RESUMO: O MONOPÓLIO DA VIOLÊNCIA LEGÍTIMA NO ESTADO
DEMOCRÁTICO DE DIREITO
A clássica fórmula weberiana de que o Estado recorre à violência como instrumento
de poder, sendo na realidade, seu instrumento específico e que “reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física” se aplica ao Estado Democrático de Direito? Parece, à primeira vista, que não. Aliás, não há consenso entre doutrinadores, dos quais, alguns, garantistas, afirmariam que não, e outros, que sim. Este artigo pretende trazer à baila esta discussão, tão atual como nos tempos de Weber, e por isso mesmo tão instigante, pois, se o Estado Democrático de Direito impõe respeito à lei e não ao Estado, uma vez que, claramente a obra weberiana se contemplava no Estado que recém surgia no século XIX, o qual se valia da força como instrumento de poder, por outro lado, na atualidade, pode o Estado valer-se da mesma força física como instrumento legítimo de poder? Em oposição à fórmula weberiana, Wieviorka (1997), afirma que “É cada vez mais difícil para os Estados assumirem suas funções clássicas. O monopólio legítimo da violência física parece atomizada e, na prática, a célebre fórmula weberiana parece cada vez menos adaptada às realidades contemporâneas”. Talvez esta visão se dê pelo declínio do Estado, ou pelo menos deste modelo, se adequando ao que preconiza Bobbio (2004), quando afirma que com o surgimento do Estado Moderno, reaparece o cidadão em substituição ao súdito que difere-se daquele por ser portador de direitos, ao contrário do primeiro que tinha o dever de obediência. Alia-se a esta linha de pensamento, a visão de Baumann, o qual afirma que com o ressurgimento do cidadão, houve um declínio do Estado, pois tem-se aí um verdadeiro pêndulo, onde ou se tem mais Estado ou mais cidadão, porém nunca os dois ao mesmo tempo. Na contramão à Weber, aparece Hannah Arendt (2011), a qual parafraseia os teóricos da política de esquerda, onde “a violência é tão somente a mais flagrante manifestação de poder”, ou citando C. Wright Mills, onde “Toda política é uma luta pelo poder; a forma definitiva de poder é a violência”, este último, fazendo eco à manifestação weberiana. Mas engana-se quem crê que Arendt filie-se à referida fórmula, pois a socióloga do século XX debate justamente sobre a pretensa legitimidade de o Estado utilizar da força física como instrumento de poder. Numa outra linha de raciocínio, apresenta-se Maria Stela Grossi Porto (2009), que faz um debate sobre o uso legítimo da força e o abuso de poder, ou seja, os frágeis limites que se situam entre os dois conceitos. Num aparente paradoxo, pode parecer que o Estado Democrático de Direito que se utilize da violência como forma de poder, confronte o respectivo modelo de democracia, porém a autora afirma que, ao contrário, “la ausência de ese monopólio configuraria, al contrario, el arbitrio, la vigilancia de privilégios, la presencia de una violência difusa, diseminada en el todo social, controlada por algún ordenamiento social individualista, incompatible con las posibilidades de una igualdad en la cidadania, que exige procedimientos más universales”.
PALAVRAS-CHAVE: Monopólio da violência legítima, Estado Democrático de
Democracia e Jurisdição Constitucional: a Constituição enquanto fundamento democrático e os limites da Jurisdição Constitucional como mecanismo legitimador de sua atuação