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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Instituto de Artes

Anderson Ladislau da Rocha

Nicolau Antonio Facchinetti

Rio de Janeiro
2018
Anderson Ladislau da Rocha

Nicolau Antonio Facchinetti

Trabalho apresentado à disciplina


de Arte e Institucionalização,
ministrada pela Prof. Dr. Alberto
Martín Chillon, do curso de
Licenciatura em Artes Visuais, da
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro.

Rio de Janeiro
2018
3

Nascido na Itália, em 7 de setembro de 1824, na


cidade de Treviso, Nicolau Antonio Facchinetti
chegou ao Brasil aos 25 anos, em 1849, e aqui
permaneceu até a sua morte, em 16 de outubro de
1900, no subúrbio do Engenho Novo, bairro da
zona norte do Rio de Janeiro. Facchinetti foi
obrigado, por possuir atividades relacionadas à
política pública, a deixar a sua cidade. Não há
informações detalhadas sobre sua formação
artística mas, inicialmente, teria feito
curso na Escola de Desenho de Bassano e, na
Imagem 01: Disonível em: sequência, na Academia de Veneza. Ao chegar ao
<https://s3-sa-east-
1.amazonaws.com/imgs.iarremate/art Brasil, reinicia seus estudos em desenho pela
istas/art- AIBA, Academia Imperial de Belas Artes.
14846/imagens/Uh1v7mk8.300x300.j
pg> Facchinetti é premiado, em Veneza, nos anos de
1842 e 1843, pela Regia Accademia di Belle Arti,
com as suas cópias de gravuras e trabalhos em ornamentos. Acredita-se que ele tenha,
possivelmente, tido contato com as obras de Ippolito Caffi e Luigi Querena. Com o domínio
da técnica da cópia de paisagens já reconhecida e premiada, o artista começa, nas décadas de
60, a reproduzir as paisagens do Rio de Janeiro1.
Ainda com uma forte relação com o verismo italiano 2 na pintura de paisagem,
Facchinetti, ao chegar ao Brasil, inicia a sua produção artística com o retrato e a cenografia.
Em seguida, dedica-se à pintura de paisagem reproduzindo as regiões serranas do Rio de
Janeiro, Minas Gerais, fazendas de café do Vale do Paraíba e São Paulo. Rapidamente seu
trabalho passa a ser reconhecido e admirado pela classe burguesa até chegar à família
imperial. Foi, então que ele se tornou o artista oficial da família imperial. Vale ressaltar que o
Estado de São Sebastião do Rio de Janeiro estava em faze de mudança com a chegada da
família imperial que, por sua vez, atraiu um número expressivo de artistas de todo canto do
mundo que, imediatamente, se encantaram com a natureza exuberante e, neste contexto,
Facchinetti deixa a sua atividade inicial, o retrato e a cenografia, e se torna mais um artista
1
Disponível em: https://www.escritoriodearte.com/artista/nicolau-facchinetti
2
O verismo nasceu na Itália na segunda metade do século XIX, em conseqüência das
influências do positivismo que despertaram a confiança intelectual no progresso científico.
Disponível em: https://doc.studenti.it/appunti/letteratura/verismo.html
4

dentre inúmeros a registrar, por diversos ângulos, as imagens da bela cidade que continha
cores vibrantes reforçados pela iluminação natural com características típicas de um clima
tropical. Há, em seguida, um reconhecimento da qualidade e da técnica pictória de Facchinetti
pelos artistas inseridos naquele contexto, conforme descrito:

"... Facchinetti é possuidor de uma acurada técnica pictórica. Pintor extremamente


detalhista produz uma vasta obra onde sobressaem suas características estilísticas,
dentre as quais se podem destacar a riqueza pictórica empregada em telas de
pequenos formatos; a tendência à pintura de panoramas; o detalhismo no primeiro
plano da pintura e um colorido que imprime um destacado grau de sentimentalismo
em suas paisagens precisas e controladas." 3

Imagem 02: Baía do Rio de Janeiro tomada do forte do Leme, 1872. Óleo sobre tela, 57,5
x 93,5 cm. Coleção D. João de Orleans e Bragança, Rio de Janeiro. Imagem extraída da
dissertação de mestrado de Michelle Babtista Gran Teixeira. pg.133.

3
TEIXEIRA, Michelle Babtista Gran. Pintura Paisagística do Rio de Janeiro no Século XIX:
O Olhar de Facchinetti. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) - Escola de Belas Artes,
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, p.128. 2010.
5

Imagem 03: Ilustração 61. Praia de Copacabana tomada do forte do Leme, 1872. Óleo
sobre tela, 56,5 x 92 cm. Coleção D. João de Orleans e Bragança, Rio de Janeiro. Imagem
extraída da dissertação de mestrado de Michelle Babtista Gran Teixeira. pg.134.

Em meados do século XIX, a pintura do gênero paisagem estava crescendo e


ganhando espaço no Brasil imperial. Não somente os membros da família imperial mas os
barões do café e a classe burguesa passaram a contratar os artistas para que suas propriedades
fossem retratadas e expostas nos grandes cômodos dos casarões cada vez mais imponentes e
com ambientes cada vez mais otimizados. Na primeira metade do século XVII, as primeiras
mudas de café foram introduzidas no Brasil por Francisco de Melo Palheta, oficial português.
Contudo, no início do século XIX, quando as mudas de café foram plantadas em regiões cujo
clima favorecia o seu crescimento, entre as serras atlânticas e do Mar, foi que o sistema
econômico começou a proporcionar um progresso no país que, rapidamente, se tornou o maior
produtor de café do mundo, sendo responsável por nada menos que 50% da produção
mundial. Neste contexto, surgiu a cultura dos barões do café que passaram a fazer parte da
elite da sociedade e alavancaram a carreira dos artistas que se viam cada vez mais ocupados
pelas demandas vindas destes senhores que desejavam tão somente registrar, em imagens, o
seu patrimônio e esbanjar a sua riqueza ganhando, desta maneira, o reconhecimento da
sociedade.4

4
Ibidem, p.150.
6

Imagem 4: Fazenda Montalto, 1881. Óleo sobre tela, 47 x 107cm. Rio de Janeiro, Coleção
Hecilda e Sérgio Fadel. Catálogo da exposição Facchinetti. Rio de Janeiro, Realização:
Centro Cultural Banco do Brasil, 2004, pg.59. Foto: Guto Seixas. Diponível em:
<http://www.dezenovevinte.net/>

Imagem 5: Fazenda Flores do Paraíso, 1875. Óleo sobre madeira, 54 x 73cm. São Paulo,
Coleção Particular. Catálogo da exposição Facchinetti. Rio de Janeiro, Realização:
Centro Cultural Banco do Brasil, 2004, pg.17. Foto: Fernando Chaves. Diponível em:
<http://www.dezenovevinte.net/>
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Antes mesmo de chegar ao Brasil, Facchinetti já tinha importantes contatos que faziam
parte do círculo de artistas com algumas das suas obras sendo prestigiadas com prêmios
importantes como as que ele ganhou na Imperiale Regia Academia di Belle Arti de Veneza.
Chegando ao Brasil, ele encontra espaço entre os artistas que já estavam inseridos nos
ambientes em que circulavam críticos respeitados e de grande prestígio:

"Mesmo não havendo nenhum documento histórico que o


comprove, é razoável supor que o pintor, ao chegar ao Rio de Janeiro,
já dispusesse de alguns importantes contatos na cidade, pois como
explicar sua participação, apresentando um retrato, na X Exposição
Geral de Belas Artes inaugurada em 08 de dezembro do mesmo ano?
Como explicar que no Almanaque Laemmert, o meio de divulgação
por excelência de todas as atividades econômicas e comerciais da
cidade, publicado em 15 de janeiro de 1850, conste o seu nome como
pintor retratista? A existência de contatos junto à elite carioca
explicaria essa meteórica inserção de um jovem artista estrangeiro na
sociedade carioca, até porque o mercado artístico no Rio de Janeiro
era bastante limitado." 5

Além disso, em algumas das exposições no país, foram vistas algumas telas do artista
italiano que, mesmo nunca tendo vindo ao Brasil, foi inserido sem maiores dificuldades nas
escolas de artes e sendo requisitado pela elite carioca naquele momento. Certamente este
cenário contribuiu consideravelmente para que as obras do jovem artista fizessem parte das
coleções de obras de arte e, com isso, recebendo o "selo" que o credenciava para fazer parte
das obras artísticas institucionalizadas no século XIX. 6
Nicolau Facchinetti foi um grande artista do século XIX que contribuiu fortemente
para a propagação da arte do gênero da paisagem, sendo considerado um dos maiores da sua
época. Suas primeiras telas retratavam as paisagens do ponto de vista do artista estrangeiro e,
com o passar dos anos, com a sua imersão cultural, suas obras foram potencializadas, seus
traços e cores ganharam vida e características marcantes como o contraste entre claro e escuro
e os degradês de cores. Seus anos morando no Brasil contribuíram consideravelmente para o

5
Ibidem, p. 122.
6
Nesta época, o Brasil não reconhecia o artista como uma profissão nobre, honrosa. Esta
observação foi feita pelo casal Agassiz que, ao visitar o país, observou que as casas não
possuíam estantes de livros nem quadros. Francisco Acquarone reforça a tese de que os
artistas não tinham o status que conhecemos hoje e isto se torna evidente nos noticiários dos
jornais que circulavam na época, quando estes, ao escreverem sobre a obra, ocultavam o nome
dos artistas. Ibidem, p. 123.
8

desenvolvimento de novas técnicas de pintura e a formação de novos artistas que tiveram a


oportunidade de desenvolver e conhecer um gênero artístico que foi extremamente relevante
para registrar um cenário ainda quase que totalmente neutro, intocável pelo Homem, com a
predominância do verde da floresta. Dificilmente encontraremos um artista que retratou, com
muito sentimentalismo e dedicação, as paisagens apreciadas por todos quanto se deparassem
com a riqueza natural das terras tupiniquins.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

<https://www.escritoriodearte.com/artista/nicolau-facchinetti>
<http://www.dezenovevinte.net/artistas/naf_mabeli.htm>
<https://www.guiadasartes.com.br/nicolau-antonio-facchinetti/principais-obras>
TEIXEIRA, Michelle Babtista Gran. Pintura Paisagística do Rio de Janeiro no Século XIX:
O Olhar de Facchinetti. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) - Escola de Belas Artes,
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, p.128. 2010.

ACQUARONE, Francisco. História das artes plásticas no Brasil. Atualizada por


Leda Acquarone. Rio de Janeiro: edição do atualizador, 1980.

AGASSIZ, Luís & AGASSIZ, Elizabeth Cary. Viagem ao Brasil (1865-1866).


Tradução de Edgar Süssekind de Mendonça. Brasília: Senado Federal, Conselho
Editorial, 2000 (col. O Brasil visto por estrangeiros).

DE BIVAR MARQUESE, Rafael. A paisagem da cafeicultura na crise da escravidão: as


pinturas de Nicolau Facchinetti e Georg Grimm. Revista do ieb, nº 44, p. 55-76, fevereiro de 2007.

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