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ruRA 111
Volume XXIX. 'umero 3 / ·l Úl:L / DEL lOJO): 321-.HS

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A


RESSURREIÇÃO DOS CORPOS À LUZ DA PAIXÃO,
MORTE E RESSURREIÇÃO DE JESUS CRISTO, DE
ACORDO COM A S UMA CONTRA OS GENTIOS DE
SANTO ToMAs DE AQUIN0 1
Flávio Lemos Alencar

Resumo. Santo Tomas de Aquino ~ o mais imponante rcólogo da hisrória da lgre1a. Meno
conhecida que a uma uokigrca, sua Sumi/ co11m1 os Gennos crara mais de filosofia que de crologia.
Esra se divide em quacso Livros que, por sua vez, dividem-se em Panes que reunem Capítulos. A
Terceira Pane do Livro IV trata das verdades sobn:narurais sobre a vida furur;i. t nessa pane que
amo Tom.ás csaca da ressurreição e do jUJzo. (Resumo preparado pelos edirorcs)

Palavras-chave: São Tomás, ressurreição. Suma Teokigrca.

Si aucem ressurrecrio morruorum non esr, neque Chrisrus suscitarus esr! i aurem
Chrisrus non suscicarus esr, inanis esr ergo pracdicaào moscra, inanis esr er lides
vesrra. , une aurem Chriscus ressurrexit a morruis, primitiae dormiemium. (1 ad
Corinch XV, 12-14.20)
e não há ressurreição dos morros. também Crisco não ressuscitou. E, se Cri to não
ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia é também a vossa fé. Mas não! Cristo
ressuscitou dos morros, primícias dos que adormeceram. ( 1Cor 15.12-14.20)

N ão há exagero em dizer que anco Tomás de Aquino ( 1225-1 T4) foi o mais
sanco encre os ábios e, encre os santos, o ma.is sábio. Embora muiros ourros
ho mens ded icados à filosofia e à teologia renham chegado à honra dos aJrares,
nenh um excede o Douror Angélico em louvores por sua capacidade inceleccuaJ e
compreensão da verdade das coisas. Louvores que não raras vezes vêm da própria
é Aposcólica, de cujo crono governa o Romano Ponúfice - sucessor de ão Pedro
e Vigário de Crisro, cuscódio na cerra daquela Verdade de que é Mãe e Mescra a
" O Senhor da Redenção" Igreja de Roma - roda a Igreja cacólica, espaJhada pelo orbe inreiro.
Virral localizado na Capda do Arcebispo de Fcrmo, Ir.ilia.
Obra de C l.iudío Pascro 1993 .. O aucor agradece a leitura accnca e os comencirio do Prof. Paulo Fau:anm e do Prof. Daniel
Pécego.
BREVES C01 SlDERAÇOES OBRE A RfS URREJ ÇÃO DO CORPOS À LUZ DA
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PAlXÃO, MORTE E RfS URREIÇÃO DE JESUS CRJSTO, DE ACORDO COM A m
SUMA CO TRA O GENTIOS DE A TO TOMÁ DE AQUI O

De fa to, não há filósofo e teólogo mais bendito pelos Papas que anto A própria sociedade civil, que se enconrra em gra,·e perigo. como rodos sabem,
Tomás d e Aquino1. Podemos dizer com Leão Xlll ( 18 10-1903), na carta encícl ica por causa da pesce das perversas opiniões, cenamence viveria mais tranquila e
Aeurni Patrir (AP), que mtre todos os Doutores Escolásricos, brilha maximammu, mais segura. se nas Academias e nas escolas se ensinasse doucrina mais sã e mais
como príncipe e mestre de todos, Tomás de Aquino (AP 32). Diz também o m esm o conforme: com o Magistério da Igreja, como são as encontradas nas obras de
Tomás de Aquino. (AP 51)
Papa que o Aquinace, cheio de ciência divina e humana, comparado com o Sol,
aquect'll a terra com o cal.or de mas virtudes e encheu-a com o esplendor de sua
duutrina (AP 33). E ai nda: O olvido da do urrina do Aqui nace traz - como trouxe na época anrerior a
'ão há pane da filosofia que não rratou com igual acuidade e solidez: as lei Leão XJ 11 - não poucos problemas para a Igreja e para a sociedade civil. Leão X1 II
do raciocínio, Deus e as substâncias incorpóreas, o homem e as demais coisas lamenta que não se tenha continuado sempre e, em rodos os lugares, a honrá-la como
sensíveis; também rratou dos atos humanos e seus princípios, nada fal tando, nem ela merece (AP 44) e por isso volta a mandar que seja escudada e seguida. Para a
uma copiosa colheira de questões, nem uma conveniente disposição das partes, resrauração da filosofia e da reologia de anto Tomás, um caminho necessário é a
nem um excelente método de proceder, nem a solidc:z dos princípios, nem a força formação da juventude:
dos argumentos, nem a lucidez ou a propriedade da expressão, nem a facilidade Os jovens, mas especialmente os que se educam para a esperança da Igreja, por
com que se deseja explicar as questões obscuras. (AP 33) causa disso, devem ser nutridos com alimento de doutrina poderosa e robusta
para que, fones e munidos dessas armas, se acosrumem maduramente a tracar com
A doutrina de amo Tomás é segurança concra os erros que afastam da fé sabedoria e coragem a cau5a da religião. (AP 49)
católica. Muito temerário é afastar-se das pegadas deste grande homem, ainda que em
coisaspequenas (AP 37). Em frase da já ci tada e ncíclica, diz-se que o Do utor Angélico A obra escrita de anto Tomás pode ser dividida em quatro grupos
conseguiu refutar, de uma só vez, rodos os erros de tempos passados e propiciou am1as principais: os Comentários: às Sagradas Escriruras, a obras de Aristó teles,
invencíveis partt refutar os que haviam de aparecer nos tempos fimiros (AP 34). Por às enrenças de Pedro Lombardo, e tc.; as umas: a Summa contra Centiles e a
isso, os Pontífices Romanos têm honrado a sabedoria de Tomás de Aquino com singulares Summa 7beologica; as Quescões: Q1111estion11.t disputatae - De veritate, De potentia,
l.ouvores e amplíssimos testemunhos (AP 39). Por exemplo, São Pio V verdadeiramente De mal.o, etc. - e Quaestiones de quoliber, e os Opúsculos, enrre os quais se inclui
reconhece que a memta doutrina dissipa as heresias, as confimde e refuta, e que todas os De eme er essmtia, importante obra do início da atividade docente do Aquinate
dias ela livra o mundo de erros ma/ijicos (AP 39). que "encerra o mícleo básico da Filosofia de S. Tomás de Aquino, desenvolvida que foi,
e nhum D outor da Igreja ceve o privilégio que teve anto Tomás quando, com as devidas correções, no seu diuturno magistério, nas obras filosóficas e teológicas
no Concilio de Trento, foi decidido que j uncamente com os livros da Escrirura e que mais tnrde publicou"•.
os decretos dos umos Ponáfices fosse colocada sobre o altar a uma de Tomás D os e crico de anro Tomás, o mais conhecido é com certeza a Suma
de Aqui no (AP 42). anto Tomás é grande auxílio não só da Igreja como também Teológica, obra vasássima que o Aquinace deixou inacabada em razão de sua
da comunidade política, não ó da fé como também da razão. inguém usou cão morre premarura. A Suma Teológica e a Suma contra os Gmrios sempre foram
bem nem elevou cão alco a razão humana quanto o Aquinace. as palavras de consideradas as principais obras do Douror Angélico. A Suma contra os Gentios,
Leão Xlll: em que e trata mais d e filosofia que de teologia, "aprt!Senta de modo exaustivo e
Oisringuindo perfeitamente a razão da fé, como é justo, concilio u-as, porém, perfeito as tesesfimdttmmtais dn. Filosofia própria de Samo Tomás, quejá haviam sida
amigavelmente, conservou os direitos de ambas, salvou a sua dignidade, de ral sinteticammte fomwladas no seu não mmos precioso opúscul.o De ente ec essencia,
man eira, que a razão elevada por Tomás aré o mais alto do humano, não pode escrito quando ainda jovem"' .
elevar-se a regiões mais sublimes. (AP 35) A Suma contra os Gentios fo i escrita a pedido de ão Raimundo de
Períafort, confrade de Santo Tomás na Ordem dos Pregadores. São Raimundo
1
áo só à ortodoxia d as opin iões fil osó fi cas e teol ógicas, mas também
à b oa o rdem social aproveita o seguimento da doutrina tomista. Alirma Leão MOURA, Odilão, O B. "lmroduçáo a O Ence e a Essência". ln: TOMÁS DE AQUI O, O Ente
X IJl que: e a Esshtcia. Taco l..acino e Porruguês. lnrrodução. cr.idução e noras de Dom Odilão Moura, O B.
Rio de Janeiro: r~nça , 1981 , p. 09.
' FAITA. IN. Paulo. /111roduraoao Tomismo: Tomás, o TomiJmo &os Tomistas: uma brewaprrsr111arao. ~1 0URA. Odiláo, OSB. "lncroduç:io à Suma conm os Gcncios". ln: TO~IÁ DE AQUINO,
Cadernos da Aquinace, n. 11. icerói: lnsúruco Aquinace. ZOl I. passim. Suma contra os Gm11os. Volume 1. Traduçao de Dom Odilão Moura, O B, baseada cm parrc em
LEÃO XIII. Anerm Patris. Cana Enodica. Roma, 1s-9. Tradução de Paulo Faicanin. Aqui11au. cradução de Dom Ludgero Jaspers. OSB. com rC\;sáo de Luís A. de Boni. Porro Alegre: EDIPUCRS
n. 12, (2010), pp. 117-151. I Edições EST, 1996. p. 03.
BREVES CO SIDERAÇÔES OBRE A RES URREIÇÃO DOS CORPO À LUZ DA
COMMUN IO • Flávio lemos Akm:ar
PAIXÃO, MORTE E RES URREIÇÃO DEJESU C RJSTO, DE ACORDO COM A m
S MA CONTRA O GL'fflO DE NTO TOMÁS DE AQUINO

de Penaforc, fumo o por sua dedicação ao direiro canônico e cuja inceressame Nossa ressurreição não será imediacamence após a morre. Encre a morre
vida infelizmence hoje não parece ser cão divulgada quanco merece. dedicou- e o Juíw Universal. nossa alma imonal - a forma do homem - estará separada
e, encre oucros misceres. à conversão de judeus e muçulmanos. Pediu ão do nosso corpo - a matéria do homem. Este estado de separação não é o mais
Raimundo de Penaforr a amo Tomás que elaborasse um manual de apologérica, adequado. pois a nossa alma foi criada por Deus para existir unida ao seu corpo,
que proporcionasse argumencos racionais e filosóficos aos pregadores dedicados conforme uma união substancial de corpo e alma. Matéria e forma devem estar
a converrerem muçul manos e judeus. Assim nasceu a uma contra os Gentios. em unidas no ence que é cada um de nós. Nossa alma pede o corpo e nosso corpo
que ressaira a ênfase filosófica mai que ceológica: um in crumenco ao nível da pede a alma. A separação não poderia durar para sempre. Realmence, é apenas
razão humana para prepará-la conveniencemence para a recepção da Revelação encre a morre e o Juíw Universal que estarão separados corpo e alma. Explica
criscã que. sem contradizer a razão, a confirma e supera. anro Tomás que:
A Suma contm os Gentio/' di,·ide-se em quacro Livros que, por sua vez., As almas humanas são imortais, permanecendo, depois dos corpos, libertadas dos
dividem-se em Parces que reúnem Capículo . A Terceira Parce do Livro IV rraca corpos. [... ] A alma se une namralmence ao corpo, pois é essencialmence forma
das verdade sobrenarurais sobre a vida futura. É nes a parre que anro Tomás, na do corpo. Ora, nada do que é concra a narurez.a pode perperuar-se. Logo, as almas
Suma contra os Gentios, craca da ressurreição e do juízo. não ficarão para sempre ~em os corpos. Por conseguince, permanecendo elas para
sempre, devem unir-se no,·amence aos corpos. E nisro consisce a ressurreição. Por
isso, parece que a imortalidade da alma exige a furura ressurreição dos corpos•.

Para o Juízo Universal. se reunirão alma e corpo. Jesus Crisro, jusco


Ao recitar o [mbolo, os cnsraos afirmam que creem .. na ressurrriçáo da Juiz, premiará a vi rcude e cascigará o vício, conforme as ações livres de
come". Com efeico, a ressurreição dos corpos, no úkimo dia, é uma verdade de fé. cada homem e mulher. AJma e corpo dos eleiros viverão para sempre na
, as palav~ do Aquinace. "é necessário acredrrar como verdade tkft que haverá uma concemplação excasiance da Face de Deus. AJma e corpo dos condenados
ressurreição tÚJs mortos", . sofrerão para sempre os cormencos infernais, sem arrependimenco. Para que
Depois da morre e do juíw particular de cada alma, quando chegar o dia haja perfeicamence o prêmio do bem e o cascigo do mal, é exigido que os
do Juízo Universal, haverá a ressurreição de rodos os corpo • i co é, a reunião corpos se unam no\•amence às almas. Pois os homens pecam ou agem bem,
das almas com os corpos dos quais foram separadas no momenco da morre. O s nesca vida presence, com corpo e alma unidos. O prêmio não seria compleco,
corpos dos que professaram a verdade de fé da Ressurreição de C risco, então, não na vida furura, se a alma não se reunisse ao corpo, pois a alma é de cerco modo
serão como os de agora, submetidos ao espaço e ao cempo, mas corpos gloriosos. imperfeica sem o corpo.
Quacro qualidades distinguem os corpos gloriosos, que são a impassibilidade, a Quanco à necessidade da egunda união da alma e do corpo para o
claridade, a agilidade e a suriJeza, conforme anco Tomás explica em sua E'<f>osiçáo prêmio ou para o cascigo, o Dou cor Angélico afi rma que:
sobre o Credo . A pro,•idência divina exige penas para os pecadores e dá prêmios aos que agem
A cerceza de sa ressurreição fuc ura cem íncima ligação com a Ressurreição bem. Ora, nesca vida, na qual os homens são composros de aJma e corpo, eles
de Jesus Crisco, faro hisrórico e verdade fundamencal da fé carólica. É à luz da pecam ou agem bem. [... ] É necessário er admitida a segunda união da aJma com
Paixão, Morre e Ressurreição de , os o enhor que melhor compreendemos a o corpo. para que o homem seja premiado e punido na alma e no corpo º.
nossa ressurreição, que - à diferença da do enhor e de ua amíssima Mãe,
a irgem Maria - não será imediacamence após a morre, mas apenas para o
TOMÁS DE AQUINO. Contra Gm11ks. L IV, c. -9, n. 8: ·o.rrm.sum mmim 111 ~cu1UÍQ(Ci1p. -9)
Juízo Univer al.
ammOJ /.ommum m1mortiZÚ1 roe Rnnanmr iguur post eorpom a rorponbus absoluliU. /lfamfntr11n tst
enam a hli q111u 111 Serun4o (t:app. 83. 68) dieta mm. quod amma eorpori narumliur umrur. m emm
TO~lÁS DE AQUI 'O. Suntllronrraos Gmnos. Volumes 1e li. Tradução de Dom Odiliio Moura.
senmdum suam romnam corpom fam111. Esr 1g1ror ronrra naruram ammae absque rorport me. Nihil
O B, baseada cm pane cm cradução de Dom Ludgero Jaspc~. O B. com ~visão de Lws A. de au1n11 quod m contra naroram. poust ose perpnuum Non 1gi111r perpetuo ent amma absqru rorpore.
Boni. Porco Alegre: EDlPl:CRS I Edições EST, 1996. Basca.mo-no, para e<>rc artigo, ne:sr:i edição Cum 1grror perpetuo mane111, oponn tam rorpon 1umro ronwngi: quod at rrsurgt'TY. lmmonaliras
e tradução. ig1rur animan1m exzgere 11ide111r murrecr1011em corporum fa111mm. •
-TOMÁ DC AQUINO. Conmt GmtiltS, L. IV. e . ..,9. n. 3: M&11g1mr dr neamtau fidn cndrrr ' TOMÁS DE AQUINO. Co11rra Genti/es, L. fV. c. 79, n. 1O: ·Ex dwina providmtia peccannbus
mu"ecttonem mom1orumfurumm: poena debenrur. ti bene agnmbtM pranmum ln hac autem 111111 homines a amnlll tt corpore componfl
• TOMÁS DE AQUINO. Expos1pio sobre o CrrtÍJJ. Tradução de Dom Odil.io ~loura. OSB. 4• peccam t~I recu ªKttnt. {.. .] Nttt'1Utrium est iguur pont'TY umttam ammae ,ui. rorpus co1111mcrionn11, 111
Edição. São Paulo: Loyola, 199-, pp. 86-91. homo m corpore n anima pronman ti pumn possu. •
BREVES CO SlDERAÇôES SOBRE A RES URREJÇÃO DOS CORPO À LUZ DA
CO;'.IMlJN IO • Flávio ún1os Alencar
Jl6 PAJXÃO, MORTE E RES URREIÇÃO DE JESU CRISTO, DE ACORDO COM A m
SUMA CO TRA OS GENTIOS DE SANTO TOMÁS DE AQUI O

Recomando o que dizíamos mais acima. devemos nos aproximar da quesráo da a Suma contra os Gentios, ensina anco Tomás que "a ressu"áçáo de Cristo
ressurreição d os corpo tomando por guia a Ressurreição do Redencor. O Redencor, é a causa da futura ressu"eição" 1•. Ressuscicaremos porque Jesus Crisco morreu por
por sua Paixão e Morre, libenou-nos da pena do pecado original, desobecliência pela nós, e C risco morreu por nós para no limpar do pecado. Com Sua Ressurreição,
q ual nossos primeiros pais desfizeram o laço de amizade de que os unia ao Criador. o enhor li berrou-nos da morre, pena do pecado. "Quis ressurgir para nos livrar da
Uma das consequências dessa desobediência é a morre. não houvesse o pecado morte", ensina Sanco Tomás.
original, não ha,'eria morre. De fuco, a morre é consequência do pecado. Não havendo Afirma anco Tomás que 'fomos por Cristo libertados do que recebemos pelo
pecado original, alma e corpo nunca se separariam, como na Virgem Maria, preservada pecado da primeiro homem, porque, tendo pecado o primeiro homem, não só este
do pecado original e, por isso mesm o, assuma aos Céus sem conhecer a morre 1• pecado se estendeu a nós, como também a sua pena, que é a morre"•\ A morre,
e o pri meiro casal não tivesse pecado, não haveria morre. Convém recordar pena do pecado de um só homem, foi vencida pelo acrifício de um só
q ue, pecando, Adão e Eva perderam os chamados dons preternarurais, dons que H omem. Um só Homem que, sendo verdadei ram ente Homem , é também
vão além do essencialmente consricurivo do homem e com os q uais Deus havia verdadeiramente D eus, de modo que por sua dignidade divina repara a
ado rnado a natureza humana. anro Tomás assim o explica: ofensa que a narureza h umana se via incapaz de sacisfazer 16 •
Deus, quando instituiu a natureza humana. deu ao corpo humano algo acima daquilo Os efeicos da Morre de Crisco - sacrifício redencor contínuamente
que lhe era devido pdos princípios naturais. isco é. uma cerra incorrupribilidade. arualizado cada vez que é celebrada a anra Missa, que é o mesmíssimo
Desse modo ele esraria ajusrado à sua forma, pois, sendo a alma imorral, o corpo acrifício do Calvário incruentamente renovado sobre nossos altares -
por meio dela poderia vfrer para sempre.... ]Ora, tendo a alma se afastado de Deus
recebemos pelos sacramenros. Pelo Baci mo somos remidos de nossa culpa
contra a sua ordem natural, perdeu a disposição que fora dada por Deus ao seu
em virtude do acrifício de Crisco. Pela Penicência recuperamo a graça
corpo, para que esre correspondesse a ela, proporcionalmente, e em seguida veio a
morce. Por isso, se considerarmos a insrituiçáo da natureza humana, a morce é como perdida pela comissão de pecado morcal após o Batismo. Os sacramentos
um acidente que inere ao homem pelo pecado. Mas este acidente foi árado por rodos brocam do lado aberro de C r isco; são sinais eficazes da graça que foi
Cristo, que, pdo mérico de sua paixão. morrmdo, d~m1i11 a monr. alcançada pela Morre do Redentor, de maneira que de ua morre - em
que Jesus Crisco é acerdore, Altar e Vítima - flui a graça dispensada pelos
Morrendo osso enhor em reparação pelo pecado o riginal e por nossos sacramencos. as pa lavras do Aq u inare, "os sacramentos operam em virtude
pecad os pessoais, a morre fo i vencida. Abriram-se as porras do paraíso e tornou-se da paixão de Cristo"•-.
possível nossa ressurreição no últi mo dia. Corpo e al ma já não ficarão eparados Da morre de Crisco recebemos os sacramen cos, que nos comunicam a
para roda a eternidade, m as "ressurgirão para não mais morrer"U e, graças à Redenção graça co nquis tada no Calvário. Morremos com Crisco pelo Bacismo, e com
o perada po r C risto, aqueles homens e mulheres que fo rem batizados - ou seja, E le ressurgiremos no úlcimo dia. De aco rdo com o Doucor comum, "o efeito
limpados da mancha do pecado original e incorporados ao Corpo Mísrico do dn ressurreição de Cristo recebemos pela libertação da morte no fim dos tempos,
C risto, que é a Igreja cacólica - e permanecerem fiéis às promessas bacismais gozarão quando todos resrnrgem pela virrude de Cristo"••. Não é por força de nossa
para semp re, em corpo e alma, da bem-aventurança da visão beatífica no paraíso. •TOMÁS DE AQUINO. ÚJnlTll Gmrikr. L. IV. c. 82. n. 3: "&surrt'ctto aurem Chrim causam
farurae TNUTTt'monu. •
'ão há definição dogmática sobre se a Virgem \ laria chegou a morrer ou não, pelo que é um 'TOMÁS DE AQUI O. úmtTll Gm11/es. L IV. c. ~9. n. 1: "Per Chri1mm bbmm sumw ah
tema aberto à discu5Sâo teológica. Porém. n.io se pode dU\idar da Imaculada Conceição de :-fossa hu quae per peccamm pnm1 hommu mcummUJ; peccanu auum pnmo homme, non 10/um m nos
Senhora - isco é, que da foi concebida sem o pecado original - e de sua Assunção cm corpo e alma peccalllm drni•arum nr, sed eriam mon. quae eu poma p«<all. •
1
aos céus. "Ora, aconccce não que um Deus cruel venha pedir algo de infinito, mas prccisamcncc o concrário:
1:TOi\IÁS DE AQUINO. ConlTll Gmtiks, L IV. c. 81, n. 1: "Deus{. ..}. m 1ns1111111011e humaruu o próprio Deus coloci-Sc como lug;u de reconciliação e. no cu Filho. carrega o sofrimenco sobre
namrru, a/iquiá <orporr humano artribuit mpm 1d quod "' o: namm'1hw prinripiis dehehorur. i. O próprio Deus inrrodu1 no mundo, <oba forma de dom, a ua pureza infinita. O próprio Deus
snli<er m<orrupnbtl11atnn quo11dam. per quom comoemmter SUJJt' fan111u coapraremr. tu s1cur animat 'bebe o cálice' de rudo aquilo que é rerrí\·d e. assim. restabelece o direito por meio da grandeza do
uira perpetua est, ita <orpus per animam posstr perpetuo vh't're. {. ../ Anima igirur. praerer ordmnn eu amor, o qual, através do sofrimcmo, transforma a escuridão". BENTO XVI. jm11 de Nazarl
mae naturae, a Deo a1Jt1111, submzaa m duponnvo quae ei11J t·orpon d1vinims máira tmt, 11t 1ih1 Tradução de Bruno Lins. São Paulo: Planeta, 2011. p. 21 O.
proportio1111/i1tr rrspo11dntt, et strora nr mon. E.ir igitur mon q111Ut per a«itÚ1u 111per11mims homini •-TOMÁS DE AQ INO. Contra Gmrikr. L. IV, e. -9, n. 3: "Sa<ramenra in virtutt' p1tIItonu G1rist1
perpec<nllim, co1uuierata m.mmriont humanae 1111nmte. Ho< amem auidens sublo111m esr per Chnstum, operan111r".
qui mnito mae pasionis mortnn morimdo desm1Xit" 'ª TOMÁS DE AQUINO. Contra Gm11/es, L. IV, c. 79, n. 3: "Effemm1a11um m1mt<11011u Chrim
' TOMÁS DC AQUINO. ContTll Gm11kr. L IV, c. 82. n. 3: "Hommn 1guur Ii< =urgem ut 11/urius quanmm tUÍ libtm11011m1 a mont 111 jint' saecub roruequemur. quando omno per Chrim vimuem
non monan111r~ resurgm11u".
318 CO~lMLl . 10 • FLívio lnnosAhncar C0\1!1.1l,; ' 10 • llEv1sr... h"TUL'"ªº'Al. DL TEOLOGIA E Ct:U\.'JIA
\olumc XXIX. :-.umcro 3 I 4 út L. / mz. :!010): ~29-J-13

própria narureza, mas pelo poder da amíssima Trindade que ressurgiremos.


"Com efeito, a resrnrreição é natural quanto ao fim, enquanto é natural a
união da alma e corpo. O seu principio ativo, porém, não é natural, pois ela é
causada só pela virtude divina" 9 •
o MINISTÉRIO E A VIDA DOS SACERDOTES-
A Paixão , Morte e Ressurreição de , osso enhor Jesus Cristo
CardealJoseph Ratzinger
consciruem o culminar da obra da Redenção do gênero humano, iniciada
com a Encarnação do Verbo no seio puríssimo da Virgem anca Maria,
no zê ni re da Hisrória. Jesus Cristo, por eu acrifício redenror, venceu o Resumo. O signilicado do sacerdócio católico deixou de <er C\·idcncc, mesmo na consciência da
demônio, o pecado e a morre. Garanciu a ressurreição de rodos os homens Igreja. Uma das causas foi uma perspectiva alterada da ' ida, em que o ·s;igrado· é compreendido
no último d ia. Para os que lhe forem fiéis , conquistou não só a ressu rreição menos e menos, e cm que o "funcional" é elevado até tornar-se a única carcgoria válida. Dois
cona:itos opo co de ministério sacerdotal esra,..m -e ainda estão - F.ice a face. De um lado. a ,·isão
corno a glória ererna.C\\.I
social-funcional define sacerdócio em cermos de ·serviço"; <crviço executado para a comunidade,
por c:xcrccr uma funçáo da Igreja na dimensão social. Do ourro lado, a vis.lo acramencal-oncológica,
FLÁVIO LEMOS ALENCAR é bacharel em História pela Universidmú sem negar o aspca.o do sen;ço. vê o sacerdócio como fundamencado no própno ser minisrro, e csrc
Federal Fluminense e mestrando no Programa de Pós-Graduação em História da ser. por sua \"tt, como determmado por um dom dado pdo ~nhor por meio da Igreja, conhecido
com um sacramcnco. (Roumo elaborado pelos edicores)
UFF e membro do conselho consultivo da revista Aquinau.

Palavras-chave: Presbytcrorum Ordinis, eclesiologia, espiri rualidade.

BRIEF CONSTDERATIONS ON THE RESURRECTION OF THE


uando os padres do Concílio Vaticano li decidiram crabalhar no decrero
BODY lN THE UGHT OF THE PASSION, DEATH AND RESURRECTION Presbyurontm Ordinis (PO), de 7 de dezembro de 1965. obre o Minisrério
OF ]FSUS CHRIST, ACCORDING TO ST. THOMAS AQlJINAS' SUMMA e a dos presbíteros, já ànham cerminado grandes debares obre a narureza
CONTRA GENTILES do episcopado, e tinham feiro imporcantes afirmações sobre a posição dos
leigos na lgreja e sobre a vida religiosa. Era rempo de dispen ar uma palavra
Absuact. t. Thomas Aquinas is chc most importam thc:ologian in Church hiscory. Lcss de encorajamento aos presbíceros, que dia a d ia precisam carregar o peso de
known than thc umma Thcologica. his Summa againsc the Gcncilcs is more philosophical than rrabalhar na vinha do enhor. Com cerceza, uma exortação meramente piedosa
thc:ological. h tS compo,ed by four books wh1ch are dh-ided inco pareies ch:u bring cogcthcr chapcers.
não seria suficiente: uma v<::z que os bispos tinham esdarecido o significado e
Thc chird pare of Book IV dcals with thc supcmarural cruchs abour aftcrli~. is whcrc Se. Thomas
discourscs on the resurrttcion and judgmem. (Abstract prepared by thc edicor5.) a fundamenração ecológica do próprio mini~rério, as palavras dirigidas aos
presbíceros também requereriam comparável profundidade reológica. Apenas
Kcywords: ainc Thomas. resurreccion, Summa 7heologzca. desta maneira o crabalho dos sacerdores seria convincentemente reconhecido. e
seus esforços encorajados.
Mas cal mensagem aos sacerdores era necessária por maiores razões q ue
dar arenção proporcionada aos vários "esrados" na Igreja. Quando o Padres do
Concílio explicaram o especial significado do ofício dos bispos em relação ao
ministério do ucessor de ão Pedro, puderam contar com um amplo consenso
da opinião pública tanro na Igreja quanto no mundo, especialmenre encre
a oikoumme crisrã. Oucra coisa, porém, sucedeu com o conceiro católico de
sacerdócio, cujo significado não era mais auroevidenre, mesmo na consciência

1 TOMÁS DE AQUI 'O. Contr11 Gmtikt, L IV, c. 8 1. n. 11: "Rrsu,.,.,.nio emm quantum adfinem • O prescnre arrigo é a versão escrita da conferência miniscrada pelo aucor cm 24 de oucubro de
1995. duranrc o impó io lncernacional organizado pela Congregação para o Clero por ocasião do
natura/is esr, inquanmm naN1rak est ammae t'Sle corpori umram: srJ pnnnp111m ena IUNvum non est
300 aniversário da promulgação do decrero Prnbyterorum Ordinis..
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