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Teoria Política
Clássica
CIÊNCIAS SOCIAIS2
SEMESTRE 1
UNIVERSIDADE METROPOLITANA
Núcleo de Educação a Distância
DE SANTOS
Créditos e Copyright
CDD 300
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publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários.
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oriunda da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em
qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos.
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FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PLANO DE ENSINO
EMENTA:
OBJETIVO GERAL:
Apresentar os conceitos e autores fundamentais da teoria política e estudar o
contexto de formação do Estado moderno.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
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Apresentar a influência do pensamento de Aristóteles nas doutrinas da Idade Média,
apresentar algumas doutrinas filosóficas da Idade Média e na transição para a Idade
Moderna com destaque a Maquiavel.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Bibliografia Básica
Bibliografia Complementar
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CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia - dos pré-socráticos a
Aristóteles. 2 ed. São Paulo, Companhia das Letras, 2002.
METODOLOGIA:
A disciplina está dividida em unidades temáticas que serão desenvolvidas por meio
de recursos didáticos, como: material em formato de texto, vídeo aulas, fóruns e
atividades individuais. O trabalho educativo se dará por sugestão de leitura de
textos, indicação de pensadores, de sites, de atividades diversificadas, reflexivas,
envolvendo o universo da relação dos estudantes, do professor e do processo
ensino/aprendizagem.
AVALIAÇÃO:
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Sumário
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Aula 27_Montesquieu II .................................................................................................................89
Aula 28_ Jean Jacques Rousseau I .............................................................................................91
Aula 29_Jean Jacques Rousseau II .............................................................................................93
Aula 30_O contrato Social no pensamento de Jean-Jacques Rousseau .................................95
Aula 31_O significado do Contratualismo ....................................................................................98
Aula 32_A Evolução do Estado Moderno ..................................................................................100
Resumo - Unidade III ...................................................................................................................102
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Aula 01_Os diferentes significados ou acepções do termo Política e o sentido
de Teoria Política Clássica.
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aulas subsequentes, abordaremos as vinculações sugeridas, ou seja, as implicações
com as questões de Poder, Estado e Governo situando-as historicamente e, sempre
que possível, apoiando-nos na obra de pensadores cujas ideias ainda hoje mantêm
um caráter de atualidade nos estudos da ciência política.
Importante salientar que a utilização da palavra Política implica tanto no nível
teórico, das reflexões, dos estudos, como também no nível concreto, assume o
sentido de práxis ou práticas que são implementadas pelas diferentes instâncias de
poder. Vejamos dois exemplos que permitem observar os dois sentidos apontados
acima:
Exemplo 1
Há aqueles que afirmam, de modo convicto e até defendem como uma qualidade, o
fato de não gostarem e não participarem de discussões e de política.
Exemplo 2
Ao governo municipal cabe discutir e viabilizar políticas que atendam aos interesses
dos cidadãos.
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Aula 02_A formação das cidades antigas – a pólis ou urbes I
O estudo das antigas regras do direito privado fez-nos entrever, para além
dos tempos chamados históricos, um período de séculos, durante os quais
a família foi à única forma de sociedade. Essa família podia então conter em
seu extenso quadro vários milhares de criaturas humanas. Mas nesses
limites a associação humana era ainda muito acanhada; muito estreita para
as necessidades materiais, porque era difícil que a família fosse
autossuficiente para todas as necessidades da vida [...] A pequenez dessa
sociedade primitiva correspondia bem à pequenez da ideia que se tinha da
divindade. Cada família tinha seus deuses, e o homem não concebia nem
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adorava senão divindades domésticas [...] A ideia religiosa e a sociedade
humana, portanto, deviam crescer juntas.
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gens ou genos, agrupamento indivisível e que se perpetuava no tempo. O
antepassado comum e os mesmos deuses, ambos cultuados pelo grupo,
constituíam elementos diferenciadores das gens ou genos. Aos mais velhos cabia o
exercício do poder e do prestígio social que desfrutavam como resultado da
distinção da gens na pólis ou urbe.
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Aula 03_A formação da cidade antiga – a pólis ou urbes II
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poder e governo que incorporavam as partes integrantes. Disto resultava a
confederação representada pela cidade.
Com relação às cidades estado que integraram a Grécia salientam os
historiadores que a geografia da região sendo um território montanhoso e formado
por grande número de ilhas foi um dos elementos decisivos para a constituição da
pólis, cuja principal característica era a autonomia econômica, política e social
funcionando a cultura e a religião como elementos aglutinadores.
Salientamos que o ponto que mais nos interessa discutir nesse momento é a
forma de organização política que propiciou a constituição da cidade antiga e o
modo pelo qual o indivíduo era paulatinamente inserido em sua estrutura de
funcionamento.
Ainda tendo o autor Coulanges como referência, o que ocorria em Atenas era
que, ao nascer, a criança era admitida na família pelo culto religioso que se fazia
poucos dias após o nascimento. Este, poucos anos depois, entrava para a frátria por
uma nova cerimônia e, aos dezesseis ou dezoito anos, em outro rito no qual fazia
parte um juramento de respeito à religião da cidade, era apresentado e passava a
integrar a cidade.
Como podemos perceber, a inserção do indivíduo na vida da cidade era um
processo a ser construído desde o convívio inicial na família, passando pela
integração na vivência da fratria e da tribu e, como momento avançado, previa-se o
comprometimento com os valores fundamentais da pólis assentados em princípios
religiosos.
Cabe destacar que a formação da cidade, como associação, representava
um longo e difícil processo de alianças que, uma vez consolidado, propiciava a
fundação da cidade ou urbs. A povoação, dessa forma, funcionava como o
santuário, a fortaleza, o centro da associação, a residência dos que governavam e
também o lugar onde se aplicava a justiça. A inserção do indivíduo na vida da cidade
significava assumir seus valores e tradições que marcaram profundamente o homem
grego.
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Importante lembrar também que, durante muitos séculos, não era nas cidades
que os homens viviam, mas sim nos campos com suas famílias.
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que deveria ser a finalidade da cidade e, por extensão, de suas instituições e dos
objetivos que deveriam nortear a atuação pública, ou seja, a justiça e o bem comum
remetem para a questão da centralidade da ética no pensamento político clássico.
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Aula 04 _ governo e o poder político nas cidades antigas
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escolhia um cônsul. O magistrado em exercício, isto é, um homem já na
posse do caráter sagrado e dos auspícios, indicava entre os dias fatos
aquele em que o cônsul devia ser nomeado. Durante a noite precedente, ele
velava, ao ar livre, com os olhos fixos no céu, observando os sinais
enviados pelos deuses, ao mesmo tempo em que pronunciava mentalmente
o nome de alguns candidatos à magistratura. Se os presságios fossem
favoráveis, era sinal de que os deuses aprovavam os candidatos. No dia
seguinte, o povo se reunia no campo de Marte; a mesma pessoa que havia
consultado os deuses presidia à assembleia. Dizia em voz alta o nome dos
candidatos, sobre os quais tomara os auspícios; se entre os que pediam o
consulado encontrava-se alguém para quem os auspícios não fossem
favoráveis, ele omitia seu nome. O povo não votava senão nos nomes
pronunciados pelo presidente (COULANGES, 1929).
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Aula 05_As leis e o direito no mundo greco-romano - características e
repercussões
A proposta desta aula é abordar o fundamento das leis que vigoraram nas
cidades antigas, ou seja, o processo que resultou no surgimento dos primeiros
códigos escritos e a importância social deles.
Nos primórdios do desenvolvimento das civilizações, incluindo a grega e a
romana, as leis não eram escritas. Baseadas nos costumes e na tradição religiosa,
atribuíram-lhe os povos o caráter de sagradas, o que garantiu a sua manutenção por
longo tempo.
Verifique como Coulanges abordou as características e significados das
primeiras leis que vigoraram nas cidades antigas:
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O registro escrito das leis, ou seja, a elaboração dos primeiros códigos
resultou de um longo processo de lutas e enfrentamentos dos trabalhadores e
população dominada contra a nobreza. A Lei das Doze Tábuas, que data de 450
a.C., escrita no período da república romana, exemplifica o processo e constituiu
base para outras conquistas sociais. A codificação das leis representou uma
garantia contra os desmandos da nobreza e governantes que, conforme lhes
interessava, interpretavam as normas consuetudinárias.
Leia o excerto abaixo e conheça um pouco mais a respeito das primeiras leis
e a forma como se configurou o direito nas cidades gregas e romanas:
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Vale ressaltar também que a elaboração e aplicação das leis era privilégio da
nobreza e que, sobretudo em Roma, o direito incorporou ritos e palavras ou
expressões a ele associadas, como veremos no texto abaixo:
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Aula 06_A República de Platão
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assumida pelo governo e do papel que as três classes nele desempenhavam que
resultaria um governo justo ou, no sentido oposto, um governo corrompido.
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Como se pode observar da leitura dos trechos selecionados, Platão
considerava que cada classe social deveria desempenhar papel diferenciado na vida
da cidade e a cada uma delas corresponderia uma função da alma, do princípio vital.
Assim sendo, caberia à classe econômica integrada por agricultores, comerciantes e
artesãos, a mais numerosa e caracterizada pela concupiscência, prover a cidade
dos bens e serviços que ela necessitaria; à classe dos militares ou guerreiros,
considerada como bélica e afeita às temeridades e perigos, caberia a defesa da
cidade e à classe dos magistrados, a menos numerosa, caberia o governo porque
eles seriam os autores e responsáveis pelo cumprimento das leis. Considerando que
dýnamis tem o significado de poder, autoridade ou potência inerente à própria
natureza de alguém ou alguma para tornar possível a ação, entendemos a relação
construída por Platão a respeito de cada uma das classes sociais e das funções a
elas associadas assim como as características que o autor atribuiu a cada grupo.
Ainda considerando a leitura acima realizada e a questão da justiça ou do
que seria um governo justo, principal tema de A República, é possível afirmarmos
que Platão defende que somente a uma classe deveria caber o governo, a classe
dos magistrados. “Se a justiça díke e a virtude areté existem somente quando a
razão governa concupiscência e a cólera, então a Cidade deve ser governada
somente pelos magistrados”. O governo mais justo seria, portanto, o governo dos
filósofos, os portadores do conhecimento. Segundo o autor a educação das crianças
deveria ser assumida pela sociedade porque ela constituiria condição fundamental
para a construção de uma sociedade justa.
Cabe salientar ainda que o sentido de justiça na obra seja bastante diferente
do que entendemos hoje não tendo a ver com distribuição equânime de igualdade,
mas sim com a necessidade de que cada um reconheça o seu lugar na sociedade
segundo a natureza das coisas e não tente a ocupar o espaço que pertence a outro.
Esta é uma visão eminentemente conservadora da estrutura social e do papel que o
indivíduo nela ocuparia tendo suscitado muitas críticas no decorrer da História.
É importante ressaltarmos que, embora a república pensada por Platão
pudesse se realizar como um projeto elitista de governo dos filósofos ou magistrados
há que se destacar a preocupação do autor com o ideal ético do Estado e a defesa
de uma sociedade harmônica. Os fins que ele desejava atingir não eram nem a
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democracia nem a liberdade, mas a harmonia e a eficiência. Estas ideias
fundamentaram A República, primeira grande obra utópica que constituiu referência
para outras construções do mesmo teor pensadas por autores da Idade Média e
Moderna, como veremos no decorrer do curso.
Vale ainda salientar que Platão foi precursor dos chamados filósofos –
políticos, caminho também trilhado por Aristóteles e cujo pensamento discutiremos
na próxima aula.
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Aula 07_A política e os tipos de poder
Poder – (do latim vulgar potere, calcado nas formas potes, potest e outras
de posse) V.T 1.Ter a faculdade de; 2. ter possibilidade de, ou autorização
para; 3. Estar arriscado ou exposto a; 4. Ter ocasião, ter oportunidade, meio
de conseguir; 5. Ter força para; ...; 8. Ter o direito, a razão, o motivo de;
,,,12. Dispor de força ou autoridade, ter calma, paciência para; ter
possibilidade; dispor de força ou autoridade; possuir força física ou moral;
ter influência, valimento (HOLLANDA, 1986).
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Aristóteles nasceu na atual Strava, território macedônico, e viveu no período
de 384 a.C. a 322 a.C., pouco tempo após a morte de Péricles quando Atenas vivia
sua fase de apogeu entre as Cidades-Estado gregas. Filho de médico bem
relacionado na corte da Macedônia, Aristóteles teve educação apurada e viveu parte
de sua vida entre os reis macedônicos e na cidade de Atenas. Em Atenas foi
discípulo de Platão (348-347 a.C.). Posteriormente, de 343 a 340 a.C., foi professor
de Alexandre, o grande promotor do helenismo e, provavelmente nesse período de
sua vida, aprofundou suas reflexões sobre política. Também com o apoio de
Alexandre Magno fundou sua escola em Atenas, época em que produziu grande
parte de sua obra, aproximadamente 400 estudos, a maioria deles restrita à escola e
muitos deles de autoria discutível. Dentre seus escritos destacamos Ética a
Nicômacos (referência ao nome de seu pai) e Política. Foi nos capítulos iniciais de
Ética a Nicômacos que Aristóteles empregou o termo política ao que considerou a
ciência da felicidade humana que, segundo ele, era integrada por duas partes, isto é,
a ética (estudo do caráter, ethos entre os gregos, foco de Ética a Nicômacos) e a
política (estudo da Cidade-Estado grega, que foi tema de Política).
Segundo o pensamento de Aristóteles, mais um dos filósofos-políticos cuja
obra constitui uma referência básica no estudo da teoria clássica sobre o poder,
podem ser identificadas três formas principais de poder: o poder paterno, o poder
despótico e o poder político e, conforme o autor, o interesse daquele em benefício
de quem se exerce o poder constitui o critério de distinção entre as diferentes formas
apontadas. O poder paterno atenderia aos interesses dos filhos, o despótico ao
interesse do senhor e o político ao interesse de quem governa e de quem é
governado.
É isto que Homero diz: “... cada um dita a lei aos filhos e às esposas...”, pois
eles vivem dispersos.(assim se vivia antigamente). Por esta mesma razão
todos os homens dizem que os deuses tinham um rei, pois uns ainda são e
outros já foram governados por reis (como os homens imaginam os deuses
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sob forma humana, supõem também que sua maneira de viver é
semelhante a deles) (ARISTÓTELES, 1997, p.14-15).
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deturpadas ou corrompidas em sociedades “viciadas”, nelas o exercício do poder
atenderia e beneficiaria os interesses dos governantes em detrimento dos anseios
de todos. Aponta ele como formas de governo corrompidas: a Tirania, forma
distorcida da Monarquia, governo de um homem só que assume o poder por meios
ilegais; Oligarquia, forma impura da Aristocracia, governo de um grupo
economicamente poderoso e Democracia, governo do povo, a maioria exerce o
poder favorecendo preferencialmente os pobres.
Para o filósofo, a forma de governo ideal seria a Mista ou Timocracia,
apoiada nas classes médias, e as cidades que a adotassem poderiam ser bem
governadas.
Concluindo e avançando um pouco mais podemos afirma que o poder
político pertence à categoria do poder do homem sobre outro homem e pode ser
expresso de diferentes maneiras como na relação entre governantes - governados,
soberanos– súditos, Estado - cidadãos, autoridade - obediência. Enfocamos, por
ora, a forma como foi visto por Aristóteles situado, portanto, no referencial da
Antiguidade Clássica. Mais adiante, ao enfocarmos os pensadores modernos,
retomaremos as discussões sobre Poder.
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Aula 08_ A mudança social e a reorganização do poder: a experiência da
democracia em Atenas
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[...] Aconteceu que os nobres e a multidão (povo) entraram em conflito por
largo tempo. Com efeito, o regime político era oligárquico em tudo; e, em
particular, os pobres, suas mulheres e seus filhos, eram escravos dos ricos.
Chamavam-lhes “clientes” ou hectómores (sextanários): porque era com a
condição de não guardarem para si mais de um sexto da colheita que eles
trabalhavam nos domínios dos ricos. Toda a terra estava num pequeno
número de mãos; e se eles não pagavam a sua renda (5/6 da colheita),
podiam ser tornados escravos, eles, suas mulheres e seus filhos; pois todos
os empréstimos tinham as pessoas por caução, até Sólon, que foi o primeiro
chefe do partido popular [...] O povo [...] não possuía nenhum direito [...] e o
povo revoltou-se então, contra os nobres. Depois de violenta e demorada
luta, os dois partidos concordaram em eleger Sólon como árbitro e arconte;
conferindo-lhe o encargo de estabelecer uma constituição [...]
[...] Sólon libertou o povo [...] pela proibição de emprestar tomando as
pessoas como caução... aboliu as dívidas tanto privadas como públicas
(ARISTÓTELES apud FREITAS, 1977, p. 67). A Constituição de Atenas).
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sociais e teve seus poderes decisórios ampliados fiscalizando a atuação das demais
instituições políticas e votando as propostas da Bulé. A implantação de tais reformas
mudou radicalmente a vida política e a sociedade de Atenas criando condições para
o desenvolvimento de uma experiência notável de governo.
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instituições e mecanismos de participação e decisão que incorporaram os cidadãos
na prática da política.
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Aula 09_ A influência da obra de Aristóteles no pensamento político ocidental
Esta aula tem como objetivo apresentar uma síntese das principais ideias de
Aristóteles sobre a vida e a prática política que, embora tenham sofrido
modificações, permaneceram como fundamentos de doutrinas e práticas políticas
que atravessaram o tempo e, ainda hoje, constituem elementos de referência nas
reflexões sobre as questões pertinentes à política e à cidadania. Recorremos à obra
Introdução à História da Filosofia, de Marilena Chauí, retirando dela a síntese da
contribuição do autor.
A obra Política, de autoria de Aristóteles, cuja leitura recomendamos,
constitui um verdadeiro tratado sobre a política e o governo na Cidade, no caso a
Cidade – Estado grego. Seus estudos sobre os regimes políticos e seus
fundamentos constituem uma das mais notáveis e reconhecidas contribuições do
filósofo. Podemos afirmar que as ideias ou princípios defendidos por Aristóteles em
Política representaram elementos de interlocução que desafiaram pensadores
ocidentais da Idade Média, dos tempos modernos e que, ainda hoje, permanecem
como instigantes nas reflexões sobre a práxis política.
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preparadoras para a convivência nas cidades persistiram como referências
históricas consagradas.
3ª A comunidade política
5ª Os cidadãos
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6ª As duas modalidades de justiça: partilha e participação
8ª O regime misto
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Segundo Aristóteles, o regime misto reuniria elementos de oligarquia e
democracia visando realizar o justo meio entre os dois grupos opostos que dividiam
a Cidade, o dos ricos (pouco numeroso) e o dos pobres (maioria). O regime misto
propiciaria a existência efetiva da polis, com suas condições materiais e sociais, e
com suas divisões, criando forma de governo que concretizasse o ideal de justiça e
bem comum, fim da comunidade política. Conforme salienta Chauí: a políteia se
define, então, como regime de todos os homens livres (ricos e pobres), que buscam
verdadeiramente um bem comum, promovendo a integração e comunicação das
duas partes fundamentais.
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Resumo - Unidade I
O que é importante realmente saber sobre a Teoria Política Clássica? O que não
pode ser esquecido pelo estudioso da Teoria Política no momento em que ele lê um
texto político desta época? Vamos a alguns tópicos que facilitarão a sedimentação
do seu aprendizado:
homem sobre outro homem e pode ser expresso de diferentes maneiras como na
relação entre governantes - governados, soberanos– súditos, Estado - cidadãos,
autoridade - obediência.
O exercício da política possibilita criar as condições para a concretização da
mudança social, quer ocorra na dimensão da práxis ou prática individual quer ocorra
no nível institucional que decorre da atuação do Estado e seu agente, o governo.
Estes pontos são uma síntese do que vimos na unidade I sobre o pensamento
político na Antiguidade. Na próxima unidade vamos acompanhar o pensamento em
outro importante período: A Idade Média.
Referencias Bibliográficas
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BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Trad Carmen Varnalle...(et al...). 7ª ed.,
Brasília, DF, Editora UNB, 1995.
CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia - dos pré-socráticos a
Aristóteles. 2 ed.. São Paulo: 2002.
COULANGES, Fustel. A cidade antiga – estudo sobre o culto, o direito e as
instituições da Grécia e de Roma. 3ª d. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1929.
FERREIRA, A. B. de. F. Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa. São Paulo,
Nova Fronteira, 1986.
FREITAS, Gustavo. 900 textos e documentos de História. Coimbra: Atlântida
Editora/ Plátano Editora, 1977.
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Aula 10_Os fundamentos das doutrinas filosófico-políticas da Alta Idade Média
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proibidos porque suas ideias, de alguma forma, representavam contestação aos
dogmas que imperavam.
A princípio os cristãos não se interessaram pelo poder temporal. Segundo a
doutrina, o reino de Jesus Cristo não era deste mundo. Todavia, à medida que as
ideias atingiram maior número de seguidores inclusive os imperadores, iniciaram-se
os embates que foram mais acirrados no Ocidente. No território que compreendia o
Império Romano do Oriente o Estado manteve seu poder e coesão por mais tempo.
A coexistência e os enfrentamentos entre os dois poderes, o temporal e o
espiritual na Europa Ocidental, marcaram o período e a obra dos primeiros
pensadores cristãos, entre eles Santo Agostinho que viveu de 354 a 430 d.C. e
contribuiu para a constituição da filosofia patrística, obra dos primeiros padres da
Igreja. Uma das obras de Santo Agostinho é A Cidade de Deus, datada de 413 a
426, de onde retiramos um excerto que permite observar o tipo de argumentação
que faz uso o filósofo, na fase inicial da Idade Média:
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tratados por ele em Confissões (ano 400), constituindo os fundamentos da Teoria da
Reminiscência que alcançou repercussão na educação.
o Agostinho viveu no princípio da Idade Média, no período conhecido como a
Alta Idade Média, contribuindo com seus escritos para o fortalecimento do
cristianismo e para a afirmação do poder espiritual sobre o temporal, situação que se
firmou como principal característica do período medieval na Europa Ocidental.
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Aula 11_O pensamento de São Tomás de Aquino
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comunas ou cidades, e também no movimento cultural que ficou conhecido como
renascimento. Do renascimento resultou, em primeiro momento, uma retomada das
discussões e autores clássicos salientando-se, entre eles, a obra de Aristóteles e, na
sequência, entre os séculos XVI e XVII, o movimento que se convencionou chamar
de renascimento científico. A conjuntura acima descrita, iniciada no século XII e que
se prolongou aproximadamente até o século XVII, gerou muitas mudanças na
sociedade europeia, inclusive no pensamento e nas doutrinas políticas.
Dentre as obras de São Tomás de Aquino destaca-se a Suma Teológica, na
qual ele concede lugar à política e aos assuntos sociais dialogando com a obra
Política, o estudo clássico de Aristóteles. Segundo os estudiosos da obra de Aquino
é importante salientar que o pensador procurou, a partir de seus estudos e reflexões
e considerando as discussões da época, realizar uma síntese do pensamento cristão
com a leitura e o diálogo que estabeleceu com a obra de Aristóteles, atividade
conhecida como síntese tomista, que pretendeu conciliar filosofia e teologia, razão e
fé.
Nessa tarefa, no tocante à política, conforme salienta MOSCA (1968), Aquino
enfrentou dificuldades para trabalhar a afirmativa atribuída a São Paulo, um dos
patriarcas da Igreja, Omnis potesta a Deo que, segundo os defensores do poder
laico, quando interpretada literalmente, justifica a obediência ao poder temporal, ao
governo qualquer que seja ele. Em Suma Teológica, o autor afirma que Deus quis
que houvesse governo, cuja escolha é decisão dos homens e diferencia o tirano a
titulo, aquele que usurpa o poder, do tirano ab exército, soberano cuja origem é
legítima, mas que, a posteriori, abusa de seu poder. Segundo Aquino, o tirano a
título pode legitimar sua atuação se governar em benefício dos súditos e, em outra
condição afirma, que quando a tirania se torna insuportável, justifica-se a rebelião.
Ainda tratando da atividade política, Santo Tomás distingue três tipos de leis
que dirigem a comunidade ao bem comum. O primeiro é constituído pela lei natural
(conservação da vida, geração dos filhos, desejo da verdade); o segundo inclui as
leis humanas ou positivas, estabelecidas pelo homem com base na lei natural e
dirigidas à utilidade comum; finalmente, a lei divina guiaria o homem à consecução
de seu fim sobrenatural (aperfeiçoamento de sua natureza), enquanto alma imortal.
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É importante salientar que as ideias e a obra de São Tomás de Aquino que
tratam das relações entre o poder espiritual e o poder temporal revelam a procura de
equilíbrio entre as tendências conflitantes da época. O Estado (poder temporal) é
concebido, por ele, como instituição natural, cuja finalidade consistiria em assegurar
o bem comum.
Por outro lado, a Igreja seria uma instituição dotada fundamentalmente de
fins sobrenaturais. Assim, o Estado não precisaria se subordinar à Igreja como se
ela fosse um Estado superior. A subordinação do Estado à Igreja deveria limitar-se
aos vínculos entre a ordem natural e a ordem sobrenatural, na medida em que esta
aperfeiçoaria a primeira.
A síntese tomista permitiu que se fortalecesse a escolástica, doutrina da
Igreja que marcou profundamente o final da Idade Média, tanto pela repercussão
que alcançou nas universidades quanto pelos efeitos que produziu no interior da
própria igreja católica, abrindo discussões que contrapunham os integrantes de
ordens religiosas e fundamentaram a contestação dos dogmas religiosos.
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Aula 12_A Europa na transição da Idade Média para a Idade Moderna
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que estava nas mãos dos grandes comerciantes, e o poder espiritual, representado
pelos bispos e pelo poder papal, este último já plenamente constituído.
Se você assistiu ao filme Giordano Bruno (1973), cujo tema foi a vida do
filósofo egresso da Igreja e formado nos quadros da escolástica, lembrará não
somente do percurso intelectual e de formação e vida de Giordano como também da
próspera Veneza e do conflito que nela se instaurou durante o processo que
envolveu o pensador. Certamente se lembrará da forma como os comerciantes,
representados pelo governo local, enfrentaram o poder e os desígnios da Igreja e de
seus representantes procurando manter a autonomia e a liberdade nas decisões.
Todavia, como mostra o desenlace do filme, após muitas discussões prevaleceram
ainda as decisões vinculadas ao poder espiritual, à alta hierarquia da Igreja Católica.
Mas o contexto favorável à manutenção do poderio da Igreja mudou, em curto
espaço de tempo, com a ascensão dos governantes das cidades que procuravam
afirmar seu poder e estender os territórios sob seu domínio.
Retomando o que já estudamos na aula anterior, iremos nos lembrar de que
São Tomás de Aquino nasceu no decorrer do século XIII, na península itálica,
vivenciando o início do processo de mudanças que culminou com a emergência das
prósperas repúblicas italianas. Suas preocupações e reflexões tinham a ver com o
contexto vivido que direcionou sua obra e o diálogo com os escritos de Aristóteles,
dentre eles com Política. Vimos que o filósofo defendia um equilíbrio nas relações
entre o Estado, representante do poder temporal, considerado por ele como uma
instituição natural voltada para a construção do bem comum, e a Igreja, principal
instância do poder espiritual, dotada fundamentalmente de fins sobrenaturais.
Reconhecendo a natureza e níveis de atuação diferenciados para o Estado e a
Igreja, Aristóteles acenou com a perspectiva da não subordinação do Estado à
Igreja. Superando a visão conflitante que predominava na época e inovando no
entendimento do processo histórico que estava em curso, a afirmação do poder dos
governantes das cidades que se firmou como um fenômeno que acarretaria
profundas mudanças na convivência entre os poderes.
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Vejamos como Kristeller analisa a influência de A Política, de Aristóteles, na
obra Suma Teológica, de São Tomás de Aquino e o que o autor destacou como foco
das preocupações de São Tomás:
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equilíbrio entre os poderes. Para alguns estudiosos do período, as ideias de São
Tomás a respeito da convivência entre os poderes atendiam à finalidade de conciliar
as posições conflitantes da época, mas conforme ressaltam outros, elas
possibilitaram assentar os fundamentos do que se configurou como o Estado
Moderno. Esse será o foco de nossas próximas aulas.
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Aula 13_Nicolau Maquiavel, tempo e obra
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nessa época e também pela aproximação com o duque Valentino e a legação à
Romanha, que se consolidou seu pensamento e seu destino de escritor político. No
período, além das atribuições do ofício, estudou história e poesia e atuou na
organização política e militar de Florença propondo, inclusive a constituição de uma
milícia nacional para substituir as tropas mercenárias.
Esta aproximação com os Bórgia definiu o que lhe aconteceu nos anos
imediatamente subsequentes e nos rumos que sua vida tomou. Com a reintegração
dos Médici, representantes dos banqueiros e ricos comerciantes, Maquiavel foi
afastado do cargo e, logo depois, exilado da república de Florença. Poucos anos
após, em 1513, foi preso acusado de conspirar contra o cardeal Giovanni de Médici.
Anistiado, com a ascensão do papa Leão X, permaneceu ainda exilado por um ano.
Foi no exílio que escreveu O Príncipe, Os discursos sobre a primeira década de Tito
Lívio, Os Sete Livros sobre a arte da guerra, as Comédias e a Vida de Castruccio
Castracani.
Conforme você leu acima, a atuação de Maquiavel junto a César Bórgia,
chefe político conhecido pela violência contra seus adversários na luta pela criação
de um novo estado na região central da península itálica, constituiu fundamentos
para sua teoria política a respeito do perfil e da forma como deveriam agir os
governantes para alcançarem o poder, nele se manterem e garantirem a
prosperidade nos territórios dominados. Agora leia e reflita sobre o que aparece na
Dedicatória de O Príncipe:
Niccoló Machiavelli
Ao Magnífico Lorenzo,
Filho de Piero de Médici
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das antigas; as quais, tendo eu, com grande diligência, longamente cogitado,
examinando – as, agora mando a Vossa Magnificência, reduzidas a um pequeno
volume [...] Não ornei esta obra e nem a enchi de períodos sonoros ou de palavras e
floreios ou de qualquer outra lisonja ou ornamento extrínseco [...] porque não quis
que coisa alguma seja seu ornato e a faça agradável senão a variedade da matéria
e a gravidade da obra [...] (MACHIAVELLI, s/d.).
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Aula 14_ A organização política na península itálica no século XVI
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processo de formação dos reinos e principados. Em muitas regiões da Europa
Ocidental, desde o século XIII, ganhou força um movimento de restauração do poder
monárquico com o estabelecimento de reinos e principados sob a liderança de
famílias da nobreza tradicional.
O território da península itálica foi palco de lutas para a constituição de
reinos, inclusive com o estabelecimento de dominação estrangeira na região e, na
formação de muitos principados, destacaram-se os condotieri, lideranças locais que
à frente de milícias mercenárias estabeleceram o poder em suas regiões. As lutas e
a fragmentação do território da península itálica, inclusive com o estabelecimento de
domínios liderados por nobreza estrangeira, preocuparam Maquiavel e constituíram
motivação de seus estudos e escritos.
César Bórgia, segundo os estudiosos a fonte de inspiração de Maquiavel a
respeito das características que deveriam compor o perfil do príncipe, lançou mão
dos exércitos papais com o fim de estabelecer um principado no centro da península
e não poupou aqueles que o abandonaram ou que o traíram em seu
empreendimento.
No norte da península, região de muitos confrontos, dominaram os
comerciantes e banqueiros, isto é, os burgueses, cujo poder se consolidou na Idade
Moderna e, no centro onde se estabeleceu a sede da Igreja e do papado, a situação
adquiriu outro contorno e foi alvo de sucessivos acordos entre o poder temporal e o
espiritual que procurou manter para si a Romanha.
As lutas políticas que ocorreram na península itálica, principalmente as que
marcaram o panorama de final do século XV e décadas iniciais do século XVI,
período em que viveu e produziu Maquiavel, constituíram preocupações para os
estudos do autor e motivação de seus escritos. É neste contexto que devemos
entender as observações do autor e, conforme veremos na aula seguinte, os
atributos que ele aponta como desejáveis para o líder político, o príncipe, que tem
como objetivo final impor-se no quadro de lutas, estabelecer e manter o domínio das
regiões e populações sob seu governo.
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Aula 15_As diferentes formas de acesso ao poder e as qualidades do príncipe
de Maquiavel
Excerto 1
DOS PRINCIPADOS NOVOS QUE SE CONQUISTAM COM ARMAS E
VIRTUDES DE OUTREM (Capítulo VII)
Aqueles que somente por fortuna se tornam príncipes, pouco trabalho têm
para isso, é claro, mas se mantém muito penosamente. Não têm nenhuma
dificuldade em alcançar o posto, porque para aí voam; surge, porém, toda
sorte de dificuldades depois da chegada. É quando o estado foi concedido
aos que estão na dependência exclusiva da vontade e boa fortuna de quem
lhes concedeu o Estado, isto é, de duas coisas extremamente volúveis e
instáveis.
Excerto 2
DOS PRINCIPADOS NOVOS QUE SE CONQUISTAM PELAS ARMAS E
NOBREMENTE (Capitulo VI)
Nos principados novos, governados por príncipes novos, na luta pela
conservação da posse, as dificuldades estão na razão direta da capacidade
de quem os conquistou. E porque o fato de levar-se alguém a príncipe
pressupõe valor ou boa sorte, evidentemente qualquer destas razões tem a
propriedade de mitigar muitas dificuldades.
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Como segunda possibilidade, o que aparece no Excerto 2, Maquiavel
pressupõe que valor e boa sorte constituíram capacidades e atributos pessoais que
garantiram aos novos governantes a conquista do principado.
A atuação e conquistas do príncipe, segundo Maquiavel, guardavam relação
com suas qualidades pessoais. Isso nos permite discutir o conceito de virtú
empregado pelo autor, relacionado à origem da palavra, Vir (homem) e Vis (força).
Excerto 3
DO PRINCIPADO CIVIL (CAPÍTULO IX)
Mas analisando outro caso, quando um cidadão, não por sua crueldade ou
outra qualquer intolerável violência, e sim pelo favor dos concidadãos se
torna príncipe de sua pátria – o que se pode chamar de principado civil (e
para chegar a isto não é necessário grandes méritos nem muita sorte, mas
antes uma astúcia feliz). Digo que se chega a esse principado ou pelo favor
do povo ou pelo favor dos poderosos. É que em todas as cidades se
encontram estas duas tendências diversas e isto nasce do fato de que o
povo não deseja ser governado nem oprimido pelos grandes e estes
desejam governar e oprimir o povo.
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Como você pode perceber da leitura do excerto acima, Maquiavel aponta
outra forma de acesso ao poder, ou seja, aquela que configura o que ele denomina
de Principado Civil que dependeria da “astúcia feliz” do governante e do apoio que
ele conseguisse mobilizar entre os cidadãos. O autor salienta que o favor do povo ou
dos poderosos, grupos sociais que tinham interesses divergentes, e a seu ver
inconciliável, era a via de acesso ao poder. Ressalta, assim, perspectivas diferentes
para a atuação política do príncipe no governo da cidade.
Você sabe que o reconhecimento da divisão social existente na sociedade
e a forma como o autor abordou os interesses dos diferentes grupos, povos e
poderes,, vendo-os como antagônicos e inconciliáveis, permitiram que muitos
teóricos afirmassem que a sua obra foi direcionada. Além disso, houve a crítica de
que teve como alvo preferencial, o grupo social que sofreu os efeitos da dominação
da nobreza, do papado e dos príncipes? Pois é, esta posição contraria a visão
dominante que considera O Príncipe como um tratado para governantes que
privilegiam a dominação de seus povos e adversários.
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Aula 16_ O Príncipe e o exercício do poder.
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DE QUE FORMA OS PRÍNCIPES DEVEM GUARDAR A FÉ DA PALAVRA
DADA – CAPÍTULO XVIII
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Você acredita que os ensinamentos de Maquiavel ao príncipe, no século XVI,
esgotaram a validade na época? Ou remetem para a atuação de políticos nos
séculos subsequentes? Será que ainda hoje existem seguidores das ideias
preconizadas por ele? Saiba que O Príncipe foi e continua sendo leitura de
cabeceira de muitos governantes que estabelecem o diálogo com a obra e fazem
anotações em edições pessoais, muitas delas foram publicadas e merecem ser
lidas.
A obra O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, considerada estudo inaugural da
política e do Estado moderno, ocupa papel central na história do pensamento
político ocidental. O autor tratou a política como atividade de natureza própria,
diferenciada e independente de conceitos relacionados à moral e à ética, o que deve
ser levado em conta ao lermos sua obra. A seleção dos excertos trabalhados
objetivou propiciar a cada aluno o entendimento e a interpretação autônoma de O
Príncipe, assim como lançar as temáticas abordadas para sua reflexão.
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Aula 17_ A Utopia – Tomás Morus
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livro narra a vida na ilha de Utopia, descoberta por certo capitão Rafael Hitlodeo que
teria seguido o caminho de Vespúcio.
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da natureza é o que obedece à voz da razão [...] Ora a razão inspira, antes
de mais nada, amor a todos os mortais e a adoração pela majestade divina
[...]
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Aula 18_ A utopia de Campanella – A Cidade do Sol
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Campanella procurou, na segunda parte da obra, defendê-la dos críticos
salientando que A Cidade do Sol era obra de homens inspirados nas verdades do
Evangelho. Os príncipes, de outra forma, tinham outras inspirações. Veja como o
autor faz o contraponto entre os dois tipos de governo:
Apresentamos a nossa república, não como dada por Deus, mas como uma
descoberta filosófica da razão humana, para demonstrar que a verdade do
Evangelho é conforme a natureza.... Afirmo que essa república, como o
século de ouro, é desejada por todos e reclamada por Deus... Se não é
praticada, isso se deve à maldade dos príncipes, que submetem os povos a
si, e não ao império da razão suprema... (CAMPANELLA, apud FREITAS,
1976).
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Aula 19_A Teoria do Direito Divino dos reis
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Devemos salientar que Bodin, ao abordar a questão da legitimidade do
governo da comunidade, considera que ele deveria ser um governo reto e bem
ordenado, o que remete também para a aproximação com o pensamento de Platão.
Vejamos como Jean Bodin situa o poder dos reis:
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DE SANTOSacreditar-se que ele vê melhor, e deve obedecer-lhe sem murmurar, pois o
murmúrio é uma disposição para a sedição (BOSSUET apud FREITAS,
1976: 201).
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Aula 20_O Absolutismo Monárquico
O Estado sou Eu
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voltado; é unicamente a mim que pertence o poder legislativo, sem
dependência e sem partilha; é somente por minha autoridade que os
funcionários e os tribunais procedem, não à formação, mas ao registro, à
publicação, à execução da lei, e que lhes é permitido advertir-me o que é do
dever de todos os úteis conselheiros; toda a ordem pública emana de mim,
e os direitos e interesses da nação, de que se pretende ousar fazer um
corpo separado do Monarca, estão necessariamente unidos com os meus e
repousam inteiramente nas minhas mãos (apud FREITAS, 1976, p. 201).
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revoluções liberais inglesas que derrubaram os reis, muitos deles sendo executados
no processo, e instauraram as bases do convívio entre monarca e Parlamento no
Parlamentarismo inglês.
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Resumo - Unidade II
Estes pontos são uma síntese do que vimos na unidade II sobre o pensamento
políticna Idade Média e início da Idade Moderna. Na próxima unidade vamos
acompanhar o pensamento político no período moderno.
Referencias Bibliográficas
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ARANHA, Maria Lúcia A. Idade Média: a formação do homem de fé. In História da
Educação. - 2 ed - São Paulo: Ed. Moderna, 1996.
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Aula 21_O Leviatã de Thomas Hobbes
[...] um meio corpo emergindo por detrás das colinas, dominando uma
paisagem de campos, bosques e castelos que precedem uma imponente
cidade – um gigante coroado. É moreno de bastos cabelos e bigode, com
um olhar fixo, penetrante, com um sorriso imperceptivelmente sarcástico
[...]. A parte visível de seu corpo, busto e braços, é feita de milhares de
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pequeninos indivíduos aglomerados. Com a mão direita empunha, erguendo
-a acima do campo e da cidade, uma espada; com a mão esquerda um
báculo episcopal. Abaixo, enquadrando o título da obra, defrontam-se duas
séries de emblemas em contraste, uns de ordem temporal e militar, os
outros de ordem espiritual ou eclesiástica: um forte, uma catedral; uma
coroa, uma mitra; um canhão, os raios de excomunhão; uma batalha com
cavalos empinados; um concílio com as vestes talares[...] (CHEVALLIER,
1993).
A arte do homem [...] pode fazer um animal artificial [...] Mais ainda, a arte
pode imitar o homem, obra prima racional da natureza. Pois é justamente
uma obra de arte esse grande Leviatã que se denomina coisa pública ou
Estado (Commonwealt), em latim Civitas, o qual não é mais do que um
homem artificial, embora de estatura muito mais elevada e de força muito
maior que a do homem natural, para cuja proteção e defesa foi imaginado
(HOBBES, apud CHEVALLIER, 1993, p. 66).
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Nele, a soberania é uma alma artificial, pois que dá a vida e o movimento a
todo o corpo [...] A recompensa e o castigo[...] são os seus nervos. A
opulência e as riquezas de todos os particulares, a sua força. Salus populis,
a salvação do povo, é a sua função [...] A equidade e as leis são para ele a
razão e vontade artificiais. A concórdia é a sua saúde, a sedição sua
doença, e a guerra civil sua morte. Enfim, os pactos e os contratos, que, na
origem presidiram a constituição, agregação e união das partes desse corpo
político, assemelham-se ao Fiat ou façamos o homem, pronunciado por
deus na criação (HOBBES apud CHEVALLIER, 1993, p. 66).
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Aula 22_O Leviatã de Thomas Hobbes II
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Reconhece Hobbes que é da natureza do homem lutar por suas paixões e
aponta que, pela inteligência ou pela construção de alianças, o homem poderia
ampliar suas forças.
Na visão do autor, portanto, somente por interesse, por necessidade, os
homens procurariam o convívio com os outros homens. Considera ele que a
sociedade política é uma criação artificial, fruto de um pacto voluntário, que
pressupõe:
Que um homem concorde , quando outros também o façam, e na medida
em que tal considere necessário para a paz e para a defesa de si mesmo,
em renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando-se, em relação
aos outros homens com a mesma liberdade que aos outros homens permite
em relação a si mesmo (HOBBES, apud WEFFORT, 1998, p. 60).
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É importante lembramos o cenário político em que viveu Hobbes, uma
Inglaterra agitada por discussões religiosas e políticas e pelos enfrentamentos entre
os reis e o Parlamento, situação que levou à decapitação do rei Carlos I (1649) e à
Revolução
Gloriosa (1689) que estabeleceu a monarquia constitucional; a partir daí a
realeza ficou submetida ao Parlamento. Este contexto foi determinante para as
reflexões do autor sobre a questão do Poder e da sociedade política e serviu de
inspiração para seu Leviatã.
Foi dele a frase “homo homini lupus”, ou seja, o homem é o lobo do homem. A
partir desta perspectiva, hobessiana, portanto, o que restaria como possibilidade
para o convívio entre os homens, como se daria a vida social?
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Aula 23_O Leviatã de Thomas Hobbes III
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Leia o que pensava Hobbes sobre a prerrogativa do uso da força pela
instância de poder que se colocava acima dos homens:
As leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade, em
resumo, fazer aos outros os que queremos que nos façam) por si mesmas, na
ausência de temor de algum poder capaz de levá-las a serem respeitadas, são
contrárias a nossas paixões naturais,...E os pactos sem a espada não passam de
palavras, sem força para dar qualquer segurança para ninguém (HOBBES, apud
WEFFORT, 1998).
A leitura dos dois excertos acima auxilia -nos a entender um pouco mais
daquela imagem que, conforme vimos, aparecia nas primeiras edições
de Leviatã mostrando um gigante, cujo corpo era formado de milhares de homens, e
que trazia na mão direita uma espada empunhada acima do campo e da cidade.
Concluímos com uma citação de Hobbes e sua explicação sobre a origem e
característica do Estado Moderno:
Tal é a origem desse grande Leviatã, ou, melhor, desse deus mortal, a que
devemos, com o auxílio do Deus imortal, nossa paz e nossa proteção.
Porque, armado do direito de representar cada um dos membros do
Commonwealth (Civitas, Estado), é detentor, por isso mesmo, de tanto
poder e força que se torna capaz, graças ao terror que inspira, de dirigir as
vontades de todos à paz no interior e ao auxílio mútuo contra os inimigos do
exterior (HOBBES apud CHEVALLIER, 1993 p. 71).
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Aula 24_John Locke – o individualismo liberal I
John Locke (1632 - 1704) foi opositor dos monarcas da dinastia Stuart vivendo, parte
de sua vida, exilado na Holanda. Só retornou à Inglaterra, sua terra natal, após a
Revolução Gloriosa de 1688 e o estabelecimento da monarquia parlamentar.
No ano de 1690, portanto após seu retorno à Inglaterra, escreveu suas mais
importantes obras: Dois Tratados sobre o Governo Civil e Ensaio acerca do
entendimento humano. Locke escreveu também Alguns Pensamentos Referentes à
Educação (1693) e Racionalidade do Cristianismo (1695). A situação de espoliação
a que estava submetida a classe trabalhadora nos diferentes países da Europa
Ocidental, sofrendo os desmandos dos reis e da nobreza, constituíram inspiração
para a escrita de suas obras marcada pela exaltação do individualismo.
John Locke, assim como Hobbes, partiu da ideia da ideia da precedência do estado
da natureza no desenvolvimento da sociedade salientando que, em tal fase, todos
os homens eram livres, iguais e independentes vivendo segundo os preceitos da
razão: cada um sendo livre para dispor de seu corpo, mas ninguém poderia abusar
da liberdade a ponto de prejudicar os outros. Como no estado da natureza estava
assegurada a preservação, a cobiça e a agressão justificariam a punição do
agressor, ou seja, daquele que afrontava os princípios da razão e da natureza.
Essas ideias, a de liberdade, de independência, dos direitos individuais e respeito às
regras do convívio baseado na razão são fundamentais no pensamento e na obra de
Locke. Assim, vejamos:
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Conforme podemos ler no excerto Locke, ao abordar o poder político, afirma
que ele deriva e tem como limite a lei da natureza. O exercício do poder político livre,
autônomo e considerado como direito de todos é pensado em relação de liberdade e
reciprocidade entre os homens; a liberdade de ações e decisões guarda relação
direta, portanto, com o direito do outro.
Complementemos agora, considerando o que afirmou Locke sobre o governo
civil:
O governo civil é o remédio adequado para as inconveniências do estado da
natureza, que certamente serão grandes, onde os homens possam ser
juízes de suas próprias causas, já que com facilidade se pode imaginar que
aquele que tenha sido tão injusto a ponto de prejudicar seu irmão
dificilmente será tão justo a ponto de se condenar por esse ato (LOCKE
apud STRATHERN, 1997, p. 62).
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Aula 25_John Locke – o individualismo liberal II
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sociedade e - até o ponto em que seja compatível com o bem público – de
qualquer pessoa que faça parte dela. Esse poder legislativo não é somente
o poder supremo da comunidade, mas sagrado e inalterável nas mãos em
que a comunidade uma vez o tenha colocado; nem pode qualquer edito de
quem quer que seja, concebido por qualquer maneira ou apoiado por
qualquer poder que seja, ter a força e a obrigação de uma lei e não tiver
sanção do legislativo escolhido e nomeado pelo poder publico; porque, sem
isto, a lei não teria o que é absolutamente necessário à sua natureza de lei:
o consentimento da sociedade, sobre a qual ninguém tem o poder de fazer
leis senão pelo próprio consentimento daquela e pela autoridade dela
recebida (LOCKE,apud WE-FFORT, 1998, p. 100).
DA DISSOLUÇÃO DO GOVERNO
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Você percebeu a situação descrita e o que deixou claro John Locke? No caso
do legislador ou do executor das leis, portanto de elementos que integram o governo
civil, tentarem tirar ou destruir a propriedade do povo ou induzi-lo à escravidão
criando um estado que ele denominou de estado de guerra entre o povo e os
governantes, fica o povo absolvido ou, mais modernamente, desobrigado de
obedecê-los. Pois é, Locke prega, no século XVII, a desobediência civil.
E, encerrando nosso estudo sobre John Locke, leia o que ele afirmou a
respeito do poder de julgar a atuação do Legislativo ou o Executivo:
Nesse ponto é provável que formulem a pergunta comum: Quem julgará se o
príncipe ou o legislativo agem contrariamente ao encargo recebido?...
A isto respondo: O povo será o juiz; porque quem poderá julgar se o
depositário ou o deputado age bem e de acordo com o encargo a ele confiado senão
aquele que o nomeis, devendo, por tê-lo nomeado, ter ainda poder para afastá – lo
não agir conforme seu dever? Se isto for razoável no caso particular de homens
privados, por que seria de outra forma no de maior importância que afeta o bem
estar de milhões, e também quando o mal, se não for prevenido, é maior e a
reparação muito difícil, dispendiosa e arriscada? (LOCKE, apud WEFFORT, 1998, p.
110).
A quem caberia julgar ou decidir o destino dos governantes que agem
contrariamente aos interesses do povo? Segundo John Locke, ao povo!
John Locke é considerado um precursor do liberalismo. Em Dois Tratados
sobre o Governo Civil apresenta a ideia de um pacto entre governante - governados
e, no caso de rompimento do pacto pelo governante, segundo o autor cessa o
compromisso do povo para com ele. Contra os maus legisladores, aqueles que
agem contra os interesses do povo, John Locke defende a desobediência do povo.
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Aula 26_Montesquieu I
Para descobrir lhes a natureza basta a ideia que deles têm os homens
menos instruídos. Suponho três definições, ou antes, três fatos: um, que o
governo republicano é aquele em que o povo em bloco, ou somente uma
parte do povo, detém o poder soberano; o monárquico, aquele em que um
só governa, mas por leis fixas e estabelecidas; ao passo que no despótico
um só, sem lei e sem regra arrasta tudo pela sua vontade e pelos seus
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DE SANTOScaprichos [...] A liberdade política não se encontra senão nos governos
moderados [...] (MONTESQUIEU apud FREITAS, 1976, p. 24).
[...] Para que se não possa abusar do poder, é preciso que, pela disposição
das coisas, o poder faça parar o poder. Uma constituição pode ser tal que
ninguém seja coagido a fazer aquilo a que a lei o não obriga, nem a não
fazer aquilo que a lei lhe permite [...] A liberdade do cidadão é essa
tranquilidade de espírito que provém da opinião que cada um tem da sua
segurança; e para que se tenha essa liberdade, é preciso que o governo
seja tal que o cidadão não possa temer um outro cidadão. (MONTESQUIEU
apud FREITAS, 1976).
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Aula 27_Montesquieu II
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Montesquieu na obra ora comentada propõe que o poder Executivo deveria
ser exercido por um monarca enquanto que o legislativo dividir-se-ia em duas casas
separadas e independentes: uma câmara composta por representantes do povo
(corpo dos comuns) e outra formada por nobres (corpo dos nobres), tendo esta
última direito de veto sobre as decisões do corpo dos comuns.
O excerto abaixo sintetiza as ideias acima colocadas:
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Aula 28_ Jean Jacques Rousseau I
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senão sucessivamente não se formou repentinamente no espírito humano:
foi preciso fazer progressos, adquirir muito engenho e luzes, transmiti los e
aumentá- los de geração para geração, até chegar ao último limite do
estado de natureza (ROUSSEAU, 1954, p. 97).
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Aula 29_Jean Jacques Rousseau II
Do Contrato Social
Livro 1
CAPITULO 1 OBJETO DESTE PRIMEIRO LIVRO
O homem nasce livre, e por toda parte encontra se Aprisionado. O que se
crê senhor dos demais, não deixa de ser mais do que eles. Como se deu
esta transformação? Eu o ignoro. O eu poderá legitimá la? Creio poder
resolver esta questão.
Se considerasse somente a força e o efeito que dela deriva, eu diria:
“Quando um povo é obrigado a obedecer e o faz, age acertadamente; mas
logo que possa sacudir esse jugo e o faz. Age ainda melhor pois,
recuperando sua liberdade pelo mesmo direito com que esta lhe foi
roubada, ou ele tem o direito de retomá la ou não o tinham de subtraí Ia”.
Mas a ordem social é um direito sagrado que serve de base a todos os
outros. Tal direito, no entanto, não se origina da natureza: funda se,
portanto, em convenções. Trata-se de saber que convenções são essas [...]
(ROUSSEAU, 1954).
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DE SANTOS estabelecido como princípio. Mas jamais alcançaremos uma explicação
para esta palavra? A força é um poder físico; não imagino que moralidade
possa resultar de seus efeitos. Ceder à força é um ato de necessidade, não
de vontade; quando muito, é um ato de prudência [...] Convenhamos então
que a força não faz o direito e que só se é obrigada a obedecer aos poderes
legítimos.
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Aula 30_O contrato Social no pensamento de Jean-Jacques Rousseau
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Essas cláusulas, bem entendidas, reduzem-se todas a uma só: a
alienação de cada associado, com todos os seus direitos, à comunidade toda,
pois, em primeiro lugar, desde que cada um se dê completamente, a condição
é igual para todos e, sendo a condição igual para todos, ninguém se interessa
em torná-la onerosa aos demais (grifo nosso) (Rousseau, 1954).
Como você pode depreender da leitura do excerto, os termos do contrato
social preconizado por Rousseau consideravam que, ao associarem-se para somar
forças, cada homem preservava sua liberdade e força, não obedecendo senão a si
mesmo e mantendo-se livres como antes. Segundo o autor, a manutenção da
liberdade de cada um na associação foi o problema fundamental solucionado
pelo Contrato Social. Outro aspecto importante, apontado como cláusula básica no
contrato, consagrava que seria em nome da comunidade toda que se daria a
alienação de cada associado com todos os seus direitos.
O contrato de Rousseau previa, portanto, que cada um poria em comum sua
pessoa e todo o seu poder sob a direção de uma vontade geral; e cada um,
obedecendo a essa vontade geral, obedeceria a si mesmo. A liberdade consistiria,
em última instância, em obedecer ao corpo ou coletivo social, que representaria a
soma das vontades da maioria. O povo, como corpo social, assumiria o papel de
soberano único; a lei representaria a vontade do todo.
A repercussão das ideias de Rousseau causou grande impacto constituindo
fundamento ideológico para muitas revoluções que defenderam como palavras de
ordem a soberania popular, a liberdade e a igualdade entre os homens. Apontam
alguns autores que, em outro sentido, as ideias do autor também fundamentaram os
regimes opressivos.
Como você pode perceber, a ideia de contrato social de Rousseau diferia, em
muitos pontos e no essencial, da defendida por Thomas Hobbes, que propunha a
alienação do direito de todos em nome do soberano, do Estado, considerando que
só existiria reciprocidade entre os homens. O Estado, ou o soberano, constituiriam,
conforme o autor, instância de poder acima da sociedade.
Rousseau foi o grande defensor da liberdade e da igualdade de todos na
comunidade e da soberania do povo que, segundo ele, era a melhor garantia para a
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liberdade individual, pois a liberdade era a obediência às leis que expressavam a
vontade geral. O autor foi precursor da crítica contundente à propriedade privada e
suas ideias são associadas, com ferq6Uência, às ideias anticapitalistas e socialistas.
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Aula 31_O significado do Contratualismo
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contrato um instrumento de ação política capaz de impor limites a quem detém o
poder.
O Estado da Natureza, as Necessidade do Homem e a Divisão do
trabalho:
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Aula 32_A Evolução do Estado Moderno
Estes pontos são uma síntese do que vimos na unidade III sobre o
pensamento político na Era Moderna. Tal unidade acompanhou o pensamento
político no período moderno e o advento do Contratualismo parte integrante de um
processo político que leva ao Constitucionalismo e, em especial, à necessidade de
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