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Tópicos de correcção

CASO PRÁTICO N.º 9 – TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

1ª HIPÓTESE:

CESSÃO DE CRÉDITOS – artigos 577.º e seguintes

Forma de transmissão de um crédito que opera por virtude de um negócio jurídico –


contrato entre o credor e o terceiro – neste caso entre B e C.

Atenção à distinção entre a própria cessão (transmissão do crédito) e o negócio que lhe
serve de base (fonte) – pode ser feita através de qualquer negócio transmissivo, artigo
578.º, n.º 1. Não se exige o consentimento do devedor, artigo 577.º.

B – cedente
C - cessionário

Requisitos da cessão:

a) Negócio jurídico transmissivo

Neste caso é uma dação em cumprimento, artigo 837.º - celebrada entre A e C.


A cessão de créditos é um efeito desse mesmo negócio no qual se integra.

Qual é a forma? A mesma que for aplicável ao negócio de base – aqui não se exige
nenhuma forma especial, apenas o consentimento do credor.

b) Inexistência de impedimentos legais ou contratuais

Consequência – nulidade (artigo 580.º) que não pode ser invocada pelo cessionário, artigo
580.º, n.º2

c) Não ligação do crédito à pessoa do credor

Por exemplo, o direito a alimentos – há uma ligação à pessoa do credor e por isso não faz
sentido que a prestação possa ser realizada a uma pessoa diferente, se for é nula nos
termos do artigo 294.º

Em suma: neste houve um negócio transmissivo (a dação em cumprimento) e não


havia nenhum impedimento legal ou convencional à transmissão, nem nenhuma
ligação do crédito à pessoa do credor. Foram respeitadas as exigências de forma,
pelo que existiu uma cessão de créditos válida.

E quais os efeitos da cessão?

o Transmissão do crédito para o cessionário

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- Notificação do devedor – a transmissão não é imediatamente oponível a terceiros; Só


produz efeitos em relação ao devedor a partir da sua notificação, aceitação ou
conhecimento, artigo 583.º, n.º1.

o Transmissão das garantias e acessórios – aqui temos a hipoteca sobre o carro e os


juros

De acordo com o artigo 582.º, transmitem-se todas as garantias que não sejam
inseparáveis da pessoa do cedente –neste caso poderia transmitir-se a hipoteca, artigo
686.º

Quanto aos juros: os juros vincendos também se transmitem para o cessionário; quanto
ao juros vencidos o artigo 561.º determina a sua autonomia em relação ao crédito principal
– não são abrangidos pela cessão a menos que expressamente estipulado

o Transmissão das excepções

A transmissão abrange as excepções que o devedor possuía contra o cedente, artigo 585º.
O devedor conserva assim todas as excepções que possa invocar perante o cessionário
mesmo que este as ignorasse – não se tutela a boa-fé do cessionário.

Capitalização de juros ilegal – artigo 560.º, n.º1


A lei consagra a regra de que os juros não vencem juros:
- a menos que haja convenção em contrário posterior ao vencimento
-ou haja notificação judicial ao devedor para capitalização ou proceder ao seu pagamento
sob pena de capitalização;
- artigo 560.º, n.º 2 – período de mínimo de um ano.

2ª HIPÓTESE:

ASSUNÇÃO DE DÍVIDA – artigos 595.º e seguintes

Modalidades

- contrato entre o antigo e o novo devedor – ratificado pelo credor (interna)


- contrato entre o novo devedor e o credor, com ou sem consentimento do antigo devedor
(externa) à era esta a situação da hipótese – acordo entre B (credor) e D (novo
devedor)

É uma assunção externa - há um único negócio jurídico (o contrato entre o novo devedor
e o credor) – não é necessário o acordo do devedor, artigo 595.º, n.º 1, alínea b).

Temos de analisar se era uma assunção cumulativa ou liberatória – depende


exclusivamente da exoneração do primitivo obrigado – declaração que compete ao credor
e tem que ser expressa – artigo 595.º, n.º 2 – é exigível na assunção interna (não confundir
com a ratificação) e externa.

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Cumulativa – o devedor originário não fica liberado da sua obrigação (novo devedor
responde solidariamente com o primitivo devedor)

Liberatória – o devedor originário fica exonerado;

Requisitos:

a) Consentimento do credor – na assunção externa resulta da celebração do contrato


entre o credor e o novo devedor; na interna é dada através da ratificação do credor
(+ exigência expressa da exoneração para ser liberatória)

b) Contrato de transmissão

No caso será uma assunção cumulativa porque não houve exoneração expressa do
primitivo devedor.

Transmissão das garantias e direitos acessórios

Obrigações acessórias – transmitem-se desde que sejam inseparáveis da pessoa do credor,


artigo 599.º, n.º 1

Garantias – a regra geral é a não transmissão das garantias do crédito para o novo devedor,
a menos que haja consentimento do garante – para haver transmissão o credor deverá
assegurar a existência do consentimento do garante.

E neste caso que o garante era o próprio devedor? Como o contrato resultou de um acordo
entre o credor e o novo devedor, sem o seu consentimento, artigo 595.º, n.º 1, alínea b)
não haveria transmissão da hipoteca sobre o carro, a não ser que existisse consentimento
expresso do primitivo devedor.

3ª HIPÓTESE:

SUB-ROGAÇÃO – artigos 589.º e seguintes

Identificação de uma relação de fiança – artigo 627.º

Sub- rogação legal – artigo 592.º, n.º 1 – terceiro tem que ter um interesse directo no
cumprimento, efeito económico prático – p.e. fiança, artigo 644.º

Há um interesse directo na medida em que é garante e por isso numa situação de


incumprimento o seu património poderá ser afectado.

4ª HIPÓTESE:

SUB-ROGAÇÃO – artigos 589.º e seguintes

Modalidades da sub-rogação:

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a) Pelo credor – prevista no artigo 589. º - o terceiro cumpre a obrigação e através


da declaração (anterior ao cumprimento) do credor vem a adquirir o crédito; a
declaração tem de ser expressa.

b) Pelo devedor – prevista no artigo 590.º - declaração do devedor no sentido de o


terceiro que cumpre adquirir o crédito – declaração tem que ser expressa artigo
590.º, n.º 2 e até ao momento do cumprimento.

c) Empréstimo efectuado ao devedor – prevista no artigo 591.º - declaração expressa


no documento do empréstimo da sub-rogação do mutuante nos direitos do credor

d) Legal – prevista no artigo 592.º, n.º 1 – terceiro tem que ter um interesse directo
no cumprimento, efeito económico prático – p.e. fiança, 644º

Aqui devíamos ponderar a hipótese de uma sub-rogação por via do empréstimo


efectuado ao devedor. F emprestou a quantia da dívida a A para que este pudesse
cumprir a obrigação para com B.

Esta hipótese está prevista no artigo 591.º - é o próprio devedor a cumprir a obrigação
mas com dinheiro (ou outra coisa fungível) do terceiro.

Requisitos:

- tem que haver declaração expressa no documento do empréstimo de que a coisa se


destina ao cumprimento da obrigação
- e de que o mutuante fica sub-rogado nos direitos do credor.

A declaração não pode ser posterior!

Efeitos

a) Transmissão do crédito na medida da satisfação, artigo 593.º

b) Transmissão das garantias e acessórios, artigo 582.º ex vi artigo 594.º - garantias


e juros

c) Transmissão das excepções

Notificação – 583.º e 584.º ex vi artigo 594.º - a sub-rogação deve ser notificada ao


devedor, ou por este aceite, para que produza efeitos em relação a ele.

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