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ESTATUTO DO TRIBUNAL

INTERNACIONAL DE JUSTIÇA
Os Estados Partes no presente Estatuto, conscientes de que todos os povos estão
unidos por laços comuns e de que suas culturas foram construídas sobre uma
herança que partilham, preocupados com o fato deste delicado mosaico poder vir a
quebrar-se a qualquer instante, e tendo presente que, no decurso deste século,
milhões de crianças, homens e mulheres têm sido vítimas de atrocidades
inimagináveis que chocam profundamente a consciência da humanidade.

Os Estados Partes no presente Estatuto, determinados em perseguir o objetivo de


união maior e no interesse das gerações presentes e vindouras, a criar um Tribunal
Internacional de Justiça com caráter permanente e independente, no âmbito do
sistema internacional, e com jurisdição sobre os crimes de maior gravidade que
afetem a comunidade internacional no seu conjunto e na resolução de conflitos
diplomáticos.

Sublinhando que o Tribunal Internacional de Justiça, criado pelo presente Estatuto,


será complementar às jurisdições nacionais.

Os Estados Partes convieram no seguinte:

Capítulo I
Sobre o Tribunal

1° - É criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Internacional de Justiça.


O Tribunal será uma instituição permanente, com jurisdição sobre a resolução
de conflitos e tensões diplomáticas e sobre as pessoas responsáveis pelos
crimes de maior gravidade com alcance internacional, de acordo com o
presente Estatuto, e será complementar às jurisdições nacionais. A
competência e o funcionamento do Tribunal reger-se-ão pelo presente
Estatuto.

2° - A sede do Tribunal será em Berna, na Suíça.

3° - Sempre que entender conveniente, o Tribunal poderá funcionar em outro


local, nos termos do presente Estatuto.

4° - Sempre que o Tribunal entrar em atividade para a resolução de algum


conflito ou julgamento, o Estado Parte requerente, pelo presente Estatuto, tem
a obrigação de abrigar toda a comitiva da Corte do Tribunal em seu território
nacional, para que as atividades ocorram em território do país requerente.
5° - O Tribunal terá personalidade jurídica internacional. Possuirá, igualmente,
a capacidade jurídica necessária ao desempenho das suas funções e à
prossecução dos seus objetivos.

6° - O Tribunal poderá exercer os seus poderes e funções nos termos do


presente Estatuto, no território de qualquer Estado Parte e, por acordo
especial, no território de qualquer outro Estado.

Capítulo II
Competência, Admissibilidade, Denúncias e Direito Aplicável

7° - A competência do Tribunal em relação aos crimes internacionais


restringir-se-á aos crimes mais graves, que afetam a comunidade
internacional no seu conjunto. Nos termos do presente Estatuto, o Tribunal
terá competência para julgar os seguintes crimes:

A) O crime de genocídio.

B) Crimes contra a humanidade.

C) Crimes de guerra.

8° - Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "Genocídio",


qualquer um dos atos que, praticado com intenção, destrua, no todo ou em
parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso.

9° - Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "Crime contra a


humanidade", qualquer um dos atos que, quando cometido no quadro de um
ataque, generalizado ou sistemático, atinja qualquer população civil, havendo
conhecimento desse ataque.

10° - Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "Crimes de guerra",


qualquer ato que quando cometido como parte integrante de um plano ou de
uma política ou como parte de uma prática em larga escala, venha a humilhar,
massacrar, violar, torturar ou rebaixar qualquer indivíduo ou Estado em
tempos de guerra.

11° - Nada no presente capítulo deverá ser interpretado como limitando ou


afetando, de alguma maneira, as normas existentes ou em desenvolvimento
de direito internacional com fins distintos dos do presente Estatuto.

12° - O Tribunal só terá competência relativamente aos crimes cometidos após


a entrada em vigor do presente Estatuto.
13° - Se um Estado se tornar Parte no presente Estatuto depois da sua entrada
em vigor, o Tribunal só poderá exercer a sua competência em relação a crimes
cometidos depois da entrada em vigor do presente Estatuto relativamente a
esse Estado, a menos que este tenha feito uma declaração pública,
reconhecendo a competência e legitimidade do Tribunal em seu território
nacional.

14° - O Estado que se torne Parte no presente Estatuto, aceitará a jurisdição


do Tribunal relativamente aos crimes a que se refere o artigo 7°.

15° - O Tribunal poderá exercer a sua jurisdição referente aos crimes


cometidos nos Estados se um ou mais Estados a seguir identificados forem
Partes no presente Estatuto ou aceitarem a competência do Tribunal.

A) Estado em cujo território tenha tido lugar a conduta em causa, ou, se o


crime tiver sido cometido a bordo de um navio ou de uma aeronave, o Estado
de matrícula do navio ou aeronave.

B) Estado de que seja nacional a pessoa a quem é imputado um crime.

16° - Se a aceitação da competência do Tribunal por um Estado que não seja


Parte no presente Estatuto for necessária, pode o referido Estado, mediante
declaração depositada junto do seu representante diplomático, consentir em
que o Tribunal exerça a sua competência em relação ao crime em questão. O
Estado que tiver aceito a competência do Tribunal colaborará com este, sem
qualquer demora ou exceção, de acordo com o disposto neste presente
Estatuto.

17° - O Tribunal poderá exercer a sua jurisdição em relação a qualquer um dos


crimes a que se refere o artigo 7°, de acordo com o disposto no presente
Estatuto, se:

A) Um Estado Parte denunciar ao Procurador, nos termos do presente


Estatuto, qualquer situação em que haja indícios de ter ocorrido a prática de
um ou vários desses crimes.

B) O Procurador tiver dado início a um inquérito sobre tal crime, nos termos
do disposto no artigo 20°.

18° - Qualquer Estado Parte poderá denunciar ao Procurador uma situação em


que haja indícios de ter ocorrido a prática de um ou vários crimes da
competência do Tribunal e solicitar ao Procurador que a investigue, com vista
a determinar se uma ou mais pessoas identificadas deverão ser acusadas da
prática desses crimes.
19° - O Estado que proceder à denúncia deverá, tanto quanto possível,
especificar as circunstâncias relevantes do caso e anexar toda a
documentação de que disponha.

20° - O Procurador poderá, por sua própria iniciativa, abrir um inquérito com
base em informações sobre a prática de crimes da competência do Tribunal.

21° - O Procurador apreciará a seriedade da informação recebida. Para tal,


poderá recolher informações suplementares junto aos Estados, aos Órgãos
Internacionais, às Organizações Intergovernamentais ou Não Governamentais
ou outras fontes fidedignas que considere apropriadas, bem como recolher
depoimentos escritos ou orais na sede do Tribunal.

22° - A competência do Tribunal abrange todas as questões que os Estados


Partes lhe submetam, bem como todos os assuntos em tratados e convenções
em vigor.

23° - Os Estados Partes do presente Estatuto poderão, em qualquer momento,


declarar que reconhecem como obrigatória e sem acordo especial, em relação
a qualquer outro Estado que aceite a mesma obrigação, a jurisdição do
Tribunal em todas as controvérsias jurídicas que tenham por objeto:

A) A interpretação de um tratado.

B) Qualquer questão de direito internacional.

C) A existência de qualquer fato que, se verificado, constituiria violação de um


compromisso internacional.

D) A natureza ou a extensão da reparação devida pela ruptura de um


compromisso internacional.

24° - Qualquer controvérsia sobre a jurisdição do Tribunal será resolvida por


decisão do próprio Tribunal.

25° - O Tribunal, cuja função é decidir em conformidade com o direito


internacional as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará:

A) As convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que


estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados Partes.

B) O costume internacional, como prova de uma prática geral aceito como


direito.
C) Os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas.

D) As decisões judiciais e a doutrina dos publicistas mais qualificados das


diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de
direito.

26° - Os artigos 23° e 25° não irão prejudicar a faculdade do Tribunal de decidir
uma questão Ex Aequo Et Bono.

27° - O Tribunal terá a faculdade de indicar, se julgar que as circunstâncias o


exigem, quaisquer medidas provisórias que devam ser tomadas para
preservar os direitos de cada Estado Parte.

Capítulo III
Organização do Tribunal e Sobre os Magistrados

28° - O Tribunal será composto por um corpo de juízes independentes,


indicados por cada Estado Parte e eleitos em uma Assembleia Geral do
Tribunal, sem ter em conta a sua nacionalidade, de entre pessoas que gozem
de alta consideração moral e possuam as condições exigidas nos seus
respectivos países para o desempenho das mais altas funções judiciais, ou
que sejam jurisconsultos de reconhecida competência em direito
internacional.

A) O Tribunal será composto por no mínimo 3 e no máximo 15 membros, não


podendo haver entre eles mais de um nacional do mesmo Estado.

B) A pessoa que possa ser considerada nacional de mais de um Estado será,


para efeito da sua inclusão como membro do Tribunal, considerada nacional
do Estado em que exercer habitualmente os seus direitos civis e políticos.

29° - Recomenda-se que, antes de fazer a indicação de um indivíduo para o


Tribunal Internacional de Justiça, cada Estado Parte consulte o seu mais alto
tribunal de justiça, as faculdades e escolas de direito, academias nacionais e
seções nacionais de academias internacionais que se dediquem ao estudo do
direito.

30° - Os membros do Tribunal serão eleitos por 5 (Cinco) anos e poderão ser
reeleitos.

31° - No caso de renúncia de um membro do Tribunal, o pedido de demissão


deverá ser dirigido ao presidente do Tribunal. Esta notificação dará origem a
abertura de vaga no Tribunal.
A) O membro do Tribunal que tenha sido eleito em substituição de um membro
cujo mandato não tenha ainda expirado concluirá o período do mandato do
seu antecessor.

32° - Nenhum membro do Tribunal poderá exercer qualquer função política.

A) Qualquer dúvida a esse respeito será resolvida por decisão do Tribunal.

33° - Nenhum membro do Tribunal poderá ser demitido, a menos que, na


opinião unânime dos outros membros, tenha deixado de preencher as
condições exigidas.

34° - Os membros do Tribunal quando no exercício das suas funções e


durante seus mandatos gozarão de todos os privilégios e imunidades
diplomáticas.

A) Imunidade Tributária: O membro do Tribunal fica isento a toda tributação


federativa do seu país de origem e de todos os Estados Partes.

B) Imunidade Jurisdicional: O membro do Tribunal tem o direito a


inviolabilidade, ou seja, não será violado no local em que estiver nem locais
em que estiver como responsável legal, nem suas documentações e
comunicações.

C) Imunidade Trabalhista: Em casos de contratações de indivíduos em prol do


trabalho do membro do Tribunal, concede a legislação trabalhista completa do
país de origem do membro do Tribunal.

35° - O Tribunal elegerá, por 2 (Dois) anos e 6 (Seis) meses, o seu Presidente e
o seu Vice-Presidente, que poderão ser reeleitos.

36° - O Tribunal funcionará permanentemente, exceto durante as férias


judiciais, cuja data e duração serão por ele fixadas.

37° - Os membros do Tribunal gozarão de licenças periódicas, cujas datas e


duração serão fixadas pelo Tribunal, sendo tomada em consideração a
distância entre Berna e o domicílio de cada juiz.

38° - Os membros do Tribunal serão obrigados a ficar permanentemente à


disposição do Tribunal, a menos que estejam em licença ou impedidos de
comparecer por motivo de doença ou outra séria razão, devidamente
justificada perante o Presidente.

39° - Os membros do Tribunal receberão vencimentos mensais.


40° - O Presidente receberá, por 1 (Um) ano e 3 (Três) meses, um subsídio
especial.

41° - O Vice-Presidente receberá um subsídio especial correspondente a cada


dia em que desempenhe as funções de Presidente.

42° - Esses vencimentos, subsídios e remunerações serão fixados pela


Assembleia Geral do Tribunal e não poderão ser diminuídos enquanto
durarem os mandatos.

43° - Os vencimentos, subsídios e remunerações acima mencionados estarão


isentos de qualquer desconto ou imposto.

44° - As despesas do Tribunal serão custeadas pela União das Nações


Soberanas, da maneira que for decidida pela Assembleia Geral do Tribunal.

Capítulo IV
Pareceres Consultivos

45° - O Tribunal poderá dar parecer consultivo sobre qualquer questão jurídica
a pedido do Órgão ou Estado Parte que estiver em condições de fazer tal
pedido.

46° - As questões sobre as quais for pedido o parecer consultivo do Tribunal


serão submetidas a ele por meio de petição escrita, que deverá conter uma
exposição do assunto sobre o qual é solicitado o parecer e será acompanhada
de todos os documentos que possam elucidar a questão.

47° - No exercício das suas funções consultivas, o Tribunal deverá guiar-se,


além disso, pelas disposições do presente Estatuto, que se aplicam em casos
contenciosos, na medida em que, na sua opinião, tais disposições forem
aplicáveis.

Capítulo V
Emendas

48° - O Tribunal terá a faculdade de propor por escrito a Assembleia Geral do


Tribunal quaisquer emendas ao presente Estatuto que julgar necessárias, a
fim de que as mesmas sejam consideradas em conformidade com as
disposições no presente Estatuto.

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