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ATOS ADMINISTRATIVOS

1. NOÇÕES GERAIS E CONCEITO


 O que são atos administrativos?
o Fato jurídico (em sentido amplo)  fato que compõe o suporte fático de uma norma
jurídica
 Fato Jurídico em sentido estrito  fato da natureza
 Atos jurídicos  fatos que decorrem da vontade humana
o Fatos administrativos  fatos relacionados ao exercício da atividade material da
função administrativa
  A noção de fato administrativo não guarda relação com a de fato jurídico,
pois indica qualquer alteração dinâmica na Administração (atividade material no
exercício da função administrativa), não levando em conta a produção de
efeitos jurídicos
  Os fatos administrativos podem ser
 I) Voluntários  podem se materializar por atos administrativos
(manifestações de vontade) ou por condutas administrativas
 II) Naturais
o Ato da administração  todo e qualquer ato derivado dos órgãos que compõem o
sistema jurídico administrativo
  Não se define com base no conteúdo do ato, mas a partir da origem dele
  São espécies de atos da Administração
 I) Atos privados  contratos privados
 II) Atos materiais  fatos administrativos naturais
 III) Os atos propriamente administrativos
o Ato administrativo  exteriorização da vontade da Administração Pública, emanada de
seus agentes ou de seus delegatários, que, sob o regime de direito público, vise á
produção de efeitos jurídicos, com o fim de atender ao interesse público
  Agentes administrativos são todos aqueles que integram a estrutura
funcional dos órgãos administrativos, desde que no exercício da função
administrativa
 O silêncio pode configurar um ato administrativo?
o Direito Privado  o silêncio não importa a anuência, salvo quando a lei não dispensar
manifestação expressa, considerados os usos e as circunstâncias
o Direito Público  silêncio não pode ser considerado como um ato administrativo,
configurando um fato jurídico administrativo, que pode produzir efeitos na ordem
jurídica
o Há 02 hipóteses diversas
 I) A lei estabelece os efeitos do silêncio
  Silêncio importa manifestação positiva (anuência tácita)
  Silêncio implica manifestação denegatória
 II) A lei não estabelece os efeitos do silêncio administrativo, de modo que a
omissão pode produzir efeitos de 02 formas
  Ausência de manifestação no prazo fixado
  Demora excessiva
o  Nas hipóteses em que a lei não prevê o efeito da omissão administrativa, o indivíduo
pode combate-la pelas seguintes vias
 Pela via administrativa (direito de petição)
 Via judicial, em que o interessado deduzirá uma pretensão mandamental
 1ª corrente (Celso Antônio Bandeira de Mello)  sendo o ato
vinculado, cabe ao Judiciário suprir a própria ausência
 2ª corrente (majoritária)  não pode o órgão jurisdicional substituir a
vontade do órgão administrativo

2. ELEMENTOS DO ATO ADMINISTRATIVO


 Qual é a nomenclatura preferível: elementos ou requisitos?
o 1ª corrente  elementos
o 2ª corrente (Celso Antônio Bandeira de Mello)  requisitos
  A expressão elemento é utilizada para definir o componente do todo, o que não
se compatibiliza com alguns dos requisitos legais, que são aspectos exteriores
 O que se entende por competência?
o Conceito  atribuição normativa da legitimação para a prática de um ato administrativo
 âmbito legal de exercício legítimo da atividade pelos agentes públicos
o  A competência pode ter como fontes:
 Lei (fonte normal da competência)  Competência primária
 Atos administrativos gerais e abstratos com função de organização  competência
secundária
o São critérios definidores da competência
 I) Matéria
 II) Hierarquia
 III) Lugar
 IV) tempo
o Quais são as características da competência administrativa?
  A competência administrativa, distintamente do que ocorre no Direito Privado,
em que predomina uma faculdade de agir (facultas agendi), configura-se como um
poder-dever atribuído ao agente administrativo
  A competência é imprescritível, não se extinguindo pela inércia do agente
  A competência é improrrogável, não podendo ser atribuída ao órgão
administrativo pelo fato de ter praticado ato para o qual não detinha competência
  A competência é inderrogável, não se transferindo a outro órgão por acordo
entre as partes
  A competência administrativa é, por fim, irrenunciável
o O que se entende por delegação?
 Conceito  extensão, de forma temporária, do exercício de determinadas
competências para autoridade diversa daquele prevista em lei
  A delegação pode ocorrer para agente de mesma hierarquia ou de nível
hierárquico inferior
  O ato de delegação deve
 I) prever o tempo da delegação
 II) determinar a matéria a ser delegada, de forma específica
 III) Ser publicado, a fim de ser conhecido por todos
  A delegação pode ser revogada a qualquer tempo
  O ato de delegação não retira a competência da autoridade delegante, que
continua cumulativamente competente (presunção da cláusula de reserva de
competência)
 Quem é responsável pelo ato pratica pela autoridade delegada?
 Súmula 510 do STF  Praticado o ato por autoridade no exercício de
competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a
medida judicial
  A delegação é vedada nas seguintes hipóteses
 I) Competência exclusiva, definida em lei
 II) Decisão de recurso hierárquico
 III) Edição de atos normativos
o O que se entende por avocação?
 Conceito  ato por meio do qual o agente hierarquicamente superior atrai para sua
esfera decisória a prática de ato da competência natural de agente com menor
hierarquia
  Há obrigatoriedade do vínculo hierárquico entre as autoridades
  O ato de avocação deve ser justificado e público
  Não é possível a avocação nas hipóteses em que é vedada a delegação
 I) Competência exclusiva, definida em lei
 II) Decisão de recurso hierárquico
 III) Edição de atos normativos
 O que se entende por motivo do ato administrativo?
o Conceito  situações de fato ou de direito que dão ensejo à prática do ato
 Motivo de direito  situação de fato eleita pela norma jurídica como ensejadora da
exteriorização da vontade
 Motivo de fato  situação de fato ocorrida no mundo empírico, sem descrição na
norma legal
o O motivo pode ser um elemento discricionário do ato administrativo?
 Se a situação de fato já está delineada na norma legal  ato vinculado
 Se a lei não delineia a situação fática  demanda uma análise acerca da adequação
do ato (ato discricionário)
o Quais as diferenças entre motivo, móvel e motivação?
 Motivo  circunstância de fato ou de direito que enseja a prática do ato
 Móvel  real intenção do agente público na prática do ato (elemento de cunho
subjetivo)
 Motivação  exposição dos motivos do ato
  A ausência de motivação consiste em vício no elemento forma do ato
administrativo
  Ato praticado com a devida motivação, mas com motivos inexistentes,
falsos ou incongruentes, é inquinado por ilegalidade no elemento motivo
o A motivação dos atos administrativos é obrigatória?
 1ª corrente (José dos Santos Carvalho Filho)  NÃO, dada a ausência de previsão
legal ou constitucional
 2ª corrente  SIM
 Fundamento  direito fundamental à informação, sendo um dever
implícito à Constituição Federal e à lei 9.784/1999
o súmula 684 do STF  É inconstitucional o veto não motivado à
participação de candidato a concurso público
o CJF  A decisão administrativa robótica deve ser suficientemente
motivada, sendo a sua opacidade motivo de invalidação.
 3ª corrente  motivação dos atos seria necessária apenas nos atos vinculados
o O que se entende por motivação contextual e motivação per relationem (aliunde)
 Motivação contextual  aquela situa no bojo do próprio ato administrativo
 Motivação aliunde  aquela em que se remete a motivação aos fundamentos de
ato administrativo anterior
o O que se entende por Teoria dos Motivos Determinantes?
 Conceito  teoria desenvolvida no direito francês segundo o qual a Administração
Pública, ao justificar o ato administrativo, fica vinculada às razões expostas
 Ainda que a lei não preveja a obrigatoriedade da motivação, uma vez
apresentados os motivos, eles passam a integrar a conduta praticada, de modo que
os efeitos jurídicos pretendidos só se consumarão, se a fundamentação
corresponder à realidade
o O que se entende pela necessidade de congruência dos atos administrativos?
  Necessidade de correlação entre o motivo e o resultado do ato (objeto e
finalidade), de modo que os primeiros devem consistir em premissas de onde se
extraem logicamente os últimos
  motivo “juridicamente inadequado ao resultado obtido” (lei 4.717, artigo
2º, “d”), em oposição àquele “materialmente inexistente”.
  O motivo existe, mas é inadequado ao resultado pretendido
 O que se entende por objeto (conteúdo) do ato administrativo?
o Conceito  modificação do mundo jurídico que o ato jurídico se propõe a processar
 1ª corrente (majoritária)  objeto e conteúdo são sinônimos
 2ª corrente  conteúdo é a disposição do ato, enquanto o objeto é o bem ou a
relação jurídica sobre o qual o ato administrativo incide
o  O objeto deve ser lícito, possível, determinado ou determinável
o  O objeto do ato administrativo pode ser discricionário ou vinculado
 O que se entende por finalidade?
o Conceito  aquilo que se busca proteger/promover com a prática do ato administrativo
 I) Finalidade genérica  atendimento ao interesse público
 II) Finalidade específica  prevista em lei, sendo específica para cada ato
individualmente conceito
o O que se entende por abuso de poder?
 Conceito  situações nas quais a autoridade pública pratica o ato extrapolando a
competência legal ou visando uma finalidade diversa daquela estipulada pela
legislação.
 Excesso de poder  autoridade pública atua fora dos limites de sua
competência
 Desvio de poder  quando o agente do Estado praticar visando a alcançar
outra finalidade que não aquela prevista em lei.
o  O agente público pratica um ato visando interesses individuais,
o  A autoridade pública pratica o ato respeitando a busca pelo
interesse público, mas não respeitando a finalidade especificada
por lei para aquele determinado ato.
 Se o agente visa ao interesse público, mas viola a finalidade específica, haverá desvio
de finalidade?
  SIM, pois há finalidade diversa da prevista em lei
o O desvio de finalidade é um vício objetivo ou subjetivo?
 1ª corrente  vício objetivo, sendo irrelevante a intenção do agente
 2ª corrente  vício subjetivo, porquanto o desvio pressupõe o animus do agente
o Quais são as diferenças entre finalidade e objeto?
 Objeto  fim imediato do ato administrativo
 Finalidade  fim mediato do ato administrativo
 O que se entende pela forma do ato administrativa?
o Conceito  meio pelo qual o ato volitivo se exterioriza no mundo jurídico
o Quais são os efeitos da ausência de forma ou da inobservância das formalidades prescritas
em lei?
  A ausência de forma implica a inexistência do ato
  A inobservância das formalidades prescritas em lei pode implicar a invalidade do
ato
o Como devem ser observadas as formalidades dos atos administrativos?
  No Direito Público, vigora o princípio da Solenidade, e não o da liberdade de
formas, de modo que os atos administrativos devem ser escritos, salvo situações
excepcionais (ex.: guardas de trânsito)
  A análise da adequação da forma legal exige a incidência do princípio da
razoabilidade, de modo que, se o vício de forma constituir irregularidade sanável,
sem afetar a órbita jurídica de terceiros, poderá ocorrer a correção da irregularidade
(princípio da instrumentalidade das formas)
  O vício de forma é sanável, desde que não gere prejuízos a terceiros ou ao
interesse público
 Qual é a caracterização dos componentes do ato administrativo proposta por Celso Antônio Bandeira
de Mello?
o Elementos  componentes intrínsecos ao ato administrativo
  A ausência dos elementos implica na inexistência do ato
  São elementos do ato administrativo
 Conteúdo  disposição do ato (consequência imediata)
 Forma  meio de exteriorização da vontade
o Pressupostos  componentes extrínsecos do ato
 Pressupostos de Existência  aqueles sem os quais a conduta não se efetiva)
 I) Objeto  coisa ou relação jurídica sobre o(a) qual o ato incidirá
 II) Pertinência da função administrativa
 Pressupostos de Validade  referentes à adequação no suporte fático
 I) pressuposto subjetivo  sujeito competente
 II) pressuposto objetivo  motivo
 III) Causa  correlação lógica entre o motivo e o resultado do ato
administrativo
 IV) pressuposto teleológico  finalidade
 V) pressuposto formalístico  formalização, consistente na condição
formal para a expedição do ato (formalidades)
 VI) Requisitos procedimentais  necessidade de existência de
procedimentos anteriores

3. DISCRICIONARIEDADE E VINCULAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO


 Quais são as espécies de poderes administrativos quanto aos limites legais?
o Poder Vinculado (regrado)  hipóteses em que a previsão legal estabelece de forma
apriorística todos os elementos do ato administrativo, sem que a autoridade pública possa
exercer um juízo de valor sobre a consequência da conduta, quando houver preenchimento
do suporte fático da norma jurídica
o Poder Discricionário  hipóteses em que a previsão legal confere margem de apreciação ao
administrador, a quem incumbe a escolha da solução mais adequada em face do caso
concreto, segundo critérios de oportunidade e conveniência (mérito administrativo)
 O que se entende por discricionariedade?
o Competência discricionária  aquela que incide quando inexistente disposição normativa
específica sobre a atuação administrativa, de modo que o agente se encontra livre para
optar pela solução que melhor atenda ao interesse público, em razão de critérios de
oportunidade e conveniência,
o Discricionariedade  espaço de liberdade de decidir outorgado pela lei ou regulamento ao
administrador
  Configura uma liberdade meramente aparente, pois a Administração Pública se
encontra sujeita ao princípio da juridicidade, não se confundindo com a
arbitrariedade
 Celso Antônio Bandeira de Mello  Discricionariedade atua como uma
competência funcional, visto que consiste em situação jurídica na qual se projeta um
dever de atuar para a realização de uma finalidade
o Quais são os fundamentos da discricionariedade?
  Necessidade conferir margem de maleabilidade à Administração em face das
mudanças fáticas (vide o escalonamento vertical de Kelsen)
o Quais são os traços característicos da discricionariedade?
  A discricionariedade se encontra conexa as chamadas normas de fim (regras ou
princípios), as quais indicam àqueles incumbidos de aplicá-las uma finalidade a ser
atingida, abstendo-se de determinar previamente a conduta a ser seguida para
tanto.
  A discricionariedade pode resultar da hipótese da norma (maneira imprecisa
mediante a qual a lei descreve o motivo autorizador da decisão), do comando
normativo (alternativa de condutas) ou da finalidade da norma
o O que são conceitos jurídicos indeterminados?
 Conceitos jurídicos indeterminados  enunciados normativos em que conteúdo é,
numa certa medida, dotado de incerteza
  zonas de certeza positiva e de certeza negativa
  zonas de penumbra
 Os conceitos jurídicos indeterminados conferem discricionariedade?
 1ª corrente (majoritária)  SIM
 2ª corrente  NÃO
o José dos Santos Carvalho Filho  conceito jurídico indeterminado
está situado no plano de previsão da norma (antecedente),
enquanto a discricionariedade se aloja na estatuição da norma
(consequente)
 A apreciação dos conceitos jurídicos indeterminados pela Administração Pública
pode sofrer controle judicial?
 Entendimento tradicional  conceitos jurídicos indeterminados seriam de
verificação por parte dos órgãos administrativos e dos governos, estando a
salvo de revisão judicial.
 Entendimento após a 2ª Guerra Mundial  conceitos jurídicos
indeterminados não consistem em atribuição de juízo discricionário
absoluto em favor da Administração.
o  Desenvolvimento da teoria da margem de apreciação
(Alemanha), segundo a qual os conceitos jurídicos indeterminados
podem habilitar a Administração para proferir decisões variadas,
as quais somente limitadamente poderiam ser revisadas pelos
tribunais.
 Entendimento atual majoritário  há uma liberdade de escolha na
apreciação dos conceitos jurídicos indeterminados, mas limitada pelo
ordenamento jurídico
o  O Poder Judiciário não deve substituir a decisão do
administrador, julgando o mérito de um ato administrativo
discricionário
o  Poder Judiciário somente pode analisar os atos administrativos
no que tange aos aspectos da legalidade.
o  Há uma ampliação do bloco de controle de legalidade dos atos
administrativos, sobretudo a partir da constitucionalização do
Direito Administrativo (vide proporcionalidade e razoabilidade)
 O controle de legalidade exercido pelo Poder Judiciário sobre os atos administrativos
diz respeito ao seu amplo aspecto de obediência aos postulados formais e materiais
presentes na Carta Magna, sem, contudo, adentrar o mérito administrativo. STJ. 2ª
Turma. AgInt no RMS 49202/PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em
02/05/2017.
 A decisão judicial que impõe à Administração Pública o restabelecimento do plantão
de 24 horas em Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e à Juventude
não constitui abuso de poder, tampouco extrapola o controle do mérito
administrativo pelo Poder Judiciário. STJ. 1ª Turma. REsp 1612931-MS, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/6/2017 (Info 609).
 As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são bens da União (art. 20, XI, da
CF/88) e, portanto, não podem ser consideradas como terras devolutas de domínio
do Estado-membro. STF. Plenário. ACO 362/MT e ACO 366/MT, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgados em 16/8/2017 (Info 873).
 O compartilhamento de infraestrutura de estação rádio base de telefonia celular por
prestadoras de serviços de telecomunicações de interesse coletivo caracteriza
servidão administrativa, não ensejando direito à indenização ao locador da área
utilizada para instalação dos equipamentos.
 O direito de uso previsto no art. 73 da Lei nº 9.472/97 constitui-se como servidão
administrativa instituída pela lei em benefício das prestadoras de serviços de
telecomunicações de interesse coletivo, constituindo-se direito real, de natureza
pública, a ser exercido sobre bem de propriedade alheia, para fins de utilidade
pública, instituído com base em lei específica.
 Ex: João possui um terreno na beira da estrada. Ele celebrou contrato de locação
com a Embratel permitindo que a empresa instalasse, em seu imóvel, uma torre e
uma antena de telecomunicações. Alguns meses depois, a Embratel permitiu que a
TIM compartilhasse de sua infraestrutura. João ajuizou ação de indenização
alegando que o contrato de locação proíbe que a locatária faça a sublocação do
imóvel para outra empresa. Ele não terá direito à indenização.
 STJ. 4ª Turma.REsp 1309158-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
26/09/2017 (Info 614).
 O IBGE está legalmente impedido de fornecer a quem quer que seja as informações
individualizadas que coleta, no desempenho de suas atribuições, para que sirvam de
prova em quaisquer outros procedimentos administrativos.
 STJ. 1ª Turma.REsp 1353602-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
30/11/2017 (Info 617).
o Há discricionariedade no exercício de atividades técnicas pela Administração?
 Giannini  diferenciação de 02 aspectos
  discricionariedade se refere a um poder que implica um juízo e uma
vontade
  Discricionariedade técnica se reporta a um momento cognitivo e, por
isso, acarreta somente um juízo, podendo, posteriormente, envolver ou
não uma separada apreciação discricionária
o Juízos técnicos valorativos  separação entre o juízo técnico e a
decisão administrativa
o Juízos técnicos de existência  inseparabilidade do juízo técnico e
a decisão
 Eva Desdentado Daroca  03 situações distintas
 Discricionariedade técnico-jurídica  hipótese em que a norma atribui à
Administração a possibilidade de escolher o modo de agir para a
consecução do interesse público
o  técnica identifica mais de uma opção eficaz para a finalidade
pretendida, cabendo a sua escolha ao administrador
 Incerteza técnica  hipóteses científicas que não podem ainda ser objeto
de confirmação, em face do estado não avançado da ciência, deferindo-se à
Administração a possibilidade de escolher a solução
 3ª hipótese  Hipóteses em que o exercício da atividade administrativa
exige a análise da relevância especial de critérios técnicos que não se
encontrem em relação com a discricionariedade administrativa
(discricionariedade fraca)
 Doutrina Brasileira  02 hipóteses
 1ª hipótese  critério técnico se encontra em conexão com o
administrativo, vindo a ser absorvido por este (há discricionariedade)
o  elementos técnicos constituem pressupostos da ação
administrativa, não impedindo que a Administração atue com
certa liberdade
 2ª hipótese  Critério técnico não se liga ao administrativo, de maneira
que a sua apreciação independe de qualquer decisão administrativa.
o Como ocorre o controle jurisdicional da atividade técnica.?
 Regra geral  O desempenho da função administrativa mediante critérios técnicos
não implica em discricionariedade.
 Exceção Haverá discricionariedade se for conferido à Administração a
possibilidade de decidir ou não, ou ainda de, ao decidir, adotar uma ou mais
providências possíveis.
o E se o auxílio fornecido pela técnica reputar de forma satisfatória o emprego de mais de um
método?
  NÃO há discricionariedade, pois a investigação técnica consiste em uma aferição
de certeza quanto a determinadas circunstâncias que possam ser qualificadas como
motivo para a prática ou não de uma decisão administrativa com base no estado
atual da ciência)
  A dificuldade técnica, por si só, não consiste em impedimento constitucional à
competência de revisão por parte do Judiciário, que tem a faculdade de acorrer a
especialistas
  O controle jurisdicional se desdobra em 02 fases:
 Exame procedimental  constatação dos conhecimentos especializados
daqueles incumbidos de expressar o posicionamento técnico
 Exame do acerto da Administração  indagação acerca da presença e da
adequação do motivo que o sistema jurídico acolhe como justificador da
ação administrativa
o  exame da existência do motivo
o  exame da correspondência do fato com a situação jurídica da
norma
  A revisão judicial haverá de se direcionar à demonstração de equívoco – não
necessariamente manifesto – na verificação da existência e da correspondência do
motivo, o que se insere no âmbito do controle de legalidade;
 E se não houver prevalência de qualquer vertente científica?
  Deve-se atribuir em favor da Administração uma deferência, desde que
as suas conclusões se apresentem com motivação razoável (presunção de
legitimidade dos atos administrativos)
  Não implica em se deferir uma competência discricionária ao
administrador, pois não há liberdade de escolha quanto ao motivo do ato,
mas ao momento de deliberação
 Quais são os elementos discricionários e vinculados do ato administrativo?
o Atos vinculados  todos os elementos são regrados
o Atos discricionários  02 espécies de elementos
 Elementos não discricionários do ato administrativo  competência, forma e
finalidade do ato administrativo
  A forma do ato administrativo admite uma margem de escolha sempre
que não houver forma definida em lei
  A finalidade do ato administrativo também pode ser ponderada, quando
observada em sua dimensão genérica
 Elementos discricionários do ato administrativo  Motivo e Objeto
 O que se entende por mérito administrativo?
o Conceito  conteúdo das considerações discricionárias da Administração quanto à
oportunidade e conveniência de praticá-lo
o O que se entende por Doutrina Chenery e por Doutrina Chevron?
 Doutrina Chenery  teoria proveniente do direito anglo-saxão, segundo a qual, no
âmbito de atos administrativos discricionários e atos de governo especialmente
fundamentados em prévias pesquisas técnicas, o Poder Judiciário se encontra
duplamente limitado, em face do déficit democrático
  Vinculação aos fundamentos elencados pela Administração para o
embasamento do ato administrativo discricionário
  Inviabilidade dos aspectos discricionários do ato, em respeito à
autoridade granjeada ao Poder Público para decidi-los, visto que o Poder
Judiciário não possui a expertise necessária para compreender as
consequências econômicas e políticas de tais medidas
 Doutrina Chevron  doutrina foi desenvolvida no âmbito da Suprema Corte dos EUA
 caso Chevron, U.S.A., Inc. v. NRDC  Suprema Corte dos EUA estabeleceu
um modelo de teste legal com vistas a determinar se deve conferir
deferência à interpretação dada por uma agência governamental
  O teste judicial deve ser feito a partir de 02 etapas
o 1ª fase  verificar se a lei é clara quanto ao assunto em discussão.
 Se a lei é clara  dever de o juiz aplicar a lei e não será
dada deferência
o 2ª fase  Se a lei não for clara, não deve o Tribunal realizar a sua
interpretação da vagueza ou ambiguidade legal, mas avaliar se a
decisão da agencie foi razoável

4. ATRIBUTOS E CLASSIFICAÇÕES DOS ATOS ADMINISTRATIVOS


 Quais são as características (atributos dos atos administrativos)?
o Tipicidade  atos administrativos devem ter previsão legal (princípio da legalidade)
o Presunção de veracidade  presunção relativa (juris tantum) de que todos os atos
administrativos expressam uma situação de fato real, salvo prova em contrário
 Efeito prático  a inversão do ônus da prova dos fatos alegados no ato
administrativo
 Marçal Justen Filho  Não existe presunção quanto à ocorrência de fatos se a
Administração Pública não seguiu o devido processo legal
o Presunção de Legitimidade  presunção relativa pela qual os atos administrativos
consideram-se editados em conformidade com as normas legais, salvo prova em contrário
 Efeito prático  atos administrativos produzem efeito desde a sua publicação até
que haja configuração da existência de um ao ilícito
o Imperatividade  atos administrativos que impõem obrigações aos particulares (atos
restritivos) são cogentes, devendo ser cumpridos independentemente da vontade do
particular
 Poder extroverso da Administração Pública  atividade administrativa impõe
condutas aos administrados por meio de seus próprios atos
  A imperatividade não está presente nos atos que definem direitos e vantagens ou
naqueles enunciativos
o Autoexecutoriedade (executoriedade)  A Administração Pública pode executar seus atos e
decisões independentemente de prévia autorização judicial, utilizando-se de seus próprios
meios, desde que haja previsão legal ou se trate de uma situação de urgência
 A Administração Pública tem interesse de agir nesses casos?
 STJ  A administração pública possui interesse de agir para tutelar em
juízo atos em que ela poderia atuar com base em seu poder de polícia, em
razão da inafastabilidade do controle jurisdicional
  O Poder Público se utiliza de meios diretos de execução do ato administrativo
o Exigibilidade (coercibilidade)  se a obrigação não for cumprida, o Poder Público deverá
executar o ato, valendo-se de meios indiretos de coerção (meios coercitivos)
  A execução dos atos administrativos não dispensa o respeito ao devido processo
legal
 Súmula 312 do STJ  No processo administrativo para a imposição da
multa de trânsito, são necessárias notificações da autuação e da aplicação
da pena decorrente da infração
 Quais são as classificações dos atos administrativos?
o I) Quanto aos destinatários
 Atos gerais (normativos)  regulam uma quantidade indeterminada de pessoas que
se encontram na mesma situação jurídica
 Atos individuais (concretos)  regulam relações jurídicas concretas, com
destinatários individualizados
o II) Quanto às prerrogativas do ato (ou quanto ao objeto)
 Atos de império  03 características
 I) Caracterizados pelo poder de coerção decorrente do ius imperium, pois o
Poder Público atua com suas prerrogativas (verticalidade)
 II) irrelevância da vontade dos administrados
 III) regidos pelo Direito Público e pelo princípio da supremacia do interesse
público
 Atos de gestão  03 características
 I) Praticados pelo Poder Público sem as prerrogativas do Estado (ius
gestionis)
 Ii) atividade é regida predominantemente pelo Direito Privado (situação de
igualdade)
 III) Há possibilidade de intervenção da vontade dos particulares
 Atos de expediente  atos praticados como forma de dar andamento à atividade
administrativa, sem configurar uma manifestação de vontade do Estado
o III) Quanto ao critério de liberdade de ação
 Vinculados  possuem todos os elementos legalmente regrados
 Discricionários  possuem elementos discricionários
o IV) Quanto à formação
 Simples  ato emana da vontade de um só órgão ou agente administrativo
  Quanto à formação da vontade, a deliberação de um conselho constitui
exemplo de ato administrativo simples.
 Compostos  há vontades múltiplas na formação do ato, mas elas não são
autônomas, pois há uma vontade principal e outra que lhe é acessória
 Complexos  atos cuja formação exige a manifestação de vontade de órgãos ou
entidades diversos, que gozam, entre si, de autonomia
  A aposentadoria de servidor público consiste em um ato complexo, pois
exige a aprovação do Tribunal de Contas da União.
 Súmula vinculante 03  Nos processos perante o TCU asseguram-se o
contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação
ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada
a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial da aposentadoria,
reforma ou pensão
o V) quanto à fase de formação do ato administrativo
 (a) Quanto à conclusão das etapas de formação
 (I) Atos perfeitos  aqueles que concluíram todas as etapas de formação
 (II) Atos imperfeitos  aqueles que não concluíram todas as etapas de
formação
 (b) Quanto à validade
 (I) Atos válidos
 (II) Atos inválidos
 (c) Quanto à eficácia
 (I) Atos eficazes  idoneidade do ato administrativo para produzir seus
efeitos
 (II) Atos ineficazes/pendente  ato sujeito a termo ou condição
  São possíveis as seguintes hipóteses:
 (a) Ato perfeito, válido e eficaz
 (b) Ato perfeito, inválido e eficaz
 (c) Ato perfeito, válido e ineficaz
 (d) Ato perfeito, inválido e ineficaz
 (e) Ato consumado  aquele que produziu todos os seus efeitos
 Qual é a crítica à classificação?
  O termo e a condição não descaracterizam a eficácia do ato
administrativo, configurando-se óbices à operatividade
  Há uma diferença eficácia da exequibilidade, que consiste na efetiva
disponibilidade que tem a Administração Público para dar operatividade ao
ato
o I) Atos exequíveis
o II) Atos inexequíveis
 Quais são as espécies de efeitos produzidos pelos atos administrativos?
 I) Efeitos próprios  aqueles típicos do ato, consistindo no objeto da
conduta estatal
 II) Efeitos impróprios  aqueles que decorrem de forma indireta do ato
administrativo
o Efeito reflexo  efeitos que atingem uma relação jurídica não
tratada no bojo da conduta estatal
 v.g.:  desapropriação de imóvel locado e efeitos sobre a
relação locatícia)
o Efeito prodrômico (efeito preliminar)  efeito por meio do qual
uma atuação administrativa anterior impõe uma atuação
administrativa subsequente (quebra da inércia administrativa)
o VI) Quanto à natureza dos efeitos
 Constitutivos  alteram uma relação jurídica, criando, modificando ou extinguindo
direito
 Declaratórios  declaram uma situação preexistente
 Enunciativos  expressam juízos de valor
o VII) Quanto aos resultados na esfera jurídica
 I) Ampliativos  atribuem direitos e vantagens
 II) Restritivos  impõem obrigações ou aplicam penalidades
o VIII) Quanto ao alcance dos efeitos
 I) Internos  produzem efeitos dentro da estrutura da Administração Pública
 II) Externos  produzem efeitos em relação aos administrados, dependendo de
publicação em órgão oficial
o IX) Quanto à retratabilidade
 I) Revogáveis
 II) Irrevogáveis
o X) Quanto à executoriedade, os atos podem ser
 I) Autoexecutórios
 II) Não autoexecutórios

5. ESPÉCIES DE ATOS ADMINISTRATIVOS


 Quais são as espécies de atos administrativos?
o Atos normativos  aqueles que estabelecem um comando normativo
o Atos ordenatórios  atos de organização interna que decorrem do poder hierárquico, sendo
marcados por 02 características
 I) Somente produzem efeitos no âmbito da Administração Pública
 II) Não geram direitos adquiridos, podendo ser revogados a qualquer tempo
o Atos negociais  atos administrativos ampliativos, por meio dos quais a Administração
Pública concede direitos pleiteados pelo particular
  Não são contrato administrativos, porquanto o conteúdo jurídico emana da
vontade unilateral do Poder Público
  Os atos negociais são formalizados por meio de alvará, que consiste na forma do
ato de consentimento
o Atos enunciativos  aqueles declaram a existência de certo fato jurídico (certidões,
atestados e declarações) ou expressam conclusões do administrador (pareceres)
o Atos punitivos  aqueles que contêm uma sanção aplicada a infratores de normas
administrativas
 Sanções Internas  aplicadas aos servidores públicos
 Sanções Externas  decorrem da relação da Administração Pública com os
administrados
  As sanções de natureza administrativa, decorrentes do exercício do poder de
polícia, somente encontram legitimidade quando o ato praticado pelo
administrado estiver previamente definido pela lei como infração administrativa
 Quais são as espécies de atos normativos?
o Decretos  Atos normativos que provêm da manifestação de vontade privativa dos chefes
do Poder Executivo
 I) quanto à amplitude
 Gerais  possuem caráter normativo
 Individuais (destinatários específicos)
 II) quanto à autonomia
 Decretos regulamentares (ou de execução)  voltados para
complementação e detalhamento das leis
 Decretos autônomos (independentes)  atuam substituindo a lei, com a
possibilidade de inovar no ordenamento jurídico
o  Extinção de cargo público vago
o  dispor sobre a Administração Pública, quando não implique em
aumento de gastos ou a criação de órgãos públicos
o Regulamentos  atos normativos de cunho geral que dependem de outro ato para
aprovação
  Os decretos têm força jurígena própria (vigoram por si mesmos, pois são atos
independentes), enquanto os regulamentos são atos dependentes (não têm força
própria)
  São espécies de regulamentos: (a) regulamentares/executivos; (b) autônomos; (c)
autorizados
o Resoluções  02 significados
 1ª corrente  atos normativos ou individuais emanados de autoridade de elevado
escalão administrativo
 Ex.:  Ministros, Secretários
 2ª corrente  atos normativos dos órgãos colegiados e das agências reguladoras
o Avisos  Atos normativos exarados por autoridades de elevado escalão administrativo
o Deliberações  atos oriundos de órgãos colegiados
o Regimentos  Atos normativos que disciplinam a organização e funcionamento de órgãos
colegiados
o Instruções Normativas  normas expedidas para regulamentação das atividades de um
órgão público
 Quais são as espécies de atos ordinatórios?
o Portaria  ato ordenatório de cunho individual, estipulando ordens e determinações
internas a indivíduos específicos
 Ex.:  Portaria de admissão/remoção
o Circular  ato ordinatório expedido com normas uniformes a todos os servidores de um
determinado órgão
 Ex.:  circular de horário de funcionamento de repartição pública
o Ordem de serviço  ato ordinatório destinado a distribuir e ordenar o serviço interno do
órgão
o Memorando  ato de comunicação interna com o objetivo de melhor executar a atividade
pública
o Ofícios  atos de comunicação externa entre autoridades públicas de órgãos diversos, ou
entre elas e os particulares
o Despacho  ato administrativo por meio do qual a autoridade administrativa profere
decisões no bojo de um procedimento administrativo
 Quais são as espécies de atos negociais?
o Licença  ato de polícia, de natureza vinculada por meio do qual a Administração confere ao
interessado o consentimento para o desempenho de certa atividade sujeita à fiscalização do
Estado
  Não pode ser outorgado de ofício pelo Poder Público
  Trata-se de ato declaratório, porque o direito preexiste à licença, mas só pode
ser desempenhado após a licença
 A licença pode ser revogada?
 Regra  NÃO, porquanto se trata de ato vinculado e definitivo
 Exceção 01  licença para construir pode ser revogada, desde que
justificada por razões de interesse público superveniente
 Exceção 02  licença ambiental
o Permissão  ato administrativo discricionário e precário pelo qual a Administração
consente que o particular execute serviço de utilidade pública ou utilize privativamente bem
público
  Há duas modalidades de permissão no ordenamento jurídico
 Permissão de uso de bens públicos  ato administrativo unilateral,
discricionário e precário
 Permissão de serviços públicos  contrato administrativo
  A permissão (ato unilateral) pode ser
 I) condicionada (contratual)  quando o próprio Poder Público cria
autolimitações
 II) simples (incondicionada)  quanto não há autolimitações, de modo que
a discricionariedade e a precariedade são mais amplas
o Autorização  ato discricionário e precário pelo qual a Administração consente que o
particular exerça atividade ou utilize bem público no seu próprio interesse
  Há dois tipos de autorização
 Autorização de uso de bem público  utilização anormal ou privada de
bem público
 Autorização de polícia  ato necessário para que o particular possa exercer
atividades fiscalizadas pelo Estado
 Quais as diferenças entre permissão e autorização?
  A autorização é mais adequada para o uso de bens públicos em situações
mais transitórias, enquanto a permissão possui caráter mais permanente
  A autorização é concedida no interesse do particular, enquanto a
permissão é concedida no interesse público
o Admissão  ato administrativo vinculado pelo qual se confere ao indivíduo, desde que
preenchidos os requisitos legais, o direito de usufruir de determinado serviço público
o Aprovação  ato de confirmação discricionário por meio do qual se aprecia a legalidade e o
mérito (conveniência e oportunidade) de outro ato administrativo, incidindo prévia ou
posteriormente à formação
o Homologação  ato de confirmação vinculado por meio do qual se aprecia a legalidade de
outro ato administrativo, incidindo apenas posteriormente à formação
o Visto  ato de confirmação que se limita à verificação da legitimidade formal de outro ato
ou à ciência do seu conteúdo
 Quais são os atos enunciativos?
o Atestado  ato em que se comprova a existência de uma situação analisada pela
Administração Pública, sem prévia documentação pela Administração
o Certidão  ato por meio do qual a Administração Pública certifica a existência de
determinado fato, conforme prévia documentação administrativa
o Apostila (ou averbação)  ato administrativo pelo qual o ente estatal acrescenta
informações constantes em um registro público
o Parecer ato administrativo pelo qual se emite opinião de um órgão consultivo do Poder
Público
 I) Facultativo  quando não há obrigatoriedade de sua emissão para a prática do
ato administrativo
 II) Obrigatórios  quando há obrigatoriedade de sua emissão para a prática do ato,
mas a opinião exarada não vincula o administrador
 Vinculante  quando, além de ser de emissão obrigatória, a conclusão do parecer se
impõe
o Qual é a responsabilidade do parecerista?
 Pareceres facultativos ou obrigatórios Somente é responsável quando houver
dolo ou erro grosseiro
 Pareceres vinculantes  há uma partilha da atividade decisória, impondo-se uma
responsabilidade solidária
o O que são pareceres normativos?
 Conceito  manifestação opinativa da autoridade administrativa que adquire
caráter de orientação geral para os órgãos administrativos
6. EXTINÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS
 Como ocorre a extinção dos atos administrativos?
o I) Extinção natural do ato administrativo
  Cumprimento dos efeitos jurídicos do ato administrativo
  Advento do termo final ou da condição resolutiva
  Esgotamento do conteúdo jurídico (férias já gozadas pelo servidor público)
o II) Extinção subjetiva  hipóteses em que há o desaparecimento do sujeito que se beneficia
do ato, sendo ele intransferível (intuitu personae)
o III) Extinção objetiva  desaparecimento do objeto do ato administrativo
o IV) renúncia  ato unilateral pelo qual o beneficiado abdica do direito que lhe é concedido,
incidindo apenas nos atos administrativos ampliativos
o (v) Retirada  gênero de extinção do ato administrativo, que ocorre quando o Poder Público
emite ato concreto subsequente com efeito extintivo dos efeitos do anterior.
 III) Cassação  Forma extintiva que se aplica quando o beneficiário de determinado
ato descumpre as condições que permitem a manutenção do ato e de seus efeitos
  São características
o (a) ato vinculado, porquanto a cassação só pode ocorrer nas
hipóteses previstas em lei
o (b) possui natureza sancionatória
 Exemplo  cassação de alvará se há desvirtuamento da finalidade do
estabelecimento.
 (II) Contraposição (ou derrubada)  extinção em face da superveniência ato
administrativo baseado em competência diversa daquela utilizada para a prática do
antecedente, cujos efeitos são contrapostos a este.
 Exemplo  exoneração do servidor, que extingue os efeitos da nomeação.
 (I) Caducidade  extinção do ato administrativo em face do advento de nova
legislação que impede a permanência de situação anteriormente concedida
 Exemplo  retirada de permissão para exploração de parque de diversões
em local que, por conta de nova lei de zoneamento, tornou-se incompatível
com esse uso.
o (v) Autotutela  controle de legalidade ou de mérito dos atos Administrativos pela própria
Administração
 Quais são as formas de autotutela?
o IV) Revogação  forma de desfazimento volitivo do ato pelo qual a Administração Pública
promove a retirada do ato por razões de oportunidade e conveniência
 Fundamento  poder discricionário da Administração Pública, de modo que há uma
correlação entre a discricionariedade do ato e a sua revogação
  A revogação é atividade exclusiva da Administração Pública, não podendo ser
realizada pelo Poder Judiciário
  Os efeitos da revogação são ex nunc, de modo que se projetam apenas para o
futuro
  A revogação não pode ocorrer nas seguintes hipóteses
 I) Atos que exauriram seus efeitos (atos consumados)
 II) Atos irrevogáveis, assim declarados em lei
 III) Atos vinculados
 IV) Atos que geraram direitos adquiridos, ante o princípio da
irretroatividade do ato administrativo revogador
 V) Atos integrativos de um procedimento administrativo, porquanto a
prática do ato sucessivo enseja a preclusão do ato anterior
 VI) Os atos enunciativos
 VII) Atos complexos (não podem ser revogados pela vontade de apenas
uma das vontades exteriorizadas)
 VIII) Atos de controle, porquanto não são praticados na função
administrativa propriamente dita
 A revogação de um ato revogador possui efeitos repristinatórios (revogação da
revogação)?
 Regra  NÃO, ante a incidência do disposto no artigo 2º, §3º, da LINDB
 Exceção  É possível que, ao revogar o ato revogador, a Administração
Pública se manifeste expressamente no sentido da prática de um outro ato
com o mesmo objeto do ato originário (que havia sido revogado pelo ato
revogado)
o V) Invalidação (Anulação)  forma de desfazimento do ato administrativo em virtude da
existência de vício de legalidade
 Direito Privado  teoria das nulidades obedece a um sistema dicotômico, composto
por nulidades e anulabilidades, que se distinguem porque
 Nulidades  podem ser reconhecidas de ofício e não admitem a
convalidação
 Anulabilidades  não podem ser conhecidas de ofício e admitem a
convalidação
 Direito Administrativo  há divergência doutrinária sobre a aplicação do sistema
dicotômico
 Teoria monista  É inaplicável o sistema dicotômico ao Direito
Administrativo
 Teoria dualista  doutrina majoritária
 Teoria quaternária  subdivide os atos administrativos, quanto aos
possíveis vícios que os acometem, em quatros diferentes categorias (Celso
Antônio Bandeira de Mello)
o Atos inexistentes  são aqueles que correspondem a condutas
criminosas ofensivas a direitos fundamentais da pessoa humana.
o Atos nulos  são os que apresentam vícios insuscetíveis de
convalidação
o Atos anuláveis  contêm vícios passíveis de convalidação.
o Atos irregulares  são aqueles que padecem de vícios materiais
irrelevantes, reconhecíveis de plano.
 Quais são as espécies de vícios que geram a invalidação?
  Os vícios podem recair em todos os elementos do ato administrativo
o I) vícios de competência  inadequação entre a conduta e as
atribuições do agente
o II) vício de finalidade  prática de ato direcionada a fins privados
ou diversos dos previstos em lei
o III) vício de forma  ato que não observa o meio de exteriorização
exigido para o ato
o IV) vício de motivo  Inexistência de fundamento para o ato,
fundamento incompatível com a realidade ou fundamento
incongruente com o objetivo
o V) vício de objeto  prática de ato com conteúdo diverso do
autorizado pela lei
 Quem pode invalidar o ato administrativo?
  Os atos administrativos podem ser invalidados pela Administração
Pública ou pelo Poder Judiciário
o  Quanto a Administração Pública procede à anulação de seus
próprios atos, ocorre o exercício da prerrogativa da autotutela
o Súmula 473-STF  A administração pode anular seus próprios
atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles
não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos,
e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
  Quando a anulação do ato administrativo repercute no campo dos
interesses individuais, exige-se a instauração de processo administrativo
que assegure a ampla defesa e o contraditório
 Quais atos podem ser invalidados?
  Podem ser invalidados os atos vinculados, bem como os discricionários,
no que concerne aos vícios de legalidade
 Quais são os efeitos da anulação do ato jurídico?
  A invalidação opera efeitos ex tunc, de modo que são desfeitas todas as
relações jurídicas que se originaram do ato
 Há um dever de invalidar os atos administrativos inquinados com vício de
legalidade?
  Há parcela doutrinária que considera que há obrigatoriedade de fazê-lo,
enquanto outra considera que existe uma faculdade jurídica
  O mais adequado é considerar, em regra, o ato deverá ser invalidado,
salvo algumas circunstâncias especiais
  Podem ser citadas como limitações ao dever de invalidação
o I) O decurso do tempo
o II) Consolidação dos efeitos produzidos (prevalência do princípio
da segurança jurídica sobre o da legalidade estrita)
 Ex.: teoria da aparência, segundo a qual a nomeação de
servidor público sem concurso é nula, mas são válidos os
atos praticados (teoria do funcionário de fato)
o III) modulação dos efeitos da invalidação, em aplicação de
entendimento analógica daquele haurido da lei 9.868.1999,
determinando que a anulação só produza efeitos a partir de
determinado termo
  A estabilização dos efeitos do ato administrativo não se confunde com a teoria do
fato consumado
 I) Na primeira hipótese, a manutenção dos efeitos do ato se justifica porque
sua retirada implicaria a violação a outros princípios jurídicos.
 II) Na segunda hipótese, a manutenção do ato deriva simplesmente do fato
de a situação concreta já ter sido praticada
 O que é a convalidação do ato administrativo (aperfeiçoamento ou sanatória)?
o Conceito  processo de que se vale a Administração para aproveitar atos administrativos
inquinados com vícios superáveis, de forma a corrigi-lo no todo ou em parte
o  Há 03 requisitos para a convalidação:
 I) que o vício seja sanável
 II) atendimento ao interesse público
 III) não cause prejuízos a terceiros
o Quais são os vícios sanáveis?
 Regra  A doutrina considera que os vícios de competência e de forma são
normalmente sanáveis, mas há que se atentar aos demais requisitos da
convalidação
o Quais são os efeitos da convalidação?
  O ato de convalidação tem efeitos ex tunc, uma vez que retroage ao momento da
prática do ato originário
o  A convalidação admite as seguintes espécies
 Ratificação  ato administrativo pelo qual o órgão administrativo sana ato inválido
anteriormente praticado por ele mesma
 Confirmação  ato administrativo que consiste na convalidação efetivada por outra
autoridade
 Reforma  modalidade de convalidação em que se pratica ato novo que suprime a
parte inválida do ato, mantendo sua parte válida incólume (v.g.: ato anterior que
concedia licença e férias a servidor, que só fazia jus às férias)
 Conversão  convalidação de ato administrativo inquinado com vício de forma,
sendo transformado em outro mais simples, para o qual ele cumpre os requisitos
definidos em lei
 O INMETRO pode fiscalizar as balanças de farmácia?
o O Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (INMETRO) não é
competente para fiscalizar as balanças de pesagem corporal disponibilizadas gratuitamente
aos clientes nas farmácias. STJ. 1ª Turma. REsp 1.384.205-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado
em 5/3/2015 (Info 557).
o STJ  Quando as balanças de aferição de peso estiverem relacionadas intrinsecamente ao
serviço prestado pelas empresas ao consumidor, incidirá a Taxa de Serviços Metrológicos,
decorrente do poder de polícia do Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e
Qualidade Industrial - Inmetro em fiscalizar a regularidade desses equipamentos.
o
7. JURISPRUDÊNCIA RELEVANTE
 Quais são os entendimentos relevantes?
o Na equipe que compõe as Ambulâncias de Suporte Básico - Tipo B e as Unidades de Suporte
Básico de Vida Terrestre (USB) do SAMU não é necessária a presença de enfermeiro,
bastando um técnico ou auxiliar de enfermagem
 A composição da tripulação das Ambulâncias de Suporte Básico - Tipo B e das
Unidades de Suporte Básico de Vida Terrestre (USB) do Serviço de Atendimento
Móvel de Urgência - SAMU sem a presença de enfermeiro não ofende, mas sim
concretiza, o que dispõem os artigos 11, 12, 13 e 15 da Lei n.º 7.498/86, que
regulamenta o exercício da enfermagem.
 STJ. 1ª Seção. REsp 1828993-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 12/08/2020
(Recurso Repetitivo – Tema 1024) (Info 677).
o A pessoa jurídica de direito público terá direito à indenização por danos morais sob a
alegação de que sofreu violação da sua honra ou imagem?
o NÃO. Em regra, pessoa jurídica de direito público não pode pleitear, contra particular,
indenização por dano moral relacionado à violação da honra ou da imagem. Nesse sentido:
REsp 1.258.389/PB, REsp 1.505.923/PR e AgInt no REsp 1.653.783/SP.
o Suponha, contudo, que uma autarquia foi vítima de grande esquema criminoso que desviou
vultosa quantia e gerou grande repercussão na imprensa, acarretando descrédito em sua
credibilidade institucional. Neste caso, os particulares envolvidos poderiam ser condenados a
pagar indenização por danos morais à autarquia?
o SIM. Pessoa jurídica de direito público tem direito à indenização por danos morais
relacionados à violação da honra ou da imagem, quando a credibilidade institucional for
fortemente agredida e o dano reflexo sobre os demais jurisdicionados em geral for evidente.
o Nos três julgados acima mencionados nos quais o STJ negou direito à indenização, o que
estava em jogo era a livre manifestação do pensamento, a liberdade de crítica dos cidadãos
ou o uso indevido de bem imaterial do ente público. No caso concreto é diferente. A
indenização está sendo pleiteada em razão da violação à credibilidade institucional da
autarquia que foi fortemente agredida em razão de crimes praticados contra ela.
o STJ. 2ª Turma. REsp 1722423-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/11/2020 (Info
684).
o No processo administrativo para imposição de multa de trânsito, são necessárias as
notificações da autuação e da aplicação da pena decorrente da infração. Tais notificações, se
feitas por remessa postal, não precisam ser acompanhadas de aviso de recebimento (AR).
Não há essa exigência no Código de Trânsito Brasileiro nem nas Resoluções do CONTRAN.
o STJ. 1ª Seção. PUIL 372-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 11/03/2020 (Info 668).
 Como é fixada a complementação da UNIÃO no FUNDEB?
o O valor da complementação da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) deve ser calculado com base no
valor mínimo nacional por aluno extraído da média nacional.
o A complementação ao Fundef realizada a partir do valor mínimo anual por aluno fixada em
desacordo com a média nacional impõe à União o dever de suplementação de recursos,
mantida a vinculação constitucional a ações de desenvolvimento e manutenção do ensino.
Em outras palavras, os Estados prejudicados com o cálculo incorreto do valor mínimo
nacional por aluno deverão ser indenizados por conta do montante pago a menor a título de
complementação pela União no período de vigência do FUNDEF, isto é, nos exercícios
financeiros de 1998 a 2007.
o O tema acima foi definido pelo STJ (no REsp 1101015/BA) e pelo STF nas ACO 648/BA, ACO
660/AM, ACO 669/SE e ACO 700/RN, jugadas em 6/9/2017.
o Diante disso, é possível que o Ministro do STF, Relator de ações com pedidos semelhantes,
decida monocraticamente e julgue procedente os pedidos formulados por outros Estados-
membros contra a União. Não haverá, neste caso, violação ao princípio da colegialidade.
o STF. Plenário. ACO 701 AgR/AL, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 18/12/2019 (Info 964).
o É inconstitucional o pagamento de honorários advocatícios contratuais com recursos
destinados ao FUNDEB, o que representaria indevido desvio de verbas constitucionalmente
vinculadas à educação.
o STF. Plenário. ADPF 528/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/3/2022 (Info
1047).
o
o Por outro lado, é admissível o pagamento de honorários advocatícios contratuais com verbas
provenientes dos juros moratórios incidentes sobre o valor do precatório devido pela União.
Os juros moratórios decorrem do descumprimento de uma obrigação, no caso, a mora da
União em cumprir devidamente as obrigações de repasse de verba referente ao FUNDEB aos
Municípios.
o O STF tem entendimento sobre a natureza indenizatória dos juros de mora, considerando que
a referida verba não aumenta o patrimônio do credor e, com especial relevância para o tema
ora em debate, que “os juros de mora legais têm natureza jurídica autônoma em relação à
natureza jurídica da verba em atraso”.
o A vinculação constitucional em questão restringe a aplicação do montante principal apurado
nas execuções dos títulos judiciais obtidos pelos municípios, mas não sobre os encargos
moratórios que, liquidados em favor desses entes, podem servir ao pagamento de honorários
contratuais eventualmente ajustados com os profissionais ou escritórios de advocacia que
patrocinaram a discussão em juízo sobre o valor dos repasses.
 Como se observa a questão da permissão para dirigir?
o A pessoa que foi aprovada nos exames do DETRAN para condução de veículos recebe
inicialmente uma “permissão para dirigir”, com validade de 1 ano. Somente ao final deste
período, ela irá receber a Carteira Nacional de Habilitação, desde que não tenha cometido
nenhuma infração de natureza grave ou gravíssima ou seja reincidente em infração média. É
o que prevê o § 3º do art. 148 do CTB.
o
o Ocorre que o STJ decidiu que o art. 148, § 3º, do Código de Trânsito Brasileiro é parcialmente
inconstitucional, excluindo de sua aplicação a hipótese de infração (grave ou gravíssima)
meramente administrativa, ou seja, não cometida na condução de veículo automotor.
o  Para as infrações cometidas na condução de veículo automotor: deve-se aplicar
literalmente o § 3º do art. 148 do CTB e a CNH não será concedida. Isso porque se a infração
é cometida na condução de veículo automotor, isso gera efetivo risco à segurança do
trânsito.
o  Por outro lado, se a infração cometida foi meramente administrativa, não se deve aplicar o
§ 3º do art. 148 do CTB e a CNH pode ser concedida. Isso porque se a infração é meramente
administrativa ela não tem o condão de gerar risco à segurança do trânsito.
o STJ. Corte Especial. AI no AREsp 641185-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 11/02/2021
(Info 685).
o A transferência de propriedade de veículo automotor usado implica, obrigatoriamente, na
expedição de novo Certificado de Registro de Veículo - CRV, conforme dispõe o art. 123, I, do
CTB, ainda quando a aquisição ocorra para fins de posterior revenda.
 Art. 123. Será obrigatória a expedição de novo Certificado de Registro de Veículo
quando:
 I - for transferida a propriedade;
 STJ. 1ª Turma. REsp 1429799/SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 02/03/2021
(Info 687).
o O termo inicial do prazo prescricional para a cobrança da multa prevista no § 2º do art. 116
do Decreto-Lei nº 9.760/46 é a data em que a União tem ciência efetiva da ausência de
transferência das obrigações enfitêuticas.
o E quando a União tem essa ciência efetiva? Quando ocorre a comunicação à SPU.
 A comunicação à Secretaria de Patrimônio da União - SPU é o momento em que a
União toma conhecimento da alienação, sendo irrelevante a data em que emitida
a Declaração de Operação Imobiliária (DOI). STJ. 2ª Turma. REsp 1765707-RJ, Rel.
Min. Herman Benjamin, julgado em 15/08/2019 (Info 658).
 O que os Municípios devem fazer no âmbito de loteamentos clandestinos?
o Existe o poder-dever do Município de regularizar loteamentos clandestinos ou irregulares.
Esse poder-dever, contudo, fica restrito à realização das obras essenciais a serem implantadas
em conformidade com a legislação urbanística local (art. 40, caput e § 5º, da Lei nº 6.766/79).
Após fazer a regularização, o Município tem também o poder-dever de cobrar dos
responsáveis (ex: loteador) os custos que teve para realizar a sua atuação saneadora. STJ. 1ª
Seção. REsp 1164893-SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 23/11/2016 (Info 651).
o O Poder Judiciário não pode fazer a revisão judicial do mérito da decisão administrativa
proferida pelo CADE.
o A expertise técnica e a capacidade institucional do CADE em questões de regulação
econômica exige que o Poder Judiciário tenha uma postura deferente (postura de respeito)
ao mérito das decisões proferidas pela Autarquia.
o A análise jurisdicional deve se limitar ao exame da legalidade ou abusividade do ato
administrativo. O CADE é quem detém competência legalmente outorgada para verificar se
a conduta de agentes econômicos gera efetivo prejuízo à livre concorrência. As sanções
antitruste, aplicadas pelo CADE por força de ilicitude da conduta empresarial, dependem das
consequências ou repercussões negativas no mercado analisado, sendo certo que a
identificação de tais efeitos anticompetitivos reclama acentuada expertise. STF. 1ª Turma.RE
1083955/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 28/5/2019 (Info 942).
o É incabível a requisição administrativa, pela União, de bens insumos contratados por unidade
federativa e destinados à execução do plano local de imunização, cujos pagamentos já foram
empenhados. A requisição administrativa não pode se voltar contra bem ou serviço de outro
ente federativo. Isso para que não haja indevida interferência na autonomia de um sobre
outro. STF. Plenário. ACO 3463 MC-Ref/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
8/3/2021 (Info 1008).
o O CTB prevê que só poderá ser expedido novo certificado de registro de veículo e novo
certificado de licenciamento anual se ficar comprovado o pagamento dos débitos relativos
a tributos, encargos e multas vinculadas ao veículo, independentemente da
responsabilidade pelas infrações cometidas (arts. 124, VIII, 128, e 131, § 2º). Tais
dispositivos são constitucionais e não limitam o direito de propriedade. Além disso, não se
constituem em sanções políticas. STF. Plenário. ADI 2998/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/
o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 10/04/2019 (Info 937).
 O STF conferiu interpretação conforme a Constituição, para declarar inconstitucional
a possibilidade do estabelecimento de sanção por parte do CONTRAN, como se
órgão legislativo fosse, visto que as penalidades têm de estar previstas em lei em
sentido formal e material. Além disso, o Tribunal declarou a nulidade da expressão
“ou das Resoluções do Contran” presente neste artigo STF. Plenário. ADI 2998/DF,
rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
10/04/2019 (Info 937).
 Há desvio de finalidade na transformação de secretaria em Ministério?
o Não é inconstitucional medida provisória que, ao tratar sobre os órgãos vinculados à
Presidência da República, confere status de Ministro de Estado ao chefe da Secretaria-Geral
da Presidência da República, ainda que seu titular a ser nomeado, venha a ter foro por
prerrogativa de função no STF. Não há desvio de finalidade na edição deste ato.
o A norma, ao estabelecer a organização básica dos Ministérios e demais órgãos ligados à
Presidência da República, é matéria que está no âmbito decisório do chefe do Poder
Executivo da União.
o Não se sustenta, do ponto de vista jurídico, o argumento de que a criação da Secretaria-Geral
com status de Ministério de Estado implicaria burla aos postulados constitucionais de
moralidade e probidade na Administração, porque a criação ou extinção de ministérios e
órgãos da Presidência também está no campo de decisão do chefe do Poder Executivo.
o
o A nomeação de determinada pessoa para o cargo de Ministro de Estado é um ato
subsequente e que, em princípio, está na alçada político-administrativa do Presidente da
República (art. 84), desde que presentes os requisitos do art. 87 da CF/88.
o
o STF. Plenário. ADI 5717/DF, ADI 5709/DF, ADI 5716/DF e ADI 5727/DF, Rel. Min. Rosa Weber,
julgados em 27/3/2019 (Info 935).
 Quais são os entendimentos sobre o pagamento aos anistiados?
o Não é necessário o ajuizamento de ação autônoma para o pagamento dos consectários
legais inerentes à reparação econômica devida a anistiado político e reconhecida por meio
de Portaria do Ministro da Justiça, a teor do disposto no art. 8º do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT) e no art. 6º, § 6º, da Lei 10.559/2002. STF. 1ª Turma. RMS
36182/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/5/2019 (Info 940).
 É devida a incidência de correção monetária e juros moratórios em ação
mandamental para pagamento de retroativos devidos àqueles declarados anistiados
políticos, independentemente de decisão expressa nesse sentido. STJ. 1ª Seção.
AgInt no MS 24212-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/06/2019 (Info 652)
 Os juros de mora e a correção monetária constituem consectários legais da
condenação, de modo que incidem independentemente de expresso
pronunciamento judicial. STF. Plenário. RE 553710 ED, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado
em 01/08/201
o No tocante ao valor da reparação mensal devida aos anistiados políticos, a fixação do
quantum indenizatório por pesquisa de mercado deve ser supletiva, utilizada apenas
quando não há, por outros meios, como se estipular o valor da prestação mensal,
permanente e continuada.
o Ex: João era Fiscal do IAPC. Em razão de perseguição política ocorrida durante o regime
militar, ele foi obrigado a abandonar o cargo, fugindo para o Paraguai. Se a União reconhecer
a condição de anistiado político de João, deverá fixar a reparação mensal em valor igual à
remuneração de Auditor Fiscal da Receita Federal, considerando que Fiscal do IAPC foi
transformado neste outro cargo. Não se deve utilizar aqui o critério da pesquisa de mercado.
o STJ. 1ª Seção. MS 24508/DF, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 12/05/2021 (Info
696).
o Súmula 624-STJ: É possível cumular a indenização do dano moral com a reparação
econômica da Lei nº 10.559/2002 (Lei da Anistia Política).
 Segundo entendeu o Tribunal, o art. 16 é um comando dirigido, antes e unicamente,
à Administração Pública, e não à jurisdição. Em outras palavras, esse dispositivo
proíbe que o Poder Público pague, administrativamente, a reparação econômica
cumulada com outros pagamentos, benefícios ou indenização.
o 1 - Reconhecido o direito à anistia política, a falta de cumprimento de requisição ou
determinação de providências por parte da União, por intermédio do órgão competente, no
prazo previsto nos artigos 12, parágrafo 4º, e 18, caput, parágrafo único, da Lei 10.559 de
2002, caracteriza ilegalidade e violação de direito líquido e certo.
o 2 - Havendo rubricas no orçamento destinadas ao pagamento das indenizações devidas aos
anistiados políticos, e não demonstrada a ausência de disponibilidade de caixa, a União há
de promover o pagamento do valor ao anistiado no prazo de 60 dias.
o 3 - Na ausência ou na insuficiência de disponibilidade orçamentária no exercício em curso,
cumpre à União promover sua previsão no projeto de lei orçamentária imediatamente
seguinte.
o STF. Plenário. RE 553710/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2016 (Repercussão
Geral - Tema 394) (Info 847).
o STF. 1ª Turma. RMS 28201/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/9/2018 (Info 917).
 Como ocorre a atualização do FGTS?
o A remuneração das contas vinculadas ao FGTS tem disciplina própria, ditada por lei, que
estabelece a TR como forma de atualização monetária, sendo vedado, portanto, ao Poder
Judiciário substituir o mencionado índice.
o STJ. 1ª Seção. REsp 1614874-SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/04/2018
(recurso repetitivo) (Info 625).
o
o Vale ressaltar que o tema acima ainda poderá sofrer mudança. Isso porque existe uma ADI
no STF na qual se alega a inconstitucionalidade de trecho do art. 13, caput, da Lei nº
8.036/90 e do art. 17, caput, da Lei nº 8.177/91, ao argumento de que viola o direito de
propriedade, o direito dos trabalhadores ao FGTS e o princípio da moralidade
administrativa a utilização da Taxa Referencial (TR) como índice de correção monetária dos
depósitos vinculados ao FGTS.
o Assim, o Supremo é quem dará a palavra final sobre o assunto.
o Importante mencionar, inclusive, que, em 06/09/2019, o Min. Roberto Barroso proferiu
decisão cautelar para determinar a suspensão de todos os feitos que versem sobre a matéria,
até julgamento do mérito pelo Supremo Tribunal Federal.

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