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ESBOÇO CASAMENTO A JORNADA DE MARIA.

Cenário de uma terra seca, plantação de milho seca. (os dançarinos que vão fazer a entrada já ficam a postos
detrás do cenário

Inicia a música da entrada e o pai de Maria entra bêbado com um litro na mão falando sobre o solo inicial
falando o texto a seguir. (a madrasta fica a espreita, respondendo a oração do Pai de Maria.

PAI DE MARIA: volta fio, pra mode alegrar os meus ano, no rumo velhice.

MADRASTA: Ora, mas tá bêbado de novo, falando sozinho com o miaral.

PAI DE MARIA: Donde ceis tão?

MADRASTA: Não tem como vortar... já estão tudo trabalhado nos fazendão de cana de açúcar e tabaco.
Mandioca e milho só se planta pra escravo, pra num ter a “extraordinária falta de farinhas”

PAI DE MARIA: Vorta! Vorta, minha muiézinha. Minha ceição adonde que ocê tá

MADRASTA: Essa que num há de vortar, já tá com os mortos, coitada, foi envegada pelo sol escaldante e a
foma.

PAI DE MARIA: Deus! Deus! Ocê não existe de verdade né, onde já se viu, deixar a mãezinha da Maria ir
assim, dessa maneira, tão penosa, tão sofrida. Haaaa!!!

A madrasta se aproxima e puxa no braço do Pai de Maria no chão e fala diretamente pra ele

MADRASTA: homi! Levanta daí, ocê só tem a mim e a tal da sua Mariquinha (RISOS DE BRUXA) largue esse
litro, levanta e vai trabaiar!

INICIA A MÚSICA DE ENTRADA (A LETRA VAI FALAR DE SECA E DE MORTE)

CENA 01

Maria de joelhos fazendo uma oração.

MARIA:

Não deve ser culpa dele não


Minha santa venerada
É que ele é assim mesmo, de lua.
“derrumbante de brabeza”
A senhora guarde ele com seu manto
Me guarde também
E guarde minha mãezinha a donde ela tá
Diz pra ela que a farta é muita
A saudade é tanta, tanta
Mas com essa chavinha
Eu sei que ei de encontrar o meu tesouro
Que se esconde nalgum dos caminhos das franjas do mar.

O pai de Maria sai para trabalhar e Maria sai para regar as plantas cantando rosa amarela rosa, e todos
(maria, madrasta e joaninha) acenam para o pai saindo.
MADRASTA: Mas oia só pra isso, como que ocê é!, mas existe algum cabimento ocê ficar aí, regando essas
porqueiras de rosa, parece que o sol já derreteu seus miolo tudo. E pare de me oiar assim, vai logo cuidar da
roça de milho, que é de muito mais serventia, e ponha pressa que ainda tem muito mais coisa pra ocê fazer.
Vai!

Maria sai para a roça e volta para casa e encontra sua madrasta brincando com a Joaninha

MADRASTA: Oxe, o que tá fazendo aqui coisinha deformada?

MARIA: É que já terminei tudo, e tô aqui brincando um cadinho

MADRASTRA: Você preCisa de couro (faz gesta com as mãos para exemplificar uma surra) como eu preciso
de ouro

MARIA: terminei todas as obrigações, panelas areadas, casa barrida, criação da cuidada

MADRASTA: E a plantação?

MARIA: Também cuidei! é só a natureza fazer a parte dela

MADRASTA: Larga de brincar e vem, o ócio é pai do vício e trabaio é beneficio

A madrasta sai puxando Maria pela orelha e leva para o terreiro

MADRASTA: Ocê vai ficar aqui de tocaia pastorando os pássaros

MARIA: E por que joaninha não faz nada?

MADRASTA: não me responde sua mal criada, eu que mando aqui, vou ficar de olho em ocê.

Maria começa a cantar e a madrasta se zanga e vai bater em Maria que sai correndo pega suas coisas e vai
embora

MADRASTA: vai logo sua ingrata, vai matar teu pai de desgosto.

MÚSICA DE FUNDO SOBE

NARRADORA: Entonce, Maria foi tentar sua sorte no mundo, mas como no fundo ninguém tá sozinho, a
Acauã acompanhou ela no seu caminho.

Maria encontra o “HOMEM”

MARIA: Seu moço, será que estou perto da terra das franjas do mar?

HOMEM: Mar? E o que tem por lá, que não há de ter aqui?

MARIA: Um tesouro, num é assim que a gente anda por essas terras, sempre como se amanhã tivesse um
tesouro que não temos hoje.

HOMEM: tome tento menina, que esse mundo que buscas, ainda tá pra ser feiro

E no fundo de tudo, um defeito, é degrau importante na escada do perfeito

Torto, pobre, mal feito, todo vivente pode andar reto

Por que o humano não é ruim nem bom

Humano mesmo, é ser incompleto.

MARIA: Pois bem seu moço, se eu entendi metade do que ocê falou, não hei de concordar com tudo. Eu
acredito que pessoas completinhas de boa, purinha feito amor, há de existir nesse mundo.
HOMEM: Sim senhora, quem sou eu pra por pouca fé ninhalguém né? E vai precisar

MARIA: Ora homi, precisar de que?

HOMEM: de fé, essas terras aqui num fica noite não, e todo mundo precisa de noite pra mode viver

MARIA: hum, entonce, se não fica noite, toda hora é cedo ou toda é hora é tarde, desse modo, nem amanhã
existe, nunca saberei se demora ou se tá perto, por isso, preciso continuar

NARRADORA: e maria andou, andou e andou, seguindo sua jornada

Maria entra e do outro lado vem uma procissão de retirantes

MARIA: Quem são ocês?

HOMEM: Somos os últimos retirantes, e eu sou Severino.

MARIA: Eu sou Maria, e tem tempo que eu ando nesse sol de brasa, que nunca nasce nem descamba. O que
houve da noite nesse mundo?

HOMEM: Não sabe que foi roubada?

MARIA: e quem fez um desatino desse, gente?

HOMEM: E a gente sabe? Se soubesse esfolava o tal. E você, tá indo pra onde?

MARIA: Eu? To procurando o rumo do mar

HOMEM: Nós também tava, mas desistimos. Sem noite ninguém consegue cruzar esse sertão, e num achamo
quem houvesse de trazer a noite de volta.

MARIA: mas eu num posso vortar, num posso desistir!

HOMEM: Tá certo, ocê é nova, gente nova tem sempre caminho pra frente, que Deus possa te conceder seus
sonhos. Boa sorte

MARIA: agradecida.

Quando os retirantes vão passando, Maria percebe que havia um homem morte sendo levado

MARIA: E esse moço morto aí, por que não dão o fim que o fio de deus merece.

HOMEM: Esse é severino, igual eu

MARIA: E MORREU DE QUE?

HOMEM:

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte Severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
HOMEM: Mas tenha pena não moça, todo mundo nessa terra tem sua paga “depois que morre todo mundo
fica bonzinho” Ei! E se a menina conseguir chegar ao mar, não esqueça dos tantos que se perderam no
caminho, se perderam por que pararam, se perderam por que morreram, estamos todos na mesma jornada.

OS RETIRANTES VÃO SAINDO E O VAQUEIRO VAI ENTRANDO

MARIA: O senhor já tava aí moço?

VAQUEIRO: Tô aqui faz tempo, mesmo nessa seca sem noite, que meu gado já morreu, que o último pau de
arara partiu.

MARIA: e num fica com sede não? Minha língua tá uma secura

VAQUEIRO: Eu tenho sede, mais que ocê.

MARIA: cada um sabe da sede que tem

VAQUEIRO: a verdade menina é que quem decide quem tem sede, quem precisa da água, é quem é tem a
água.

MARIA: eu tenho um pouco de água, vou dividir com ocê.

Maria dá a água o vaqueiro senta e bebe e fala sorrindo

VAQUEIRO: Agradecido mocinha, mas onde que ocê tá indo?

MARIA: tenho o sonho de descer nessa estrada, que por mais que ela demore, uma hora eu chego no mar.
Só que agora, de tanto penar, eu to mesmo é querendo desistir

VAQUEIRO: Desista não, pra amode se chegar ao sonho, tem que se traçar o caminho, não adianta rodar
sem ter rumo, desse jeito, todo canto seria a saída e a chegada. Vá no rumo do sol que vai achar a noite e
quando achar a noite ai sim, vai puder saber que é claro e escuro o mel e fel, o barulho e o silencio é assim
que se realiza o sonho, é assim se chega no mar.

NARRADORA: ATONCE, ACENDA OS OLHOS E ALERTA OS OUVIDOS, POR QUE AMIGO É TESOURO
QUE NEM O PROPRIO OURO SE COMPRA.

Maria vai chegando numa festa de são josé e percebe que tá anoitecendo e fica encantada olhando as
barraquinhas, com luzes e o povo brincando na festa.

MARIA: o vaqueiro tinha razão eu segui o sol e tá anoitecendo, não adianta fugir do que te aflinge, tem que
enfrentar, só assim a vida tem solução.

E ela avista Zé Cangaia vendendo apito

ZÉ CANGAIA: Moço quer um apito de chamar pomba

MOÇO: nessas bandas não tem pomba

ZÉ CANGAIA: E é problema meu? Eu só vendo o apito

MOÇO: E a pomba?

ZÉ CANGAIA: Pomba eu num vendo não homi, eu vendo o apito, é môco é? E pense bem, se eu vendesse
a pomba, pra que ia servir o apito de chamar pomba?
MOÇO: e pra que eu quero um apito de chamar pomba num lugar que não tem pomba?

ZÉ CANGAIA: oxê, e eu que sei, você que é o comprador

MOÇO: há vai procurar o que fazer

ZÉ CANGAIA: que homenzinho ignorante.

Inicia a música do musical: o musical inicia com a entrada de asmodeu em direção a zé cangaia, as mulheres
ficam suspirando por asmodeu que está em uma forma formosa e bela. Ele tenta negociar a sombra com
asmodeu e maria interfere. O musical é acompanhado por uma banda cabaçal.

MARIA: Ora, mais você é tonto

ZÉ CANGAIA: posso ser tonto, mas hoje vou ser um tonto de bucho cheio, quer um teco?

MARIA: e ocê tá louco, vou querer pão que o diabo amassou?

ZÉ CAGAIA: pois se foi ele que amassou e danado é até um bom padeiro

ASMODEU: que bom que ocê gostou

ZÉ CANGAIA: gostar até gostei mas tá no fazendo mal pro meu estambo

MARIA: mal pra sua alma.

ASMODEU: Mocinha cê vai se arrepender de se meter onde ninguém te chamou, você agora tem um inimigo
e sou eu

MARIA: eu num tenho medo de ocê, e ocê trate de devolver a sombra de Zé

ASMODEU: você quer um trato? Eu adoro trato, negocio, aposta

MARIA: e o que você quer pra devolver a sombra do zé?

ASMODEU: a sombra dele já é minha, falta pouco pra eu puxar o corpo e depois a alma, mas vou te fazer um
desafio se você vencer, devolvo a sombra dele, mas se ocê perder, sua sombra é minha.

Asmodeu corre pra pegar maria e ela se desvia

MARIA: ocê fique longe que eu ainda não perdi

ASMODEU: mas vai perder!

O embolador de coco começa a tocar e asmodeu inicia.

ASMODEU: numa casa tem 4 cantos, cada canto tem um gato, cada gato ver 3 gato, quantos gatos tem na
casa?

Zé cangaia fica fazendo cara de pânico e conta e sussurra 12 maria, é 12

MARIA: 4

ASMODEU: onde fica o centro do mundo, quero saber a verdade

MARIA. Aqui onde eu estou, a direita a metade do mundo, na esquerda a outra metade

ASMODEU: Quantos dias se passaram de adão até hoje

A embolada para junto com um vixi de zé cangaia

MARIA: (pensativa) 7, SEGUNDA, TERÇA, QUARTA, QUINTA, SEXTA, SABADO E DOMINGO


ASMODEU SE IRA DEVOLVE A SOMBRA DE ZÉ CANGAIA MAS TIRA A INFANCIA DE MARIA E ELA SE
TORNA UMA ADULTA.

A MUSICA DE FUNDO VAI ACELERAR E AUMENTAR, INICIA UMA COREOGRAFIA MEIO QUE CORRERIA,
EM VOLTA DE MARIA, MARIA CRIANÇA ENTRA E SAI DE CENA E EM DETERMINADO MOENTO VOLTA
A MARIA ADULTA.

ZÉ CANGAIA: mas menina, oxe! Mas meu zoio! Num posso acreditar, ocê agora é mulher

MARIA: Sim Zé, e nessa confusão eu perdi minha chavinha, a chavinha que minha mãezinha me deu, e disse
pra eu nunca me apartar dela, que ela vai abrir meu tesouro da vida, e agora sinto que a vida mudou, que o
sonho.

Zé a interrompe.

ZÉ CANGAIA: Xiiiii! É verdade que muita coisa mudou, mas as águas do rio ainda correm pras franjas do mar,
isso é apenas o mando da vida e a força do tempo,

MARIA: Oxe zé ocê tá falando estranho.

ZÉ CANGAIA: e QUE do jeito que as águas procuram o mar sem para, assim é o tempo também CORRE
SEM PARAR NESSE CORREGO, E PARA UNS ELE TRÁS A MORTE, E PARA OUTROS TRÁS
ENTENDIMENTO.

Mas por hora, não é tempo de ir pro mar, já é noitinha e via ter um forró, um arrasta-pé

MARIA: Mas ainda nem é são joão

Zé CANGAIA: não é mesmo, mas vai ter o baile e você mulher formada, pode ir, vá viver um pouco que essa
vida tem de bom

O MASCATE VAI PASSANDO

Seu mascate, atende essa moça aqui

MARIA: Boa tarde, mascate.

MASCATE: Boa tarde moça bonita, quer um laço de fita?

Ou prefere que eu leve um recado a um moço direito que trás junto ao peito um cravo encarnado?

MARIA: o moço não tem aí um vestido lindo, com um sapato mais lindo e um arranho pro meu cabelo.

MASCATE: tenho, e melhor ainda, é um presente pra ocê.

A coreografia vai inicia lenta, maria entrando no encontrando seu amado que deixou de ser acauã e começa
o arrasta-pé.

Quando termina o arrasta-pé, asmodeu tenta congelar o coração de amado para não sentir nada por maria,
mas o amor de maria descongela e o padre que estava na festa dá a beenção e incia o segundo momento de
arrasta-pé com a passarela dos noivos

ASMODEU: Eu sou o senhor dos descaminhos, o escuro que não tem fim, onde geme a solidão e o amor é
sempre ausente.

E por isso eu sinto frio, muito frio, no coração e assim caminho só desde as antigas eras, meu coração é
gelado, inveja gelada, lagrimas geladas.
E ai vocês achavam que ia viver essa festa de santo antonio felizes.
que a minha alma fria de solidão, congelo os corações desses dois apaixonados

Maria se abraça com amado e inicia a musica dos noivos, e o padre joga água benta em asmodeu e sai de
cena.

Após a musica dos noivos o padre volta com o juiz que realizam o casamento sobre o final do solo dos noivos
e começa o segundo o ultimo momento de arrasta pé.

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