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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Direito das Obrigações é o conjunto de normas jurídicas que


regulamentam as Obrigações.
Obrigação é quando existe um vínculo jurídico entre duas pessoas
(naturais ou jurídicas) mediante o qual uma pessoa é obrigada a
realizar uma prestação (dever) em favor de outra pessoa.
Essa prestação pode ser de: dar; fazer ou não fazer.
Exemplo: Realizar um pagamento (obrigação de dar dinheiro)
Construir uma casa (obrigação de fazer um serviço)
Não desmatar um terreno (obrigação de não fazer).
A Obrigação tem 2 sujeitos: um Sujeito Ativo (Credor) e um Sujeito
Passivo (Devedor) = o Credor e o Devedor são os Sujeitos da
Obrigação.
Isso não significa que serão apenas 2 pessoas, pois em uma
Obrigação podem haver vários credores e vários devedores. O que
queremos dizer é que existem dois lados de uma relação
obrigacional: o lado Credor e o lado Devedor.
Credor: É o sujeito (pessoa natural ou jurídica) que tem o direito de
receber uma prestação.
Devedor: É o sujeito (pessoa natural e jurídica) que tem a obrigação
de realizar uma prestação.
Obrigação: É o vínculo jurídico que liga os dois sujeitos: liga o
Credor ao Devedor.
Objeto da Obrigação é a obrigação de dar; fazer e não fazer.
O que acontece se o Devedor não cumprir com a Obrigação?
Se o Devedor não cumprir com a Obrigação, o Credor poderá exigir
judicialmente o cumprimento da Obrigação. Isso é possível porque
a relação jurídica entre o Devedor e o Credor é integrada por um
Direito Subjetivo.
O que é Direito Subjetivo?
É o Direito que a pessoa tem de exigir de outra pessoa uma
prestação; um dever de prestar algo em seu favor.
Como o Credor exerce esse seu Direito e obriga o Devedor a
cumprir a obrigação?
O Credor deverá ajuizar uma Ação perante o Poder Judiciário, para
que o Juiz obrigue o Devedor a cumprir a Obrigação.
Como o Juiz poderá obrigar o Devedor a cumprir com a Obrigação?
Exemplo: Se for uma obrigação de pagar (dar dinheiro), o Juiz
poderá penhorar valores na conta bancária do devedor.
Se for uma obrigação de fazer, o Juiz poderá fixar uma multa diária
pelo descumprimento.
Se for uma obrigação de não fazer uma construção, o Juiz poderá
mandar demolir a construção. Etc.
Para que fique caracterizada uma Obrigação, o Direito Subjetivo
tem que ter conteúdo econômico (direitos de crédito). Por esse
motivo podemos dizer que os Direitos da Personalidade não geram
obrigações. Os Direitos da Personalidade são extrapatrimoniais,
não possuem valor econômico.
Elementos Fundamentais das Obrigações:
Elemento Subjetivo ou Pessoal: Sujeitos da Relação Obrigacional.
Sujeito Ativo=Credor; Sujeito Passivo=Devedor.
Exemplo de Sujeito Determinado: João de Souza, por força de um
contrato de compra e venda, deverá pagar para Rafael da Silva o
valor de R$ 5.000,00. Nesse caso, tanto o Sujeito Ativo/Credor
(Rafael da Silva) quanto o Sujeito Passivo/Devedor (João de Souza)
são determinados.
Exemplo de Sujeito Indeterminado: A Escola de Inglês Help deverá
pagar o bilhete premiado para o portador do bilhete da Rifa de nº
101. Não se sabe quem é o portador do bilhete nº 101 (Credor), por
esse motivo o Credor é por ora indeterminado.
Elemento Objetivo ou Material: O segundo elemento fundamental
das relações obrigacionais é o Elemento Objetivo ou Material que
consiste na Prestação de Dar, Fazer ou Não Fazer e, também, no
Objeto da Prestação.
O que é prestação?
Prestação é a atividade do Devedor para satisfazer o crédito do
Credor. Essa atividade pode ser: a) Positiva: Exige uma ação do
Devedor = O devedor tem que dar ou fazer algo. Ação Ativa; ou b)
Negativa: Exige uma omissão do Devedor = O Devedor não deve
fazer algo. Ação Omissiva.
A Relação Obrigacional possui 2 Objetos:
a) Objeto Direto (Imediato): É a própria prestação em si, é a
atuação do Devedor.
Exemplos: O Devedor tem que dar alguma coisa? Então o Objeto
Direto é “dar”. O Devedor tem que fazer alguma coisa? Então o
Objeto Direto é “fazer”. O Devedor deve não fazer alguma coisa?
Então o Objeto Direto é “não fazer”.
b) Objeto Indireto (Mediato): É o objeto da prestação; a própria
coisa (bem) em si.
Exemplos: O que o Devedor se obrigou a dar? Um carro? Então o
Objeto Indireto é o carro e não a atividade de dar. O Devedor se
obrigou a pintar um quadro? Então o Objeto Indireto é o quadro e
não a atividade de pintar (fazer).
Elemento Ideal ou Imaterial: Consiste no Vínculo Jurídico entre o
Credor e o Devedor.
Existem 3 teorias para explicar o Elemento Ideal ou Imaterial: a
Monista, a dualista e a Eclética.
A teoria eclética, adotada por Maria Helena Diniz, que defende que
o Débito e a Obrigação de satisfazer o débito são essenciais
(constituem uma unidade) para o vínculo obrigacional.
O Vínculo Jurídico Obrigacional, que liga o Devedor ao Credor, é
composto de: Débito + Obrigação de Satisfazer = Vínculo
Obrigacional.
Além da existência do Débito, o devedor tem o dever de satisfazer o
débito com o credor, mesmo contra a sua vontade.
Ex: Se João deve para Rafael e não paga voluntariamente a dívida,
Rafael poderá ajuizar uma ação para obrigar o patrimônio de João a
suportar essa dívida. Sendo assim, a obrigação pode ser satisfeita
mesmo sem qualquer ato voluntário do Devedor (João).
O Vínculo Obrigacional, que une o Devedor ao Credor, consiste na
Obrigação do Devedor em cumprir com as suas obrigações
voluntariamente. Mas, se o Devedor não cumprir com as suas
obrigações de forma voluntária o Credor, por meio do Poder
Judiciário, poderá obriga-lo a cumprir mesmo contra a sua vontade.
João não pagou a dívida para Rafael. Rafael ajuizou uma ação para
obrigar João a pagar. Tendo em vista que João não pagou a dívida
voluntariamente, o Juiz poderá determinar a penhora dos bens de
João para satisfazer o crédito de Rafael.
Fonte das obrigações:
O que gera a obrigação do Devedor pode ser, por exemplo, a Lei,
um contrato, um cheque, um acidente de trânsito, etc.
Essas são fontes das obrigações porque deram origem às
obrigações que vinculam o Devedor ao Credor.
Existem 2 fontes das obrigações:
Fonte Imediata e Fonte Mediata.
Fonte Imediata: Também chamada de primária. É a Lei. A Fonte
Imediata é assim chamada porque a Lei é considerada a fonte
comum de todas as demais Obrigações. As demais Fontes,
chamadas de Fontes Mediatas (como o contrato ou ato ilícito),
também derivam da Lei.
Um exemplo de Fonte Imediata é quando a Lei gera uma Obrigação
como na pensão alimentícia. O art 1694 e ss do CC prevê a
obrigação de prestar alimentos entre pais e filhos. Nesse caso, a Lei
gerou a Obrigação de prestar alimentos entre pais e filhos, por isso
a Lei foi a Fonte da Obrigação de prestar alimentos.
O Art 1301 do CC proíbe a pessoa de abrir a janela a menos de um
metro e meio do imóvel vizinho. Nesse caso, a Lei foi a Fonte da
Obrigação porque a Lei gerou uma obrigação negativa, que é a
Obrigação de Não Fazer, ou seja de não abrir a janela a menos de
metro e meio do vizinho.
Fontes Mediatas: Ato Jurídico em sentido estrito; Negócio Jurídico;
Ato Ilícito. Esses três são Fontes Mediatas das Obrigações porque
derivam da Fonte Imediata das Obrigações que é a Lei.
Exemplo: Pagar uma nota promissória (Fonte Mediata) é uma
obrigação porque a Lei (Fonte Imediata) assim determinou. Pagar
uma promessa de recompensa (Fonte Mediata) é uma obrigação
porque a Lei (Fonte Imediata) assim determinou.
Ato Jurídico em Sentido Estrito: É o ato humano que gera
consequências jurídicas previstas na Lei; as consequências
jurídicas não dependem da vontade da parte; não tem intenção
negocial.
Ex: Art. 1233 do CC determina que quem achar coisa alheia deverá
devolvê-la ao dono.
Achar alguma coisa de outra pessoa é um Ato Jurídico em Sentido
Estrito porque é um ato que vai gerar consequências previstas na
lei, que é devolver a coisa ao dono. Vai gerar uma obrigação para
aquele que achou: Obrigação de Dar (devolver a coisa ao dono).
Negócios Jurídicos: São os atos jurídicos que têm a intenção
negocial, atos fundados na autonomia da vontade e que regulam
interesses entre as partes.
Em relação às Obrigações, o CC divide os Negócios Jurídicos em:
a) Contratos (compra e venda; doação; depósito; comodato, etc) e
b) Atos Unilaterais da Vontade (promessa de recompensa; gestão
de negócios, etc).
Exemplo de Contrato: João alugou uma sala comercial de Rafael. O
Contrato de Locação gerou uma obrigação para João, que terá que
pagar o aluguel mensal da sala. Nesse caso, o Contrato é a Fonte
Mediata da Obrigação pois foi o contrato que fez nascer a obrigação
de pagar o aluguel. E a Lei que determina o pagamento da locação
é a Fonte Imediata da Obrigação.
Exemplo de Ato unilateral de vontade: João prometeu 1000 reais
para quem achasse seu cachorro. Rafael achou o cachorro de
João. João tem a obrigação de pagar a recompensa para Rafael.
Atos Ilícitos: São os atos que violam o direito da pessoa ou causam
danos à pessoa.
Exemplo de Ato Ilícito: João dirigiu na contramão e colidiu com o
veículo de Rafael. João cometeu um Ato ilícito e tem obrigação de
pagar os prejuízos sofridos por Rafael. Nesse caso, o ato ilícito de
João (colidir com o veículo de Rafael) gerou a obrigação de
indenizar.
Obrigações de Dar:
As obrigações de dar são obrigações positivas porque exigem uma
atividade do Devedor. O devedor tem de agir para realizar a
Obrigação. Ex: Se o devedor assumiu a obrigação de entregar um
carro, para cumprir com a obrigação, ele deve agir para entregar o
carro.
As obrigações de dar compreendem: Dar coisa certa ou dar coisa
incerta.
Objeto determinado = Objeto Certo (Definido em quantidade;
gênero e qualidade)
Objeto determinável = Objeto Incerto (Definido em quantidade e
gênero)
Ex: João deixou seu carro estacionado no estacionamento do
aeroporto. Quando João voltar de viagem, o estacionamento vai ser
obrigado a devolver o carro para João, não poderá ser outro carro
no lugar, porque o estacionamento tem a obrigação de dar coisa
certa.
Ex2: João se obrigou a entregar 1000 canetas. Nesse caso, a coisa
é incerta pois está definida apenas pela quantidade (1000) e pela
espécie (canetas), mas não está definida pela qualidade.
As obrigações de dar compreendem algumas espécies de
prestações, que podem ser: Entregar; Restituir; Pagar.
Entregar: O Devedor tem a obrigação de entregar uma coisa e,
assim, transferir o domínio (propriedade) dessa coisa para o Credor.
Ex: João vendeu o seu veículo para Maria. João tem a obrigação de
entregar o veículo para Maria. O veículo que pertencia a João
passará a pertencer a Maria (houve transferência de domínio,
propriedade).
Restituir: O devedor tem a obrigação de devolver uma coisa que já
pertencia ao Credor (não há transferência de domínio).
Ex: Maria emprestou uma Escultura para exposição no Museu do
Amanhã. Após a exposição, o museu tem a obrigação de devolver
(restituir) a Escultura para Maria. Não houve transferência de
domínio porque a Escultura já pertencia a Maria = A escultura
somente foi devolvida para Maria.
Pagar: O devedor tem a obrigação de uma prestação pecuniária,
que é de pagar um valor para o credor (que também pode
compreender juros, multa, perdas e danos, etc).
Ex: João deixou o carro estacionado por 30 dias no estacionamento
do aeroporto. João tem a Obrigação de Pagar o valor do
estacionamento.
Art 233 CC:
A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora
não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das
circunstâncias do ato.
O artigo quer dizer que se o devedor tem a obrigação de dar coisa
certa para o credor, essa obrigação compreende também a
obrigação de dar os acessórios dessa coisa certa, ou seja o
devedor tem a obrigação de entregar a coisa certa e todos os
acessórios dessa coisa certa. João vendeu o seu veículo BMW,
placas BMW3030, para Maria. João assumiu a obrigação de
entregar coisa certa. Juntamente com o carro, João terá de entregar
os acessórios desse carro, por exemplo: terá de entregar os
acessórios desse carro, por exemplo: terá de entregar o carro e a
câmera de ré instalada no carro.
A obrigação de dar os acessórios juntamente com a coisa certa
decorre do princípio da gravitação jurídica: Os acessórios seguem o
bem principal.
A Obrigação de dar os acessórios juntamente com o bem principal
diz respeito apenas aos acessórios propriamente ditos (aqueles que
são partes integrantes do bem principal), e não às Pertenças.
O art 94 do CC determina que os negócios jurídicos que dizem
respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o
contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das
circunstâncias do caso.
Pertença é um bem que foi feito para utilizar no bem principal, mas
não é parte integrante do bem principal, por este motivo a pertença
não acompanha o bem principal se não estiver determinado na lei
ou no contrato.
Ex: João vendeu o seu carro para Maria. João não será obrigado a
entregar a cadeirinha de bebê que comprou para utilizar no carro
(porque a cadeirinha não é parte integrante do bem principal = é
uma pertença).
Os acessórios acompanham o bem principal (a coisa certa), exceto
se as partes (ou as circunstâncias) dispuserem ao contrário.
Ex: João vendeu seu carro para Maria e no contrato ficou
especificado que João iria retirar a câmera de ré que estava
instalada no veículo. Como consta no contrato (título), João não tem
a obrigação de entregar o carro (coisa certa) com a câmera de ré
(acessório).
Art 234 CC:
Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do
devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva,
fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar
de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais
perdas e danos.
O Art 234 diz que existe a obrigação de entregar uma coisa certa e
essa coisa certa se perdeu (pereceu).
Quais vão ser as consequências jurídicas dessa perda?
Ex: João vendeu seu carro para Maria, mas o carro sofreu perda
total, e agora o que vai acontecer? João vai ser obrigado a entregar
o carro? João vai ter de pagar o valor do carro para Maria?
As consequências jurídicas vão depender se a perda do bem
ocorreu:
a) sem culpa do Devedor; ou b) por culpa do devedor.
Sem culpa do Devedor: Devedor não tem responsabilidade.
Extingue-se a obrigação para ambas as partes.
Por culpa do devedor: Devedor tem responsabilidade. O devedor
deve ressarcir e indenizar o credor.
Nos dois casos a perda do bem ocorreu antes da tradição (antes da
entrega do bem) ou antes de implementada a condição suspensiva
(enquanto pendente a condição suspensiva).
Exemplo sem culpa do devedor: João vendeu seu carro para Maria.
João ficou de entregar o carro no sábado para Maria, quando Maria
pagaria o valor. Ocorre que na sexta-feira o carro de João estava
estacionado na garagem quando foi atingido pela enchente, vindo a
sofrer perda total. A perda do veículo ocorreu antes da tradição
(entrega do bem) e sem culpa de João (devedor) = Nesse caso
extingue-se a obrigação para ambas as partes = João não será
obrigado a entregar o carro para Maria e Maria não será obrigada a
pagar o valor do carro para João.
Exemplo com culpa do devedor: João doou seu carro para Maria.
João ficou de entregar o carro no sábado. Na sexta-feira João
estava dirigindo embriagado e arremessou o veículo em um rio,
vindo a causar perda total do veículo. A perda do veículo ocorreu
antes da tradição (entrega do bem) e por culpa de João (dirigir
embriagado) = Nesse caso, João será obrigado a dar o valor do
veículo para Maria e, se for o caso, mais as perdas e danos sofridos
por Maria.
Art 235 e 236 CC:
Deterioração = Perda parcial do bem.
No perecimento, a coisa não existe mais ou não tem mais
condições de uso (perda total do bem).
Ex: Um carro que sofreu colisão e sofreu perda total; um
celular que pegou fogo e não tem mais condições de uso; um
computador que foi furtado, etc.
Na deterioração a coisa foi apenas danificada, houve uma
perda parcial da coisa; a coisa foi parcialmente deteriorada ou
parcialmente estragada.
Ex: O carro sofreu colisão leve; o celular quebrou a tela mas
te conserto; o computador queimou a fonte mas pode ser
consertado, etc.
As consequências jurídicas da deterioração da coisa vão
depender se a deterioração da coisa se deu:
a) Sem culpa do Devedor; ou
b) Com culpa do Devedor.
Art 235: Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado,
poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa,
abatido de seu preço o valor que perdeu.
O Credor poderá: Não aceitar a coisa deteriorada e considerar
extinta a obrigação, ou aceitar a coisa deteriorada, abatido (ou
receber) o valor que perdeu com a depreciação do bem.
1º Caso: O Credor escolhe não aceitar a coisa deteriorada e
considerar extinta (resolver) a obrigação.
João vendeu seu carro para Maria. João ficou de entregar o
carro para Maria no sábado (quanto Maria pagaria o valor),
mas na sexta-feira à noite uma chuva de granizo danificou a
lataria do carro de João.
Como podemos verificar, a coisa (carro) sofreu uma
deterioração, sem culpa de João, antes de ser entregue para
Maria. Maria não tem interesse em ficar com o carro
danificado, por esse motivo Maria prefere dar por extinta a
obrigação. Sendo assim, João não precisará mais entregar o
carro e Maria não precisará pagar o valor.
2º Caso: O Credor escolhe receber a coisa deteriorada,
abatido o valor da depreciação em razão da deterioração do
bem.
João vendeu seu carro para Maria. João ficou de entregar o
carro para Maria no sábado (quanto Maria pagaria o valor),
mas na sexta-feira à noite uma chuva de granizo danificou a
lataria do carro de João.
Apesar da deterioração do carro, Maria não tem interesse em
resolver a obrigação. Sendo assim, Maria pretende ficar com o
veículo de João, mas terá o direito a abater o valor referente à
depreciação do veículo.
Art 236: Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o
equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha,
com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização
das perdas e danos.
O Credor poderá: Não aceitar a coisa deteriorada e pretender
receber o equivalente + perdas e danos, ou aceitar a coisa
deteriorada + o valor da depreciação + perdas e danos.
1º Caso: João é motorista de caminhão. João comprou, e
pagou, um caminhão usado na Loja Delta. A Loja Delta ficou
de fazer uma revisão geral no caminhão e entrega-lo no prazo
de 48h. João, já contando com a entrega do caminhão,
recebeu várias encomendas de fretes para os próximos dias.
Ocorre que, por um descuido do funcionário da loja, o
caminhão sofreu um acidente dentro da própria oficina da Loja
Delta que danificou toda a lateral do caminhão. João não
pretende ficar com o caminhão deteriorado. João prefere
receber o valor corrigido que pagou pelo caminhão + as
perdas e danos que sofreu em virtude de não poder realizar
os fretes que havia se comprometido.
2º Caso: Mesmo exemplo, mas João pretende ficar com a
coisa deteriorada. Nesse exemplo, João pretende receber o
caminhão deteriorado + o valor da depreciação do bem + as
perdas e danos que sofreu em virtude de não poder realizar
os fretes que havia se comprometido.
Como podemos verificar, no caso de deterioração da coisa por
culpa do devedor, se o credor resolver ficar ou não ficar com a
coisa deteriorada, nos dois casos ele terá direito a
indenização por perdas e danos (se houver).
Art 237 CC:
Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus
melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir
aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor
resolver a obrigação.
Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor,
cabendo ao credor os pendentes.
Cômodos significa as vantagens; os melhoramentos; as
benfeitorias; os acréscimos; que se somaram ao bem
principal.
Melhoramento é tudo aquilo que aumenta a qualidade do
bem, muda o bem para melhor.
Acréscimo é tudo aquilo que se acrescenta ao bem, aumenta
o bem em si.
Se antes da tradição (entrega) do bem principal, o bem sofrer
um acréscimo ou melhoramento, o Devedor será obrigado a
entregar o bem com o acréscimo ou melhoramento sem poder
exigir aumento no preço?
Se antes da tradição (entrega) do bem, o bem sofrer um
melhoramento ou acréscimo, o Devedor poderá exigir
aumento no preço; e se o credor não anuir (aceitar) pagar o
aumento, o Devedor poderá resolver (por fim à) a obrigação.
Ex: João assinou um contrato de promessa de compra e
venda comprometendo-se a transferir sua fazenda para Rafael
no prazo de 1 ano, quando Rafael pagará pelo imóvel a
quantia de 500 mil reais.
Nesse meio tempo, formou-se uma ilha no rio que passa em
frente a fazenda de João. João entendeu que houve um
acréscimo em seu imóvel, tendo em vista que a ilha passou a
pertencer à fazenda.
Diante do acréscimo do bem, João pretende exigir um
aumento no preço, para que Rafael pague pela fazenda a
quantia de 600 mil reais.
Se Rafael não aceitar (anuir) pagar o acréscimo no preço,
João poderá dar por extinta a obrigação.
Ex 2: João vendeu uma égua de raça para Rafael pelo preço
de 30 mil reais.
Antes de entregar (tradição) a égua, João descobriu que a
égua estava prenha e que iria dar cria.
João entendeu que houve um acréscimo no bem, e pretende
pedir um valor maior pela égua.
Como a égua está prenha, João quer pela égua o valor de 35
mil reais.
Caso Rafael não aceite pagar o aumento do preço, João
poderá dar por resolvida a obrigação.
Frutos percebidos são aqueles que já foram colhidos;
separados do bem principal.
Frutos pendentes são aqueles que ainda estão ligados ao
bem principal.

João vendeu sua fazenda de plantação de laranjas para


Rafael, e ficou de transferir o imóvel para Rafael no prazo de
30 dias.
Durante esse período de 30 dias, tudo que João colher de
laranjas irá lhe pertencer. No entanto, após a transferência do
imóvel para Rafael, todas as laranjas que ainda não foram
colhidas pertencerão a Rafael.
Art 238 e 239:
Na obrigação de restituir, o Devedor tem a obrigação de
devolver uma coisa que pertence ao Credor.
Se o Devedor tiver a obrigação de devolver (restituir) uma
coisa ao Credor, e essa coisa se perder (perda total) antes de
ser devolvida, como ficará a obrigação do Devedor?
A obrigação do devedor pela perda da coisa restituível vai
depender se a coisa se perdeu com culpa ou sem culpa do
devedor.
Art 238: Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem
culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o
credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os
seus direitos até o dia da perda.
O Art 238 trata da perda (perecimento) da coisa a ser
restituída ao Credor, quando não há culpa do Devedor.
Ex: João alugou seu carro por 10 dias para seu vizinho
Rafael.
Ao término do prazo de 10 dias, Rafael terá a obrigação de
devolver (restituir) o carro para João.
No quinto dia do aluguel do Carro, o veículo de João foi
furtado dentro da garagem de Rafael.
Considerando que o carro de João se perdeu sem culpa de
Rafael, Rafael não será obrigado a devolver o carro ou
indenizar João, sendo que a obrigação de restituir o carro será
extinta.
Apesar de a Obrigação de Restituir a coisa ter sido extinta,
devemos observar o que diz no final do Art 238: a obrigação
se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda.
Utilizando o exemplo: Rafael não terá a obrigação de restituir
o carro para João, mas João terá seus direitos assegurados
até o dia da perda do carro, ou seja João terá o direito de
receber o aluguel pelos 5 dias que Rafael utilizou o carro, até
o veículo ser furtado.
Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor,
responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos.
Quais serão os direitos do Credor?

Ex: João alugou seu carro por 10 dias para Rafael.


No quinto dia, Rafael perdeu a direção do veículo e colidiu
contra um poste, vindo a causar a perda total do veículo de
João.
Rafael foi culpado pela perda do veículo de João.
Tendo em vista a culpa de Rafael, ele será obrigado a pagar
para João o valor equivalente do veículo, mais as perdas e
danos sofridos por João.

Art 240:
No Art 238 e 239, estudamos o que acontece quando há
perda total da coisa a ser restituída.
Na aula de hoje vamos estudar o Art 240 que determina o que
acontece quando há a perda parcial (deterioração) da coisa a
ser restituída ao Credor.
Se o devedor tiver a obrigação de devolver (restituir) uma
coisa ao Credor, e essa coisa se deteriorar antes de ser
devolvida, como ficará a obrigação do Devedor?
Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do
devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a
indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o
disposto no art. 239.
Ex: João foi viajar por 1 mês e deixou seu carro estacionado
no pátio da casa de Rafael, que cobrou 300 reais para cuidar
do veículo.
Quando João voltar de viagem, Rafael tem a obrigação de
devolver o veículo para João.
Ocorre que durante esse período, houve uma grande
tempestade e uma árvore caiu em cima danificando a lataria.
Considerando que Rafael não teve culpa pelo evento que
danificou o carro de João, Rafael não terá responsabilidade.
Assim, João deverá receber o carro danificado no estado em
que se encontra, sem receber indenização.
Ex 2: João deixou seu carro estacionado no pátio da casa de
Rafael por 1 mês, ao valor de 300 reais.
Durante esse período, Rafael foi dar a ré e amassou o carro
de João.
Nesse caso, Rafael teve culpa pela deterioração do carro de
João e, portanto, será responsável pelos danos que causou.
Como o carro de João foi deteriorado por culpa de Rafael,
João poderá: Exigir que Rafael lhe pague o valor equivalente
do bem + perdas e danos; ou aceitar o carro danificado e
exigir que Rafael lhe pague perdas e danos.
Art 241:
Art. 241. Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou
acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor,
lucrará o credor, desobrigado de indenização.
O Art 241 trata dos melhoramentos e acréscimos (cômodos)
que ocorrem na coisa a ser devolvida ao Credor, enquanto a
coisa está com o Devedor, mas esses melhoramentos ou
acréscimos não tiveram a participação do Devedor.
Considerando que o Devedor não contribuiu para o
melhoramento ou acréscimo do bem, não trabalhou ou pagou
para que ocorresse o melhoramento, ele não terá direito à
indenização.
E, tendo em vista que o Credor é o proprietário do bem, ele
terá direito a receber o bem com o melhoramento ou
acréscimo, sem indenizar o Devedor.
Ex: João emprestou (comodato) sua fazenda para seu primo
Rafael para cultivo de milho pelo prazo de 2 anos.
Durante esse período o rio que margeava a fazenda de João
secou, aumentando em 10% a área da fazenda.
Como podemos observar, a fazenda de João sofreu u
acréscimo de 10% em sua área, mas Rafael não contribuiu
para o acréscimo, pois tratou-se de uma acessão natural
(acréscimo feito pela natureza).
Considerando que Rafael não teve nenhuma participação
para o acréscimo do bem, no momento de devolver a fazenda
para João, Rafael não terá direito à indenização.
E João, que é o proprietário da terra, terá o direito de receber
a fazenda com o acréscimo de 10%.
Art 242:
No Art 242 vamos estudar o que acontece quando o Devedor
contribuiu com seu trabalho, ou mediante despesas, para os
melhoramentos ou acréscimos que ocorreram no bem a ser
restituído ao Credor.
Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o
devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas
normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo
possuidor de boa-fé ou de má-fé.
Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á,
do mesmo modo, o disposto neste Código, acerca do
possuidor de boa-fé ou de má-fé.

As disposições sobre as benfeitorias do possuidor de Boa-fé e


de Má-fé estão disciplinadas do Art 1219 ao 1222, sendo
assim empregaremos estes mesmos artigos para disciplinar
os melhoramentos ou acréscimos da coisa a ser restituída ao
credor, quando houver a participação do Devedor de boa-fé
ou do Devedor de má-fé.
No caso de benfeitorias realizadas pelo devedor de boa-fé,
primeiramente devemos saber quais são os tipos de
benfeitorias: Benfeitorias necessárias; Benfeitorias úteis ou
Benfeitorias voluntárias.
Ex Benfeitoria Necessária: João comprou a casa de Rafael
para pagamento em 60 parcelas mensais. Após a 10ª parcela,
João interrompeu o pagamento e Rafael ajuizou uma ação
para recuperar o imóvel.
Nos 10 meses em que João permaneceu no imóvel, João
reformou todos os caibros do telhado que estavam com
cupim.
Tendo em vista que João era possuidor de boa-fé, e realizou
benfeitorias necessárias no imóvel, João terá direito a ser
indenizado pelo valor que gastou com as benfeitorias e reter o
bem enquanto Rafael não o indenizar pelas benfeitorias.
Ex Benfeitoria Útil: João ampliou o banheiro da suíte.
João estava de boa-fé e realizou uma benfeitoria útil no imóvel
= João terá direito a ser indenizado pelo gasto com a reforma
do banheiro, bem como a reter o bem enquanto não for
indenizado por Rafael.
Ex Benfeitoria Voluptuária: João colocou um parquinho no
jardim.
Como o parquinho pode ser retirado sem detrimento do bem,
Rafael poderá optar por: permitir que João retire o parquinho;
ou ficar com o parquinho e indenizar João.
Ex 2 Benfeitoria Voluptuária: João contratou um artista para
fazer uma paisagem na parede do imóvel.
Nesse caso a pintura não poderá ser retirada sem que haja
detrimento da parede, sendo assim como a benfeitoria não
pode ser retirada sem detrimento do bem = João não poderá
levantar a benfeitoria e Rafael não terá obrigação de indenizar
João pelo que gastou com a benfeitoria.
Devedor de má-fé:
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente
as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de
retenção pela importância destas, nem o de levantar as
voluptuárias.
Ex Benfeitoria Necessária: João comprou a casa de Rafael
para pagamento em 60 parcelas mensais. Após a 10ª parcela,
João interrompeu o pagamento.
Com 3 meses de atraso, Rafael notificou João para desocupar
o imóvel.
Apesar de notificado, João não desocupou o imóvel e passou
a ocupar o imóvel de má-fé.
Mesmo ocupando o imóvel de má-fé, João foi obrigado a
trocar a caixa de água que havia rachado.
João terá o direito de ser indenizado pelo valor que gastou na
benfeitoria, mas não terá o direito a reter o imóvel enquanto
não for indenizado.
Ex Benfeitoria Útil: Não terá direito a indenização.
Ex Benfeitoria Voluptuária: Não terá direito a indenização.

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