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A garota permanecia diante dele com o corpo muito Ereto e um sorriso no

rosto, um sorriso que parecia levemente irônico, como e se perguntasse por que ele
estava demorando tanto para tomar uma Atitude. Os jacintos haviam se espalhado
pelo chão. Pareciam ter caído por vontade própria. Winston pegou na mão dela

Não apenas o amor por uma pessoa, mas o instinto animal, o desejo simples
e indiferenciado

Antigamente, pensou, um homem olhava para o corpo de uma garota, via


que ele era desejável, e a coisa ficava por aí. Hoje, porém, não havia como
sentir um puro amor ou um puro desejo.

Por alguns instantes, Winston ficou profundamente encolerizado. Ao


longo daquele mês, desde que haviam começado a se relacionar, a natureza
do desejo que sentia por ela se modificara. No começo a coisa era muito
pouco sensual. Na primeira vez, o sexo tinha sido apenas e tão somente um
ato da vontade. Mas depois da segunda vez tudo se modificara. Ele — ou o ar
em volta dele — parecia ter-se impregnado do cheiro do cabelo de Julia, do
gosto de sua boca, da maciez de sua pele. Ela se tornara uma necessidade
física: algo que ele não apenas desejava, mas a que sentia ter direito.

Julia apertou de leve a ponta dos dedos de Winston, um toque


que parecia ser um convite não ao desejo, mas à afeição. Winston pensou
que, quando um homem vivia com uma mulher, um contratempo como
aquele devia ser uma ocorrência natural, recorrente; e uma ternura
profunda, como não havia sentido por ela antes, de súbito se apossou dele.Desejou
que fossem um casal com dez anos de vida em comum. Desejou
poder andar com ela pelas ruas exatamente como faziam agora, porém às
claras e sem medo

“Era um capricho e nada mais”.

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