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Casamento – Beira Lixo 2023

Saída de Roque Cid do Crato até Parintins

Personagens:

Narrador

Noiva (Valentina Cid)

Pai da Noiva: Amo da Fazenda

Mãe da Noiva

Catirina

Pai Francisco

Noivo (Levantador de Toadas)

Sacristão (João Carlos)

Padre (Bebiano Rocha)

Fofoqueira 1 (Sonilda)

Fofoqueira 2 (Genny)

Pais do Noivo (Emerenciana e Davi)

Narrador chega muito animado.

Obs: enquanto o narrador fala Roque Cid ao fundo faz os trejeitos narrados

Narrador: - Eita, povo bonito (se vira pra alguém), desculpa não tinha te visto. Então,
eu vim aqui pra contar a história do Roque Cid. Pense num home porreta de danado.
Ele morava no Crato e soube que lá pras bandas do Amazonas, no meio do povo da
floresta tinha o ciclo da borracha, os seringueiros que passavam o dia inteiro no
meio do mato tirando leite do pau. Trazendo o progresso pra região. Roque cheio de
coragem pegou a matula subiu na rural e se mandou. E chegando lá, o póbi
descobriu que a borracha tinha sido apagada da região, nisso pega um barco e
chega em Parintins, ele vai pro bairro da princesa, não da chinesa, não o bairro da
Francesa. É, o bairro da Francesa. Tendo só a coragem e a fé, Roque fez promessa
pros santo junino, o Santo Antônio, São João e São Pedro; promete que se a vida
melhorasse, ele todo o ano ia fazer o auto do Boi em Parintins. Por ser de origem
humilde, seria o boi negro pra representar resistência, luta, suor, força. E não é que
deu certo? O povo da francesa viu o esforço do Roque e passa a ajudar na
montagem do Boi, o primeiro foi criado com o papelão dando origem ao Boi
Caprichoso que até hoje existe com seus caprichos e luxos; Caprichoso, o boi negro
de estrela azul na testa. Tá certo que alguém diz que se garante sendo contrário aos
caprichos do nosso boi, mas isso é outra história, deixa pra lá. Só digo que o laço
azul entre as culturas do Norte e do Nordeste se unem de vez. O boi saiu do Ceará
pra chegar na Amazônia e se atrelar à cultura dos povos da floresta. Agora vou é
mostrar sabe o quê? Uma história de amor, e só tem chifre porque tem nosso boi.
Olha só...

Preparativos para o festival onde o boi vai se apresentar.

Padre: - Onde é que tá o João Carlos? Ô sacristão pra sumir só na hora que eu
preciso.

Sacristão: - Valha, Padre Bebiano, vulgo Padre Bibi, eu to aqui.

Padre: - Pois vai chamar as radiadora da paróquia pro povo ajudar a fazer o boi
desse ano. Porque coisa pra fazer só o que tem. Aproveita e trás a Emerênciana
mais o Davi, o filho deles que vai ser o Levantador de Toada desse ano.

Sacristão: - Ui, com um filho daqueles, eu que quero essa toada... Sim, tá bom, vou
lá chamar esse povo.

Valentina: - Padre será que esse menino vai saber levantar direito a Toada? Senhor
sabe que a gente tem que dá show, senão a caveira do Roque Cid vai bater de
desgosto.

Padre: - Preocupe não Sinhazinha Valentina, e pare de falar da caveira do finado


Roque Cid. Vai dar certo, o menino lá se garante, quer dizer, sabe fazer direito às
coisas.

Valentina: - Acho bom, aliás. Mamãe venha cá e traga o Pai.

Pais de Valentina (juntos): - Diga minha filha!

Valentina: - Onde é que tá a Catirina e o Pai Francisco? Eles prometeram ajudar a


nossa montagem desse ano.

Mãe da Noiva: - Filha, eles tão vindo. É porque a Catirina tá buchuda, então tem
que tomar cuidado e o Pai Chico é quem toma de conta dela. Compreenda.

Pai da Noiva: - E também eles são bons empregados. Nunca fizeram nada errado.

Valentina: - Não sei, tô com coisa ruim aqui. Pressentimento...

Sacristão interrompe chegando com todos.

Sacristão: - Cheguei. E vim logo com todo mundo pra ajudar nos preparativos.

Valentina: - Ainda bem.


Noivo: - Se eu soubesse que tinha uma moça tão bonita tinha vindo era mais cedo.

Valentina: - Ai, obrigada. Tu também é garboso. Bóra bem ali, vou te ensinar a
levantar as toadas desse ano.

Noivo: - Preocupe não, com você eu aprendo a levantar só tudo. Vamo é agora!

Sacristão: - Sei o tipo de toada tu vai ensinar pro rapaz...

Sonilda: - Essa daí não perde tempo, bem se vê o sangue não nega...

Genny: - Tô dizendo, no meu tempo isso não acontecia.

Padre: - Porque no seu tempo só tinha a Senhora com os dinossauros na Terra e


pare de mugir e vamo continuar arrumando tudo pra festa de mais tarde.

Emerenciana: - E eu com meu marido? A gente faz o quê?

Sacristão: - Faça o enxoval, porque duvido nada daqueles acolá. Se é que me


entendem...

Pai da Noiva: - Respeite minha filha, ora.

Sonilda: - João Carlos deixe ela paquerar com o cantor. Sim, e vocês tem notícia do
povo lá do contrário?

Genny: - Assim, só pra saber, não que eu esteja interessada neles, mas a gente
não é a radiodora mesmo?

Davi (pai do noivo): - Ouvi dizer que eles também tão se esforçando pra ganhar
esse ano...

Cena congela

Narrador interrompe e fala: - Nem se a Fafá de Belém vier pintada de urucum pra
cantando o melô da vaca menstruada, os contrários ganham de nós esse ano
(risada). Pronto, agora voltemos pra história, mas assim bora acelerar a que é
melhor...

Noivos voltam abraçados

Sacristão: Tô dizendo que o figurino desses dois aí é o branco.

Noivo: - Temos uma notícia pra dar pra todos vocês!

Valentina: - Vamos aproveitar a festa pra também nos casar!

Todos: - O quê?

Noivo: - Ezatamentchy

Pai da noiva desmaia


Mãe da noiva: - Levanta rapaz que eu não tenho força pra te segurar.

Noivo: - Isso mesmo; apaixonei por Sinhazinha Valentina, nós somos almas
gêmeas. Almas azuis.

Geny: - Até eu queria uma toada dessa.

Sonilda: - Mulher, tu tá é atordoada, isso sim.

Catirina e Pai Chico chegam

Pai Chico: - Ainda dá tempo de ajudar?

Catirina (com voz bem fresca): - Tô mojada, mas também posso ajudar.

Narrador: - Acelera essa cena pelo amor de Deus; quero ver é o casório e o
desenrolar. Pense que agora quem tem a língua grande é quem sofre...

Padre: - Teremos a festa pro Caprichoso e também o casamento desses dois jovens
apaixonados na noite de São João.

Sacristão: - Padre Bibi use linguagem neutre é apaixonades, juntes e todes.

Padre: - Deixe de frescure, se cale se aquiete e deixe pra noite de São João.

Catirina cochicha pro Pai Chico

Catirina: Homi, eu tô com desejo de mulher grávida.

Pai Chico: - E o que é?

Catirina: - Quero comer a língua daquele boi...

Narrador: - Eita, agora danou-se. Catirina, minha linda! Não, linda não, mas se
controle nesses desejos. Mas até que chegue lá, vamo é aproveitar a festa que vai
ter. A festa do mar azul que vamos oferecer a vocês. Preste atenção que até o
casamento, tem é chão. E com vocês a Quadrilha Beira Lixo!

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