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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE CRATEÚS – ESTADO DO CEARÁ.

PROCESSO Nº. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

(NOME), brasileiro, solteiro, empresário, portador da identidade nº. XXXXXX


SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob o nº. XXXXXXX, residente e domiciliado na Rua
XXXXXXXX, Novo Oriente – CE, CEP 63.740-000, Telefone e WhatsApp
XXXXXXX, utiliza o endereço eletrônico do filho, e-mail: XXXXXXXX por
intermédio de seu procurador infra-assinado, mandato procuratório anexo, vem,
respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro no artigo 396-A do Código de
Processo Penal apresentar

RESPOSTA À ACUSAÇÃO

o que faz pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:

SÍNTESE DA DENÚNCIA

O Ministério Público do Estado do Ceará, ofereceu denúncia em face do Sr.


xxxxxxxxxxxxx, imputando-lhe, que tenha praticado suposto crime de porte de armas,
tipificado no artigo 14 da Lei 10.826/03, conforme os autos em epígrafe.

Consta na referida Denúncia, que no dia 27 de março de 2018, por volta das 19h:40min,
Policiais Militares do Raio, foram acionados via COPOM e se dirigiram para a agência
do Banco do Brasil desta Urbe, para apurar possível crime de furto ou estelionato.

De posse das características físicas do suposto autor do fato delituoso, localizaram o,


ora denunciado, em seu veículo (GOL VERMELHO DE PLACA XXXXX), de posse
de alguns cartões de débito/crédito, a quantia de R$ 29.559,50 (vinte e nove mil,
quinhentos e cinquenta e nove reais e cinquenta centavos) e uma pistola (descrita às fls.
07).

Diante dos fatos lhe foi dado voz de prisão e encaminhado a 13º DRPC, para realização
dos procedimentos.

Em depoimento e em conversa com o Delegado de Polícia, o ora denunciado, informou


ser atirador desportivo, que possuía o registro da arma e estava com a guia de transporte
em ordem e que se deslocava do local onde pratica o referido esporte (stands de tiro) no
município de Tauá - Ce, para sua residência em Novo Oriente - Ce.

Mesmo munido de toda a documentação que embasou sua versão, entendeu a autoridade
policial, que o ora denunciado, usurpou a autorização para transportar a arma somente
para a prática esportiva e passou a se valer da pistola para sua defesa pessoal.

Para finalizar sua tese, o Ministério Público, alega ainda que o percurso utilizado pelo o
ora denunciado, não é a rota mais convencional, entre o município de Tauá e Novo
Oriente, ambos no Estado do Ceará.

DOS FATOS E DO DIREITO


O denunciado, é cidadão conceituado, empresário, correspondente bancário do
Banco do Brasil, desportista de tiro e mesmo que tenha percorrido um trajeto, o
qual o Ministério Público não considere adequado, não agiu o denunciado em
desacordo com a legislação vigente.

Ocorre que tendo sido vítima por diversas vezes de assaltos em seu estabelecimento
comercial, o denunciado diante da inércia do Estado, iniciou por sua conta e risco uma
investigação para chegar aos delinquentes que praticaram esses crimes, o que resultou
em prisão e a condenação de alguns dos autores desses delitos.

Por conta de sua iniciativa, o denunciado, foi vítima de tentativa de homicídio, na


estrada que liga o município de Novo Oriente – CE ao município de Tauá – CE, por
meio da CE 187, o percurso que o Ministério Público acha convencional, fato este
apurado na época pelo Delegado de Polícia, Dr. XXXXXX, matrícula xxxxxxxx,
conforme documento anexo, motivo pelo qual, o denunciado não mais utiliza aquela
estrada.

No mais, a portaria de 14/03/2017 nº 28 do COLOG (COMANDO LOGÍSTO DO


EXÉRCITO), no artigo 135-A descreve a possibilidade do atirador desportivo transitar
com a arma a pronto uso, durante o deslocamento entre sua residência aos locais de
treinamento e vice e versa, senão vejamos:

Art. 135-A. Fica autorizado o transporte de uma arma de porte, do acervo de tiro
desportivo, municiada, nos deslocamentos do local de guarda do acervo para os locais
de competição e/ou treinamento.

Mesmo diante da norma acima, que autoriza o denunciado a transportar sua arma de
fogo, no percurso do clube de tiro para a sua residência, ele a mantinha municiada,
porém, dentro do estojo do seu kit de limpeza e não em sua cintura, justamente por
entender e respeitar as normas do Estatuto do Desarmamento.

O Estatuto do Desarmamento, ao proibir o porte de arma de fogo, excepcionou a


situação dos atiradores desportivos, reportando-se ao disposto no regulamento:

Art. 6º É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os
casos previstos em legislação própria e para:

(...)

IX – para os integrantes das entidades de desporto legalmente constituídas, cujas


atividades esportivas demandem o uso de armas de fogo, na forma do regulamento
desta Lei, observando-se, no que couber, a legislação ambiental

Ainda, estabeleceu competir ao Comando do Exército, também nos termos do


regulamento, autorizar o registro e o porte de trânsito de arma de fogo para atiradores:

Art. 9o Compete ao Ministério da Justiça a autorização do porte de arma para os


responsáveis pela segurança de cidadãos estrangeiros em visita ou sediados no Brasil
e, ao Comando do Exército, nos termos do regulamento desta Lei, o registro e a
concessão de porte de trânsito de arma de fogo para colecionadores, atiradores e
caçadores e de representantes estrangeiros em competição internacional oficial de tiro
realizada no território nacional.

Art. 24. Excetuadas as atribuições a que se refere o art. 2º desta Lei, compete ao
Comando do Exército autorizar e fiscalizar a produção, exportação, importação,
desembaraço alfandegário e o comércio de armas de fogo e demais produtos
controlados, inclusive o registro e o porte de trânsito de arma de fogo de
colecionadores, atiradores e caçadores.

O Decreto nº. 5.123/2004, por sua vez, que regulamenta o Estatuto do Desarmamento,
estabeleceu o que segue, ao tratar do porte e do trânsito de arma de fogo para os
atiradores, caçadores e colecionadores:

Subseção I

Da Prática de Tiro Desportivo

Art. 30. As agremiações esportivas e as empresas de instrução de tiro, os


colecionadores, atiradores e caçadores serão registrados no Comando do Exército, ao
qual caberá estabelecer normas e verificar o cumprimento das condições de segurança
dos depósitos das armas de fogo, munições e equipamentos de recarga.

§ 1o As armas pertencentes às entidades mencionadas no caput e seus integrantes terão


autorização para porte de trânsito (guia de tráfego) a ser expedida pelo Comando do
Exército.

Não há dúvidas que a Autoridade Policial se equivocou ao indiciar o denunciado, assim


como o Ministério Público, talvez por puro desconhecimento da portaria de nº 28 do
COLOG (COMANDO LOGÍSTO DO EXÉRCITO), não se preocupou em avaliar o
contexto do indiciamento e o denunciou.

A ausência de lei específica que determina que o trajeto a ser percorrido entre a
residência do atirador desportivo e o clube de tiros tenha que ser o mais curto ou o mais
próximo, abre brechas para interpretações equivocadas, porém, no direito criminal, o
qual trata do bem jurídico mais valioso que é a liberdade da pessoa, não se pode atuar
com interpretações ou ilações de pensamento.

No mais, no dia 15/12/2017 a desembargadora Vânia Hack de Almeida, do Tribunal


Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre cassou a liminar que impedia o
transporte de armas carregadas por atiradores esportivos, ao julgar o Agravo de
Instrumento de nº 5070858-26.2017.4.04.0000/RS.

Portanto, segundo os arts. 6º, 9º e 24º do Estatuto do Desarmamento, é assegurado ao


colecionador, atirador e caçador, transitar com arma de fogo, amparado por um porte de
trânsito, bem como é de competência do Exército realizar o registro das armas dessas
categorias e conceder-lhes o porte de trânsito, para que de sua casa até o local do treino,
transite com sua arma de fogo municiada, conforme a portaria de 14/03/2017 nº 28 do
COLOG.
Sendo assim, pode-se perceber que o Requerente não se encontrava em desacordo com a
lei no momento da abordagem policial, não merecendo, portanto, ser conduzido a
DRPC, indiciado e posteriormente denunciado por crime que não praticou.

DA INÉPCIA DA DENÚNCIA

Tratando-se da apreciação de esqualidez da denúncia, dois são os parâmetros objetivos


que devem orientar o exame da questão, quais sejam, o artigo 41, que detalha o fato
criminoso com todas as suas circunstâncias e o artigo 395, que avalia as condições da
ação e os pressupostos processuais descritos, ambos no CPP.

Da simples leitura da denúncia oferecida, verifica-se que foi equivocadamente


imputado ao denunciado, o crime acima mencionado, quando de fato, se constata por
meio dos depoimentos, que o mesmo se encontrava de acordo com o que a lei prevê,
haja vista, ter em mãos o registro e a guia de transporte e apresentá-los à autoridade
policial quando solicitado e principalmente por não existir norma legal que regula ou
determina o trajeto a ser percorrido e nem mesmo o tempo que se deve gastar entre o
clube de tiro e a residência daquele que pratica o esporte, sendo portanto, verdadeira a
informação prestada em depoimento, pelo denunciado, de que estava vindo do clube de
tiro em Tauá-CE.

O Delegado de Polícia da 13º DRPC de Crateús – Ce, antes de dar início aos
procedimentos, na mesma conversa informal a qual descreve em seu relatório, momento
este, em que lhe foi relatado, pelo denunciado, que é desportista de tiro e que tem toda a
documentação em dia e que estava vinha do município de Tauá-Ce, local onde fica o
Clube de tiro, e aproveitou para ir ao Banco do Brasil, informou também, que havia
divergência do quantum em dinheiro que se encontrava custodiado pelos policiais
militares e o que foi apresentado naquela DRPC.

Mas, o Delegado de Polícia, não se preocupou em questionar os policiais militares sobre


o desaparecimento de R$ 2.040, 50 (dois mil e quarenta reais e cinquenta centavos), os
quais sumiram no caminho do Banco do Brasil até a Delegacia de Polícia, após o
dinheiro ficar sobre a custódia dos PMs.

O Delegado de Polícia, não se atentou em ligar para o Clube de Tiros, ou apurar se de


fato o denunciado apareceu no referido local, naquele mesmo dia.

A Autoridade Policial, não entrou em contato com as pessoas indicadas pelo denunciado
que o viram em Independência-Ce, momentos antes da abordagem policial.

Enfim, diante dos inúmeros cartões de débito/crédito, com a apreensão de mais de R$


30.000,00 (trinta mil reais) em espécie e ainda portando uma arma de fogo, a
Autoridade Policial, acreditou que se tratava de um infrator que pratica crimes de
estelionato (popularmente conhecido como CARTÃOZEIRO) e não se preocupou em
checar ou mesmo investigar, se de fato se tratava de um CIDADÃO DE BEM, que
exerce o seu direito de ir e vir do Clube de Tiro, pelo caminho que lhe achar
conveniente, ou mesmo apurar se de fato os Policiais Militares FURTARAM, parte do
dinheiro que se encontrava sob custódia.
O Ministério Público por sua vez, diante da narrativa do Delegado de Polícia no
Relatório, também não se preocupou em buscar a verdade real dos fatos, requerendo
diligências da polícia, para, pelo menos, saber se de fato o denunciado teria ido ao clube
de tiro naquele dia.

É a política do jus sperniandi, onde a Autoridade Policial indicia (com ou sem provas),
o MP denuncia (porque temos um MP acusatório) e o réu, esperneia para provar a sua
inocência, quando de fato o nosso ordenamento jurídico prega o oposto, ao afirmar que
todos são considerados inocentes até que se prove o contrário.

Portanto, caso a JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁ, não reconheça a portaria de nº


28 do COLOG (COMANDO LOGÍSTO DO EXÉRCITO) que em seu artigo 135-A
descreve a possibilidade do atirador desportivo transitar com a arma a pronto emprego,
durante o deslocamento entre sua residência aos locais de treinamento e viceeversa e
nesse caso não se discute qual o trajeto escolhido, pois não há norma jurídica que
especifique, caberá ao denunciado, continuar buscando provar sua inocência em outras
instâncias, deixando claro desde logo, que não se submeterá transação penal.

Desta forma, considerando-se que o denunciado possui o Certificado de Registro, a


Guia de Trânsito da arma apreendida e a Declaração da DFPC (Diretoria de
Fiscalização de Produtos Controlados do Exército) e Registro de Atirador juntamente
com a Declaração do Clube de Tiro informando sua presença no Stand na data do fato,
documentos anexos, e que por falta de interesse da Autoridade Policial, em apurar de
forma mais detalhada sobre a conduta do denunciado, assim como o MP, somente
repetiu os termos do Inquérito Policial e o relatório do Delegado, sem se preocupar com
a busca pela verdade real, requerendo novas provas para formar seu convencimento de
forma mais contundente, é que se busca que a rejeição da exordial acusatória.

Pretende o nobre membro do parquet, consubstanciar a exordial acusatória, com uma


tese que difere dos documentos acostados aos autos, eivada portanto, de vícios que
impedem a instauração da relação processual.

Neste sentido pronunciou-se o E.STJ, nos autos do HC 214.862/SC, 5º T, Rel. Min.


Laurita Vaz, DJ-E 07/03/2012.

A ausência absoluta de elementos individualizados que apontem a relação entre os


fatos delituosos e a autoria ofende o principio constitucional da ampla defesa, assim
inepta a denúncia.

Flagrante ausência de justa causa, o que permite ao juízo, promover a absolvição


sumária do denunciado XXXXXXX.

A justa causa, constitui condição da ação penal, é prevista de forma expressa no


Código de Processo Penal e consubstancia-se no lastro probatório mínimo e firme,
indicativo da autoria e da materialidade da infração penal

Portanto, não há que se falar em crime de porte de arma, quando o denunciado, se


encontrava no momento da prisão munido de todos os documentos exigidos pela lei,
para um atirador desportivo portar sua arma.
Caso hipotético: um atirador desportivo, indo para o clube ou retornando dele, com toda
a documentação, estaciona em um posto de gasolina para abastecer e usar o banheiro e
nesse momento é abordado pela Polícia, que está realizando uma ação preventiva e
naquele momento se descobre a arma no veículo. Seria o atirador enquadrado no crime
de porte de arma?

Dito isto e para que não reste dúvidas, é absolutamente cabível o presente momento
processual para a rejeição da peça acusatória, conforme pronunciamento no Recurso
Especial nº 1.318.180 STJ, 6º Turma, Rel. Min. Sebastião Reis Junior, julgado em
16/05/2013, publicado no DJ-E em 29/05/2013 que diz:

(...) o fato de a denúncia já ter sido recebida não impede o juízo de primeiro grau de,
logo após o oferecimento da resposta do acusado, prevista nos arts. 396 e 396-A do
CPP, reconsiderar a anterior decisão e rejeitar a peça acusatória, ao constatar a
presença de uma das hipóteses elencados nos incisos do art. 395 do CPP suscitada
pela defesa. (...)

Assim, requer-se a rejeição da exordial acusatória, vez que a mesma é inepta nos termos
do art. 395, inciso III do CPP.

Posto isto, conclui-se que em matéria de condenação criminal, não bastam meros
indícios. A prova da autoria deve ser lógica e livre de dúvida, pois somente a certeza
autoriza a condenação no juízo criminal.

Quando a prova se mostrar inverossímil, prevalecerá o princípio do in dubio pro reo,


patente, in casu.

Desta feita, restando comprovada a fragilidade da acusação feita pelo MP, que se
apegou a um gráfico apresentado pela polícia, para justificar sua peça acusatória e nem
mesmo requereu da autoridade policial novas diligências para se certificar se o
denunciado realmente esteve no clube de tiros, ou mesmo se passou pelo município de
Independência – Ce, rota escolhida por ele para retornar para sua residência, não há,
portanto, possibilidade de imputar-lhe crime de porte ilegal de arma, por ser, atirador
desportivo, tendo seu direito resguardo no art. 135-A da portaria de 14/03/2017 nº 28 do
COLOG.

DO PEDIDO

Ante o exposto requer:

a) Seja rejeitada de plano a denúncia, com fulcro no art. 395, e incisos, do CPP, eis que
objetiva a denúncia imputar responsabilidade penal sob conduta atípica e/ou inexistentes
as condições para o exercício da ação;

b) Caso Vossa Excelência não entenda pela rejeição da denúncia e a absolvição do


denunciado XXXXXXXX, com fundamento no artigo 386 do CPP;

c) Seja subsidiariamente o denunciado XXXXXXX, absolvido sumariamente, em


conformidade com o art. 397, III do CPP;
d) Caso superado a preliminar, o que admito apenas por amor a argumentação requer
sejam intimados, na qualidade de testemunhas, as pessoas elencadas no rol abaixo;

e) No mérito, requer, seja a denúncia julgada totalmente IMPROCEDENTE.

f) A restituição da arma de fogo TIPO Pistola, CALIBRE 380, MARCA Taurus,


MODELO 58SS, Nº DE SIGMA:XXX Nº DE SÉRIE: XXXXX, que se encontra
anexado ao Inquérito Policial nº. XXXXX, que se encontra apreendida neste Fórum;

g) Para tanto, requer expedição de Alvará ou documento similar para que após a
restituição da arma de fogo acima descrita ao denunciado, possa levá-la consigo para
sua residência.

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas, documental, testemunhal e


demais meios de prova em direito admitidos.

N. Termos,

P. Deferimento.

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