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Universidade Púngué
Chimoio
2022
Alberto Julio Alberto Mapunga
Amália Filipe Uate
Braz António
Chuva Tome Luís
Elsa Ricardina Nhabomba
Universidade Púngué
Chimoio
2022
Índice
1.0.Introdução ....................................................................................................................3
1.1.Objectivos ....................................................................................................................3
1.2.Metodologias ...............................................................................................................3
3.0.Conclusão ..................................................................................................................16
1.0.Introdução
Nesta reflexão, investigamos a relação entre autoridade e liberdade, mediada e
viabilizada, na escola, pela autonomia, compreendida como um processo de vir-a-ser.
Salientamos os fundamentos da autoridade legítima, conforme Paulo Freire, que
possibilita a instalação de condições para a construção da autonomia séria, competente
e comprometida. A autoridade, neste sentido, tem a indispensável presença na
formação dos educandos para a autonomia.
1.2.Metodologias
Para a realização deste trabalho recorreu-se ao acesso da internet e alguns manuais em
formato PDF, que estão listados na ultima pagina do trabalho, referentes as referencias
bibliográficas.
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2.0.Fundamentação teórica
Nestas fases, repita-se, mais do que nunca, se faz indispensável a integração do homem.
Sua capacidade de apreender o mistério das mudanças, sem o que será delas um simples
joguete. Daí que não fosse possível ao educador, então, mais do que antes, discutir o seu
tema específico, desligado do tecido geral do novo clima cultural que se instalava, como
se pudesse ele operar isoladamente. E que temas e que tarefas teriam sido esvaziadas
todos os temas e todas as tarefas características de uma “sociedade fechada”.
Sua alienação cultural, de que decorria sua posição de sociedade “reflexa” e a que
correspondia uma tarefa alienada e alienante de suas elites. Elites distanciadas do povo.
Superpostas à sua realidade. Povo “imerso” no processo, inexistente enquanto capaz de
decidir e a quem correspondia a tarefa de quase não ter tarefa. De estar sempre sob. De
seguir. De ser comandado pelos apetites da “elite”, que estava sobre ele. Nenhuma
vinculação dialogal entre estas elites e estas massas, para quem ter tarefa corresponderia
somente seguir e obedecer. Incapacidade de ver-se a sociedade a si mesma, de que
resultava como tarefa preponderante a importação de modelos, a que Guerreiro Ramos
chamou de “exemplarismo”. (VINCENTI, 1994)
Na “Sociedade fechada”, temas como democracia, participação popular, liberdade,
propriedade, autoridade, educação e muitos outros, de que decorriam tarefas específicas,
tinham uma tónica e uma significação que já não satisfazem à Sociedade em trânsito.
Nossa preocupação, de resto difícil, era a captação dos novos anseios, como a visão
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nova dos velhos temas que se consubstanciando, nos levariam a uma “Sociedade
aberta”, mas destorcendo-se, poderiam levarnos a uma sociedade de massas em que,
descriticizado, quedaria o homem acomodado e domesticado.
A educação, por isso, na fase de trânsito que vivíamos, se fazia uma tarefa altamente
importante. A sua força decorreria sobretudo da capacidade que tivéssemos de nos
incorporarmos ao dinamismo da época do trânsito. Dependeria de distinguirmos
lucidamente na época do trânsito o que estivesse nele, mas não fosse dele, do que,
estando nele, fosse realmente dele. Sendo a fase de trânsito o elo entre uma época que se
esvaziava e uma nova que ia se consubstanciando, tinha algo de alongamento e algo de
adentramento. De alongamento da velha sociedade que se esvaziava e que despejava
nele querendo preservar-se. E a cada recuo, se lhe falta a capacidade de perceber o
mistério de seu tempo, pode corresponder uma trágica desesperança. Um medo
generalizado. Por outro lado, os recuos não detêm a transição. Os recuos não são um
trânsito para trás. Retardam-no ou destorcem-no. Os novos temas, ou a nova visão dos
velhos, reprimidos nos recuos, “insistem” em sua marcha até que, esgotadas as
vigências dos velhos temas, alcancem a sua plenitude e a sociedade então se encontrará
em seu ritmo normal de mudanças, à espera de novo momento de trânsito, em que o
homem se humanize cada vez mais.(Рaluo freire 45 47).
Na medida em que vão se integrando com o seu tempo e o seu espaço e em que,
criticamente, se descobrem inacabados. Realmente não há por que se desesperar se se
tem a consciência exata, crítica, dos problemas, das dificuldades e até dos perigos que
se tem à frente. Aí é que a posição anterior de autodesvalia, de inferioridade,
característica da alienação, que amortece o ânimo criador dessas sociedades e as
impulsiona sempre às imitações, começa a ser substituída por uma outra, de
autoconfiança.
2.2.Liberdade e Autonomia
Originalmente, o termo autonomia (autós) signifia “por si próprio ou de si mesmo”. É a
capacidade que alguém adquire de governar a si mesmo; direito ou faculdade de se reger
(uma acção) por leis próprias; liberdade ou independência moral ou intelectual;
propriedade pela qual os seres humanos pretendem poder escolher as leis que regem sua
conduta.
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Tendo por base a tradição filosófica, autonomia tem sua origem fortemente marcada por
Kant, o qual procurou designar a independência da vontade em relação a todo o desejo
ou objecto de desejo e a capacidade dessa mesma vontade do indivíduo para determinar-
se, sempre em conformidade com uma lei própria, a da razão.
Kant contrapõe a autonomia à heteronomia pela qual a vontade é determinada pelos
objetos da faculdade de desejar.
Da mesma forma, os ideais morais de felicidade ou de perfeição supõem a
heteronomia da vontade, supõem que ela seja determinada pelo desejo de
alcançá-los e não por uma lei sua e própria. A independência da vontade em
relação a qualquer objecto desejado é a liberdade no sentido negativo, ao passo
que a sua legislação própria (como razão prática) é a liberdade no sentido
positivo. A lei moral não exprime nada mais do que a autonomia da razão
prática, isto é, da liberdade.
O fim da opressão do ser humano e a consequente libertação e inserção em processos
sociais de construção da vida, em especial o respeito à dimensão humana do educando,
conforme Freire, passam pela construção da autonomia do mesmo. Para tanto há que se
criticar (no sentido original de “pôr em crise”) permanentemente “[...] à malvadez
neoliberal, ao cinismo da ideologia fatalista e sua recusa inflexível ao sonho e à utopia”
(FREIRE, 1997, p. 15).
A teoria pedagógica de Freire, sua “filosofia existencial” (WEFFORT, 1977, p.12), tem
como grande proposta, como grande utopia, a libertação dos oprimidos. Como ninguém
liberta ninguém, a libertação acontece a partir da autoconfiguração responsável. “Os
caminhos da libertação são do oprimido que se liberta: ele não é coisa que se resgata, é
o sujeito que se deve autoconfigurar responsavelmente” (FIORI, 1983, p. 3).
educação deve proporcionar contextos formativos que sejam adequados para que os
educandos possam se fazer autónomos. A temática da autonomia que ganhou
centralidade nos pensadores e na educação moderna, ganha em Paulo Freire um sentido
sócio-político pedagógico: autonomia é a condição sócio-histórica de um povo ou
pessoa que tenha se libertado, se emancipado, das opressões que restringem ou anulam
sua liberdade de determinação.
E conquistar a própria autonomia implica, para Freire, em libertação das estruturas
opressoras. “A libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca;
pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela” (FREIRE, 1983,
p.32).
Não há libertação que se faça com homens e mulheres passivos, é necessária
conscientização e intervenção no mundo. A autonomia, além da liberdade de pensar por
si, além da capacidade de guiar-se por princípios que concordem com a própria razão,
envolve a capacidade de realizar, o que exige um homem consciente e activo, por isso o
homem passivo é contrário ao homem autónomo.
Para Freire (idem, p. 56), a experiência animal se dá no suporte, que é espaço restrito
em que o animal é treinado, adestrado para caçar, defender-se, sobreviver, e é graças a
esse suporte que os filhotes dependem de seus pais por menos tempo que as crianças. A
explicação do comportamento animal se encontra muito mais na espécie do que no
indivíduo. Eles não possuem liberdade, assim não criam um mundo para si, não são
autónomos. Já o homem possui existência. “O domínio da existência é o domínio do
trabalho, da cultura, da história, dos valores – domínio em que os seres humanos
experimentam a dialéctica entre determinação e liberdade” (FREIRE, 1982, p. 66).
É no domínio da existência que os homens se fazem autónomos. A partir
da invenção da existência não foi mais possível ao homem existir sem
assumir o seu direito e dever de decidir. Por isso, assumir a existência
em sua totalidade é necessário para que o homem seja autónomo.
Enquanto inacabados, homens e mulheres se sabem condicionados, mas
a consciência mostra a possibilidade de ir além, de não ficar
determinados. “Significa reconhecer que somos condicionados mas não
determinados” (FREIRE, 2000a, p. 21).
A construção da própria presença no mundo não se faz independente das forças sociais,
mas se essa construção for determinada, não há autonomia. Se minha presença no
mundo é feita por algo alheio a mim, estou abrindo mão de minha liberdade, de minha
responsabilidade ética, histórica, política e social, estou abrindo mão de minha
autonomia. “Afinal, minha presença no mundo não é a de quem apenas se adapta, mas a
de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objecto, mas
sujeito também da História” (idem, p. 60). A presença no mundo de quem é sujeito da
História é uma presença autónoma.
„ele se ponha no seu lugar‟ ao mais ténue sinal de sua rebeldia legítima, tanto
quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites
à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente
presente à experiência formadora do educando, transgride princípios
fundamentalmente éticos de nossa existência. É neste sentido que o professor
autoritário, que por isso afoga a liberdade do educando, amesquinhando o seu
direito de estar sendo curioso e inquieto, tanto quanto o professor licencioso
rompe com a radicalidade do ser humano - a de sua inconclusão assumida em
que se enraíza a eticidade (FREIRE, 1997, p. 66).
É com esta longa afirmação que é possível destacar em Freire (1997) a reflexão sobre
“Ensinar exige respeito à autonomia do ser educando” (p. 65), onde o que aparece em
destaque é a coerência que é exigida de quem busca e defende a autonomia do outro, do
educando:
Saber que devo respeito à autonomia, à dignidade e à identidade do educando e,
na prática, procurar a coerência com este saber, me leva inapelavelmente à
criação de algumas virtudes ou qualidades sem as quais aquele saber vira
inautêntico, palavreado vazio e vontade arrogante do mestre (FREIRE, 1997, p.
69).
Para o educador que sabe que deve respeitar a dignidade do educando, a sua autonomia
e a sua identidade no processo, Freire aponta uma exigência de realização e não de
negação deste conhecimento, o que demanda reflexões críticas permanentes sobre a
prática educativa. A avaliação permanente do processo, para o autor, é fundamental.
Freire não separa a reflexão sobre autonomia, identidade e dignidade do educando. Esta
reflxão conjunta exige um grande esforço do educador no sentido de diminuir, cada vez
mais, a distância entre o que é dito e o que é feito.
O educador, que em sua prática busca promover a autonomia dos educandos,
deve estar atento à relação autoridade-liberdade. Para que haja a necessária
disciplina sem haver autoritarismo ou licenciosidade, o equilíbrio entre ambas é
necessário. “O autoritarismo é a ruptura em favor da autoridade contra a
liberdade e a licenciosidade, a ruptura em favor da liberdade contra a
autoridade” (FREIRE, 2000a, p. 99).
Assim o autoritarismo não é mais autoridade, mas abuso de autoridade, a licenciosidade
não é mais liberdade, mas depravação da liberdade. Ambos são nocivos à autonomia, já
que o autoritarismo mantém o educando excessivamente dependente da autoridade e
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testemunho espontâneo dos pais é aproveitar a força do testemunho de pai para exercitar
a “liberdade do filho no sentido da gestação de sua autonomia”.
Segundo o autor, quanto mais os filhos vão se tornando “seres para si”, tanto mais são
capazes de reinventar seus pais, em vez de copiá-los ou até negá-los.
O educador que busca criar condições para que seus alunos criem sua própria autonomia
e que não quer ter uma prática autoritária, deve saber escutar. Falar para os alunos como
se fosse o portador da verdade é uma prática bancária, é preciso escutar, e a partir da
escuta aprender a falar com eles e não para eles (cf. FREIRE, 2000a, p. 127).
Se quisermos promover no educando a autonomia, o processo educativo como um todo
deve ser de falar com. Pode haver momentos de falar para, desde que como um
momento do falar com (cf. idem, p. 131).
A escola é fundamental para que o processo educativo ocorra, como ensinar não é
transferir conhecimento, e sim exige a problematização e acompanhamento para que os
educandos vão construindo seus conhecimentos, a escuta do outro é essencial, sem isso,
o processo educativo de construção da autonomia fica comprometido. Também é
importante que os educandos aprendam a fazer o uso responsável da palavra, que
aprendam a falar autonomamente. De acordo com Freire (ibid), para que haja uma
comunicação dialógica, que não seja nem licenciosa nem autoritária, é indispensável,
em sala de aula, a disciplina do silêncio.
Mas silêncio não é silenciamento. Educador e educando devem ser sujeitos do diálogo.
E, da mesma forma que não deve ser autoritário, o educador não deve ser licencioso,
deve assumir sua autoridade e educar para possibilitar o exercício responsável e racional
da liberdade, a fim de que a autonomia possa ser testada. (NOGUEIRA, 1991)
3.0.Conclusão
É evidente que o professor não é responsável pela solução de todos os problemas que o
processo de educar impõe diariamente. Sua conduta esbarra em limites e imposições,
tanto no aspecto científico quanto pedagógico. A figura do super educador é irreal e
utópica, mesmo porque professores e alunos são, muitas vezes, vítimas de um sistema
educacional deficiente, que lhes impede a apreensão da realidade e de uma prática mais
consciente. Educar para transformar é uma contradição um ser consciente de seu
inacabamento não buscar o futuro com esperança, não sonhar com a transformação,
enfim, não buscar a construção de um mundo onde todos possam realizar-se com
autonomia.
Cabe à educação problematizar o futuro para que a utopia de um mundo melhor não se
perca. Dizer que a educação vai suprimir todas as injustiças, opressões, e assim mudar
completamente a sociedade suprimindo todas heteronomias, é ingenuidade, da mesma
forma que dizer que a educação não pode realizar mudança alguma. Temos que estar
conscientes do nosso condicionamento, mas não somos determinados, há possibilidade
da transformação. O poder de se autodeterminar é necessário para que o sujeito fuja do
determinismo, esteja aberto ao inédito viável e, assim, possa ser autónomo. Hoje
sabemos que não podemos pensar uma sociedade e indivíduos que se fazem
autonomamente a partir de uma racionalidade pura, e nem pensar uma autonomia
absoluta que é garantida pela racionalidade.
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4.0.Referências bibliográficas
1. CASSIRER, Ernest. A Filosofia do Iluminismo. Trad. Álvaro Cabral. 3ª ed.
Campinas: Editora UNICAMP, 1997.
Educação como prática da liberdade. 7ª ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1977.
2. HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da modernidade. Trad. Luiz
Sérgio Repa, Rodnei Nascimento. São Paulo.
3. FREIRE, Paulo; GUIMARÃES, Sérgio. Pedagogia: diálogo e conflito. 4ª ed.
São Paulo: Cortez, 1995.
4. FROMM, Erich. O medo à liberdade. Trad. Octavio Alves Velho. 10ª ed. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1977.
5. ROMÃO, José Eustáquio. Pedagogia dialógica. São Paulo: Cortez e Instituto
Paulo Freire, 2002.
6. PRESTES, Nadja Mara Hermann. A educação, a razão e a autonomia. In:
Educação e
7. filosofia. Uberlândia, MG Vol. 7, n. 13 (jan./jun. 1993), p. 61-70. 82
8. NOGUEIRA, Adriano. Que Fazer: Teoria e Prática em educação popular. 3ª
ed. Petrópolis: Vozes, 1991.
9. VINCENTI, Luc. Educação e Liberdade: Kant e Fichte. Trad. Élcio
Fernandes. São Paulo: Editora UNESP, 1994