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DO CONTESTADO
2
INTRODUÇÃO
Miano: o João Maria tá cruzando os caminho com benzedura e falação. Faiz os maió dos milagre e
não cobra dinheiro nem posada! Diz que inté veneno de cobra o home sabe sará! Os pau-de-bugre
comichento seca numa semanada se o João Maria passa perto!
Miano: Que nada! O home é de respeito e tem muito mais: diz que ele benze as prantação e não
tem gafanhoto que se achegue! Diz que batiza os fio da gente e de légua em légua pranta uma
cruiz de pau seco que acaba frorecendo!
Miano: Diz inté que se o João Maria bebe na água da fonte ele não seca mais!
Miano: O santo já varô o Timbó ! Deve de chegá hoje de noitinha. ele segue de apé pelos caminho.
vamo lá pessoá! Se aprepare prá arrecebe o home santo que eu vô por aí avisa mais gente!
CENA 02
Nhô Pedro: Eu não quero sabê! Prá mim o que interessa é que ele pire daqui o mais rapido que dé.
Vô dá um dinheiro prá ele e ele que trate de pirá daqui da minha zona. E o home que fartá um dia
na tirage do mate prá fazê corrê a trais do tá de monge, no dia seguinte não carece de vortá! Ta
cheio de caboco procurando empreita. vamo vê se a tá de benzedeira dá o que comê pra eles. É
uma “inorança”!
Lara: O causo nhô Pedro, é que tão falando que o João Maria é santo e tá fazendo milagre.
Nhô Pedro: Santo, Santo! Santo sô eu que sustento vanceis tudo! Isso que é milagre! Onde é que
vanceis ia trabaiá se não fosse na tirage de erva mate aí dos meu terreno ? Ô na serraria que eu
mandei fazê ? Heim? A onde é que vanceis ia Fazê as provisão se não fosse no meu armazém?
Lara: É verdade.
Nhô Pedro: E ande cumpri as orde. Vá cuida que essa gente que tá atrás desse jaguara não me
robe os pomá, nem me seque o leite das vaca invernada. Se essa gente vara argum potrero meu,
sorte a cachorrada em cima. Se fô preciso pode inté da uns tiro pra assusta! Ande!(NHO PEDRO
VIRA-SE PARA SERTANEJO QUE ESPERAVA SILENCIOSAMENTE).
Nhô pedro: Vamo vê? Quantos mirréis vancê qué pelo mate?
Nhô pedro: Vai vende prá eles, depois venha me contá se arrebeceu. Pegá teu mate eles pega, inté
vão buscá no teu carijo… Mais na hora do pagamento tu vai arrebecê uma sumanta de arreio
grosso no lombo.
Tadeu: Isso não, que sô home que fecha a boca por intimidação.
Nhô pedro: Deixa de galizená! Mete tua erva-mate nas cangaia e trais pra cá. Eu pago quatro
mirréis. Tadeu: Só quatro? Passei treis meis no fumaré do carijo, to inté intoxicado.
Nhô Pedro: Eu sei o que é isso. É desconfiança de que eu tô vendendo o mate mais caro na hora
que entrego em Canoinha. E tô memo! Prá isso tenho o trabáio de mandá inté lá. Tamo acertado!
Quatro mirréis! Aminhã quero vê tuas cangaia puxando o mate pro paió do Iguassu. Metemo tudo
no vapô do Marcondes e mandamo tudo pra Canoinha.
Tadeu: Ta bão!
Inté.
CENA 03
Mercedes: Como é que tú vai casá, guria, se tu não sabe nem lavá uma ropa? Vancê carece de sê
mais ladina!
Etusa: Eu aprendo.
Mercedes: Fazê bobage garanto que tu não carece de aprendê. O mundo tá virado… Tá co as tripa
de fora. Força co esses trapo. Ansim ó!
Mercedes: Pesado… Um paninho desse e ela diz que é pesado! E segure direito isso senão tu vai
perdê a ropa no rio. Depois anda estendê isso, o pessoá já tá caminhando prá esperá o santo e
nois inda temo que pegá o Marinho prá batizá. Vergonha! É um arrelacho dos pai. Um piá daquele
tamanho andando por aí sem batismo, pagão como um bugre… Por aí com um bodoque e uns
pelote… Derrubando passarinho.
Etusa: Como é que eles ia fazê se não tinha quem pudesse batizá?
Mercedes: Quem qué procura. Mais o pai dele, aquele tá, nem sei ele casô direito. Eu não vi a
bença. Apareceu aí de repente com uma negrinha trapera e disse que era muié. Muié… É… Hoje é
tudo assim… “Casemo lá em Treis Barra”, Disse ele. Aquela é otra como vancê. Prá lavá um trapo
geme como se tivesse tendo um fio.
Mercedes: É, vão lá! Se esse monge fô memo dos bão vai dizê o diabo prá esse povo.Essa gente
carece de pregação braba. A cruiz na mão direita e o rabo-do-tatu na otra.
João : Que é isso comadre?! O home é um santo! …Só sabe dizê o bem
Mercedes - Prá dizê o bem se olha prá quem! Esse pessoá carece é de grito prá acordá. Mais vamo
lá, vamo vê o que é que acontece. Se esse home não falá o que deve eu vô dizê prá ele como é que
deve sê.
João: Comadre, o João Maria é dos mais melhor. E o pessoar tá trazendo vela, fita e semente pro
santo benzê
Mercedes: Não carecia nem dizê. Quarqué motivo é bão prá tirá essa gente de casa, meno o
trabaio. Tô sabendo, já se achegaro c’as viola, sanfona e tudo mais. Já tão querendo fazê baile na
pregação. Inté posso apostá que a pinga já tá correndo sorta alí na bodega do Zé Luis e antes do
santo chegá a metade já vai tá bebo e inté é possíve de tê um esfaqueado lá no chão.
João: Inté.
Mercedes: Inté (MERCEDES SAINDO DIRIGE-SE À ETUSA) Esse é otro que carece de um cabresto.
CENA 04
CORTE DE LUZ.
À ESPERA. VOZES SE CONFUNDEM. TODOS CONVERSAM E AGEM EM FUNÇÃO DA VIDA DO JOÃO
MARIA.
Nhazinha: Esse João Maria já passô por aqui nos tempo que os Maragato tava fugindo do Rio
Grande, me alembro como se fosse hoje. Eu era menina e nois se escondemo na serra de medo.
Só saímo de lá qando o João Maia veio fazê uma pregação. Agora ele deve tá muito véinho.
Imbira- Eu escuitei dizê que esse é otro João Maria. Também é um benzedô de respeito, mais
aquelo do quar a senhora tá falando, já morreu faiz tempo.
Nhazinha - Das veiz eu garro de pensá se não é um pelido de João Maria que o povo põe nos
benzedô por conta de um de mais fama que tenha passado muito ante de nois existir, E então é o
memo home que já tem prá mais de cem ano.
Imbira - Cadê o Xetê?... Xetê! (XETE-OI!) Amonte e va inté a barsa e veja se ele já tá cruzando o
Timbó!
Nhazinha - Oie, quando ele chegá no rio, vancê venha correndo avisá, daí nóis saímos em
porcissão prá arrecebê ele.
Sertanejo 1 - Acho que o Zé Luis devia de fechá a bodega, hoje é dia santo.
Sertanejo 2 - Por isso memo é que a bodega tem que ficá aberta!
Nhazinha - Vancê tarte de secá esse bico se pô de respeito prá esperá o “santo” .
Sertanejo 4 - Os peludo tão arrenegado c’o santo. O coroné Pedro tá escaceando de medo que o
santo fale das exproração que o povo sofre.
MÚSICA:
O pai véio João Maria
Não qué poso nem esmola
Afasta a agonia
Batiza, benze e consola (TODOS REPETEM)
Todos: Amém!
João Maria: Que Deus abençoe as criança, porque as criança vão vê muita desgraça. Vim avisá que
vem um tempo de muito pasto e pouco ´´ rasto´´. O sangue vai corrê pela terra como os rio. Vanceis
tem que tomá ´´ providença´´ !... A guerra dos Maragato foi feia, mais não foi nada, vem uma guerra
muito pió. E vem uma peste de rato, e vem uma peste de chaga, inté as ave vão se mudá daqui…
Vanceis carece de fazê ´´ penitênça´´ . Jesuis disse prá São Pedro que o mundo ia existí mir anos,
mais que não ia passá disso. E Deus disse: ´´ Faze que eu te ajudo´´. E o que é que vanceis tão
fazendo? Nada! Tão aí sem tomá ´´ providença´´, tão aí como os bicho. Mais eu aviso: a cidade de
Porto União vai desaparecê nas água do Iguassú! A cidade de Curitibano, vai virá tapera. Vanceis
vão tê treis dia de escuridão compreta. O sol não vai passá no céu… Vejo muita desgraça diante de
vanceis. Guardem velas pros dia de escuridão.]
Nha Tertula - Morreu nada! Santo não morre. Vancê fechô direito as tramela?
Tinho - Onte a senhora disse que era os bugre que vinha pegá. Eu nunca vi bugre aqui… nem
lobisome, nem boitatá, nem pau-seco, nem nada dessas coisas que a senhora fala todo dia.
Nha Tertula - Vancê é que ainda é muito piá prá tê visto quarqué coisa. Vancê só é grande na
marciação.
Tinho - Eu já andei por todo esse mundo, desde o Pintado inté o Timbó e nunca vi nada.
Nha Tertula - Mais tem. Tá cheio de visage por aí. Vancê é que nunca saiu de noite e essas coisa
quage só aparece no escuro. Ah! Dormiu e me dexô falando sozinha.
Aniba - Vancê pode me dizê adonde posso encontrá o João Maria? Tô carecendo de falá com ele o
mais antes que dé. Tô com gente passando má na famia. Meu pai foi ofendido de jararaca prá
mais de quatro hora e já tá variando!
Nha Tertula - Vai sê difiço encontrá o santo. O João Maria se introjô lá prás grota do Taió faiz
tempo e temo que esperá inté que ele vorte.
Aniba - Mais como é que vô fazê se tô c’o pai morrendo.
Morador: Eu tenho aí uma cuia de cinza benta de um fogo que o santo ascendeu, vancê leva um
poco e faiz treis cruiz no lugá onde a cobra mordeu, treis cruiz na testa do ofendido e treis cruiz do
lado de fora da porta da casa.
CENA 06
Conversa de sertanejos jogando truco. (Falas entremeadas por expressões do jogo)
Otaviano - Vancê tá sabendo que vai tê uma festa muito grande láno Porto?
Aparício - É, já escutei dizê. Diz que vem gente inté da Argentina prá vê essa ponte.
Otaviano - Eu passei uma semanada lá no Porto e pude vê o colosso. São trezento e setenta metro
de ponte deitada no Iguassu, já tá quage tude pronto, já tem vagonete e cruzado o rio. Falei c’uns
trabaiadô e diz que só farta pô umas viga de ferro ansim de arriba e pode metê a máquina.
Lura - Vai crescê mato nas estrada boiadeira, ninguém mais vai querê andá de acavalo e carroça de
pudé pegá um trem.
Otaviano - Diz que o Prefeito vai dá uma carneada no dia que passá o trem, vai matá vinte boi. A
Companhia dos norte-americano tá comprando vinho de toda a alemãozada prá fazê a festança.
Diz que tá too mundo convidado.
Lura - Seis!
CENA 07
Todos-
Toquem sinos, façam festas
Muita alegria toda a semana
já vamos aproveitar
A colaboração norte americana
Tá chegando a ferrovia
Vem desde a terrra paulistana
Já vamos aproveitar
A colaboração norte americana
Vai raiar um novo dia
Muita alegria gente serrana
já vamos aproveitar
A colaboração norte americana
Prefeito- Povo de Porto-União! A ponte que hoje se inaugura é mais que a
união… ( UM DOS PRESENTES GRITA:” Fala mais alto, prefeito!”
Está ponte magnífica é a união desse tempo com uma nova era. As máquinas fumegantes levarão
para todos os ricões do Brasil. A Railway não se limitará a construir apenas a ferrovia, mas nos
beneficia também com instalação de duas grandes serrarias automáticas, uma lá em Três Barras e
outra aí em Calmon. Abre-se, portanto, uma etapa industrial da maior importância para a nossa
economia. Por isso eu convidei para esta festa, todas as personalidades que dignificam esta região
e amanhã daremos uma carneada em homenagem aos engenheiros e técnicos americanos e a
banda musical estára alegrando o povo por conta da municipalidade!!!
Bêbado: e com a sua permissão! Eu careço de proferi umas palavra (RISADAS.) Povo de Porto
União! O vinho é uma locomotiva mole que entra pelo túmel da boca, é vai pelos trilho das veia e
enche a cabeça de um home de fumaça! (RISADAS). Faiz mais ou menos como uma palavra bonita
que entra pelo túnel do ouvido.
Popular 1: E a fumaça!?
Bêbad0: A fumaça é uma ilusão que um cabôco pode tê se enchendo de festa numa hora de alerta
(silêncio). Essa companhia ficou com muita terra do Paraná, eu tava lá e vi, aqui eles não vão dexá
por menos.
Popular 1: Tá bêbo.
Bêbado: Esse trilho é uma cobra que vai comê nossa barriga!
Bêbado: Pelo contrato com o governo federá eles vão ficá com quinze légua de cada lado da
estrada que forem construindo e quem fô moradô vai tê que se arretirá... é isso que vanceis tão
festejando: despejo, as miséria... (REAÇÃO GENERALIZADA CONTRA O BÊBADO, COM GRITOS
DE “FORA!
FORA!”, ETC...). esse trilho é uma jararaca preparando bote!…(O BÊBADO É COLOCADO FORA DA
TRIBUNA. O PREFEITO ORDENA)
CENA 08
TROCA DE LUZ ‘TOREADERO’ QUE SE RETIRA.
Bastião - prá Timbózinho. Tão carecendo de braço prá enxada por lá.
Bastião - Quar? já me adespediro. Hoje o véio Furma ajuntô os toreadero lá no meio do mato e
disse que não vai mais carecê de nóis. Agora vai vendê a madera pros americano e eles vai derrubá
e puxá as tora c’as máquina. Ele inté arrecoieu os machado. Quem fô toreadero vai tê que procurá
otro trabaio.
Mulher - è, nem sei o que dizê, Bastião. Inté me dá uma tristeza... vivemo tanto tempo aqui…
Bastião - Temo que tê força. Quando as coisa miorá nois vorta. Inté já ganhei uma borsa de estopa
prá entrojá as trapera. É só amarrá os trempe, metê os arroiz de mio num picuá e podemo i. dá
mais trabaio a caminhada que a mudança que poco temo prá levá.
Bastião - É verdade, me adespediro e imo pro Timbózinho que por aqui não tão carecendo mais
de toreadero. Já adevorvi o machado do véio Furma. Aquele aço não bebe mais sangue de imbuia
e pinhero, vem serra dos americano aí.
Maurílio - É, a coisa tá preta mais eu inda vô ficá por aqui. Parece inté que aquele gorento lá na
festa da ponte tava dizendo umas verdade. Sabe que a tá de companhia dos americano tem mais
de trezento home armado que anda por aí fazendo estrago. Pegaro uns bandido dos mais pió,
gente aperseguida por matança e empregaro eles prá fazê cumprí os contrato. O governo federá
acordô de dá pros americano 15 légua de cada lado da estrada. Mais como é que é isso é que eu
não sei, se nóis semo moradô aqui, então o governo nem sabia que nois existia e foro dando as
terra nossa.
CENA 09
Nhô Miro – Meceis se acheguem? Pode se achegá que eu gosto! Tamo proseando aqui…
Recém-chegado 1 – vancêis são morado daqui?
Nhô Miro - Semo! Eu daqui memo e aí o Paciência veve ali na dobra do morro.
Recém-chegado 2 – Pois e outro pode fazê as troxa e se arretirá o mais antes que dé. A estrada vai
passá por aqui.
Nhô Miro – Meceis deve está errado. A estrada vai passa lá do outro lado da serra, nóis tamo inté
sossegado que não imo saí daqui.
Nhô Miro – Não... eu inté gosto dos americano. Inté tava contando aqui pro…
Nhô Miro – Mais num pode sê! A terra é nossa. Semo morado daqui desde
Nhô Miro – Temo prantação. É terra ocupada pelos nosso pai. É coisa véia de famia, terrinha poca
e fraca , mais é nossa.
Nhô Miro – Como é que é isso, arretirá as prantação mar semeada? Temo famia e não temo prá
onde vive. Não podemo sê apinchado ansim.
CENA 10
Dono da vaca — Não tá vendo que a danada tá toda bixiguenta. Tô levando ela pra Nhô Barbina
benzê prá acabá c’os berne
Morador — Você devia se arriscá de travessá pelas terra de benjamim. Aquilo tá infestado de
sordado do Paraná. Eles tão aperseguindo o Demétrio Ramo’. Dono da vaca — Êta que já tô
entendendo mais nada! Será que vancê que é um home ladino pode me expricá esse fuzê todo
que anda acontecendo por aqui?… Uns grita contra o Paraná, otros grita contra os Peludo, otros
grita contra os americano… Tô ficando cada dia mais chucro nessa questão.
Morador — Ó… vô te expricá… Veja bem aí tua vaca na corda. Agora imagine que essa corda é a
frontera entre Paraná e Santa Catarina. Nois dois vamo puxando a corda da frontera desde lá da
Serra-Abaxo sem brigá. Mecê é Santa Catarina e eu sô Paraná. Daí q uando nois chegamo na
cabeça da vaca, aqui em Serra-Acima, que é onde tem muita erva-mate e muita madera, mecê diz
que dividí a corda tá certo, mais que a vaca fica do teu lado, e eu digo que não! Digo que eu é que
sô dono do animá daí nóis garramo de porfiá. Mecê que é Santa Catarina embala uns agregado do
Demétrio Ramo’ e manda puxá a vaca pro seu lado. E eu que sô Paraná mando as força policiá e
ficamo se aperseguindo. É o que tá acontecendo aqui.
Morador — Bem… daí a coisa se comprica, porque vem o nosso padrinho, que é o Governo Federá
e diz que vendeu a metade da vaca pra um estranho.. E o estranho vem e começa a carne a vaca..
e nois ainda tamo porfiando.
Morador — Bem… os rico são os corvo que vão comendo os bofe do animá… e nóis ainda tamo pra
arresorvê nossa questão. E inté eles começa a gritá que a vaca é deles. Ansim é essa região.
Dono da vaca — Pra aí… E nois aqui, não o Paraná e santa catarina, mais nois memo, mecê… eu… o
que é que nois semo nessa região?
CENA 11
Bastiana — Não dianta fio, vancê não vai acabá cas peste dos rato só cum pedaço de pau.
Terêncio — Nojera! Eu suei o ano intero prá enchê barriga de rato. O que foi que nois fisemo prá
Deus castigá tanto a gente?! Fora, fora!
Bastiana — Lá no Pintado tá pió que aqui, meu fio… os rato inté mataro uma criança. As criação
tão perdendo o juízo… Os véio conta que os rato sempreNaparece ante de acontecê arguma
desgraça. Deve de tá prá ví uma coisa pió.
Terêncio — O que é que a gente faiz, pra onde vai? Tamo sem patrão , tamo sendo robado
apinchado das terra e agora essa praga! Nunca escuitamo falá do
Governo… e a primera veiz que ele chegô inté aqui foi abraçado c’os gringo pra apinchá a gente das
terra. Tamo acuado pela desgraça.
OLÍVIA ENTRANDO
Olívia — Terêncio! Terêncio!
Terêncio — Novidade… novidade. Só farta me dizê que essa novidade é mais um bugrinho que
vem passá fome nessa desgraceira. Nem mais quirera nois temo pra comê. Os rato chegaram no
mio ante de nois.
Olívia — Não, não Terêncio! Tudo vai miorá. O João Maria vortô!!!
Olívia - É o pessoal tá todo arvoroçado lá na bodega do Zé Luis! Tão dizendo que o João Maria
vortô e vortô armado! Já tá areunindo gente lá pros lado do Curitibano e vai fazê uma varreção de
bala nos gringo, nos capanga da companhia, nos coroné, em todo mundo!
CENA 12
Ator A - mais não pode sê verdade! O João Maria já era um home véio quando passa por aqui, faiz
quage vinte ano!
Ator B - mais prum santo tudo é possive. É verdade sim! É bem ele memo!
Ator C - É só meio verdade, esse aí é um tá de Zé Maria. Não é o memo home mais tamém é
benzedo!
Ator D - Eu não sei, o João Maria disse que ia vortá e nunca disse como... Esse aí, se não fô bem ele
é um mandado dele.
Ator F - olha aqui, seja lá o memo home ô não seja ele nem mandado, é arguém que tá do nosso
lado e não vai ficá sozinho.
Solo - Moço, chame os primos, os amigos e os manos, parece que chegou a hora Lá pros lados de
Curitibanos...
Zé Maria- que Deus abençoe Vanceis tudo. Vanceis vem aqui com fé nas oração, o coração límpido
e não tão sabendo... aí em Curitibano tem muita gente querendo me mata, tem muita gente
encomodada comigo, devarde, não carecia , nois não tamo aqui pra brigá. Vamo sai pra longe
desse ninho de cascavé. Vamo sai em pregrinação.
Ator A- Zé Maria, se nois fô pro irani nois vai sê aperseguido pela polícia do Paraná. Tão dizendo
que o coroné João Guarberto já tá vindo com um bataião de paranaense.
Zé Maria - E se nois ficá por aqui nois vai se encontra cos capanga do Chico de Arbuquerque e c’a
polícia catarinense. Eu trago atrais do zóio coisa que não posso revela... vamo saí em peregrinação
e vamo rezá. Nois não levantemo arma contra ninguém, nois só se arreunimo pra rezá, mais os
peludo é que foro instiga os governantes prá manda as força combate nois.
Zé Maria - pode sê inté que eu morra ante de vanceis, mais vanceis não pode sê entrega. Se eu
morrer eu arressucito e vorto!
CORTE DE LUZ. OS FANÁTICOS PARTEM EM GRUPOS. COMO SE FOSSEM PARA O IRANI. CANTA
A semente virá planta
como a noite virá dia
vou pra cidade santa
junto com José Maria
Diaadiaseagiganta
uma força que arrepia
vou pra cidade santa
junto com Juzé Maria
Coroné na minha.
Já não canta valentia
Já tem fuzi com bala
Protegendo Zé Maria.
CENA 13
CORO REPETE E REPETE: “ - Já tem fuzi com bala, protegendo Zé Maria”. ( EFEITOS DE TIROTEIO).
Zé Maria - Eu não queria brigá, mais já que me aperseguiram eu brigo e dô prejuízo!!! Pega os
facão pessoá! Vamo pica essa gente toda! Mata tudo! Mata esses animá! Cai em cima deles! Má…
Aaaaaaah!...
( CAI EM CÂMERA LENTA ENQUANTO TUDO SILENCIA EM SEU REDOR. MORRE.)
Fanático 3 - Vorta prá esse corpo depressa, se arrecupera! Não deixe nois sozinho!
Fanático 1 - Zé Maria, Zé Maria! Tinha que morrê logo agora? Nois nem bem se alevantemo.
Miguel- Carma bugrada! Continua brigando! Um home não morre quando tem companhero! Nois
vamo segui sendo de quarqué manera. Não se pode mais arrecuá! Zé Maria disse que ia morrê no
primeiro entrevero, mais que era pra nois não se entregá, Porque ele ia arressucitá com mais
gente e mais força prá se arreuní com nois. Nois vamo em frente! Vamo inquietá todo mundo!
Quem não vié com nois, nois passamo o facão.
O céu pretejô
Dum jeito que dá medo
O vento enlouqueceu
No meio do arvoredo
CENA 14
1 • O Zé Maria morreu na primeira bataia mais nois nem se abalemo. Tamo sabendo que ele vai
vortá!
2 • É, ele vora quarqué horinha, mas memo sem ele nois já tamo muito forte. Veio um bataiãozinho
lá de Frorianópoli e não deu no coro. Botemo ele prá corrê!
4 • Digo e repito: “ são” José Maria não morreu. Quem acreditô nele que nao se avexe. Ele vai
arressucitá quarqué horinha.
5 • Tem mais de sessenta famia arreunida em Taquaruçu. Vamo fazê uma cidade santa.
1 • É bem isso memo! O ‘profeta’ tem inté aparecido no mato prá arguns escoido.
2 • Já tem mais de cem famia, em Taquaruçu, todo dia fazemo porcissão e tiramo reza.
Todos: - Vivaaa!!!
CENA 15
Lura -Êta vida boa essa tua hein! Você encostô bem o teu lombo. Fica aí
na moleza… Mora aqui na estação, ganha bem e não faiz nada, fica aí brincando com
esse tec tec, imitando um pica-pau!
Telegrafista -Eu tive que estudá muito prá lidá com esse troço. Fui fazê um curso
lá em Porto União e…Quieto! Eu tenho que escutá… Eta que a coisa ta preta! A jagunçada
se esquentô.
Telegrafista -... Homens… Capitão Matos Costa detiveram o assalto com grande
dificuldade…
Lura - E agora? Isso virô uma guerra de verdade. Se já tem gente brigando em Canoinhas, nois
tamo bem no meio do entrevero. Como é que a coisa pode fica tão preta assim de repente. Da até
medo de saí por aí. O que será que tá acontecendo aí nesses mato?
CENA 16
CORTE DE LUZ. FOCO EM FANÁTICO PRESO, AMARRADO.
Prisioneiro -É verdade, já matei muita gente e não me arrependo. As coisa esquentaro por aqui e
eu me esquentei junto… No meio dos jagunço tem muita gente que não é de brigá, tão só rezando.
eu nunca fui de muita rezar… os sordado e os vaqueano que serve os peludo já mataro muita
gente de manera à toa. Eu não tinha mais bala e tava brigando só de facão, se vanceis não me
pega c´o aquele laço eu tava brigando inté agora… É bem verdade, no começo o pessoá ficô
assustado c ́o esse tar de avião que vanceis mandaro espiá nóis; depois adescobrimo que era um
apareio que tinha um home dentro, mais nóis nem carecemo derrubá ele, ele se apinchô sozinho,
bateu nuns pinhero e pegô fogo…Mais já tô proseando muito, não sô de muito me aperpará nem
prá matá, nem prá morrê. Vanceis pode fazê o serviço. (TIROS, O PRISIONEIRO CAI.)
CENA 17
Adeodato - Tamo cercado… aqui se costumava dizê que um home não morre quando tem
companhero… mas agora os companhero se arretiraro quage tudo, uns prá cova, sem nome e sem
cruiz, os otro se esconderô e se entregarro… é o fim. Meseis se espaiem se ainda dé. que ninguem
se arrependa do grito que deu, que foi bem dado. eu, nascido e criado aqui nos mato, não sei dizê
o que ta errado no mundo, que poco vi… mas arguma coisa ta muito errada… se mecies, que vão
segui por aí, pudé descobrir e pudé conserta, se arreúna o conserto, que vale a pena vale a vida
intó, porque nois não semo bandido nem matemo por gosto, porque pelo mesmo impurso e pela
mesma ânsia nois enfrentemo o risco.da morte, sofremo e morremo. Se um home se alevanta e
diz “vô morrê se fô perciso”, pode não sê bonito nem muito religioso,mais so acontece porque
arguma coisa tá muito errada antes disso. Peço que vanceis me perdoe os grito e os comando de
guerra; peço que vanceis se espaiem…Pode se espaiá por aí, pode inté se entrega…mais não se
renda, nãao se conforme. O Zé Maria já dizia: “Eu trago atrais do zóio coisa que não posso revelá…
Vanceia pode sê como o profeta, inté que dê prá revelá.
FIM