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O Ofendido e o Lesado, surgem no processo penal como um dos sujeitos processuais que, como
já foi referido, são as pessoas e entidades sem a actuação das quais o processo penal pressupõe
sempre a sua existência, que poderá se constituir em assistente, e em parte acusadora.
O Ofendido
Conceito
O professor Jorge de Figueiredo Dias define em processo penal, como sendo”… a pessoa que
segundo o critério que se retira do tipo preenchido pela conduta criminosa, detêm a titularidade
do interesse jurídico-legal por aquela violado ou posto em perigo”
O Ofendido e uma das pessoas com legitimidade para intervir como assistente em processo
penal. Não podem intervir no processo penal como assistentes, certas pessoas, por não serem
titulares dos interesses que a lei penal especialmente quis proteger com a incriminação, embora
pudessem ter algum interesse, varias razoes, em intervir de modo a colaborar na descoberta da
verdade e consequente realização da justiça.
Não podem intervir, a titulo exemplificativo, como assistentes no processo penal, aquele que e
mero detentor ou possuidor da coisa furtada ou descaminhada, uma vez que o interesse protegido
pela incriminação do furto ou do abuso de confiança e só do proprietário, o enganado, se não for
de forma simultânea aquele que e patrimonialmente lesado por um crime de burla; o
processualmente lesado por um falso testemunho, por isso que a incriminação protege só o
interesse da boa administração da justiça.
A legitimidade pode ser conferida a qualquer pessoa para que esta possa constituir-se assistente
nos processos que lhe dizem respeito. De acordo com o Prof. Jorge de Figueiredo Dias, a
legitimidade para se constituir em assistentes no processo penal aqueles de cuja acusação ou
denúncia depender o exercício da acção penal pelo MP, seriam os casos de crimes particulares ou
semi-públicos, respectivamente.
Representação de Assistente
Os assistentes são obrigados a ser representados por um advogado, devendo ser representados
por um só advogado, caso sejam vários, e caso haja divergência quanto a escolha do que deva
representa-los, decidira o juiz.
Os Poderes Processuais do Assistente
Quando o assistente, naturalmente na sua intervenção no processo penal exerce certos direitos
ou poderes processuais, co- actuando no processo penal, devem se apontar os seus poderes tendo
em conta cada uma das fases do processo, que são as fases de instrução preparatória, da instrução
contraditória, da acusação, do julgamento e dos recursos.
Apesar dos poderes processuais do assistente poderem se assemelhar aos do MP, parte dos
poderes conferidos ao assistente são exercidos pelo MP, mais existem os que somente podem ser
exercidos pelo MP.
O assistente não exerce autonomamente a acção penal e a sua actuação mesmo quando
condiciona o exercício da acção penal pelo Ministério Publico não lhe cabem nunca, para além
do direito de acusar, os poderes ou funções do Ministério Publico, nomeadamente os de
investigação. Para fundamentar, dizer que relativamente aos crimes públicos e semi-públicos a
posição de assistente e claramente a de colaborador do MP já que os poderes processuais de
dispõe se traduzem em formas de auxilio directo ao MP. No caso particular da fase de instrução
preparatória, em que a intervenção do assistente traduz-se uma função de colaboração probatória
com o MP, a de colaborador.
A intervenção do assistente, nesta fase e limitada a uma função de colaboração probatória com
o MP, de cuja actividade a actuação do assistente esta completamente subordinado, delimitados
pelo artigo 13 do Decreto-Lei 35.007 que prevê a possibilidade de os assistentes,”… apresentar o
Ministério Publico memoriais ou requerimentos de diligencias de prova, que este tomara em
consideração ou deferira, na medida em que entenda que podem contribuir para a descoberta da
verdade, juntando porem aos autos, no prazo prescrito para a junção de documentos, todos os
papeis recebidos dos assistentes que respeitem ao processo”
O assistente ou o seu advogado pode consultar o processo, tem o direito de tomar
conhecimento das declarações do arguido, dos autos de diligências de prova a que pudessem
assistir e dos incidentes ou excepções em que devam intervir algumas partes, devendo disso
guardar segredo de justiça.
A intervenção do assistente nesta fase do processo penal traduz-se, numa intervenção directa na
mesma, mediante oferecimento de provas e requerimento ao juiz das diligências convenientes.
Aqui a lei concede ao assistente o direito de assistir, através do seu advogado, aos actos desta
fase do processo penal; o direito de requerer ao juiz que sejam feitas as testemunhas quaisquer
perguntas para completar ou esclarecer os depoimentos; o direito de requerer que os peritos
prestem os esclarecimentos que foram necessários; e o direito de ser modificado para manter ou
não a acusação.
A lei confere ao assistente certos poderes processuais para exerce-los na fase de julgamento em
representação da acusação, desde logo o direito de contraditoriedade relativamente aos
requerimentos da defesa.
Tomando-lhes assim as declarações em qualquer altura durante a produção de prova, tem o
direito de interrogar e contra-interrogar as testemunhas.
Intervenção do Assistente nos Recursos
No que respeita aos recursos em processo penal, ao assistente compete recorrer do despacho de
pronúncia e da sentença ou despacho que ponha termo ao processo, ainda que o MP não o tenha
feito. Impedindo assim o assistente de recorrer da decisão do juiz se este receber a acusação do
MP, nos casos em que tenha formulado acusação por factos diferentes dos que constituem
objecto da acusação do MP. Portanto, aqui não pode o assistente impugnar a decisão do juiz que
tenha recebido a acusação do MP, sem prejuízo de recorrer da decisão que não receba a sua
própria acusação. “… a restrição só poderá querer significar que, apontando os assistentes e o
MP, nas suas acusações , diferentes objectos do processo, o assistente não pode recorrer da
decisão do juiz que receba a acusação do MP, mas já pode recorrer da decisão que não receba a
sua própria acusação.
O Lesado
O Lesado e a Reparação de Perdas e Danos Arbitrada em Processo Penal
Lesados são pessoas titulares de direitos civis patrimoniais normalmente violados em virtude
da prática de uma infracção, sendo o caso mais vulgar aquele em que da infracção resulta para o
lesado um direito civil de indemnização, Indemnização de perdas e danos. Fora a indemnização
por perdas e danos, a infracção penal por que alguém e responsável pode servir de fundamento,
no lugar daquela ou em paralelo. Sobre a intervenção ou não do lesado no processo penal como
assistente ou em outra qualidade, sendo: o lesado, aquele que sofreu danos ocasionados pelo
crime pode coincidir com o ofendido e, por isso, pode também constituir-se assistente.
Em razão da sua qualidade do lesado pode apenas intervir no processo como parte civil,
formulando pedido de indemnização civil.
Princípio da Adesão
Sendo os tribunais órgãos de soberania a quem compete exercer a função jurisdicional (artigos
133 e 212 da Constituição da Republica de Moçambique) e por conseguinte ser através deles que
o Estado exerce o poder judicial, significando que somente aos tribunais compete conhecer e
decidir os casos de natureza criminal que tenham lhe sido presentes para o efeito por via de
processo. E porque as suas decisões prevalecem sobre as das demais autoridades (artigo 215 da
CRM), para exercer a referida função jurisdicional, os tribunais precisam de gozar de
independência material assim como de independência pessoal. Há que esclarecer a tal
independência pessoal,”.. Não se alude a uma qualidade pessoal, mas essencialmente as
condições objectivas criadas pelo sistema para assegurar que possam exercer a sua função apenas
em obediência a lei.”
Refere-se a ordens e instruções que possam ser dirigidas a um juiz por outros juízes
hierarquicamente superiores, ou pelos titulares dos órgãos do aparelho de direcção judiciário, as
quais por forca aludida independência não deve obediência ou incumprimento.
As ordens e instruções existem a que o juiz hierarquicamente inferior deve obediência, no caso
de Moçambique, tratando se de directivas e instruções de carácter genérico que podem ser dadas
pelo Presidente do Tribunal Supremo aos tribunais de escalão inferior, tendo por eficácia e
qualidade da administração da justiça (artigo 54, no 1, alínea g) da LOJ, aprovada pela Lei no
24/2007, de 20 de Agosto).
Da existência do princípio da independência não resulta dai haver espaço para arbitrariedade
por parte do juiz, pois sobre este recai o dever de obediência a lei, dever que não pode ser
afastado sob pretexto de ser injusto ou imoral o conteúdo legislativo (artigo 217 da CRM e artigo
8, numero 2 do Código Civil). A garantia de irresponsabilidade significa que só pode haver lugar
a responsabilidade civil, criminal, e disciplinar do juiz por actos praticados no exercício das suas
funções nos casos especialmente previstos na lei (artigo 217 e 218, ambos da CRM de 2004).
A intervenção do Juiz num certo processo não pode ser encarada com desconfiança e suspeita
pela comunidade, de tal sorte que “ quando a imparcialidade da jurisdição possa ser posta em
causa, em razão da ligação do juiz com o processo ou porque nele já teve intervenção noutra
qualidade ou porque tem qualquer relação com os intervenientes que faca legitimamente
suspeitar da sua imparcialidade, há necessidade de o afastar do processo”.
Chamam se suspeições os fundamentos com base os quais seja dada aos sujeitos processuais a
possibilidade de, querendo, recusar a intervenção do juiz no caso em julgamento.
A dúvida da imparcialidade da actuação do juiz e que tem como efeito jurídico a
impossibilidade de o juiz funcionar num determinado processo penal, mesmo que não tenha sido
requerida pelos sujeitos processuais, chamam-se impedimentos.
Relativamente a incompatibilidade do exercício da advocacia, a lei admite a titulo excepcional
que o magistrado judicial possa exercer a advocacia em causa própria, do seu cônjuge,
ascendente ou descendente.
Os impedimentos consistem nas relações do juiz com o facto submetidos a julgamento, as suas
relações com o ofendido, o arguido, o assistente ou o civilmente lesado, sua relação com o
processo penal, com os sujeitos de um outro processo, seja a penal seja civil, que contra ele
esteja a correr por factos cometidos no exercício das suas funções ou por causa delas. Devendo
estes impedimentos ser declarados pelo juiz oficiosamente, a todo tempo, mediante despacho
exarado nos autos, sendo requerida pelo MP, podendo também faze-lo o assistente e o arguido.
Consiste na parte de jurisdição que e distribuição pelas diferentes espécies de tribunais com
base na natureza das causas a resolver, o que permite que tendo em conta as particularidades
decisivas na matéria ou na natureza dos assuntos a tratar sejam competentes órgãos jurisdicionais
dotados de uma organização. Para efeitos existem métodos de determinação da competência
material.
A luz direito moçambicano vigente, sendo competentes para conhecer de matéria criminal os
tribunais judiciais, comuns em matéria criminal (artigo 224, numero 4, da CRM), uma vez que
são competentes para julgar as infracções criminais cujo conhecimento não seja atribuído a
outros tribunais, resultando dai que são tribunais de competência genérica nesta matéria, segue se
em regra o método da determinação abstracta da competência material, o qual segue também a
via da gravidade da infracção aferida ou indiciada através do máximo da pena aplicável.
Consoante maior ou menor for o máximo da pena aplicável, o tribunal competente será de
maior ou menor escalão ou classe, no caso dos tribunais distritais, podendo estes ser de 1ª ou 2ª
classe.
Competência Territorial
Existe uma distinção, na competência territorial, a sua determinação por factos cometidos em
território nacional e por factos cometidos no estrangeiro.
Sendo aplicável a lei penal substantiva moçambicana por factos cometidos no estrangeiro, a
competência territorial e determinada para os casos das infracções cometidas no estrangeiro que
sejam contra a segurança e o credito do Estado moçambicano.
Sempre que exista uma diversidade ou pluralidade de infracções, existe a conexão pessoal ou
subjectiva, que se encontrem relacionadas ou ligadas através da unidade do agente, a um só
agente. Havendo sempre um concurso real de infracções, e porque o seu cometimento de tais
infracções deve ser aplicada uma única pena, assim o tribunal competente para conhecer de tais
infracções será único, concretamente; o da infracção que corresponder pena mais grave e, no
caso, de infracções de igual gravidade, aquele em que o réu estiver preso, ou, não estando, o de
infracção mais recente, e sendo da mesma data, aquele em que o primeiro tiver sido proferido o
despacho da pronuncia ou equivalente.
Pressupõe sempre uma pluralidade de agentes, pode assumir a forma de conexão objectiva por
comparticipação criminosa ou conexão objectiva por infracções recíprocas e simultâneas.
Quando uma mesma infracção tiver sido levada a cabo por diversas agentes, e a conexão
objectiva por infracções recíprocas e simultâneas quando diferentes infracções tenham sido
cometidas na mesma ocasião ou por pessoas reunidas.
Na primeira modalidade, a lei confere competência para conhecer da infracção assim praticada
ao tribunal competente para o julgamento daquela a que couber penas mais graves, excepto se
algum dos agentes comparticipantes tiver foro especial, que respondera nesse foro.
Na segunda modalidade de conexão objectiva, tem competência o tribunal competente para
julgar a infracção mais grave, devendo assim todos os agentes das diversas infracções cometidas
na mesma ocasião reciprocamente, ou por varias pessoas reunidas, responder conjuntamente no
mesmo tribunal.
Competência funcional
Esta pode ser por graus, quando permite que as decisões penais, não adquirindo carácter
definitivo logo que são proferidas, possam em regra ser sucessivamente reexaminadas pelos
tribunais de segundo grau, ou de terceiro e do grau extraordinário.
Tratando se assim da competência em razão da hierarquia em que, tendo em atenção a estrutura
vertical dos tribunais, temos os de primeira e de segunda instancia em que a matéria de facto, e
somente permitido em regra um grau de recurso. Haverá desvios no que se refere a competência
na perspectiva vertical (competência em razão da hierarquia) naquelas em que o Tribunal
Supremo julga funcionar em segunda instancia ou julga em instância única.