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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DO FORO DA

COMARCA DE CALDAS NOVAS - GOIÁS.

Número do Processo: XXXXXX-XX.XXXX.X.XX.XXXX

PRIORIDADE PROCESSUAL
Lei nº 10.173/2001
Jurisdicionada é IDOSA

NOME DA REQUERENTE, já qualificada na exordial (evento 01), na Ação de Restituição de


Quantia Paga c/c Danos Morais Por Abandono de Paciente, que move em desfavor de 1 –
1
ODONTOLOGIA LTDA, NOME DA REQUERIDA 1, NOME DA REQUERIDA 2, NOME DA
REQUERIDA 3, todos já qualificados, por intermédio de seus procuradores que ao final
subscrevem, vem, respeitosamente, perante a Vossa Excelência, apresentar IMPUGNAÇÃO À
CONTESTAÇÃO, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

- DA PRELIMINAR DE CARÊNCIA DE AÇÃO – ILEGITIMIDADE PASSIVA “AD CAUSAM”


A Requerida contestou a inicial alegando que houve supostos erros durante o tratamento
odontológico executado nas dependências da clínica, e que a empresa Odontologia não
existe em Caldas Novas – Goiás, tratando-se de apenas de nome fantasia dado pelos
profissionais Dr. Dentista e Dra. Dentista no local em que realizam os atendimentos
odontológicos. Tal afirmativa é uma inverdade pelos seguintes motivos:

1º) Pode-se verificar que a Empresa Odontologia mantinha sede na cidade de Caldas Novas –
Goiás, a muitos anos, até o falecimento do Dr. Dentista, como prova, veja a ficha de
prontuário datado de 11/01/2012, indicando a localização do endereço na primeira página,
estabelecida na (endereço completo), da indicação do endereço no site de pesquisa da
internet, bem como quando se clica no mapa, aparece a localização no endereço do
município.

2º) Trata-se da mesma empresa, visto que o CNPJ é o mesmo, não se trata de duas empresas,
e sim de apenas uma empresa, ocorrendo apenas alteração de endereços.

3º) A empresa foi baixada em data recente, mais precisamente em 15/01/2021, diante do
falecimento do Dr. Dentista (certidão de óbito já juntada no evento 22), cujo motivo foi
liquidação voluntária, pelos herdeiros, podendo ser confirmado na anotação do cartão do
CNPJ. Excelência, veja que os herdeiros realizaram a baixa da empresa recentemente,
somente esse ano, provando que a mesma estava perfeitamente ativa, o que significa que a
afirmação de que a empresa não existe é um tanto contraditório, pode ser que não existe
atualmente, mas que não existe, não é verdade.

4º) Na fachada da clínica, nos prontuários, bem como na indicação ao público utilizavam-se do
nome da pessoa jurídica, o que não há dúvidas de que a empresa deve integrar o polo passivo
2
da ação.

O fato de que a Requerente não foi atendida na filial de Município – UF, ou vice-versa, sendo
atendida na filial de Caldas Novas – GO, não exime a responsabilidade solidária das mesmas. O
“deixar de existir’ não isenta a responsabilidade de ato realizado anteriormente á sua baixa e
até posteriormente. Verdade é que a violação de direito foi concretizada, pela pessoa jurídica
e seus sócios, e agora herdeiros, conforme já provado.

A jurisprudência é consolidada quando se fala em responsabilidade da clínica acerca dos


serviços realizados nela, ainda mais por se tratar de relação de consumo:

A clínica odontológica responde solidariamente pelos danos causados ao paciente


por culpa do dentista, quando não comprovada a inexistência de defeito na
prestação dos serviços. A paciente, após tratamento de canal, sofreu danos no dente
tratado em decorrência de ter sido deixado, em seu interior, o fragmento de uma
lima. Condenados ao pagamento de indenização por danos morais e materiais, o
odontólogo e a clínica interpuseram recurso de apelação. Alegaram que a
responsabilidade por defeitos na prestação de serviços odontológicos é subjetiva e
que a autora não demonstrou a culpa do profissional e o nexo de causalidade entre a
sua conduta e o dano no dente. A Relatora observou que as provas juntadas aos
autos não deixam dúvidas de que foi esquecido um corpo estranho no dente da
autora, o que demonstra a culpa do dentista em razão da imperícia no
procedimento e o defeito na prestação do serviço odontológico. Quanto à clínica
odontológica, afirmou que esta deve responder solidariamente pelos danos
causados à paciente, uma vez que se apresenta como prestadora de serviços e
usufrui das atividades ali desenvolvidas. Assim, diante da inexistência de
comprovação das excludentes de responsabilidade pelos apelantes, o Colegiado
manteve a sentença.1

Não há que se falar em ilegitimidade passiva da ação, diante do conjunto de provas já


apresentadas e, portanto, alegar que o ato não foi causado por ato da clínica que fica localiza
em outro município, se torna um tanto abstrato, e demonstra a falta de compromisso dos
profissionais com a paciente. Da mesma forma que ocorreu no caso indicado na
jurisprudência mais acima, ocorreu no presente caso, quando foi deixado um pino na fossa
nasal da paciente, deixando assim o corpo estranho abandonado, e sem a devido
acompanhamento, ficou abandonado, vindo a cair posteriormente de forma natural. O
abandono dos profissionais do suporte à paciente foi notório e de forma explícita, que será
tratado mais à frente.

O procedimento foi realizado em uma das dependências da empresa “Odontologia”, qual seja, 3
na clínica de xxxx, no prontuário conta o endereço gravado da localização, e pelo fato de que
a pessoa jurídica tem legitimidade para integrar o polo passivo da ação a fim de ver os direitos
da Requerente resguardado. Ora,

A pessoa jurídica, conforme já se anotou, adquire personalidade jurídica a partir do


seu registro civil. (...) detém capacidade jurídica especial. (...), com personalidade
jurídica própria, e instituída por meio do contrato social, com o precípuo escopo de
exercer atividade econômica e partilhar lucros. 2

Já se sabe que a personalidade jurídica da sociedade é distinta da personalidade


jurídica de seus sócios. Na afirmação “A, B e C são sócios de D”, há quatro pessoas
distintas: A, B, C e D, todas distintas entre si, ainda que as três primeiras sejam
titulares de quotas ou ações da quarta, tendo o poder de deliberar, em reunião ou
assembleia, sobre o seu futuro e seus atos. Portanto, (1) há personalidade jurídica
própria da sociedade, distinta da personalidade jurídica de seus sócios; (2) há um
patrimônio jurídico – econômico e moral – próprio da sociedade, distinto do
patrimônio jurídico de seus sócios; e (3) há uma existência jurídica própria da
sociedade, distinta da existência jurídica de seus sócios, recordando-se de que a
pessoa jurídica existe entre o registro e a dissolução (incluindo liquidação e baixa no
registro), independentemente de seus sócios terem deixado de existir antes: sócios
pessoa jurídica, pela dissolução e baixa; sócios seres humanos, pela morte. 3

1
Acórdão n. 941358, 20141010076765APC, Relatora Desª. SIMONE COSTA LUCINDO FERREIRA, 1ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento:
11/5/2016, publicado no DJe: 25/5/2016, p. 142/157.
2
GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 2004, pág. 221.
3
MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. 7. ed. – São Paulo: Atlas, 2013, pág. 237.
Sendo assim, a personalidade jurídica da empresa é passível de sofrer condenação quando
configurada a responsabilidade objetiva na relação de consumo, como é o presente caso,
motivo pelo qual requer seja aplicado a responsabilidade objetiva e solidária à empresa ora
Requerida, reconhecendo a legitimidade passiva da mesma em permanecer no polo passivo
da presente ação.

- DA PRELIMINAR DE EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO PELA


NECESSIDADE DA PROVA PERICIAL
A Requerida alega acerca da necessidade de produção de prova pericial, e que esse ensejaria
motivo concreto para a extinção do processo com resolução do mérito. Ocorre que, a prova
pericial já está produzida, quais sejam os laudos, exames e imagens apresentadas no início do
processo. O Artigo 464 do CPC é claro quanto a isso:
4
A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação.

Ainda, no presente caso, as provas são contundentes para formar o juízo de valor do
Magistrado, sendo a prova pericial apenas um dos diversos tipos de provas. O § 2º do mesmo
artigo aduz que “de ofício ou a requerimento das partes, o juiz poderá em substituição à
perícia, determinar a produção de prova técnica simplificada, quando o ponto controvertido
for de menor complexidade. ” No caso, por exemplo há um laudo de radiologista diverso dos
atuantes que prova que foi colocado um pino na fossa nasal da paciente, o que demonstra o
desespero em que esse serviço fosse entregue de forma displicente, no laudo do ano de 2018
está explícito.

Mais a frente, no § 3º diz que “a prova técnica simplificada consistirá apenas na inquirição de
especialista, pelo juiz, sobre pontos controvertido da causa que demande especial
conhecimento científico ou técnico”, sendo esse o caso, porém, os laudos juntados e as
imagens são de fácil entendimento para entender o mérito da presente ação. A jurisprudência
acrescenta que:
PRELIMINARES. DO AFASTAMENTO DA REVELIA. Acolho a preliminar de afastamento
dos efeitos da revelia, pois a contestação foi apresentada tempestivamente. PROVA
PERICIAL NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. Arguida a necessidade de prova técnica. Os
elementos constantes dos autos são suficientes para o julgamento da lide,
revelando-se desnecessária a produção de prova pericial. Afastamento da
preliminar de incompetência absoluta deste Tribunal. MÉRITO. RESPONSABILIDADE
CIVIL. Fraude. Responsabilidade objetiva. Em se tratando de relação de consumo,
responde o banco objetivamente pelo defeito do serviço prestado. Má prestação do
serviço pelo banco que evidencia sua responsabilidade pelos danos causados. Dano
moral configurado. DANO MORAL. Hipótese em que, em razão da má prestação do
serviço pela ré, houve indevida negativação do nome da autora por valor que não era
devido. VALOR DA INDENIZAÇÃO. A indenização deve ser pautada por um binômio
negativo, nem constituir fonte de enriquecimento sem causa para a vítima, nem ser
insignificante ao causador do dano. Sentença mantida. Recurso improvido, com
observação. (Grifo meu). 4

Também, a prova oral, ou seja, testemunhal é de extrema importância para a produção de


provas, o que reitera desde já que a Requerente apresentará rol de testemunhas em tempo
oportuno, bem como requer seja afastado a extinção do processo sem resolução do mérito,
diante da desnecessidade de produção de prova pericial, bastando, portanto, apenas uma
prova técnica já produzida.
5

- DA ATIVIDADE DA CLÍNICA – INAPLICABILIDADE DO PRÍNCÍPIO DA


RESPONSABILIDADE OBJETIVA, DA DEMAIS ALEGAÇÕES
Estamos na seara consumerista, e, portanto, a responsabilidade objetiva é regra que se
impõe, por ser questão de ordem pública. O Código de Defesa do Consumidor adotou a
doutrina da responsabilidade objetiva e solidária como regra geral, com vistas a proteção dos
consumidores que detém a condição de vulnerabilidade em que se encontram diante dos
fornecedores. Como é o caso da Requerente, que em relação ao conhecimento dos
Requeridos, se qualifica em desvantagem.

A retirada, como regra, do pressuposto da culpa como elemento essencial do dever de


reparação do dano é garantia que se impõe no presente caso, ao impor a responsabilidade
objetiva, como regra, facilitando a reparação de danos eventualmente suportados pelos

4
TJ-SP - RI: 10007656320198260009 SP 1000765-63.2019.8.26.0009, Relator: Paulo Roberto Fadigas Cesar, Data de Julgamento: 29/07/2021,
1ª Turma Recursal Cível e Criminal, Data de Publicação: 29/07/2021.
consumidores. No sistema de responsabilidade objetiva basta a verificação do dano e o nexo
de causalidade entre a utilização do produto ou serviço oferecido no mercado de consumo. O
Artigo 14 do CDC é claro:

O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela


reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos.

O dano está configurado, uma vez que até a presente data a Requerente não está com
implantes, fazendo uso de prótese provisória, uma vez que todo o seu dinheiro foi empregado
na realização de um sonho, o que não foi possível diante da negligência dos Requeridos. A
questão da infalibilidade não deve ser aplicada ao presente caso, afinal, o fato é que os
profissionais que detêm conhecimento científico devem alertar o cliente dos riscos e não
iludir com esperanças que não poderiam ser alcançadas.

São dez anos que se passaram e nada de ver-se efetivado o serviço que foi pago para fazê-lo,
por parte dos Requeridos. Não se trata de curar, não se trata de uma doença, se trata de 6
conhecimento técnico aplicado. A Requerente não contratou cura, contratou serviços
odontológicos, pagou pelos mesmos e se viu sem resultado.

Se a paciente apresentava desde o início avançada perda óssea como alegado pela Requerida,
porque aceitou o serviço? O aceite significa que aceitou o risco. Mas o ponto principal é a
promessa que foi apresentada pelos Requeridos da realização do contratado. Não houve por
parte dos profissionais um cuidado em alertar a Requerente acerca dos riscos, pelo contrário,
a cada procedimento, pela forma que fora feito, por muitas vezes feito por profissional não
habilitado, como já relatado, e avisando em cima da hora, na correria, sem ao menos uma
preparação para o procedimento, deixou sequelas graves na Requerente. Sem falar que a
paciente foi abandonada, como já havia quitado o serviço, essa por sua vez sempre era
deixada de lado, e nada de resoluções à mesma.

Ainda, convém salientar que há reincidência por parte dessa clínica e dos profissionais, há
mais processos Processo 1 e Processo 2, espelhos acostados, onde os Requerentes pleiteiam o
mesmo objeto que a Requerente desse processo, o que requer seja juntado como prova
emprestada a fim de promover a formação do entendimento desse juízo.

- DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS


Diante do exposto, vem impugnar todas as alegações dos Requeridos de forma especifica,
conforme fundamentado item por item constante na petição, e reitera todos os pedidos da
exordial, afastando as preliminares e requerendo o prosseguimento do feito.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Caldas Novas - GO, 13 de setembro de 2021.

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(Assinado digitalmente)

Sanmatta Raryne Souza


OAB/GO nº 42.261

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