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Licitações e Contratos

no Setor Público
Material Teórico
Contratações diretas: licitações dispensável, dispensada e
inexigível. Modalidades de licitação. Procedimentos ou fases de
licitação

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Elessandra dos Santos Marques Válio

Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
Contratações diretas: licitações dispensável,
dispensada e inexigível. Modalides de licitação.
Procedimentos ou fases de licitação

• Contratações diretas
• Dispensa de licitação
• Inexigibilidade de licitação
• Modalidades de licitação
• Fases da licitação
• Invalidação da licitação
• Revogação

·· Estudar contratações diretas. Veremos também as situações em que nosso


ordenamento jurídico possibilita que as licitações sejam dispensadas e inexigíveis;
as modalidades de licitação: Concorrência, Tomada de Preços, Pregão, Consulta,
Convite, Concurso e Leilão; procedimentos ou fases de licitação; e, ainda, as
possibilidades de invalidação e revogação da licitação.

Para estudar nossa disciplina, será necessário buscar as seguintes legislações:


1. Constituição Federal;
2. Lei de Licitações (Lei nº. 8666/93);
3. Lei nº. 10.520, de 17 de julho de 2002, que institui no âmbito da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, a modalidade de licitação denominada Pregão;
4. Lei nº. 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe sobre o regime de concessão e
permissão da prestação de serviços públicos;
5. Lei nº. 11.079, de 30 de dezembro de 2004, que institui as normas gerais para licitação
e contratação de parceria público-privada, no âmbito da Administração Pública;
6. Lei Complementar 123, de 14 de dezembro de 2006, que institui o Estatuto Nacional
da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte e estabeleceu, para elas, tratamento
diferenciado em matéria de licitações. Tal tratamento diferenciado foi estendido pela Lei
nº. 11.488, de 15 de junho de 2007, às sociedades cooperativas que tenham auferido,
no ano-calendário anterior, a receita bruta de até o limite estabelecido no art. 3o, II, da
referida Lei Complementar; e
7. Lei nº. 12.232, de 29 de abril de 2010, que estabelece normas gerais para a licitação
e contratação pela Administração Pública de serviços de publicidade prestados por
intermédio de agências de propaganda.

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Unidade: Contratações diretas: l licitações dispensável, dispensada e inexigível. Modalidades de licitação. Procedimentos ou fases de licitação.

Contextualização

Hodiernamente, vivemos em um contexto político e social de escândalos na esfera


político partidária.
Dentre os escândalos diariamente divulgados por todos os meios de comunicação, o que mais
nos tem chamado a atenção é a questão de uma das maiores de nossas empresas, a Petrobrás.
Temos sim situações em que o legislador permite que as licitações sejam dispensadas e até
inexigíveis, entretanto algumas das pessoas que estão na direção e no poder de empresas
do porte da Petrobrás acabam distorcendo a lei e efetuando contratações sem respeitar a
legislação vigente.

O link a seguir nos traz uma reportagem que deixa isso muito claro:
http://veja.abril.com.br/noticia/economia/a-farra-dos-contratos-sem-licitacao-na-petrobras/
(COSTA, Ana Clara. A farra dos contratos. Acesso em: 06 set. 2015.

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Contratações diretas

A Administração Pública, devido à sua necessidade de oferecer bens e serviços aos seus
administrados, tem, por muitas vezes, de realizar a contratação de terceiros que possam prestar
tal serviço e oferecer tais bens.
A licitação tem a finalidade de buscar a contratação mais vantajosa, e que, por consequência,
mais atenda aos anseios do Poder Público bem como de seus administrados. Outra finalidade
do processo licitatório é assegurar condições de igualdade de competitividade entre os
interessados em contratar com a Administração.
As licitações são regidas por princípios de direito que levam o Administrador Público a tomar
determinadas decisões dentro do processo licitatório, como, por exemplo, cobrar os requisitos
que determinado concorrente deve preencher para estar apto a participar do certame.
Entretanto, existem situações excepcionais em que o caso em concreto torna impossível que
a licitação se realize, seja por falta de pressupostos fáticos (comparecimento de interessados
aptos a concorrer no certame) ou lógicos (pluralidade de possíveis contratados e o objeto poder
suportar a prestação por mais de um possível interessado). Nessas ocasiões, considerando a
inviabilidade do certame, nossa legislação permite a contratação direta de bens e serviços pela
Administração Pública.
A Lei nº. 8666/93 nos traz as hipóteses de inexigibilidade e dispensa da licitação,
possibilitando, assim, a contratação direta pelo Poder Público.
Insta salientar que a contratação direta é a exceção à regra geral, ou seja, o dever de licitar,
e por sua condição excepcional, tais dispositivos devem ser interpretados de forma restritiva.
Outro fator de relevância é que a dispensa do processo licitatório fora das hipóteses legais
constitui crime nos moldes do art. 89 “caput” da Lei nº. 8.666/93:

Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou
deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:
Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamente
concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou
inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, o art. 10, VIII, da Lei nº. 8.429/92 reza que constitui
crime de improbidade administrativa, na modalidade dano ao erário, a dispensa indevida de licitação:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário
qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial,
desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das
entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
[...]
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;
Passaremos a ver mais pormenorizadamente as situações de dispensa e inexigibilidade
de licitação.

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Unidade: Contratações diretas: l licitações dispensável, dispensada e inexigível. Modalidades de licitação. Procedimentos ou fases de licitação.

Dispensa de Licitação

A Lei nº. 8.666/93 nos remete aos casos de dispensa da licitação, situações previstas no
art. 17, incisos I e II, e no art. 24.
Em suma, a lei de licitações permite a dispensa da licitação por várias razões, quais sejam:
1 – em razão do valor; 2 – em razão do objeto; 3 – em razão da pessoa; e, 4 – em razão de
situações excepcionais.
É facultada à Administração Pública a dispensa da licitação, porém embora o processo
licitatório seja facultativo, caso a opção seja pela licitação por oportunidade e conveniência,
devem ser seguidas as regras que estão dispostas no nosso ordenamento jurídico.

Dispensa da Licitação em razão do valor


A dispensa da licitação em razão do valor é aplicável em aquisições cujo valor econômico
seja pequeno. Assim, existe a permissão de que a Administração tenha o poder de contratar
diretamente. Pois em determinadas situações o valor gasto com o procedimento licitatório
pode até ser maior do que o valor do eventual contrato a ser realizado.
O objetivo de tal dispensa é a busca pela maior efetividade e eficiência dos atos do Poder
Público, para determinados contratos cujo valor seja considerado pequeno.
A própria lei de licitações nos traz essa classificação de valores considerados pequenos.
A fixação de tais valores faz a seguinte distinção: 1 – obras e serviços de engenharia; e 2 –
outros serviços, alienações e compras (não considerados como serviços de engenharia).
A lei nº. 8666/93 estabeleceu limites para a dispensa da licitação e a realização do convite,
que nada mais é do que uma modalidade de licitação mais simples. Tais limites são regidos
pelo art. 24 da lei supracitada.
A dispensa em razão do valor dar-se-á para obras e serviços de engenharia no importe de
10% (dez por cento) do valor de limite para o convite destinado à contratação de serviços de
engenharia. Como o limite do convite é de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), a
limitação para tal dispensa é de R$ 15.000,00 (quinze mil reais).
Em relação à dispensa para a aquisição de outros serviços (os não considerados de
engenharia), compras e alienações, o valor limite também será de 10% (dez por cento) do
limite do convite destinado a tal aquisição. Dessa forma, o limite é de R$ 80.000,00 (oitenta
mil reais). Assim, podemos concluir que o limite para a dispensa da licitação será de até R$
8.000,00 (oito mil reais).
Todavia, em situações de obras, compras e serviços contratados por consórcios públicos,
agências executivas, empresa pública e sociedade de economia mista, o limite será de 20%
(vinte por cento), ou seja, R$ 16.000,00 (dezesseis mil reais).
Quando nos referimos a obra dentro do nosso estudo sobre licitações, devemos considerar
como obra “toda construção, reforma, fabricação, recuperação ou ampliação, realizada por
execução direta ou indireta” (art. 6o, I, Lei 8.666/93). Já por serviços podemos entender “toda

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atividade destinada a obter determinada utilidade de interesse para a Administração, tais como:
demolição, conserto, instalação, montagem, operação, conservação, reparação, adaptação,
manutenção, transporte, locação de bens, publicidade, seguro ou trabalhos técnico-profissionais”.
Devemos considerar como serviço de engenharia os que deverão ser necessariamente
executados exclusiva e pessoalmente por engenheiros. A necessidade de fiscalização, orientação
ou análise do serviço por um engenheiro não significa que seja um serviço de engenharia.
Ainda definindo conceitos, podemos entender como compra, nos moldes do art. 6, III,
da Lei 8.666/93, “toda aquisição remunerada de bens para o fornecimento de uma só vez
ou parceladamente”. Alienação, segundo o mesmo art. 6, IV, da Lei 8.666/93, é “toda
transferência de domínio de bens a terceiros”.

Dispensa da Licitação em razão objeto


A licitação poderá ser dispensável em situações que envolvam a necessidade do Estado, em
que a satisfação é indispensável e possibilita a contratação direta.

Locação ou compra de imóvel


Esse caso ocorre se o imóvel for o único ideal para atender as necessidades do Poder Público,
desde que seja considerado o valor de mercado e a indispensabilidade da localização. Porém,
devemos nos atentar a que nem toda a compra ou locação de imóvel pela Administração
Pública lhe dá a possibilidade de dispensar a licitação. A dispensa só será permitida caso as
necessidades de instalação e locação condicionem a escolha. Dessa forma, razão e necessidade
de escolha devem ser explicitadas pela Administração.

Compra de hortifrutigranjeiros, pães e outros gêneros perecíveis


Existe a autorização legal de dispensa de licitação para que sejam realizadas compras de
gêneros alimentícios perecíveis, como hortifrutigranjeiros, pães; porém, tal dispensa só é
permita pelo tempo que seja hábil para a realização do procedimento licitatório. Dessa forma,
para que seja efetivamente dispensada a licitação, deve ser aferida a necessidade da aquisição
de tais produtos.
A aquisição dos produtos deve ser realizada utilizando-se do preço de mercado do produto.

Aquisição de obras de arte e objetos históricos ou serviços de restauração


É autorizada a aquisição de obras de arte e objetos históricos ou serviços de restauração sem
licitação desde que: 1 - as obras de arte e objetos históricos tenham sua autenticidade certificada
(conforme reza a Súmula 9 do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo: “A aquisições
de obras de arte ou de valor histórico devem ser precedidas de laudo de autenticidade
e avaliação”); e 2 - que a contratação ou aquisição sejam inerentes à finalidade do órgão
comprador. Tais requisitos são condições essenciais para que seja dispensada a licitação.

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Aquisição de componentes necessários para a garantia técnica de produtos


Existe a permissão para que a Administração Pública adquira componentes de origem
nacional ou estrangeira, caso sejam necessários para a manutenção de equipamentos, durante
o período de garantia técnica, junto ao fornecedor original de tais equipamentos quando tal
condição de exclusividade foi indispensável para a vigência da garantia.
Sendo assim, a dispensa só será permitida para aquisições a fim de realizar a manutenção
corretiva ou preventiva, mas apenas na vigência da garantia técnica.
Porém, caso haja mais de um fornecedor dos componentes originais, haverá sim a necessidade
de licitação, ainda que seja para assegurar a manutenção da garantia do equipamento.

Aquisição de material de uso pelas Forças Armadas


Outra exceção que possibilita a aquisição de bens sem que exista a necessidade de o Estado
efetuar o processo licitatório é a compra de material de uso ou prestação de serviços pelas
Forças Armadas, quando houver a necessidade de manter o padrão de material solicitado pela
estrutura de apoio logístico dos meios navais, terrestres e aéreos (art. 24, XIX), porém deve
ser atentado o valor máximo para tais contratos, ou seja, R$ 80.000,00 (oitenta mil reais).
Entretanto, em caso de materiais de uso administrativo ou de uso pessoal, deverá ser
realizada a licitação.

Aquisição de material para pesquisa científica e tecnológica


Em situações em que existe a necessidade de aquisição de bens ou serviços que sejam para
o destino exclusivo de pesquisa tecnológica e científica, com recursos concedidos pela CAPES,
CNPq, ou quaisquer outras instituições de fomento à pesquisa que sejam credenciadas ao CNPq,
para esse fim específico, também há a dispensa do processo licitatório, porém existe a necessidade
de que o projeto de pesquisa no qual o bem ou serviço será utilizado tenha sido aprovado.

Contrato de transferência de tecnologia e licenciamento de criação protegida


Nosso ordenamento jurídico também possibilita a dispensa da licitação em situações em
que haja a necessidade de contratação por Instituição Científica e Tecnológica – ICT ou por
agência de fomento para licenciamento de direito de uso ou exploração de criação protegida
e para transferência de tecnologia.
Um dos deveres do Estado é desenvolver, promover e incentivar a pesquisa, a ciência e a capacitação
tecnológica, de tal sorte a favorecer o progresso e o desenvolvimento nacional da ciência.

Aquisição de bens para as Forças Armadas situadas no exterior


Também é permitida a contratação direta em casos em que as Forças Armadas precisam
adquirir bens ou serviços necessários para atender seus militares de Forças Singulares Brasileiras
que se empregam em situações de operações de paz no exterior.
Convém ressaltar que tais serviços e bens apenas serão contratados ou comprados após a
justificativa do preço e da seleção do fornecedor e desde que passe pelo crivo do Comandante
da Força.

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Aquisição de serviços de assistência técnica e extensão rural
Conforme art. 24, XXX da Lei 8.666/93, a licitação pode ser dispensada

na contratação de instituição ou organização, pública ou privada, com ou sem


fins lucrativos, para prestação de serviços de assistência técnica e extensão
rural no âmbito do Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão
Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária, instituído por lei federal.

O Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e


na Reforma Agrária foi criado pela Lei nº. 12.188/2010, e declara que a assistência técnica
e extensão rural consistem no serviço de educação não formal, de caráter continuado no
meio rural, que promove progresso de gestão, produção, beneficiamento e comercialização
de atividades e dos serviços agropecuários e não agropecuários, inclusive das atividades agro
extrativistas, artesanais e florestais (art. 2o, I).

Dispensa de licitação em razão da pessoa


A Lei 8.666/93 nos traz situações em que há a possibilidade de dispensa da licitação em
razão da pessoa que será contratada. O que será observado são as finalidades das pessoas
jurídicas que integram a administração direta ou indireta, ou ainda as finalidades de outras
pessoas jurídicas que foram criadas para fins específicos, cuja contratação é vantajosa para a
realização de algum fim público.
Alguns exemplos: cooperativas ou associações formadas por pessoas de baixa renda, como
catadores de papelão; ou por associação de portadores de deficiência, etc.

Aquisição de bens produzidos por órgão ou entidade da própria Administração


É possível que as pessoas jurídicas de direito público contratem diretamente a aquisição
de bens confeccionados por entidades da própria Administração, desde que tais entidades
tenham sido criadas com esse propósito, mas devem ser observados o preço praticado no
mercado mais os requisitos objetivos: 1 – a entidade deve ter sido criada para esse fim; 2
– o contratante deve possuir personalidade jurídica de direito público (exemplo: agências
reguladoras, fundações de direito público, autarquias); 3 – a entidade deve ter sido constituída
antes da Lei de Licitações (nº. 8666/93); e, 4 – a contratante e a contratada devem integrar
a mesma Administração Pública (o mesmo nível de governo).

Contratação de fornecimento de energia elétrica e gás natural por concessionário,


permissionário ou autorizado
Nos moldes do art. 24, XXII, da Lei 8.666/93, é dispensável a licitação “na contratação
do fornecimento ou suprimento de energia elétrica e gás natural com o concessionário,
permissionário ou autorizado, segundo as normas da legislação específica”.
O consumidor do gás natural ou energia elétrica, ou fornecedor dessas utilidades, pode ser
o próprio Estado, e o regime jurídico de tais contratações tem previsão na lei específica.

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Contratação com associações de portadores de deficiência


Para que possa ter tal dispensa realizada de forma lícita, é necessário que a entidade associativa
tenha sua idoneidade comprovada, além de ser constituída sem o propósito de obtenção de fins
lucrativos e também de que o contrato se refira ao fornecimento de mão de obra.

Contratação de associação ou cooperativa de pessoas de baixa renda


Conforme dispõe o art. 24, XXVII, da Lei n. 8666/93, é permitida a dispensa de licitação na
contratação da coleta, processamento e comercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis,
ou reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta seletiva de lixo, efetuados por associações ou
cooperativas formadas exclusivamente por pessoas físicas de baixa renda reconhecidas pelo
poder público como catadores de materiais recicláveis com o uso de equipamentos compatíveis
com as normas técnicas, ambientais e de saúde pública.
Nesse caso, a contratação também deve seguir o preço médio do mercado, não podendo
ser exigido um preço menor que a Administração poderia obter se promovesse a licitação.

Contratações de organizações sociais


Havendo celebração de contratos de prestação de serviços com organizações sociais
qualificadas no âmbito das respectivas esferas do governo, para as atividades contempladas no
contrato de gestão, poderá ser dispensada a licitação.
As pessoas jurídicas de direito privado que não tenham fins lucrativos poderão receber do
Estado a qualificação social, desde que cumpram os requisitos legais na sua composição e
formação. Tais organizações sociais não integram a Administração Pública direta ou indireta.
Assim, pode o Estado pactuar com as organizações sociais dos contratos de gestão, que é o
instrumento acordado entre ambos para o incentivo e a execução de atividades na lei. É muito
comum esse tipo de contrato para a administração de hospitais pela Administração Pública.

Dispensa da licitação em razão de situações excepcionais


Algumas situações excepcionais terminam por acarretar a dispensa da licitação, pois são
situações que podem colocar em risco bens, valores e direitos que o Poder Público deve
proteger. Tais situações especiais podem ser resultado de fatores estranhos à Administração,
ou serem decorrentes de fatos que terminam por deixar difícil e onerosa a realização do
processo licitatório.

Emergência ou calamidade pública


Segundo o art. 24, IV, da Lei de Licitações, há a possibilidade de dispensa da licitação em
casos de emergência e calamidade pública. Tal dispensa tem necessariamente de preencher
dois requisitos: 1 – situação de urgência de atendimento da situação que possa comprometer a
segurança de serviços, obras, pessoas, equipamentos e outros bens, podendo ser tais bens públicos
ou não; 2 – a existência de emergência ou calamidade pública, e que sejam apenas contratados
os bens necessários ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa ou para os serviços
que possam ser concluídos no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, sem qualquer possibilidade de
prorrogação. Caso o Poder Público constate que o prazo de 180 dias para concluir as obras ou
serviços é insuficiente, deve providenciar a licitação para o excedente do prazo.
A contratação direta é justificada porque é produto de fatos inesperados e estranhos à
Administração.

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Licitação fracassada ou deserta
Licitação fracassada ocorre quando nenhum dos interessados em participar do processo
licitatório reúne os requisitos necessários para poder ser um dos concorrentes da licitação ou
são desclassificados.
Já a licitação deserta se dá quando não existem interessados em participar do processo
licitatório. Nessas duas situações, pode haver a dispensa da licitação e, assim, ser realizada a
contratação direta.
Em tais casos temos duas possíveis soluções.
Na situação de licitação fracassada, ou seja, em que os interessados não cumprem os
requisitos exigidos pelo edital, o Poder Público abrirá um novo prazo (8 dias úteis ou, no caso
da modalidade convite, 3 dias úteis) para que tais requisitos possam ser cumpridos, desde que
não traga qualquer prejuízo à Administração. Porém é importante lembrarmos que tal prazo
de regularização deve ser concedido a todos os concorrentes.
Em relação à licitação deserta, só poderá haver contratação direta caso uma nova licitação
cause prejuízo à Administração, e também que sejam mantidas as condições estabelecidas no
edital deserto.

Comprometimento da segurança nacional


Situações em que haja a possibilidade de comprometimento da segurança nacional também
pode ensejar a dispensa da licitação. Nesses casos, o Presidente da República estabelecerá via
decreto tal dispensa, todavia também se fará necessária a oitiva do Conselho Nacional de Defesa.

Intervenção da União no domínio econômico


Em casos em que a União necessita intervir no domínio econômico para normalizar
abastecimentos ou controlar preços, a legislação permite que seja dispensado o processo licitatório.
Não podemos nos olvidar de que apenas nas situações de controle de preços e normalização,
em qualquer dessas duas situações, a União deve fazer a instrução do processo com a
apresentação da justificativa da decisão da dispensa.

Propostas com preços superfaturados ou inadequados


A Lei 8.666/93 também autoriza a dispensa da licitação quando o valor apresentado
pelos interessados for manifestamente superior ao praticado no mercado ou quando forem
incompatíveis com os fixados pelos órgãos oficiais competentes.
Caso seja realizado algum contrato com valores superfaturados, eles serão nulos e os
responsáveis pela contração serão obrigados a reparar o prejuízo causado e ainda responderão
pela improbidade administrativa e pela responsabilidade na esfera criminal.

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Inexigibilidade de Licitação

Algumas situações tornam inviável a realização do procedimento licitatório por uma questão de
competitividade. Essa impossibilidade resulta na contratação direta permitida pela Lei de Licitações.
Três hipóteses de inexigibilidade estão previstas no nosso ordenamento jurídico (art. 25
da Lei nº. 8.666/93): 1 – quando houver apenas um fornecedor; 2 – quando o serviço for
singular e o profissional tiver notória especialização; e 3 - para a contratação de artistas
consagrados pela opinião pública. Ressalta-se que o rol do art. 25 da Lei de Licitações é
meramente exemplificativo, pois em qualquer situação em que o procedimento licitatório se
mostrar claramente inviável, este poderá ser inexigível.

Modalidades de Licitação
São modalidades de licitação previstas na lei nº. 8.666/93:

··Concorrência;
··Tomada de Preços;
··Convite;
··Concurso;
··Leilão;
··Pregão; e
··Consulta.

A modalidade da licitação é determinada em razão do valor ou do objeto a ser contratado.

Concorrência
O art. 22, § 1º, da Lei nº. 8.666/1993 define essa modalidade de licitação:

§ 1o Concorrência é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados


que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos
mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto.

Será feita via concorrência a licitação para contratos com valores para obras e serviços de
engenharia acima de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais); e compras e serviços
acima de R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil reais). (Art. 23, Lei nº. 8.666/1993.)
E será obrigatória para as seguintes situações:
• Obra, serviço e compra de maior valor, segundo limites fixados por lei federal;
• Obra e serviço de engenharia de maior valor, também segundo limites fixados por lei federal;
• Compra e alienação de bens imóveis, independentemente do valor;
• Concessão de direito real de uso;
• Licitações internacionais, admitindo-se, nesse caso, também a tomada de preços e o convite;
• Alienação de bens móveis de maior valor;
• Registro de preços.

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Tomada de preços
A Lei nº. 8.666/1993, em seu art. 22, § 2o, assim define tomada de preços:

§ 2o Tomada de preços é a modalidade de licitação entre interessados


devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para
cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas,
observada a necessária qualificação.

A tomada de preços realizar-se-á para contratações cujos valores para obras e serviços de
engenharia sejam de até de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais); e compras
e serviços cujos valores sejam de até R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil reais). (Art.
23, Lei nº. 8.666/2006.)

Convite
Nos moldes do art. 22, § 3º, da Lei nº. 8.666/1993:

§ 3o Convite é a modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente


ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo
de 3 (três) pela unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado,
cópia do instrumento convocatório e o estenderá aos demais cadastrados na
correspondente especialidade que manifestarem seu interesse com antecedência
de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação das propostas.

Nessa modalidade, a publicidade é relativa, pois ela se dá pela afixação do instrumento


convocatório em quadro de avisos do órgão que realiza a licitação, Lei nº 8.666/93, art. 22, § 3º.
A convocação é feita por escrito através da carta convite, com antecedência de 5 (cinco)
dias úteis - Lei nº 8.666/93, art. 21, § 2º, IV.
No convite, é possível a participação de interessados que não tenham sido formalmente
convidados, mas que sejam do ramo do objeto licitado, desde que cadastrados no órgão ou
entidade licitadora ou no Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores – SICAF.
Esses interessados devem solicitar o convite com antecedência de até 24 horas da
apresentação das propostas.
O mesmo art. 22, Lei 8.666/1993, define os limites para tal modalidade: 1 - para obras e
serviços de engenharia de até R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais); e 2 - para compras
e serviços de até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais), sendo que o número de convidados é de
no mínimo 3 (três).
O julgamento será realizado por uma comissão ou por servidor único.
A ordem de serviço ou a nota de empenho podem substituir o instrumento do contrato,
dando início à execução do que foi pactuado.

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Unidade: Contratações diretas: l licitações dispensável, dispensada e inexigível. Modalidades de licitação. Procedimentos ou fases de licitação.

Concurso
Conceitua o art. 22, § 4º, da Lei nº. 8.666/1993:

§ 4o Concurso é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para escolha


de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou
remuneração aos vencedores, conforme critérios constantes de edital publicado na
imprensa oficial com antecedência mínima de 45 (quarenta e cinco) dias.

Os interessados em participar do concurso devem apresentar seus trabalhos seguindo os


requisitos exigidos pelo edital, que depois passarão por um processo de seleção e julgamento.
Convém ressaltar que o prazo de 45 (quarenta e cinco) dias é mínimo; assim sendo, pode ser
dilatado conforme a necessidade.

Leilão

Existem dois tipos de leilão na legislação vigente.


O leilão a que se refere a Lei de Licitações e o tratado no Plano Nacional de Desestatização.

O leilão, segundo a Lei nº. 8.666/93, é a modalidade obrigatória para:


1. Venda de bens móveis inservíveis para a Administração; 2- venda de produtos legalmente
apreendidos ou penhorados; e venda de bens imóveis cuja aquisição tenha derivado de
procedimentos judiciais ou de dação em pagamento.

No que tange ao leilão em cumprimento ao Plano Nacional de Desestatização, temos que


nas privatizações admite-se a realização dessa modalidade licitatória, regida atualmente pelas
Leis nº. 8.031/90 e 9.491/97.
Tal procedimento é feito nas Bolsas de Valores, exigindo habilitação prévia e ampla
publicidade (exemplos: Eletropaulo, Cesp, Telesp etc.).

Pregão

Pregão é a modalidade de licitação prevista na Lei nº. 10.520/02 e se presta à aquisição de


bens ou serviços comuns, independentemente de valor estipulado para contratação – critério
do tipo menor preço. Um exemplo: concessão de uso de área comercial em aeroportos.
Nesse tipo há uma inversão das fases da licitação, onde são primeiramente julgadas as
propostas, uma classificação e depois a habilitação.
A União, Estados, Distrito Federal e Municípios podem adotar a modalidade denominada
“pregão” para a aquisição de bens e serviços comuns, assim compreendidos “aqueles cujos
padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio
de especificações usuais no mercado” (Lei nº. 10.520, de 17-7-2002).

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Consideram-se bens e serviços comuns aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade
possam ser objetivamente definidos pelo edital por meio de especificações usuais no
mercado, tais como peças de reposição de equipamentos, mobiliário padronizado, bens de
consumo, combustíveis e material de escritório, bem assim serviços de limpeza, vigilância,
conservação, locação e manutenção de equipamentos, agenciamento de viagem, vale-
refeição, digitação, transporte, seguro saúde, entre outros.
O Decreto nº. 5.504/2005 estipula que essa é a modalidade obrigatória para aquelas
contratações quando promovidas pela União, como também será obrigatória para as
contratações celebradas por outros entes da Federação ou por entidades privadas com
recursos repassados voluntariamente pela União e que se refiram a obras, compras,
serviços e alienações.
O pregão combina a apresentação de propostas escritas com lances verbais (as propostas
escritas podem ser alteradas até chegar àquele que oferecer o lance mais baixo).
Há 2 espécies de pregão:

1. Pregão comum ou presencial; e


2. Pregão eletrônico ou virtual via internet.

Consulta
A aquisição de bens e a contratação de serviços pelas Agências Reguladoras integrantes da
Administração Federal: ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações), ANEEL (Agência
Nacional de Energia Elétrica), ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), etc., podem
dar-se segundo a modalidade consulta de licitação (Lei nº. 9.986/2000).
Embora a lei não defina essa modalidade, ordena a observância das normas gerais de licitação,
além de vedar o seu emprego para as contratações de serviços de engenharia e obras.
A Agência Nacional de Telecomunicações, por meio de Resolução própria (nº. 5/98),
define a consulta como: “modalidade de licitação em que ao menos cinco pessoas, físicas
ou jurídicas, de elevada qualificação, serão chamadas a apresentar propostas para o
fornecimento de bens ou serviços não comuns”.

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Unidade: Contratações diretas: l licitações dispensável, dispensada e inexigível. Modalidades de licitação. Procedimentos ou fases de licitação.

Fases da Licitação

Dentro do procedimento licitatório, temos duas grandes fases: interna e externa.


A fase interna se dá dentro do ente licitante e compreende todos os atos que são realizados
pela Administração Pública antes da publicação do edital, ou seja, antes de demonstrar
publicamente a intenção de contratar.
A fase externa abrange as seguintes etapas:
1. Publicação do Instrumento Convocatório (edital):
Edital: é o documento através do qual a instituição compradora (Administração) estabelece
todas as condições da licitação que será realizada e divulga todas as características do bem ou
serviço que será adquirido.
Pelo princípio da vinculação ao instrumento convocatório, as regras estabelecidas nessa
fase devem ser seguidas durante todo o processo licitatório.
2. Habilitação dos licitantes: a Administração busca apurar as condições pessoais
de cada licitante.
3. Julgamento das propostas/classificação: fase em que se verifica se as propostas
atendem os requisitos do edital, classificando-as de acordo com o critério de julgamento (Lei
nº 8.666/93, arts. 43/44/45,).
4. Homologação: etapa de controle em que é verificada a legalidade do processo.
5. Adjudicação Compulsória: é o ato administrativo pelo qual o Poder Público atribui ao
vencedor (adjudicatário) o objeto da licitação.

Invalidação da Licitação

A invalidação da licitação pode decorrer de anulação ou revogação. Pode ser anulada


uma licitação pela ilegalidade conhecida no procedimento, e não gera direito a indenização,
porém existe a obrigatoriedade de o ato ser fundamentado e publicado. Afinal, a ilegalidade
do certame licitatório contamina o contrato firmado.

Revogação
A revogação da licitação, diferentemente da invalidação, pode ensejar o direito a indenização
ao licitante vencedor e que teve para si o objeto adjudicado. Assim, a revogação prende-se a
“razões de interesse público decorrente de fato superveniente devidamente comprovado”
(Lei nº. 8.666/93, art. 49).

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Material Complementar

Livros:
DALLARI, Adilson Abreu. Aspectos jurídicos da licitação. 5a edição. São Paulo:
Saraiva, 2000.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 27a edição. São Paulo: Atlas, 2014.
JUSTEN Filho, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos.
13a edição. São Paulo: Dialética, 2009.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 40a edição. São Paulo:
Malheiros Editores, 2014.
VIEIRA, Evelise Pedroso Teixeira Prado. Direito administrativo. São Paulo: Verbatim, 2011.

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Unidade: Contratações diretas: l licitações dispensável, dispensada e inexigível. Modalidades de licitação. Procedimentos ou fases de licitação.

Referências

DALLARI, Adilson Abreu. Aspectos jurídicos da licitação. 5a edição. São Paulo: Saraiva, 2000.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 27a edição. São Paulo: Atlas, 2014.

JUSTEN Filho, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 13a


edição. São Paulo: Dialética, 2009.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 40a edição. São Paulo: Malheiros
Editores, 2014.

VIEIRA, Evelise Pedroso Teixeira Prado. Direito administrativo. São Paulo: Verbatim, 2011.

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Anotações

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