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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS - FACULDADE DE DIREITO

DIREITO ADMINISTRATIVO – T51


PROF. CELSO LUIZ MORESCO

CAMILA SILVA ROCHA


GABRIEL AZEVEDO PEREIRA
HENRIQUE BORDIN VILELA
JULIO AUGUSTO JESUS LOPEZ
THALIA ALVES COELHO

Contratos administrativos: cláusulas obrigatórias; prazo de vigência e privilégios


(cláusulas exorbitantes) da Administração Pública.
Assim como nos trabalhos anteriores, em grupos de até cinco integrantes, façam um
estudo sobre os itens acima indicados e remetam para o email:
celsoluizmoresco@gmail.com na prazo abaixo indicado.

Resposta:
Primeiramente, é necessário levar em conta que a Lei nº 14.133 de 2021 prevê a
revogação da Lei nº 8.666 de 1993 após 2 anos da sua publicação. Portanto, as alterações
trazidas pela nova lei passarão obrigatoriamente a valer a partir desse prazo, mas os
contratos celebrados antes da nova lei continuarão regidos pela lei anterior. Nesse sentido,
apresentaremos os três pontos a serem abordados sobre os contratos administrativos em
relação à lei vigente e faremos uma comparação com a nova lei de licitações.
As cláusulas obrigatórias são aquelas consideradas indispensáveis para todo
contrato administrativo, sob pena de nulidade. Estão estabelecidas no art. 55 da Lei
8.666/93, e são as seguintes:
a) o objeto e seus elementos característicos;
b) o regime de execução ou a forma de fornecimento;
c) o preço e as condições de pagamento, os critérios, data-base e periodicidade
do reajustamento de preços, os critérios de atualização monetária entre a
data do adimplemento das obrigações e a do efetivo pagamento;
d) os prazos de início de etapas de execução, de conclusão, de entrega, de
observação e de recebimento definitivo, conforme o caso;
e) o crédito pelo qual correrá a despesa, com a indicação da classificação
funcional programática e da categoria econômica;
f) as garantias oferecidas para assegurar sua plena execução, quando
exigidas;
g) os direitos e as responsabilidades das partes, as penalidades cabíveis e os
valores das multas;
h) os casos de rescisão;
i) as condições de importação, a data e a taxa de câmbio para conversão,
quando for o caso;
j) a vinculação ao edital de licitação ou ao termo que a dispensou ou a inexigiu,
ao convite e à proposta do licitante vencedor;
k) a legislação aplicável à execução do contrato e especialmente aos casos
omissos;
l) a obrigação do contratado de manter, durante toda a execução do contrato,
em compatibilidade com as obrigações por ele assumidas, todas as
condições de habilitação e qualificação exigidas na licitação;
m) cláusula que declare competente o foro da sede da Administração para
dirimir qualquer questão contratual (§ 2º).
A Nova Lei de Licitações traz algumas mudanças em relação às cláusulas
obrigatórias. Há uma troca de termos: não há mais menção a casos de rescisão, mas sim a
casos de extinção. Ainda conforme o art. 92, Lei 14.133/21, passam a ser cláusulas
obrigatórias:
a) os critérios e a periodicidade da medição, quando for o caso, e o prazo para
liquidação e para pagamento;
b) a matriz de risco, quando for o caso;
c) o prazo para resposta ao pedido de repactuação de preços, quando for o
caso;
d) o prazo para resposta ao pedido de restabelecimento do equilíbrio
econômico-financeiro, quando for o caso;
e) o prazo de garantia mínima do objeto, observados os prazos mínimos
estabelecidos nesta Lei e nas normas técnicas aplicáveis, e as condições de
manutenção e assistência técnica, quando for o caso;
f) os direitos e as responsabilidades das partes, as penalidades cabíveis e os
valores das multas e suas bases de cálculo;
g) a obrigação de o contratado cumprir as exigências de reserva de cargos
prevista em lei, bem como em outras normas específicas, para pessoa com
deficiência, para reabilitado da Previdência Social e para aprendiz;
h) o modelo de gestão do contrato, observados os requisitos definidos em
regulamento.
O prazo de vigência diz respeito à duração dos contratos administrativos, sendo
que estes não podem ser indeterminados. O artigo 57 da Lei 8.666/93 dispõe sobre o
assunto, afirmando que a regra geral para o prazo de duração do contrato é a duração do
crédito orçamentário, considerando a natureza da Lei Orçamentária Anual pode-se entender
que a vigência máxima é de um ano.
Os incisos que seguem o caput do artigo criam exceções à regra geral. Os projetos
contemplados nas metas do Plano Plurianual não seguem essa limitação temporal por força
do inciso I, porque o PPA vigora por quatro anos. Os serviços de natureza contínua (e.g.
serviço de segurança a um órgão público), segundo o inciso II, podem ser prorrogados de
forma sucessiva por até um total de 60 meses. O contrato para aluguel de equipamentos e
o contrato para utilização de programa de computador podem estender-se até 48 meses,
como indica o inciso IV. O inciso V apresenta o prazo máximo de 120 meses para alguns
contratos referidos dentro do artigo 24, que dispõe sobre a dispensabilidade da licitação,
esses contratos são relativos ao IX (aqueles que dispensam licitações por importância a
segurança nacional), XIX (referente a material das forças armadas, excluídos o de uso
pessoal e administrativo), XXVIII (referente a bens ou serviços de complexidade tecnológica
sobre defesa nacional) e XXXI (referente à pesquisa científica e à inovação tecnológica,
conforme a Lei 10.973/2004).
O artigo 57 ainda permite em seu parágrafo 1º a prorrogação das etapas desde que
ocorram por razão de uma das hipóteses dos seis incisos que o seguem. O parágrafo 4º
permite uma prorrogação excepcional dos contratos de serviço contínuo por até 12 meses
além do limite de 60 meses, desde que propriamente justificada e feita através de
autorização de autoridade superior.
A nova lei de licitações dedica o Capítulo V do Título III (artigos 105 a 114 da Lei
14.133/21) para dispor sobre a duração dos contratos administrativos, introduzindo diversas
mudanças. A mudança que mais merece destaque é a desvinculação da vigência contratual
ao crédito orçamentário no artigo 105, ainda é necessário a observação do crédito
orçamentário na LOA ou ainda no PPA nos casos de contrato que ultrapasse o exercício
financeiro, porém a vigência do contrato não está mais ligada diretamente ao exercício do
orçamento. Ainda segundo o artigo 105, o prazo precisa ser fixado no edital.
Outra alteração que merece atenção é a possibilidade do contrato de serviço de
prestação continuada ser já de início celebrado com o prazo de cinco anos (artigo 106), e
não mais ter que ser prorrogado todo exercício financeiro até o máximo de cinco anos (60
meses), situação que causava certa insegurança na legislação anterior, agora existe apenas
a necessidade de atestar a existência de créditos em cada novo exercício (art. 106, II). O
aluguel de equipamentos e utilização de programas informáticos, por força do § 2º desse
artigo, agora tem os mesmos prazos que os serviços continuados. O artigo 107, permite
para esse tipo de contrato a prorrogação até o máximo de dez anos, desde que previsto no
edital essa possibilidade e a existência da vantagem para a administração. O artigo 108 da
nova lei também estabelece o prazo máximo de dez anos para certas hipóteses idênticas às
da lei anterior (artigo 57, V, Lei 8.666/1993). Essas hipóteses estão presentes no novo
documento nas alíneas “f” e “g” do inciso IV e nos incisos V, VI do caput do artigo 75,
adicionando agora ao prazo de dez anos as seguintes casos também do artigo 75:

XII - para contratação em que houver transferência de tecnologia de produtos estratégicos


para o Sistema Único de Saúde (SUS), conforme elencados em ato da direção nacional do
SUS, inclusive por ocasião da aquisição desses produtos durante as etapas de absorção
tecnológica, e em valores compatíveis com aqueles definidos no instrumento firmado para a
transferência de tecnologia;

XVI - para aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de insumos estratégicos
para a saúde produzidos por fundação que, regimental ou estatutariamente, tenha por
finalidade apoiar órgão da Administração Pública direta, sua autarquia ou fundação em
projetos de ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento institucional, científico e tecnológico
e de estímulo à inovação, inclusive na gestão administrativa e financeira necessária à
execução desses projetos, ou em parcerias que envolvam transferência de tecnologia de
produtos estratégicos para o SUS, nos termos do inciso XII do caput deste artigo, e que
tenha sido criada para esse fim específico em data anterior à entrada em vigor desta Lei,
desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado.

Diferente da antiga lei, a Lei 14.133 expressamente permite o contrato para prazo
indeterminado, permitido apenas nos casos em que a administração seja usuária de serviço
público ofertado em regime de monopólio (artigo 109).
O artigo 110 estabelece os prazos de vigência dos contratos que gerem receita e os
de eficiência que gerem economia para a Administração. Dez anos é o prazo no caso que
não haja investimento e trinta e cinco anos é o prazo nos contratos com investimentos que,
segundo a lei, são aqueles que impliquem na elaboração de benfeitorias permanentes que
serão revertidas em patrimônio da administração ao fim do contrato e realizadas
exclusivamente ao ônus do contratado. Nos contratos que prevêem a conclusão de escopo
predefinido, o prazo de vigência será prorrogado automaticamente se o objeto não for
concluído no período determinado (artigo 111), o parágrafo único visa sobre as
consequências da culpa do contratado no atraso.
A lei inova ao criar a possibilidade de serviço associado, definido pelo inciso XXXIV
do artigo 6º da lei como: “regime de contratação em que, além do fornecimento do objeto, o
contratado responsabiliza-se por sua operação, manutenção ou ambas, por tempo
determinado;”. Dessa forma, o artigo 113 regula seu prazo de vigência como a soma do
prazo do fornecimento inicial com o do prazo do fornecimento associado, com prazo
máximo desse segundo de cinco anos contados desde a entrega do objeto inicial, permitida
a prorrogação nos mesmos termos dos serviços contínuos.
O contrato de operação continuada de sistemas estruturantes de tecnologia de
informação tem a vigência máxima de até 15 anos (artigo 114). Ainda é bom destacar que o
artigo 112 não exclui os prazos de contratos previstos em lei especial.
Por fim, as cláusulas exorbitantes dizem respeito às prerrogativas exclusivas da
Administração e que lhe conferem um patamar de desigualdade frente ao particular. Estão
insculpidas no art. 58 da Lei 8.666/93, e são:
a) Cláusulas de alteração unilateral: são aquelas que permitem que a
Administração Pública faça uma modificação unilateral, com o objetivo de se
adequar ao interesse público, mas respeitando limites e os direitos do
contratado.
b) Cláusulas de rescisão unilateral: são as que permitem a rescisão do contrato,
conforme o art. 78, I, XII e XVIII, também o art. 79, I.
c) Cláusulas de fiscalização de execução: permite que haja uma fiscalização na
execução do contrato por um representante da Administração Pública,
conforme o art. 67.
d) Cláusulas de aplicação direta de sanções: são previstas no edital do
contrato, permite a aplicação de sanções pela inexecução parcial ou total do
ajuste, conforme os arts. 86 e 87, I, II e IV.
e) Cláusulas de ocupação provisória de bens, pessoal e serviços vinculados ao
objeto do contrato: há a necessidade de que sejam apuradas as faltas
contratuais pelo contratado, bem como hipótese de rescisão do contrato
administrativo, conforme o art. 58, V e art. 80, II e §3.
f) Cláusulas de restrições ao uso do princípio da exceptio non contractus
(exceção do contrato não cumprido): é quando a Administração Pública tem
o poder de exigir que o outro contratante cumpra a sua parte no contrato,
mesmo que a própria Administração Pública não tenha cumprido a sua parte
ainda. Esse poder pode conter algumas limitações, conforme o art. 78, V, XIV
e XV.
g) Cláusulas de exigência de garantia: é quando o contratado precisa dar uma
garantia a Administração Pública para que haja a celebração dos contratos
conforme o art.56.
h) Cláusulas de medidas de compensação: estas são encontradas no art. 3º,
§11,“os editais de licitação para a contratação de bens, serviços e obras
poderão, mediante prévia justificativa da autoridade competente, exigir que o
contratado promova, em 3 favor de órgão ou entidade integrante da
administração pública ou daqueles por ela indicados a partir de processo
isonômico, medidas de compensação comercial, industrial, tecnológica ou
acesso a condições vantajosas de financiamento, cumulativamente ou não,
na forma estabelecida pelo Poder Executivo federal”.
A Lei 14.133/21, em seu art. 104, estabelece as prerrogativas da Administração, que
é quase idêntica ao dispositivo relativo da lei anterior, contendo as seguintes diferenças:
prerrogativa de extingui-los, unilateralmente, nos casos especificados nesta Lei (inciso II);
ocupar provisoriamente bens móveis e imóveis e utilizar pessoal e serviços vinculados ao
objeto do contrato nas hipóteses de risco à prestação de serviços essenciais (inciso V, a).

Referência:
ALBUQUERQUE,Rodolfo. Contratos Administrativos e Controle da Administração
Pública- Sobre Cláusulas Exorbitantes e Improbidade Administrativa. Sobral.Jusbrasil,2021.
Acessado 18. Abr. 2021. Disponível em:
<https://rodolfoalbuquerquesilva.jusbrasil.com.br/artigos/1160146143/contratos-administrativ
os-e-controle-da-administracao-publica >

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