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Título Original

Fracassos Crônicos Da Vida

Primeira Publicação Em

Cariacica, ES – Brasil

2023

1ª Edição

Todos Os Direitos Da Obra

FRACASSOS CRÔNICOS DA VIDA

Reservado Ao Autor

rhayanemalta@gmail.com

M236f Malta, Rhayane R – 1990

Fracassos Crônicos da Vida/ Rhayane R. Malta – 1.ed. –

Cariacica, ES : Ed do autor, 2023.

1.Terror 2. Romance 3. ficção

I. Titulo II. Malta, Rhayane R

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FRACASSOS CRÔNICOS DA VIDA

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A muitos e muitos anos em uma terra devastada,
homens caíram em terra de batalha, e sujaram essa terra com
seu sangue, e do sangue nasceram flores, e pelas flores anjos
caíram no vale seco, e o vale chamado imortal se fez parte do
inferno, e do sangue dos anjos, fez se o poço da amargura,
tristeza e solidão, por mais que os olhos seguem pelos névoa,
nada seria ouvido por um ouvido tão inocente, mas
provavelmente descrito como os fracassos crônicos da vida.

Capítulo 1. Suicídio.

Triste? e amargurado, a vida deu-lhe escolhas de


viver e morrer, mas a morte dava a Davet a única
oportunidade de fracassar. Novamente aquele jovem de
uns 20 anos de idade no início do século XIX, tentava se
matar e a morte fugia triste dele, mas nunca de seus
tenebrosos sonhos de morrer em um trágico acidentes.
tentava se matar de todas as formas, a mais difícil era a
mais deslumbrada forma sonhada de morrer, uma coisa
posso afirmar: ele queria ter um fim. Não conseguia se
matar e havia um caso triste avançado de depressão, que
leva o ser humano ao mais fundo poço da tristeza.
Ele ouvia histórias que seu avô contava sobre um
fantasma do nevoeiro em que nas noites mais geladas
ficava na névoa parada esperando para matar qualquer
um que ousar cruzar seu caminho.

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Seu avô contava muitas histórias, tinha os olhos
arregalados e os cabelos brancos como a neve, era muito
magro e mais parecia um esqueleto revestido de pele, e
não existe no mundo quem não ouvisse contar uma
história e não acreditasse em suas palavras, o modo
como se contava fazeres jurar e se arrepiar de medo em
relação a uma coisa que você acredita que nunca sentiu, e
as mais simples histórias fantasiadas ou fatos se
tornavam contos apavorantes para ele amedrontar não
apenas crianças mas todos que queriam ouvir. A noite
ele se sentava na varanda para falar se suas coisas
macabras ao senhor seu amigo que morava a casa ao
lado, as crianças naquela época apenas ouviam o que ele
tinha a dizer, às pessoas todos se apavoraram, qualquer
um, bastava sentar em um canto e ouvir suas histórias,
seus olhos gélidos e seus braços finos abrasavam o vento
e jurava coisas tenebrosas que já lhe aconteceram. Tendo
mais de 50 anos ele acima de tudo tinha o dom de contá-
las, pois quando se conta um fato se espera que a pessoa
acredite e o modo como se fala impressiona mais, assim
as histórias mais bobas se transformavam em medo e o
medo em lenda e a lenda em vários fatos.
Naquela noite eu fui até a casa assombrada da colina, há
muito tempo morava neste local uma mulher, que após
seu casamento, ainda com a roupa de noiva, se enforcou

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na árvore que nunca mais floresceu. Ouvi relatos de que
após alguns anos um homem matou a mulher no mesmo
lugar. Eu passava pela casa em meu cavalo, quando ouvi
uma música muito serena e diferente, fiquei pensando:
de onde viria aquela música? Meu cavalo ficou agitado, e
ao olhar para o chão eu via duas sombras, uma era
minha e outra não era do cavalo.
Muita coisa bizarra acontece neste lugar e os jovens
fazem muitos desafios, até de passar uma noite na casa, e
todos dizem o mesmo, que nunca voltaram sendo o
mesmo de antes. O avô de Davet quando morreu as
pessoas inventaram vários fatos sobrenaturais sobre sua
morte, já a esposa desmentia tudo, como o fato de que os
espíritos comiam os frutos na árvore e por isso nada
floresce naquele estranho lugar, ela então dizia que os
morcegos comem e a terra era muito dura.
— Mas é porque tem gente enterrado ali! — Dizia
as crianças umas às outras
— Não diga lorotas. Não conte lorotas crianças! —
Gritava a viúva incrédula.
ouvíamos uivos de lobos e ela dizia serem os
cachorros de rua, mesmo para os mais bizarros fatos a
mulher arranjava uma desculpa de que imaginamos
muito, mas as correntes que ouvimos dos espíritos que
estão condenados e as pessoas mortas conversando, ela

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vinha novamente culpar os pombos, os ratos e os
morcegos até a cortina. E eu me perguntava se ela não
acreditava nos espíritos ou cobria os olhos para as coisas
ruins ao seu redor, se ela tapa seus olhos, ela é nada mais
que uma cega e boba e eu acho a explicação do velho
mais clara.
— Não fique pensando besteira. — Dizia ela.
Mas se estivesse em um consultório de reabilitação, e
imaginasse que os aparelhos de fisioterapia fossem
máquinas de torturas, você preferiria imaginar fantasmas
que era coisa mais normal.
E Davet pensava no suicídio dele que tanto quer
morrer. Demorou um tempo até que Davet entendesse
que um grande assassino atacava a cidade e era por isso
que seu avô contava essas histórias a fim de amedrontar
crianças que brincavam à noite na rua. Afinal Davet
quase nunca sabia de nada, porque vivia trancado no
quarto e não se interessava por nada.
A respeito de sua família posso contar que não era
uma relação muito amorosa, os pais não se falavam mais,
o irmão estava morrendo, e Davet queria acima de tudo
ter uma família boa, tão boa que não chegasse a cometer
assassinatos aos seus próprios, como os tios, a tia Odete
se matou após o marido ter matado o irmão.
A anos Davet não conseguia aprender nada do que

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era lhe ensinado pelos seus mestres, a única forma de
sair disso tudo era a morte.
A manhã era tenebrosa, as pessoas da casa diziam
que talvez chovesse pedras de gelo. Ventava muito e
Davet estava olhando a pacata paisagem pela janela.
Acabara de tomar um remédio que o reanimou de um
poço de pensamentos tristes, e fez com que ele resolvesse
ir até uma loja só olhar as coisas.
Atualmente ele estava de luto, seu avô acabara de
morrer após sua última história contada no jardim do
casarão. e sua avó ficava mais chata e nervosa a ponto de
fechar a casa e não olhar para a rua, permitindo que nem
o sol fitassem seus olhos.
— Afinal porque não sair? a rua está vazia. Minha vò
aqui e essa sela se torna abafada, e nem posso ser olhado.
A manhã não me trouxe um sol e também a noite uma
lua, e tudo que pode existir de ruim se atrai a meu ser
tenebroso, minha existência é ignorada pelo próprio e
declarado Deus, não tenho motivação para viver, as
coisas estão estranhas e não tenho em quem confiar e
estou confinado ao mundo e a vida! — Dizia para si
mesmo em voz alta.
Foi até a janela e espiou um pouco mais a rua:
— Nenhum azul no céu, nada nem sequer uma
esperança, e tudo que vivo e como algo impossível de

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suportar, se o mundo não me dá chances de lutar, ao
menos irei morrer, pois é sobre o olhar desta morte que
vejo minha triste vida.
Ele saiu para a rua e caminhava lentamente sem ver
nenhuma pessoa.
Foi neste vazio que ao sair da loja ele avistou uma
figura ao longe perto de uma placa que indicava o nome
da rua, ao ver ele começou a pensar:
— O que será aquela figura estranha no final da
rua? seria o fantasma do nevoeiro?
Não era o fantasma do nevoeiro, mas se tratava de
uma menina que seus cabelos eram escuros e ela usava
uma roupa branca, tinha a pele clara e os olhos bem
pretos e aquele cabelo incrivelmente liso e bem grande se
destacava na roupa branca. Davet resolveu se aproximar
e atreveu a fazer uma pergunta:
— Posso saber seu nome?
— Catherine — Ela respondeu friamente.
Davet notou que ela estava perdida e continuou a
perguntar:
— Para onde fica o caminho para a praia deserta?
— Não sei, também estou perdida. — Por fim ela
admitiu.
De certa forma aquela menina tinha algo de
verdadeiro em sua fala que podia ser levado para a vida,

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pois Davet também estava perdido em si mesmo.
Tendo nenhuma intenção de ajudar ele seguiu andando
pelas ruelas da pequena cidade e a jovem o seguiu pelo
caminho, ele notou isso apenas quando chegou na praia.
Davet gostava de sentar na areia, o mar
mesmo só começava bem longe.
— Obrigada — Agradeceu a Catherine com olhos
baixos — Agora eu já sei o caminho de casa.
Davet continuou virado de costas para a jovem,
mas antes que ela saísse ele a olhou perguntou:
— Você não tem medo?
— Medo eu tenho sim, tenho medo da maioria das
coisas— Ela respondeu ainda sem olhar em seus olhos.
— Não tem medo do fantasma da neblina? —
Davet continuou a interrogar.
— Sim, porque perguntou isso?
— Posso ver pelas suas marcas que você é bem
corajosa.
Davet notou que Catherine tinha muitas marcas no
corpo, como quem havia sido espancada ou caia de uma
queda muito forte.
— Não, estás não tem muita história, eu mesma fiz.
— Ela disse isso levantando a cabeça para olhar o rosto
de Davet que ficou assustado, afinal uma menina se
machucava assim? Então ele continuou com suas

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perguntas:
— E estava tentando morrer também?
— Não. Tenho medo de morrer— ela respondeu
enquanto os dois andavam pela praia.
— Então, por que tanta dor?
— Porque é na dor que eu encontro mais vida. —
ela dizia com uma voz mansa e calma.
Davet ficou por alguns segundos pensando
calado, após isso ela disse:
— Você não vai embora? Não sabe que tem um
grande assassino a solta pela cidade?
— Sei sim. O caçador de homens e anjo da morte, a
morte em pessoa, e por este quem eu procuro, a morte.
Para Davet o assassino era um herói, pois queria
muito morrer, mas não queria sentir tanta dor. Iria
embora antes de encontrar o assassino, mas antes ficaria
um pouco na areia pensando em Catherine.
Davet havia tentado se suicidar várias vezes, e em
todas o fracasso estava presente, tenta pular de uma
pedra e machucou a cabeça, mas não morreu e muitas
vezes quando não se machucava ele causava machucado
em outras pessoas que o ajudavam a morrer. Cortar os
pulsos nada adianta agora,pois se isso não matava
Catherine a sua nova ideia de se matar com pregos
também só causaria mais dor em seu frágil corpo.

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Uma coisa se pode saber e que Davet era um
suicida em potencial, não por estes atos, mas também
por não se importar muito com a vida, Davet
bebia como um pirata, andava pela rua e andava de
charrete em alta velocidade, pulava na praia do alto da
pedra e quase que batia a cabeça nelas, não ligava se avia
espinhos venenosos em um jardim, ele fazia coisas que
os outros amigos consideravam suicídio.
Catherine era cuidadosa até demais. Ela arrumava
tudo com os mínimos detalhes, e tudo era muito branco e
bem lavado, tudo tinha que ser perfeito e ela nunca
andava muito longe de casa, nunca andava de carruagem
sem checar as rédeas do cavalo, nunca ficava sozinha e
tinha medo de lamparinas imaginando que poderiam
explodir.
Em comum sempre acabava procurando como
Davet o pior, não bastava estar ruim, Catherine ainda
piorava a situação e assim como Davet fugiu de um
hospital para beber com os ossos de cabeça quebrados,
Catherine brigava com seu mestre que lhe ensinava a ler
e escrever, brigava com as mulheres mais fortes e sabia
que aquele homem não queria mais saber dela, mas
mesmo assim ia a casa dele para ser chamada de um
monte de coisas, e às vezes nem aconteceu nada para que
ela ficasse na sua cama afogada em poços de lágrimas.

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Eles tinham algo em comum, ela gostava de sofrer,
ele não queria viver, ela tinha cuidado com a vida, ele
não se importava, ele achava que o vida não presta, ele
também achava o mesmo, as marcas de tentativa de
morte em Davet , eram marcas próprias de Catherine,
ambos tinham a mesma idade.
Davet deitou sobre a areia e acabou adormecendo
enquanto Catherine voltou para casa.

A maior humilhação é querer viver e tentar ser mais


importante que o abandonado, é triste saber a cada dia
que na rua um cachorro é melhor que você. A maior
decepção comigo mesma é saber e ainda estar viva.

Capítulo 2 Catherine
Catherine olhava pela janela e mal podia falar, sua
voz rouca e sua mente já não
podia mais pensar e nem sequer lembrar no que
havia feito durante o dia, com seu vestido de veludo e
um sobrenome que não queria usar ela apenas se
entristecia, pois não esperava nada mais que uma
esperança de vida que nunca chegava... ela dizia a si
mesma:
— Olhando pela janela por um momento tive pude
pensar e foi nesse momento que a chuva me lembrou que
até as grandes fortalezas podem se molhar, foi em um

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momento que chorei e pude ver minhas lágrimas, foi em
um momento rápido e instantâneo que de um tropeço fui
ao chão e esse momento de dor me bastou para saber que
ainda estou viva e meu sangue era apenas um frio
vermelho. Um momento frio em meu quarto.
Uma voz respondia de traz da jovem:
— Mesmo que o futuro seja incerto este momento
se torna uma dádiva e apenas um rápido instante.
Catherine enrugou a testa e respondia firme:
— Por isso, preservei meu mundo frio e em
nenhum instante, possa agitá-lo.
Mas aquela voz insistia ao seu redor:
— Porque os momentos são como chuva de verão e
uma breve tempestades abala os grandes corações?
Catherine respondeu ainda mais firme e certa do
que dizia:
— Meu mundo está escondido em nevoeiro e as
trevas escondem meus sentimentos, neste instante posso
ver que meus dias embora iguais jamais serão providos
de dor e sofrimento.
Afinal com quem Catherine está falando? Se eu não
contar é lógico que ninguém mais saberá, mas esta é uma
outra personagem.
esta é quem Catherine chama de fênix, se
pudessem ver seria como uma figura estranhas de

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cabelos brancos e aparentava ser uma menina morta que
usava roupas bem antigas, parece criança de uns 5 anos
que falava pouco e sempre aparecia nos sonhos de
Catherine e agora ela falava com Catherine que nem
reparava que estava respondendo, pois seus pulsos
estavam cortados e exposto na janela e a chuva caia e
espalhava o sangue.
Porque esta menininha que nem sequer tem
existência aparecia? A pouco tempo Catherine a via em
sonhos, ela falava pouco, mas sempre concordava com
Catherine e vezes acordava de madrugada aos gritos:
— Acorda, você está sonhando!
Catherine acordava e reparava que seu nariz
sangrava e que sangue escorria pela lisa pele branca até
sujar os lençóis e novamente estava tendo uma
hemorragia.
Às vezes a menininha aparecia na catedral ou no
balanço que ficava em uma casa estranha que Catherine
nunca entrou antes. dizia coisas que eram verdades e as
vezes coisas sem sentido. agora Catherine estava quase
que inconsciente, mas podia ouvir a voz da menina
dizendo aos seus ouvidos:
— Durma Catherine, durma que será melhor.
Por um momento Catherine sacudiu a cabeça e
perguntou:

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— O que você quer?
A fênix permaneceu em silêncio e desapareceu.
Catherine apenas se jogou na cama e ficou imóvel por
algum tempo, após isso dormiu e teve um sonho. neste
sonho a fênix aparecerá na beira da cama e Catherine não
sabia ao certo se era realmente uma ilusão ou apenas um
sonho estranho, mas a menina usava um lindo vestido e
carregava sobre as mãos uma almofada. quando
Catherine levantou para ver notou que sobre a almofada
havia um punhal, Catherine estendeu o corpo para
agarrar a menina e obrigou uma satisfação lógica, mas
neste momento ela acordou com o frio do vento
passando sobre a velha janela soprando um vento frio e
barulhento. E dizia a si mesma:
— Acho que devo ter adormecido e já é noite...
como eu queria ir à casa de meu antigo namorado, talvez
ele me note mesmo eu sendo ainda pequena e não sendo
tão bonita.
Após pensar tomou uma decisão:
— Eu vou até lá.
pediu para que um cocheiro a levasse até a casa de
seu antigo namorado. Chegando a casa grande e com
muitos empregados ela foi muito bem recebida e logo
perguntou a um dos empregados:
— Eu procuro por meu Amado Caio.

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Um mordomo que mantinha um sorriso estranho e
duvidoso respondeu:
— O senhor Caio está em seus aposentos, mas sente
e espere eu logo o chamarei.
Caio desceu as escadas e não sabia que Catherine o
esperava. Assustado ele começou a discutiu com ela:
— O que você faz aqui?! Eu lhe disse para que não
voltasse nunca mais!
Os empregados e até o cocheiro ficaram
espantados, mas o homem continuava:
— Eu estou noivo de uma bela jovem! ainda não
percebeu que eu não te amo?
Meia desconfortável Catherine insistia:
— Mas talvez ame. Eu sei que me desprezo, mas...
Ela foi interrompida por Caio antes de terminar a
frase:
— Não! Desprezo e pouco! eu sinto nojo! Você é tão
impura que se entregou a mim por pura luxúria sem me
conhecer e acha que eu a amo!
Ele começou a dar uma gargalhada tão tenebrosa
ao mesmo tempo humilhante. Catherine abaixou a
cabeça e disse:
— Desculpe, mas não sente mesmo nada por mim?
Ele olhou nos olhos dela e respondeu:
— Sinto sim, sinto pena de você.

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Catherine agora sentia pena de si mesma, mas não
apenas pelo amor não correspondido de Caio, sentia isso
por muitas outras coisas que ainda fez com sua vida. Ela
era a estranha da turma escolar, todos debochavam dela
e ela ainda dava o gosto de a ver chorar.
Ela deixou a casa e subiu na carruagem enquanto o
cocheiro pensava consigo mesmo:
— Pobre menina sentimental.
Ele jogou um olhar para traz e disse a Catherine:
— Menina não chore...
Mas ela logo o repreendeu dizendo:
— Minha vida não presta!
O cocheiro a fim de ajudar continuou com seus
conselhos:
— Menina não vale a pena chorar por este homem,
ele é cruel e expulsou pessoas que não tinham para onde
ir de suas terras agora as pobres crianças estão na rua.
Catherine enchia o peito a ar e dizia pensando em
seu amado:
— Ele é maravilhoso, quem me dera chegar a seus
pés. Ele é rico!
O cocheiro pensando nos absurdos que a moça
expressava pelo rapaz balançava a cabeça negativamente
e dizia:
— Ele é rico porque roubou o próprio pai e também

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muito ruim. Menina entenda não vale a pela se lastimar
por ele, seria como chorar por uma água que se despeja
sobre a lama.
Isso soou aos ouvidos de Catherine como uma
blasfêmia, ela mudou o comportamento e mandou que
ele fosse mais rápido.
— Imagina, o choro é um sentimento calado, por
isso é um sentimento tão bonito. Ela dizia ao cocheiro:
— Eu não tenho vergonha de expressar meus
sentimentos!
O cocheiro insistia:
— E não tem vergonha de chorar em público?
Ela ficou furiosa e chorava mais ainda. quando
chegou foi para o quarto e nem ao menos olhou para os
lados. Deitou na cama e fez o que fazia melhor: Chorar...
no quarto ela encontrou com a fênix novamente que
sussurrava aos seus ouvidos:
— A noite está perfeita e pura. Está chorando por
causa dele?
Ela respondeu calma para a voz sussurrante em
seus ouvidos:
— Chorei por sete noites e por sete noites o frio
soprou gelado em meu coração.
A fênix mostrava compreensão dizendo a jovem:
— Este é o frio da solidão menina.

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Ela se sentou na cama e continuava conversando
com a estranha figura a sua frente:
— E tão triste... meu coração se curvou a ilusão e a
água negra passou pela chuva em um tormento frio e
sem sentido. tentei elevar minhas mãos ao relento.
E a figura estranha continuava sussurrando:
— Tentou pegar o que não existia.
Catherine a fixou nos olhos:
— Corri para o deserto e mesmo escondendo das
tempestades era frio... sombrio, quieto e somente andei
por sete terras e sete vezes eu caí.
Catherine olhou para o céu por entre sua janela e a
fênix lhe dizia:
— Por mais que caminhe mil quilômetros jamais irá
encontrar o vazio dentro de si.

Contava qUe qUando chovia e os relâmpagos e


trovões cortavam o céU Um anjo caía, contava sobre Um
anjo qUe nasceria caído e seUs olhos de andorinha e
celestes asas a sociedade corrompia. O triste anjo
vagava sobre a terra fria e dormia.

Capítulo 3. O anjo caído.

Eu nunca vi em todos estes meus anos de vida


alguém capaz de ter uma mente tão sombria quanto a de

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Lowell. É difícil para uma simples e pacata pessoa
devorar friamente o cérebro do próprio irmão. ele
sempre usava roupas de couro. a noite quando saia
usava roupas de couro e sempre comprava muito.

Outra coisa que adorava era torturar mulheres com


quem ele dormia. Chicotes de couro estavam sobre as
coitadas.
São com Juliette Quem ele praticava sua cruel
prática, ele a amarra com uma corda em seu branco
pescoço que ficava logo vermelho, batia muito nela,
humilhou ela e cuspia, subia sobre ela e a enchia de
mordidas, algumas sangravam.
às vezes juliette pedia:
—Piedade! —
ela parava logo. as vezes quando sua família
viajava, ele prendia Julieta pelo dia todo no porão da
casa e subiu em Juliette e dava chicotadas como se ela
fosse uma égua puxando-a com uma corda pela casa.
naquela segunda feira a família havia saído e a casa
estava vazia. ele primeiro a amarrou pelo pescoço com
uma corda, estava com uma roupa toda de couro e
arrastou a mulher pela casa e pelas escadas, após isso ele
pisou sobre ela e cuspiu, chicoteou muito, e a prendeu de
jeito que ela não se mexia, amordaçou sua boca para o

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silêncio prevalecer, e vendou seus olhos, por fim ele a
deixou dormir no chão frio trancada em um quarto.
quando ele chegava da rua, ela beijava seus pés, comia
no chão os restos que Lowell jogava para ela, e assim
eram quase todos os dias de Juliette.
O mundo excluía e julgava Lowell e ele resolveu
fazer o mesmo com o mundo.
— Às vezes quero leves tempestades, outras vezes
quero matar pessoas fortes.
E quando pensava nas tempestades ele imaginava
uma devastação como a chuva de granizo que devastou
as plantas e a pequena cidade e talvez o furacão cujo
nome foi dado de sopro do demônio.
o que não passava pela em sua mente diabólica?
desde matanças com afogamento, tortura, decapitação de
cada parte do corpo, pregos, decepar a cabeça de alguém
e até queimar padres e freiras que julgavam as pessoas
na praça.
Havia dias em que ele tinha algumas manias
estranhas e do nada ele começava a rir e esmagava
plantas e torturava insetos e gatinhos o que é meio
estranho para um homem de 25 anos de idade. As vezes
ele via coisas nunca existiu. a pouco tempo quebrou a
parede do teu quarto alegando que havia um homem
que passava através dela. Às vezes sua sede de sangue e

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gritos ele não podia controlar e o assassino ataca
novamente matando o que queria, torturando as pessoas
de diferentes formas. No dia de ontem ele matou uma
mendiga. costumava colocar fogo neles o que foi uma
novidade que ele tenha colocado pregos em seus olhos
com ela ainda viva.
A mendiga Implorava misericórdia até que o
assassino arrancou as suas unhas e ela se colocava a
gritar cada vez mais até que cortou sua língua e depois
começou a afogar a mulher em água gelada e cada vês
mais que gritava ele mais ria, até que por fim ele a matou
com um corte fatal na garganta, mas ele cortava de tal
forma que a pessoa agonizava. nesta mesma semana ele
pregou um padre na cruz e ele ficou nesta cruz até no dia
seguinte quando as pessoas o acharam, porem o terrível
assassino havia envenenado o padre e não demorou para
que ele se entra em grande convulsão até morrer.
também como Davet este terrível jovem gostava de ir à
loja de um antigo ferreiro, mas não para olhar o que
Davet olhava, pois ele estava cobiçoso por uma foice
grande e antiga embora ele gostava de matar usando um
machado.
Naquele dia ele saiu cedo e foi a escola, ele já não
tinha idade para estar na mesma sala que os colegas dele,
mesmo assim ele ia.

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— Você é um vagabundo, deveria estudar para ser
alguém na vida.
Estas eram as palavras que ele sempre ouvia todos
os dias da mãe, teu pai morrera ano passado e sua tia
sempre se recordava disso dizendo:
— Ele deveria ter batido mais em você quando
criança, você foi uma desgraça!
Por mais que isso não seja verde, as pessoas da
família desprezavam Lowell. Chegando na universidade
ele se via solto, mas não livre de si mesmo.
Com O vento frio e um cobertor quente ele
costumava gostava de sentar no chão e deixar a névoa
cobrir teu corpo e contemplar a lua, um momento sóbrio
nos recorda de um lugar vazio em um canto escuro e mal
iluminado, ele Corria entre as árvores e escondia mil
segredos...ele pensava que a lua podia sorrir se o céu
brilhasse e olhava por entre galhos secos das árvores em
busca de teu luar, torturava gatos e queria gritar, mas
sempre tinha uma música escondida em algum lugar ,
— A minha vida apenas não existe, sou um ser
inexistente aos olhos de qualquer santo ou deus,
esquecido no abismo e abandonado no inferno apenas
não existe um lugar calmo ou um paraíso que me queira
ou simplesmente um lugar quente onde possa repousar.
eu sou um ser inacabável e por isso morrerei na terra

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infértil e fria, pois na verdade todos morrer e vão a terra
fria. A diferença é que a minha nunca irá florescer.
Este era uma música que Lowell fez na
universidade e seu educador por sinal reclamou:
— Lowell, você é um péssimo trovadista!
Gritou um homem:
— Isso é absurdo! — o educador continuava
Lowell saiu com o texto nas mãos em direção a
porta junto ao diretor e os outros alunos ficaram dando
risadas e fazendo deboches, mas com uma voz
estranhamente pacífica ele respondia aos colegas:
— Se não calar a boca em a calarei por você.
Um dos seus colegas disse:
— Fui ameaçado pelo filho do diabo!
E de forma ainda mais fria ele respondia:
— Eu amo ameaçar.
O diretor o empurrou para fora e perguntou:
— O que você quer?
O jovem respondeu calmo:
— Queria matar todos aqueles brincalhões, como
eu queria cortar a pele deles e teu sangue escorria como
água, eu iria fazer um sorriso enorme no rosto deles com
uma faca, eu arrancarei teus olhos e colocaria com
concreto na parede da escola.
Lowell acabou e ele saiu com seu dever da

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universidade nas mãos, porém não permaneceu no local
por muito tempo e logo correu para o alto da pedra
quando já era tarde e ficaria esperando anoitecer.
Ele pensava na vida no alto da pedra e via Davet e
Catherine que naquela tarde estavam a conversar, mas
não ligou. pensava no que sua família falava a seu
respeito.
Outro fato era que Lowell raramente era chamado
por este nome. Sua família o chamava de peste, capeta, e
as pessoas de assassino, assassino, demônio.
as trevas pairam sobre o ar, um tempo frio e uma
calmaria invadiu minha alma, por um segundo sinto o
relento da noite, como um mar calmo e perdido. Agora
posso reconhecer como realmente sou e posso sentir meu
mundo calmo e sereno como nunca. Estou em um
deserto e mesmo que frio ainda é um lugar imortal e
isolado.
A chuva começava a cair sobre uma árvore que se
apoiava para crescer na pedra, Lowell tirava da bolsa
que levará para o universidade: uma capa de couro, um
par de luvas e algumas maçãs bem vermelhas e um
machado. Olhou para baixo e não deixou de ver Davet
:
— Esse menino deve estar morto, pois está
chovendo e ele nem se mexe e vou deixá-lo ali mesmo o

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mar frio que o carregue.— Lowell disse a si mesmo com
desdém e depois saiu pelas ruas e desapareceu enquanto
Davet dormia na areia provavelmente porque um
remédio muito forte havia lhe causado este sono pesado
e demorado, mas ele acordou com a chuva caindo forte e
a água do mar que se aproxima cada vez mais dele.
— Estou todo molhado! Acho que devo ter
dormido demais como você cheia lua, pena que mesmo
sendo grande não possa ser capaz de me fazer morrer.
Que pena lua cheia...
Após dizer essas palavras para a lua, ele saiu
tremendo de frio e correu pelas ruas. A noite estava
congelante e o vento soprava ferozmente e fazia barulhos
entre as telhas das casas, um bom lugar onde ele acharia
ajuda seria na cidade pois, havia várias lamparinas e
lojas que facilmente seriam roubadas e nesta situação
morando do outro lado da, pequena porém cheia de
ruas, cidade de vale dos anjos ele certamente não
conseguiria chegar em casa sem a dor do frio e também
não queria usar dos métodos de cura para as doenças.
Andando pelas ruelas ele avistou de longe uma
figura tão misteriosa quanto a de Catherine na névoa.
Talvez ele possa me ajudar, pensou ele. Se você estivesse
em uma rua tremendo de frio, certamente vendo uma
figura assim pensaria em um velho ancião que vigia a

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cidade, mas estando em uma cidade amedrontada por
um assassino insano certamente pensaria em assassinato
a sangue frio literalmente frio.
— Senhor! — ele gritou, mas o homem não se virou
— Senhor que está escondido no escuro! — Gritou mais
alto.
Neste instante o assassino se virou com uma cara
maléfica e respondeu ao chamado dizendo:
— O que você quer? Morrer?
— Estou todo molhado e não encontrei ninguém
que possa me ajudar a voltar para casa respondeu o
jovem trêmulo.
E fez-se um silêncio que nem sequer o gato mais
corajoso da esquina poderia romper.
— Você é o fantasma da neblina? — Perguntou
Davet.
Vendo o jovem falar isso ele se recordou do menino
que dormia no mar e virando para ele disse:
— Você e o menino que dormia sobre o mar. Como
conseguiu viver?
O que este assassino mais temia era tentar matar
alguém e não conseguir, para ele isso seria inaceitável.
— Eu tentava morrer, mas não consegui.
— Eu queria te matar, mas não farei. A assassino
começou a andar e Davet o seguia, então sem se virar

29
para o jovem o assassino disse:
— Você não tem medo de morrer.
após isso, matou um gatinho com uma
machadada. Davet fez um silêncio e vendo que Lowell
olhava fixamente para uma loja disse;
— Tem peças muito boas nesta loja.
— Tem uma foice. — Lowell disse com ar de
interesse.
— Quer que eu pegue a foice para você?
— E o que você iria querer em troca?
Uma coisa que este assassino não fazia era roubar,
para ele isso seria uma coisa muito humilhante e ele
estaria se rebaixando de um grande e temido assassino
para um mero ladrãozinho.
Davet conhecia bem a loja, mas sabendo que
certamente não pediria e Lowell sentindo isso também
Davet disse:
— Você fica me devendo um favor.
Entrou bem quietinho por uma greta que estava na
parede quebrada, mas não deixou que o assassino
notasse que isso tinha sido fácil.
— Você é uma pessoa podre! — disse Lowell com
um sorriso macabro no rosto.
— Está aqui, em suas mãos fantasma da névoa. —
respondeu Davet entregando a foice para o assassino de

30
mãos e corpo forte a sua frente.
— Eu tenho nome, sabia? — Lowell disse se
virando para o caminho que seguia antes.
ele odiava ser chamado por outros nomes, o jovem
percebendo isso perguntou:
— E qual é teu nome?
— Não me chame pelo nome, daria a impressão de
que me conheces e certamente me entregaria as outras
pessoas.
— Tem medo das pessoas? Eu também tenho. —
Indagou Davet
O assassino já estava ficando irritado com aquilo,
mas pelo fato de não ser atencioso e não perceber o que
ele quis dizer em “eu também tenho” jogou o jovem
contra a parede e disse com um olhar frio:
— Eu vou te levar para as casas e você vai daqui até
lá aprendendo a ficar calado ou eu corto tua língua e se a
vida para você é tão ruim pode acreditar que sem língua
ela vai ficar pior ainda.
Davet engoliu o seco de sua boca e foi
caminhando pelas ruas atrás do assassino até que chegou
em casa.
Lowell se lastimava com uma coisa: Porque será
que aquele jovem tinha mais medo das pessoas que
medo de um assassino? ele pensava: Que homem

31
estranho, mas eu lhe devo um favor e tirar a vida dele só
o deixaria feliz de fato. Sou bem observador e sei que a
língua não lhe faria mais falta sem a vontade de viver e
esse jovem que dorme sobre o mar, já está morto a muito
tempo...
À meia noite a lua ficou vermelha, e de longe se
ouvia os gritos de quem morava na rua do lado leste
onde havia a casa de Davet. A casa de Catherine não
ficava longe e ela podia ouvir os gritos. Ficava admirada
com a dor e só olhando pela janela grande de seu quarto
através da cortina pode ver aquele grande homem como
um Deus, o que seria para Davet um anjo ou um
fantasma na névoa. Para Catherine era um deus da dor e
tortura. Ela resolveu não intervir, mesmo assim o
assassino reparou que a garota olhava pela janela
friamente em silêncio.
— Hoje é um dia muito estranho, não é a primeira
vez que vejo esta menina, mas esta é a primeira vez que
acho que me apaixonei por ela... que bobagem sou um
assassino não posso me apaixonar por ninguém! ou
talvez até os demônios precisam de uma esposa — Dizia
Lowell em seus pensamentos enquanto levantou o
machado e deu um grito feroz. A menina se colocou a
acenar pois sabia que ele gritava para ela, Lowell jogou
uma maçã como sempre fazia depois que matava alguém

32
e com um sinal mandou que a menina fosse para a rua.
Catherine estava com medo, mas mesmo assim saiu para
ir até o jardim, de forma alguma pretendia encontrar
com o assassino, pois ela tinha medo de morrer. Também
costumava correr pelo vale na madrugada, antes daquele
matador começar a atacar. Usando um vestido branco e
um par de asas, ela fugia com a plena consciência de
liberdade. Subia na palha e assobiava para os pássaros
fugindo dos roedores que passavam frequentemente
pelas ruas, mas tinha medo, muito medo de quase tudo.
— AAAAAAAHHHHHH
Isso foi um grito abafado de Catherine, mas não um
grito de morte, o assassino apareceu do nada e lhe tapou
a boca.
— Não grite...— sussurrou — eu sempre te admirei
e não vou matá-la.
Ele observou que Catherine tinha marcas nos
braços e perguntou.
— Quem te fez estas marcas, diga e eu matarei
quem as fez!
— Ninguém eu mesma as fiz— Ela respondeu
baixinho e ouvindo isso ele parou e pensou que ela
talvez seria sua amada mesmo. Catherine olhou em seus
olhos:
— Você vai me sequestrar?

33
— Não quero te sequestrar. — respondeu o
assassino com um sorriso suspeito.
— e por que não? — ela indagou
— porque sou um assassino.
— Me sequestre mesmo assim, mesmo que por
pouco tempo...
Ele a levou para o alto da pedra onde podia ver a
lua e lá mesmo eles perceberam que tinham muito em
comum, ele gostava de fazer as pessoas sofrerem e ela
gostava de sofrer.
— Que loucura um rapaz que quer morrer e uma
menina que me admira. — disse Lowell concluindo um
pensamento longo que trazia consigo.
—O que? — ela perguntou sem entender o que
acabava de ouvir.
— Não é nada, só estava pensando alto, mas você
foi sequestrada e eu devo deixar algo para as pessoas
verem amanhã...eu vou te amarrar naquela árvore.
— E se eu cair? — perguntou a jovem
Novamente ele abriu um sorriso sombrio e
Catherine não queria sentir medo.
— Você não vai cair. — Ele disse enquanto a
segurava nos braços.
No outro dia as pessoas virão Catherine vestida
com roupas de dormir e com os braços muito amarrados

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de forma que cortava seus punhos e o sangue se prendia
todo na sua mão estendida com o corpo sobre a árvore. O
vento frio fazia com que a dor aumentasse. As pessoas
ficaram olhando e ele deixou uma maçã novamente, mas
essa maçã era somente para sua admiradora.
Davet não demorou muito para aparecer e ver ela
assim pendurada na árvore.
— O que está fazendo aí em cima? —
— Foi o assassino quem me sequestrou e me deixou
aqui. — gritou ela lá de cima.
— Eu vou tirar você — ele respondeu subindo na
árvore e ela com um ar apaixonado disse:
— Não se preocupe, eu estou bem.
Com certeza não estava bem, mas Davet não
interferiu, porém depois decidiu que iria encontrar com
ela em um lugar qualquer, pois queria saber o que o
cruel assassino queria.
— Aquele assassino queria matá-la ou não? se
quisesse ele o teria feito.
Ele pensava e com muita convicção já que havia
visto naquela mesma noite o próprio diabo em pessoa.
Davet certamente não cobraria como favor. Espera do
assassino salvação pela vida de Catherine pois ele nem a
conhecia, mas conhecia ela tempo suficiente para saber
que de certa forma adorava ser sequestrada.

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Embora Catherine e Davet tivessem interesses
totalmente incomuns eles se tornaram o que aqui não
seria amizade, mas também não seriam inimizade. Davet
fugia de seus problemas e Catherine os encarava de
frente, mesmo que quase sempre resultando em fracasso.

A tristeza nada mais é, q Ue Um fantasma a se aboletar e a


alma nada faz qUe chorar se estremecendo de medo
de sUmir e de se perder, ela bate e rebate até se esq Uecer e
depois a alegria vem, e limpa o coração. A tristeza que
minha alma deixarei em Uma canção que ao oUvir ela
acorda e lembra da solidão, mas agora já sabe se livrar da
escURIDÃO.

Capítulo. 4 Um favor de assassino

O dia estava frio e abalado, uma chuva estava


próxima de cair, Davet Como sendo muito curioso
resolveu se encontrar com Catherine em um lugar
peculiar.
— Um cemitério. — Ele sugeriu. Ela concordou
embora tivesse interesse pela praia. Dentro do cemitério
se encontraram em um túmulo e Catherine não tinha
motivos para temer a presença de Davet, pois não temia
nem um assassino quanto menos um suicida.

36
— Catherine? — Davet começou a conversa
— Sim? — ela respondeu levantando os olhos
fixados no túmulo.
— Sabe porque o assassino teria poupado sua vida?
— Não sei ao certo, mas ele parece me conhecer a
muito tempo.
— Nesta mesma noite eu me encontrei com ele,
mas quero que mantenha isso em segredo. — Davet
falava fazendo gesto de silêncio com as mãos.
— Está preocupado? Talvez eu seja a razão de você
viver? — ela perguntava com ar debochado.
— Se você fosse a razão de eu estar vivo eu a
mataria. — a resposta fria de Davet acabou com todo
aquele tom debochado.
Depois de um silêncio eles se sentaram em um dos
túmulos, e mantiveram a conversa:
— Andei reparando que ele sempre mata alguém
perto de sua casa e às vezes empregados de sua casa. —
disse Davet.
— Minha casa tem poucos empregados porque não
temos muito dinheiro, isso você bem sabe.
— O que pensa do assassino? O que você acha
dele?
— Admiro o trabalho dele, muitas pessoas
merecem morrer. — Catherine disse com aquela voz de

37
indiferença que se misturava a aprovação.
— Ele me deve um favor, sabe?
— Acha que ele cumpriria o favor? — Catherine
perguntou.
— Não sei, mas com certeza ele é um homem de
muita honra.
Catherine reparava bem a arquitetura do lugar e
mexia nas flores. Davet percebendo seus punhos
marcados resolveu saber mais sobre.
— Suas cicatrizes são bem profundas. — Ele disse
apontando para o braço da jovem.
— Não são mais profundas que a tristeza em sua
mente... Eu vivo, mas ainda consigo rir, mas você nunca
dá uma risada na vida.
— Rir de você pendurada lá em cima, embora
alguns da cidade estivesse com pena, muitos achavam
engraçado. — Ele respondeu a Catherine.
Catherine fingiu não ouvir, apenas retirou da bolsa
um pão e algum biscoito para que eles comecem.
— Eu gosto de ser ignorado. — Davet dizia
enquanto comia os biscoitos. — Eu procuro que as
pessoas me ignorem o máximo possível. Não confio em
ninguém.
— e se a pessoa estiver com você em um lugar
deserto fazendo companhia e ouvindo atentamente? —

38
perguntou Catherine
— O egoísmo é uma coisa feia...— O jovem disse.
Nesse momento ficou pensativo, o céu estava
escurecendo e Catherine resolveu ir embora antes de
começar a chover, porém antes de se levantar ela
perguntou a Davet :
— De que forma você gostaria de morrer?
— Não sei.
— Pensou em seu pedido para o assassino?
— Sim, eu penso muito nisso, mas queria o
conhecer melhor — respondeu o jovem.
— O nome dele é Lowell. — Catherine disse
enquanto se virava para tomar seu caminho para casa.
Neste momento ele abriu atentamente os olhos.
— Como você sabe? — Davet foi correndo atrás de
Catherine.
— Nós somos alma gêmea...— Ela respondeu com
a voz calma.
Já ouvi um ditado dizer que se não achássemos a
metade de nossa laranja, devemos procurar a metade de
um limão?
Davet nem pensava que encontraria o macabro
assassino assim fácil e agora estava ainda mais fácil,
porém ele resolveu deixar que o mesmo se revelasse com
seu verdadeiro nome.

39
Catherine pensou o resto do dia, e decidiu contar
para o assassino que o amava e queria estar com ele pela
eternidade e Davet pensou em pedir a morte do jeito que
ele queria enquanto Lowell batia a cabeça na parede e
falava compulsivamente:
— Eu sou Lowell, eu sou Lowell!
Dizia isso porque de certa forma ele não estava se
reconhecendo e decidiu que iria procurar por Catherine
naquele mesmo dia para a matar.
A chuva caia muito forte e logo ao anoitecer,
Catherine se deparou com o assassino enquanto pegava
algumas tulipas no jardim.
— Não deveria retirar as tulipas, pois elas têm
tanto direito de viver quanto você. — disse Lowell
enquanto aparecia de surpresa atrás de uma árvore.
— As tulipas têm sim. — Catherine disse com um
sorriso enquanto se virava para olhar o rapaz.
— Você é bonita como as tulipas.
Após ele dizer isso, Catherine o abraçou e deu um
beijo. Depois começou a chorar dizendo tudo que sentia.
— Pare com isso.
O assassino pediu à moça que se calasse naquele
momento e algo em sua voz não era tão sombrio como
antes, sua cabeça queria matá-la, mas seu coração
prolongava a situação.

40
— Por favor, me sequestre para sempre!
Ele então sorriu e puxando-a pelos braços, a levou
para as ruas da cidade, teria que matá-la, seria uma
morte bem bonita... ele a levou para um bar que ficava
em uma rua estranha, lá os homens bebiam muito e fazia
bagunça. Catherine se sentou em uma mesa e o assassino
arranjou algo para ela beber.
— Que não seja sangue — disse Catherine
brincando, porém ele não expressou humor e apenas
respondeu:
— Pode deixar vou lhe trazer um bom vinho.
Após um tempo, um homem muito bêbado e muito
feio começou a falar coisas estranhas com Catherine,
falava que ela era bonita e que a levaria para casa e
Catherine não queria ser sequestrada por um mendigo,
um homem tão porco. Ela começou a gritar, e quando o
assassino ouviu isso virou em sua direção, olhando
fixamente nos olhos do mendigo, ele disse:
— Vou te dar uma coisa para levar para casa.
Deu-lhe um soco bem no olho e começou a rir.
— Não vai dividir? — O mendigo levantou
cambaleando.
— Cale sua boca porca!
— Desculpe, tenha um pouco de misericórdia! —
pedia o bêbado e Lowell o fitava com os olhos.

41
— Eu não sou seu Deus!
Dito isso, o assassino cortou a garganta do homem
com uma faca e o sangue jorrou muito alto enquanto o
homem ainda podia ficar se debatendo pelo chão.
Catherine estava chorando e não sabia o que fazer. O
assassino a levou para longe daquele lugar e depois
perguntou.
— Está chorando por medo de que?
— Não é medo, eu me senti ofendida. — Catherine
se lembrava das vezes que fora humilhada por outros
homens.
— Você é uma tulipa...— Lowell tentou de alguma
forma acalmar a moça e enxugando os olhos ela
perguntou:
— E você? o quem é você?
Ele não via motivos para esconder já que pretendia
matá-la.
— Sou Lowell Catherine. Moro do outro lado da
cidade, perto do mar, onde tem a árvore onde te amarrei.
Ela sorriu e disse que achava que o que ele fez
estava certo e ela estava errada sempre.
— Eu sou ruim, eu arranquei as tulipas. — Ela dizia
mais serena agora.
— Ruim sou eu quem matei o homem.
— Mas o homem não era uma tulipa. — Catherine

42
concluiu e os dois sorriram.
Pela primeira vez ele se sentiu certo, alguém não o
amaldiçoava e nem o culpava de nada e ele então contou
a ela como matava as pessoas de várias formas, e ela
ouvia atentamente.
— Posso te ensinar a matar. — Ele disse animado,
mas ela se recusou.
— Não....
— Tem pena das pessoas?
— Tenho medo de tentar matar e morrer. — Ela
disse rindo como quem contava uma piada.
Ela tinha medo de morrer e ele pensou
profundamente, contando a ela sobre as coisas que fazia,
em pouco tempo ela dormiu em seu quarto. Lowell
pensou em matar a moça enquanto estava dormindo,
mas não conseguia nem pensar nisso. Ele a acordou e
disse:
— Você me ama, não é?
— Amo muito. — Ela respondeu
— Então a pessoa que eu sou você não vai contar
para ninguém?
— Jamais faria isso, quero seu bem. — Ela
respondeu
Lowell começou a acariciar os cabelos da jovem e
conseguiu confiar, e disse para ela:

43
— Tenho que ir na casa de uma pessoa, você vai
comigo?
— Vou com você onde você quiser.
— Então vamos e depois eu o levarei para sua casa.
Estavam indo em direção a casa de Davet e ela não se
conteve e perguntou:
— Somos namorados?
— Acho que não— Lowell respondeu
— Estamos noivos?
— Você é alguma coisa.
Ela se sentia bem em ser alguma coisa porque
estava acostumada a ser nada então abraçou forte e ele
disse:
— Se você me apertar não vou conseguir andar.
— Se eu te sequestrei, agora vou matar você— ela
disse como uma brincadeira, porém Lowell não tinha
senso de humor e deu um sorriso mostrando que
entendeu que a menina só estava brincando.
— Me empresta o machado?
— Não é perigoso! Você vai se machucar.
— Não me importo com machucados. — Ela disse
com desdém mostrando algumas marcas em seus braços.
Ele viu as marcas em seu corpo e perguntou:
— Quem te fez isso?
— Eu mesa fiz. — Ela respondeu deixando ainda

44
mais a mostra.
— Você é incrível! então vou te fazer um corte para
lembrar que agora você é minha alguma coisa que quase
matei. — Ele disse isso com um sorriso perverso no
rosto. Andaram um tempo em silêncio e ela voltou a
fazer perguntas:
— Me empresta o machado?
— Está bem, mas…
mal terminou de falar e ela rodou o machado e
acertou uma mulher que está próximo dos dois, o
machado pegou uma parte do braço e a mulher começou
a gritar. Lowell torceu o pescoço da mulher e disse:
— Amor você precisa treinar mais.
Um olhar ressoava através deles, e Catherine ria e
continuava a andar e mal conseguia empunhar o
machado então devolveu para Lowell. ela o chamará
pelo seu verdadeiro nome e isso alegrava Lowell que
pela primeira vez tinha um nome naquela noite tão
escura.
Chegando a casa de Davet, Catherine não
reconheceu o lugar, o assassino bateu a porta e quando
ela viu o rapaz parado em frente a porta se assustou e
sussurrou baixinho:
— Você vai matar ele? Eu o conheço.
— Não— ele disse com voz baixa — este é um

45
conhecido meu também que me fez um favor e espera
que eu retribua.
— Oi Catherine. — disse Davet com o olhar baixo e
triste. — Eu já pensei no que eu quero anjo da noite.
— Então diga, quer que eu mate quem para você?
— O assassino perguntou. Eu mato pessoas, não roubo e
nem cumpro promessa a nenhum santo.
— Quero que me mate. — respondeu Davet
criando um silêncio e espanto no ambiente, o assassino
ficou surpreso, até mesmo Catherine que já conhecia sua
vontade pela morte estranhou tal comportamento.
— Como assim Davet? — perguntou Lowell.
— Foi o que você ouviu, a muito tempo eu penso
em morrer e realmente eu quero a morte e agora quero
morrer de modo sublime e ritualístico.
—Assassinado?
— Não, quero ser sacrificado como algo especial. —
Respondeu
— O que te faz desistir da vida assim?
— Você não sabe o que eu sinto, você não sabe
como é estar à beira de um precipício, pular e a morte
fugir de você, ser ignorado e andar como um barco à
deriva, ou um viajante do deserto ao relento, pois eu
estou pior que isso.
—Também sou viajante em um deserto.

46
— Sois eu o deserto, frio e distante, sozinho e
inserto. A morte para mim seria meu descanso do
sofrimento, pois tudo que tem vida é sofrido, senão
inanimado.
— Seja como quiser. Eu irei poupar, pela primeira
vez, alguém da dor.
— E como quer que seja Davet ? — Catherine
perguntava com um olhar estranho sem muita piedade.
— Quero que meu corpo seja comido pelas pessoas
no dia da festa que será feito na igreja. Todos que me
ignoraram agora iriam beber do meu sangue.
Ele dizia isso enquanto olhava a fria noite pela
janela.
— Deve ser em lua cheia, porque gosto de luas
cheias. — Concluiu se virando para o carrasco.
— Eu cuidarei para que tenha a melhor lua de
todas.
Neste momento a fênix aparecera de repente sobre
o teto de cabeça para baixo, seus cabelos caindo como
cascata se encontravam com o de Catherine. O carrasco
olhando com olhos firmes de juramento para o jovem
rapaz prestes a morrer disse:
— Daqui três luas, e a terceira lua ficará vermelha,
e esta será como o sangue de mil guerreiros que
perderam a batalha!

47
A fênix não era ouvida por ninguém senão por
Catherine dizendo:
— Daqui três luas.
Estes últimos três dias ele não quis como os outros
passar o que seria “os melhores dias de sua vida”, o melhor
dia seria o dia de sua morte. Passar um tempo fazendo tudo
como se fosse a última vez é estupidez. Assim Davet passou
seus dias tocando flauta sobre a areia da praia e refletindo
que às vezes ele ficava feliz e podia rir, mas na maioria das
vezes seu silêncio calava tudo.
Catherine o observava de longe no alto de uma
pedra. o primeiro dia ela o olhou tentando pensar no que
se passava naquela mente triste. Neste momento seu
amado assassino aparecia e como sempre ela se alegrava,
Catherine era a única na cidade que achava um lado bom
em Lowell e um motivo para ele matar todos, ela virou
para seu amado e perguntou:
— Será que ele está arrependido?
— Não. — Ele respondeu.
— Como sabe? Você já se arrependeu alguma vez
na vida?
— Me arrependo de não ter matado quem eu
deveria. — O assassino deixou transpassar um rosto de
dúvida, e ela insistiu em manter o assunto dizendo:
— Acho que ele tem seus medos...

48
— Todos nós temos medo.
— Eu tenho medo de morrer e você? — Catherine
quis explorar ainda mais o íntimo coração de seu amor e
não hesitando um pouco em responder disse Lowell:
— Tenho medo de tentar matar.
Ela voltou seus olhos para Lowell e disse
— A um medo diferente, a lua tem medo do sol,
mas ambas vivem no mesmo céu, eu comparo isso a
Davet, pois ele tem medo de sofrer e por isso não se
matou ainda, tem medo da dor, mas sabe que a morte e a
dor andam sempre juntos. Amor, não faça sofrer, mate
rápido.
Lowell fez sinal que sim e bem devagar ele desceu
a pedra e foi falar com Davet e o chamou na praia:
— Davet! .
— Sim meu anjo da morte? — respondeu ele se
levantando da areia e logo foi repreendido por usar a
expressão:
— Já lhe disse que eu tenho um nome.
— Sim eu sei, mas não é você meu anjo da morte?
— Davet. Me fale uma vez mais detalhada como
você quer morrer?
—Quero apenas morrer, quero um dia frio e uma
lua cheia, quero um vento frio e uma roupa bonita com
um capuz.

49
— Que interessante... sabe que eu também tenho
meus sonhos?
— Os demônios sonham?
Os dois começaram a caminhar pela margem do
mar enquanto Lowell contava sobre seus mais
tenebrosos sonhos mantendo um sorriso alegre no rosto:
— Sim, eu sonho... queria colocar todo mundo
pendurado em um tipo de "árvore da vida” imagine!
todos mortos pendurados na árvore e seus sangues
escorrendo pelos galhos. Também queria congelar as
pessoas, nunca congelei ninguém. Queria cimentar
alguém, queria fazer uma cirurgia em alguém trocando
os braços por pernas de outras pessoas, ou colocar duas
ou três pernas como meus desenhos de infância!
— E você já fez algo assim? — indagou seu
companheiro de caminhada.
— Já sim, preguei os olhos de uma colega da
universidade na mesa, colei o mestre em uma cadeira,
costurei uma mulher em um pano bem grande, tirei a
pele de uma menina e usei para cobrir a Irmã, preguei
pessoas com pregos, retirei não só olhos, mas pernas,
ossos, dedos...
— E faz o que com esses pedaços de pessoas?
— No porão da minha casa tenho um colar de
dedos, tenho um vidro com ossos, são coleções preciosas.

50
Isso não assustava muito devido o fato de terem
algum tipo de relação amigável entre os dois, eles
haviam criado vínculo e isso fazia toda diferença, uma
diferença perigosa que de certa forma dava um conforto
a Davet que respondeu de forma simples:
— Eu tenho uma coleção de brinquedos de
madeira, são cavalinhos de várias formas que meu avô
fazia, queria muito que o distribuíssem no dia de festa da
igreja.
— Porque este dia?
— Porque eu nunca participei de uma festa da
igreja.
Lowell pensava em Davet como uma futilidade,
mas Catherine via como uma tristeza peregrina. Ele
passou os seus dias na beira da praia e Lowell decidiu
que iria matar com a foice, Catherine costurava uma
manta bem branca e ajudava a Davet a limpar seus
brinquedos de madeira, Lowell passou seus dias olhando
aquele machado e a cada dia ele fazia na cidade um
estrago, uma morte por dia. No primeiro dia, matou
freiras e colou seus olhos na porta da igreja, jogou
cimento em cima do padre e trocou as partes do corpo
das pessoas.
— Quem é o monstro?
Ele dizia às pessoas que se reviraram deformadas

51
como monstros com suas três pernas e nenhum braço.
Davet tinha sonhos, mas não eram como os de
pessoas normais, sobre aqueles olhares frios e triste de
quem sente o vento a sua volta, pode se ver os gélidos
olhos de seus sonhos ,como assas que não sabem pousar,
e possa olhar e ver que tudo isso é um sonho ou uma
paisagem, e vai tudo acabar, tudo e apenas uma
miragem, uma passas de tempo e apenas esta noite ele
pode respirar bem e acordar novamente:
Davet estava de manhã em casa comendo o que
queria comer e passeando pela cidade.
— Não sentirei falta de nada. — Concluiu ele com
um sorriso sarcástico.
Enquanto estava deitado sobre o mar, o menino
dormia sobre o mar. A noite estava fria e incerta, ele
correu até o cais e atirou uma pedra, ele costuma falar de
tartarugas gigantes e baú escondido no mar, o vento
soprou frio hoje só para que eu possa me lembrar.
Enquanto isso Catherine se apaixonava pelo
homem errado demais. E porque será que este amor tão
repleto de crueldades e desacordo entre ele, permanecia
tão forte? Talvez se expliquem no fato de que Catherine
gosta de relacionamentos complicados, ou talvez ele
fosse mesmo um feito para o outro, eu sempre pensei
que neste auge o amor superaria qualquer barreira de

52
diferenças, preferência ou até mesmo admiração. Já que
Lowell mesmo sendo muito bonito não tinha muito a ver
com um nobre um homem rico, apesar de sua família
estar bem em termos financeiros, ele era algo que toda
mulher em juízo perfeito evitaria, mas não para
Catherine Talvez o amor está além disso, além do bem e
do mal. o amor está bem mais acima de tudo isso. Talvez
porque a felicidade ainda não escolheu o seu lodo entre
luz e trevas, ou ainda transita pelos dois caminhos.
Para Lowell o amor era algo assim como que ele
recitava para si mesmo:
— O amor caiu do céu em terras secas, e por amor
caiu o mundo todo, o amor da vida é um prazer e cair é a
razão por que morremos. Nesta terra rodeada de prazer
se encontra um corpo frio, velho, morto. Catherine você
pode não ser minha razão de viver, mas por você matarei
muitos homens que se atreveram a te olhar.
— Ele não é romântico. — Catherine pensava —
mas também tem suas razões, mas o pobre Davet ,
que razão teria ele para morrer? Eu não conheço teu
passado, mas por um instante isto me intriga, ele reflete
um nau muito forte e tristeza no arder de teus olhos,
talvez estes olhos tristes alimentem Lowell que ainda
sente longe e bem fundo um resquício de pena.
O dia estava escuro e estava próximo a hora em

53
que Davet descansava em paz. Naquela noite como
Catherine havia provido, em uma noite de eclipse lunar,
e tornando assim e lua cheia e vermelha como sangue, e
as pessoa do alto das montanhas e os feiticeiros, já sabia
que um grande demônio levantaria e um grande caos
invadiria a cidade.
Catherine terminava na casa de Lowell os últimos
reparos de seus preparativos para a morte de Davet,
além da capa muito banca, bem costurada ela também
arrumava algumas frutas e penteava os cabelos de Davet,
muito carinhosa também se colocou para preparar algo
que ele gostasse de comer. A noite estava congelante e
Davet apenas ficava olhando pela janela enquanto
Catherine ajeitava sua capa. Lowell afiava a foice e
preparava o machado grande de seu pai, que usaria para
partir o jovem suicida em pedaços, ele via pela última
vez seus cavalinhos e até admirava a foice:
— Sou muito sortudo. — disse Davet com um
sorriso sereno no rosto.
— Terá o prazer de morrer como quiser senhor—
Lowell disse isso e soltou uma gargalhada.
— Minha vida foi como subir um muro e não ver
nada, nem o horizonte azul, se você já sentiu solidão
ainda não conhece nada... — Concluiu Davet
Lowell tinha razão, e neste livro eu afirmo que

54
quem sentiu solidão não viveu tempo suficiente para
explicar, quem sentiu dor encontrou vida nela, e quem
teve amigos viveu tempo suficiente para vê-los morrer.
O vento estava soprando tão forte, que fazia um
barulho assustador, o tempo estava frio, mas nenhuma
chuva caia no céu, os parentes de Lowell saíram cedo
para irem à igreja, e nesta noite todos rezavam muito.
Mesmo com medo de saírem à noite eles não poderiam
abandonar a fé. Na janela grande da sala, Davet olhava
para a rua, a praça onde se ficava a fogueira e onde eram
julgadas as bruxas e as casinhas bem fechadas dos
moradores, já começava a relampear quando Lowell
terminou de afiar a sua foice, Catherine terminava de
arrumar o jovem que se via realmente preparados para
esta morte.
— Davet está pronto?
Lowell perguntou, Catherine não falou nada e
esperou que ele mesmo respondesse:
— Estou sim. — O encanto que pairava em seus
olhos chegava a ser uma visão perfeita de loucura e
sadismo.
Lowell mandou que ele se virasse, este momento
não era apenas do jovem prestes a morrer, mas de Lowell
também, pois suas mãos suavam frias, e seus olhos
estavam com uma grande fúria, Davet não fechou os

55
olhos e Catherine olhava tudo de longe, de costas para a
janela grande a água começou a escorrer pelo vidro, e
quando a lua se encostou nas barras da janela, Lowell
acertou Davet nos braços, não teve culpa estava tão
trêmulo como se nunca tivesse matado alguém na vida
antes, neste momento um grito assustador corroeu toda a
casa, Lowell acertou o braço de Davet e ficava rindo alto.
— O que está fazendo? — Perguntou Catherine
correndo para perto do rapaz que agonizava pela dor da
ferida.
— Eu não sei! eu não pude evitar não errar. Tem
que ser do meu jeito como sempre foi do meu jeito.
Lowell querendo acabar com o sofrimento de Davet
e ainda tremendo muito lançou seu machado no ar e ao
descer e acabou acertando Catherine bem no pescoço,
neste momento tudo parou ela não gritava e Davet caiu
em um desmaio .um uivo de lobo ressoou bem longe
como um grito e ele caiu de joelhos chorando vendo que
Catherine estava morrendo, então abraçou e surgiu desta
dor um instante de carinho.
Coitadinha de Catherine estava passando por seu
pior medo e sentindo a dor da agonia de morrer
lentamente dando seus últimos suspiros, você não sabe
como é estar no escuro estender as mãos na névoa a
espera de alguém que venha te salvar e o vento corta

56
suas mãos. Ela olhava apenas com os olhos esbugalhados
até seu ar sumir devagar.
— Me mate — Ela suspirava baixo e lento — está
doendo muito....
A medida que a vida lhe deixava junto com o resto
do sangue que corria em suas veias ela pensava o quanto
estava na beira de um abismo, sustentada a esmo,
entregando o corpo a névoa a espera de ajuda, a vós não
consegue pedir socorro não me resta um ama lágrima
sequer... como é justo que o herói se torna o assassino?
Seus pensamentos mergulhavam em um poço de sangue,
e na mais profunda memória vendo sua vida passar
diante de teus olhos, não encontrava, não encontrava
solução para apenas não pensar. Ela estava se vendo
caindo em um abismo,
— Os anjos estão longe. — disse ela no pico alto do
delírio
— Descanse em paz minha tulipa. — Lowell disse
se despedindo
Acabou de matar sua amada para poupar a dor, e
após isso ele correu, estava com uma fúria que se
misturava a agonia de viver, estava triste se sentindo um
próprio demônio, nunca havia se sentindo assim, é
indescritível tantos sentimentos em uma só pessoa.
tentar correr e não poder, se sufocar pelas paredes e

57
apena chorar.
— O que eu fiz? — ele parou no meio da rua para
se perguntar.
Mas nós dois sabemos que todo assassino insano
faria nada mais que isso. Mas se você já foi culpado de
matar o amor da sua vida, você poderá compreender,
compreender como é estar querendo abrir o próprio
corpo por não conseguir respirar. O vento te sufoca e a
única coisa que consegue fazer é correr, e ele corre até a
exaustão e cai.
Quando seu corpo repousou no campo vasto que
havia ao redor da cidade ele pode continuar mergulhado
em seus torturantes pensamentos sobre sua amada morta
— Esta é a lei de um viver, a única que se aplica até
depois da morte, a pior dor e a do sentimento, pois é a
única que desatina imortal. Porque eu sou assim? — Ele
gritava para o céu e para as árvores, ele xingava a deus e
ao mundo todo.
— Eu vou matar todo mundo, e tudo que me cerca!
Atormentado como se vários espíritos corressem
atrás dele, como se um animal muito feroz morasse em
teu corpo, ele saiu correndo rumo a cidade, a chuva caia
congelaste e o vento muito frio, um coração gelado é um
coração vazio, assim é feito o princípio da solidão.
Naquela noite ele matou seis pessoas em praça

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pública até ser pego pelas autoridades locais, estava
cansado e não reagiu à prisão. as pessoas não dormiram
apenas cochichavam entre si e limpavam o sangue
derramado pela cidade, muitos falavam em sair de vale
dos anjos e morar em um lugar bem longe. Enquanto
isso, o grande assassino que havia realizado um sonho
estava trancafiado em uma cela, acorrentado ele nem
sequer podia se mover, em seu calabouço até os maiores
criminosos o julgavam, e diziam os carrascos que pela
primeira vez, matariam alguém com muito desejo.
Lowell respeitava sempre os carrascos porque
adorava a profissão de matar, mas nunca quis morrer.
— Talvez eu morra amanhã. — Ele pensava calado
entre ratos e a podridão da sua sela.
— talvez eu chore pela dor, e lamente um frio o
deserto amor, talvez eu cante a lua, ou amaldiçoe a noite,
mas se gélida manhã não brilhar meu coração proverá
uma noite calada e fria, e também um vento onde almas
mortais vão noite toda bailar, talvez essas correntes
grossas me prendam, e pasmadas massas não me deixar
andar, mesmo assim minha dor será suficientemente
forte para que eu lembre que consegui viver e amar.
E como ele amava... as trevas pairam sobre o ar, um
tempo frio e uma calmaria invadia sua alma, por um
segundo ele pode sentir um relento como o mar calmo e

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perdido, agora ele reconhecia o que realmente era, e um
sopro frio refletia seu mundo cruel, estava ele em seu
deserto e mesmo sendo frio era um lugar dele e apenas
imortal desolado e quieto.
Lowell sofreu as torturas e confirmou seus atos
friamente e contou sobre suas ideias em relação a
assassinatos. E o amor que sentia por Catherine, em
nenhum momento tocou o nome de Davet. como pode
uma pessoa se ocultar ao mundo necessitando do resto
do mesmo mundo para manter o teu? Como é um ser
humano querer ficar sozinho e que todos participem da
sua solidão? Como é possível existir um ser que não
almeja o céu e se contenta com o inferno ou um destino
sem volta?

Sobre o olhar triste de quem nem sequer sente o


vento, pude ver um olhar triste, os olhos do sonho com
as asas que não sabem onde pousar. posso te olhar e
por um segundo apreciar tudo isso que é um sonho ou
uma paisagem fria e vai tudo acabar. tudo é uma
miragem e tudo vai passar apenas esta noite, pude
respirar e novamente acordar.

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Capítulo. 5
Suas mãos estavam frias, com um colete e uma
máscara que tampava o rosto, como quem havia tido
uma queimadura horrível, assim aquele assassino se
escondia das pessoas.
—Estou tão sozinho. Com raiva e não sinto minha
mente pensar direito. — Lowell indagava — Minha
Catherine, esperarei você. A vida é curta e a minha não
se alongou muito, mas entre morrer e dizer que não te
amo, eu prefiro morrer, pois a morte se torna mais
sincera, e ainda escreverei em minha lápide que te amo
muito.
Realmente triste e sozinho, aquela sensação se
culpa de misturava a náusea, de estar no funeral de sua
amada, ele olhava as pessoas e entre alas avistou Davet
que ainda estava vivo. Este era agora teu medo, tentar
matar alguém e não conseguir.
Davet chorava muito e também se sentia culpado.
Porque a vida é injusta e as coisas vêm para quem não
quer? Catherine não queria morrer, quem queria era o
jovem suicida.
As pessoas passavam perto de Lowell e
conversando falavam muitas coisas, como por exemplo:
—Como pode ser tão cruel aquele assassino,
—E como pode fazer isso a uma bela jovem como

61
Catherine, pobrezinha sofria tanto, ele é um assassino
impiedoso,
— De fato é mesmo um demônio.
Davet ouvindo tudo aquilo agora e podia se ver
fora de seu próprio mundo. — Finalmente agora sou o
monstro que todos diziam que sou —disse o assassino
para mais uma figura que se aproximava, era Davet que
começou a conversar com Lowell.
—Sabe moço, eu queria ter ido no lugar dela,
minha vida não presta e agora não tenho um dos braços.
— Davet tentava ser sarcástico para não se mostrar mais
sofredor quer o amigo que em breve iria morrer.
— Eu sei disso. — respondeu o assassino que sem
dar atenção a fala do jovem mantém os olhos fixos no
ritual fúnebre que acontecia.
— Queria ter ido no lugar dela. — disse Davet
— Eu não queria que isso tudo acontecesse — disse
Lowell levantando a cabeça para o céu.
—Você não queria que isso acontecesse eu também
não, mas você não pode evitar sua natureza e matou a
pessoa que mais amava. — disse Davet com frieza
Lowell ficou assustado:
— Como sabe que sou eu?
— Vejamos, o homem de família bem tradicional
desaparece após o ataque do serial assassino, as pessoas

62
acham que você está morto. Sabe, eu te conheço. —
Davet abriu um sorriso tímido no canto do rosto.
Lowell olhou gelidamente para as pessoas e sem
mover o rosto, após um tempo se virou para Davet e
disse:
— Você não vai para a igreja?
— Não, eu nunca fui e espero morrer sem ter ido.
Todos foram saindo aos poucos e por último ficou
Lowell e Davet ,
— Você não vai sumir? — insistia Lowell querendo
ficar sozinho com a amada, mas teve uma resposta
indesejada naquele momento de dor.
— Não.
— Lowell então deu um suspiro e virou os olhos
para o suposto amigo que entendeu aquilo como uma
ordem, sabendo agora que poderia sofrer consequências
piores que a morte nas mãos daquele cruel assassino ele
então o deixou no cemitério sozinho.
enquanto Lowell estava de pé perto a lápide, o dia
se fez uma grande escuridão e começou a chover e junto
com a chuva caíram lágrimas daquele anjo desgarrado
que chorava sobre o túmulo de sua amada, do bolso ele
retirou uma flor que esta era uma tulipa e colocou sobre
o túmulo de Catherine. Ainda chorando ele gritava aos
berros arrependido, até que pode se ouvir uma voz de

63
dentro dele dizendo que era um assassino e todo
assassino precisava matar. Ele enxugou seu rosto e a
névoa começou a aparecer sobre o cemitério. Lowell
estava disposto a se saciar, e se ele era culpado pela
morte que Catherine, por Catherine ele matou e por ela
morreria, mas todos fizeram mal a Catherine, todos a
deixaram triste, e desta vez além de fazer por si próprio
também era por Catherine.
Amargurado e furioso, sedento por morte ele
pegou sua foice, subiu no alto de um monte e deu um
grito bem alto, as pessoas estavam na festa de todos os
santos, distribuindo comida na praça todos felizes. Como
poderiam estar felizes se Catherine tivesse falecido? Não
podem sorrir por isso. Lowell saiu correndo por entre o
céu escuro de um dia de chuva, as pessoas brincavam no
parque e os tolos e dançarinos alegravam a todos. Ele
chegou inesperado, um a um foi arrastando e mutilando
todos com sua foice, depois eram três de uma só vez, e
depois ele as matava, arrancava as pessoas de dentro de
suas casas e as levava para a praça. Matou sua tia, sua
mãe, o padre e o bispo, matou os soldados que tentaram
se aproximar, matou como ninguém nunca tinha matado,
ninguém podia parar sua raiva. nenhuma flecha lançada
de longe o acertava, e o chão na praça ficou todo
vermelho, do telhado escorria ainda quente o sangue das

64
pessoas, seu machado estava todo ensanguentado e todo
seu corpo também, rodava sua foice e decapitava quem
se aproximasse. Lowell nadava em sangue humano e
arrastava seus corpos pela rua com sua foice, ele entrou
na igreja e gritava:
— Venham conhecer o diabo!
Ele chegou a matar muitas pessoas, com uma força
e uma agilidade sobre humana, matou mulheres e
crianças, de todas as idades, em pouco tempo a praça
ficou vermelha, após o ato ele correu até a banca cheia de
maçãs e começou a jogá-las para o alto, espalhou maçãs
por toda a rua .as paredes e o chafariz ficou vermelho, a
água que jorrava pelo chafariz também era vermelha. E
quando já estava esgotado de tanta matança ele começou
a gritar:
— Essa é a festa que vocês queriam!
Ele dava uma risada maléfica.
— Este é o mar de gente, o sal da terra das pessoas!
Até as plantas estavam sujas de sangue e dessas
flores ele retirou uma tulipa manchada de sangue e
começou a chorar:— Beba minhas tulipas, bebam a vida
medíocre destas pessoas...
Com a foice na mão, sua capa grande de couro foi
escorregando sangue, e em seguida ele caiu no chão. As
pessoas ficaram com medo de se aproximar, mas breve

65
ele foi preso, pois estava adormecido e desta vez
satisfeito.
Quando acordou, estava em uma sala muito bem
trancada, amarrado com grossas carentes, não demorou
para que viessem busca-lo, mas antes um último pedido
como seu almoço, ele pediu uma maçã, apenas uma
maçã.
A maçã ele colocou no bolso e foi a ser julgado, e
foi julgado como o próprio demônio seria, Lowell foi
torturado, sua família desonrada e
condenado em praça pública, morreu
dolorosamente enforcado. Davet podia ver tudo que
estava ocorrendo e pensava que ele tinha razões para se
entregar assim às pessoas, não pelo estrago feito na
cidade que lhe deixou muitos mortos, ele matou
Catherine quem tanto não queria matar. Em seu
julgamento ele ainda dizia que mataria bem mais pessoas
se quisesse. E que um dia mataria um terço de toda a
população de Vale dos anjos, as pessoas que avião entes
perdidos por culpa de Lowell, queriam linchá-lo. As
pessoas o odiavam e muitos e alguns ficou com medo de
aparecer no lugar e ele resolver escapar e matar a todos.
Muitos olhavam pra ele como se ele fosse um portador
do mau, e o padre ainda queria que ele beijasse a cruz
como uma salvação da alma, mas ele xingava e os

66
chamava de porcos, de imundos que se escondem atrás
de deus por causa das vergonhas de que fazem e se ele o
fez mal , às pessoas o fizeram pior. Porém o que mais
intrigava as pessoas que ali compareciam era que Lowell
dizia que eles deveriam mata-lo logo, e não apenas
tortura-lo para que ele dissesse que Era um bruxo:
— Vai me bater é? Então para sua sorte me mata
logo, porque se eu sobreviver eu vou matar mais que já
matei em toda minha vida.
Davet estava bem ali perto e Lowell, mas ele ainda
teve fôlego para gritar
— Pobrezinho de tão perturbado morreu rindo. —
Pensava Davet, que neste auge já não tinha ânimo nem
para pensar no passado em Catherine ou no seu favor
que Lowell ainda o devia.
E friamente eu comunico que Lowell morreu
enforcado, e a agonia ficou estampada em teu rosto até
quando foi jogado em um buraco e enterrado. Assim
acaba todos os assassinos. Mortos e bem enterrados.
Após um tempo Davet passou a sair na madrugada,
pegou a tampa do caixão de Catherine, colocou na
parede de seu quarto onde não era mais permitido a
entrada de ninguém, às vezes ele dormia sobre a tampa e
sempre lembrava da morte que deveria ser dele.
naquela noite ele voltou para casa e não falava

67
nada, se trancou novamente no quarto e ficou olhando
para a tampa do caixão de Catherine, ele não tinha muita
noção do tempo e nem de que faria na vida, passou pela
praça suja ainda de sangue, foi se limpando com a chuva
e escorrendo todo teu sangue pelos esgotos da cidade, os
corpos eram recolhidos e enterrados, Davet caminhou
sem pressa e foi para o mar. Ficou parado sobre aquela
agitação do mar que jorrava suas águas ferozmente como
quem quer esconder navios naufragados em águas rasas.
Sua família ainda se punha muito triste e abalada
pelos acontecimentos que ocorreram neste período, a
família de Catherine chorava prantos secos de quem se
perguntavam se realmente a conheciam, e com o passar
dos tempos Davet não falava mais, não saia de casa e não
fazia nada na maior parte do dia.
Um ano se passou e ele ficou vegetando, até que no
natal ganha um grosso livro, e com os livros de quase mil
páginas. Eu não sei de onde uma pessoa tira coisas para
escrever um livro de quase mil páginas, os livros de mil
páginas tem como assunto consolar ou distrai uma
pessoa, mas a Davet estes livros, que antes o
amedrontavam ao ganhar um em cada natal, agora nada
mais o dava um medo maior que o medo de viver, de
sair para fora e respirar a ar congelante do inverno ou
galopar até uma divina glória, mesmo que seja ir a

68
catedral e observar com o medo de cair e se espatifar no
chão em um desafio de cair, mas o fato era que

Davet os lia para passar o tempo é bem mais tempo


a casa foi ficando velha e a praça também, Davet lia
cada vês mais e saiu da escola, mas não trabalhou, a
família foi merendo e o deixando com uma herança que
daria para viver bem com uma bela esposa, mas ele vivia
sozinho no alto do teu quarto, com uma biblioteca de
vários livros, a casa de Davet já não os cabia mais, as
pessoas morriam e ele presenciava cada funeral a partir
daquele dia em que foi ao de Catherine e deu Lowell, as
árvores de seu belo jardim que ficava na entrada do
casarão foram secando e tudo mudava com o tempo
ficava cada vez mais tenebrosos. Menos o mar, às vezes
me deparei com Davet conversando com o mar, como
quem fala para um amigo, ou talvez ele conversasse com
a morte, esperando que ela velejar pelos mares de sua
angústia e o trouxe a última tempestade de uma noite
abalada. Assim ele poderia ir com os redemoinhos que se
formava com o vento, ou com o sopro de vendavais que
passaria pelo vilarejo. Vale dos anjos crescia, as pessoas
já eram de outra geração e Davet Completava seus
20 anos de idade e ainda estava se vegetando com os
livros, em tão grande amargura que às vezes se sentia

69
preso e gritava batendo nas paredes, como um louco. Ele
também não se alimentava corretamente, não prevenia
doenças e nem sequer tinha coragem para sair de casa,
sua depressão chegou a um estado de síndrome do
pânico compulsiva, e às vezes alguém tinha a sorte de
ver ele com seus cabelos loiros e quase brancos de
pálidos, ele estava desnutrido e fazia vômitos desmaiava
e mesmo assim se safar da morte. Seu quarto pregado de
pedaços de livros que ele mesmo arrancava e colocava na
parede, no quintal restos de brinquedos que nenhuma
criança em sã consciência pensaria em entrar para
pegarmos de volta, à grade do portal enferrujou e a cada
ano se tornava uma de cada para Davet. Mas seus
cavalinhos estavam na parede, sobre uma estante ele se
sentava e contava histórias arrepiantes e fatos bizarros
que lhe aconteceram ultimamente. E aconteciam muitas
coisas estranhas...
E seus amigos mortos onde estariam, já que a
estória não é somente sobre a “desventurada morte de
Davet.” Ou algo que conte sobre suicídio apenas, mas
que relate o princípio e o fim em um vale de guerreiros
decaídos.

Agora eU qUeria ser fria, fria como os mortos, para


não sentir os abalos sísmicos e nem as rajadas de
vento, Queria ser como aquela estátua qUe repouse

70
sobre a praça qUeria apenas parar, e já qUe não me
resta viver eU qUeria o direito de poder morrer, e
apenas não ter qUe aguentar mais Um problema sem
fazer parte dele, como eU qUeria ser Uma chUva, me
jogaria ao chão. E como é fraco o m Undo e insensível
seis habitantes, todos mUito frios, porqUe já não vive
mais nada.

Capítulo 6

Catherine acordou em um lugar deserto,


literalmente era aquilo um deserto, esta era sua
experiência pois morte, e após ver toda sua vida desde
que era pequena se lembrava de tudo nitidamente como
se fosse em pouco tempo uma fração de vida em
segundos.
Cheio de areia ela vagou por tempos até que
começou a gritar, mas a frente então ela encontrou outra
pessoa que também havia ali vagando. Era um menino
de uns 7 anos de idade. De repente este menino de
aparência muito pálida começou a afogar, seu ar parecia
sumir e Catherine assustada disse:
— Você está bem? Menino você está bem?
Ela insistia, mas de tanta afobação ele não
respondia, parecia ficar sem ar, Catherine ficou muito
preocupada, quando viu que se aproximava uma mulher

71
que colocou a mão sobre o ombro do menino e ele voltou
a respirar melhor.
Após anos Catherine não conseguia raciocinar, mas
todos os dias eram como os outros e jamais ninguém
adormecia ou comia nada.
— O que é este lugar? Aonde estou? — Catherine
começou a gritar com raiva.
— Tenha boa conduta.
Foi chamada a atenção por uma mulher de roupas
estranhas. Mais tarde ela via um homem que parecia ter
saído de uma caverna.
— Que lugar é este?
Ela perguntou mais calmamente, porém bem
assustada.
— É um deserto. — respondeu a mulher
— E porque estamos aqui? Como se chama este
lugar?
— De onde veio?
— Vale dos anjos. Onde estou? — Catherine insistia
em respostas.
— Está em um lugar chamado vertigem.
— Estou mesmo em uma vertigem? Mas para onde
vou?
— Pergunte aquela mulher quando ela vier.
— E como eu faço que ela chegue perto de mim?

72
— Não sei se é só você fazer alguma coisa.
Catherine respirou e começou a lembrar de tudo e
lembrava de como morreu, então ela começou a gritar e
em seu corpo abriu as feridas, e a mulher colocou a mão
sobre ela e ela começou a se sentir melhor.
— Quem é você? Ela perguntou.
— Sou Ahaniel.
— Por que estamos aqui?
— Estão todos sendo julgados.
A mulher dizendo isso saiu sem olhar para trás e
foi socorrer o homem que dizia que estava quente
demais.
Aquele deserto era frio como nas noites de inverno
em Vale dos Anjos. Mas as pessoas não usavam
nenhuma roupa senão as que estavam quando morrerão,
e foi assim que Catherine raciocinou que estavam todos
mortos.
Um velho sábio estava sentado bem mais em frente,
as pessoas não se aglomeraram, estavam sempre uma
bem longe das outras e muitas bem perdidas.
— Senhor?
Catherine se dirigiu ao velho sábio. — O senhor
poderia me responder algumas perguntas? — Ele virou
calado e disse apenas.
— Pergunte.

73
— O que aconteceria se fôssemos julgadas pessoas
ruins?
— Vamos nos reencarnar, porque não cometemos
pecados grandes e fazemos boas ações. Temos chance de
viver novamente, mas se você foi ruim mandarão você
ter uma chance em um mundo menos evoluído que o
que você veio.
O homem ficou por muito tempo calado enquanto
Catherine tentava pensar sobre aquilo.
— Para onde eu vou? — ela perguntou.
— Não sei. Quem é você?
"Quem sou? para onde eu vou agora?” ela se
perguntava enquanto andava pelo deserto, bem longe
dos outros ela se perde novamente, mas sempre vinha
uma mulher para lhe aconchegar quando sentia as dores
da morte. Catherine já vagava por 19 anos sem perceber.
Ela esperava com esperança encontrar seu amor.
Catherine ainda esperava por um julgamento. Até que
um dia lhe veio um brilho forte sobre os olhos, era a
fênix:
— Acorde Catherine— disse a fênix com o rosto
próximo.
Enquanto Lowell fora mandado para o inferno sem
nem ao menos ser julgado espiritualmente pelos seus
erros e atrocidades.

74
O inferno de Lowell é um lugar em que acorda
atormentado com uma música horrível, no meio do salão
redondo e com uma porta azul da parede bem no centro
um homem dançava, todo ensanguentado. encostado na
parede havia uma menininha que de tanta fome roía as
pequenas mãozinhas, de cabelos despenteados ela era até
certo ponto bonita, mas em seus olhos se Lowell pudesse
reparar veria um demônio horrível.
— Está com fome menininha? — Ele perguntou
olhando de lado para a menina
— Não fale com ela— dizia o homem que dançava
— não é uma criança, é um demônio.
A menininha começou a chorar como uma criança
pirracenta, e seus gritos empurram Lowell por um
corredor escuro, coisas caiam às escuras do teto. e no
chão imundo havia correntes com pessoas presas
pedindo ajuda. Lowell andou friamente sem entender
nada. Chegou a um lugar seco com uma árvore grande
que estava morta e se erguia dentro de um lago que
também aparentava estar morto.
Do lago saíram duas coisas horríveis, afinal tudo
era horrível ali, porém Lowell se sentia confortável, e
resolveu perguntar.
— Quem é você?
Com um aspecto de sereia, porém muito feia Metade

75
peixe com nadadeiras nas mãos, magra e de cabelos caindo,
seus cabelos eram longos e finos.
— Sou a desgraçada.
— Como é?
— Desgraçada é o nome dela. Eu sou a peste. — Outra que
estava por perto respondeu.
desgraçada, peste, praga, tudo era nome daqueles seres que
nadavam pelo lago, sujo e escuro, mas o lago se estendia
muito além do que ele conseguia enxergar então resolve
perguntar até onde iria.
— Somos burras, não podemos responder.
— Mas não sabem o que tem neste lago?
Elas fizeram sinal de que não entenderam nada, e Lowell
pensou que se quisesse sair daquele lugar, teria que ser
bem esperto, então disse às sereias:
— Quero nadar. Quero que me carreguem.
Lowell entrou no frio lago cheio de algas e animais
mortos e elas a carregaram até uma torre, e ele pensou que
estaria a salvo em algum lugar.
Ao chegar, as sereias se despediam cantando um canto
lindo, mas não encantavam Lowell. A torre era alta,
portas grandes como de um castelo, nunca iria conseguir
entrar, então ele resolveu procurar por alguém ali perto.
Rodeando o que parecia uma ilha ele achou um homem sujo
sentado, ele repetia que era rico e tinha de tudo. Ao ver

76
Lowell ele se aproximou e contou a seguinte história.
— Eu era pobre e fiz um pacto com o diabo. Eu fui feliz, foi a
melhor escolha da minha vida.
— Você sabe como eu entro nesta torre?
— Não! não pode entrar. — respondeu o homem sujo
— E porque não?
— Ela mora aí, ela vai torturar você. — respondeu aquele
homem abrindo um sorriso perverso.
Lowell e pensou em Catherine, e queria saber onde ela
estava e pensou que talvez aquele homem tivesse
respostas.
— como eu saio deste lugar?
— Você não sai, está morto! — Após dizer isso soltou uma
grande e longa risada.
Aquelas risadas eram altas e vagavam pelo espaço sombrio.
Lowell ficou furioso e começou a apertar o pescoço do
homem sujo para enforcá-lo. De um lugar alto ele viu
descer da torre um homem bem machucado, ele se
arrastava pelas paredes e depois se jogou no chão, este
homem tentava, mas não conseguia levantar.
— Você sabe onde eu acho alguém inteligência aqui? —
perguntou Lowell a figura que descia rastejante pelas
paredes.
— Aqui? Não a ninguém aqui só excite cobiça, fúria, ódio,
luxúria, vaidade, ira, preguiça, gula, avareza.

77
— E você, o que é você?
— Sou Zibell.
Lowell deu-lhe um chute que não conseguiu acertar, o
homem mesmo muito machucado conseguiu se levantar,
segurar o jovem e o jogar no chão, e assim estando olho a
olho, Lowell pode ver cada ferida em seu rosto
desfigurado.
— Quem te feriu? — perguntou.
— Arisiel fez uma marca para cada pecado e você
tem mais feridas que eu na vida.
De repente um zumbido saiu da torre, era algo
diferente que encheu o coração de Lowell de um
sentimento estranho para ele, seria medo? talvez.
— Você irritou ela. — disse o homem sujo que
voltou a sorrir logo depois.
O homem que vinha se arrastando voltou para a
parede, Lowell pulou na água e gafanhotos desciam da
torre. Ele então começou a afundar e viu no fundo do lago
pessoas que se mexiam pedindo socorro. uma das sereias
então o pegou e levou de volta à superfície depois para uma
terra firme com construções caídas. Sem falar nada ela saiu
pela água.
Neste lugar em que estava ele viu um menino que
na testa tinha três estrelas.
— Eu só quero ver Catherine— ele disse com todo

78
o apego irracional que tinha pela sua amada, e com o
olhar quase que implorando ele retirou palavras da boca
da estranha criatura a sua frente que disse:
— Venha comigo.
Em um caminho escuro ele andou e quase sem
enxerga nada ele continuava confiante em sí mesmo, ele
via instrumentos de tortura e esbarrava alguns que o
fazia lembrar de seus cruéis divertimentos passados.
— Seu lugar é no fogo.
— Não vou ver Catherine?! — indagou.
Neste momento ele viu que o menino segurava um
livro, este livro sangrava muito e seu sangue escorria
para dentro do lago morto.
— Este é o livro dos mortos e seu nome está aqui.
— disse o menino sem esboçar sentimento ou admiração.
Lowell viu seu nome e também viu como havia
falecido, e seu sangue agora alimentava o lago. E a cobiça
de Lowell por morte brilhou em seus olhos, logo
percebeu que não era apenas um livro comum e desejou
ter para si aquele livro tão poderoso, afinal, aquele
demônio queria almas e Lowell as conseguiria.
— Conheço alguém para colocar neste livro.
—Lowell ergueu os olhos para o menino. E com
estas frias palavras ele escreveu no livro o nome do
carrasco que o matou e mais outros dois amigos.

79
O demônio ficou contente, e Lowell não estava
sofrendo entre os poços de amargura e nem isolado em
um canto atormentado por diabinhos.
Sua rotina ficou simples, escrever o nome das
pessoas no livro, ver os outros serem torturados, mas
sempre que passava pelo lago se lembrava muito de
Catherine e de como ficavam juntos olhando a água no
mar.
— Onde estava minha amada? — ele perguntava a
si mesmo, de certa forma ele poderia trazer as pessoas
aqui, poderia então quem sabe buscar Catherine que
tanto queria ver e beijar novamente.
ele foi falar com um anjo caído e o mesmo disse que
seria possível, se ele fosse um demônio e possuísse
alguém na terra e teria que ter ordem para isso.
Antes claro ele tentou escapar, mas um cachorro
enorme observava a saída, era impossível passar. A criatura
que uma hora tinha forma de cachorro e outra de cobra,
também podia ser vários outros animais e Lowell era
estraçalhado por qualquer forma que tivesse a criatura.
— Maldito e desgraçado! — ele gritava.
— Ele não vai deixá-lo sair. — Os outros mortos o
diziam.
Às vezes ele falava com o homem que rastejava
pela parede da torre, mas a única maneira era passar

80
pelo animal. Queria pelo menos ouvir a voz de Catherine
e por algum motivo sabia que Catherine estava lá em
cima, sabia que ela não poderia cruzar os portais
celestiais.
pela primeira vês o mal quer algo bom. logo ele
percebeu uma forma de falar com Davet .

O amor caiu do céu em terras secas e pelo amor caiu o


mundo, é do prazer o amor de viver e só cair à razão de
morrer. Nesta terra rodeada de prazer e onde se encontra um
frio e velho corpo, morto e já podre

81
Capítulo. 7

Ele conseguiu ver apenas Davet. Com muito


esforço ele convenceu o demônio que guardava o livro
de que se viesse a terra conseguiria mais almas para
escrever ali.
— Onde está Catherine? — Ele gritava ferozmente
através do corpo de uma menininha possuída.
Davet o via gritando dentro de uma casa vizinha e
logo reconheceu a voz e o espírito insano de Lowell.
Aproximando devagar ele entrou na casa que estava
rodeada de pessoas e começou a falar com o demônio:
— Quem é você?
— Não te interessa imundo. — respondeu Lowell e
começou a rir.
Cuspiu na fase de Davet e em seguida continuou
a gritar:
— Eu quero a Catherine, minha amada!
O padre logo chegou e as pessoas que se
assustavam queriam matar a menina crendo que sua
alma já estava com a criatura maligna.
— Está chamando por uma pessoa morta e você
sabe disso. — disse Davet.
— Catherine vai voltar!
Neste momento ele parou e começou a chorar, por

82
um segundo parecia tristeza em seus olhos, mas logo
todos perceberam que se tratava de ódio por tudo que
aconteceu, suas lágrimas começaram a virar sangue e ele
soltou um berro.
— Catherine!
— Ela morreu Lowell! — respondeu Davet
novamente.
As pessoas ao redor já estavam assustadas, mas
Davet tentava tranquilizar dizendo que tem um tio
padre.
— Não!
— Morreu Lowell.
O nome dele não deveria ser mencionado e neste
instante as coisas começaram a cair no chão.
— Você não pode ver porque ela morreu e você
sabe disso!
— Ela está em algum lugar e você vai descobrir
para mim, aí vai sim. Vai sim.
Ele repetiu a frase umas três vezes e depois de
muito tempo ele saiu do corpo da menina aos gritos.
E vida é algo estranho de todos os fatos, leis, teorias
mais complexas, é a mais difícil compreender. vivemos
para morrer e quando morremos sem ter vivido nada do
que nós e de direito ter aproveitado? uma testemunha de
vida seria nossa jovem Catherine que não aproveitou o

83
nascer do sol, não sabia olhar a lua e nem contar suas
faces, e nem Davet havia vivido, ela não se deitou sobre
o mar em uma tarde tranquila de sol, e agora a única
coisa que ambos tinham era a morte para aproveitar, ela
tinha a morte para refletir sobre suas escolhas e Davet
tinha a vida para refletir sobre suas consequências.
Catherine estava em algum lugar, só era difícil
saber onde por isso Davet correu para à biblioteca e se
ele havia conversado com Lowell poderia sem dúvida
falar com Catherine também, porém ele foi alertado que
ela não estava no inferno, e durante dois anos ele leu
sobre. Quando completou seus 35 anos Davet já falava
muito com Lowell e sua casa estava mais que
assustadora e empoeirada, chovia muito quando na sua
porta aparece uma menina que trazia consigo um bilhete
que explicativa que aquela menina era uma filha. Foi
como tomar um banho de água gelada. Anos atrás ele
havia conhecido muitas mulheres, enlouquecido e se
embebedou muito. A precipício uma alma jovem seria
uma boa oferenda para tal magia que iria trazer Lowell
de volta, porém ele já havia tentado esse tipo de sacrifício
entes, matou duas jovens e uma terceira matou na tumba
de Lowell, mas nada acontecia de fato como ele tinha
planejado.
O máximo que conseguiu foi uma aparição que o

84
assustou muito ou a possessão de outra criança na rua.
Mas aquela menina tinha os olhos diferentes, não apenas
por ser sua filha, mas por ter o olhar estranho de
sofrimento no rosto, de fato a menina não tinha
expressões negativas ou positivas, seu sentimento ao
olhar para tal figura lhe dava a impressão de que a
pequena vegetava. E sobre aquele olhar frio de quem nem
sente o vento no rosto pode ver o olhos de um sonho com
asas que não sabe onde pousar, pode ver que tudo aquilo
era um sonho passageiro ou uma miragem a ser
apreciada, tudo isso vai acabar, estes eram os olhos da
doce menina que com carinha de doente caminhava em
sua direção.
— Temos que dar um banho em você, não pode
andar suja. — disse Davet pensando em como cuidaria
de uma criança tão pequena e frágil.
A menina bem quietinha tomou um banho, vestiu
um vestido longo de um bom tecido que ela escolheu
sendo o mais branco entre eles. Após isso ela começou a
limpar a casa, limpou tudo sozinha. O que foi uma
surpresa para Davet ao chegar com vestidos brancos que
cabiam na pequena menina.
— Você limpou tudo sozinha?
— Sim.
Ela respondeu bem baixinho.

85
— Então você pode ser mais útil do que eu
pensava.
Ele mostrou a biblioteca para a menina e depois
lembrou que não perguntou o seu nome.
— Qual seu nome? — ele disse se surpreendendo
com o interesse da menina pelos livros.
— Elisa
— Que bom Elisa, eu vou te ensinar a ler e escrever.
E nos tempos livres a menina recebia a melhor
educação, ela lia livros, se vestia do mais fino tecido,
tomava seu chá da tarde, a noite estudava com seu pai, e
assim ela cresceu.
Mas havia algo escondido dentre os livros enormes
que Elisa lia durante o dia. Havia algo em seus sonhos
que era muito sombrio, algo de muito estranho em seu
olhar. Ela dizia ver coisas à noite e Davet reparava
aquela tristeza enorme em seus olhos.
Naquele dia Elisa já com 20 anos de idade estava
lendo um livro no jardim, e seu velho pai a chamava
para entrar. O rei planejava um lindo baile e o vilarejo
estava em festa, porém naquela noite uma chuva descia
ferozmente do céu e entre raios e trovões daquele noite
Davet teve um sonho, já fazia tempos que Lowell não se
manifestava de forma nenhuma, porém ele teve o mais
tenebroso sonho e foi a ele revelado quem era realmente

86
a menina sua filha. Ele levantou gritando e correu para o
quarto da filha.
— Catherine!
— Sim? — respondeu rápido a menina.
— Catherine!
Ele gritava e abraçava a filha que não entendia
nada do que estava se passando.
— Mas meu nome é Elisa.
— Não, venha comigo. — disse Davet a jovem com
olhos contentes e uma expressão de espanto no rosto.
Eles andaram até a enorme biblioteca, e depois de
uma porta secreta passaram para um tipo de sala onde
havia livros e mais livros sobre magia.
— Veja. quando você morreu. — Ele disse
enquanto passava as mãos por vários livros na estante.
— Eu morri? — perguntou a jovem espantada e
ainda sem entender o que estava acontecendo.
— você veio de outra vida, mais não se lembra
quando morreu, seu espírito passou por algo que eu
chamo de julgamento, sua alma não podendo ser
condenada e sua hora ainda não havia chegado, então
você se reencarnou como minha filha, e alguém... — ele
interrompeu o raciocínio por um minuto pensando no
que talvez poderia ter acontecido e continuou — o
destino!

87
— Mas... — ela tentou interromper para tirar suas
dúvidas que pairavam cruéis em sua cabeça, mas logo foi
interrompida pelo pai.
— Lowell te procura há anos, ele vem assombrando
minha mente, agora você pode lembrar de tudo e talvez
possa me perdoar.
— O que devo fazer agora?
— Venha, você vai estudar enquanto eu preparo
um ritual para levar você a onda Lowell está.
— Se eu me lembro bem, Lowell está morto. — Ela
disse isso com uma certa desesperança, pois no fundo de
sua alma se lembrava bem de que ele ainda é em sua
vida.
— Sim. Por isso é perigoso para você e deve estar
preparada para achar o caminho de volta.
— Caminho de volta do inferno?
— Sim.
Davet saiu deixando com Elisa um monte de livros
raros que ela gostou de passar seu tempo lendo.
Enquanto a menina lia trancada naquela sala antiga que
ficava na parte inferior da casa, e ficar ali com livros tão
interessantes era como parte do paraíso.
Parece loucura uma magia assim no mudo, Elisa já
tinha uma boa ideia dos assuntos de seu pai, pois afinal
via ele como um grande sábio.

88
O tempo frio estava ótimo para uma boa leitura, as
folhas se balançavam com o vento pelos portões
enferrujados, porque na vida tudo é um fracasso, mas
mesmo sendo triste havia um momento tranquilo para
olhar lá fora e não se importar com a chuva, olhar para
os portões e ver os corvos pousam sobre eles, acender
uma vela e ser aquecida pelo fogo, um tempo que ela
tinha para descansar de tantos erros e impossibilidades.
Ela tinha sonhos, acreditava em fantasias, mesmo nunca
tendo visto, mesmo que pudesse conhecer apenas as
histórias contadas ela ainda via nos livros um mundo,
uma história e um interesse, e às vezes um momento de
paz.
Davet procurava no bosque por coisas que usaria
em seu ritual, mas como ela passaria pelo guardião do
inferno já que este permite somente que as almas entrem
no inferno? Foi quando ele teve uma ideia, após algumas
horas ele chegou a sala gritando a Elisa.
— Filha se prepare!
— Como sair do inferno? Pretendes que eu fiquei
ali?
— Não filha. você vai levar uma harpa.
— ainda não compreendi.
— Está harpa está enfeitiçada com uma magia
muito forte, quando você tocar a criatura no portal do

89
inferno vai dormir e você poderá retornar.
— Acredito que antes eu deveria saber melhor
sobre meu passado.
— Sim, eu também providenciei um plano para
isso.
Davet mostrou à jovem sua própria lápide, o lugar
onde foi enterrada.
— Lembra-se de algo?
— Ainda não. — respondeu Elisa com ar duvidoso.
— Vamos para casa, você precisa dormir.
Davet preparou um ritual do sonho enquanto a
jovem dormia e com essa magia ele esperava que Elisa se
descobrisse como sendo Catherine.

Elisa dormiu e neste sonho pode ver tudo que


havia lhe acontecido, o amor que sentia por Lowell até
sua morte e a passagem.
Ao acordar gritava muito assustada.
— Calma! — tentava confortar o pai. — Você vai
para um lugar pior.
Davet deixou que ela descansasse até a noite
seguinte, Lowell já sabia que a sua amada estava naquela
casa e não pensou duas vezes, teve permissão para ir ao
sonho de Davet novamente.
Num sonho embalado por imagens do mar frio e

90
pesado de Davet, ele aparecia sorrindo e chamando seu
amor, porém queria muito ir aos sonhos de sua amada e
assim o fez.
— Catherine querida, eu te amo e quero estar com
você. — Ele dizia a jovem em sonhos.
Porém o que Elisa via era uma imagem monstruosa
do passado, sua morte e de todo seu sofrimento e
começava a delirar quando seu pai chegou ao quarto.
Dizendo:
— Deixa-a descansar Lowell, amanhã você irá ver
sua amada.
O demônio não queria ir e mesmo sendo
convencido a sair dos sonhos da menina ele sentou-se
sobre a cama e ficou a noite toda a olhar para a menina
que ouvia suas juras de amor.
— Catherine eu mataria o mundo por você...—
sussurrava ele aos pés da cama.
Na manhã seguinte o espírito não estava mais na
casa, e Elisa acordou cedo pensando em seu amado, ela
se arrumou e escovou bem os cabelos, não encontrou um
vestido bonito o suficiente e pela primeira vez pediu ao
pai dinheiro para mandar que fizessem um vestido novo.
O pai não negou o agrado e ao encontrar uma costureira,
com poucas moedas, pediu-lhe um vestido.
— Eu quero que fique pronto hoje à noite. — disse

91
sorrindo para a costureira.
— Querida, o baile no castelo já acabou.
— Mas não é para o baile e para alguém especial,
quero estar bonita.
— Está apaixonada… quantos anos você tem
querida? — disse a costureira enquanto mexia em alguns
tecidos.
—20. — Elisa respondeu e sorriu
— Felizmente eu tenho um vestido que era de
minha filha e vai te servir muito bem.
O vestido era lindo, era negro, um bordado
fabuloso o decorava, a mulher o vendeu pelas moedas
que Elisa estava carregando. Os olhos da jovem
brilharam e tudo que ela mais queria era agradar seu
amado, algo que aqui seria fazer de tudo, agradar
alguém mesmo que este seja um assassino e seu maior
agrado seja a morte de outras pessoas.
Ao chegar em casa Elisa correu para seu quarto
com o vestido nas mãos e um sorriso valiosos no rosto, o
vestido tinha traços de um bom tecido e rendas, bordou
nele algumas joias que já estavam velhas na casa, serviu
de ótima decoração, um laço atrás e uma rosa bordada a
altura do pescoço, Elisa se sentia feliz e antes ainda do
anoitecer escovou bem mais os cabelos e os enfeitou com
rosas vermelhas.

92
Seu visual era escuro e tenebroso, se destacava em
uma beleza cruel, ficou mais belo ainda na escuridão,
pois seu rosto de pele bem clara destacava a cor preta do
vestido, seus cabelos agora eram cacheados e dourados.
Elisa estava linda para seu amado e a lua se vestia
também com seu manto cobrindo a noite fria do vilarejo.
— Como está bonita! — disse Davet ao ver a jovem.
— Hoje é uma noite especial. —respondeu ela ao
elogio,
— Será uma ótima noite e eu espero que volte ao
amanhecer.
Era como sair à noite e ter um horário para chegar,
mas caso não retornasse antes do amanhecer certamente
estaria presa. Ela tocava a harpa para entrar, talvez isso
funcionaria, mas com certeza na volta precisaria da ajuda
de Lowell.
Lowell não poderia sair com a jovem e ela não
poderia permanecer no inferno. E foi assim que mais
uma vez Catherine dormiria...

EU qUis ser o centro do Universo, mas não soU


mais que um anjo. em sEU olhar vejo a tristeza e como
é mórbido seus sentimentos, e nessa prof Unda
escUridão me atraiu e não posso ser feliz te vendo
infeliz. mesmo se mEU coração se partir em dois q Uero
te ver feliz, pois não é t Udo o qUe aparenta ser nem

93
toda felicidade as faz na natUreza. EU soU sEU anjo e
se ainda há alegria para ser sacrificada EU me entrego
ao sacrifício.

Capítulo 8

Elisa ficou parada em cima de um pentagrama riscado no


chão. Seu pai já preparava o ritual. Uma mortalha cobria seu
rosto e o vento que passava pela janela balançava seus cabelos
junto com a mortalha, muito bonita a jovem se deitou sobre um
lençol novo e branco, tendo em mãos a harpa e uma esperança
ainda que cinza, o sangue ainda quente de um animal morto
seguia as curvas do pentagrama e Davet cuidava para que tudo
fosse bem feito, pois um erro poderia matar Elisa. um punhal
gelado perfurou a pele da jovem criando um corte profundo.
—Durma bem. — disse Davet de forma fria.
Estas foram as últimas palavras que Catherine
ouviu antes de se ver sendo puxada para baixo, ela podia
ver tudo e sentia seu corpo como que afundando no
chão, seu sangue podia ser sentido correndo por suas
veias e sentia espíritos do mau correr ao seu redor. Risos,
gargalhadas e choro, tudo Elisa ouvia com um som
estranho. Quando abriu seus olhos ela estava em uma
ruína onde pedaços e destroços formavam um labirinto e
no meio passava um lago de lava igual a dos vulcões e

94
vermelha como o sangue do qual muito curiosa ela não
se atrevia a tocar.
Assustada ela olhou para cima e viu algo escuro, não
podia ver bem o teto, mas aparentava ser baixo. Não era
mais horrível do que olhar para frente e foi olhando para
cima que ela começou a andar lentamente, foi quando
percebeu que deveria achar seu amado logo.
Quando percebeu que estava perdida, se viu em
um deserto de terras escuras e muitas pedras que se
prolongavam em um caminho que não via o fim.
—Lowell! — gritou com a voz trêmula.
Este foi o primeiro grito que corroeu todo o
deserto, então surgiu uma enorme ventania e com a
ventania vieram corvos, que tornaram o lugar ainda mais
escuro. A menina correu e mais a frente encontrou com
pessoas que choravam muito, e se arrastavam sobre o
chão aparentando sofrer com muita dor.
— Como pude fazer isso! — disse gemendo uma
das pessoas.
—Socorro! — outras também gemiam de dor e
entre os gemidos se ouvia as palavras de
arrependimento.
Muito sujas as pessoas puxavam o seu vestido, pois
não conseguiam ficar de pé, suas pernas estavam
machucadas e uma delas havia muitos bichos pelo o

95
corpo, uma estava cega e outra se agarrava ferozmente a
um objeto, com seu Cabelo despenteado, bocas
quebradas e sujas, unhas grandes e dentes podres,
extremamente feias, assustavam Elisa que teve medo de
gritar outra uma vez.
Após muito andar, chegou perto de um grande
tronco de árvore e viu um lago perto dali uma menina
muito magra comia as próprias mãos.
— Coitadinha. — Catherine disse e correu até a
menina e perguntou se aproximando — está com fome?

Atrás de Elisa neste instante saiu uma voz que lhe
era familiar.
—Não é uma criança meu amor, é um demônio.
—Lowell!— gritou ela se virando e percebendo que
se tratava do amor de sua vida e Seu rosto estampou o
único sorriso feliz e puro que poderia existir no inferno
por mais que isso seja horrível, e este sorriso seguiu de
um choro que matava a saudade e trazia o alívio de não
estar sozinha naquele lugar.

— As pessoas… — ela começou a dizer, mas antes


que terminasse foi interrompida pelo amado.
— Não se preocupe com ninguém aqui, são apenas
demônios e almas desventuradas, algumas eu mesmo

96
matei em vida.
Uma grande névoa cobriu o lugar em que estavam
e Lowell chamou pelas sereias, mas elas não apareceram.
— Não pode ser! — ele pensou alto e foi neste
momento que apareceu um velho sátiro a sua frente, que
disse:
— Você nem sempre resolve tudo Lowell. — E dito
isso soltou uma gargalhada cruel. Após isso continuou a
falar:
— Pensou que poderia confiar naquelas perdidas e
desgraçadas criaturas? Não passam de demônios e não
são mais confiáveis que você.
— O que você quer comigo? — Lowell o encarava
firme agora.
— Eu o guiarei, mas quero ficar com a jovem. —
disse o sátiro apontando para Elisa agora conhecida
como Catherine.
— Não!
— Vejo que ela tem uma alma diferente das que
vemos aqui. — Elisa se assustou com as intenções do
fauno e se escondeu atrás do seu amado.
— Você não vai levá-la! — disse Lowell com a voz
mais firme.
— Quem é você? Ou quem pensa ser? — o fauno
perguntou com certo deboche.

97
— Sou Lowell, também sou portador do livro e
conheço bem Ahaniel, é bom que me mostre o caminho
para sair daqui.
— Não vou lhe mostrar nada! — respondeu o
fauno bravo e desapontado olhando para cima.
E sobre a cabeça dos dois surgiram criaturas como
fadas feias, horrendas como insetos ou pragas o fauno
continuou a falar:
— Siga elas porque irão para o mesmo lugar que
você.
Logo Lowell e Elisa as seguiram e estavam em uma
parte do inferno que o jovem demônio conhecia bem.
Agora ele podia torturar as almas, olhar as falsas sereias
do lago e apreciava cada momento com sua amada:
— Como está lá fora Catherine? — ele perguntou
olhando para ela nos olhos.
— Está tudo bem, teve um baile, as pessoas estão
felizes e nem sequer tem um motivo.
— Tem que me tirar daqui, Catherine! — ele disse e
segurou firme suas mãos.
— Parece gostar desse lugar.
— Meu lugar e com você. E eu sinto saudades do
sangue quente correndo por minhas mãos. o sangue que
em vida espalhei pela praça, e com a chuva... parecia
chover sangue pela cidade.

98
— Eu vou tentar te tirar deste lugar. — Ela disse
com firmeza.
—Como sofro sem você minha bela... estas almas
sujas me enojam e gritam todas as noites. posso ouvir o
ranger dos dentes, aqui não posso descansar, eu escrevo
no livro dos mortos e o guardo aqui.
Elisa fez um breve comentário:
— Soube que parte deste livro está na terra.
— Sim a relatos de uma parte que se perdeu. —
Lowell confirmou sua suspeita.
— Talvez ele possa te levar para casa! — ela
respondeu animada.
— Sim. Essa parte contém muita magia.
— Como é este livro? — perguntou ela curiosa.
— Feito com pele humana como este. — Ele dizia com
atenção aos detalhes — Ele está preso com entranhas e veias
que circulam sangue, por isso o livro tem vida e precisa ser
alimentado sempre. Espíritos que não fizeram a pesagem
cercam ele. Também sei de ossos e um olho no centro.
— Eu acharei esse livro e te libertarei. Custe o que custar eu
te terei de volta porque eu te amo! Mesmo que você não
possa ouvir aqui neste lugar onde o sentimento se cala,
mesmo que meu sentimento grite! Meu sentimento por você
grita pelos ventos.
Eles passaram bastante tempo falando deste livro e

99
de outras coisas que saíram do inferno. Caminhando e
subindo grandes torres, pedras e o fundo do lago morto,
e Catherine pode achar uma flor curiosa com o aspecto
de uma rosa, a flor escondia uma história.
A muitos tempos em um deserto havia uma rosa de
espinhos extremamente grandes, e embora não fossem
venenosos, muitos guerreiros morreram tentando
alcançar a rosa, os espinhos protegem a flor e formavam
em seu redor um círculo, e no centro de todo aqueles
espinhos estava a linda rosa, cujo Néctar era um sangue
puro e quem tomasse daquele sangue teria a vida eterna.
Elisa se maravilhou com a rosa que de fato a faria
viver, mas agora mais que nunca precisava ir embora. O
inferno era assustador, porém um lugar fabuloso de
mistérios e coisas que não vemos muito na terra. Lowell
conseguiu a flor e deu de presente para Elisa.
— Obrigada pelo presente meu amado, sei que será
muito útil, mas devo ir logo, pois a luz me prenderá aqui
no amanhecer.
— Sim, minha querida — Lowell respondeu se
conformando com a despedida.
A menina pegou a harpa e disse:
— Está encantada, com ela creio que conseguirei
adormecer a criatura e sair.
— Uma criatura muito nervosa, mas creio que você

100
pode acalmá-lo — ele respondeu olhando para a harpa.
Os dois saíram em direção ao caminho que os
levava até a criatura, passaram por grandes demônios e
grandes poças de sangue e após muito esforço
conseguiram chegar em um lago vermelho, onde muitas
almas sofrem.
— Não posso segui-la daqui, terás que ser forte —
disse Lowell dando um beijo de despedida na jovem.
— porque está vermelho? — ela perguntou
fascinada pelo lago.
— São pessoas que estão morrendo e suas almas
estão passando. Catherine não esqueça do livro.
— Não me esquecerei, nem do livro e nem de você
meu amor.
Elisa seguiu em direção a criatura que assumiu a
forma de uma cobra enorme.
esperava ela tentar sair enquanto ferozmente
atacava outras almas. Elisa começou a tocar a harpa e
logo a criatura ficou desorientada.
— Quem ousa adormecer minha fera!
Uma voz tão cruel que estremeceu todo inferno e
fez com que os espíritos sentissem ainda mais medo.

A menina saia correndo, e não olhava para trás, a


fera em um repente acordou e muitos espíritos

101
conseguiram pelo portal.
gritava muito o demônio que saiu com ar pias a
voar sobre o inferno. A jovem em seguida correu e se
deparou com as ruínas cujas quais havia passando, entre
estas ruínas ela se perdeu e foi quando veio em sua
cabeça duas imagens, uma de os demônios e suas
harpias e outra de um raio branco de sol.
A menina se via caminhando por dentro da própria
casa, e via seu pai gritando para que ela voltasse logo.
— Davet! — ela gritava
Mas ele não podia ouvi-la, pois, sua voz não era
projetada para seu corpo sonâmbulo.
Após muito desespero ela voltou para dentro do
corpo. Um escuro total tomou conta de sua mente.
Quando acordou estava cheia de marcas, e
lembrava que havia sofrido ataques tanto da cobra,
quanto do demônio e das harpias. não se lembrava de
muitas coisas, mas tinha nas mãos a rosa.
— A harpa! Eu a perdi!
— Ela era única, creio que não poderá mais voltar
para o inferno.
— Assim ficarei sem ver Lowell outra vez...
Elisa correu pelos corredores chorando e
lamentando por ter voltado, ainda muito machucada
olhava para a rosa e falava:

102
— Quem quer a vida eterna sozinho? Eu não quero
mais, não quero a vida!
Chorou o dia todo e também não comeu e nem
sequer saiu do quarto, mas após muito tempo ela
começou a se lembrar do livro e foi correndo contar para
Davet:
— Preciso lhe dizer algo.
—Entenda Elisa, não pode voltar ao inferno, não
pode ver Lowell novamente. — disse Davet já
imaginando que Lowell era o motivo de tanta tristeza.
— Sim, eu posso. — Ela respondeu.
Davet a olhou com um ar curioso, mas continuou a
ouvir o que a jovem tinha para dizer:
—Lowell me falou de um livro, cuja vida corria por
entre sua capa feita de pele humana, este livro é parte do
inferno e talvez possa trazer Lowell a vida.
— E você faz ideia de onde estaria tal livro? —
Davet mantém suas dúvidas.
— Não, mas sei que vou achá-lo, Lowell precisa de
mim para sair de lá.
— Sabe que se ele sair isso pode custar caro, a
magia tem seus limites e seu preço. — Ele a alertou.
— Pois eu pagarei este preço! —respondeu a jovem
determinada com sua idéia, faria de tudo para ficar junto
do seu amor.

103
tudo havia mudado de direção, não era mais um
fracasso ter ido ao inferno e lutado, algo deveria ser real
e dar certo. Talvez teria uma chance de achar o amor de
sua vida e tê-lo nos teus braços.
estava decidida que iria estudar tudo, cada canto
da enorme biblioteca de seu pai e acharia o livro, ali ou
em qualquer parte do mundo que fosse conhecido.
correu para o quarto e guardou a rosa em uma gaveta,
aquela rosa não marchará, pois é dela o néctar da vida.

todo desejo de ajUdar se torna plano de maldade, e


céU está azUl, mas uma única nuvem se levanta no
horizonte então tenho a certeza qUe vai chover.

Capítulo 9
Elisa estava animada naquele dia e podia ver um
sorriso em seu rosto, até o sol que invadia seus olhos não
mais a irritava muito.
— Como está feliz Elisa! Qual o motivo?
— Eu encontrei o livro! — dizia ela animada — por
meu amor que jurei meu sangue! quero lhe dar um
presente.
Ela subiu para o quarto vestida para ir a biblioteca,
pegou a flor e mostrou para Davet, que desconfiado
perguntou a jovem:

104
— O que farei com uma flor?
— Não é só uma flor, é o néctar da vida!
Isso ressoou aos ouvidos de Davet como um
grande barulho que corroía seus ouvidos. Até então ele
não havia contado para filha sobre sua vontade de
morrer e ela não lembrava disso. logo que a encontrou
menina em sua porta havia desistido de se matar para
cuidar da criança.
Veio à mente uma vontade de morrer forte
novamente e agora ele encontrou com Catherine sua
amiga e sua filha. Engolindo o seco líquido de seus
lábios, ele falou baixinho:
— Não quero, guarde para você. — respondeu
rápido se virando.
Pela primeira vez nesse tempo de vida, ele a
reconheceu como Catherine e isso o fez lembrar que
queria muito morrer e não conseguia. Condenado a uma
vida sofrida onde as pessoas já o olhavam com um olhar
estranho, olhares que fazem qualquer alma se esconder
na escuridão. Ele sofria por dentro e eu me pergunto
qual sentimento o fazia pensar assim? Eu apenas não
queria estar em teu lugar, não queria estar como aquela
fria alma que apenas fica vagando no escuro e sem amor
e sem sentido para viver.
Elisa correu logo para a biblioteca. Naquela noite

105
era dia em que as mulheres abandonam seus filhos na
casa de alguém, isso a lembrava de como veio ao mundo,
não foi como um dia apenas. Foi uma véspera de outono
em que as folhas caem no chão e o vento com a chuva
varre toda a angústia da cidade, as lamparinas brilham
fracas e a rua estava vazia, ela foi deixada na porta
daquela casa e conheceu a biblioteca.
o selênio a deixava concentrada. Se não havia resposta
na casa de Davet, haveria na rua algum vendedor de
coisas velhas, mas havia livros que estavam escondidos,
e estes eram os quais Elisa buscava. Na rua conhecia um
ladrão que possuía muitas coisas ocultas e criminosas,
por sorte encontrou Elisa, pois o mesmo não queria ficar
com tal livro que lhe dava arrepios e pesadelos.
O ladrão levou Elisa a uma sala subterrânea, o
caminho era escuro. A sala era muito grande e a maioria
dos livros eram documentos e relatos de pessoas que
estavam mortas, e dentre os mortos Elisa encontrou algo
que a ajudaria, uma urna, ali bem perto, escondida de
tudo,
Elisa ouvia ruídos era como se estivesse no inferno
novamente, estava com medo, mas pensava que não a
nada que o amor não supera,
—Sabe que se abrir este livro, você estará fazendo o
mal para muitas pessoas. — alertou o ladrão.

106
— Socorro! — eles ouviram um sussurro na sala o
ladrão empunhou uma adaga e disse:
— Quem é você? Diga logo!
Eram os espíritos que cercavam a caixa e Elisa
Sabia disto.
Ela sabia que eles não a deixariam em paz e que o
livro estava com fome, sentia o ar ficar mais sufocante.
— Nos deixem em paz! — ela disse.
pegou a caixa e saiu correndo, sua capa branca
agarrou na porta que se fechava naquele momento ela só
pensava em sair daquele lugar. Correu e escondeu o
livro.
— O livro está com fome, preciso alimentá-lo.— ela
pensou enquanto corria para casa.
Em seu quarto e com uma faca rapidamente cortou
as mãos e seu sangue corria pelo livro, após isso ela não
mais ouvia os ruídos, os choros e nem os gritos dos
espíritos.
— Elisa! — Davet chegou em seu quarto e viu o
livro.
— Eu tinha que fazer isso, o livro deveria ser
alimentado. — Elisa explicou o que fez enquanto
enrolava as mãos em um pedaço de tecido.
— Não pode deixá-lo dentro de casa. Coisas ruins
vão acontecer. — Davet alertava a jovem caminhando em

107
direção ao livro para pegá-lo
— Como sabe tanto? — Elisa perguntou.
— Eu andei lendo muitas coisas.
Elisa estava cansada e muito fria, aquele livro era
horroroso, sua aparência era monstruosa, e ele foi
guardado em um quarto do jardim.
— Você terá que alimentar o livro. E nem sempre
pode usar teu sangue — Davet disse a Elisa após fechar a
porta do quarto no jardim.
— Usarei o de outras pessoas, não me importo, o
amor também pode ser cruel. — respondeu Elisa com
uma voz fria e decidida a tudo.
Naquele dia Elisa estava no jardim vigiando o livro
como se ele fosse fugir dela, e esperava ansiosa para ler,
mas agora com um corte nas mãos precisava descansar,
não podia ver direito e estava a ponto de dormir e falava
a si mesma:
— Alguém me mandou para este inferno, e sabe o
inferno é melhor. a luz e bem mais
fácil de se dissipar. eu quis ser humana, mas o que
sou é um ser inferior, como sempre fui.
Foi quando Davet a chamou para dentro da casa, a
chuva caia e o céu estava escuro, mas ainda era dia.
O pai de Elisa estava com a voz fraca e cansada,
enfim a filha voltou para dentro da grande casa e

108
adormeceu à beira da lareira. Estava determinada de que
no dia seguinte iria ler o livro. A outra metade da morte
Davet estava sentada lendo um livro em uma
cadeira e o tempo passava devagar, não demorou muito
para que a água da chuva alagasse o jardim de flores
secas da casa, também não demorou muito para que
Elisa acordasse e novamente pensasse no livro, mas antes
ela Lembrava de um sonho, pois tinha sonhado com seu
amado. Desceu as escadas e foi até onde Davet se
encontrava para lhe contar o sonho:
— Tive um sonho estranho.
— é como era esse sonho?
—Lowell dizia que estava comigo, mas uma criança
me dizia que o preço não valia a pena. Fico agora
pensando que preço seria esse? O preço de que?
— Não sei, talvez de uma vida inteira, talvez ler o
livro possa te custar muito. — respondeu Davet como
quem dá um conselho.
— Mas para quem eu amo vale.
— Elisa você sabe como você morreu? — ele
perguntou fechando o livro que estava lendo no
momento.
Ele sofreu muito por sentir culpado pela morte de
Catherine,
— Não. Não me lembro desta parte.

109
— Você sofreu muito, e mesmo assim minha vida
não valeu tanto quanto a sua.
Davet perdeu a coragem de contar a jovem que
aquele que ela tanta jura amor foi o causador de sua
morte então saiu da sala e Elisa ficou pensativa, comeu
alguma coisa e depois foi ao quarto que ficava no jardim
da casa, e sentiu novamente que o livro tinha fome.
Muitas coisas passavam pela sua mente, ela sentiu
que não conseguia pensar direito, por isso naquele
momento desistiu de entrar no quarto e foi para rua. Ali
avistou um homem louco ao longe e disse a si mesma:
— E apenas um louco não fez mal a ninguém. Deu
um suspiro e continuou:
— Me ajude Lowell ...
Ela segurou firme a faca e avançou sobre o homem
sem experiência nenhuma o cortou todo até que ele
morreu, seus gritos ninguém notou, pois era louco e
estavam em um beco próximo de casa.
o sangue, a água da chuva, a praça, tudo me lembra
um cenário conhecido, o vestido branco manchado pelo
sangue que escorria sobre suas mãos, seu rosto molhado
e sangue em seus cabelos.
— Que alívio— ela pensava o tempo todo.
Elisa havia matado alguém e foi uma morte em
nome do amor, que mesmo não sendo a amor saudável,

110
era um amor que reinava em seu coração, Elisa nem
sempre foi assim… ela é Catherine
O sangue escorreu por um frasco de porcelana.
deveria servir por alguns dias. ágora deveria alimentar o
livro e em seguida, ler suas páginas
Aquele livro era assustador, e nojento também,
Elisa derramou o sangue sobre o livro , e sem seguida o
abriu, nas primeiras páginas haviam regras de como o
livro deveria ser usado e o que lhe acontecia após seu
uso, o livro narra coisas horríveis sobre mortes
tenebrosas e consequências a quem o usasse, nomes de
pessoas que o usaram antes. Histórias e no fim o ritual
que iria trazer Lowell a vida. E o livro alertava que tinha
um preço.
Elisa pensou por muito tempo e resolveu que
estaria disposta a fazer o que lhe fosse possível. Temia
muito as consequências já que quem realizasse o ritual
morreria de uma forma pior e estaria condenado a nunca
mais viver, e se tornaria posse do inferno, as flores não
mais floresceram onde ela andasse, se tornaria uma alma
assombrosa.
— Novamente à beira do abismo...— ela disse com
a voz desanimada e o olhar sem esperança.
No dia seguinte pegou tudo que era necessário,
falou com Lowell novamente em seu sonho e ele queria

111
muito voltar a vida. Elisa sabia que isso era perigoso, as
intenções de Lowell eram piores do que ela pensava.
—Lowell meu amor eu vou te trazer de volta, mas
o livro me alerta que eu morrerei da pior forma, mesmo
que eu te ajude a voltar viver eu ficaria sem você pois
estaria no inferno em teu lugar.— ela disse a Lowell em
sonho e ele lhe respondeu com uma solução para o
problema:
— Você tem o néctar da vida, a flor.
— E meu pai? Davet pode ser ferido?
—o desejo de Davet é morrer Catherine querida e
eu darei a ele o que ele tanto quer.
Elisa se despediu de seu amado e em seguida
acordou, com os livros em mãos, ela não temia os outros
espíritos que a cercavam, ela não temia a morte.
O dia virou noite e novamente ela saiu para o fora
de casa, colheu alguns frutos e ervas que usaria para o
ritual.
Elisa se despediu do pai e o avisou do ritual, seu
pai lhe contava sobre sua vontade de morrer e ele dizia:
— Meus dias aqui nesta terra acabaram, agora eu
quero descansar. Mais do que nunca eu quero ir.
— Sabe que irá sofrer. — Ela disse com certa
preocupação.
—Catherine Me deixe sofrer desta vez...

112
Ela sorriu e o abraçou ao beber um néctar que
escorreu a rosa ficou preta e em seguida virou pó.
—Só havia o suficiente para apenas um. — Ela
disse e esboçou um sorriso tímido.
Davet também sorriu e saiu da sala, naquela noite
ele se vestiu com um manto branco e deitou sobre a mesa
da biblioteca.
Meia noite ela invocou o espírito do livro, um vento
frio soprou pelo vale dos anjos e as pessoas que estavam
na rezando por suas almas desmaiavam, os ratos saíram
todos para a rua e os animais ficam agitados, raios
caíram do céu e trovões estavam muito fortes, mas não
chovia.
— Meu amor venha para meus braços!
Catherine escreveu o nome de Lowell no livro,
enquanto isso no inferno as almas imundas também se
agitavam muito, parecia que o mundo iria acabar.
Um grande buraco se abriu na terra, Elisa saiu
correndo e ao se virar viu sair do buraco o teu amado
sem roupas, molhado e muito pálido, seus olhos estavam
vermelhos.
Foi uma queda de uma grande chuva que alagou
tudo que havia perto do rio, fez que caísse pedras de gelo
do céu, e raios sobre as matas.
Elisa pegou seu amado pelos braços e ele

113
desmaiou em seguida, mas estava vivo.
Elisa pensava em sua paixão como aquela
tempestade, sua mente salta pelos vales de onde não se
pode ver os limites.
Ela lembrava de tudo agora e lembrava que era
Catherine. Um calafrio enorme correu por seu corpo e
logo sentiu seu sangue que se misturava ao dos imortais,
ela respirou e continuou lembrando.
Quantas e muitas vezes corremos pela sombra, no
vento era frio e na noite silenciosa, nenhum pássaro, mas
os morcegos se aventuravam, e nós também nos
aventuramos a caminhar pelas ervas daninhas.
Quando ele acordou disse suas primeiras palavras:
— Mesmo que o sol não brilhe, meu amor eu
estarei ao teu lado, como uma rocha.
— Eu mudarei tudo conforme a sua vontade — Ela
sorrindo continuou — Eu me lembro do mar frio de
quando sentamos debaixo daquela árvore e dividimos o
tempo.

QUanto vale a vida de Um demônio? Esse e o


problema do mUndo, mUitas vidas valem mais q Ue
outras.

114
Capítulo 10. A peste
O cheiro de terra se junta às pedras como tudo que
se une àquilo que acredita fazer parte, assim cria e existe
a família, como os corvos se unem à noite.
Um dia a praga se uniu aos seres humanos, que se
amontoavam em uma cova fria e a terra vendou seus
olhos, uma chuva caiu na face dos rejeitados, na
escuridão se escondia os órfãos e os abandonados.
A rejeição é quando ninguém se une à você, porque
o triste véu da morte te separa.
Século XII, e peste negra se espalhava pelo mundo,
havia boatos de que este seria o fim e muitos nem
puderam ser devidamente enterrados, caroços e manchas
negras pelo corpo, os pais rejeitam os filhos doentes,
quase ninguém sai de casa, as pessoas se escondem,
morriam devagar e podia ser a partir do momento que
começavam a viver. Trevas e choros vagavam pela terra
enquanto um amor era alimentado, enquanto tudo se
resolvia em rezar e ter esperança na cidade do vale dos
anjos tudo acabava. Pedir para morrer não e tudo, pedir
pela salvação não é nada, e pedir pela vida e o mesmo de
querer se matar.
julho de 1349, nenhuma cidade sofreu tanto
quando vale dos anjos. 5 anos depois matou metade da
população do mundo todo.

115
— O dia está tão escuro quanto a noite. — disse
Davet, ele ainda esperava sua vez de morrer, mas a peste
parece fugir dele. Em grandes buracos as pessoas eram
colocadas e enterradas, carroças puxavam seus corpos
fúnebres pelas ruas que já não eram povoadas pela
alegria das crianças, apenas por ratos.
— Acho que vou fazer algo de bom hoje. — Davet
disse para Lowell que agora já estava vestido e bem
descansava no jardim.
—o que pretende fazer? — Lowell perguntou.
— Visitar a igreja e ver as pessoas que pedem por
suas vidas— respondeu com uma voz fria, baixa e
desanimada.
— Vai pedir algo pela sua? — Lowell perguntou
deixando estampar um sorriso em seu rosto.
— Sim vou pedir a Deus que faça o que você não
foi capaz de fazer. — Davet respondeu e isso ecoou nos
ouvidos de Lowell como uma grande ignorância e com
um olhar o assassino afastou aquele jovem melancólico
de sua presença.
Davet correu logo para a catedral, Elisa trazia nas
mãos uma bandeja com frutas para Lowell comer por
que ele sempre comia maçãs a tarde. Ela viu Davet correr
para fora de casa e entregando a bandeja para Lowell ela
disse:

116
— Esta é a vida?
— Sim. É a vida. — respondeu Lowell não
deixando que a jovem percebesse seu descontentamento.
— Todos os dias estão chuvosos e sempre se pode
ouvir os gritos de quem perdeu alguém que ama.
— Como eu havia te perdido.
— Sinto um pouco culpada, essa empatia pelas
pessoas me deixa triste.
— Estas pessoas não choram por você, estas
pessoas me mataram e jogaram no inferno.
— Não. você se jogou no inferno. — Concluiu Elise.
Lowell abraçou a jovem bem firme e em uma
tentativa de servir de consolo ele disse:
— Calma, não precisamos brigar por causa deles.
Pois todos são vermes.
— Sim, são vermes. — Ela disse afastando o corpo
de seu amado— Eu também sou, matando não me torna
melhor que eles e sim tão pior quanto.
Neste momento Elisa percebe a situação das coisas,
talvez houvesse um motivo para viver e um motivo para
fazer tudo ou apenas saber o que ela realmente queria.
As coisas se confundiam em sua cabeça como um
grande abalo, era como um terremoto ou uma
tempestade no mar, ela apenas queria uma saída de
tudo, queria estar bem apenas isso.

117
Naquela noite algo a perseguiu, não era um
demônio e nem um anjo, era algo do qual somente ela
sabia, mas não se recordava, era uma criança que a levou
até a praça no centro da cidade e apontava para alguns
desenhos riscados no chão, em seu sonho olhava para a
menina e falava:
— Não, as coisas não podem piorar...
— Vai acabar — disse aquela estranha figura
infantil.
As almas ainda eram levadas ao inferno para
sustentar Lowell. Elisa acordou quando Lowell a
sacudiu.
— O que ouve? — ela despertava assustada.
— Você estava falando com quem? — perguntou
Lowell
— Estava sonhando, falava com uma menina.
— Sabe o nome? — Lowell aparentava ainda mais
curioso.
— Não me lembro, mas não se preocupe, pois não é
nenhum demônio ou anjo, era apenas um sonho bobo.
Lowell interrompeu Elisa e perguntou sobre Davet.
— Davet não voltou para casa e eu preciso dele.
Você sabe onde ele foi?
— O que você quer? — ela perguntou no intuito de
ajudar.

118
— Preciso saber o que está escrito naqueles livros
da biblioteca, pois muitos não consigo compreender.
— Me parece tão mais humano quando admite
suas fraquezas…— ela disse, mas logo vou interrompida
novamente
— Eu nunca fui humano Catherine
As pessoas com a infecção da peste não podiam
mais ficar nas ruas, foram isoladas umas das outras e
com o passar do tempo, as coisas foram voltando quase
tudo ao normal.
As pessoas ficaram mais supersticiosas e a pequena
cidade agora lamentava pelo ocorrido.
Elisa estava com Lowell na casa e junto estava seu
pai que sobreviveu à peste negra.
— Como pode acontecer comigo? — disse Davet se
lamentando por ainda estar vivo e sofrendo suas
angústias.
— Acho que Davet está ficando louco.
— Não fale assim Lowell.
— Eu estou feliz e estou de volta. — Lowell disse
com o olhar pensativo nas pessoas que queria matar.
— Esta cidade mudou, temos mais segurança. —
Elisa respondeu.

Davet olhava sem parar para o mesmo lugar,

119
permaneceu imóvel por muito tempo.
— Vamos sair. — Sugeria Elisa.
— Vai ser bom para Davet —Lowell concordou
com a ideia.
Eles caminharam até o mar, estava tudo o mesmo, a
areia formando um deserto sobre a maré baixa, a pedra e
a árvore que se esgueirava sobre ela para não cair, o
vento forte e a lua cheia.
— Estamos aqui novamente onde tudo começou…
— Lowell recordava os momentos à beira do mar.
Estavam todos ali no começo de tudo, e
procuravam todos um fim que provavelmente era
diferente daquele que estavam vivenciando.
Eu andei pensando na vida, pensar na vida é algo difícil
e estranho de se pensar, Davet não quer viver, Lowell
tira as vidas, e Catherine apenas existe para amar. Mas o
que nos faria pensar que tudo terminaria com a morte?
coisas estranhas acontecem na vida e não podemos saber
se tudo vai se dissipar com a morte sem antes morrer,
porem isto e mais que a morte, é a tristeza, quantos de
meus amigos queriam se matar sofriam e mesmo assim
se achavam na condição de dar conselhos, quantos a vida
está deixando que morrem por honra, mesmo os que não
lutaram, quantos não temem a morte e tem como maior
medo a tristeza?

120
A tristeza é algo que abafa a voz e prende na
garganta como uma bola que não nos deixa sair, a
tristeza é uma coisa que nos priva de nós mesmos. A
angústia dói muito e ela é a responsável por todas as
dores e mesmo a dor de solidão que nos cerca. se estiver
todos os três reunidos certamente poderá me entender e
entender o motivo de morrer e de viver, o motivo de
matar ou querer correr.
Lowell passou o dia lendo e pensando em seus dias no
inferno, um sentimento cruel passava por sua cabeça sempre
que saia para a rua, agora raramente ele saia a noite ou de
madrugada na névoa, e as vezes ficava falando com Davet
que agora vegetava:
— Se eu te matar em um lugar longe de Catherine,
você pode desta vez morrer bem— sugere Lowell ao seu
amigo que não lhe olhava mais.
Davet nunca respondia, ele não falava mais, quase
nunca dormia e passava suas noites olhando para a lua.
A epidemia da peste já havia passado, mas havia
algo mais que o mundo não pudesse julgar, um pecado
existente em todo ser humano, a cobiça.
Nos olhos de Lowell podia ver a cobiça, por sangue
e morte. Ele pensava nisso sempre falando com Davet:
— Amigo eu nasci para matar, eu estou me
recuperando e acho que esta minha vida agora não será

121
diferente.
Um silêncio se fez parte de toda a casa, e em
seguida Lowell começou a cochichar:
— Imagina uma árvore da vida. Não com pessoas
vivas, mas com pessoas mortas... você sabe que este é
meu sonho não sabe?
Lowell recuperava aos poucos o que ele era antes e
se tornava assim tão cruel, ele não tinha piedade, pois
esta já perdera no inferno e
se lembrava de toda a rejeição. Mesmo que
Catherine lhe pedira que desse uma chance às pessoas,
ele não podia disfarçar o ódio que o corrompia, e não
deixava de notar o olhar das pessoas pelas praças.
Pessoas que novamente decaíram um anjo, que julgavam
e tornavam o ser humano o que ele é, pois não é um ser
que o faz, mas sim o mundo que o molda como ele deve.
Aquelas mulheres que faziam sempre silêncio, que
brigavam com Catherine na catedral, que sentavam na
praça e xingavam os mendigos e os mendigos que
batiam nos loucos que por sua vez irritavam as pessoas.
Não são todos iguais, nem aos olhos de Davet e tão
pouco aos olhos de Lowell
Davet já não tinha força de vontade para ler então
lembrando de sua infância ele se deitava na areia e ficava
apático, já Elisa contemplava a dádiva e lia muito como

122
quem se tornava escrava da leitura, Lowell apenas
olhava, ele não se acostumou tão bem com o ambiente
que o cercava. O sol, a primavera, as flores, tudo era
como uma novidade cruel e sarcástica. ele sentia falta do
livro, dos gritos e as pessoas sentiam muita falta.
Era uma disputa acirrada entre a humanidade e
Lowell, o mundo e um simples jovem que ainda
aparentando seus 25 anos de idade, Catherine se
ocultava das outras jovens da sua idade, mas não queria
que nada lhe fosse de oculto, pois tudo ela queria fazer e
agora já assumiu seu posto como Catherine
Suas visões se tornaram mais frequentes, então
resolveu perguntar ao pai.
—Davet, minhas visões com aquela menina se
tornaram mais fortes, nítidas e a vejo com maior
frequência, o que devo fazer?
— Ela é sua guia— Ele disse uma palavra que
entusiasmou Lowell.
— Veja ele descobriu que ainda tem língua. —
Lowell não resistia à piada.
— Lowell pare! — mas Catherine o interrompeu. —
Ultimamente você está ficando mais nervoso, parece que
as coisas mudaram.
— Para mim parece que as coisas estão querendo
voltar.

123
— Lowell não consegue descobrir quem é aquela
menina e eu posso vê-la fora dos sonhos.
— Não se preocupe, se você tem algo que te
perturba, darei um jeito nesse seu problema — disse
Lowell dando ponto final à discussão.
Passou muito tempo e Lowell não falava nada a
respeito das visões, se havia algo acontecendo a
Catherine ela deveria descobrir.
Catherine estava no quarto quando avistou
novamente a menina.
— Quem é você?
A menina criou ao redor de Catherine um cenário
com muitos mortos.
— Eu vim para buscá-los.
— E um anjo? — Catherine perguntou
— Eu transito entre a luz e as trevas.
— Anjo da morte! — ela concluiu pensando nas
visões que teve anteriormente.
Neste momento Catherine acordava suando muito,
saiu gritando pela casa:
— A morte! a morte!

— Calma Catherine meu amor. — Lowell veio a


passos apressados.
— Ela e o anjo! — exclamou Catherine assustada.

124
—o anjo da morte. Ela fênix que me trouxe aqui...
— Ela deve ter voltado com a peste negra...—
concluía Lowell.
A morte só lhe é necessária, qUando a vida de ti não
mais precisa, assim se propaga o fim...

Em meUs Sólidos momentos de morbidez lembro de


qUanto tempo faz qUe não choro e que em lágrimas não
me envolvo na dor em Um poço de amargura e angústia,
da fria solidão qUe me contêm sinto me U corpo com
todos os membros se lastimar. Na minha solidão de
qUem espera, esperarei por você nas sombras como q Uem
espera A tristeza.

Capítulo. 11
Ao saber que aquele anjo que sempre rodeava
Catherine era o anjo da morte, os olhos de Lowell se
abriram com uma esperança sem igual, uma esperança
cruel de achar um modo de realizar todos os teus sonhos
macabros.
— Fantástico! — gritou ele.
Havia descoberto um tesouro e seus pensamentos
voavam pelo ar. um olhar surgiu também ao rosto de
Davet que mais que nunca queria morrer.

125
—Tenho que ir à biblioteca agora— disse Lowell
com um ar tenebroso.
Elisa que já se conhecia sendo Catherine ficou
espantada e resolveu mais uma vez ajudar seu amado.
Ela era inteligente e no fundo sabia que este ato iria
causar muitos problemas, porém já estava em seu auge
de submissão por Lowell e agora imortal ela poderia
contar com que nada iria lhe acontecer.
Porém certas coisas apenas acontecem, certas coisas
apenas fracassam diante de uma oportunidade única em
nossas vidas e outras nem sequer tem possibilidades de
dar certo.
— Acho que não se pode prendê-la. —Dizia
Catherine ao ouvir uma ideia mirabolante de Lowell.
— Tudo pode ser aprisionado. Nós três iremos
prender o anjo da morte. — Dizia o rapaz com um brilho
cruel nos olhos.
— O que poderia acontecer se prendermos o anjo
da morte? Não haverá morte? — Catherine tentava
entender a ideia sem contestar
— Não, eu mataria quem eu quisesse e seria o
senhor da morte. — disse Lowell com ar insano.
— Acho que pode encontrar um meio entre os
livros secretos. Estão a muito tempo escondidos. —
Catherine sugeriu.

126
Eles passaram horas na biblioteca e até mesmo
Davet ajudou um pouco pegando os livros que mais
conhecia do assunto. Catherine estava um pouco tensa,
talvez aquele anjo seja perigoso e mais uma vez ela temia
o fracasso.
— Não tema querida, este anjo não pode lhe fazer
nenhum mal, você tem no sangue o Néctar da vida.
O tempo passou rápido e a chuva de primavera já
se espalhava suas pesadas nuvens sobre o céu. Catherine
adormeceu na biblioteca e logo os outros se renderam ao
sono também.
Neste dia algo de estranho aconteceu já que aquele
anjo não apareceu em nenhum momento para Catherine
No dia seguinte mesmo procurando muito,
nenhum deles achou o livro que revelasse como deveria
prender o anjo da morte e Davet disse suas primeiras
palavras após longos messes:
— Desista.
— Nunca! — Um grito de Lowell ruim friamente
pela casa. — Nunca vou desistir, eu morri para chegar
até aqui e eu quero a morte de todos que me julgaram e
me mataram!
— Não está satisfeito com a vida?... Catherine disse
baixo.
—Catherine minha dose amada, tem alguma

127
notícia do anjo para nós? — perguntou o jovem
assassino.
— A verdade e que não o vejo a dias, acho que ela
deve estar com medo de nós.
— Pois eu vou arranjar um jeito de ter nas mãos
aquele anjo, de uma forma ou de outra. — Lowell disse
com ar determinado. Davet se movia para o jardim e
Catherine estava no quarto enquanto Lowell saia para
procurar em outra biblioteca.
— A muito tempo não vejo meu Davet no jardim,
mesmo que este jardim esteja morto e não traga consigo a
beleza de outros jardins, mesmo que nada mais floresce.
— Dizia a jovem para si mesma enquanto olhava pela
janela. Foi quando uma voz surgiu atrás dela dizendo:
— E às coisas parecem mudar...
Catherine levou um susto ao ver do teu lado aquela
menininha novamente.
— O que faz aqui, não vê que meu amado quer te
prender para ele?
— Não posso fazer nada se ele me ama. —
respondeu aquela estranha figura com um tom
sarcástico.
— Ele não ama!
— As coisas estão mudando Catherine Não precisa
ter ciúmes de mim, afinal não servirei a propósito

128
nenhum. — respondeu a criatura.
— Pois bem, eu também quero avisar algo, se não
desaparecer da minha mente eu mesma o prenderei.
— Tente a sorte uma vês na vida, e quem sabe os
fracassos de suas vidas não desaparecem.
A menininha soltou um riso, de certo Catherine
notou que ela não tinha medo de Lowell, Catherine ou
Davet .
Catherine adormeceu e após uma grande chuva seu
amado chegou e de sentou perto da janela.
Catherine acordando viu que ele estava sério.
— Que te afliges tanto meu amor?
— Não achei nada sobre este anjo, Catherine tem
certeza que realmente não viu este anjo?
— Não duvide de mim! Eu a vi e falei com ela
novamente a pouco tempo em meu quarto. — Contou
Catherine se levantando.
Lowell deu um beijo na testa de Catherine e andou
pelos corredores e depois para a biblioteca, juntou alguns
livros. Em seguida foi ao jardim onde estava Davet e
Catherine.
Chegando perto deles e começou a falar
ferozmente:
— Preparem se, pegaremos o anjo da morte!
Em suas palavras havia determinação, segurança e

129
uma solução. Mas isso não impediu que as dúvidas de
seus amigos logo se manifestassem:
— Como vai fazer isso. — Perguntou Catherine
sempre mantendo sua vos baixa — Achou algum livro
meu amor?
— Mais que isso encontrei uma formula.
Davet o olhou de lado, e novamente sussurrou:
— Como?
— Meu caro amigo e minha amada, este e meu
plano — disse isso e começou a desenhar sobre um
papel:
— Seus desenhos são horríveis. Sua ortografia
cometida na linguagem me assusta. — disse Davet a
frase mais longa de meses
Catherine soltou uma risada sarcástica após Davet
ter dito isso.
— Não me subestime, sabem por que não devem
me subestimar. Vou lhes explicar o que devo fazer:
Primeiro vou ao inferno, como Catherine foi.
— Morrendo e nascendo novamente? — perguntou
Davet.
— Não seu bobo, eu vou com essa magia que
Catherine usou. Eu conheço o lugar muito bem e sei que
vou encontrar o monstro do portal.
— E sabe que se ele não o deixar sair irá ficar preso

130
para sempre? — perguntou Catherine desta vez.
— Sei sim querida Catherine, também sei que vou
enfrentar o monstro com tudo que eu tiver, amuletos,
arpas...
— A arpa que eu perdi?
— Meu amor deixe que eu termine. Vou levar tudo,
segundo este livro a criatura possui uma coleira. eu
pegarei essa coleira e com ela prenderei o anjo da morte.
Uma ideia extremamente estúpida...fracassados
como eles são isso não havia nenhuma maneira de dar
certo, com o raiar do sol Lowell ficaria preso no inferno
para todo o sempre. A criatura no portal o retalharia, os
amuletos mesmo que benignos não fariam muito efeito
em um lugar tão maligno, esperar que ele vencesse a
fera, acordasse a tempo com muita precisão, e os
amuletos ganhasse poder.
Uma esperança vagava no ar, ninguém nasce
atirando ao longe pesadas pedras e nem escrevendo, mas
todos nascem preparados para fazer alguma coisa.
No dia seguinte Davet foi arranjar as coisas para o
ritual, Catherine os amuletos que achou na catedral e
Lowell por algum motivo encheu sacos de farinha, e
costurou muitos bonecos. Lowell iria ao pôr-do-sol, e
teria até a manhã do dia seguinte para voltar. O
crepúsculo se colocava em seu lugar, os desenhos do

131
chão e as coisas que seriam usadas também.
Lowell pensava em ter força e em ser forte, e
também pensava em enganar assim como o sol o
enganava, colocando o céu entre o que é dia e o que é
noite. No inferno o tempo passa diferente, retornar na
hora certa era uma questão de sorte.
— Lowell, Davet quer que venha logo. — disse
Catherine.
Lowell desceu as escadas da casa, com uma capa
bem escura, nas mãos tudo que precisava e seus bonecos,
eram três bonecos e mais um que não aparentava
características humanas.
— Estou pronto. — disse com a voz firme.
Lowell se deitou sobre o mesmo véu que Catherine,
e logo que as nuvens se recolhiam, ele se deitou e o chão
que afundada para ele como havia acontecido para
Catherine, ele ficou assustado, mas logo estava no lugar.
Novamente naquelas ruinas ele correu até a borda
do rio e percebeu que não poderia passar por aquele
caminho, então seguiu pelo deserto. Ele correu muito e
após estar cansado encontrou aquele lago morto.
— Se elas ainda estiverem aqui... — Pensava
naquelas criaturas feias que encontrou no lago.
Elas estavam ali, nadando e puxando para o fundo
as almas que mais sofriam.

132
— Olha quem voltou... — disse uma delas.
— Quer nadar um pouco Lowell? — a segunda
disse se virando em direção ao jovem.
— Não, quero que me levem até a saída deste
lugar.
— Mas pelas suas roupas creio que acabou de
chagar. — Uma delas disse.
— Vamos eu tenho pressa! — Lowell disse com a
voz firme.
— Não podemos te levar até o final.
— Levem até metade do caminho!
Lowell as fez concordar com isso, e elas a levaram
nadando até muito longe, a avistando muitos ossos elas
pararam de nadar e deixaram o jovem a beira de um
barco.
Lowell seguiu caminho em frente até ver as almas
pairando sobre a água, e logo a frente terra firme onde
encontraria a criatura.
Lowell pegou os amuletos e os bonecos, amarrou os
amuletos em cada boneca:
— Isso deve dar um pouquinho de vida aos meus
bonecos — disse ele.
Ele amarrou os bonecos com uma corda em sua
cintura e jogou três deles de uma vez só em cima da

133
criatura, quando a criatura levantou o primeiro boneco
Lowell foi erguido até as costas do cachorro, ele prendeu
a corda em sua cabeça e reconheceu a coleira que parecia
ao longe uma grande cobra, ele se agarrou na coleira e
quase foi arremessado ao chão.
— Eu o enganei. — Pensava feliz consigo mesmo.
O dia estava amanhecendo, quando a criatura e
forma de cachorro mesmo sem coleira o jogou longe, e
quando estava prestes a retalha-lo ele jogou o último
boneco, que o cachorro agarrou depressa, retalhou e foi
em sua direção. viu uma simples alma que tentava correr
e logo pensou em se esconder atrás dela.
Funcionou, a criatura retalhou outro infeliz e
Lowell conseguiu sair, houve grande barulho no inferno,
outro acabou de sair.
Quando voltou ele pode ver os raios de sol e sentiu
muito medo, o sol estava nascendo, mas ele conseguiu
antes que os raios do sol o ofuscassem os seus olhos.
A criatura não o retalhou e os amuletos serviram
para alguma coisa. Agora ele queria descansar, e logo
que foi levado ao quarto, muito fraco, ele se rendeu ao
sono.
Era hora em que todos se reuniam para o almoço
quando Lowell despertou, vestiu uma roupa e desceu
vitorioso do seu quarto para a sala, sobre a cama ele

134
deixou a coleira.
Ele estava se sentindo magnifico, algo em suas
vidas fracassadas dava certo e para Catherine desta vez
isso acontecia sem nenhum custo muito grande.
—é surreal, magnifico...— Ela pensava, mas
também lhe veio à cabeça de que não estava tudo pronto,
ainda faltava algo.
— E como pretende prender o anjo?
Estas palavras de Catherine soavam aos ouvidos de
Lowell com um aspecto tão negativo que lhe fez jogar os
pratos para o alto.
— Como assim! É lógico que vai dar certo e você
temque me ajudar!
Por mais terrivel que pareça, isso fez com que
Catherine o amasse mais ainda.

Após um tempo Lowell resolveu fazer uma reunião


sobre assunto:
— Como vamos prender o anjo da morte?
Mais uma vez as dúvidas de Catherine não se
calaram.
— Você vai chamá-lo.— respondeu o jovem
assassino.
— Não há como invoca-lo, — Davet dizia com a
voz rouca.

135
— Isso seria invocar a morte. — Completou
Catherine.
— Isso minha amada! Agora você soube ser
inteligente. — Lowell respondeu.
— Está bem, mas como vamos fazer isso? — Davet
perguntou.
— Provocando a morte.
Ele pensava que de certa forma, este anjo estava
sempre com Catherine, e sempre estava perto quando ela
via alguém morrer, porém ela apenas não notava, não
notava que este espírito sempre estava entre os mortos.
Seu plano não precisava ser desenhado, era simples para
uma pessoa como ele, ele irá achar algo que a morte
quer, colocar em um lugar alto e invocar a morte.
Foi fácil, Catherine não queria que ele matasse um
recém-nascido, implorou pela vida do pequeno, mas
Lowell se manteve frio, não havia acordo, era só mais um
que ele matava.
— Agora é só ficar aí se você se mexer cai da ponte
lá embaixo nas pedras do rio. — disse Lowell para o
recém-nascido que ele pendurou na ponte.
A ponte era de corda, o menino não podia pedir
ajuda, e até o vento estava a favor da queda. Logo
sentiram um calafrio em seus ombros, Catherine fechou
os olhos e Lowell gritou:

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— Eu te afronto morte! apareça para mim!
Não demorou muito para ele perceber que a morte
não queria o menino, ela queria o assassino.
— Então é a mim quem você quer. Venha me
buscar! — Disse o assassino se colocando sobre a ponte
de cordas, se jogou da ponte e logo viu aquela figura que
não resistiu em ir atrás dele e do seu rosto saiu um
sorriso maléfico.
Lowell jogou a enorme coleira que ficou menor e se
acertou ao pescoço do anjo. Logo ele pode ver com seus
olhos aquela menininha perto dele agachada,
— Acorde. — Ela dizia.
Ele estava vivo, por mais incrível que parecessem.
— O que faremos com o menino? — Perguntou
Catherine
— Não sei, não vou resolver todos os problemas. —
disse Lowell puxando a morte pela coleira.
Eles voltaram para casa e Catherine levou o recém-
nascido.
— Viva! Eu consegui. Eu te peguei — disse Lowell
comemorando sua vitória.
A fênix não falava nada e Lowell resolveu que
esperaria para usar o anjo do melhor jeito.
— Vou à rua experimentar e saber do que este anjo
e capas.

137
Catherine foi forçada a deixar o bebe os cuidados
de outra mulher, caso contrário Lowell o mataria, e ela
julgou que a pobre criança não merecia uma vida como a
que eles levavam, ela o entregou para a verdadeira mãe.
Com o anjo da morte preso as pessoas não
morriam, somente morriam pelas mãos de Lowell,
muitas adoeciam e algumas como Davet Depois de um
tempo começou a apenas arrastar o corpo poraí,
nenhuma praga ou gripe matava, as pessoas podiam
fazer tudo e não morriam, rumores de milagres surgiam
por todos os lados, milagres sem cura, e Lowell matava
poucas pessoas. Até que Catherine resolveu reclamar:
— Olhe bem Lowell! olhe como Davet esta.
Doenças rodeiam a vila e ninguém morre. milagres por
toda parte agora.
— O problema das pessoas não é problema meu. —
respondeu ele.
— Você não mata o suficiente, em outros lugares
ninguém morre, e as pessoas estão enlouquecendo.
Para Lowell, tanto faz se a terra estava virando um
inferno, começando pelo pequeno vilarejo, ele não se
importava com nada. Porém poderia ter que pagar a vida
das pessoas com a sua própria. E este era mais um
motivo para que o anjo se calasse cada vez mais.
—Está bem, eu darei conta dos mortos. —

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Respondeu para Catherine apos pensar por uns
segundos.
— Eu sou o mestre dos mortos. Aliás Catherine de
um jeito em Davet está babando e muito machucado.
Catherine suspirou e Lowell já sabia o que fazer
com a cota de mortos que deveria juntar na terra, ele
então saiu e matou dez pessoas, todas cruelmente.
— Preciso de mais corpos.
Ele precisava de matar mais, precisava saciar a
fome. Uma coisa grande e bem-feita, algo que as pessoas
se assustariam.
— A árvore da vida.
Naquele dia Lowell saiu pelas ruas procurando por
pessoas, matou muitas apenas pelo olhar do anjo da
morte, Lowell juntou os corpos e após isso, os sangrou,
pendurou todos na arvore da praça e como um louco
rasgou seus corpos e colocou em volta, as flores do
jardim estavam vermelhas pelo sangue das pessoas, e a
árvore escorria sangue por seus galhos.
Catherine estava à procura de Lowell que não
voltava e Dave também havia sumido, ela temia que ele
se perdesse pelo mar aberto e ficasse a vagar imortal
pelas águas geladas,
Ao ver o que Lowell estava fazendo ela levou um
susto.

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—Lowell meu amor, mas o que é isso? —
perguntou a jovem.
Ela se impressionou e sobre a árvore estava Lowell
sentado, mas ele não falava.
—Lowell saia daí meu amor — gritou para o
assassino.
Algumas pessoas ainda estavam vivas e seus gritos
aterrorizavam os outros, e logo todos viram aquela
árvore de mortos.
— Meu amor... não.
Neste momento Davet apareceu e lhe acertou uma
flechada na cabeça, ele não morreu, mas caiu sobre o
chão sentindo muita dor, Catherine libertou o anjo, pois
não aguentava ver Lowell sofrer tanto.
— Meu amor, saiba que eu o amo muito, mas certas
coisas devem ser sacrificadas, pelo fim da dor, como
sempre foi assim desde o início.
— Novamente não... — falava gemendo de dor no
chão.
— Quieto. Não aguento vê-lo sofrer, eu prefiro
sofrer em seu lugar... — Catherine chorava muito
enquanto segurava o seu amado nos braços.
Não queria ver seu amado sofrer e nem morrer, e
em um momento Lowell não conseguiu mais segurar a
dor então ele pediu pela morte. Catherine olhou firme

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nos olhos da morte, e soltou a coleira.
o anjo olhando para Catherine pegou a coleira no

chão e disse:

— Algumas coisas nunca iram funcionar.


— Eu fracassei. — disse ela olhando para a Morte.
— Todos fracassaram, o que importa é como você
fracassou. — A morte disse essas palavras.
Catherine se deitou no chão com seu amado nos
braços e uma lágrima então derramou mais forte que as
outras.
— Tua boca em meu beijo era gélida e fúnebre a
crueldade de um carrasco pairava em teus olhos, aqui jaz
um assassino.
Após isto, Catherine viu Davet se arrastar para o
mar, ele se jogou e as águas geladas o levaram. teu
vermelho não se iguala mais aos outros vermelhos, e a
mancha negra que te cerca apodrece, mas não és uma
ovelha negra, é uma ovelha.
— Agora ele se foi. — Disse o anjo.
— Enquanto a mim, o que acontecera comigo?
— O néctar da vida está em seu sangue. —
respondeu a morte.
— Mas eu quero me juntar a Lowell.
— Lamento.

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A fênix sumiu e Catherine ficou a chorar sobre o
mar gelado. A arvore permanece viva no mesmo lugar e
muitos saíram da cidade, Catherine ficou sozinha
cortando seus pulsos e se torturando a fim de que todo o
seu sangue fosse embora, a cada dia de dor ela pensava
em seu amado.
Sua existência não é mais que aquele inseto sobre
uma folha em um lago e não menos gélida e repugnante.
Afinal, muitos vivem pelo amanhã e muitos morrem
nele, todos caminhando ao ermo com os olhos cegados
pela névoa, nada em você e mais que uma fria morte e
um final arreperemos de uma vida sarcástica.
Morreram todos. os que morrem e sofrem por amor
choram e gritão. Momentos de amor, são apenas
momentos que se perderam na memória. O fim é sempre
próximo como a noite e sempre escura, o que nos falta no
final é um raio de luz.
***

Decepar o oceano ou a mundo, fechar os olhos e se


colocar em outro lugar, o além e sempre tão distantes,
mas não mais que duas retas ao se quebrar e nos leva a
algum lugar e o que nos resta é um mundo escuro, pois é
isto que vemos ao fechar os olhos, um mundo que não
povoamos, se um dia povoar teu mundo jamais feche os

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olhos para ele.

Fim...

Sinto sua falta, não aquela saudade de estar perto de alguém, ou sentir
um abraço. Sinto falta de ser feliz. É nos momentos de tristeza que
todos vem nos dizer palavras como: — A vida continua. ou —
levanta. É por um breve segundo, após muitos dizerem a mesma coisa,
conseguimos escutar, mas eu não ouvi nada, era como se nunca
tivessem me dito. Porém meu maior erro no dia de minha morte, não
foi apenas não ter ouvido, ou o suicídio, foi não pedir misericórdia a
morte, foi agonizar. a única coisa que eu me arrependo. Porém o
silêncio da morte me acalmou, pois não ouvi também os choros e
prantos ao meu redor. Aqui é escuro, é não tem muitas pessoas com
quem possa conversar, não te visitarei todo ano, mas desta vez deixo
esta carta, não para contar como foi viver contigo, mas para dizer
como estou agora. um grande abraço.
Carta de Davet.

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