Você está na página 1de 31

Universidade Púnguè

Faculdade da Educação

Departamento de Psicologia e Pedagogia

1ºGrupo

A crise damodernidade

Curso de licenciatura em ciências de educação

Trabalho de pesquisa História de Ideias Politicas

Alberto Júlio Alberto Maрunga

Eunice Augusto Assumane

Virgílio Luís Domingos

Vitalisse Timóteo Mufamadjah

Wilma Augusto Cadeado

Chimoio

2023
1ºGrupo
ii

Alberto Júlio Alberto Maрunga

Eunice Augusto Assumane

Virgílio Luís Domingos

Vitalisse Timóteo Mufamadjah

Wilma Augusto Cadeado

A crise damodernidade

Trabalho científico da disciplina deHistoria


das Ideias Politicas, a ser apresentado no
Departamento de Psicologia e Pedagogia no
Curso de Licenciatura em Ciências de
Educação. Orientado por: Masc. Cassene
Fombe

Chimoio

2023
i

Índice

Introdução...............................................................................................................................................2
Objectivos...............................................................................................................................................3
Objectivo geral........................................................................................................................................3
Objectivos específicos............................................................................................................................3
Metodologias de pesquisa.......................................................................................................................3
Revisão bibliográfica..............................................................................................................................4
A crise da Modernidade..........................................................................................................................4
Revolução retardada...............................................................................................................................6
Blanquismo.............................................................................................................................................6
Socialismo...............................................................................................................................................7
Resumo sobre o socialismo.....................................................................................................................7
Violência.................................................................................................................................................8
Socialismo sem estado..........................................................................................................................10
Anarquismo...........................................................................................................................................10
Socialismo Contra o estado...................................................................................................................11
Socialismo ético e liberal......................................................................................................................12
Leninismo e precedentes.......................................................................................................................13
Socialismo libertário.............................................................................................................................14
Socialismo religioso..............................................................................................................................15
Sindicalismo..........................................................................................................................................15
Social-democracia.................................................................................................................................16
Comunidade de Robert Owen...............................................................................................................17
Autores socialistas................................................................................................................................17
Diferença entre socialismo e comunismo.............................................................................................17
Marxismo..............................................................................................................................................18
Características do marxismo.................................................................................................................19
Filosofia................................................................................................................................................21
Marxismo nas escolas...........................................................................................................................21
Proudhon – Federalismo anárquico;.....................................................................................................22
Georges Eugène Sorel sindicalismo anarquista...................................................................................25
Crítica a Karl Marx...............................................................................................................................27
Considerações finais.............................................................................................................................28
Referencias bibliográficas.....................................................................................................................29
2

Introdução
A modernidade é a era que rompe com as tradições da idade média. Literalmente
modernidade retracta o novo, o actual. Surgida com o renascer da crença na razão humana, a
modernidade traz o homem para o centro das atenções, o homem como ser iluminado, dotado
de razão, que se divorcia da mitologia e da metafísica e aposta na razão, na ciência e no
empirismo, paradigmas positivistas, modernos por excelência. São vários os alicerces que
sustentam a modernidade. Construções racionais que formam uma estrutura concreta que crê
na ordem, na ordenação de todas as coisas e no assujeitam-no de tudo à razão humana.
Instrumentos da manutenção da ordem moderna são o Estado e o Direito moderno -
positivado, legislado, ordenado e codificado.

Ocorre que séculos de construção racionalista, de construção de sistemas sólidos de


ordenação, em busca do tão almejado progresso, desembocaram num século de contradições
e tragédias globais, o século XX. Com duas grandes guerras mundiais, o totalitarismo e o
holocausto, as estruturas da modernidade sofreram um duro golpe. As promessas da
modernidade não se cumpriram e revelaram grandes ilusões.

O homem que estava no centro do universo, não era qualquer homem e, muito menos,
representava a maioria dos homens. O sistema moderno era um sistema que se preocupava
com a ordem e a manutenção de uma estrutura que privilegiava apenas parte dos homens. A
crise da modernidade, revelada em meados do século XX, gerou inúmeros estudos, alguns
autores a denominaram modernidade líquida, hipermodernidade, modernidade reflexiva ou,
simplesmente, pós-modernidade. Fato é que a crise é clara. As ilusões da modernidade foram
expostas e os questionamentos foram inevitáveis.
3

Objectivos
O objectivo principal deste trabalho é analisar a crise da modernidade e seus reflexos no
Socialismo contemporâneo. Para isso será necessário reflectir acerca da modernidade, seus
pilares e estruturas; analisar a crise da modernidade, a modernidade líquida e a pós-
modernidade; por fim, identificar e reflectir acerca dos reflexos da crise da modernidade no
Socialismo contemporâneo.

Objectivo geral
 Conhecer os principais marcos da crise da modernidade

Objectivos específicos
 Entender revolução retardada
 Analisar reflexivamente sobre a crise da modernidade.
 Descrever as forma de socialismo sem o estado e contro o estado.
 Explicar os contornos do marxismo na crise da modernidade
 Falar do federalismo e do sindicalismo.

Metodologias de pesquisa
De salientar que a materialização que na elaboração da actividade em alusão foi
precisamente usado o método bibliográfico, que consistiu na leitura da obra que retractam o
assunto em causa.

Segundo Valadares, (2001:86).ʺ Metodologia pode ser denominada como os procedimentos


utilizados pelo pesquisador, material e métodos, em uma determinada investigação, sendo as
etapas a seguir em um determinado processo".
4

Revisão bibliográfica

A crise da Modernidade.
O termo modernidade não é um termo novo, ainda que represente categoricamente o que é
novo, actual. Segundo Habermas (2001, p. 168), a palavra “modernus” foi utilizada já no
século V para diferenciar um presente cristão de um passado pagão. Percebe-se nitidamente
que a palavra quer representar uma ideia de inovação carregada de um sentido evolucionista,
de descontinuidade, de ruptura com tradições. Moderno, do latim modernus, significa o que é
“recente”, “agora mesmo”. Do ponto de vista histórico, considera-se que a filosofia moderna
se inicia com Descartes e Francis Bacon, caracterizando uma ruptura com o medieval,
sobretudo com a escolástica. O pensamento moderno acompanha fatos que ocorrem durante
os séculos XV a XVII e marcam uma nova visão de mundo que se contrapõe à visão
medieval, caracterizando o surgimento do mundo moderno. “‘Moderno’ identifica-se, neste
sentido, à ideia de progresso e de ruptura com o passado” (JAPIASSU; MARCONDES,
2001, p. 132).

A modernidade rompe com os paradigmas medievais, inaugurando uma nova ordem social
baseada no racionalismo. Há um rompimento com a ideia de centralizar o espiritual, e
coloca-se a razão, e o homem racional no centro de toda fonte de conhecimento. Tal factor,
determinante para o nascimento de um novo paradigma é reconhecido historicamente como o
período pós-renascimento e o iluminismo. O renascimento do homem como ser iluminado e
dotado de razão.

Há certa dificuldade em se definir a modernidade, mas é possível associar o termo a várias


palavras que acabam por traçar as características semânticas que contornam as dificuldades
de se definir a modernidade, tais como: progresso, ciência, razão, saber, técnica, sujeito,
ordem, soberania, controle, unidade, Estado, indústria, centralização, economia, acumulação,
negócio, individualismo, liberalismo, universalismo, competição, dentre outros termos que
nasceram com a modernidade e foram sustentados por ideologias e práticas sociais saudados
com efusividade por gerações ambiciosas pela sensação de liberdade prometida pela
modernidade (BITTAR, 2014, p. 28).

Observa-se que a modernidade possui alicerces sólidos, concretos, criados para sustentar um
novo paradigma: o paradigma da modernidade. Com promessas de igualdade, liberdade,
5

progresso, segurança, dentre outras, a era moderna conquista o homem e organiza a


sociedade, criando uma nova cultura e novas tradições no ocidente.

Giddens (1998, p. 8) questiona: o que é a modernidade? E afirma que “modernidade” refere-


se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiu na Europa e tornou-se
mundial em sua influência. Trata-se de um paradigma moldado por grandes ideologias,
filosofias e com alicerces sólidos e que se tornaram influentes mundialmente. Um conjunto
de transformações sociais, políticas, económicas e culturais que formam uma nova ordem
social: a ordem moderna; fundada sobre o ideal de liberdade e na crença na razão que rompe
com as explicações espirituais e com a centralização da religião da era medieval.

O paradigma da modernidade surge entre o Renascimento e a Idade Moderna, por uma série
de condições, como o modelo heliocêntrico de Copérnico na astronomia, a física de Galileu e
Newton, que superou o modelo de Aristóteles, além da mudança metodológica da
epistemologia de René Descartes e Francis Bacon, reconhecendo o indivíduo como o sujeito
do conhecimento. Esse paradigma da modernidade se evoluiu para o Iluminismo, onde seu
nome representa o caminho das luzes para guiar o ser humano no mundo e consigo mesmo,
guiando este por meio da razão, entendida por Immanuel Kant como a maioridade do
espírito.

Alguns dos principais elementos desse paradigma são: Valorização da subjectividade,


reconhecimento da autonomia do sujeito, tolerância religiosa e ética laica; Valorização da
ciência como a principal forma de conhecimento, validada pelo desenvolvimento da
tecnologia, deixando de lado as crendices e superstições, entendendo o saber enquanto poder,
associando a ciência com a técnica; Início do conceito de Estado representativo, sustentando
as concepções de cidadania e participação, se opondo ao poder absolutista dos reis,
valorizando os anseios de democracia, liberdade e igualdade; Necessidade de um estatuto de
direitos fundado em leis, ao invés do uso arbitrário do poder; Liberação da economia de
mercado, defendendo o liberalismo.

O momento actual corresponde a uma crise dos valores da modernidade, entendendo que o
modo de produção capitalista, apesar de alcançar sua expansão, está também chegando em
sua falência, pois a sociedade não conseguiu alcançar suas promessas esperadas. Deste modo
vivenciamos um momento de crise e de vazio, por não termos ainda um modelo novo para
substituir o actual falho. A crença dos filósofos da modernidade era de que a razão científica
fosse colaborar para a emancipação humana. Porém, com o passar do tempo, a história nos
6

mostrou outros dados: a miséria, as catástrofes ambientais, as guerras, as desigualdades


sociais, o acúmulo de lixo, entre outros problemas são cada vez mais comuns nas cidades.
Essa supervalorização da razão acabou promovendo a falta de reflexão, impedindo o
questionamento ou a crítica sobre os fundamentos dessa razão.

Revolução retardada

Blanquismo
Expressão que designa a doutrina política básica do grande revolucionário francês Louis-
Auguste Blanqui (1805-1881). Seguindo a tradição conspiratória de Babeuf e Buonarroti,
Blanqui procurou organizar uma elite relativamente pequena, centralizada e hierárquica, que
realizasse uma insurreição para substituir o poder de Estado capitalista pela sua própria
ditadura revolucionária. Acreditando que a prolongada sujeição à sociedade de classes e à
religião impedia que a maioria reconhecesse seus verdadeiros interesses, Blanqui opunha-se
ao estabelecimento do sufrágio universal até que as pessoas tivessem atravessado um longo
período de reeducação sob essa ditadura, cujo centro seria Paris. Como meta última haveria,
sob o COMUNISMO, uma “ausência de governo” (apud Bernstein, 1971, p.312).

Marx e Engels admiravam muito Blanqui, que consideravam um corajoso líder


revolucionário. Celebraram breves alianças com os seus partidários em 1850 (Ryazanov,
1928) e, em 1871-1872, depois da COMUNA DE PARIS. Antes disso, Marx tentou, sem
êxito, atrair Blanqui para a Primeira Internacional. Mas ele e Engels rejeitaram a abordagem
conspiratória dos “alquimistas da revolução”, que lutavam artificialmente para “apressar o
processo de desenvolvimento revolucionário”, em um artigo conjunto publicado, em 1850,
no quarto número da revista Neue Rheinische Zeitung (Nova Gazetta Renana).

Ao contrário de Blanqui, Marx e Engels consideravam o movimento proletário como “o


movimento autoconsciente e independente da imensa maioria” (Manifesto comunista, I) e
“confiavam inteiramente no desenvolvimento intelectual da classe operária, que certamente
resultaria da acção combinada e da discussão mútua” (Engels, “Prefácio” à edição inglesa de
1888 do Manifesto comunista). Bernstein e outros consideraram a Mensagem à Liga dos
Comunistas, escrita por Marx e Engels em Março de 1850, como acentuadamente
“blanquista”. Essa mensagem, porém, argumentava que a etapa seguinte da revolução na
Alemanha envolvia a colaboração com os democratas pequeno-burgueses para que estes
7

alcançassem o pode e que os trabalhadores alemães necessitariam de “um prolongado


desenvolvimento revolucionário” antes que pudessem tomar esse poder.

A ideia generalizada de que Blanqui criou a expressão ditadura do proletariado e de que


Marx a tomou dele não tem fundamento. Não apenas Dommanget (1957, p.171) e Sptizer
(1957, p.176) reconhecem que Blanqui nunca usou a expressão, como também Engels
empenhou-se em assinalar a diferença fundamental entre esse conceito marxista e a ditadura
revolucionária preconizada por Blanqui. “Da concepção de Blanqui de toda revolução como
coup de main de uma pequena minoria revolucionária”, “segue-se a necessidade de uma
ditadura, logo após seu êxito:

ditadura, é claro, não de toda a classe revolucionária, o proletariado, mas do


pequeno número daqueles que deram o golpe e que já estão antecipadamente
organizados sob a ditadura de um indivíduo, ou de poucos”, escreveu Engels
em um artigo intitulado “O programa dos refugiados blanquistas da Comuna”,
publicado em Der Volksstaat de 26 de junho de 1874.

Socialismo
O socialismo é uma ideologia de matiz política, económica e filosófica que realizou uma
análise científica do capitalismo como forma de propor a sua superação. Os socialistas
defendem o estabelecimento de uma sociedade justa e igualitária e traçaram caminhos
diferentes para que isso fosse alcançado.

Assim, foram estabelecidos dois tipos de socialismo, a saber: o utópico e o científico. O


primeiro defende a transformação da sociedade por meio de reformas, e o segundo defende a
transformação da sociedade e a abolição do capitalismo pela via revolucionária. As
experiências socialistas se diferem dos dois tipos e são conhecidas como socialismo real.

Resumo sobre o socialismo


 É uma ideologia política, económica e filosófica que propõe a construção de uma
sociedade mais justa e igualitária.

 Surgiu na passagem do século XVIII para o século XIX, durante o contexto


da Revolução Industrial.

 Existem dois tipos de socialismo: o utópico e o científico.


8

 O socialismo utópico propõe a construção de uma sociedade mais igualitária por


meio de reformas e sem necessariamente acabar com o capitalismo.

 O socialismo científico propõe a construção de uma nova sociedade por meio da


derrubada do capitalismo pela via revolucionária. O socialismo seria a transição para o
comunismo.

 As experiências socialistas que se estabeleceram ao longo do século XX, com


destaque para a União Soviética, receberam o nome de socialismo real.

O mais importante texto de Marx sobre o assunto é a Crítica ao Programa de Gotha (1875),
no qual Marx faz uma severa crítica do programa adoptado pelo congresso reunido em Gotha
em que se unificaram as duas alas do movimento operário alemão (lassalianos e
eisenaquianos) para formar o Partido Socialista Operário, mais tarde denominado Partido
Social-Democrata da Alemanha. Nesse texto, Marx distingue duas fases na sociedade
comunista. Uma “primeira fase” é aquela forma de sociedade que sucederá imediatamente ao
capitalismo, e terá as marcas de sua origem: os operários, como a nova classe dominante,
necessitarão de seu próprio Estado (a ditadura do proletariado ) para se protegerem de seus
inimigos; o horizonte intelectual e espiritual do povo estará ainda colorido por ideias e
valores burgueses; o que os indivíduos recebem, embora deixe de resultar da propriedade,
terá de ser calculado de acordo com o trabalho feito e não com as necessidades.

Entretanto, as forças produtivas da sociedade se desenvolverão rapidamente sob essa nova


ordem e, com o passar do tempo, os limites impostos pelo passado capitalista serão
superados. A sociedade entrará então no que Marx chamou de “estágio superior de sociedade
comunista”, sob o qual o Estado desaparecerá, uma atitude completamente diferente em
relação ao trabalho prevalecerá, e a sociedade será capaz de inscrever em sua bandeira a
divisa “de cada um segundo sua capacidade, a cada um segundo suas necessidades”.

Violência
A questão de se é ou não necessário o recurso à violência generalizada para promover uma
transformação socialista é uma questão permanentemente colocada, para a tradição marxista,
no que diz respeito às relações entre meios e fins, e vem constituindo há muito uma das
principais causas de divisão entre marxistas. A questão da violência tem um variado cenário
histórico. A mística da transformação radical que só é alcançável pelo conflito violento teve
9

origem na Revolução Francesa de 1789. Foi perpetuada na tradição socialista por Babeuf e
Blanqui e ganhou renovado vigor com as revoluções europeias de 1848. O fracasso
generalizado desses movimentos, que não conseguiram conquistar direitos políticos amplos
para a classe operária, e o evidente agravamento do nível de vida dessa classe levaram
muitos autores, inclusive Marx, à concepção de que não havia outro recurso senão a
violência revolucionária para conseguir a emancipação da força de trabalho. A busca de uma
transformação pacífica do capitalismo era, concluiu ele, característica do socialismo utópico.
Ocasionalmente (como em seu discurso de Haia, em Setembro de 1872) Marx reconheceu
que, nos países onde a burocracia e o exército permanente não dominavam o Estado, “os
trabalhadores podem alcançar sua meta por meios pacíficos”, mas “na maior parte dos países
da Europa continental a alavanca da revolução terá de ser a força”.

A extensão gradual do direito de voto, o surpreendente sucesso do Partido Social-Democrata


(SPD) alemão na mobilização da classe operária, juntamente com a maior eficiência,
disciplina e poder de fogo dos exércitos modernos, levaram Engels, na “Introdução” que
escreveu em 1895 para uma edição da obra de Marx As lutas de classes na França, a
concluir que “uma vitória real de uma insurreição sobre os militares, em lutas de ruas (…) é
uma das excepções mais raras”. Assim, Engels aconselhava cautela e a edificação paciente
do apoio ao movimento, que estava “florescendo muito melhor com os métodos legais do
que com os métodos ilegais e a perspectiva de derrubada violenta do Estado”. Os principais
partidos marxistas da Segunda Internacional, embora conservando uma retórica abstracta da
revolução, não fizeram preparativos para ela. Parte da força da argumentação de Bernstein
estava em que a teoria revolucionária do movimento pouca relação tinha com sua prática
reformista.

O partido russo, agindo em condições de ilegalidade e de ausência de estruturas


democráticas, foi o único a preservar o compromisso com a organização de greves políticas
de massas que culminariam no conflito armado. E esteve próximo do êxito em 1905. O
sucesso da revolução bolchevique em Outubro de 1917 provocou a renovação da
controvérsia sobre o papel da violência e uma cisão no movimento internacional.

A social-democracia argumentava que as democracias capitalistas poderiam ser levadas a


uma transformação socialista pacífica que, de qualquer modo, só poderia ser significativa e
duradoura com o apoio da maioria. Os comunistas achavam que o Estado imperialista
cercearia as liberdades democráticas tão logo a propriedade privada dos meios de produção
10

fosse ameaçada seriamente. A experiência do fascismo europeu confirmou a perspectiva


segundo a qual o Estado imperialista era essencialmente um instrumento de violência.
Através da Internacional Comunista, a experiência russa foi universalizada e a ditadura do
proletariado ,significando o uso irrestrito da força por uma classe contra as outras, foi
considerada como a única forma de transição para o socialismo. Mais ainda, passou-se a
sustentar a ideia de que a oposição dialéctica de forças de classe hostis dentro da sociedade,
as quais só poderiam resolver os seus interesses contraditórios (ou contradições antagónicas)
por meio da luta violenta e da guerra civil, reproduzia-se então em escala mundial, no
confronto dos campos armados do socialismo e do capitalismo. Essa foi a concepção geral
que se associou à era de Stalin.

A questão da violência apresenta-se também sob uma dimensão epistemológica que deriva
das divergências dentro do marxismo quanto à maneira pela qual indivíduos e classes
chegam a compreender o mundo em que vivem. Em geral, os marxistas que desejam
diminuir o papel da violência dão ênfase à história como um processo governado por leis e
que funciona com uma compulsão interna no sentido do colapso do capitalismo. Os homens,
sendo criaturas racionais, podem compreender, articular e divulgar essas leis do
desenvolvimento histórico e demonstrar a racionalidade e a superioridade do socialismo.
Dizem ainda que, ao contrário do anarquismo, o marxismo se propõe a reestruturar, e não a
destruir, o sistema produtivo criado pelo capitalismo, e que as tarefas construtivas da gestão
de uma economia moderna e da criação de uma solidariedade social mais harmoniosa
chocam-se com a arbitrariedade da violência das massas e os hábitos que esta cria. Em suma,
os objectivos do socialismo não poderão ser realizados por meios violentos.

Socialismo sem estado

Anarquismo
O anarquismo defende sociedades apátridas geralmente definidas como instituições
voluntárias autogovernadas mas que vários autores definiram como instituições mais
específicas baseadas em associações livres não hierárquicas. Enquanto o anarquismo
considera o Estado indesejável, desnecessário ou prejudicial, este não é o aspecto central. O
anarquismo envolve autoridade oposta ou organização hierárquica na conduta das relações
humanas, incluindo o sistema de Estado. Os mutualistas apoiam o socialismo de
mercado, anarquistas colectivistas favorecem cooperativas de trabalhadores e salários com
11

base na quantidade de tempo contribuído para a produção, anarcocomunistas defendem uma


transição directa do capitalismo para o comunismo libertário e uma economia de oferta,
enquanto os anarcossindicalistas preferem a acção directa dos trabalhadores e a greve geral.

As lutas e disputas autoritárias-libertárias dentro do movimento socialista remontam


à Associação Internacional dos Trabalhadores e à expulsão em 1872 dos anarquistas, que
passaram a liderar a Internacional Antiautoritária e então fundaram sua própria internacional
libertária, a Internacional Anarquista de St. Imier. Em 1888, o anarquista
individualista Benjamin Tucker, que se proclamou um socialista anarquista e libertário em
oposição ao socialismo estatal autoritário e ao comunismo obrigatório, incluiu o texto
completo de uma "Carta Socialista" de Ernest Lesigne em seu ensaio "Socialismo de Estado
e Anarquismo".

Segundo Lesigne, existem dois tipos de socialismo:

“Um é ditatorial, o outro libertário”. Os dois socialismos de Tucker eram o


socialismo estatal autoritário que ele associava à escola marxista e o socialismo
anarquista libertário, ou simplesmente anarquismo, que ele defendia. Tucker
observou que o fato de que o "socialismo estatal ofuscou outras formas de socialismo
não lhe dá direito ao monopólio da ideia socialista".De acordo com Tucker, o que
essas duas escolas de socialismo tinham em comum era a teoria do valor-trabalho e
dos fins, pela qual o anarquismo buscava meios diferentes.
De acordo com anarquistas como os autores de An Anarchist FAQ, o anarquismo é uma das
muitas tradições do socialismo. Para anarquistas e outros socialistas antiautoritários, o
socialismo “só pode significar uma sociedade sem classes e antiautoritária (isto é, libertária)
na qual as pessoas administram seus próprios assuntos, seja como indivíduos ou como parte
de um grupo (dependendo da situação). Ou seja, implica na autogestão de todos os aspectos
da vida”, inclusive no ambiente de trabalho.

Peter Marshall argumenta que

"o anarquismo em geral está mais próximo do socialismo do que do liberalismo. [...]
O anarquismo encontra-se amplamente no campo socialista, mas também tem
batedores no liberalismo. Não pode ser reduzido ao socialismo e é melhor visto como
uma doutrina separada e distinta".

Socialismo Contra o estado


Os social-democratas defendem uma transição pacífica e evolutiva da economia para o
socialismo por meio de reformas sociais progressivas. Afirma que a única forma
constitucional de governo aceitável é a democracia representativa de acordo com o Estado de
direito. Promove a extensão da tomada de decisão democrática para além da democracia
12

política para incluir a democracia económica para garantir aos empregados e outras partes
interessadas direitos suficientes de co-determinação.

Ele apoia uma economia mista que se opõe à desigualdade, pobreza e opressão, ao mesmo
tempo que rejeita uma economia de mercado totalmente desregulada ou uma economia
totalmente planejada. Políticas sociais democráticas comuns incluem direitos sociais
universais e serviços públicos universalmente acessíveis, como educação, saúde,
compensação de trabalhadores e outros serviços, incluindo creche e cuidados com os
idosos. A social-democracia apoia o movimento sindical e os direitos de negociação
colectiva dos trabalhadores. A maioria dos partidos social-democratas é filiada
à Internacional Socialista.

O socialismo democrático moderno é um amplo movimento político que busca promover os


ideais do socialismo no contexto de um sistema democrático. Alguns socialistas
democráticos apoiam a social-democracia como uma medida temporária para reformar o
sistema atual, enquanto outros rejeitam o reformismo em favor de métodos mais
revolucionários. A social-democracia moderna enfatiza um programa de modificação
legislativa gradual do capitalismo a fim de torná-lo mais equitativo e humano, enquanto o
objectivo final teórico de construir uma sociedade socialista, o que é relegado a um futuro
indefinido. De acordo com Sheri Berman, o marxismo é vagamente considerado valioso por
sua ênfase em mudar o mundo para um futuro mais justo e melhor.

Os dois movimentos são muito semelhantes tanto em terminologia quanto em ideologia,


embora existam algumas diferenças fundamentais. A principal diferença entre a social-
democracia e o socialismo democrático é o objectivo de suas políticas, pois os social-
democratas contemporâneos apoiam o estado de bem-estar e o seguro-desemprego, bem
como outras reformas práticas e progressivas do capitalismo, e estão mais preocupados em
administrá-lo e humanizá-lo. Por outro lado, os socialistas democráticos buscam substituir o
capitalismo por um sistema económico socialista, argumentando que qualquer tentativa de
humanizar o capitalismo por meio de regulamentações e políticas de bem-estar distorceria o
mercado e criaria contradições económicas.

Socialismo ético e liberal


O socialismo ético apela ao socialismo em bases éticas e morais, em oposição a bases
económicas, egoístas e consumistas. Ele enfatiza a necessidade de uma economia
moralmente consciente baseada nos princípios do altruísmo, cooperação e justiça social,
13

enquanto se opõe ao individualismo possessivo. O socialismo ético tem sido a filosofia


oficial dos principais partidos socialistas.

O socialismo liberal incorpora princípios liberais ao socialismo. Ele foi comparado à social-
democracia do pós-guerra por seu apoio a uma economia mista que inclui bens de capitais
públicos e privados. Enquanto o socialismo democrático e a social-democracia são posições
anticapitalistas na medida em que a crítica ao capitalismo está ligada à propriedade
privada dos meios de produção, o socialismo liberal identifica os monopólios artificiais e
legalistas como sendo culpa do capitalismo e se opõe a um economia de mercado totalmente
não regulamentada. Considera a liberdade e a igualdade social compatíveis e mutuamente
dependentes.

Princípios que podem ser descritos como socialistas éticos ou liberais foram baseados ou
desenvolvidos por filósofos como John Stuart Mill, Eduard Bernstein, John Dewey, Carlo
Rosselli, Norberto Bobbio e Chantal Mouffe . Outras importantes figuras do socialismo
liberal incluem Guido Calogero, Piero Gobetti, Leonard Trelawny Hobhouse, John
Maynard Keynes e R. H. Tawney. O socialismo liberal tem sido particularmente proeminente
na política britânica e italiana.

Leninismo e precedentes
O blanquismo é uma concepção de revolução que leva o nome de Louis Auguste Blanqui.
Afirma que a revolução socialista deve ser realizada por um grupo relativamente pequeno de
conspiradores altamente organizados e secretos. Ao tomar o poder, os revolucionários
introduzem o socialismo. Rosa Luxemburgo e Eduard Bernstein criticaram Lenin, afirmando
que sua concepção de revolução era elitista e blanquista. O marxismo-leninismo combina os
conceitos socialistas científicos de Marx e o anti-imperialismo, centralismo
democrático e vanguardismo de Lenin.

Hal Draper definiu o socialismo de cima como a filosofia que emprega uma administração
de elite para dirigir o Estado socialista. O outro lado do socialismo é um socialismo mais
democrático visto de baixo. A ideia do socialismo de cima é discutida com muito mais
frequência nos círculos da elite do que o socialismo de baixo - mesmo que esse seja o ideal
marxista - porque é mais prático.

Draper via o socialismo de baixo como sendo a versão mais pura e marxista do
socialismo. De acordo com Draper, Karl Marx e Friedrich Engels eram devotamente opostos
14

a qualquer instituição socialista que fosse "conducente ao autoritarismo supersticioso".


Draper argumenta que essa divisão ecoa a divisão entre "reformista ou revolucionário,
pacífico ou violento, democrático ou autoritário, etc" e ainda identifica seis variedades
principais de socialismo de cima, entre eles "Filantropismo", "Elitismo", "Pannismo",
"Comunismo", "Permeacionismo" e "Socialismo de fora".

Segundo Arthur Lipow, Marx e Engels foram "os fundadores do socialismo democrático
revolucionário moderno", descrito como uma forma de "socialismo de baixo" que é "baseado
em um movimento de massas da classe trabalhadora, lutando de baixo para cima pela
extensão da democracia e liberdade humana ". Este tipo de socialismo é contrastado com o
do "credo autoritário e antidemocrático" e com "as várias ideologias
colectivistas totalitárias que reivindicam o título de socialismo", bem como com "as muitas
variedades de 'socialismo de cima' que conduziram no século XX aos movimentos e formas
de estado em que uma despótica 'nova classe' governa uma economia estatizada em nome do
socialismo, uma divisão que "permeia a história do movimento socialista". Lipow identifica
o belamismo e o stalinismo como duas correntes socialistas autoritárias proeminentes na
história do movimento socialista.

Socialismo libertário

O primeiro jornal anarquista a usar o termo libertário foi Le Libertaire, Journal du


Mouvement Social, publicado na cidade de Nova York entre 1858 e 1861 pelo comunista
libertário francês Joseph Déjacque, a primeira pessoa registrada a se descrever
como libertário

O socialismo libertário, às vezes chamado de libertarianismo de esquerda, anarquismo social


e libertarianismo socialista, é uma tradição antiautoritária, anti estatista e libertária dentro do
socialismo que rejeita a centralização da propriedade e do controle do Estado incluindo
críticas às relações de trabalho assalariado (escravidão assalariada), bem como ao próprio
Estado. Enfatiza a autogestão dos trabalhadores e as estruturas descentralizadas de
organização política. O socialismo libertário afirma que uma sociedade baseada na liberdade
e igualdade pode ser alcançada através da abolição das instituições autoritárias que
controlam a produção.[501] Socialistas libertários geralmente preferem democracia
directa e associações federais ou confederais, como municipalismo libertário, assembleias de
cidadãos, sindicatos e conselhos de trabalhadores.
15

O anarcossindicalista Gaston Leval explicou:

“Prevemos, portanto, uma Sociedade na qual todas as actividades serão


coordenadas, uma estrutura que tenha, ao mesmo tempo, flexibilidade suficiente para
permitir a maior autonomia possível para a vida social, ou para a vida de cada
empresa, e coesão suficiente para prevenir todos os distúrbios.
[...] Em uma sociedade bem organizada, todas essas coisas devem ser
sistematicamente realizadas por meio de federações paralelas, verticalmente unidas
nos níveis mais altos, constituindo um vasto organismo no qual todas as funções
económicas serão desempenhadas em solidariedade com todas as outras e que serão
permanentemente preservar a coesão necessária”.
Tudo isso é geralmente feito dentro de um apelo geral
por associações libertárias e voluntárias, por meio da identificação, crítica e desmantelamento
prático da autoridade ilegítima em todos os aspectos da vida humana.

Como parte do movimento socialista mais amplo, busca distinguir-se do bolchevismo, do


leninismo e do marxismo-leninismo, bem como da social-democracia.
Filosofias e movimentos políticos passados e presentes comumente descritos como
socialistas libertários incluem anarquismo (anarco-comunismo, anarco
sindicalismo anarquismo colectivista, anarquismo individualista e mutualismo),
autonomismo, comunalismo, participíssimo, marxismo libertário (comunismo de
conselhos e luxemburguês). sindicalismo revolucionário e socialismo utópico (fourierismo).

Socialismo religioso

O socialismo cristão é um conceito amplo que envolve um entrelaçamento da religião cristã


com o socialismo.

O socialismo islâmico é uma forma mais espiritual de socialismo. Os socialistas muçulmanos


acreditam que os ensinamentos do Alcorão e de Maomé não são apenas compatíveis, mas
promovem activamente os princípios de igualdade e propriedade pública, inspirando-se no
antigo estado de bem-estar de Medina que ele estabeleceu. Os socialistas muçulmanos são
mais conservadores do que seus contemporâneos ocidentais e encontram suas raízes no anti-
imperialismo, no anticolonialismo e, às vezes, se em um país de língua árabe,
no nacionalismo árabe. Os socialistas islâmicos acreditam em derivar legitimidade
do mandato político em oposição aos textos religiosos.

Sindicalismo
O sindicalismo opera por meio de sindicatos industriais. Ele rejeita o socialismo estatal e o
uso de políticas estabelecidas. Os sindicalistas rejeitam o poder do Estado em favor de
16

estratégias como a greve geral. Os sindicalistas defendem uma economia socialista baseada
em sindicatos federados ou de trabalhadores que possuem e administram os meios de
produção. Algumas correntes marxistas defendem o sindicalismo, como o De Leonismo.
O anarco-sindicalismo vê o sindicalismo como um método para os trabalhadores
da sociedade capitalista obterem o controle de uma economia. A Revolução Espanhola foi
amplamente orquestrada pelo sindicato anarco-sindicalista CNT. A Associação Internacional
dos Trabalhadores é uma federação internacional de sindicatos e iniciativas anarco-
sindicalistas

Social-democracia

A social-democracia declara que na democracia não há mais lugar para um socialismo de


Estado como o de Rodbertus, ou em outros termos, que a prática socialista da social-
democracia somente coincide com a prática do socialismo de Estado nos Estados
democráticos (cf. a resposta de Kautsky a Vollmar). Isto significa que o socialismo da social-
democracia é um socialismo de Estado que se realiza em democracia. É o que confirmam,
por sua prática, os marxistas ingleses, franceses e suíços, quando rejeitam todo meio ilegal
de luta e formulam seu objectivo como a estatização progressiva dos ramos separados da
produção, na medida do possível, e na medida em que a produção se concentra. Eles atraem
assim para suas fileiras, os liberais, os socialistas chauvinistas e os contra-revolucionários
declarados como os fabianos, criando com todos estes elementos uma social-democracia
“puramente proletária”.

Na medida em que a social-democracia torna seu “ideal socialista” cada vez mais
“científico”, este ideal se manifesta mais e mais como a “distribuição socialista” da renda
nacional entre os membros de toda a sociedade culta, do exército de trabalhadores
intelectuais.

Os operários não separam este ideal da realidade de seus próprios interesses de classe. O
movimento proletário não defende senão as pessoas condenadas ao trabalho físico servil. Sua
meta é a emancipação. O socialismo proletário aparece, portanto, diametralmente oposto ao
dos trabalhadores intelectuais, que consiste em socializar o capital, em transformá-lo de
privado, que é, em capital socialista, nacional, em capital constante social.
17

Para Marx e Engels, a conscientização do proletariado sobre sua condição e, a partir disso,
sua organização política constituíam o caminho revolucionário para debelar o capitalismo e
construir em seu lugar uma sociedade igualitária. O socialismo seria marcado pela abolição
da propriedade privada e pela socialização dos meios de produção, isto é, terras, indústria,
todos os activos de produção de riqueza pertenceriam à sociedade e seriam controlados pelo
Estado e pela economia planificada, com o Estado dirigindo os sectores económicos,
definindo preços e salários, regulando o mercado. Após a aniquilação das desigualdades por
meio da interferência estatal, o próprio Estado seria abolido, e a sociedade seria livre e sem
classes. O socialismo faria a transição para o comunismo.

Comunidade de Robert Owen


O autor socialista Robert Owen logrou construir uma comunidade baseada no seu ideal de
sociedade. Nela, os salários dos trabalhadores eram altos, e os lucros dos sócios, limitados.
Parte do lucro era investida em melhorias para a colectividade, o tempo de trabalho era
menor que em outros lugares e, durante crises económicas, os funcionários não eram
demitidos ou desamparados. Todavia, a comunidade só funcionava harmonicamente sob sua
liderança e, por fim, foi desfeita após brigas internas.

Autores socialistas
Os primeiros pensadores socialistas, do chamado socialismo utópico, foram:

 Claude-Henri de Rouvroy, conhecido como Conde de Saint-Simon (1760-1825);


 Charles Fourier (1772-1837);
 Louis Blanc (1811-1882);
 Robert Owen (1771-1858).

Os principais autores do chamado socialismo científico são:

 Karl Marx (1818-1883);


 Friedrich Engels (1820-1895).

Diferença entre socialismo e comunismo


Na teoria marxista, o socialismo seria uma etapa para a construção do comunismo e um
período de transição gradativa. O comunismo seria uma organização social onde não
haveria divisão de classes nem Estado. Para desenvolvê-la, era necessário um período em
que a sociedade controlasse a produção e distribuição de riqueza, promovendo a cooperação
nas relações de trabalho e a igualdade na redistribuição dos bens produzidos.
18

Esse controle social se daria mediante o Estado, que equalizaria os processos produtivos até
que cada trabalhador pudesse apropriar-se do produto de seu trabalho sem que isso
desapossasse a outrem ou limitasse a si mesmo. Então viria o comunismo, em que a
sociedade regularia a produção, mas não imporia a ninguém uma actividade fixa para sua
subsistência. O homem livre poderia “Caçar de manhã, pescar a tarde, pastorear à noite e
fazer crítica depois da refeição (...) sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador
ou crítico”.

O comunismo seria o fim, e o socialismo seria o meio de alcançá-lo a partir da socialização


dos meios de produção e do seu controle temporário pelo Estado até que a organização social
fosse colaborativa e igualitária a ponto de o comunismo poder ser exercido. Curiosamente,
nenhuma experiência real de tentativa de socialismo caminhou para essa definição marxista
de comunismo. O que na prática dos países se costuma chamar de “comunismo” é
justamente o fechamento dos regimes e a centralização do controle estatal, o oposto do que o
marxismo preconizava. Portanto, nunca houve um país, de fato, comunista.

Como aponta o cientista político Archie Brown:

“Marx e Lênin detalharam muito pouco sobre o sistema político e as instituições que
existiriam em um país socialista, o que deixou muitas questões em aberto. Os países tiveram
que desenvolver suas próprias instituições. Mesmo assim pelo que vimos nas tentativas
comunistas na prática não pareciam nada com os ideais propostos originalmente”

Marxismo
A palavra marxismo designa dubiamente a doutrina política elaborada por Karl Marx e
Friedrich Engels e o método de análise socioeconómica baseada no que Marx chamou de
materialismo histórico dialéctico, que apresenta como elemento de definição e análise da
sociedade a sua produção material.
Quando nos referimos ao marxismo ou aos marxistas, estamos tratando especificamente desses
elementos. Para referirmo-nos aos livros de Marx ou à sua obra, sem a especificação da doutrina ou
do método de análise social, devemos utilizar o adjectivo “marxiano”, como a “obra marxiana” ou a
“teoria marxiana”.
O marxismo ainda é amplamente estudado nos âmbitos da sociologia, da filosofia e da
economia. Actualmente, pelo fato de o marxismo estar alinhado a um pensamento de
esquerda, sectores da direita, sobretudo da direita conservadora, acusam os movimentos de
19

esquerda de infiltrarem os ideais marxistas nas instituições de educação, na média e na


cultura em geral, formando o que eles chamaram de “marxismo cultural”.

Karl Marx (à esquerda) e Friedrich Engels (à direita) foram os responsáveis pela elaboração
teórica do marxismo.

Características do marxismo
O pensamento marxista está fundamentado no reconhecimento de um sistema de exploração
da classe operária pela burguesia. Fundado por Karl Marx e Friedrich Engels, o marxismo
fundou-se com base em um pensamento socialista já existente na Europa industrial, a fim de
criar uma doutrina amparada pela socialização dos meios de produção (indústrias) e
pela tomada de poder da classe operária, tendo em vista sua libertação do sistema
explorador.

O marxismo começou a ser difundido por meio das obras de Marx e Engels, lembrando que
não foram os autores que criaram o termo “marxismo”, e ganhou força no fim do século XIX
a partir da formação de grandes sindicatos de operários. A expressão maior do
marxismo deu-se com a Revolução Russa e a ascensão de Vladimir Lenin ao poder na
nascente União Soviética.

Outros governos que se auto-intitularam socialistas marxistas foram o da China, a partir da


revolução de Mao Tsé-Tung, e o de Cuba, a partir da Revolução Cubana liderada por Fidel
Castro, Raul Castro, Ernesto “Che” Guevara e Camilo Cienfuegos.

O marxismo, na sua forma pura, defende que deve haver uma revolução pela qual a classe
operária toma para si os meios de produção e o governo, suprimindo a burguesia e os seus
meios de hegemonia e manutenção do poder, que constituem os conjuntos chamados infra-
estrutura e superestrutura. Com base nisso, deveria ser criado um Estado forte, com um
governo chamado de socialista, que acabaria com a propriedade privada e controlaria toda a
propriedade em nome da população, formando uma ditadura do proletariado.

A tendência, defende o sistema marxista, é que aos poucos a diferença de classes sociais
deixaria de acontecer, pois as classes seriam suprimidas, formando uma população
economicamente homogénea por meio da igualdade social. O fim desse processo, de
igualdade plena, seria o chamado comunismo, que pode ser considerado uma utopia, pelo
fato de que, até hoje, não foi concretizado.
20

O socialismo existente antes da teoria marxista é chamado de socialismo utópico. O


socialismo marxista pode ser chamado de socialismo científico, pois ele cria uma
metodologia sociológica de análise social e traz para a teoria socialista elementos das
ciências económicas. Já o socialismo que entrou em prática nos governos soviéticos (após o
afastamento de Lenin e Trotsky e a tomada tirânica de Stalin), chinês (de Mao Tsé-Tung),
cubano, vietnamita, entre outros países que passaram por regimes socialistas, pode ser
chamado de socialismo real, pois todas essas nações ditas socialistas afastaram-se muito da
teoria marxista.

Foram muitos os detractores do marxismo ao longo da história. No século XX, a Alemanha


nazista de Hitler efectuou uma caça ao comunismo, que se resumia, para o governo
totalitário, a qualquer pensador de esquerda ou que discordasse do governo vigente. Aqui no
Brasil, na mesma época, Getúlio Vargas perseguiu e prendeu comunistas que se
apresentavam como uma ameaça ao governo desde 1930, destacando nomes como Carlos
Marighella, Luís Carlos Prestes e Olga Benário, activistas marxistas que lutavam na
guerrilha armada comunista.

Durante a Guerra Fria, onde se formaram dois blocos económicos centrais, o socialista e o
capitalista, houve uma intensa campanha ideológica dos Estados Unidos para suprimir o que
eles chamavam de ameaça comunista, que envolvia governos marxistas, governos de
esquerda em geral e pensadores e ideólogos marxistas.

As ditaduras na América Latina, que aconteceram a partir da década de 1960, foram


organizadas e financiadas pelo governo estadunidense, pois este justificava haver uma
crescente comunista nos países do sul. Aqui no Brasil, porém, a luta armada comunista de
cunho marxista já havia acabado desde os anos de 1950, e os guerrilheiros marxistas voltam
à cena após a deflagração do golpe civil militar de 1964. No campo económico, podemos
destacar nomes das escolas Austríaca e de Chicago, de orientação neoliberal, como
opositores do marxismo nas práticas económicas e políticas.

Filosofia
A principal contribuição da teoria marxista para a filosofia reside no conceito de
materialismo histórico dialéctico. Essa concepção filosófica opera uma reviravolta no que se
entendia por dialéctica até então, de Platão a Hegel. O conceito de dialéctica ganha
21

um escopo estritamente prático e material, dispensando o idealismo alemão em alta no


cenário intelectual filosófico do século XIX.

Muitos intelectuais contemporâneos filiaram-se ao pensamento marxista, contribuindo para


sua disseminação. Alguns mais revolucionários, como o filósofo italiano Antonio Gramsci,
partiram para a defesa directa de uma revolução. Já os teóricos da Escola de
Frankfurt fizeram uma releitura do marxismo para uma aplicação que se encaixasse melhor
no panorama económico e político do século XX.

Artistas como Frida Kahlo e o dramaturgo Bertold Brecht inspiraram-se na teoria marxista
na composição de suas obras e defenderam abertamente o marxismo como solução para as
mazelas sociais. Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir fundaram uma nova perspectiva
existencialista que angariou elementos do marxismo, da obra nietzschiana e do conceito de
angústia, proveniente da obra do filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard.

Michel Foucault também remodelou os conceitos marxistas e readaptou-os à sua análise


social baseada no conceito de poder. Nos dias atuais, um filósofo marxista que actualiza as
análises sociais provenientes do pensamento de Marx para o século XXI é o
esloveno Slavoj Zizek.

Marxismo nas escolas


O debate sobre a presença ou não do marxismo nas escolas remonta à difusão de conspiração
do marxismo cultural. Dizem haver uma intensa defesa dos ideais marxistas dentro das
escolas, o que seria responsável por uma suposta doutrinação ideológica dos estudantes. Os
conservadores mais radicais alegam que os professores e professoras estão formando
exércitos comunistas para operar uma revolução, e isso, segundo os acusadores, é apoiado
pelo Ministério da Educação, que elabora currículos cheios de assuntos marxistas.

Acontece que, na óptica de muitas pessoas que tecem essa acusação, qualquer elemento do
currículo pode ser chamado de marxismo, inclusive coisas que nada têm a ver com
marxismo, como feminismo e teorias de género, e assuntos que até se relacionam com o
marxismo, mas não são exclusivos dele, como a redução das desigualdades sociais.

Assim como o marxismo cultural, a acusação de uma doutrinação ideológica marxista nas
escolas é infundada e rasa, não representando a realidade das escolas, sobretudo as escolas
públicas brasileiras, que têm problemas muito maiores para enfrentar, como a superlotação
22

das salas, a falta de investimento e os desvios de verba, que impedem a chegada do dinheiro
nas instituições, a baixa remuneração dos professores, os problemas sociais que refletem na
sala de aula etc.

Proudhon – Federalismo anárquico;

Proudhon (França do século XIX), compreendendo a dimensão descritiva e teórico-


metodológica, abrangendo a história das Ideias, dos Conceitos e teoria do pensamento
político. Reconhecemos o Federalismo como um sistema económico e político antiestatal e
anticapitalista, com base em conceitos de reciprocidade e de igualdade, constituído pelo
equilíbrio entre liberdade e autoridade. O federalismo descentraliza o poder, aboli o Estado e
emancipa as comunas, províncias, comunidades. Instaura relações horizontais e autónoma
entre as unidades mutualistas, que vão se interligando formando redes de interdependência,
sem nenhuma intervenção externa, vertical e dominadora. O federalismo estabelece a paz
entre as nações por ser fundamentado na liberdade e na autoridade de todos os territórios
federados, sendo reconhecido como um dos princípios fundantes do anarquismo.

A partir de 1858, mais consciente da importância das relações políticas internacionais,


Proudhon prossegue a crítica do Estado centralizado (0 que vem fazendo desde 1839) mas
opõe-lhe, não mais a destruição dos governos, mas a sua limitação num sistema federal.
Parece-lhe que a garantia das liberdades deve ser procurada, não somente na negação das
autoridades, mas numa oralização complexa onde se encontrarão limitadas e reciprocamente
contrabalançadas as autoridades e as liberdades. O Federalismo responderia a esta
complexidade das dialécticas desde que ele fosse concebido, não como um simples sistema
político, mas como um sistema total socioeconómico, onde os múltiplos grupos seriam os
livres criadores das suas relações económicas e políticas. O prolema que se coloca a
Proudhon, no momento em que se interroga sobre a constituição social dos grupos nacionais
e sobre as relações internacionais, diz respeito simultaneamente organização política.

Na sociedade não-igualitária do regime de propriedade, o político constitua-se por oposição a


sociedade económica e para dominar os conflitos de classe que a desigualdade suscitava.
Pelo contrário, numa sociedade socialista, onde a livre solidariedade uniria os indivíduos e os
grupos, o direito público, longe de se opor a sociedade económica, deveria admitir os
princípios e não fazer mais que prolongar a organização econ6mica. Os princípios
23

económicos. Contratualismo, mutualismo devem estar no fundamento do direito publico e


reproduzir-se identicamente: o equilíbrio dinâmico instituído na organizar;ao económica
deve reencontrar-se na organização politica: a mutualidade económica transpõe-se na política
sob o nome de o Federalismo.

• A concepção federal dos grupos nacionais opõe ao unitarismo centralizador uma visão
pluralista de sociedade: enquanto a tradição monárquica ou jacobina não concebe o bem
social senão sob a forma de absorção das partes numa centralizar; à única, o federalismo
opõe-se a toda centralização e respeita a autonomia dos agrupamentos particulares. Não se
trata de assegurar a unidade ao preço das liberdades mas assegurar ao mesmo tempo a
unidade e as liberdades na unidade.

O federalismo implica não só uma identidade de forma entre a organização económica e a


organização politica mas também uma distinção entre uma e outra: supõe que os grupos
produtores, longe de abandonarem os seus direitos a uma autoridade avida de se desenvolver,
conservariam os seus poderes de decisão econ6mica e não encontrariam no Estado senão um
meio de expressão ou de estímulo. O federalismo, colocando o princípio da limitação do
poder central pelos poderes particulares e os agrupamentos locais, quebra o dogma da razão
de Estado e a tendência comum dos Estados a concentração. Deixando de ser o único polo de
autoridade, o poder politico deixa de ser 0 dono da sociedade, não e mais que um dos focos
de acção social entre outros.

As fórmulas que Proudhon empregava em relação a este assunto no seu período


particularmente anarquista (anterior a 1858) permanecem aplicáveis ao federalismo: (o
Estado, organizado a imagem da sociedade económica e reproduzindo a sua forma essencial,
encontra-se Ilimitado nos seus poderes pelos produtores e agrupamentos de produção, mas
mais exactamente subalternizado pela sociedade económica no seu conjunto. Longe de
aparecer como o órgão central da sociedade e o seu único meio de coesão, as funções do
Estado não são mais que subfunções, de uma sociedade de produtores.

Proudhon esboça o plano destes centros autónomos que irão limitar o poder político em
nível dos agrupamentos profissionais e das soberanias locais. Segundo um projecto
c1aborado desde 18487, as oficinas e as companhias industriais organizadas, por elas
próprias democraticamente, seriam conduzidas a federarem-se por profissões e por indústrias
para constituírem uma forma de centralização no nível nacional. Esta federação de industrias
24

asseguraria as necessidades de independência dos agrupamentos visto que as relações


ficariam fundadas sobre contractos entre grupos, e responderiam as exigências modernas da
coordenação. Mas não e mais, no seio de uma sociedade federada, que um tipo de
agrupamento autónomo: considerando as relações entre os grupos locais, Proudhon insiste na
independência relativa que devem conservar as comunas e as diferentes regiões.
Contrariamente a tendência centralizadora que não cessa de reduzir a soberania das comunas,
importa reconhecer esta forma de autonomia.

• No federalismo, a comuna, grupo local e natural, readquire a sua soberania; ela tem o
direito de governar-se, administrar-se, díspar das suas propriedades, fixar os impostos,
organizar a educação, fazer a sua própria política. Deve reconstituir uma verdadeira vida
colectiva, o que implica que os problemas sejam debatidos, que os interesses se pronunciem,
que os regulamentos internos sejam discutidos e escolhidos. Este aspecto e, aos olhos de
Proudhon, decisivo: não se trata somente de reconhecer uma certa limitação do Estado pela
presentação dos agrupamentos, mas afirmar a pluralidade das soberanias e, por conseguinte,
a liberdade efectiva da comuna.

Se não fazemos mais que reconhecer algumas liberdades municipais no interior de um


sistema regido segundo as regras da centralização, os conflitos não deixarão de se produzir
entre as comunas e o Estado e o povo mais forte não deixam de obter decisão favorável,
prosseguindo a história da degradação das comunas. Só uma organização federativa
afirmando o princípio da pluralidade das soberanias poderia respeitar a soberania da comuna
e restituir deste modo a plenitude da vida colectiva aos fundamentos da sociedade

• O federalismo implica, por outro lado, que seja restituída as regiões e as províncias uma
parte da sua autonomia, quer dizer que os grupos naturais unidos por uma comunidade de
dialecto, de costumes ou de religião readquirem esta autonomia relativa que a centralização
absorvente lhes fez perder o grupo natural formado pela comunidade local identidade de
costumes e a conexão dos interesses com efeito, uma realidade social mais viva que os
grupos artificiais formados pelos Estados.

Ai também, a teoria federativa do Estado se opõe totalmente a concepção unitarista;


raciocina-se na concepção unitária, em termos de fora e de redução das liberdades: partindo
do princípio que a sociedade não subsiste por ela própria, mas pela autoridade, conclui-se
que e necessário, antes de tudo, constituir um Estado que imporá a disciplina e a obediência.
25

Toda a diversidade sendo interpretada como um sinal de insubordinação, tem se levado a


pensar que a unidade só é assegurada pela destruição das particularidades e a constituição de
um conjunto homogéneo e sem diferenciação. Se se souber, ao contrário, que um grupo
social existe por ele pr6prio, assegura a sua coesão, vive e pensa como um ser orgânico,
desenvolve as suas possibilidades a medida da sua liberdade, concluir-se-á que um conjunto
nacional poderá estar mais certo da sua estabilidade se os grupos naturais forem mais
autónomos. O agrupamento nacional não será, pois, mais uma unidade homogénea e
dominada, mas uma federação ou mais exactamente ao de Estados. Proudhon também iria
desenvolver acções entre os povos, e, do mesmo modo que o sistema unitário de inspiração
monárquica transporta em si mesmo a necessidade de afrontamentos militares, uma
organização confederal dos Estados conduziria ao estabelecimento da paz. Esta confederação
seria possível se unisse Estados de pequena dimensão, dos próprios federados anteriormente:
com efeito, um Estado extenso, onde os laços reais são tanto mais frouxos quanta as
dimensões é vasto, será sempre levado a reforçar os poderes centrais para compensar a
ausência de unidade espontânea.

Georges Eugène Sorel sindicalismo anarquista.

Georges Eugène Sorel (2 de Novembro de 1847 – 29 de agosto de 1922), engenheiro


formado pela École Polytechnique, foi um teórico francês do sindicalismo revolucionário,
muito popular em seu país, assim como na Itália e nos Estados Unidos.

Marxista heterodoxo, fortemente influenciado pela ética de Proudhon e também por Ernest
Renan, Giambattista Vico, Nietzsche e, mais tarde, por Henri Bergson e William James,
Sorel cumpriu uma trajectória política peculiar. Engenheiro, ele pediu demissão do emprego
em 1892, aos 45 anos, para dedicar-se ao estudo da filosofia social. Ligado ao sindicalismo
revolucionário, de extrema-esquerda, flertou por algum tempo com o
movimento monarquista. Admirava o poeta monarquista Charles Maurras (1910)
e Lênin (1918-1922).

Entre as peculiaridades de Sorel está a preocupação com os


aspectos jurídicos do socialismo e a violência, que exalta em seu livro Réflexions sur la
violence (1908), mas ela é cuidadosamente distinguida da força bruta. Sorel odiava
o jacobinismo, a dominação burguesa e o parlamentarismo. O outro ponto importante é o
carácter de força motriz do mito político, conceito apresentado por Sorel. Ele é uma arma na
luta política: seu sentido é mobilizar, empurrar para a acção. Esses mitos políticos, estabelece
26

Sorel, são "conjuntos de imagens capazes de evocar em bloco e somente pela intuição, antes
de qualquer análise reflectida, a massa dos sentimentos" (Réflexions sur la violence).

Com relação à força, em determinada passagem Sorel faz uma análise que é bastante
próxima da visão gramsciana de coerção, sendo a força um elemento presente não apenas por
meio da brutalidade física, mas também do direito:

O socialismo considera essa evolução (do Direito, da Economia e do Estado) como


sendo uma história da força burguesa e não vê mais que modalidades onde os
economistas crêem descobrir heterogeneidades: quer a força se apresente sob o
aspecto de actos históricos de coerção, ou de opressão fiscal, ou de conquista, ou de
legislação do trabalho, quer esteja completamente envolvida na economia, trata-se
sempre da força burguesa agindo, com maior ou menor habilidade, para produzir a
ordem capitalista (SOREL, 1992, p.198). À força, portanto, Sorel opõe a violência.
Segundo ele, não se deve condenar a violência física de maneira absoluta, pois sua existência
e também seu julgamento moral dependem das condições materiais históricas, mais
especificamente do desenvolvimento económico de cada sociedade.

Com relação a delitos criminosos, que ocorreriam de acordo com os interesses mesquinhos
dos homens, são cometidos mais por violência física quanto menos economicamente
desenvolvida for uma sociedade, e mais por meio da astúcia e da corrupção quanto maior for
tal desenvolvimento. Mas como impelir os homens à acção violenta de classe, em que
interesses colectivos estão acima dos interesses individuais mesquinhos? Sorel apela aqui
para o que chama de “sentimento do sublime”.

a luta na qual o proletariado se engaja só pode terminar de duas formas: seu triunfo
completo ou sua escravidão, ambos os casos envolvendo todo o conjunto dos
trabalhadores. Em tais circunstâncias, de acordo com o autor, o sentimento do
sublime (a abnegação altruísta) brotaria naturalmente das condições da luta (SOREL,
1992, p. 238).
A participação do proletariado no processo parlamentar ou eleitoral seria completamente
nociva para os objectivos do sindicalismo revolucionário. O desenvolvimento do capitalismo
não é possível sem a corrupção e os delitos movidos pela astúcia. O envolvimento do
movimento dos trabalhadores com a política parlamentar seria o envolvimento com a
pequenez moral e a astúcia.

O papel da violência proletária seria forjar nos trabalhadores valores morais elevados, o
“sentimento do sublime”, uma espécie de reforma moral levada a cabo no espírito do
proletariado por meio da guerra contra o capitalismo, por meio da prática de luta. O
revolucionário francês demonstra preocupação constante com a criação de um "direito
proletário" que opõe ao jacobinismo. Este se configuraria como a ditadura de uma minoria
que se arrogaria a liderança dos trabalhadores e cuja desconsideração à criação de nova
27

condição jurídica conduziria aos excessos de terror e ao autoritarismo. Como se pode ler
acima, Sorel considera, numa interpretação flagrantemente equivocada que ignoraria o
próprio jacobinismo do partido bolchevique, que os soviets se inspirariam mais na obra de
Proudhon que em alguma escola socialista marxista.

Sorel é um autor controverso quanto à linha política a qual adere. Suas ideias foram aceitas
tanto pelos fascistas (Benito Mussolini) quanto pelos comunistas italianos (Antonio
Gramsci). Também influenciou os anarcossindicalistas, bem como Walter Benjamin. Entre
os pensadores latino-americanos sua influência é notável nos escritos do marxista
peruano José Carlos Mariátegui.

Crítica a Karl Marx


Proudhon foi um revolucionário, mas a sua revolução não implicava revoltas violentas nem
guerras civis, mas sim a transformação da sociedade. Essa transformação era essencialmente
de natureza moral e exigia a mais alta ética daqueles que buscavam a mudança.

Em suas cartas, Proudhon expressou seu desacordo com os pontos de vista de Marx sobre a
revolução: "Creio que não temos necessidade dela para ter sucesso e que, consequentemente,
não devemos apresentar a acção revolucionária como um meio de reforma social, porque isso
induzirá um apelo à força, à arbitrariedade, em suma, uma contradição".

Ele fez poucas críticas públicas a Marx ou Marxismo, porque em sua vida Marx era um
pensador relativamente desconhecido. Foi só depois da morte de Proudhon que o marxismo
se tornou um grande movimento. Ele, no entanto, criticou socialistas autoritários da sua
época. Isso incluiu o socialista autoritário Louis Blanc, do qual Proudhon disse:

"Deixe-me dizer a M. Blanc:

você não deseja nem catolicismo nem monarquia nem nobreza, mas você quer ter um
Deus, uma religião, uma ditadura, uma censura, e uma hierarquia. Mas eu nego o teu
Deus, a tua autoridade soberana, o teu Estado judiciário ditatorial e todas as tuas
mistificações"

Considerações finais
28

Os Comunistas acreditam que é necessário organizar as forças dos trabalhadores de modo a


tomar posse do poder do Estado. Os Socialistas revolucionários organizamse com vista a
destruir, ou se preferem uma expressão mais refinada, a liquidar o Estado.

Os Comunistas são os partidários do princípio da autoridade, enquanto que os Socialistas


revolucionários depositam a sua fé apenas na liberdade. Ambos são igualmente partidários
da ciência, que deve destruir a superstição e ocupar o lugar da fé; mas os primeiros querem
impor a ciência ao povo, enquanto que os coletivistas revolucionários tentam difundir a
ciência e o conhecimento pelo povo, de maneira que os vários grupos da sociedade humana,
quando convencidos pela propaganda, possam organizar-se e combinar-se espontaneamente
em federações, de acordo com as suas tendências naturais e reais interesses, mas nunca de
acordo com um plano traçado antecipadamente e imposto às massas ignorantes por umas
poucas mentes “superiores”.

Os Socialistas revolucionários acreditam que existe muito mais raciocínio prático e


inteligência nas aspirações instintivas e necessidades reais das massas populares do que nas
profundas mentes de todos estes doutores instruídos e auto designados tutores da
Humanidade, quem, tendo perante eles os exemplos infelizes de tantas tentativas abortadas
de fazer a Humanidade feliz, ainda tencionam continuar a trabalhar na mesma direcção. Mas
os Socialistas revolucionários acreditam, pelo contrário, que a Humanidade permitiu-se ser
governada por muito tempo, demasiado tempo, e que a origem dos seus infortúnios se situa
não nesta nem em qualquer outra forma de governo, mas no princípio e na própria existência
do governo, qualquer que seja a sua natureza. É esta diferença de opinião, que já se tornou
histórica, que agora existe entre o Comunismo científico, desenvolvido pela escola Alemã, e
parcialmente aceite pelos Socialistas Americanos e Ingleses, e o Proudhonismo, largamente
desenvolvido e levado até às suas últimas conclusões, e por agora pelo proletariado dos
países Latinos. O Socialismo revolucionário fez a sua brilhante e prática primeira aparição na
Comuna de Paris.

Referencias bibliográficas
29

CHARZAT, Michel. Georges Sorel (1983) et le fascisme. Élements d'explication d'une


légende tenace. In Mil neuf cent, , v.1, n.1, p.37-51.

HOBSBAWM, Eric J. (Org.) (1986). História do marxismo: o marxismo na época da


Segunda Internacional (terceira parte). São Paulo: Paz e Terra,. v. 4, p. 51-83.

FETSCHER, Iring(1982). Bernstein e o desafio à ortodoxia. In: HOBSBAWN, História do


marxismo, vol. II, O marxismo na época da Segunda Internacional (Primeira Parte), Rio de
Janeiro: Paz e Terra,

NORTH, G. (1975). Marxismo cultural é um paradoxo. Disponível em: https://


www.mises.org.br/Article. aspx?id=1896. Acesso em: 20 de abril de 2023. MARX, K. p.
145.

SOREL, Georges. La décomposition du marxisme. Paris: Puf, 1982.

SOREL, Georges, (1992). Reflexões sobre a violência. São Paulo: Martins Fontes.

SOREL, Georges. (1978). Sindicalismo revolucionário. Madrid: Júcar,

Você também pode gostar