lá... Agora se tornam marido e mulher, com a permissão da Santa Madre
Igreja. Agora podem se beijar.

Coronel: Vai beijar é nada! Aqui na minha presença, se esse safado beijar a minha filha,
pode se considerar um finado morto.

Padre: Mas morto já é finado, Coronel.

Coronel: Pra mim é morto duas vezes. Que fica melhor.

Colatina: Despacha logo, Padre.

Padre: Pois bem. Vamos em paz e que o Senhor os acompanhe. E viva os noivos!

Todos: Viva!

QUEM DESEJAR APRESENTAR NO PALCO USE ESSA INTRODUÇÃO OU NÃO:

INTRODUÇÃO
Anunciante: Boa noite! Valei-me Deus, esse lugar ta intupido de gente, vixe! Vocês parece que tão
como eu, sem nada pra fazer, eu mesmo tinha, mas tirei um tempim pra mode contar pra vocês uma
história que se assucedeu lá no meu lugar. Mas premero deixa eu me apresentar, eu sou José Antônio
Augustino Ferreira Moraes da Silva Andrade Costa, mas o povo de lá me conhece por Zé da Farinha,
esse apelido foi um menino malcriado que botou e eu fiquei me aperreando com ele, terminou pegando,
porque apelido é assim, se a gente se aperrea, pega mesmo. Diz ele que esse apelido é porque tudo que
eu sei saio contando por aí, o que acontece e o que num acontece, olha eu digo pra vocês, não sei de
onde ele tirou isso. Eu não sou de andar falando tudo por aí, não. Mas antes que eu esqueça, minha
gente, eu vou dizer uma coisa pra vocês, mas é segredo, não vão sair contando. Olha isso aconteceu lá
adonde eu moro, e não me perguntem onde é que eu não vou responder, porque eu não gosto que meu
nome fique aí metido em fuxico, apesar do povo dizer que eu sei de tudo que acontece, eu sou uma
pessoa que guarda segredo, to contando pra vocês porque sei que vocês não vão contar pra mais
ninguém, pois nós num é gente de andar falando de vida alêa, num é?

O caso é o seguinte: seu Frederico, que é um caba desses que num pode ver um rabo de saia balançando
que já vai logo seguindo, achou de meter os zóios pru lado de D. Josefina, moça de família rica e
valente, filha logo do Coronel Teotônio, homem que chicoteia animal e gente como se fosse a mesma
coisa. Eu tenho pra mim que se seu Frederico fosse um homem bom, de caráter, até que num ia dá
muita confusão, mas vou falar um negócio pra vocês, calcule um valor da merda de uma galinha e
subtraia com o valor de seu Frederico, que o produto da galinha leva muito mais vantagem. O cabra é
desses que se mandar ir procurar emprego fala logo que num é doido, pois tem medo de encontrar.
Num dá um prego numa barra de sabão, vive só de jogo. Pois vocês imaginam a confusão do negócio,
mas uma coisa também eu num posso negar, a filha do Coronel Teotônio a D. Josefina, num é lá essas
coisas de moça boa, não; é daquelas que se o pai trancar o quarto com sete chaves, ela foge pelo teto,
sobe nas paredes igual aranha e foge pru mode e vadiar na rua, toda festa que vai, só chega na hora do
almoço do outro dia, tem mais fogo que forno de padaria, ou muier do diacho de fogosa, imagina!
Agora calcule vocês o que vai acontecer depois desse casamento, juntando essas duas figuras. Mas o
pior disso tudo mesmo é que seu Frederico deu duro pra casar, só foi a força, enxotado pelo Coronel
e quando chegou na igreja, na frente do Padre, quis dá pra trás. Foi uma confusão só o danado do
casamento, mas isso eu num sei contar direito não, mesmo porque eu fiquei em casa, fui foi nada, eu
tava com medo do que podia acontecer no casório, pois o Coronel tava mais brabo que gato do mato.
Tava cheirando a chifre queimado, e que chifre! Mas como eu num sei do que aconteceu lá na igreja
e mesmo se soubesse não contaria, porque não sou desses que anda se metendo com vida aleia, quem
quiser que conte pra vocês, que eu vou é procurar o que fazer, pois tenho emprego. Adeus! Ah, só uma
coisa, não contem pra ninguém essa confusão, pois é segredo!

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