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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS - FACULDADE DE DIREITO

DIREITO ADMINISTRATIVO – T51 – PROF. CELSO LUIZ MORESCO


SEGUNDA PROVA
CAMILA SILVA ROCHA
GABRIEL AZEVEDO PEREIRA
HENRIQUE BORDIN VILELA
JULIO AUGUSTO JESUS LOPEZ
THALIA ALVES COELHO

Questão 1) Quais os sujeitos obrigados a licitar, quais os sujeitos que não estão obrigados
a licitar e quais os objetos que estão alijados do processo licitatório estabelecido pela Lei
14.133/21. Apenas cite.
Resposta:
A obrigatoriedade de licitar é encontrada no art. 37,XXI da CF/88, onde determina
que as compras públicas só podem ser realizadas através de licitação. Na Lei n°
14.133/2021, são obrigados a licitar conforme o art. 1°e os incisos I e II, a Administração
Pública Direta, Autarquias e fundacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, Fundos Especiais, Entidades Controladas Direta ou Indiretamente pela
Administração Pública.
Os sujeitos não obrigados a licitar, se encontram no art. 75 da Lei n° 14.133/2021,
que trata da Dispensa de Licitação:
a) Em função do valor (dispensa por baixo valor): Valores inferiores a R$ 100.000,00 no
caso de obras, serviços de engenharia, ou serviços de manutenção de veículos e
automotores. Valores inferiores a R$ 50.000,00 no caso de outros serviços e
compras. Dobro do consórcio público e agência executiva, (incisos I e II).
b) Licitação deserta ou fracassada: É dispensada quando a licitação realizada a menos
de um ano, quando não surgiram licitantes interessados (deserta) ou quando não
foram apresentadas propostas válidas (fracassada), (inciso III,alíneas a, b).
c) Emergência ou calamidade pública: Quando há urgência de atendimento para evitar
risco de prejuízo, comprometimento da continuidade dos serviços públicos, etc.
Somente para atendimento de situação emergencial ou calamitosa. Para assegurar
a continuidade (apuração de responsabilidade). O contrato tem prazo de até um
ano, a contar da ocorrência do fato e é vedada a prorrogação dos respectivos
contratos e recontratação de empresa já contratada, (inciso VII).
d) Comprometimento da segurança nacional: Em casos estabelecidos pelo Ministério
da Defesa, ou também mediante demanda das Forças Armadas ou de demais
ministérios, (inciso VI).
e) Situações graves: Situações como guerra, estado de sítio, estado de defesa,
intervenção federal ou de grave perturbação da ordem, (inciso VII).
f) Intervenção: Quando há intervenção por parte da União no domínio econômico,
(inciso X).
g) Em função do objeto: Bens ou componentes de origem nacional ou estrangeira para
manutenção de equipamentos (garantia técnica); termos de acordo internacional
aprovados pelo Congresso Nacional; Produtos para pesquisa e desenvolvimento (se
for obra ou serviço de engenharia com limite de 300 mil); Hortifrutigranjeiro, pães e
outros produtos perecíveis até que a licitação se conclua; Coleta, processamento e
comercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis
(associações ou cooperativas formada por pessoas de baixa renda); Aquisição ou
restauração de obras de arte e objetos históricos, com autenticidade certificada e
inerente às finalidades do órgão ou com elas compatível; Aquisição de
medicamentos destinados ao tratamento de doenças raras definidas pelo Ministério
da Saúde; Transferência de tecnologia de produtos estratégicos para o Sistema
Único de Saúde (SUS), (inciso IV, alíneas a,b,c,d,e, f, g, h, i, j, k, l, m).
h) Em função da pessoa: Aquisição por Pessoa Jurídica de direito público interno de
bens ou serviços prestados por órgão ou entidade da Administração Pública, criada
para este fim conforme preço de mercado; Celebração de contrato de programa,
conforme contrato de consórcio público ou convênio de cooperação; Contratação de
profissionais para compor comissão de avaliação de critérios de técnica, quando se
trata de profissional técnico de notória especialização; Contratação de associação
de pessoas com deficiências, sem fins lucrativos e de comprovada idoneidade,
desde que os serviços sejam prestados pelas pessoas com deficiência, (incisos IX,
XI, XIII e XIV).
Os objetos alijados do processo licitatório se encontram nos arts. 3 e 74 da Lei
n°14.133/2021. Conforme o art. 3, não se subordinam a esta lei (não se aplicam) os
contratos de operação de crédito e gestão da dívida pública, também não se aplicam às
contratações sujeitas à legislação própria.
Conforme o art. 74 é inexigível a licitação em alguns casos como:
a) Aquisição de materiais, equipamentos, ou de gêneros ou contratação de serviços
que só possam ser fornecidos por produtor,empresa ou representante comercial
exclusivo (inciso I);
b) Contratação de profissional do setor artístico, diretamente ou por meio de
empresário exclusivo (inciso II);
c) Contratação de serviços técnicos especializados de natureza predominantemente
intelectual prestados por profissionais ou empresas de notória especialização (III,
alíneas a, b, c, d, e, f, g, h );
d) Objetos que devam ou possam ser contratados por meio de credenciamento (inciso
IV);
e) Aquisição ou locação de imóvel cujas as características de instalações e de
localização tornem necessária sua escolha (inciso VI, §§ 1,2,3,4 e 5, incisos I,II e III).

Questão 2) Quais as modalidades e o procedimento estabelecido para cada uma delas de


acordo com a Lei 14.133/21?
Resposta:
Tendo em vista a necessidade que a administração pública possui em licitar, para a
aquisição de bens e serviços, bem como à realização de obras e serviços, os
procedimentos de licitação estão previstos no art. 17, inciso I ao VII da lei nº 14.133/21.
Nesse sentido, primeiramente, temos uma fase preparatória da licitação, que é o momento
em que, para realizar a licitação e o contrato, a administração pública realiza a diretriz
orçamentária, planejamento, objetivos, documentos e partes integrantes a serem fixados no
edital, tendo em vista que o edital é um mecanismo que conecta-se aos licitantes e à
administração pública, é este mecanismo que rege as suas relações, pois para realizar a
licitação, é necessário que ambos sigam os seus preceitos estabelecidos.
Ainda, o edital definirá os documentos necessários aos licitantes, para que estes
participem do processo licitatório. Havendo a aprovação do edital, partimos para a segunda
etapa prevista no inciso II, que é a fase de divulgação do edital, dando início àquilo que era
conhecido como fase externa, momento em que são convocados os interessados para
participar do processo licitatório. A próxima fase compreende a fase de apresentação das
propostas ou lances, se for o caso (inciso III), seguido da fase de julgamento das mesmas
(inciso IV). Em seguida temos a fase de habilitação dos licitantes (inciso V), com a entrega
da documentação exigida para participar do certame. Na sequência temos a fase recursal
(inciso VI), que passa a ser realizada em um único momento conforme a inovação da Lei
14.133/21. Por fim temos a fase de homologação (inciso VII), também chamada de
encerramento, que é a fase em que a autoridade competente irá analisar a legalidade do
procedimento, determinar o saneamento, podendo revogar, anular ou ainda homologar e
adjudicar o objeto.
A Lei 14.133/21 ainda inova, prevendo a possibilidade de inversão da fase de
habilitação com a fase de julgamento ou com a fase de apresentação das propostas, desde
que essa inversão seja prevista expressamente no edital (art. 17, §1º) e o ato seja
motivado. A nova lei também consolida a preferência no uso dos meios eletrônicos, sendo
necessária a motivação para a realização na forma presencial (art. 17, §§2º, 4º e 5º).
As modalidades de licitação estão previstas no art. 28, inciso I ao V da Lei nº
14.133/21, que são: pregão, concorrência, concurso, leilão e diálogo competitivo. Em
relação à Lei nº 8.666/93, não existem mais as modalidades da tomada de preços e o
convite. Também foi introduzida uma diferença em relação à definição da modalidade de
licitação, que deverá ser feita em razão de seu objeto, não havendo mais as restrições de
valores como previa o artigo 23 da Lei nº 8.666/93.
Como primeira modalidade licitatória temos o pregão, estabelecido no inciso I do
referido artigo 28, que visa a contratação de bens e serviços à administração pública,
utilizando-se de pressupostos econômicos por meio da ideia da aquisição do bem pelo
menor preço ou pela melhor oferta. Sua definição está inscrita na Lei nº 14.133/21 pelo art.
6º, inciso XLI: “pregão: modalidade de licitação obrigatória para aquisição de bens e
serviços comuns, cujo critério de julgamento poderá ser o de menor preço ou o de maior
desconto”. Pelo artigo 29, o pregão segue o rito procedimental comum estabelecido pelo
artigo 17, discutido anteriormente.
A segunda modalidade é a concorrência, estabelecida no inciso II do referido artigo
28 e cuja definição é trazida pelo art. 6º, inciso XXXVIII como a “modalidade de licitação
para contratação de bens e serviços especiais e de obras e serviços comuns e especiais de
engenharia” e cujos critérios de julgamento, descritos nas alíneas, podem ser: menor preço,
melhor técnica ou conteúdo artístico, técnica e preço, maior retorno econômico ou maior
desconto. Seu rito procedimental também segue o artigo 17, por força do artigo 29, assim
como o pregão.
Já o concurso, estabelecido no inciso III do referido artigo 28, é definido como
“modalidade de licitação para escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, cujo critério
de julgamento será o de melhor técnica ou conteúdo artístico, e para concessão de prêmio
ou remuneração ao vencedor” (art. 6º, XXXIX). O edital do concurso deverá indicar a
qualificação exigida dos participantes, as diretrizes e formas de apresentação do trabalho e
as condições de realização e o prêmio ou remuneração a ser concedida ao vencedor (art.
30). Em se tratando de concursos destinados à elaboração de projeto, reza o parágrafo
único do art. 30 que o vencedor deverá ceder à Administração Pública, todos os direitos
patrimoniais relativos ao projeto e autorizar sua execução conforme juízo de conveniência e
oportunidade das autoridades competentes.
O leilão, estabelecido no inciso IV do referido artigo 28, é definido como “modalidade
de licitação para alienação de bens imóveis ou de bens móveis inservíveis ou legalmente
apreendidos a quem oferecer o maior lance” (art. 6º, XL). As especificidades dessa
modalidade são trazidas pelo artigo 31 e seus parágrafos. O leilão deverá ser feito por
leiloeiro ou servidor designado pela autoridade competente da Administração, e seus
procedimentos operacionais do leilão serão objeto de regulamento. Sua divulgação deverá
ser feita pelo sítio eletrônico oficial e na sede da Administração (art. 31, §3º). O edital
deverá conter os requisitos previstos no §2º do artigo 31. Não será exigido registro cadastral
prévio, e o rito procedimental do leilão será: fase de lances, fase recursal, pagamento pelo
vencedor e homologação, conforme será estipulado em edital (art. 31, §4º).
A última modalidade prevista no referido art. 28, inciso V, é o diálogo competitivo,
definido como “modalidade de licitação para contratação de obras, serviços e compras em
que a Administração Pública realiza diálogos com licitantes previamente selecionados
mediante critérios objetivos, com o intuito de desenvolver uma ou mais alternativas capazes
de atender às suas necessidades, devendo os licitantes apresentar proposta final após o
encerramento dos diálogos” (art. 6º, XLII). As especificidades dessa modalidade são
tratadas no artigo 32. Trata-se de uma modalidade restrita às condições previstas nos
incisos I e II do caput, e que também poderá ser adotada para as licitações de concessões
de serviços públicos e parcerias público-privadas, conforme previsto nos artigos 179 e 180.
O rito procedimental começará com a instauração de uma comissão de contratação, após a
publicação do edital haverá a fase de diálogo, seguida da fase competitiva que terá novo
edital e terminará com a definição da proposta vencedora, assegurada a contratação mais
vantajosa como resultado (art. 32, §1º).
Por fim, o §1º do artigo 28 da Lei nº 14.133/2021 dispõe que, além das modalidades
apresentadas, a Administração poderá se utilizar de procedimentos auxiliares. Estes estão
previstos no art. 78 e são: credenciamento; pré-qualificação; procedimento de manifestação
de interesse; sistema de registro de preços; e registro cadastral.

Questão 3) Classifique os serviços públicos. Utilize o livro que serve de base (do aluno),
indicando-o ao final da resposta. Diferencie “outorga” de “delegação”.
Resposta:
Há diversas classificações dos serviços públicos, com o propósito de estruturar o
estudo da matéria. Existem diferentes critérios de classificação na doutrina, mas de acordo
com Matheus Carvalho “é necessário analisar aqueles mais importantes para a sintetização
do assunto” (CARVALHO, 2017, p. 645). Primeiramente, os serviços públicos podem ser
diferenciados em serviços uti universi ou gerais, e serviços uti singuli ou individuais,
tomando por base a forma de fruição destas atividades pelos usuários. Os serviços uti
singuli são aqueles serviços ofertados a toda coletividade sem discriminações, nos quais, o
poder público pode individualizar a utilização. Contudo, quando se presta estes serviços é
permitido calcular quanto cada usuário usufruiu e, esse motivo, a cobrança pode ser feita
mediante o pagamento de taxas ou tarifas. Podemos citar ,como exemplos, os serviços de
energia elétrica, telefonia e transporte público.
Já os serviços uti universi são aqueles serviços que não são capazes de ser
divididos em sua utilização, isto é, não é possível saber quanto cada usuário utilizou desses
serviços. Em casos como este o poder público presta o serviço a toda a coletividade, que
dele usufrui paralelamente, não sendo capaz de apontar quanto cada utiliza
individualmente. Custeados pela receita geral decorrente da arrecadação dos impostos,
alguns exemplos desses serviços são os serviços de Iluminação Pública e de Limpeza
Pública. Segundo Matheus Carvalho “Configuram-se serviços indivisíveis, não sendo
possível dividir o ônus da prestação em proporção igual à utilização” (CARVALHO, 2017, p.
646). Sendo assim, é inconstitucional a taxa que tenha como função arcar com os custos
de um serviço indivisível.
No que se diz respeito aos serviços públicos divisíveis, eles podem ser classificados
como compulsórios ou facultativos. Os serviços compulsórios são serviços fundamentais
para a coletividade de modo que não podem ser renunciados pelos destinatários, tendo
que ser feita a cobrança pelo poder público em decorrência do fato ter posto o serviço à
disposição dos cidadãos. Nestes casos, a cobrança tende de ser realizada mediante taxa e
se admite a cobrança da chamada "taxa mínima" pelo simples fato de estar o serviço à
disposição do usuário. Dessa forma, o não pagamento da contraprestação permite a
possibilidade de cobrança, através de execução fiscal, com previsto da lei 6.830/80. Já os
serviços facultativos são prestados com objetivo nos interesses da coletividade; entretanto
podem ou não ser utilizados pelos usuários, isto quer dizer que só será possível cobrança
pelo serviço verdadeiramente prestado.
No que tange à sua forma de prestação, a doutrina classifica os serviços públicos
em serviços públicos próprios e impróprios. Conforme Matheus Carvalho os serviços
públicos próprios são aqueles que “só podem ser prestados pelo Estado, de forma direta ou
por meio de delegação a particulares, efetivada mediante a celebração de contratos de
concessão e permissão, nos moldes da legislação” (CARVALHO, 2017, p. 647). Os
serviços públicos impróprios são serviços que podem ser realizados por particulares sem a
necessidade de delegação pelo ente estatal. São serviços de utilidade pública, do qual o
exercício será somente fiscalizado pela Administração Pública, por intermédio da expedição
de atos de consentimento que condicionam a forma de execução.
Por último, alguns doutrinadores ainda diferenciam as atividades estatais em
serviços administrativos, serviços industriais ou comerciais e serviços sociais. Os serviços
administrativos abrangem as atividades internas do Estado, focadas na estruturação e
organização institucional, para garantir um bom exercício da atividade administrativa. Os
serviços sociais são serviços prestados diretamente pelo Estado para o contentamento dos
interesses da comunidade. Os serviços comerciais ou industriais são, efetivamente, a
exploração de atividade econômica pelo Estado, não se configurando serviço público
propriamente dito. Neste contexto, a execução da atividade não cumpre as regras de direito
privado, sendo vista como atividade privada de interesse público, conforme o art. 173 da
Constituição Federal.
Por fim, a diferença entre outorga e delegação de serviço público. Tanto a outorga
quanto a delegação são capazes de fazer a transferência da execução do serviço público.
Todavia, há diferenças importantes entre os institutos. A outorga só pode ser executada
mediante lei, enquanto a delegação pode ser por lei, por contrato ou por ato administrativo.
Portanto, outorga significa, a transferência da própria titularidade do serviço da pessoa
política para a pessoa administrativa, que o desenvolve em nome próprio e não no de quem
transferiu. Sempre efetuada por lei e somente por outra lei pode ser retirada ou mudada. Já
na delegação, o Estado transfere apenas a execução do serviço, para que o ente delegado
o preste ao público em nome próprio e por sua conta e risco, sob fiscalização do Estado. A
delegação é normalmente efetivada por prazo determinado.

CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo. 4. ed. rev. ampl. e atual.


Salvador: JusPodivm, 2017.

Questão 4) Quais os princípios do serviços públicos? Cite-os com os respectivos


fundamentos legais.
Resposta:
Os serviços públicos estão subordinados aos princípios do Direito Administrativo,
pois se enquadram na seara do Direito Público e têm como finalidade o bem comum. Por
esse motivo, também devem respeitar os princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade, entre outros, estabelecidos no artigo 37 da Constituição Federal.
Entretanto, há princípios próprios dos serviços públicos que decorrem da conceituação de
serviço adequado trazida pela Lei 8.987/95, no seu art. 6º, §1º: “Serviço adequado é o que
satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade,
generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.”
Sendo assim, é possível apontar os seguintes princípios norteadores dos serviços
públicos:
a) Princípio da generalidade: é decorrente dos princípios da impessoalidade, da
igualdade e da isonomia, consagrados na Carta Maior. Prevê que os serviços públicos
devem ser prestados a todos, e por isso também é conhecido como princípio da
universalidade, podendo ser verificado nos comandos constitucionais de universalização
dos serviços de saúde (art. art. 196, caput) e educação (arts. 208, II, e 211, §4º). Ainda
garante que o serviço público seja prestado sem discriminação arbitrária, portanto com um
tratamento isonômico, como se verifica no caso da gratuidade aos maiores de sessenta e
cinco anos nos transportes coletivos urbanos (art. 230, § 2º, CF) ou no caso da cobrança de
tarifas diferenciadas (art. 13, Lei 8.987/1995).
b) Princípio da continuidade: prevê a não interrupção dos serviços públicos, portanto
a prestação regular deles, com a finalidade de atender as necessidades coletivas e efetivar
os direitos fundamentais. Entretanto, a lei estabelece casos de suspensão, que não
caracteriza descontinuidade, previstos no art. 6º, § 3º, da Lei nº 8.987/1995.
c) Princípio da eficiência: reputa-se conexo com o princípio da continuidade e
também ao princípio da atualidade, conforme o art. 6º, §2º da Lei 8.987/95: “A atualidade
compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das instalações e a sua
conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço.” Nesse sentido, o serviço
público deve se manter atualizado às novas técnicas a fim de ser prestado adequadamente,
o que implica também às empresas concessionárias e permissionárias a observância desse
princípio conforme art. 175, parágrafo único, inciso IV, da Constituição Federal.
d) Princípio da modicidade: impõe que os serviços públicos sejam cobrados dos
usuários por um valor proporcional ao custo do respectivo serviço, ou seja, são
remunerados pelos usuários a preços módicos. Com isso, relaciona-se com o princípio da
universalidade dos serviços, para que eles possam atender o maior número de
beneficiários. Este princípio colabora com o entendimento de que o lucro não constitui
objetivo da função administrativa, mas sim a prestação adequada dos serviços públicos.
Para tanto, é possível o poder público oferecer subsídio para seu custo, como ocorre nas
concessões e permissões (art. 11, Lei nº 8.987/1995). Também são previstos casos de
gratuidade para usuários específicos, tendo em vista o princípio da isonomia, como no caso
de serviço público de ensino (art. 206, IV, CF) e de transporte público para o idoso (art. 230,
§2º, CF).
Por fim, vale mencionar os outros princípios elencados no art. 6º, §1º da Lei
8.987/95, como o princípio da cortesia, que prevê ao prestador de serviço ser educado ao
tratar-se com os usuários (decorrência do princípio da moralidade), e também o princípio da
segurança, que estabelece a obrigação do serviço zelar pela integridade dos usuários e da
coletividade em geral.
Questão 5) Sobre intervenção na propriedade, cite, conceitue e aponte o fundamento
legal/constitucional de cada um : 1) Formas supressivas do domínio: desapropriação,
confisco e perdimento; 2) formas não supressivas do domínio: o poder de polícia/limitação
administrativa, servidão, tombamento, requisição, ocupação temporária.
Resposta:
Primeiramente, acerca das formas supressivas do domínio, podemos citar a
desapropriação, que é prevista no texto constitucional nos arts. 5.º, XXIV; 22, II; 182, § 3.º; e
184 da CF/88. A desapropriação visa realizar a intervenção do Estado na propriedade do
particular, que visa a transferência de um bem que está sob o domínio de um particular à
esfera pública, a fim de satisfazer o interesse público. Nesse sentido, o poder público,
através de discricionariedade, onerosidade e obrigatoriedade, visa intervir sobre o bem de
um particular.
Segundo os parâmetros classificatórios adotados, podemos conceituá-la
como o grau máximo de intervenção ordinatória e concreta do Estado na
propriedade privada, que opera a transferência compulsória de um bem
para o domínio público, de forma onerosa, permanente, não executória e de
execução delegável, imposta discricionariamente pela declaração de
existência de um motivo de interesse público legalmente suficiente.
MOREIRA NETO (2014, p. 418).
Para exemplificar, a construção da Constituição Federal de 1988 trouxe sérias
mudanças às garantias sociais à população urbana, podemos citar o art. 182, §4º, III da
CF/88, que visa atender ao fim social da propriedade privada, visando garantir o
desenvolvimento urbano ao bem-estar social, para isso, havendo o mau uso da propriedade
de um particular, é possível que o Município crie lei para que haja a desapropriação desse
bem mal utilizado, aplicando-se as sanções onerosas, nos termos da lei (indenização). Além
disso, por meio da reforma agrária, o Estado visa que seja atendido o fim social da
propriedade rural, para isso, aplica-se o art. 184 da CF/88, isto é, a União promoverá a
desapropriação de imóvel rural mal utilizado pelo particular, para que seja alcançado a boa
utilização deste, cabendo aplicar indenização em títulos da dívida agrária, nos termos da
lei.
Conforme o art. 5, XXIV da CF/88, a desapropriação poderá recair sobre bens
móveis, imóveis fungíveis ou infungíveis, mas é fundamental que o proprietário não atinja a
função social dos bens para que haja a desapropriação. O art. 22, II da CF/88 define à
união a competência privativa para legislar sobre a desapropriação, por óbvio, poderá
repassar a competência a outro Ente da federação, visto que esta competência não é
exclusiva.
A outra forma de supressão de domínio que podemos afirmar é o Confisco ou Perda
de bens, que define-se como uma intervenção sancionatória de grau extremo. Esse
procedimento visa confiscar o bem do sujeito que pratica o ilícito contrário à ordem pública,
conforme o art. 5.º, XLVI, b) da CF/88, se aplica principalmente ao ilícito de improbidade
administrativa, na forma do art. 12, I e II, da Lei n.º 8.429, de 2 de junho de 1992. Ainda, o
art. 37, §4º da CF/88 visa punir, através da perda de bens e demais sanções aplicáveis ao
caso, o agente público que comete ato de improbidade administrativa em face da
administração pública, visando restituir o erário e proteger o patrimônio público. Por outro
lado, o art. 243, caput do texto constitucional visa realizar o ato de confisco da propriedade
do particular, que utiliza-se de sua propriedade a cometer atos de plantações ilegais,
produção de entorpecentes ilegal e afins serão confiscados pelo Estado para ser revertido
no fundo do aparelhamento estatal.
Já as formas não supressivas do domínio são definidos como o poder de polícia,
limitação administrativa, servidão, tombamento, requisição e ocupação temporária.
O Poder de Polícia da administração Pública, previsto no Código Tributário Nacional em seu
artigo 78, é um poder do Estado dotado de autoridade, autoexecutoriedade, vinculação e
discricionariedade, que visa limitar e coibir atos de um particular e de sua propriedade,
quando estes contrariam a ordem pública, para cumprir o princípio da predominância do
interesse público sobre o particular, a fim de garantir os direitos da coletividade.
O poder de polícia pode ser efetivado de modo originário ou delegado. O primeiro
diz respeito a ele nascer da administração pública direta. Enquanto que o segundo diz
respeito a administração pública direta distribuir a competência do poder de polícia à
administração pública indireta. Embora o poder de polícia seja dotado de prerrogativas que
o Estado lhe confere, jamais poderá ter seus atos munidos de abuso de poder, devendo
obediência e lealdade aos princípios da administração pública; legalidade, da razoabilidade,
da proporcionalidade e do controle jurisdicional.
Por sua vez, a limitação administrativa, prevista no art. 5.º, XXIII, da Constituição
Federal, é um instituto do poder público de caráter de imposição geral, abstrata, originária e
discricionária, que visa realizar a intervenção estatal sobre o imóvel do particular, visando
realizar uma diretriz organizacional sobre a sociedade, isto é, visa produzir efeitos à toda a
coletividade. Para exemplificar, a limitação administrativa, por meio do instituto edilício do
gabarito limitativo da altura de edificações, visa padronizar que os edifícios que estão na
circunscrição municipal de um determinado Município estejam de acordo com o que o
Município planejou, não sendo cabível a construção de um edifício em uma altura maior do
que foi, outrora, definido pelo poder público municipal.
No que diz respeito à servidão administrativa, conforme o art. 5.º, XXIII da CF/88,é
um ato da administração pública heteroexecutório e oneroso, que visa intervir na
propriedade de um particular a fim de, obrigatoriamente, atender ao interesse público. Como
exemplo, podemos imaginar a situação em que o Estado intervém no terreno rural de um
particular, para colocar uma antena de energia elétrica que fornece energia à população da
região. Nesse exemplo demonstrado, é nítido a intervenção estatal na propriedade privada
visando o bem da coletividade. Além disso, a servidão administrativa poderá resultar em
indenizações. Nessa hipótese, Imagine, por exemplo, a situação em que o Estado instale
uma antena de energia elétrica no terreno de um particular, mas este equipamento cause
sérios danos ao terreno, nesse caso, não havendo indenização voluntária do Estado ao
particular, este poderá mover uma ação de indenização em face do Estado.
Expressamente previsto no art. 216, § 1.º da CF/88, o tombamento é uma medida de
caráter gratuita, permanente e indelegável, que visa a intervenção do Estado sobre um bem
particular de um terceiro, com o objetivo de zelar e conservar o patrimônio histórico, social,
artístico, urbanístico, paisagístico e afins do bem móvel ou imóvel. A competência
concorrente para legislar sobre a política de tombamento cabe à União, Estados e ao
Distrito Federal (art. 24, VII da CF/88), podendo haver a hipótese de a competência ser
aplicada também aos Municípios (art. 23 da CF/88). Lembrando que os bens em que há o
tombamento continuam pertencendo ao particular, mas atenderam aos fins culturais ora
mencionados em favor da administração pública.
Outro instituto da administração pública é a requisição, este procedimento é previsto
no texto constitucional nos arts. 5.º, XXIII e XXV; 22, III e 139, VII; no Decreto-lei n.º 2, de 14
de janeiro de 1966 e no art. 1.228, § 3.º do Código Civil. Havendo circunstância ou motivo
urgente, a requisição visa realizar a intervenção, caráter civil ou militar, do Estado sobre o
bem do particular. Para exemplificar, havendo situação de emergência e calamidade
pública, poderá haver a intervenção do Estado na economia para que sejam requisitados
bens e serviços essenciais ao abastecimento da população, nos termos do art. 1º do
Decreto-lei n.º 2, de 14 de janeiro de 1966.
A requisição poderá ser de caráter militar, conforme art. 22, III, da CF/88 e art. 1º do
Decreto-lei n.º 4.812, de 8 de outubro de 1942, que havendo iminente perigo ou guerra, as
forças armadas requisitarão bens do particular por tempo provisório. Cessado o estado de
perigo, caberá às forças armadas devolverem os bens requisitados ao particular, devendo
indenizar a este no que houver prejuízo.
Por último, assim como alguns dos institutos ora mencionados, a ocupação
temporária é, genericamente, prevista no 5.º, XXIII; XXV e art. 136, § 1.º, II da CF/88. Tem
natureza executória e unilateral. A ocupação temporária é um ato transitório da
administração pública, que visa intervir em um imóvel do particular para a satisfação do
interesse público. Para exemplificar, imaginemos a ocupação das urnas eletrônicas e do
sistema eleitoral em escolas particulares, nesse caso, o Estado ocupa ,temporariamente, o
prédio do particular, sendo cabível ao Estado, caso haja danos, indenizar o imóvel deste.

MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo. 16. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2014.

REFERÊNCIAS:

CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo. 4. ed. rev. ampl. e atual.


Salvador: JusPodivm, 2017.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 8. ed. Rio de
Janeiro: Método, 2020, p. 250-256.

MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo. 16. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2014.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de Direito Administrativo. 36. ed. São Paulo:
Atlas, 2020, p. 243-246.

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