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─ Dos defeitos e da invalidade dos negócios jurídicos
● Parte patológica dos negócios jurídicos: seus defeitos e invalidades.
● os defeitos (ou vícios) dos negócios jurídicos são situações que o tornam passível de
anulação (art. 171,II) ⇒ pois sua existência atesta, ou uma declaração de vontade
emitida sem consciência ou liberdade, ou uma intenção de lesar credores.
● dois tipos de defeitos:
a. Defeitos de consentimento → a vontade das partes não deve oportunidade
de se expressar consciente e livremente. Subdividem-se em:
1. Defeitos internos de consentimento → cuja existência não se deve à
conduta da outra parte (má-fé), mas apenas à má formação da
vontade por parte do sujeito lesado.
● Erro ou ignorância (arts. 138 a 144) → a falsa representação,
na mente do declarante, a respeito da realidade do negócio
jurídico. ⇒ deve apresentar duas características: 1. ser
substancial; 2. ser escusável.
● Lesão (art. 157) → fato de uma pessoa, movida por premente
necessidade ou inexperiência, se vincular a obrigação
manifestamente desproporcional em relação a obrigação da
outra parte. ⇒ dois requerimentos: 1. subjetivo; 2. objetivo. ⇒
(natureza personalista do código; proteção da pessoa
humana).
2. Defeitos externos de consentimento → cuja existência se deve à
conduta a outra parte, i.e., à má-fé do sujeito que negocia. São:
● Dolo (arts. 145 a 150) → indução em erro de uma parte do
negócio jurídico. ⇒ principal ou acidental (somente o primeiro
pode ser anulado; o segundo cabe indenização).
● Coação (arts. 151 a 155) → constrangimento da vontade da
parte declarante, através da ameaça de violência física ou
moral, feita pelo próprio destinatário de declaração ou por
terceiro.
● Estado de perigo (art. 156) → fato de que o sujeito declara
assumir obrigação excessivamente onerosa, por estar sua
vontade constrangida por necessidade premente de salvar-se,
ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido do
declaratário.
b. Defeito social → ocorre pela constatação de que uma das partes está
causando (ou pretende causar) a diminuição do seu patrimônio para impedir
que seus bens sejam objeto de constrição judicial na satisfação dos direitos
dos credores.
● Fraude contra credores (arts. 158 a 165) → defeito do negócio jurídico
de alienação de bens do patrimônio do devedor insolvente.
● Os defeitos dos negócios jurídicos, mas não apenas eles, constituem situações
(fatos jurídicos) que, uma vez ocorridas e devidamente reconhecidas pelo poder
judiciário, produzem a invalidade dos negócios jurídicos em geral. Assim sendo,
devemos considerar que a natureza jurídica da invalidade é a sanção jurídica. ⇒ (há
entendimentos contrários na ciência do direito).
● Negócio jurídico inválido é aquele aquele que não preenche determinado requisito
de validade ─ geral (art. 104) ou especial (art. 108) ─ ou apresenta defeito de
consentimento ou defeito social.
● Existem dois graus de invalidade (sanções) para os negócios jurídicos:
a) Nulidade (arts. 166 e 167) ⇒ art. 167: “simulado é o negócio jurídico que
aparenta ter sido praticado para produzir os efeitos declarados, mas que
oculta intenção diversa de ambas as partes e prejudica terceiros não
participantes; pode ser relativa ou absoluta; causa de nulidade (e não defeito)
em ambos os casos (eticidade do código).” (Gonçalves).
b) Anulabilidade (art. 171) → “I - por incapacidade relativa do agente; II- Por
vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo ou fraude contra os
credores.”
● Principais distinções:
Nulidade Anulabilidade
Pode ser alegada por qualquer interessado, Pode ser alegada, a princípio, pelo
ou pelo MP, ou couber (art. 168, caput). interessado (art. 177).
Não é suscetível de confirmação, nem Pode ser confirmado pelas partes (arts. 172
convalesce pelo decurso do tempo (art. e 173).
169).
Sentença judicial produz eficácia (efeitos) Sentença judicial produz eficácia (efeitos)
ex tunc (retroativos) e erga omnes. ex nunc (não retroativos) e inter partes.
Pode ser pronunciada de ofício pelo juiz. Não pode ser pronunciada de ofício pelo
juiz (art. 177).
─ Dos atos jurídicos lícitos: art. 185, CC/02
● regra da remissão ⇒ Construção das normas gerais sobre os atos jurídicos lícitos
(atos jurídicos stricto sensu ou meramente lícitos) → art. 185: “aos atos jurídicos
lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições
do Título anterior”. ⇒ aplica-se principalmente as regras gerais sobre validade (art.
104), representação, invalidade etc.
─ Dos atos ilícitos: o ato ilícito stricto sensu (art. 182)
● atos ilícitos lato sensu subdividem-se em: a) ato ilícito stricto sensu; b) abuso de
direito; c) negócios jurídicos inválidos ⇒ nos dois primeiros, a ilicitude do ato
acarreta o mesmo tipo de sanção, prevista no art. 927, caput: o dever de indenizar
ou responsabilidade civil.
● a existência do ato jurídico stricto sensu está associada à presença do elemento
“culpa”.
● culpa lato sensu (dolo ou culpa stricto sensu) como elemento formador do ato ilícito
stricto sensu, que vem a ser o fundamento da responsabilidade civil subjetiva.
● dano moral como espécie de dano indenizável.
● a pessoa lesada deve provar, além da lesão (dano material e/ou moral):
a) o nexo causal entre o dano e a conduta voluntária do agente;
b) a culpa lato sensu do agente, i.e., a inobservância a um dever geral de
conduta (a culpa stricto sensu, que se caracteriza pela negligência, pela
imprudência ou pela imperícia) ou a intenção de lesar outrem (o dolo).
─ Dos atos ilícitos: o abuso de direito como ato jurídico ilícito (art. 187)
● elementos caracterizadores:
a) a irregularidade (ou excesso) manifesto no ato de exercer um direito;
b) o exercício de um direito que ultrapassa limites de natureza social (finalidade
econômica e social; boa-fé ou bons costumes).
● Teoria Objetiva do Abuso de Direito, i.e., do abuso de direito como ato jurídico ilícito
não culposo.
● responsabilidade civil objetiva (independe da verificação de culpa lato sensu).
─ Dos atos ilícitos: as excludentes da ilicitude (art. 188)
● as espécies de excludentes da ilicitude (não responsabilidade) são:
a) legítima defesa → art. 188, primeira parte;
b) exercício regular de um direito → art. 188, I, in fine;
c) estado de necessidade → art. 188, II.
● o art. 188 deve ser compreendido à luz do que dispõem os arts. 929 e 930.
─ Prescrição e a decadência como fatos jurídicos que extinguem relações jurídicas
● são fatos jurídicos extintivos de determinadas relações jurídicas.
● distinção entre prescrição e decadência: “resolveu-se enumerar, na Parte geral, os
casos de prescrição, em numerus clausus, sendo as hipóteses de decadência
previstas em imediata conexão com a disposição normativa que a estabelece”
(Reale).
─ A violação do direito, a pretensão e a prescrição
● art. 189: definição de prescrição ⇒ “Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a
pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205
e 206 .”
● o direito subjetivo de alguém ─ reconhecido pela lei ou por manifestação de vontade
─ pode ser violado pela conduta (ação/omissão) de outrem. ⇒ Surge para o titular
do direito violado um direito subjetivo de natureza material chamado pretensão, que
pode ser definido como o direito de uma pessoa exigir uma conduta de quem viola
direito reconhecido pelo ordenamento jurídico.
● a prescrição é o fato jurídico extintivo de um direito material (a pretensão) e não de
uma faculdade processual (direito à ação judicial).
─ A decadência e os direitos potestativos
● A decadência (ou caducidade) impossibilita o exercício de outra categoria de direitos
subjetivos distinta da pretensão. ⇒ São os direitos potestativos (ou formativos), i.e.,
direitos que conferem ao respectivo titular o poder de influir ou determinar mudanças
na esfera jurídica de outrem, por ato unilateral, sem que haja dever correspondente,
apenas uma sujeição.
● Direitos potestativos não se confunde com pretensão, pois nesta se exige uma
conduta do devedor, enquanto aquele opera por si, bastando seu exercício para
produzir o efeito gerador, modificativo ou extintivo, por via judicial ou extrajudicial.
● prazos prescricionais foram dispostos exclusivamente nos arts. 205 e 206; todos os
demais (previstos nas partes geral e especial) são de natureza decadencial.
─ As pretensões e os direitos potestativos não-sujeitos à prescrição e à decadência
● o titular desses direitos pode exigir de outrem determinada conduta e/ou praticar o
ato correspondente ao conteúdo do direito a qualquer tempo ⇒ “imprescritíveis”. ⇒
exemplos:
a) as que se prendem ao estado das pessoas.
b) as de exercício facultativo (ou potestativo), em que não existe direito violado,
como as determinadas a extinguir condomínio.
c) as que protegem direito de propriedade e podem ser deduzidas em juízo por
meio de ação reivindicatória.
d) as de reaver bens confiados à guarda de outrem a título de depósito , penhor
ou mandato.
e) as que protegem os direitos da personalidade.
─ A distinção entre prescrição, preclusão e perempção
● a prescrição é perda de um direito subjetivo material (pretensão)
● preclusão e perempção são fatos jurídicos extintivos de direitos (ou faculdades)
processuais.
- Preclusão: perda de uma faculdade processual, por não ter sido exercida no
momento próprio.
- Perempção: perda de direito de ação pelo autor contumaz, que deu causa a
três arquivamentos sucessivos.
─ As principais diferenças entre os prazos prescricionais e decadenciais
● ambos são fatos jurídicos cuja existência depende sempre do transcurso de um
determinado lapso temporal chamado prazo (art. 132).
● principais diferenças:
a) Prazos prescricionais apresentam-se em numerus clausus, são apenas os
previstos no art, 205 (prazo geral) e no art. 206 (prazos especiais); todos os
demais são decadenciais;
b) A contagem dos prazos prescricionais está sujeita a impedimentos (art. 197 a
201), suspensões (art. 197 a 201) ou interrupções (arts. 202 a 204); os
prazos decadenciais não sofrem nenhum desses tipos (art. 207);
c) Os prazos prescricionais (que são apenas fixados por lei), não podem ser
alterados em negócio jurídico (art. 192), ao passo que os prazos
decadenciais podem ser fixados por lei e também por negócio jurídico (art.
211).
● não há distinção entre os prazos prescricionais e decadenciais quanto ao
conhecimento ex officio pelo magistrado.
● os impedimentos são fatos que uma vez ocorridos, obstam o início da contagem do
prazo; as suspensões e as interrupções, ao contrário, são situações que obstam o
prosseguimento de prazo já em curso.
- Nas suspensões, o prazo pára de correr e, finda a causa suspensiva, retorna
seu curso pelo tempo que resta para a prescrição.
- Nas interrupções, que só podem ocorrer uma vez, o prazo pára de correr e
finda a causa interruptiva, reinicia do termo inicial sua contagem.
FIM