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Personagens:
Narrador
Mãe da Noiva
Catirina
Pai Francisco
Fofoqueira 1 (Sonilda)
Fofoqueira 2 (Genny)
Obs: enquanto o narrador fala Roque Cid ao fundo faz os trejeitos narrados
Narrador: - Eita, povo bonito (se vira pra alguém), desculpa não tinha te visto. Então,
eu vim aqui pra contar a história do Roque Cid. Pense num home porreta de danado.
Ele morava no Crato e soube que lá pras bandas do Amazonas, no meio do povo da
floresta tinha o ciclo da borracha, os seringueiros que passavam o dia inteiro no
meio do mato tirando leite do pau. Trazendo o progresso pra região. Roque cheio de
coragem pegou a matula subiu na rural e se mandou. E chegando lá, o póbi
descobriu que a borracha tinha sido apagada da região, nisso pega um barco e
chega em Parintins, ele vai pro bairro da princesa, não da chinesa, não o bairro da
Francesa. É, o bairro da Francesa. Tendo só a coragem e a fé, Roque fez promessa
pros santo junino, o Santo Antônio, São João e São Pedro; promete que se a vida
melhorasse, ele todo o ano ia fazer o auto do Boi em Parintins. Por ser de origem
humilde, seria o boi negro pra representar resistência, luta, suor, força. E não é que
deu certo? O povo da francesa viu o esforço do Roque e passa a ajudar na
montagem do Boi, o primeiro foi criado com o papelão dando origem ao Boi
Caprichoso que até hoje existe com seus caprichos e luxos; Caprichoso, o boi negro
de estrela azul na testa. Tá certo que alguém diz que se garante sendo contrário aos
caprichos do nosso boi, mas isso é outra história, deixa pra lá. Só digo que o laço
azul entre as culturas do Norte e do Nordeste se unem de vez. O boi saiu do Ceará
pra chegar na Amazônia e se atrelar à cultura dos povos da floresta. Agora vou é
mostrar sabe o quê? Uma história de amor, e só tem chifre porque tem nosso boi.
Olha só...
Padre: - Onde é que tá o João Carlos? Ô sacristão pra sumir só na hora que eu
preciso.
Padre: - Pois vai chamar as radiadora da paróquia pro povo ajudar a fazer o boi
desse ano. Porque coisa pra fazer só o que tem. Aproveita e trás a Emerênciana
mais o Davi, o filho deles que vai ser o Levantador de Toada desse ano.
Sacristão: - Ui, com um filho daqueles, eu que quero essa toada... Sim, tá bom, vou
lá chamar esse povo.
Valentina: - Padre será que esse menino vai saber levantar direito a Toada? Senhor
sabe que a gente tem que dá show, senão a caveira do Roque Cid vai bater de
desgosto.
Mãe da Noiva: - Filha, eles tão vindo. É porque a Catirina tá buchuda, então tem
que tomar cuidado e o Pai Chico é quem toma de conta dela. Compreenda.
Pai da Noiva: - E também eles são bons empregados. Nunca fizeram nada errado.
Sacristão: - Cheguei. E vim logo com todo mundo pra ajudar nos preparativos.
Valentina: - Ai, obrigada. Tu também é garboso. Bóra bem ali, vou te ensinar a
levantar as toadas desse ano.
Noivo: - Preocupe não, com você eu aprendo a levantar só tudo. Vamo é agora!
Sonilda: - Essa daí não perde tempo, bem se vê o sangue não nega...
Sonilda: - João Carlos deixe ela paquerar com o cantor. Sim, e vocês tem notícia do
povo lá do contrário?
Genny: - Assim, só pra saber, não que eu esteja interessada neles, mas a gente
não é a radiodora mesmo?
Davi (pai do noivo): - Ouvi dizer que eles também tão se esforçando pra ganhar
esse ano...
Cena congela
Narrador interrompe e fala: - Nem se a Fafá de Belém vier pintada de urucum pra
cantando o melô da vaca menstruada, os contrários ganham de nós esse ano
(risada). Pronto, agora voltemos pra história, mas assim bora acelerar a que é
melhor...
Todos: - O quê?
Noivo: - Ezatamentchy
Noivo: - Isso mesmo; apaixonei por Sinhazinha Valentina, nós somos almas
gêmeas. Almas azuis.
Catirina (com voz bem fresca): - Tô mojada, mas também posso ajudar.
Narrador: - Acelera essa cena pelo amor de Deus; quero ver é o casório e o
desenrolar. Pense que agora quem tem a língua grande é quem sofre...
Padre: - Teremos a festa pro Caprichoso e também o casamento desses dois jovens
apaixonados na noite de São João.
Padre: - Deixe de frescure, se cale se aquiete e deixe pra noite de São João.
Narrador: - Eita, agora danou-se. Catirina, minha linda! Não, linda não, mas se
controle nesses desejos. Mas até que chegue lá, vamo é aproveitar a festa que vai
ter. A festa do mar azul que vamos oferecer a vocês. Preste atenção que até o
casamento, tem é chão. E com vocês a Quadrilha Beira Lixo!