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PARECER JURÍDICO Nº 202/2019

Requerente: Super Líder Alimentos LTDA (representante legal – José Carlos


Heidemann Esser).

Objeto: Recurso Administrativo em razão de notificação no processo nº


130/2018 – Pregão nº 74/2018.

O requerente foi notificado, em 20/03/2019, tendo em vista o atraso na


entrega de mercadorias no supracitado processo licitatório (itens 48, 70 e 83),
motivo pelo qual, apresentou defesa aduzindo que as mercadorias foram entregues
em atraso, alegando equívoco e fato eventual, sendo reconhecida sua execução em
processos licitatórios com diversos municípios e que não se verifica com a imagem
da empresa tal fato.

Além da notificação extrajudicial que fazem parte dos autos, houve diversas
reclamações do servidor da Secretaria de Educação, Sr. Marlon Martins Freitas que,
após comparecimento neste setor jurídico que subscreve, salientou verbalmente o
descaso da empresa para o fornecimento dos itens solicitados e a manutenção da
sua afirmativa quanto ao prejuízo à administração ante a entrega em atraso dos
produtos.

Joeirou ao requerimento, nota fiscal dos produtos entregues posteriormente.

É, em síntese, o relato.

Passamos a análise.

Diante uma suposta ocorrência de falhas, fraude ou outro tipo de infração à


licitação ou ao contrato administrativo, que poderá ser identificada diretamente pelo
pregoeiro, fiscal ou gestor do Contrato, pelo recebimento de uma denúncia ou
reclamação de usuários dos serviços ou outro meio, é indispensável que haja a
abertura de processo administrativo específico para apurar as ocorrências.
Dessa forma, o exame dos fatos deve ser sempre averiguado por intermédio
da formalização de um processo administrativo, mesmo que diante de fortes indícios
de autoria e materialidade ou mesmo quando se entender pela não ocorrência da
infração, pois não cabe ao gestor um juízo pessoal e subjetivo sobre a situação, de
modo que venha suprimir a abertura de procedimento.

Nessa seara tem-se o princípio do devido processo legal que deve ser
interpretado à luz da Constituição de 1988, principalmente com supedâneo no art.
5º, incisos LIV e LV, os quais consagram a exigência de um processo formal regular
antes de a administração tomar decisões que tragam gravame e possam atingir a
liberdade e a propriedade. Ou seja, a Administração não pode proceder diretamente
a uma decisão que entenda cabível sem antes garantir o contraditório e a ampla
defesa, com os meios e os recursos a ela inerentes.

O procedimento de aplicação de sanções decorrente de comportamentos que


resultem em infrações administrativas têm regra geral, caráter preventivo, educativo
e repressivo. Outra finalidade é a reparação de danos pelos responsáveis que
causem prejuízos ao órgão ou entidade, bem como afastar um contexto de abuso de
direito proveniente de entidades privadas em desfavor da Administração,
objetivando, em última análise, a proteção ao erário e ao interesse público.

A Lei nº 8.666, de 1993 traz vários pressupostos que impõem ao


administrador público o dever de aplicar as sanções decorrentes de comportamentos
que violem a Lei ou o contrato, dos quais é possível citar alguns importantes cuja
base legal está disposta nos seguintes artigos, dentre outros:
“Art. 41. A administração não pode descumprir as normas e condições do
edital, ao qual se acha estritamente vinculada;”
“Art. 76. A Administração rejeitará, no todo ou em parte, obra, serviço ou
fornecimento executado em desacordo com o Contrato;”
“Art. 77. A inexecução total ou parcial do Contrato enseja a sua rescisão,
com as consequências contratuais e as previstas em lei ou regulamento;”
“Art. 81. A recusa injustificada do adjudicatário em assinar o Contrato,
aceitar ou retirar o instrumento equivalente, dentro do prazo estabelecido
pela Administração, caracteriza o descumprimento total da obrigação
assumida, sujeitando-o às penalidades legalmente estabelecidas;”
“Art. 86. O atraso injustificado na execução do Contrato sujeitará o
contratado à multa de mora, na forma prevista no instrumento convocatório
ou no Contrato;”
“Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato, a Administração
poderá, garantida a prévia defesa, aplicar ao contrato as seguintes sanções;

Os pressupostos relacionados aos procedimentos previstos para o Pregão


estão mencionados na Lei nº 10.520, de 2002 e no Decreto nº 5.450, de 2005, bem
como com os dispostos na Lei Geral de Licitações.

Nos termos do artigo 87 da Lei de Licitações, o requerente foi notificado para


apresentar manifestação quanto à notificação extrajudicial recebida, tendo recebido
noutra oportunidade advertência quanto ao atraso de entrega das mercadorias.

A ata de registro de preços firmada entre as partes, a qual tem força de


contrato administrativo, prevê em suas cláusulas 11.1.2, alínea b), a rescisão
unilateral do contrato após o décimo dia de atraso e 11.1.3, alínea b), a aplicação de
pena de multa de até 10% (dez por cento), sobre o valor da inexecução.

O servidor já mencionado, Sr. Marlon Martins Freitas recebeu em 24/06/2019


o memorando interno nº 123/2019 deste Setor Jurídico para posterior manifestação
acerca do recurso administrativo apresentado pelo requerente, informando e
indicando se ocorreram prejuízos ao Município em virtude dos atrasos, ao passo
que, comparecendo novamente na data de 25/06/2019 neste setor, alegou que iria
se abdicar de manifestação e verbalmente positivou prejuízos ao Município e às
unidades escolares, inclusive salientando erro na entrega dos produtos
anteriormente, o que denota a necessidade de aplicação das sanções cabíveis aos
fatos descritos.

Destacamos então, que pelo relato e comprovantes apresentados os atrasos


foram significativos e prejudicaram o andamento dos serviços da respectiva
Secretaria, portanto, deve haver penalização, pois evidente o descumprimento
reiterado, ao passo que a Secretaria de Educação enviou AF, tendo recebido os
produtos muito além do prazo previsto para entrega.

Ante o exposto, este Setor Jurídico, opina pela aplicação de rescisão


contratual por ato unilateral e penalidade de multa, descrita no Artigo 79, inciso I c/c
da Lei nº 8.666/93 cláusula 11ª – Das Penalidades e Das Multas, e Artigo 87, inciso
II, da Lei nº 8.666/93 c/c cláusula 11ª – Das Penalidades e Das Multas, ou seja,
aplicação da pena de multa no valor de 10% dos itens em que a entrega ocorreu
com atraso, 95kg de queijo – Item 83, totalizando no pedido o valor de R$ 883,50,
100 embalagens de mingau – Item 70, totalizando pedido de R$ 299,00 e 300kg de
feijão – Item 48, totalizando no pedido R$ 900,00.

Os 10% de multa somam a quantia de R$ 208,25 (duzentos e oito reais e


vinte e cinco centavos), multa que me parece proporcional para atender o caráter
preventivo, educativo e repressivo para o caso em tela em virtude da entrega,
porém, com atraso da mercadoria pleiteada.

É o parecer, s.m.j.

Orleans, 03 de julho de 2019.

Mairon Eing Orben


OAB/SC 31.603
DECISÃO ADMINISTRATIVA – PARECER JURÍDICO Nº 202/2019

Adoto o parecer jurídico como razões de decidir, homologando-o.

Julgo improcedente o recurso nos termos do parecer, diante da falta de


justificativa plausível.

DECIDO:

a) Primeiramente, seja aplicada multa prevista no Artigo 87, inciso II, da Lei nº
8.666/93 c/c cláusula 11ª – Das Penalidades e Das Multas, de 10% sobre o valor
total dos itens entregues em atrasa, devendo o Setor de Tributação emitir a guia
para pagamento da penalidade. Portanto a penalidade será de R$ 208,25 (duzentos
e oito reais e vinte e cinco centavos);

b) Subsidiariamente, a rescisão contratual por ato unilateral, conforme prevê o


Artigo 79, inciso I, da Lei nº 8.666/93.

Cientifique-se primeiramente o requerente acerca da penalidade aplicada e da


rescisão contratual por ato unilateral adotada por este ente público, após, aos
setores competentes para efetivação deste parecer.

Orleans, 03 de julho de 2019

Jorge Luiz Koch


Prefeito de Orleans

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