Você está na página 1de 4

Casamento matuto

Filha: É tempo de animação, de alegria, chegou a hora de celebrar o São João.

Mae: Eita que ta virada nos coro hoje, o que foi menina?

Filha: É dia de São João! Mainha, como surgiu a união do forró?

Mae: Minha fia, é uma história grande falar...

Filha: Ô mainha, fale logo, deixe de frescura.

Mae: Te senta, que eu vou contar.

Mãe (narradora): Certa vez lá no sertão

Inventou-se um Arraiá

E um casamento matuto

Que igual não haverá

Foi a festa mais bonita

Que se deu no Ceará

CENA 1

Rita: Me sinto tão borocoxô, só queria um amor pra poder ficar agarradinha. (fala com carência)

Penha: Por acaso, teu pai sabes que estás com esse fogo?

Rita: Me leve a sério sua abestada.

Penha: Não fique aperriada, não. Se quer encontrar alguém, é só tu fazer a simpatia do santo Antôin
amarrado mulér!

Rita: Ah é? Pois eu vou atrás do meu xodó!!!

RITA ENQUANTO FAZ O RITUAL CANTA

Rita: “Que falta eu sinto de um bem, que falta me faz um xodó, mas como eu não tenho ninguém, eu
levo a vida assim tão só.”

LUIZ GONZAGA ENTRA DUBLANDO A MÚSICA DE FUNDO (Eu só quero um xodó) LUIZ E RITA SE
ENCONTRAM E COMEÇAM A DANÇAR BEM COLADOS.

Tonico: Êita!!! Ritinha de chamego com o Rei do Baião!? Eu preciso falar pro seu Genaro! (sai
correndo)
CENA 2

Tônico: Seu Genaro, seu Genaro! (grita ofegante)

Genaro: Que diacho é isso hôme?

Tonico: Seu Genaro, sua menina, Ritinha... (fala ofegante)

Genaro: Meu Sinhô! O que deu com minha joia, Ritinha? Ande, desembuche! (preocupado)

Tónico: Ritinha...

Genaro: Se afogou no rio?

Tonico: Não...

Genaro: Levou picada de cobra?

Tonico: Pior...

Genaro: Então o que foi, seu infeliz, diga o que deu com minha fia! (Segura o colarinho de Tónico
gritando com raiva)

Tonico: É pior que picada de cobra... Pior que afogamento. Eu vi cum esses dois zói, que a terra há
de comer, vossa fia Ritinha de chamego cum Rei do Baião.

Genaro: Como é o negoço? Isso é pior que piolho nos coro, pior que a seca. Olha, se eu souber que
ele mexeu com minha Ritinha, ai de prestar conta comigo e com ela!

Tonico: O que vai aprontar?

Genaro: Nois rai falar com o Seu Delegado e você trate de ir buscar aquele caba safado fio duma
égua, nem que seje debaixo da saia de mainha.

CENA 3

NA DELEGACIA, TODOS ESTAVAM PRESENTES

Delegado: Então, estas a me dizer, que Luiz andou mexendo com a Rita?

Genaro: Isso mesmo, seu delegado.

Delegado: E há provas?

Tonico: Eu vi cum esses meu lindos zóios de jabuticaba!

Delegado: É fato consumado!

Policial: É fato consumado! (imitou o delegado)

Delegado: Com testemunha ocular!


Policial: Com testemunha ocular!

Delegado: Pare de repetir tudo que eu falo se não quer se fuzilado. Como eu dizia, temos que
condená-lo por agravante de malinação a fia aleia!

Luiz: Malinação? Me diga seu delegado qual o mal em dançar um forrozin?

Tonico: Igia, ainda por cima é atrevido.

Genaro: Cuide, mande esse caba pro xilindró.

Rita: Mas não rão mermo, rou ter uma prosa com Padre Adelino e ele aí de casar eu e Luiz.

Luiz e Genaro ficam surpresos ao ouvir tudo e desmaiam.

CENA 4

TODOS ESTAVAM NA IGREJA, A CERIMÔNIA ESTAVA PRESTES A COMEÇAR, O NOIVO ESPERAVA NO


ALTAR JUNTO COM O PADRINHO ZÉ BEDEU, O PADRE E O COROINHA. A NOIVA ENTRA
ACOMPANHADA DO PAI. (A sorte é cega, música de fundo)

PADRE: Estamos aqui, reunidos nesta noite tão alegre e abençoada para a união de duas pessoas
aqui do arraiar. É com muito mal gosto que faço essa cerimônia em que duas almas se encontraram.

Coroinha: É com bom gosto, padre. (O COROINHA CORRIGI O PADRE)

PADRE: É-é mesmo! Vamos prosseguir. Pois bem, continuando…. O céu não poderia estar mais feliz
nesse momento, em que nesse matrimônio a alegria divina vai ser eterna durante toda a vida desses
dois indivíduos que aqui estão em santo Sacramento.

PADRE: É de livre e espontânea vontade, que estão entrando nesse manicômio.

Coroinha: Ei padre, é matrimonio

PENHA: Deixe de arrodeio e vá logo ao ponto. (fala impaciente)

PADRE: Não me avexe. Antes de tudo, o noivo gostaria de dizer algo a noiva.

Luiz _ E agora Zé Bedeu, o que digo?

Zé: Fale palavras macias!

Luiz: Travesseiro, cama, sofá…

TODOS OLHAM CONFUSOS, ZÉ PUXA ELE DE LADO E COCHICHA

Zé: Eu quis dizer pra falar palavras doces abirobado.


Luiz: Entendi.

LUIZ SE VIRA PRA NOIVA E DIZ: Rapadura, garapa, canjica.

Padre: Pode parar de falar miolo de pote, a Igreja é lugar sagrado. Respeita o santo, sô! (impaciente)

NOVAMENTE ZE PUXA LUIZ E FALA: Pra você ser um burro só falta as patas, faz o seguinte, fale o
quanto ama ela.

LUIZ SE VOLTA PARA NOIVA E FALA: Eu te amo, você é o prego da minha chinela, me completa por
inteiro, por ter você na minha vida, agradeço o santo casamenteiro.

Padre: E a noiva, tem algo pra falar ao noivo?

Rita: Sim, eu também lhe amo, o meu sonho era esse matrimônio, sou feliz ao teu lado, sou grata a
santo Antônio.

Padre: A noiva aceita se casar com noivo?

Rita: Sim, eu aceito!

Padre: O noivo aceita a se casar com a noiva?

Genaro: Ai dele se não aceitar, tô só a gota hoje! (grita)

Coroinha: Armaria, tá é amarrado! (faz o sinal da cruz)

Luiz: Sim, eu aceito!

Padre: Eu vos declaro, marido e mulher.

Coroinha: A união do forró está feita, Viva Santo Antônio, Viva São João e Viva São Pedro.

Todos: Viva!!

Rita dubla uma música.

Você também pode gostar