Você está na página 1de 7

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA

CÍVEL DA COMARCA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SP.

Processo nº 1026626-35.2015.8.26.0577

ESPÓLIO DE MAURÍCIO FRANÇA FERRAZ DE


CAMARGO, representado pelo inventariante MAURÍCIO FERRAZ DE
CAMARGO FILHO, brasileiro, casado, zootécnico, portador do RG nº
5.392.226-SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob nº 051.374.458-43, credenciado
nos termos do Alvará Judicial dos Autos de Inventário, processo nº 420/93,
expedido em 21 de julho de 1995, pelo MM. Juiz de Direito da 12ª Vara da
Família e Sucessões de São Paulo, por seu Advogado, vem perante V. Exa.,
respeitosa e tempestivamente apresentar, com fulcro no artigo 335, CPC

CONTESTAÇÃO

à ação proposta por MAURICIO FERREIRA DIAS e SABRINA FÁTIMA DOS


SANTOS DIAS, parte já qualificada nos autos, pelos motivos de fato e de
direito que passa a aduzir:
PRELIMINARMENTE

DA INADEQUAÇÃO DA VIA PROCESSUAL ELEITA

Em que pese o pedido de usucapião, as


particularidades do caso concreto denotam, efetivamente, que a presente
pretensão é hipótese de adjudicação compulsória, à medida que não está
embasada no exercício da posse, mas sim de uma compra e venda de
imóvel.

Com efeito, inexiste a configuração expressa


do animus domini,  requisito essencial à caracterização da pretensão de
usucapir.

É cediço que aos usucapientes é exigida conduta


de possuidores, revestida das características de proprietários e,
primordialmente, não reconhecendo domínio alheio.

Todavia, não é o que se observa, no caso em tela.

Conforme aludido pelos Requerentes, em sua


peça inicial, a posse do imóvel usucapiendo é oriunda de Instrumento
Particular de Promessa de Compra e Venda, firmado em 05 de novembro
de 2002 (fls. 22/24).

Deste modo, a posse demonstrada nos autos é


pautada pela precariedade, vez que exercida em decorrência de
consentimento à obtenção do domínio do bem imóvel, com base no
pagamento de preço a anterior titular da propriedade.
Há, portanto, relação contratual, o que obsta a
pretensão de usucapir, a qual caracterizada por ser meio de aquisição
originária da propriedade.

Corolário lógico, não houve posse sobre o imóvel


com animus domini, pois desde o momento em que firmado o contrato de
promessa de compra e venda, não houve a transmudação da posse de injusta
para justa.

Com efeito, é preciso ter presente, em primeiro


lugar, que o legislador, ao prever a hipótese de usucapião, o fez a fim de
possibilitar a regularização da propriedade quando o título aquisitivo for inapto
a ser transcrito no Ofício Imobiliário, o que não é o caso dos autos, em que a
escritura pública é exigível do vendedor, uma vez satisfeito o preço.

Por todas estas razões, requer-se seja acolhida a


preliminar aduzida, com a consequente extinção da presente ação e a
condenação da parte Requerida ao pagamento do ônus inerente ao princípio
da sucumbência.

DO MÉRITO

DOS FATOS

O Requerido Maurício França promoveu a


implantação do empreendimento imobiliário denominado "Parque Residencial
União”, loteamento aprovado pela Prefeitura Municipal de São José dos
Campos/SP, nos termos da Lei Federal Nº 6.766/79, registrado sob o nº R.7,
na matrícula nº 97.351, para a venda de suas unidades autônomas.
Iniciada a comercialização do empreendimento, o
Requerido Maurício França firmou com NADIR MARTINS e MARIA DIAS
MARTINS “Instrumento Particular de Contrato de Compromisso de Compra e
Venda de Imóvel Urbano”, datado de 06 de novembro de 1994, tendo por
objeto a aquisição da totalidade do lote de terreno nº 023 da quadra 38,
contendo 250,00 m², do loteamento Parque Residencial União.

Assim sendo, por meio do referido instrumento


assinado pelas partes, os compradores NADIR MARTINS e MARIA DIAS
MARTINS obrigaram-se a pagar o preço do contrato através das parcelas
descritas no Quadro nº 03/03, que estabeleceu o preço total e condições de
pagamento.

E, por consequência da contratação e conforme a


cláusula V da promessa de compra e venda, os compradores NADIR MARTINS
e MARIA DIAS MARTINS foram imitidos na posse do citado lote de terreno no
ato da subscrição do Instrumento.

Em 14 de fevereiro de 1998, os compradores NADIR


MARTINS e MARIA DIAS MARTINS alienaram 50% dos direitos sobre o
contrato de compra e venda à MARIA APARECIDA FERREIRA SOUZA, com
expressa anuência do ora Requerido MAURÍCIO FERRAZ, conforme atesta o
contrato de cessão de direitos acostados as fls. 18/21.

Ato contínuo, em 30 de setembro de 2001, os


compradores NADIR, MARIA DIAS e MARIA APARECIDA quitaram o débito do
financiamento do lote de terreno, conforme extrato de pagamentos ora
anexado. Assim sendo, por força da cláusula XII do compromisso de compra e
venda, a partir da quitação já estavam aptos a receberem a escritura definitiva
de compra e venda.

Ocorre que, passados 17 anos da quitação integral


das parcelas e após inúmeras tentativas amigáveis para que os compradores
procedessem à escrituração do lote, as mesmos quedaram-se inerte, restando
infrutífera a tentativa do Requerido Maurício em ter sua solicitação atendida.

Insta consignar que o descumprimento por parte dos


compradores vem causando transtornos ao Requerido Maurício França, que
por sua vez sente-se passivo de sofrer eventuais cobranças de taxas, multas,
tributos, ou ainda Ações Judiciais que possam lhes causar danos irreparáveis
ou de difícil reparação oriundos do Lote já quitado pelos compradores
NADIR, MARIA DIAS e MARIA APARECIDA, porém não escriturado em seu
nome.

Verifica-se na exordial que a inclusão do


Requerido Maurício França no polo passivo da presente demanda se deu,
única e exclusivamente, porque a compradora Maria Aparecida alienou
seus 50% do imóvel para os Requerentes, antes proceder à transferência
da propriedade em disputa para o nome dela.

Evidentemente por terem os compradores


NADIR, MARIA DIAS e MARIA APARECIDA quitado integralmente o preço
exigido, deve ser efetivada a outorga da escritura definitiva.

Ocorre que, o Requerido Maurício é parte estranha


ao contrato de instrumento particular de compra e venda entabulado entre
Maria Aparecida e os Requerentes, não cabendo a ele suportar qualquer ônus
oriundo de tal transação.

Assim sendo, o Requerido Maurício


expressamente não se opõe a outorga da escritura definitiva de compra e
venda, entendendo ser cabível a transferência da propriedade para os
compradores originários, quais sejam, NADIR, MARIA DIAS e MARIA
APARECIDA, em atenção ao principio da continuidade registral.

Outrossim, em não sendo esse o entendimento


de Vossa Excelência, o Requerido Mauricio não se opõe a outorga da
escritura definitiva a qualquer um dos integrantes da presente relação
jurídica.

Por fim, registra-se que a presente demanda visa a


aquisição da propriedade de apenas 50% (cinquenta por cento) do lote de
terreno nº 023 da quadra 38 do Residencial União, visto que o lote possui
250m² e os Requerentes pleiteiam a propriedade de apenas 125,00 m².

DA ESPECIFICAÇÃO DE PROVAS

Em atendimento ao disposto no artigo 336 do NCPC,


a parte Requerida expõe e requer o que segue:

À vista dos pedidos formulados pelos Requerentes,


tendo em vista a matéria discutida na presente demanda, é a presente para
requerer, desde já juntada prova documental, em momento oportuno.
Ainda, reserva-se ao Requerido Maurício o direito de
produzir todas as contraprovas, bem como de se manifestar por conta da
eventual instrução nos autos, respeitando-se assim o princípio do contraditório
e da ampla defesa.

DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer-se seja acolhida a


preliminar aduzida, com a consequente extinção da presente ação sem
julgamento do mérito por inadequação da via eleita. Em sendo superada a
preliminar, é a presente para expressamente consignar que o Requerido
Maurício NÃO SE OPÕE A OUTORGA DA ESCRITURA DEFINITIVA DE
COMPRA E VENDA, entendendo ser cabível a transferência da propriedade
para os compradores originários, quais sejam, NADIR, MARIA DIAS e MARIA
APARECIDA, em atenção ao principio da continuidade registral.

Outrossim, em não sendo esse o entendimento de


Vossa Excelência, o Requerido Mauricio não se opõe a outorga da escritura
definitiva a qualquer um dos integrantes da presente relação jurídica.

Termos em que,
Pede deferimento.

São José dos Campos, 22 de novembro de 2018.

LEANDRO GONÇALVES TEODORO


OAB/SP 347.012

Você também pode gostar