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DEPARTAMENTO DE DIREITO
por
2021.1
por
Monografia apresentada ao
Departamento de Direito da
Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro (PUC-Rio) como
requisito parcial para a obtenção do
Título de Bacharel em Direito.
2021.1
“Se a história das penas é uma história dos
horrores, a história dos julgamentos é uma história
de erros; e não só de erros, mas também de
sofrimentos e abusos, todas as vezes que no
processo se fez uso de medidas instrutórias
diretamente aflitivas, da tortura até o moderno
abuso da prisão preventiva.” (Luigi Ferrajoli)
RESUMO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 6
Sobre sua origem, Flávio Martins Alves Nunes Júnior explicitou que:
1
A dignidade da pessoa humana seria classificada, por alguns doutrinadores, como sendo um
“sobreprincípio”, na medida em que atuaria “sobre” outros princípios. No RE 898060, julgado em
21 e 22.09.2016: “O Supremo Tribunal Federal afirmou que o sobreprincípio da dignidade humana,
na sua dimensão de tutela da felicidade e realização pessoal dos indivíduos a partir de suas próprias
configurações existenciais, impõe o reconhecimento, pelo ordenamento jurídico, de modelos
familiares diversos da concepção tradicional.”
9
podem fazer o que a lei não proíbe, o Estado deve fazer aquilo
que a lei determina, o que a lei impõe. A própria Constituição
Federal prevê uma série de direitos e garantias fundamentais, nos
quais o Estado não só é obrigado a não interferir (liberdades
públicas), como também tem a obrigação de agir, cumprindo um
mínimo existencial de cada um desses direitos (“proibição da
proteção insuficiente”) (NUNES JÚNIOR, 2019)2.
2
NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de Direito Constitucional. 3. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019. p. 532.
3
CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W. & STRECK, Lenio L.
(Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2018. p. 273
(grifos meus).
4
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 36. ed. São Paulo: Atlas, 2020. p. 56 (grifos
meus).
10
5
CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L.
(Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2018. p. 289.
6
CANOTILHO, José J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L.
ibidem, p. 292.
11
7
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional positivo. 5. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1989.
8
BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional contemporâneo: os conceitos
fundamentais e a construção do novo modelo. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 184.
12
9
SILVA, José Afonso da. Op cit., 2008.
10
HESSE, Konrad. Elementos de Direito Constitucional da República Federal da Alemanha.
Tradução de Luís Afonso Heck. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1998. p. 256.
13
STF – HC nº 126.292/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, DJ: 17/02/2016. Voto do Min. Celso de
11
Mello, p. 4.
14
12
GIACOMOLLI, Nereu José. Comentário ao artigo 5º, LVII. In: CANOTILHO, José J. Gomes;
MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W. & STRECK Lenio L. (coords.). Comentários à
Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva: Almedina, 2018. p. 888.
13
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 12. ed. rev., atual. e ampl.
Salvador: JusPodivm, 2020. p. 620.
14
Organização das Nações Unidas.
15
BECCARIA, Cesare Bonesana, Marchesi de. Dos delitos e das penas. Tradução de Lucia
Guidicini e Alessandro Berti Contessa. São Paulo: Martins Fontes, 1997. p. 69.
15
16
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p.
141.
17
PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2020. p. 81-82.
18
ibidem, p. 83.
16
19
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. Volume único. 8. ed. rev., ampl. e atual.
Salvador: JusPodivm, 2020. p. 49.
17
20
MENDES, Gilmar Ferreira & BRANCO, Paulo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 15. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 871-872. (grifos meus).
19
21
PACELLI, Eugênio. Op cit., p. 613.
20
IX – monitoração eletrônica.
§ 1o. (Revogado).
§ 2o. (Revogado).
§ 3o. (Revogado).
(...)
22
AVENA, Norberto. Processo penal. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. p.
1.874.
22
23
ibidem, p. 1.874.
24
MENDES, Gilmar Ferreira & BRANCO, Paulo Gonet. Op cit., p. 861.
23
Essa proibição da decretação de oficio pelo juiz foi mais uma novidade
da Lei nº 13.964/2019, visto que, antes de sua vigência, poderia o juiz
decretar a prisão independente de provocação, o que, para muitos juristas, era
uma grave violação ao sistema acusatório, uma vez que mitigava a
imparcialidade do magistrado. Um dos críticos à antiga redação foi Aury
Lopes Júnior, destacando que a:
25
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p.
1.008-1.009 (grifos meus).
26
LOPES JÚNIOR, Aury. Op cit., p. 984.
25
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
decretação da prisão preventiva
I – nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
máxima superior a 4 (quatro) anos;
II – se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença
transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput
do art. 64 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 –
Código Penal;
III – se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
urgência;
IV – (revogado).
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva
quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou
quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la,
devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após
a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção
da medida.
§ 2º. Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a
finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como
decorrência imediata de investigação criminal ou da
apresentação ou recebimento de denúncia.
27
LIMA, Renato Brasileiro de. Op cit., p. 1.060 (grifos meus).
27
28
RTJ 180/262-264, Rel. Min. Celso de Mello (grifos meus.)
28
Art. 312. A prisão preventiva será decretada nos crimes a que for
cominada pena de reclusão por tempo, no máximo, igual ou
superior a dez anos.
29
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. 19. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. p. 1.146.
29
30
LIMA, Renato Brasileiro de. Op cit., p. 1.054.
30
31
Disponível em: <https://blogdomarcelocardozo.com/2016/06/18/uma-breve-historia-da-prisao-
preventiva-no-brasil/#:~:text=Em%201942%2C%20sob%20inspiração%20do,312>.
32
32
PACELLI, Eugênio. Op cit., p. 26.
33
PACELLI, Eugênio. Op cit., p. 31.
34
JARDIM, Afrânio Silva. Direito processual penal. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995. p. 255.
33
35
AVENA, Norberto. Op cit.p. 1.729-1.732.
34
36
LOPES JÚNIOR, Aury. Prisões cautelares. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2017. p.
13.
35
37
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. Volume único. 8. ed. rev., ampl. e atual.
Salvador: JusPodivm, 2020. p. 950.
36
À exceção dos artigos 310 e 316, que veremos agora, e do artigo 312
que fala dos pressupostos de legalidade da prisão preventiva, os demais
dispositivos já foram discorridos ao longo do presente trabalho, mais
precisamente na parte inaugural deste tópico.
(...)
38
LOPES JÚNIOR, Aury Op cit.p. 924.
38
39
RE 1.038.925 RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, P, j. 18-8-2017, DJE de 19-9-2017, Tema 959.
40
PACELLI, Eugênio. Op cit.p. 1.321.
39
41
LOPES JÚNIOR, Aury. Op cit. p. 925.
40
42
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo995.htm>.
41
43
AVENA, Norberto. Op cit. p. 1.883.
44
AVENA, Norberto. Op cit.
45
LOPES JÚNIOR, Aury Op cit. p. 986.
46
As expressões “garantia da ordem pública”, “ordem econômica”, “conveniência da instrução
criminal” e “assegurar a aplicação da lei penal” constituem o chamado periculum in mora (periculum
43
libertatis), ou seja, o perigo na demora da prestação jurisdicional, pois, quando for dada a sentença,
se a medida não for adotada, de nada valerá. Nesse caso, deve-se verificar se há necessidade e
urgência na adoção da medida. Cf. RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 27. ed. São Paulo:
Atlas, 2019. p. 1.241.
47
LOPES JÚNIOR, Aury. Op cit. p. 990.
48
Idem.
49
ibidem, p. 994.
44
50
AVENA, Norberto. Op cit. p. 1.874.
51
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2019. p. 1.241.
52
RANGEL, 2019. Op cit.
45
53
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p.
990-991.
54
KATO, Maria Ignez Lanzellotti Baldez. A (Des) razão da prisão provisória. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2005. p. 117.
55
PACELLI, Eugênio. Op cit. p. 691.
46
56
LOPES JÚNIOR, Aury. Op cit. p. 991-992.
47
57
AVENA, Norberto. Op cit. p. 1.889-1.890.
58
Ibidem, p. 1.889.
48
59
NUCCI, Guilherme de Souza. Op cit. p. 1.164.
60
AVENA, Norberto. Op cit. p. 1.890.
61
PACELLI, Eugênio. Op cit. p. 689.
62
LOPES JÚNIOR, Aury. Op cit. p. 992.
49
63
NUCCI, Guilherme de Souza. Op cit. p. 1.168.
64
RANGEL, Paulo. Op cit. p. 1.423.
65
LOPES JÚNIOR, Aury. Op cit. p. 993.
50
66
AVENA, Norberto. Op cit. p. 1.892.
51
67
Ibidem, p. 1.885 (grifos meus).
52
68
LOPES JÚNIOR, Op cit. p. 994-995.
53
69
AVENA, Norberto. Op cit. p. 1.886.
4. O USO INDISCRIMINADO DA PRISÃO PREVENTIVA
DURANTE A PERSECUÇÃO CRIMINAL
Uma vez mais está comprovado que não adianta mudar a lei, é
preciso mudar a cultura judiciária. Esse é o grande desafio. A
banalização das prisões preventivas segue com a máxima
potência, ao arrepio do que se pretendia com a nova lei das
cautelares. Além do aumento do número de presos (ao invés da
pretendida redução), ampliou-se o espaço de controle penal.
Pessoas que antes eram beneficiadas com liberdade provisória
sem restrições ou fiança, agora somente são liberadas mediante
fiança e outras obrigações a titulo de medida cautelar diversa
(LOPES JÚNIOR, 2017)70.
70
LOPES JÚNIOR, Aury. Op cit. p. 12.
55
A sua segunda prisão, em 2019, foi ainda mais absurda, pois, após ser
parado em uma blitz no bairro do Méier, foi constatado pela Polícia Militar
71
Disponível em: <https://extra.globo.com/casos-de-policia/em-cinco-anos-estado-do-rio-foi-
condenado-indenizar-78-pessoas-presas-injustamente-24636722.html>. Acesso em: 8 de junho.
72
Disponível em: <https://extra.globo.com/casos-de-policia/vidraceiro-foi-preso-injustamente-
duas-vezes-tenho-medo-que-aconteca-de-novo-24287081.html>. Acesso em: 8 de junho.
56
73
MORAIS DA ROSA, Alexandre. Decisão penal: a bricolage de significantes. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2006. p. 26.
57
74
PACELLI, Eugênio. Op cit. p. 691.
75
LOPES JÚNIOR, Op cit. p. 76.
58
76
Ibidem, p. 74.
77
Ibidem, p. 74.
59
78
PACELLI, Eugênio. Op cit. p. 692.
79
LOPES JÚNIOR, Aury. Fundamentos do processo penal: introdução crítica. 5. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019.
60
80
SANGUINÉ, Odone. A inconstitucionalidade do clamor público como fundamento da prisão
preventiva. Revista de Estudos Criminais, v. 3, n. 10, p. 113-119, Porto Alegre, 2003, p. 114.
61
tornar uma medida cautelar, cujo fim é a tutela do processo penal, em medida
de segurança e em antecipação de pena.
81
De acordo com a Corte Constitucional Colombiana, que passou a desenvolver essa teoria, desde
a Sentencia de Unificación (SU) 559, de 1997[1], esse estado de coisas existe quando um quadro
insuportável de violações de direitos fundamentais começam a ocorrer de forma
massiva/generalizada, decorrente da omissão ou comissão de diferentes autoridades públicas,
agravado pela inércia reiterada dessas mesmas autoridades, ou seja, a estrutura da ação estatal está
com sérios problemas e não consegue modificar a situação tida como inconstitucional. Disponível
em: <https://fabiomarques2006.jusbrasil.com.br/artigos/296134766/o-que-se-entende-por-estado-
de-coisas-inconstitucional>.
82
Disponível em: <https://portalbnmp.cnj.jus.br/#/estatisticas>.
62
83
Sistema de Informações do Departamento Penitenciário Nacional. Disponível em:
<https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMTVlMWRiOWYtNDVkNi00N2NhLTk1MGEtM2FiY
jJmMmIwMDNmIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZ
ThlMSJ9>.
63
84
GOMES, Luiz Flavio. Prisão e medidas cautelares: comentários à Lei 12.403, de 04 de maio de
2011. São Paulo: RT, 2012. p. 28.
85
Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario/mutirao-carcerario/>.
86
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/relatorio-mutirao-carcerario-per.pdf>.
64
87
Disponível em: <https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/07/30/no-ceara-homem-
preso-injustamente-por-cinco-anos-deixa-a-cadeia.ghtml>.
88
Disponível em <https://www.conjur.com.br/2020-ago-29/tj-ce-manda-soltar-homem-preso-
preventivamente-quatro-anos>.
65
Diante de todo exposto, restou evidente que, por mais que o fenômeno
da superlotação carcerária não seja exclusivo do uso indiscriminado da prisão
preventiva, da banalização de seus pressupostos e da cultura do
encarceramento, é inegável que exercem intensa influência no sistema
penitenciário brasileiro, fomentando a lotação dos presídios e violando
direitos e garantias constitucionais.
(...)
89
No RHC 67.534/RJ, o Ministro Sebastião Reis Júnior afirmou a necessidade de “atualidade e
contemporaneidade dos fatos”. No HC 126.815/MG, o Ministro Marco Aurélio utilizou a
necessidade de “análise atual do risco que funda a medida gravosa”.
68
90
STF. Plenário. SL 1395 MC Ref/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14 e 15/10/2020 (Info 995).
70
AVENA, Norberto. Processo penal. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: Método, 2020.
LOPES JÚNIOR, Aury. Prisões cautelares. 5. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Saraiva, 2017.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 36. ed. São Paulo: Atlas,
2020.
PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. 24. ed. São Paulo: Atlas,
2020.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional positivo. 5. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1989.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional positivo. 30. ed.
São Paulo: Malheiros, 2008.