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Um Clownsamento Junino
Fernando Leão
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Um Clownsamento Junino – Fernando Leão
real, solidão te faz mal, meu ‘coraçãozim’. Não fique assim jururu, vai caçar
amor pra tu, um teu semelhante, vai...
(a partir desse momento, o narrador interfere na festa dos clowns. Narra
movimentos, faz perguntas, provoca, etc.)
E é nesse instante que aquele ‘cabrinha’ vê a ‘bichinha’ e tenta chamar
atenção. Óia, parece um galo de rinha, o peito todo estufado, a cara chega
cora. Tem calma, abestado, se não tu ‘estóra’. A moça, de papo com a amiga,
tá toda entretida, fala em mudar de vida, de arranjar namorado que se faça
esposo seu... e o moço do outro lado, já ficando ‘empalamado’, e ela nem fé
deu. Mas o macho vai tentando. (nesse momento, o clown pega bolinhas de
papel de vários tamanhos e vai jogando para chamar a atenção do outro
clown. A última bola é muito grande.) Resolveu jogar uma pedrinha...
nadinha. Outra pedra... nada. Outra... nada. Pegou uma p... ei rapaz, tu é
beréu? Joga essa pedra na moça e ela sai que é um papel. Olha, eu não devia,
mas eu vou lhe ajudar. Psiu... moça... moça... psiu, moça, olha pra cá.
Moça... se não olhar é feia... (ela olha) óia, ficou toda cheia de perna, toda
faceira. Agora deixe de besteira e olhe pra esse rapaz bonito. (ela dá a
entender que não o considera bonito). Não, eu sei que ele é feio mas nem é
assim tão esquisito. Ele é leal, é uma boa pessoa, é, ele é legal, é ameno, ô
mocinho, o rapaz é até marrom, ‘marromeno’. Olhe direitinho, olhe. Chegue
mais perto. Mais um pouquinho. Ele quer, ‘tu’ também quer, vai dar certo.
‘Certim, Zezim’. Vamos, chega, olha. Vai tu também, cabra frouxo. Tu tá é
mudando de cor, tá verde, amarelo, roxo. Nã. Vai, não pára no meio do
movimento. Ô homem lento. Vai que ela tá olhando pra ti. Vai jabuti. Vai,
chega. Isso, isso. Agora, dá a mão. Ô coisa difícil, num sei não. Pelo menos,
chegou. Pronto. Vão dar um passeio, vão.
(Música instrumental aumenta enquanto os clowns passeiam)
Ô passeio proveitoso. Ele falou dois minutos e ficou todo orgulhoso. Ela falou
quatro horas. Achou pouco, mas ficou satisfeita. A primeira impressão foi
desfeita, chegaram ao entendimento e a resolução foi bela: ele vai à casa
dela pedir sua mão em casamento. Viva os noivos!!! Ele está meio nervoso
mas segue sua trilha. (ele faz exercícios de ginástica e pára em alguns
momentos para ensaiar a postura e a impostação que falará com a família da
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noiva) Quer mostrar-se corajoso e trabalha com a cachola para ver se não se
enrola ao falar com a família. Ela, ora, ela está bem confiante e aposta suas
fichas na coragem do amante. (depois de um tempo, ele se prepara e vai à
casa dela. Ela reuniu vários parentes que o esperam) Ele vai se aproximando,
e vinha todo machão, quando foi estranhando uma dor, uma pressão na altura
do abdômen, e pensou: - “êpa, que é isso, eu sou é homem, sou duma raça
danada”. Ora, quando viu a ‘parentada’ da mulher com aquela cara de boi,
não pôde se segurar, começou a se borrar, deu meia volta e já foi. Correu sem
nada dizer. A noivinha se revolta, mas termina por entender. Aquilo foi
acidente e podia acontecer a qualquer cristão. ‘Simbora’, bichão, se anima.
Levanta, troca a cueca e dá a volta por cima. (Ele faz o gesto de que está
mais aliviado) Então, vai. Vai falar com o pai. Mas vá devagar, não deixe
desunerar. Tá pensando que é brinquedo? O medo não brinca, não. Ora, que
quando o rapaz chegou, levantou uma multidão, era uns cinqüenta e seis, ô
povo repugnante, e o ‘noivim’ no mesmo instante deu meia-volta outra vez. A
mocinha se danou e tinha toda a razão. Será que ela se enganou? Ele era
homem ou não? Será que gostava dela? Toda vida ele amarela na hora de
conversar. O rapaz agora parou, tomou ar, se ajeitou, bateu o pé e disse: - “é
agora, seja o que Deus quiser”. Voltou à casa da mulher e viu a família
inteira, quando olhou para o lado tava a noivinha com uma peixeira, não tinha
pra onde correr e começou logo a dizer quais eram suas intenções, que
conheceu a menina e logo se enamorou, (sons de lobo uivando) inventou umas
mansões, carro, gado, que morou fora do estado e enquanto mentia, ouvia um
lobo uivando do lado. Pois era noite de lua, vai lhe dando um mal estar, seu
corpo se transformando, não consegue mais falar, se batendo, se babando,
não lembra mais o seu nome, o rapaz é um lobisomem (gritos, correria, etc.).
A família enlouquece, o lobisomem vai se embora e a moça apenas chora.
Chora, chora, chora desconsolada. E a mãe, apiedada, oferece-lhe o ombro. A
moça se aquieta. Dão-lhe água com açúcar mas logo mais um assombro. O
rapaz reaparece e parece bem sem força, sem vida. Está sem ação. A família
decidida se levanta e dá-lhe um “NÃO”!!! Saem todos do lugar. A noivinha o
abraça e quem dá o ar da graça são seus amigos que aparecem montados em
burrinhas. Eles entendem o recado, montam nos animais e fogem pra
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