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@PROF.FERNANDOOLIVEIRAJUNIOR
DEZEMBRO DE 2022
1
INTRODUÇÃO / APRESENTAÇÃO
Este e-book contém as publicações do meu perfil do Instagram,
@prof.fernandooliveirajunior, organizadas dentro dos 05 (cinco) temas principais de
Direito Econômico para concursos públicos: (i) Ordem Econômica na Constituição e
aspectos gerais; (ii) Direito da Concorrência; (iii) Sistema Financeiro Nacional; (iv)
Regulação e (v) Ordem Econômica Internacional. Dentro de cada tema, as publicações
estão em ordem cronológica de postagem.
Todos os textos foram escritos a partir de duas premissas: primeira, quais eram
os assuntos mais recorrentes em provas de concursos e, segunda, quais eram os debates
existentes naquele momento. Daí a preponderância de tópicos como “Ordem Econômica
na Constituição e aspectos gerais” e “Direito da Concorrência”, que, em média,
correspondem a cerca 75% do que é cobrado nos certames. Além do que uma ou outra
postagem está relacionada a reportagens publicadas no período.
Espero que seja uma leitura útil para quem está se preparando para concursos
públicos ou para quem, simplesmente, deseja ficar atualizado na matéria.
SOBRE O AUTOR
FERNANDO ANTONIO DE ALENCAR ALVES DE OLIVEIRA JUNIOR é
Procurador da República (MPF), pós-graduado, em sentido amplo, em Direito da
Concorrência pela FGV/SP, em Direito Regulatório pela UnB, em direito aplicado ao
Ministério Público Federal pela ESMPU, mestre e doutor em Direito Econômico pela
UnB. Foi, de 2006 a 2012, Procurador Federal (AGU) lotado no CADE, onde ocupou o
cargo de Procurador-Geral substituto. Aprovado também nos concursos de Procurador
do Bacen (2006) e Promotor de Justiça Adjunto do MPDFT (2012). Professor de Direito
Econômico e combate à corrupção em Pós-graduações (Universidade Católica de
Brasília) e em cursos preparatórios para concursos públicos (G7, MEGE, THEMAS,
dentre outros).
2
Sumário
3
CARTEL E CONCURSOS PÚBLICOS...........................................................................................62
CRIME DE CARTEL E COMPETÊNCIA .......................................................................................63
RAMO DE ATIVIDADE CAMPEÃO DE CONDENAÇÕES DE CARTEL NO CADE ...........................65
QUESTÃO SUBJETIVA CONCURSO MAGISTRATURA – CONTROLE DE ESTRUTURAS ...............66
CONTROLE DE CONDUTAS X CONTROLE DE ESTRUTURAS .....................................................68
STF E COMPETÊNCIA EM AÇÕES RELACIONADAS A AUTARQUIAS – O LEADING CASE
ENVOLVENDO O CADE ...........................................................................................................69
O PORVIR DA LIVRE CONCORRÊNCIA NO BRASIL ...................................................................71
ONDE ESTÁ A SEAE? ...............................................................................................................72
STF E A REVISÃO JURISDICIONAL DAS DECISÕES DO CADE ....................................................73
TRADE DRESS E CONCORRÊNCIA DESLEAL .............................................................................75
COMO MENSURAR ECONOMICAMENTE OS PREJUIZOS CAUSADOS PELOS CARTÉIS (O PESO
MORTO)?................................................................................................................................78
LEI DO CADE E CONCURSO PÚBLICO – 27º CONCURSO MPF .................................................83
ACORDO DE LENIÊNCIA, TERMO DE COMPROMISSO DE CESSAÇÃO E ACORDO EM CONTROLE
DE CONCENTRAÇÃO ...............................................................................................................85
SURGIMENTO DO ANTITRUSTE ..............................................................................................89
EXPRESSÕES ESTRANGEIRAS CORRIQUEIRAS NO DIREITO DA CONCORRÊNCIA .....................90
MODELOS DE AUTORIDADES DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA NO MUNDO ..........................93
FINALIDADE DO DIREITO DA CONCORRÊNCIA ........................................................................94
O CADE E A ANALISE DE ATOS DE CONCENTRAÇÃO DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS ..........101
SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL .......................................................................................104
SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL – ASPECTOS GERAIS ........................................................105
HISTÓRIA DA MOEDA NO BRASIIL ........................................................................................106
AUTONOMIA DO BACEN E LEI COMPLEMENTAR 179/2021 .................................................107
REGULAÇÃO ......................................................................................................................... 109
LEI DAS AGÊNCIAS REGULADORAS FEDERAIS .......................................................................110
REGULAÇÃO EM CONCURSOS PÚBLICOS .............................................................................113
ORDEM ECONÔMICA INTERNACIONAL ...............................................................................115
SISTEMA DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS DA OMC .......................................................... 116
SISTEMA DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS DA OMC EM CONCURSOS PÚBLICOS ..............119
DUMPING E PREÇO PREDATÓRIO SÃO COISAS DISTINTAS! ..................................................121
4
ORDEM ECONÔMICA NA
CONSTITUIÇÃO E OUTROS
TEMAS
5
O QUE ESTUDAR EM DIREITO ECONÔMICO PARA CONCURSOS
Concursos
Post 01
Você sabia que, para concursos federais como Magistratura e Ministério Público, na
média dos últimos concursos, mais de 50% das questões das provas objetivas de Direito
Econômico focam nos temas de (i) Noções Introdutórias e Ordem Econômica na
Constituição e (ii) Defesa da Concorrência (Lei 12.529/2011)? Para ser mais exato,
aproximadamente 75% das questões estão centradas nesses dois assuntos. Surpreso?
Dividi as questões por cinco eixos centrais de temas, que são os seguintes: 1. Noções
Introdutórias e Ordem Econômica Constitucional; 2. Direito da Concorrência; 3. Direito
Administrativo Econômico (Agências Reguladoras); 4. Sistema Financeiro Nacional
(BACEN e CVM); 5. Ordem Econômica Internacional.
Então, diante da escassez de tempo, a dica é muito simples: privilegie, nesta ordem, o
estudo de material, doutrina e legislação, relacionada ao CADE e à Ordem Econômica
na Constituição Federal.
Para mais detalhes sobre quais concursos eu utilizei para fazer esse levantamento e a
porcentagem, com o respectivo quantitativo de questões para cada um dos temas aqui
destacados, você pode conferir o PDF que coloquei lá na minha página
fernandooliveirajunior.academia.edu, na aba “Research”, seção de “Drafts”. O arquivo
está nomeado como “Questões de Direito Econômico Magistratura e MP Federais por
tema”. Utilizarei esse site para compartilhar materiais relacionados às postagens daqui!
Forte abraço!
6
ESTATÍSTICAS DE ECONÔMICO NA PROVA DO MPF
Concursos
Para cada prova, de um total de 120 questões, 10 são destinadas para as matérias de
consumidor e econômico.
O concurso que mais cobrou direito econômico foi o 25º concurso (o meu! Quando
ingressei no MPF! Ohh glória!), das 10 questões, todas tratavam de direito econômico.
O concurso que menos cobrou direito econômico foi o 29º concurso (o último), das 10
questões, 05 tratavam de direito econômico.
E a parte mais importante, a divisão das questões por temas! Das 35 questões de direito
econômico: 17 tratavam de direito da concorrência, 08 da parte geral e de ordem
econômica na Constituição, 05 de agências reguladoras, 03 de Mercosul e 02 de Sistema
Financeiro Nacional (sendo 01 sobre CVM).
Percebam que direito da concorrência e a parte geral, que engloba ordem econômica
constitucional, respondem por mais de 70% das questões!
É isso, pessoal! Aqui já temos uma sinalização do que devemos privilegiar nos estudos.
Agora, para antecipar mesmo o que vai cair mais (econômico ou consumidor e, dentro
de econômico, qual tema será preponderante), é importante acompanhar o examinador
das matérias para o 30º concurso (ainda sem previsão de edital)!
7
ESTATÍSTICAS DE ECONÔMICO PARA A MAGISTRATURA FEDERAL
Concursos
Estatísticas das questões de econômico para Magistratura Federal, provas dos últimos
05 anos (09 concursos): TRF1- 2015, TRF2 – 2014, TRF 2 – 2017, TRF 2 – 2018, TRF
3 – 2016, TRF 3 – 2018, TRF 4 – 2016, TRF 5 – 2015 e TRF 5 – 2017. Vejam na
legenda!
De um total de 900 questões (09 provas com 100 questões cada), 30 foram destinadas
para as matérias de direito econômico.
Uma média aproximada de 03 questões por prova, com a curiosidade de que, vez ou
outra, a matéria também foi cobrada em outras disciplinas, como em direito
constitucional (ordem econômica na constituição) ou em direito administrativo
(agências reguladoras).
O concurso que mais cobrou direito econômico foi o TRF 1 – 2015, com 07 questões.
O concurso que menos cobrou direito econômico foi o TRF 4 – 2016, com 02 questões.
E a parte mais importante, a divisão das questões por temas! Das 30 questões de direito
econômico: 15 tratavam de direito da concorrência, 08 da parte geral e de ordem
econômica na Constituição, 05 de direito econômico internacional, 02 de agências
reguladoras.
Percebam que direito da concorrência e a parte geral, que engloba ordem econômica
constitucional, novamente, assim como ocorreu no levantamento das provas do MPF
(vide post de , respondem pela maioria das questões, cerca de 75%! É isso, pessoal! Já é
uma boa sinalização do que devemos privilegiar nos estudos.
8
BIBLIOGRAFIA DE DIREITO ECONÔMICO PARA CONCURSOS PÚBLICOS
Concurso
2. Direito Econômico não está entre as matérias principais, fato, mas não é por isso que
deve ser menosprezada. Considero um erro grave descuidar do seu estudo, pois ele pode
fazer a diferença em avançar a outras fases do concurso, sobretudo porque o seu custo é
relativamente baixo: a quantidade de assuntos a serem estudados é pequena, se
comparada com a de outras disciplinas. O tempo dedicado ao seu estudo deve
considerar, pois, não só a quantidade de questões, mas também a possibilidade de os
assuntos estudados serem efetivamente cobrados. O grande exemplo é direito da
concorrência em provas do MPF: tem que ser estudado, pois as chances de ganhar
pontos preciosos na prova são altas.
3. Dito isso, para concursos públicos, há quatro livros que gosto, por motivos diversos.
A foto de cada um deles consta neste post. São os seguintes: (i) @Leonardo Vizeu –
Direito Econômico (Forense); (ii) Fernando Aguillar – Direito Econômico (Atlas); (iii)
Marcus Gouvêa e Fábio Bensoussan – Manual de Direito Econômico (@Jus Podivm) e
(iv) Danilo Vilela – Sinopse Direito Econômico (@Jus Podivm). Duas observações: O
livro do Fernando Aguillar não trata de Sistema Financeiro Nacional (mas pela
qualidade merece estar na lista) e o do Danilo Vilela, embora seja uma sinopse, tem
quase 600 páginas.
4. Posso ir bem numa prova de econômico sem estudar por livros? Se fizer algum bom
curso preparatório, que ofereça um material de qualidade, eu acho possível, devendo,
claro, ainda, atentar para a parte de lei e jurisprudência. Mas isso vai depender da
qualidade do professor, o que, de certa forma, é fácil de ser avaliado: veja a experiência
dele na matéria e assista uns 20 min de aula. Tenho certeza de que, depois disso, você
saberá se dá para confiar nele ou não.
5. Por fim, se forem comprar livros por agora, atentem que houve algumas alterações
legislativas importantes nos últimos anos, com destaque para Lei de Liberdade
Econômica (Lei 13.874/2019). Em breve devo fazer posts sobre algumas dessas
mudanças.
9
É isso, pessoal! Também em um futuro próximo faço uma lista aqui dos meus 20 livros
preferidos na matéria (para quem tenha interesse em aprofundar um ou outro ponto).
Forte abraço!
10
DIREITO ECONÔMICO EM PROVAS DO MPF – 25º CONCURSO RESOLVIDO
CONCURSO
Gabarito – D
...
Post 01 de 04
Olá, meus amigos, tudo bem?! Eu costumo postar aqui questões de concursos para
contextualizar assuntos tratados na semana. Seguindo sugestão de um dos seguidores,
começarei a fazer posts para solucionar provas completas. O pedido especificamente foi
para solucionar provas do MPF, mas penso que podemos tratar também de Magistratura
Federal e de Advocacia Pública.
Começarei essa série com a prova do 25º concurso do MPF, não apenas para prestigiar o
seguidor que pediu resolução de provas do MPF, mas também porque foi um concurso
bem peculiar: das 10 questões de direito econômico e consumidor, TODAS foram
relacionadas ao direito econômico, com enorme destaque para o direito da concorrência.
Ainda, foi a prova do meu concurso de ingresso no MPF! ☺ Registro que,
particularmente, não acho uma prova fácil, pois há algumas questões dúbias (houve
inclusive duas anulações). Comentaremos tudo!
Como a prova foi aplicada em 2011, ainda vigia a Lei 8.884/1994, assim, nos
comentários, farei as devidas adaptações para atualizar conforme a legislação atual, Lei
12.529/2011, quando necessário. Vamos lá.
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É isso, pessoal! Nos próximos posts continuamos resolvendo as questões dessa prova!
Forte abraço!
12
CONCURSO
62. A prática ilícita conhecida como “venda-casada”, prevista tanto no art. 21, XXIII, da
Lei Antitruste, como no art. 39, I, do Código do Consumidor:
Gabarito – B
...
63. Se uma empresa com faturamento anual acima de R$ 400 milhões adquire outra
empresa:
Gabarito - A
...
Gabarito – B
13
Post 02 de 04
A questão 62 trata de venda casada, que é infração conforme a Lei do CADE e o Código
de Defesa do Consumidor. Mas o que é venda casada? É quando o ofertante de
determinado bem ou serviço impõe, para a sua venda, que o comprador adquira outro
bem ou serviço. De fato, por conta da formatação dos ilícitos antitruste (antigo art. 20 da
Lei 8.884/1994, atual art. 36 da Lei 12.529/2011), questões como poder de mercado
devem ser sopesadas, diferentemente do Código de Defesa do Consumidor. Daí a
alternativa “b” estar correta.
A questão 64 apresenta como alternativa correta a letra “B”. De fato, não compete ao
CADE decidir conflitos intersubjetivos de interesse entre concorrentes. Contudo, a letra
“C”, embora eu considere realmente equivocada, precisaria ser melhor contextualizada,
pois ele evoca discussão acerca da State Action Doctrine. A questão se refere a entes
públicos como reguladores (e aqui há um debate doutrinário relevante) ou agentes
econômicos?! Vou anotar aqui para esse tema (State Action Doctrine) ser assunto de
post futuro. A letra “D” está, de fato, errada porque o CADE não lida com infrações à
luz do CDC.
Forte abraço!
14
CONCURSO
c) Confere imunidade ao agente que tenha praticado cartel, em relação à pena criminal.
Gabarito – ANULADA.
Gabarito – D.
Gabarito – Anulada
...
Post 03 de 04
A questão 65 foi uma das anuladas e, de cara, é fácil perceber o motivo: havia mais de
uma resposta certa. A alternativa “a” está errada. Uma simples leitura das disposições
acerca da leniência (neste ponto, a lei anterior se assemelha à atual) seria suficiente para
15
perceber que o processo administrativo não se suspende, nem existe essa previsão de
aplicação da multa mínima. O que há é a possibilidade de extinção da punibilidade
administrativa e criminal. Portanto, a alternativa “mais correta” seria a letra “d”, mas
“b” e “c” também estão certas.
A questão 66 é relativamente fácil. O CADE não faz parte do SNDC (Sistema Nacional
de Defesa do Consumidor), mas do SBDC (Sistema Brasileiro de Defesa da
Concorrência). Daí, também, o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor
(DPDC) não se reportar ao CADE. Vale lembrar que a Lei 12.529/2011 criou a
Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor, substituindo o antigo DPDC. Em relação
à alternativa “c”, o MPF não aprova ou reprova coisa alguma. Em processos de ato de
concentração, pode, por decorrência de atos infralegais, emitir pareceres, ou seja, ato
meramente opinativo. Correta é a letra “d”. É outra forma de dizer o que está previsto
hoje no §1º do art. 36 da Lei 12.529/2011 (antigo §1º do art. 20 da Lei 8.884/1994): a
conquista de mercado resultante de processo natural fundado na maior eficiência de
agente econômico em relação a seus competidores não caracteriza ilícito.
Quanto à questão 67, ela também foi anulada. Esse tema, finalidade do direito da
concorrência, é o mais debatido pela doutrina e operadores do direito no momento (e já
era na época da prova). Tirando a letra “c”, que é um ponto fora da curva, há doutrina
que afirma, por exemplo, que a letra “a” era o intento dos legisladores norte-americanos
quando aprovaram o Sherman Act em 1890; o antitruste como instrumento para
intervenção do Estado em domínio econômico, o que consta na letra “b”, vai na linha do
que defende a professora Paula Forgioni; por fim, proteger o interesse, mais
especificamente o bem-estar do consumidor, a partir da eficiência, é o preconizado por
Robert Bork e Richard Posner, principais expoentes da Escola de Chicago no antitruste.
Portanto, questão corretamente anulada.
16
Post 04 de 04
Gabarito – A.
Gabarito – B.
Gabarito – D.
Quanto à questão 69, a alternativa correta é a letra “b”. A “a” está errada porque não é
qualquer restrição à concorrência que é considerada infração. Também estão erradas as
letras “c” e “d”, porque o CADE tem atuação inclusive em mercados com monopólios
legais (vide parte final do art. 31), bem como sua atuação independe de oposição dos
demais concorrentes. O CADE pode perfeitamente atuar de ofício.
Por fim a questão 70, que também era relativamente fácil: um acordo de preços entre
concorrentes é, em regra, ilícito. Faz parte inclusive da definição de cartel hardcore (já
falamos aqui sobre isso! Vide publicação de 10/08/2020).
É isso, pessoal! Vejam que não é um bicho de 7 cabeças, não é?! Recordo-me que essa
foi uma prova muito questionada pelos meus colegas de concurso, haja vista as
anulações e uma ou outra polêmica. Mas, confesso, me dei muito bem nela na época!
Forte abraço!
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A IMPORTÂNCIA DO ERRO NO APRENDIZADO
Vídeo
“Percam o medo de errar! (...) O sucesso é o acúmulo de fracassos até que você chegue
ao ponto pretendido. Ninguém chega aonde chegou, ao cargo de professor, de
procurador da república, de advogado, de juiz, se não for por meio de diversos
insucessos e erros. Todos nós passamos por isso!”.
Olá, meus amigos! Tudo bem!? Ontem participei como expositor da semana jurídica da
UNIFIO (Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos) e, na introdução
da minha exposição, que teve quase 1h40min de duração, falei sobre “a importância do
erro para o processo de aprendizado”.
Por motivos diversos, ao longo de nossa vida, aguçamos o nosso medo de arriscar, de
errar, e isso impede o nosso aprimoramento acadêmico e profissional. Não é fácil, de
fato, estar na arena. É muito mais cômodo adotarmos uma posição de meros
expectadores críticos da vida e dos outros. Mas, pergunto a vocês, é mesmo isso que
queremos? Para sabermos o gosto da vitória teremos que, invariavelmente, passar por
algumas derrotas.
Forte abraço!
19
STF, AS LEIS MUNICIPAIS E O UBER
Jurisprudência
Não. Segundo o STF, são inconstitucionais leis municipais que proíbem o serviço de
transporte de passageiros mediante aplicativo. A proibição ou a restrição da atividade
econômica de transporte individual por motorista cadastrado em aplicativo é
inconstitucional, por violação aos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência
(STF, Plenário, ADPF 449/DF, Relator Luiz Fux; e RE 1054110/SP, Relator: Roberto
Barroso, julgados em 08 e 09/05/2019).
O ministro Luís Roberto Barroso, relator do RE 1054110, salientou que a livre iniciativa
é um dos fundamentos do Estado brasileiro, ao lado do valor social do trabalho, e que o
modelo previsto na Constituição é o da economia de mercado. Para o ministro, não é
possível que uma lei, arbitrariamente, retire uma determinada atividade econômica do
mercado, a não ser que haja algum fundamento constitucional.
O Estudo do CADE mencionado pelo ministro Lewandowski pode ser visto aqui:
http://www.cade.gov.br/acesso-a-informacao/publicacoes-institucionais/dee-
publicacoes-anexos/documento-de-trabalho-001-2018-uber.pdf.
Então, segundo o STF, leis municipais não podem proibir o serviço de transporte de
passageiros mediante aplicativo.
Forte abraço!
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LIVRE INICIATIVA E LIVRE CONCORRÊNCIA EM CONCURSOS PÚBLICOS
Questão
TRF1 - 2015
21
LIVRE INICIATIVA E LIVRE CONCORRÊNCIA
Doutrina
Eros Grau fala que a Livre Iniciativa engloba: (i) liberdade de empreender (“comércio e
indústria”) e (ii) liberdade de concorrência.
Portanto Livre Iniciativa não é sinônimo de Livre Concorrência. Segundo Eros Grau,
Livre Iniciativa engloba a Livre Concorrência ou, dito de outro modo, a Livre
Concorrência é uma face da Livre Iniciativa.
22
constitucionais (por exemplo, art. 170, inciso IX, tratamento favorecido para empresas
de pequeno porte nacionais).
23
FORMAS DE INTERVENÇÃO DO ESTADO NO DOMÍNIO ECONÔMICO
O simples às vezes complica: vocês estão lembrados da classificação de Eros Grau das
modalidades de intervenção do Estado em relação ao domínio econômico? (i) por
absorção ou por participação, (ii) por direção e (iii) por indução. Confere na legenda!
Na intervenção (i) por absorção ou participação, o Estado desenvolve ação como sujeito
ou agente econômico. Por absorção, o Estado assume integralmente o controle dos
meios de produção e/ou troca em determinado setor, ou seja, atua em regime de
monopólio. Vide art. 177 da CF. Por participação, o Estado assume o controle de
parcela dos meios de produção e/ou troca em determinado setor, mas atua em regime de
competição com empresas privadas que também exercem suas atividades no mesmo
mercado. Vide art. 173 da CF. Fala-se aqui que, nesses casos, o Estado intervém NO
domínio econômico.
Já nas intervenções (ii) por direção e (iii) por indução, o Estado desenvolverá ações
como regulador das atividades. Por direção, o Estado exerce pressão na economia a
partir de normas de comportamento compulsório para os sujeitos da atividade
econômica. Enquanto que, por indução, o Estado manipula os instrumentos de
intervenção em consonância e na conformidade das leis, incentivando a conduta dos
agentes. Vide art. 174 da CF. Fala-se aqui que, nesses casos, o Estado intervém SOBRE
o domínio econômico.
Eu prefiro apreender esses conceitos de outra forma, vejam se ajuda: (a) Intervenção
NO domínio econômico: (a.1) por absorção e (a.2) por participação / (b) Intervenção
SOBRE o domínio econômico: (b.1) por direção e (b.2) por indução. O enfoque aqui é
diferenciar as modalidades NO e SOBRE, que já indicam de quais modalidades de
intervenção trataremos.
24
SÚMULAS VINCULANTES IMPORTANTES PARA O DIREITO ECONÔMICO
Jurisprudência
Súmula vinculante 04. “Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não
pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou
de empregado, nem ser substituído por decisão judicial”. Essa vedação está prevista no
art. 07, inciso IV (parte final), da própria CF, e se justifica para evitar que o acréscimo
do salário-mínimo cause uma cadeia de aumentos, o que poderia maximizar seus efeitos
inflacionários e inibir a concessão de novos reajustes.
Súmula vinculante 27. “Compete à Justiça estadual julgar causas entre consumidor e
concessionária de serviço público de telefonia, quando a ANATEL não seja litisconsorte
passiva necessária, assistente, nem opoente”. A racionalidade dessa súmula se aplica a
outras agências reguladoras, por exemplo: causas consumeristas contra concessionárias
de distribuição de energia elétrica são, em regra, da Justiça estadual, salvo se presente a
ANEEL.
Súmula vinculante 49. “Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que
impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada
área”. Já aqui, diferentemente da súmula 38, o STF reconheceu a inconstitucionalidade
material por ofensa ao art. 170, inciso IV (“livre concorrência”). Cuidado para não
confundir as Súmulas vinculantes 38 e 49!
Será que me esqueci de alguma?! Forte abraço, pessoal! Bom fim de semana pra gente!
25
O QUE É O DIREITO ECONÔMICO?
Doutrina
Legenda
Animado por essa indagação, o professor Modesto Carvalhosa escreveu, talvez, o mais
aprofundado estudo em língua portuguesa acerca da definição do Direito Econômico,
que ocupa cerca de 180 páginas do seu livro “Direito Econômico” de 1973 (que
constitui uma parte da obra publicada pela Revista dos Tribunais, “Direito Econômico:
obras completas” que conta ainda com dois outros livros do professor, “Poder
Econômico” de 1967 e “A Ordem Econômica na Constituição de 1969” de 1972).
Dessas definições, eu costumo destacar três elementos que bem explicam o que é o
Direito Econômico: (i) Normatização da atividade econômica, (ii) para que sejam
atendidos determinados fins públicos (política econômica), observando-se (iii) um
potencial conflito de interesses entre agentes econômicos privados e o Estado.
Por fim, atentem que alguns conceitos, devem ser compreendidos à luz do momento
histórico em que concebidos.
...
26
particularmente a KLAUSING a ideia de um Direito Econômico regendo aquelas
relações econômicas que foram subtraídas do livre jogo concorrencial.
RADBRUCH (Introduzione ala Scienza del Diritto, 1958) entende que, face às novas
ideias e relações, as clássicas divisões entre Direito Público e Privado, Direito Civil e
Administrativo estão superadas, exemplificando tal fato com o Direito Econômico, cujo
surgimento ele associa à Alemanha no pós Primeira Guerra Mundial e, de maneira
universal, ao momento em que o Estado não mais outorga plena liberdade às relações
privatistas das forças econômicas, passando o Poder Público a governar as leis de
dinamismo do mercado, com normas jurídicas aptas a intervirem eficazmente no
movimento sociológico.
Para Fábio Konder Comparato, definição que consta no seu visionário artigo “O
indispensável direito econômico”, publicado em 1965, no qual o autor destaca a
importância do estudo e da compreensão do Direito Econômico para o desenvolvimento
do país: “conjunto de técnicas jurídicas de que lança mão o Estado contemporâneo na
realização de sua política econômica”.
Para Carvalhosa (Direito Econômico, 1973), “com base nos dois elementos constitutivos
do conceito central do Direito Econômico, no plano dogmático – dirigismo racional e
conflito de interesses – definimos a disciplina como o conjunto de normas que, com um
conteúdo de economicidade, vincula as entidades econômicas privadas e públicas, aos
fins constitucionais cometidos à ordem econômica, conciliando, ademais, os conflitos
de interesses entre esses fins e os objetivos próprios e naturais das entidades
econômicas privadas na condução das suas disponibilidades de dispêndio,
investimentos e empreendimentos; objetivos estes assegurados pelo princípio
constitucional da livre iniciativa”.
27
empresário, traz em si um potencial conflito de interesses entre o Estado, ente público, e
o empresário, ente privado. Esse conflito é elementar e não pode passar despercebido
por quem estuda o Direito Econômico e permeia a aplicação das normas econômicas.
28
DIREITO ECONÔMICO EM CONCURSOS PÚBLICOS
No Ministério Público Federal, nas últimas provas (25º, 26º, 27º. 28º e 29º
concursos), das 50 questões destinadas a Direito Econômico e Direito do Consumidor,
34 eram de Direito Econômico, sendo que 17 eram de Direito da Concorrência e
aproximadamente 09 de Ordem Econômica Constitucional. Ou seja, Ordem Econômica
correspondeu a cerca de 26,3% dos assuntos cobrados.
Ahhh, uma dica importante, que não mencionei no vídeo: dentre os temas,
princípios constitucionais é, sem dúvidas, o de maior incidência! Fica esperto!
29
O QUE É ORDEM ECONÔMICA?
30
O ART. 170 E OS PRINCÍPIOS DA ORDEM ECONÔMICA
31
em coordenação uns com os outros, bem como com os demais princípios do
ordenamento jurídico, como a proporcionalidade e a razoabilidade.
Soberania Nacional
Soberania Nacional
A soberania das nações passa pela autonomia dos indivíduos, por certo, e o
desenvolvimento econômico dos agentes do mercado está diretamente atrelado ao do
Estado, mas é importante atentar para a necessidade de equilibrar os diversos princípios
elencados. Por exemplo, uma política de “campeões nacionais”, com a finalidade de
promover a soberania brasileira, deve observar também a necessária livre concorrência
nos mercados internos, sob pena de violação da Constituição.
Propriedade privada
Propriedade privada
32
previstos na Constituição1 (art. 5º, XXIV). Outro exemplo, o Estado pode cobrar
tributos, mas eles não podem ser de tal monta elevados a ponto de configurar verdadeiro
confisco (Princípio do não-confisco no Direito Tributário). Enfim, o direito à
propriedade funciona como um limitador da intervenção do Estado na e sobre a
atividade econômica. E a função social funciona como um limitador do exercício do
próprio direito de propriedade.
1
Nos termos da Constituição Federal, há ainda desapropriação mediante o pagamento de títulos da dívida
pública relacionada à política urbana (Art. 182, §4º, inciso III) e desapropriação com pagamento mediante
títulos da dívida agrária relacionada à política agrícola e fundiária (Art. 184, caput).
2
Restrições administrativas supervenientes a negócios já instalados podem gerar direito à indenização,
mas se tais restrições preexistirem à aquisição do terreno, ou seja, forem do conhecimento do adquirente
do imóvel, não serão passíveis de indenização, conforme já se pronunciou o STF no RE 140436, REl.
Carlos Velloso.
33
Lei de Recuperação de Empresas e Falência (Lei 11.101/2005). O STF confirmou que o
arrematante das empresas em recuperação não responde pelas obrigações do devedor,
em especial aquelas derivadas da legislação do trabalho, com a finalidade de se tentar
facilitar a manutenção da atividade produtiva.
Livre Concorrência
Livre Concorrência
Como será estudado no tópico seguinte, Eros Grau chama atenção para o
fato de que a livre concorrência decorre da livre iniciativa e assim estaria dividida em
duas liberdades privadas: (i) faculdade de conquistar clientela, sendo vedada a
concorrência desleal, e (ii) a proibição de adoção de formas de atuação que
deteriorem a concorrência.
34
possibilidade de indenização dos prejudicados por atos de concorrência desleal não
previstos na LPI, desde que “tendentes a prejudicar a reputação ou os negócios
alheios, a criar confusão entre estabelecimentos comerciais, industriais ou
prestadores de serviço, ou entre os produtos e serviços postos no comércio”. Esta é
a hipótese genérica.
Direito do Consumidor
Direito do Consumidor
35
da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais limitadores
da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as
Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de
Defesa do Consumidor (STF. Plenário. RE 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes e
ARE 766618/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 25/05/2017, Repercussão
Geral – Tema 210)3.
3
Esse entendimento foi seguido pelo STJ: “É possível a limitação, por legislação internacional especial,
do direito do passageiro à indenização por danos materiais decorrentes de extravio de bagagem” (STJ. 3ª
Turma. REsp 673.048-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 08/05/2018 (Info 626).
4
Até porque, na época da assinatura da Convenção de Varsóvia, 1929, a indenização por danos morais
não era cogitada. Segundo o STJ: “As indenizações por danos morais decorrentes de extravio de bagagem
e de atraso de voo internacional não estão submetidas à tarifação prevista na Convenção de Montreal,
devendo-se observar, nesses casos, a efetiva reparação do consumidor preceituada pelo CDC” (STJ, 3ª
Turma, REsp 1.842.066-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 09/06/2020).
36
Trata-se de norma programática e, ao que parece, quis o legislador
demonstrar que tratamentos diferenciados podem ser aplicados, de acordo com o nível
de agressão ambiental que a atividade econômica cause. Por exemplo, admite-se
licença ambiental simplificada para empreendimentos ou atividades de pequeno
porte e baixo potencial poluidor. O estabelecimento deste princípio como norteador
da atividade econômica, em síntese, conforme já compreendeu o STF, significa dizer
que a incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses
empresariais. Por fim, é importante relembrar que esse princípio foi bastante debatido
pelo STF quando do julgamento da ADPF 101, quando o Tribunal decidiu pela
constitucionalidade dos atos normativos que proíbem a importação de pneus usados.
5
Vide o caso da ADI que trata de lei em Santa Catarina que estabeleceu o salário-mínimo regional: “A lei
questionada não viola o princípio do pleno emprego. Ao contrário, a instituição de piso salarial regional
visa, exatamente, reduzir as desigualdades sociais, conferindo proteção aos trabalhadores e assegurando
a eles melhores condições salariais” (STF, ADI 4364. Min Dias Toffoli, DJe 16/05/2011).
37
capital votante e o exercício, de fato e de direito, do poder decisório para gerir suas
atividades” (conforme art. 171 revogado). A Emenda Constitucional nº 06 de 1995
extinguiu essa diferenciação, estabelecendo que o tratamento favorecido a empresas de
pequeno porte se dá para aquela constituída no Brasil, pouco importando se o capital é
nacional ou estrangeiro. Existem projetos de lei e de PECs em tramitação no Congresso
que objetivam restaurar essa distinção.
O inciso IX do art. 170 deve ser lido em conjunto com o art. 179, o qual
estabelece que os entes federativos “dispensarão às microempresas e às empresas de
pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a
incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias,
previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei”.
Como resultado dessa política constitucional de favorecimentos a pequenos agentes
econômicos, foi criado o Simples Nacional por meio da Lei Complementar nº 123/2006,
conhecida como “Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte”, que
estabelece uma série de benefícios tributários para os empresários que se enquadrem em
seus parâmetros de faturamento. O STF já teve oportunidade de se manifestar pela
constitucionalidade da isenção das contribuições sindicais estabelecida pelo Simples
Nacional6.
6
Contribuição social patronal. Isenção concedida às microempresas e empresas de pequeno porte.
Simples Nacional ("Supersimples"). LC 123/2006, art. 13, § 3º. (...) O fomento da micro e da pequena
empresa foi elevado à condição de princípio constitucional, de modo a orientar todos os entes federados a
conferir tratamento favorecido aos empreendedores que contam com menos recursos para fazer frente à
concorrência. Por tal motivo, a literalidade da complexa legislação tributária deve ceder à interpretação
mais adequada e harmônica com a finalidade de assegurar equivalência de condições para as empresas de
menor porte. Risco à autonomia sindical afastado, na medida em que o benefício em exame poderá tanto
elevar o número de empresas a patamar superior ao da faixa de isenção quanto fomentar a atividade
econômica e o consumo para as empresas de médio ou de grande porte, ao incentivar a regularização de
empreendimentos. [ADI 4.033, rel. min. Joaquim Barbosa, j. 15-9-2010, P, DJE de 7-2-2011.]
38
FORMAS DE INTERVENÇÃO DO ESTADO NO DOMÍNIO ECONÔMICO
39
ECONOMIA, MICROECONOMIA, MACROECONOMIA E TRADE-OFFS
Curiosidade
Preciso estudar economia para compreender bem o direito econômico? Precisa. Por
exemplo, você sabe o que é a economia, trade-off ou a diferença entre microeconomia e
macroeconomia? Confere nas fotos do lado e na legenda!
As perspectivas micro e macro são simplesmente duas maneiras de olhar a mesma coisa.
A microeconomia é a economia vista de baixo para cima; a macroeconomia é a
economia vista de cima para baixo.
Como fazer isso? Posso dar o meu testemunho. Eu não fiz graduação em economia,
embora tenha estudado a disciplina no curso de direito e de administração de empresas.
Quando cheguei ao CADE (trabalhei lá por 5 anos e meio como procurador federal),
tive que me virar. Comecei (i) lendo notícias sobre o tema; depois (ii) busquei obras que
fornecessem uma visão geral (como os livros de “Introdução de Microeconomia” e
“Introdução de Macroeconomia” do Joseph Stiglitz, ou o “Curso de Economia” do
Fábio Nusdeo); (iii) então me interessei pela história do pensamento econômico (gosto
muito do livro “From Political Economy to Economics” do Dimitris Milonakis e Ben
Fine); (iv) somente depois passei a me interessar por alguns economistas específicos
(Adam Smith, Karl Marx, John Maynard Keynes, Friedrich Hayek etc. Recentemente,
40
por conta do doutorado, estou estudando a economia da complexidade pelo Brian
Arthur). Claro, a leitura das decisões do CADE também contribuiu enormemente.
Pensando nisso (na importância do estudo da economia e no fato de que a maioria dos
juristas não tem esse background), vou começar a compartilhar nesta seção de
“curiosidades” alguns ensinamentos básicos da economia. Todos retirados da obra do
Joseph Stiglitz, “Introdução à Microeconomia”. Claro, os conceitos trazidos aqui podem
ser problematizados (rs), mas como a ideia é simplificar, podemos aprofundar um ou
outro ponto nos comentários ou nos directs. Para iniciar, neste primeiro post, vamos dos
conceitos de economia, trade-offs, microeconomia e macroeconomia. Já dando um
spoiler, no próximo post vou trazer um glossário com 10 termos importantes de
microeconomia. Espero que ajude!
41
GLOSSÁRIO DE MICROECONOMIA – 10 TERMOS
Curiosidade
Olá, pessoal! Tudo bem?! A parte mais difícil aqui foi escolher os 10 termos mais
importantes... rs Existem vários! O meu norte foi pensar naqueles termos que podem ser
úteis no estudo do direito econômico, mais especificamente o direito da concorrência.
São eles:
Custos fixos: os custos devidos aos insumos fixos, algumas vezes chamados de
overhead.
Custo marginal: o custo adicional que corresponde a produzir uma unidade adicional de
produto.
Custo de oportunidade:. o curso de um recurso medido pelo valor máximo que esse
recurso obteria se usado de outra forma
Preço: é o valor que tem que ser dado em troca de determinado bem ou serviço.
Concorrência perfeita: É uma situação em que cada firma é tomadora de preços – não
consegue influenciar o preço de mercado. Ao preço de mercado, a firma pode vender a
quantidade que dispuser e quiser, mas se aumentar o preço, suas vendas são zero.
42
CUSTOS DE TRANSAÇÃO
Concursos
TRF3-2018
Gabarito: Certo. Para a afirmação ficar mais precisa, seria importante ter especificado
que as “integrações” verticais tendem a diminuir os custos de transação. Essa foi a ideia
do examinador e, de fato, um das eficiências costumeiramente apontada por integrações
verticais é a redução dos custos de transação (vide explicação nos comentários).
...
Olá, meus amigos, tudo bem? Seguindo a sugestão de @, vamos tratar de custos de
transação hoje!
Custos de Transação, segundo Stiglitz, são os custos extras (além do preço de compra)
de conduzir uma transação, sejam esses custos em dinheiro, tempo ou desconforto.
O conceito de custo de transação foi desenvolvido por Ronald Coase (O livro “The firm,
the market and the law” reúne artigos importantes do autor que detalha essa ideia) e está
relacionado às razões que levam os agentes econômicos a produzir seus próprios bens e
serviços ou terceirizar partes de sua produção. Os agentes econômicos não possuem
apenas os custos de produção, mas também os custos de transação, relacionados às
negociações que estabelece com os demais agentes econômicos.
Já em seu artigo de 1937 intitulado “The Nature of the Firm”, Coase tinha afirmado que
“para determinar o tamanho de uma firma, nós temos que considerar os custos do
mercado (ou seja, os custos de utilizar o mecanismo de preços) e os custos de
organização de diferentes empreendedores, e então nós podemos determinar quantos
produtos serão produzidos por cada firma”.
Pensemos bem. Para firmar contratos com outros agentes econômicos é preciso, ao
menos, (i) buscar pela informação, (ii) negociar, (iii) realizar e formalizar os contratos,
(iv) monitorar o negócio em termos dos parceiros contratuais e (v) a correta aplicação
do contrato, englobando eventuais indenizações. Daí porque se afirma que integrações
verticais (reunião de dois agentes econômicos que atuam em etapas diferentes da cadeia
produtiva) tende a diminuir os custos de transação.
43
Um cenário de custos de transação reduzidos indica, nesse sentido, que a firma tende a
manter mais relações com outras firmas, adquirindo seus produtos, o que torna o agente
econômico mais dependente dessas relações. Ao contrário, custos de transação elevados
apontam para uma tendência de maior produção própria, o que acarreta uma maior
independência da firma face aos demais agentes.
44
CURIOSIDADES SOBRE PÓS-GRADUAÇÃO
(i) Por que fazer uma pós-graduação em direito econômico?; (ii) Onde fazer pós-
graduação (especialização, mestrado e doutorado)?; (iii) Como conciliar atividade
profissional e pós-graduação?; (iv) Dá para conciliar pós-graduação e concurso
público?; (v) 03 dicas de “ouro” para você fazer uma boa pós-graduação (caso opte por
esse caminho)!
Olá, meus amigos! Tudo bem?! Semana muito puxada! Prometi a mim mesmo que iria
terminar uma parte da minha tese e me enrolei. Já que estou mergulhado no assunto,
preparei estes posts sobre “pós-graduação”. Vou responder por aqui as 05 perguntas
mencionadas nas fotos, com base em minha experiência.
Uma observação preliminar: muito mais do que uma “orientação”, considerem esses
posts como um compartilhamento de experiências. Portanto, e obviamente, minhas
considerações estão pautadas nas minhas tentativas e erros neste processo de quase 15
anos de estudos em pós-graduação, considerando as 03 especializações que fiz, o
mestrado e o doutorado em curso.
Vamos lá! Primeira pergunta, por que fazer uma pós-graduação? Comecei esta
caminhada porque queria dar aulas. Já na faculdade, me envolvi com monitoria (uma
espécie de assistente de professores) de direito comercial e com pesquisa acadêmica.
Achava que era essencial se quisesse ser professor. Entretanto, no meio do percurso,
mudei de motivações. Hoje faço pós-graduação, basicamente, porque acho muito
importante conciliar teoria e prática, sobretudo no direito econômico, bem como porque
adoro o processo de pesquisa.
Não é que desisti de lecionar, mas apenas percebi que essa titulação não é essencial para
ser um bom professor. Trata-se, em minha opinião, de mero requisito formal para
ocupar cargos em universidades, mas todos nós sabemos que não garante qualidade na
docência. E hoje, na internet, as possibilidades de trocar conhecimento e experiências de
maneira verdadeiramente enriquecedora são diversas.
Até a próxima!
45
CURIOSIDADES
Olá, meus amigos! Tudo bem? Neste post, tentarei responder a esta pergunta: onde fazer
pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado)?
No meu percurso, tive que decidir ser iria fazer pós-graduação fora ou aqui e se em
instituição pública ou privada. As “minhas” circunstâncias moldaram “minhas”
escolhas. Fazer pós-graduação fora implicaria gastos com os quais apenas em um
momento mais recente de minha vida eu poderia arcar. Além disso, penso que o fato de
eu não ter aprendido outros idiomas na infância (falo inglês e francês relativamente
bem, mas aprendi depois dos 18 anos) e de nunca ter morado fora pode ter me causado
algum travamento de pensar mais seriamente nesta experiência (a qual acho em tese
enriquecedora e não está descartada, não é @laura?! rs).
Optei, então, por estudar aqui no Brasil. Caímos no segundo dilema: instituição pública
ou privada? Aqui, minha escolha foi guiada por um critério preponderante: qual
professor que eu gostaria de ter como orientador. Lá em 2010/2011, quando iniciei o
processo de ingresso no mestrado, tinha profunda admiração por alguns professores da
USP e, mais especificamente, pela professora @Ana Frazão da UnB (a melhor
orientadora do mundo!). Então tentei o processo seletivo nas duas universidades. Não
passei na minha primeira tentativa na USP e, por outro lado, fui aprovado de primeira
na UnB. Além disso, morava em Brasília.
A UnB, portanto, não foi apenas a opção mais lógica, mas, olhando hoje
retrospectivamente, penso que foi a minha melhor opção! Tem professores fantásticos e
alunos incrivelmente dedicados, o que propicia um ambiente de debates enriquecedor.
Veja: assim como na graduação em direito, a qualidade da sua pós-graduação
dependerá, sobretudo, dos seus próprios esforços. Então, você pode se perguntar, qual
seria a importância do ambiente em que você estuda? Ao meu ver, uma essencial: estar
entre os bons fará com que você se esforce ainda mais para se aprimorar!
Por fim, houve um diferencial importante que, penso, foi decisivo para eu ser aprovado
na UnB e não na USP, o qual deixo aqui como dica: eu procurei, antes de prestar o
processo seletivo, vivenciar o ambiente da universidade e conhecer sua “forma de
pensamento”! Fui aluno especial (me matriculei em uma disciplina da Pós antes mesmo
de ter ingressado no processo seletivo) e participei de um grupo de pesquisa da
universidade (vários estão abertos para o público em geral), com o intuito de já me
ambientar à instituição. Acho que isso fez toda a diferença para “moldar” meu projeto
de uma forma que ficasse atraente para a banca examinadora.
É isso, pessoal. Na próxima continuamos com a pergunta (iii) como conciliar atividade
profissional e pós-graduação? Até a próxima!
46
CURIOSIDADES
Olá, meus amigos, tudo bem? Neste post vou responder a pergunta de como conciliar
atividade profissional e pós-graduação.
Pela própria pergunta, já é possível perceber que, durante todo este meu percurso, salvo
algumas férias tiradas para fins acadêmicos, conciliei os estudos da pós-graduação com
as atividades profissionais, inicialmente, na AGU e, hoje, no MPF. Não acho que é a
melhor forma, embora seja um costume aqui no Brasil no Direito.
O ideal seria que pudéssemos nos dedicar exclusivamente à pós-graduação por cerca de
um período mínimo de 06 meses a 01 ano, pelo menos enquanto escrevemos o trabalho.
Entretanto, em algumas instituições, como o Ministério Público Federal, isso é quase
impossível, se a pós-graduação é feita no Brasil.
O segredo para mim sempre foi dividir o período da pós-graduação em duas etapas: a
primeira, da realização dos créditos (assistir às aulas), enquanto a segunda seria a da
confecção do trabalho propriamente dito (dissertação ou tese). Considerando os 02
(dois) anos para o curso do mestrado e os 4 (quatro) anos para o doutorado (em regra), a
divisão pode ser metade-metade. Quanto antes terminar os créditos, melhor.
A primeira etapa é mais simples, embora já demande uma leitura cotidiana considerável,
se a intensão for aproveitar as disciplinas da melhor maneira possível. Dica: importante
casar as disciplinas e os temas dos trabalhos delas com o tema da dissertação ou da tese,
de maneira que tudo que vc estude e produza já possa ajudar na confecção do trabalho
final. Neste período, embora não seja ideal, é admissível ainda não ter uma constância
no estudo para a pós-graduação. Dá para assistir as aulas, estudar um pouco mais
quando da realização dos trabalhos finais. Fica mais fácil conciliar com períodos mais
pesados da atividade profissional.
Na segunda etapa, aconselho fortemente a adoção de uma rotina de estudos diários (no
meu caso, incluo também sábados e domingos) de umas 03 (três) horas, para engrenar
nas leituras e na escrita da dissertação ou tese. Aqui fica mais complicado o acúmulo
com a profissão. Guarde férias e licenças para este momento. Uma dissertação ou tese
de qualidade demanda um aprofundamento que requer não apenas o estudo constante,
mas estar pensando nos problemas de maneira constante. É estressante. Não vejo outra
forma de fazer bem feito e manter concomitantemente a atividade profissional.
47
CURIOSIDADES
Olá, meus amigos, tudo bem? Continuando nossa série, e aí: dá para conciliar pós-
graduação e estudo para concurso público?!
Veja, a resposta ideal é que, se você já tiver que lidar com uma rotina diária de trabalho,
é praticamente impossível conciliar, ainda, a rotina de estudos para concurso público e a
preparação para ingresso ou de estudos em pós-graduação. Então, no mundo ideal, não
aconselho conciliar os dois projetos. Qual é o problema? Concurso e pós-graduação são
projetos de médio prazo (demanda investimento de tempo de mais de ano). E, às vezes,
as oportunidades simplesmente aparecem na mesma hora.
Embora já viesse estudando para o MPF (trabalhava como procurador federal, AGU, no
CADE), eu iniciei meu ano de 2011 dedicado a ingressar no mestrado. Entrei em um
grupo de pesquisa na UnB e me matriculei em uma disciplina como aluno especial,
quando o edital para o 25ª concurso do MPF foi publicado em março. Tinha havido um
hiato de mais de 03 anos do 24º concurso para o 25ª, portanto não queria ter de esperar
mais 03 anos. Fiz uma opção arriscada de conciliar os projetos que deu, felizmente,
certo. Iniciei formalmente em fevereiro de 2012 no mestrado na UnB e tomei posse no
MPF em abril de 2012. Ainda, no mesmo período, passei no MPDFT. Houve um pouco
de sorte e, claro, um pouco de suor. Então é possível, mas, por experiência e stress
próprios, desaconselho fortemente.
Então, se seu objetivo for passar em algum concurso público, como advocacia pública,
magistratura ou ministério público, recomendaria, como regra geral, deixar a pós-
graduação para um segundo momento.
É isso, pessoal! No próximo post, último dessa série, vamos falar de 03 dicas para uma
boa pós-graduação! Até lá!
48
05 PERGUNTAS SOBRE PÓS-GRADUAÇÃO (POST 05 de 05)
Olá, meus amigos, tudo bem? Para finalizar esta série de posts sobre pós-graduação,
vou deixar minhas 03 dicas de “ouro” para você fazer uma boa pós-graduação (caso
opte por esse caminho)! Vamos lá.
Primeira dica, que foi até mencionada pelo professor @Andre na nossa live gravada
aqui: cuidem do estudo de idiomas. Inglês é tão necessário quanto português (eu diria
até que mais importante, pensando em ter acesso a mais fontes de pesquisa e na difusão
do que será escrito). Ainda, além do inglês, pense em mais um idioma. Isso independe
da opção de fazer pós-graduação aqui ou fora, pois há inúmeras oportunidades de
cursos, palestras e até mesmo livros e artigos que apenas serão úteis se houver domínio
da língua estrangeira.
Segundo, esteja certo da sua resposta à pergunta “por que fazer uma pós-graduação”. O
caminho é árduo, estressante, envolve sacrifícios e o retorno não é imediato ou, muitas
vezes, não vem em forma de recompensas concretas, como uma promoção ou um
aumento salarial. E essa sua resposta vai, inclusive, moldar suas escolhas. Algumas
especializações podem ser mais interessantes do que mestrado e doutorado, a depender
dos seus propósitos. O tema que vc pretende estudar tem que ser algo realmente
importante para você, caso contrário o trem desanda... rs
Terceiro, organize seu tempo. É um treinamento que pode começar desde já, dedicando
uma parte da semana ou dos seus dias ao estudo, sobretudo se você tiver “enferrujado”,
um pouco distante da época em que as leituras para alguma matéria jurídica eram
constantes e necessárias. Mesmo que você já tenha o costume de ler muito (ficção,
romance, jornais etc.), acho que é a leitura para estudo da pós é diferente, pois envolve
lidar com autores e subtemas não necessariamente interessantes e demanda repetição
(muita repetição) para fixação de conceitos, quando não o preparo de resumos ou
fichamentos.
É isso, pessoal! Espero que eu tenha ajudado! Vamo que vamo! Forte abraço!
49
DIREITO DA CONCORRÊNCIA
50
STJ E O SIGILO DO ACORDO DE LENIÊNCIA DO CADE
Jurisprudência
Segundo o STJ, até qual momento deve se estender o sigilo do acordo de leniência
firmado pelo CADE? Até o julgamento do processo administrativo, conforme restou
decidido nos embargos de declaração do REsp 1554986 /SP, publicado em 06/03/2018.
Mas é preciso compreender todo o contexto do julgado.
Em seguida, deve-se entender exatamente qual sigilo estava sendo analisado pelo STJ.
O próprio §9º do art. 86 estabelece que a proposta do acordo de leniência é sigilosa, nos
seguintes termos: “considera-se sigilosa a proposta de acordo de que trata este artigo,
salvo no interesse das investigações e do processo administrativo”. E o RI-CADE, no
art. 207, estabelece, sobre a leniência propriamente dita, em síntese: (i) A identidade do
signatário do acordo de leniência será mantida como de acesso restrito em relação ao
público em geral até o julgamento do processo pelo Cade; (ii) os representados do
processo administrativo terão acesso ao acordo de leniência e a seus anexos, para
exercício da ampla defesa; (iii) é vedada a divulgação ou o compartilhamento, total ou
parcial, com outras pessoas físicas, jurídicas ou entes de outras jurisdições, do acordo de
leniência e de seus anexos.
O STJ analisou, mais especificamente, a extensão do item (iii) acima descrito. No caso,
empresas prejudicadas por determinado cartel no mercado de compressores para
fabricação de geladeiras e freezers queriam ter acesso à documentação da leniência, a
fim de promoverem a responsabilização civil dos agentes econômicos cartelizadores. O
STJ entendeu, em um primeiro momento, que essa documentação não poderia ficar
sigilosa indefinidamente e que deveria ser compartilhada quando da conclusão da
instrução, ou seja, quando da remessa “do relatório circunstanciado pela
Superintendência-Geral ao Presidente do Tribunal Administrativo”.
Ocorre que houve embargos de declaração opostos pelo próprio CADE. No julgamento
desses embargos, embora o recurso tenha sido rejeitado, o STJ alterou o marco, nos
seguintes termos: “o assistente admitido traz considerações relevantes quanto à
inadequação da utilização do envio do relatório circunstanciado pela
51
Superintendência-Geral ao Presidente do Tribunal Administrativo como marco
temporal do termo ad quem do sigilo, as quais são acolhidas para estender o sigilo até
a prolação de acórdão pelo Tribunal Administrativo”. Em síntese, o CADE registrou a
possibilidade ainda de realização de novas diligências, mesmo que o processo seja
remetido ao Tribunal, bem como o risco de que a antecipação do levantamento do sigilo
pudesse ter como efeito adverso o desincentivo aos acordos de leniência.
Dessa forma, para o STJ, o sigilo da leniência deve se estender, para terceiros
interessados, até a prolação do acórdão pelo Tribunal Administrativo do CADE.
52
MINISTÉRIO PÚBLICO E LENIÊNCIA DO CADE
Curiosidade
Embora não exista previsão legal, foi constituída no CADE a prática administrativa de o
Ministério Público participar dos acordos de leniência como interveniente.
A antiga Lei do CADE (Lei 8.884/1994), nos seus arts. 35-B e 35-C, não previa a
participação do Ministério Público na leniência antitruste. De modo semelhante, os arts.
86 e 87 da Lei 12.529/2011, que tratam do instituto da leniência no CADE, mantiveram-
se silentes quanto à necessidade de anuência do Parquet ao acordo.
Ora, são efeitos da leniência, uma vez assinada, a suspensão da prescrição penal e o
impedimento do oferecimento da denúncia, bem como, uma vez cumprida, a extinção
da punibilidade do crime de cartel e seus correlatos (como cartel em licitação ou
associação criminosa). Tinha-se, então, um acordo administrativo com efeito de
extinguir a punibilidade penal sem a participação do Ministério Público. Havia, aqui,
um risco de insegurança jurídica, sobretudo quanto à discussão acerca da
constitucionalidade do instituto, uma vez que o Ministério Público é dominus litis da
ação penal pública (art. 129, inciso I, da Constituição Federal).
Desconheço jurisprudência sobre o tema, pois, desde a primeira leniência firmada, ainda
em 2003, o CADE inclui o Parquet na assinatura dos acordos. Hoje a prática está
consolidada no guia de leniência do CADE, nos seguintes termos: “Apesar de os arts.
86 e 87 da Lei nº 12.529/2011 não exigirem expressamente a participação do
Ministério Público para a celebração de Acordo de Leniência, a experiência
consolidada do Cade é no sentido de viabilizar a participação do Ministério Público,
titular privativo da ação penal pública e detentor de atribuição criminal, tendo em vista
as repercussões criminais derivadas da leniência. Assim, o Ministério Público Estadual
e/ou o Federal participa como agente interveniente no acordo, a fim de conferir maior
segurança jurídica aos signatários do Acordo de Leniência, além de facilitar a
investigação criminal do cartel”.
Por fim, qual Ministério Público assinará a Leniência? Aquele que tiver atribuição para
a ação penal, portanto pode ser tanto o Ministério Público Federal, quanto o Ministério
Público Estadual.
53
LENIÊNCIA PLUS E LENIÊNCIA EM CONCURSOS
Doutrina
É um acordo de leniência que gera efeitos para dois casos distintos. Admite-se a
redução de 1/3 da pena para o processo em que o infrator não possa ser leniente, desde
que ele traga informações e seja leniente de outro ilícito que o CADE não tinha
conhecimento prévio (recomendo fortemente a leitura das legendas! ☺).
Agora ficou mais claro o nome “Leniência Plus”? Algo como “Leniência a mais”.
Atentem que ela gera um interessante incentivo para que os infratores revelem ilícitos
até então desconhecidos pelo CADE, no intuito de obterem benefícios para mais de um
caso. Simples, né? Forte abraço!
Ps. Até onde sei, “Nulidade de Algibeira” é aquela guardada “no bolso”, escondida, por
uma das partes para ser alegada em um momento mais oportuno. Seria uma ofensa à
boa-fé objetiva e tende a ser rechaçada pelo STJ. E o “Princípio da Serendipidade”, “do
acaso”, está relacionado ao encontro fortuito de provas em uma investigação criminal.
Provas colhidas acidentalmente, ainda que decorrentes de uma decisão judicial de um
juízo ordinariamente incompetente, por exemplo, são válidas, conforme o referido
54
princípio, também segundo o STJ. Não arrisco mais do que isso. Qualquer dúvida,
consultar meus amigos feras em Processo Penal e Processo Civil.
Concursos
Meus amigos, o tema da leniência antitruste, objeto das últimas postagens, foi cobrado
desta maneira nos últimos 03 concursos do MPF:
29ª Concurso do MPF. A Lei n. 12.529, de 30/11/11, prevê que o CADE poderá
celebrar acordo de leniência, com pessoas físicas e jurídicas autoras da infração, com a
interveniência do Ministério Público (Prova de Penal).
Resposta: Correta. É o que está disposto na Lei 12.529/2011, no caput do art. 86 e nos
seus incisos.
É simples e, felizmente, também pode ser fácil. Forte abraço! No próximo post a gente
complica um pouco mais... ☺
55
CURIOSIDADES DO PRIMEIRO CASO DE CARTEL DO CADE, O CARTEL DO
AÇO
Curiosidade
Você sabia que, no primeiro caso de cartel condenado pelo CADE, as empresas tinham
comparecido na SEAE e “confessado” que iriam aumentar conjuntamente seus preços?
O curioso do caso é que, segundo consta nos autos, dias antes do reajuste, em
30/07/1996, foi realizada reunião pelos representantes de COSIPA, CSN e USIMINAS,
com a Secretaria de Acompanhamento Econômico - SEAE, órgão do Ministério da
Fazenda, em que foi informada a intenção das empresas mencionadas de praticarem,
conjuntamente, o reajuste de preços para os aços planos a partir de 01/08/1996! Esse
fato motivou a SEAE a enviar fax no dia seguinte da reunião, em 31/07/1996, às usinas
siderúrgicas, a fim de alertá-las acerca da possibilidade de aquilo configurar infração à
ordem econômica!
Apesar de a livre concorrência ter sido prevista como princípio da ordem econômica na
Constituição Federal de 1988 e de a Lei 8.884/1994, á época da reunião, contar com
mais de dois anos de vigência, grandes agentes econômicos ainda não tinham
compreendido e assimilado a necessária competição que deveria haver entre eles!
É isso, pessoal! Agente econômico que combina preço pratica cartel, viu?! Rs Mas isso
é assunto para outros posts. Até a próxima!
56
LIVRE CONCORRÊNCIA E BIG TECHS
Notícia
Nesta semana que falo aqui sobre livre iniciativa e livre concorrência, uma notícia
veiculada ontem, diretamente relacionada com o assunto, movimentou bastante as redes
sociais: os executivos das quatro maiores Big Techs do mundo (Jeff Bezos – Amazon;
Tim Cook – Apple; Mark Zuckerberg – Facebook; e Sundar Pichai – Google) prestaram
depoimentos no Congresso dos Estados Unidos a respeito de acusações sobre práticas
anticompetitivas.
Contra o Google, questionam a forma com que ele utilizaria sua ferramenta de pesquisa
para manutenção do seu poder de mercado, induzindo buscas e escolhas dos
consumidores. A Amazon foi fortemente demandada sobre o relacionamento da
empresa (possivelmente abusivo) com os revendedores que usam a sua plataforma de e-
commerce. Quanto ao Facebook, documentos teriam revelado que a compra do
Instagram (isso, aqui mesmo onde estamos) em 2012 teria tido por objetivo principal
“eliminar um competidor”. A Apple foi questionada acerca da App Store e de como a
empresa prioriza seus aplicativos em detrimento de apps de terceiros.
Recentemente fui chamado para dar uma palestra na Escola do MPU sobre “O PORVIR
DO DIREITO DA CONCORRÊNCIA E A CONSTITUIÇÃO ECONÔMICA”. Estava
em dúvida qual enfoque priorizar, mas acho que acabei de encontrar... rs
57
CARTEL E ESFERAS ADMINISTRATIVA, PENAL E CÍVEL
Vídeo
Por fim, os membros de um cartel também estão sujeitos, no âmbito civil, a ações
privadas de reparação de danos, que podem ser ajuizadas por qualquer prejudicado
(agente econômico ou consumidor), conforme disposto no artigo 47 da Lei nº
12.529/2011 e art. 927 do Código Civil. Ainda, podem sofrer ações coletivas propostas
pelo Ministério Público e por outro legitimado para respectiva a ação civil pública, nos
termos da Lei 7.347/1985.
58
O QUE É UM CARTEL?
Doutrina
Cartel I
O que é um cartel?
Essa definição consta nos anexos da antiga Resolução nº 20/1999 do CADE (cujo texto
principal foi revogado, mas algumas partes dos seus anexos continuam sendo um
importante referencial teórico mesmo à luz da lei 12.529/2011, como no caso da
definição de cartel, por exemplo. Essa definição tem sido utilizada como parâmetro para
resposta em um ou outro concurso público já na vigência da Lei 12.529/2011).
Ainda, cartel pode ser definido como “acordos, ajustes ou mesmo troca de informações
sobre variáveis comercialmente sensíveis entre concorrentes com o objetivo de alterar
artificialmente as condições de mercado com relação a bens ou serviços, restringindo
ou eliminando a concorrência” (Ana Paula Martinez em “Repressão a Cartéis”) ou “um
ato colusivo entre concorrentes tendente à dominação de um mercado relevante” (Ivo
Gico em “Cartel”). É considerada a mais grave infração à ordem econômica, segundo a
OCDE: “Cartéis são universalmente reconhecidos como a mais prejudicial de todas as
condutas anticompetitivas. Ademais, eles não oferecem nenhum benefício social ou
econômico legítimo que poderia justificar as perdas que acarretam”.
59
CLASSIFICAÇÕES RECORRENTES DE CARTEL
Cartel II
Cartel de (i) preço/quantidade e (ii) cartel de alocação de mercado. Os dois tipos estão
relacionados à variável concorrencialmente sensível objeto da conduta. No primeiro,
como o próprio nome sugere, os agentes econômicos combinam o preço ou a
quantidade a ser vendida. No segundo, a intenção é replicar um ambiente de monopólio,
em que cada agente reserva uma área ou um perfil de cliente para a sua atuação
(conduta também conhecida por market-allocation ou market-sharing. Atenção, não
confundir com market-share, que é a participação que o agente econômico detém no
mercado relevante).
Cartel de (i) compra e cartel (ii) de venda. Cartel de compra envolve um arranjo
colusivo entre os adquirentes de um insumo (exemplo: fabricantes de suco de laranja
que se organizam para impor um preço de aquisição aos produtores da fruta). Já o cartel
de venda (tipo mais comum e que historicamente recebe maior atenção das autoridades
de defesa da concorrência) atua na ponta contrária, afetando diretamente o consumidor
(exemplo: postos de combustível que combinam o preço da gasolina).
A distinção entre cartel (i) clássico ou hard-core e (ii) cartel difuso ou soft-core tem
algumas peculiaridades que precisam ser explicadas em um post específico!
60
CARTEL HARDCORE
Cartel III
Distinção entre cartel (i) clássico ou hard-core e (ii) cartel difuso ou soft-core.
Mas é importante dizer que o CADE, no caso do Cartel das Britas, diferenciou um ou
outro tipo aqui descrito a partir do elemento da “institucionalidade”: cartel clássico ou
hardcore seria institucionalizado (haveria reuniões periódicas, princípios de
comportamento, manuais de operação), enquanto o cartel difuso ou soft seria eventual e
não institucionalizado.
Esse tema de regra da razão e ilícito per se está relacionado ao de “ilícitos por objeto” e
“ilícitos por efeitos” e tem várias peculiaridades. Certamente será objeto de post futuro!
Forte abraço.
61
CARTEL E CONCURSOS PÚBLICOS
Questões
Gabarito: Errado. Um acordo tácito também configura cartel, conforme estava previsto
nos anexos da antiga Resolução nº 20/1999 do CADE. A definição ali contida de cartel
(“acordos explícitos ou tácitos entre concorrentes do mesmo mercado, envolvendo
parte substancial do mercado relevante, em torno de itens como preços, quotas de
produção e distribuição e divisão territorial, na tentativa de aumentar preços e lucros
conjuntamente para níveis mais próximos dos de monopólio”) encontra respaldo
também na Lei 12.529/2011.
O cartel se caracteriza pela celebração de acordo vertical entre agentes econômicos que
desenvolvem suas atividades em mercados relevantes diversos, mas complementares.
62
CRIME DE CARTEL E COMPETÊNCIA
Jurisprudência
...
Convenhamos que este não é bem um tema do Direito Econômico. Está muito mais
relacionado ao Processo Penal. Contudo, porque ajuda a entender qual membro do MP
(se federal ou estadual) vai assinar a leniência no CADE (vide post de 21/07), vou
comentar aqui rapidamente.
A Constituição, em seu art. 109, inciso VI, estabelece que compete à Justiça Federal “os
crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira”. Nos crimes contra o sistema
financeiro, o legislador determinou a competência da Justiça Federal (art. 26 da Lei
7.492/1986). Entretanto, no caso dos crimes contra a ordem econômica, não há
dispositivo normativo nesse sentido. Quanto a esse aspecto, a Lei 8.137/90 é silente até
hoje (mesmo depois de algumas reformas legislativas, como a da Lei 12.529/2011). Por
isso, em regra, o crime de cartel será da Justiça Estadual, salvo se configurada(s)
outra(s) hipótese(s) do art. 109 da CF.
Os dois primeiros exemplos não suscitam muita dúvida, né? Presentes os requisitos do
art. 109, inciso IV, da Constituição Federal (por exemplo, um cartel de licitação
promovida pela União ou por autarquia federal), a competência será da Justiça Federal
ou, ainda, quando o crime de cartel for conexo a crime de competência federal. Essa é a
jurisprudência do STJ, exemplificada nos dois julgados mencionados (AGRHC 269029
e HC 218796).
63
Essa orientação de que cartel interestadual é crime de competência federal tem
fundamento em um precedente do STJ (HC 32292, Relator José Arnaldo da Fonseca, de
01/04/2004, que depois foi utilizado para embasar o HC 117169, Relator Napoleão
Nunes Maia Filho, de 19/02/2009), no qual se estabelece: “a figura do crime sobrevindo
da prática de cartel, onde a atuação do agente teve reflexo em vários estados-membros,
restringindo o livre exercício da atividade profissional de transportadores pelo Brasil
afora, resta patente o interesse supra-regional pelo qual se firmam a necessidade de
interferência da União e a competência da Justiça Federal”.
Há, no meu entender, dois problemas aqui. Não dá para falar que seja a jurisprudência
do STJ, bem como essa hipótese não se adequa bem a quaisquer dos incisos do art. 109
da CF (um jeito delicado de falar que não está prevista na Constituição... rs).
Em síntese, sem dúvidas, cartéis que afetem bens, interesses e serviços da União,
autarquias ou empresas públicas serão de competência da Justiça Federal, bem como
cartéis que forem conexos a outros crimes federais. Para a 2ª CCR do MPF, ainda
seriam federais os cartéis internacionais e interestaduais. Contudo, em relação aos
cartéis interestaduais, penso que é um entendimento não consolidado do STJ, bem como
que não encontra respaldo no art. 109 da Constituição. Se tiver na dúvida e numa prova
do MPF, pelo amor de Deus, siga a 2ª CCR... rs
64
RAMO DE ATIVIDADE CAMPEÃO DE CONDENAÇÕES DE CARTEL NO CADE
Curiosidade
Você sabe qual o ramo de atividade campeão de cartéis condenados pelo CADE?
A dica é que já houve, desde 1994, pelo menos 12 (doze) condenações nesse setor!
Ajudou?
De 1994 até 2019 foram pelo menos 12 (doze) condenações de postos de combustíveis
pela prática de cartel nas seguintes cidades: Cartel dos Postos de Florianópolis/SC,
Cartel dos Postos de Lages/SC, Cartel dos Postos do Distrito Federal, Cartel dos Postos
de Guaporé/RS, Cartel dos Postos de Londrina/PR, Cartel dos Postos de Caxias do
Sul/RS, Cartel dos Postos de Santa Maria/RS, Cartes dos Postos de Londrina/PR II,
Cartel dos Postos de Bauru/SP, Cartel dos Postos do Espírito Santo, Cartel dos Postos
de São Luiz/MA e Cartel dos Postos de Belo Horizonte/MG. E ai, achou a sua? Rs Isso
equivale mais do que 1/7 dos casos de cartel condenados pelo CADE no mesmo
período.
Chamo a atenção dessa curiosidade aqui para reforçar que o CADE tem jurisdição em
todo território nacional (Art. 4º da Lei 12.529/2011), bem como que ele pode atuar
independentemente de um caso atrair “interesse federal”. Não se discute aqui quaisquer
dos critérios debatidos corriqueiramente para a competência da Justiça Federal na
matéria. É cartel, o CADE pode, por meio da SG, investigar e, do seu tribunal,
condenar. Os crimes de cartel de postos de combustível são, em regra, da competência
da Justiça Estadual.
65
QUESTÃO SUBJETIVA CONCURSO MAGISTRATURA – CONTROLE DE
ESTRUTURAS
Concurso
As empresas de laticínios OST S/A e MANDEL S/A, com sede no Município do Rio de
Janeiro, realizam uma fusão em março de 2013, passando a se chamar KAYA S/A. Já
em pleno funcionamento, recebem uma notificação do CADE sobre a abertura de
processo administrativo para a análise do negócio societário, bem como a imposição de
multa de vinte mil reais, para cada uma, por ausência de comunicação prévia à autarquia
sobre a fusão.
Como Juiz Federal Substituto da Vara Cível da Seção Judiciária do Rio de Janeiro para
a qual foi distribuída a demanda, como V. Sª decidiria a questão? Resposta na legenda!
...
Olá, meus amigos! Tudo bem? Essa questão discursiva foi enviada pelo Pedro Amaral,
a quem desde já agradeço! Vou postar aqui uma sugestão de resposta. Pela limitação de
espaço, serei sucinto, mas tentarei colocar o maior número de informações possível.
A fusão realizada entre OST S/A e MANDEL S/A está prevista no art. 90, inciso I, da
Lei 12.529/2011 como um “ato de concentração” notificável ao CADE. Essa notificação
é obrigatória quando preenchidos os requisitos dos incisos I e II do art. 88, que,
respectivamente, tratam dos parâmetros de faturamento bruto anual ou volume de
vendas no Brasil equivalente ou superior a R$ 750 milhões de, pelo menos, um dos
grupos envolvidos na operação, no ano anterior, desde que pelo menos outro grupo
envolvido tenha obtido, nos mesmos termos, R$ 75 milhões de reais de faturamento
bruto anual ou volume de vendas no Brasil, valores atualizados pela Portaria
Interministerial nº 994/2012 (vide §1º do art. 88 da Lei 12.529/2011).
66
Deve-se anotar ainda que a instauração de procedimento administrativo pelo CADE tem
fundamento no §3º do art. 88 da Lei 12.529/2011 e, uma vez que a obrigatoriedade da
notificação não é objeto de controvérsia (não foi inserida como causa de pedir pelo
autor), entende-se que, no caso, ocorreu de fato a conduta conhecida com gun jumping
(consumação de atos de concentração econômica antes da decisão final da autoridade
antitruste).
Ocorre que a multa apenas poderá ser aplicada após o devido processo administrativo
(vide parte final do §3º do art. 88 e art. 69 e ss. da Lei 12.529/2011), observados os
princípios do contraditório e da ampla defesa. Além disso, vale o registro, seu valor
ainda contraria o patamar mínimo de R$ 60 mil estabelecido no próprio §3º do art. 88
da Lei 12.529/2011.
Os motivos trazidos pelo autor, contudo, não são suficientes para anular o processo
administrativo.
A uma, não é verdade que, à sua escolha, pode sofrer controle prévio ou posterior pelo
CADE. A grande novidade trazida pela Lei 12.529/2011 foi implantar no Brasil o
controle prévio de atos de concentração, em contraposição à sistemática da legislação
anterior, que previa o controle posterior (o ato poderia ser notificado em até 15 dias
úteis depois de concretizado). Hoje não é facultado ao agente econômico optar pela
submissão posterior do ato de concentração. A duas, as eficiências alegadas devem ser
avaliadas pelo CADE e, ainda que presentes, não justificam a falta de apresentação do
ato de concentração à autoridade antitruste.
Nestes termos, julgo parcialmente procedente a demanda para tão somente para anular a
multa, a qual, para ser aplicada, deve ser precedida de processo administrativo, em que
serão observados os princípios do contraditório e da ampla defesa.
67
CONTROLE DE CONDUTAS X CONTROLE DE ESTRUTURAS
Doutrina
O art. 90 da Lei 12.529/2011 trata do que seriam atos de concentração e a Resolução 02,
de 29 de maio de 2002, do CADE (que disciplina a notificação de atos de concentração)
exemplifica: 1. fusão; 2. aquisição de controle; 3. aquisição de quotas/ações sem
aquisição de controle; 4. consolidação de controle; 5. aquisição de ativos; 6.
incorporação; 7. joint venture clássica (criação de empresa para explorar outro
mercado); 8. joint venture concentracionista (criação de empresa para explorar mercado
já explorado pelas empresas associadas); 9. outra forma de operação não coberta pelas
alternativas anteriores.
O artigo 88 da Lei 12.529/11 prevê também que o controle prévio dos atos de
concentração deve ser realizado em, no máximo, 240 dias, a contar do protocolo de
petição ou de sua emenda. Esse prazo poderá ser dilatado por, no máximo, até 90 dias,
mediante decisão fundamentada do Tribunal, em que sejam especificadas as razões para
a extensão, ou por 60 dias, por requisição das partes.
68
STF E COMPETÊNCIA EM AÇÕES RELACIONADAS A AUTARQUIAS – O
LEADING CASE ENVOLVENDO O CADE
Jurisprudência
Olá, meus amigos! Tudo bem com vocês? O CADE, até esse julgado, era usualmente
demandado na Justiça Federal do Distrito Federal, onde se situa a sua sede. Esse
entendimento decorria da aplicação das regras ordinárias de competência do antigo
CPC, mais especificamente do art. 100, inciso IV, alínea “a” (reproduzido no art. 53,
inciso III, alínea “a” do atual CPC): é competente o foro do lugar onde está a sede para
as ações em que for ré pessoa jurídica. Registre-se que o CADE não tem escritório ou
sucursal fora do DF.
Contudo, no caso do Cartel de Vigilantes (já falei dele por aqui, foi o primeiro em que
houve leniência antitruste), várias empresas condenadas pelo CADE por cartel em 2007
ingressaram com demandas no Rio Grande do Sul, mais exatamente nos seus
domicílios. A tese debatida era a aplicação do art. 109, §2º, da Constituição Federal ao
CADE. Esse dispositivo estabelece que “as causas intentadas contra a União poderão
ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver
ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou,
ainda, no Distrito Federal”.
A tese então adotada foi de que se aplica às autarquias federais de uma maneira geral o
art. 109, §2º, da Constituição Federal. Restaram vencidos os ministros Teori Zavascki,
Luiz Fux e Rosa Weber.
O ponto que merece ser aqui destacado é o de que para matérias especializadas, como
de direito econômico, isso pode ter uma influência efetiva na qualidade da prestação
jurisdicional. Nesse sentido pontuou o Ministro Barroso, apesar de ter seguido o voto do
relator: “A vantagem de as demandas contra o CADE serem no Distrito Federal, as
demandas contra o INPI serem no Rio de Janeiro, por exemplo, é que se cria um corpo
de juízes que têm uma expertise que não é ordinária. Tanto as questões do CADE como
as questões de propriedade industrial fazem a diferença”.
69
Assim, desde 2014, a tendência é que demandas de direito econômico, as quais antes
ficavam centradas em uma ou outra seção judiciária (CADE no DF, INPI no RJ, CVM
no RJ), sejam julgadas em todo o país. Fiquem atentos!
Forte abraço!
70
O PORVIR DA LIVRE CONCORRÊNCIA NO BRASIL
Olá, meus amigos, tudo bem? Na sexta-feira passada tive a “felicidade incontida”, como
falo no final do vídeo, em participar de evento promovido pela ESMPU para tratar do
futuro da Constituição Econômica. Foi uma honra estar do lado de professores que tanto
admiro, como @José Maria, @ Amanda de Oliveira, Paulo Gonet e Manoel Jorge.
O vídeo que posto aqui é uma parte da minha fala, na qual chamo atenção para, na
minha visão, duas tendências do direito da concorrência brasileiro nos próximos anos:
(i) a necessária propagação da política de combate aos cartéis por meio dos MPs e (ii) o
controle de abusos de posição dominante nos mercados tecnológicos.
71
ONDE ESTÁ A SEAE?
Curiosidade
Meus caros, tudo bem? Os arts. 3º e 19 da Lei 12.529/2011 preveem que a SEAE –
Secretaria de Acompanhamento Econômico, do então Ministério da Fazenda, compõe o
SBDC – Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, ao lado do CADE. Se você está
começando a estudar direito da concorrência agora, deve estar se perguntando: onde
está a SEAE? Não está.
A SEAE foi extinta pelo art. 5º do Decreto 9.266/2018 e sucedida pela Secretaria de
Promoção da Produtividade e Advocacia da Concorrência (SEPRAC) e pela Secretaria
de Acompanhamento Fiscal, Energia e Loteria (SEFEL), em uma reformulação de
órgãos do então Ministério da Fazenda. Ocorre que, em 2019, o Ministério da Fazenda
também foi extinto (!) pela Medida Provisória nº 870/2019, sendo substituído pelo
Ministério da Economia (que agregou funções também de outras pastas, como
Ministério do Planejamento e Ministério do Trabalho).
(i) SEAE e Ministério da Fazenda não existem mais. Suas funções foram incorporadas
por outros órgãos, apesar de o texto da Lei 12.529/2011 fazer referência a eles.
(ii) Hoje o órgão do governo federal responsável por exercer as funções da antiga
SEAE, atinentes à advocacia da concorrência, é a Secretaria de Advocacia de
Concorrência e Competitividade da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e
Competitividade, que está dentro do Ministério da Economia.
É isso! Espero que tenha ajudado! Agradeço desde já @seguidor pela pergunta
formulada no direct!
72
STF E A REVISÃO JURISDICIONAL DAS DECISÕES DO CADE
Jurisprudência
Olá, meus amigos, tudo bem? O STF julgou ano passado, em um agravo interno de
recurso extraordinário, um caso que envolvia a Cascol Combustíveis para Veículos Ltda
(e outros) contra o CADE, referente a um caso de suposto cartel condenado em 2004 no
processo administrativo 0800.024581/1994-77.
É um julgado bem interessante, pois nele o STF, com base em forte arcabouço
doutrinário e jurisprudencial estrangeiro, delimitou até onde deve ir a revisão
jurisdicional das decisões do CADE (e a argumentação tem aplicação também para as
agências reguladoras de uma maneira geral). Da ementa do julgado (que é extensa),
destaquei os seguintes trechos que constam nos cards deste post. Em síntese, não cabe
ao Judiciário adentrar no mérito da decisão, devendo se restringir ao exame de
legalidade e abusividade do ato administrativo.
73
Vale lembrar que, na origem, o processo é uma ação anulatória contra multa por cartel
aplicada ao CADE. Mas o caso não era um cartel comum (como o de preços, por
exemplo). O CADE concluiu que as empresas de postos de combustível do Distrito
Federal se valeram de seu poder econômico para eliminar a possibilidade da
concorrência, que seria exercida por redes de hipermercados locais que pretendiam
ingressar no ramo de revenda de combustíveis. Segundo a Autarquia, os agentes
econômicos exerceram pressões em membros do executivo e do legislativo para que não
fosse autorizada a entrada de concorrente no mercado relevante, bem como fosse
editada lei impeditiva de tal entrada, com o intuito de atendimento de seus interesses
econômicos.
Em síntese, portanto, no caso concreto, o que teria existido foi uma pressão de agentes
econômicos em face de representantes do legislativo e do executivo local para a edição
de legislação que os favorecessem. A lei editada, de fato, parece-me inconstitucional,
por violar o princípio da livre concorrência (vedar a abertura à época de postos de
combustíveis em supermercados). Agora vocês acham que essa conduta dos agentes
econômicos configura cartel ou está dentro do legitimo exercício de interesses
democráticos deles? Eu acho uma decisão polêmica, tanto que, na história do CADE,
desconheço outra em sentido semelhante. De toda forma, a autoridade antitruste com
expertise na matéria entendeu ter havido um ilícito e puniu os agentes econômicos, não
podendo, segundo o STF, o mérito dessa decisão ser revisado.
74
TRADE DRESS E CONCORRÊNCIA DESLEAL
CURIOSIDADE
Olá, meus amigos, tudo bem?! Se você nunca ouviu falar de Trade Dress, aconselho
fortemente um post do @professorAndreSantaCruz na sessão dele de glossário (vou
colocar o link nos meus stories). Mas, em síntese, trade dress ou conjunto-imagem é o
aspecto geral de como um produto ou serviço é apresentado, a sua soma dos elementos
visuais.
Violação de trade dress ocorre, portanto, quando um concorrente não copia exatamente
a marca ou o desenho industrial, mas imita uma série de características que identifica o
produto ou serviço de outrem, causando confusão nos consumidores. É um tema de
concorrência desleal, diretamente afeto à propriedade industrial.
A proteção ao Trade Dress não tem previsão legal específica e, apesar de não se
confundir com outros direitos de propriedade industrial, já teve sua proteção jurídica
reconhecida em alguns precedentes do STJ (REsp 1.353.451/MG e 1.677.787/SC, por
exemplo). Estaria abarcada no art. 209 da LPI (Lei 9.279/1996). E o que isso tem a ver
com o Direito da Concorrência?
Feitas essas observações iniciais, nos próximos dois posts vamos tratar, pois, de
aspectos gerais da concorrência desleal. Vamo que vamo!
direitoeconomicodescomplicado
75
DOUTRINA
O art. 2º da LPI prevê que a proteção dos direitos relativos à propriedade industrial
efetua-se também mediante a repressão à concorrência desleal (além da concessão de
patentes de invenção e de modelo de utilidade; concessão de registro de desenho
industrial; concessão de registro de marca; repressão às falsas indicações geográficas).
No Brasil, os atos de concorrência desleal podem ser divididos em duas modalidades: a
concorrência desleal específica e a concorrência desleal genérica, a depender da
existência ou não de tipo penal.
As quatorze condutas tipificadas nos incisos do art. 195 da LPI são as hipóteses de
concorrência desleal específica, todas previstas dentro do Capítulo “Dos Crimes de
Concorrência Desleal”. Por sua vez, a previsão do art. 209 ressalva a possibilidade de
indenização dos prejudicados por atos de concorrência desleal não previstos na LPI,
desde que “tendentes a prejudicar a reputação ou os negócios alheios, a criar confusão
entre estabelecimentos comerciais, industriais ou prestadores de serviço, ou entre os
produtos e serviços postos no comércio”. Esta é a hipótese genérica.
direitoeconomicodescomplicado
76
DOUTRINA
Para tratar das hipóteses de concorrência desleal específica temos que, necessariamente,
nos reportar aos tipos penais do art. 195 da LPI. Contudo, para facilitar a compreensão
do assunto, o professor Paulo Burnier sugere uma classificação que pode ajudar.
Haveria quatro grandes grupos, identificados pela natureza do bem jurídico tutelado.
O primeiro grande grupo abrange as condutas que objetivam ou têm por efeito induzir o
consumidor a erro. Nessa categoria estariam incluídos os tipos penais dos incisos I, II,
III, IV, V, VI, VII e VIII do art. 195. Por exemplo, o agente que se utiliza de meio
enganoso (fraudulento) para desviar clientela de um concorrente em benefício próprio
comete o crime do inciso III.
Por fim, temos o inciso XIII do art. 195, que não se enquadra em nenhum dos três
grupos anteriormente identificados. É que o bem jurídico tutelado por essa modalidade
de concorrência desleal específica, além do interesse individual do concorrente
prejudicado, é a livre concorrência. O dispositivo criminaliza o agente de mercado que
mente sobre a existência de uma patente ou de registro de desenho industrial.
Os crimes previstos no art. 195 têm pena de detenção de 3 meses a 1 ano, ou multa,
portanto são crimes de menor potencial ofensivo. E, como já dito, a ação penal aqui é de
iniciativa privada (art. 199), portanto se procede mediante a propositura de uma queixa-
crime.
Direitoeconomicodescomplicado
77
COMO MENSURAR ECONOMICAMENTE OS PREJUIZOS CAUSADOS PELOS
CARTÉIS (O PESO MORTO)?
Doutrina
O que é o peso morto (ou como mensurar economicamente os prejuízos causados pelos
cartéis)? - Post 01 de 05.
Olá, meus amigos, tudo bem?! Gráficos como os que estão postados acima geralmente
assustam aqueles que começam a estudar o direito da concorrência ou, mais
especificamente, a teoria dos monopólios. Não se assustem.
Não vou falar que se trata exatamente de um tema fácil. Há muita discussão relevante
sobre a aplicabilidade do modelo em mercados reais. Mas a sua compreensão é simples,
apesar da ENORME quantidade de linhas e figuras geométricas para nós, operadores do
direito (nem são tantas assim, né?! Rs). Esta série de posts, portanto, é dedicada a este
tema: o que é o peso morto ocasionado pela prática de cartel?
Forte abraço!
78
Doutrina
O que é o peso morto (ou como mensurar economicamente os prejuízos causados pelos
cartéis)? - Post 02 de 05.
79
Doutrina
O que é o peso morto (ou como mensurar economicamente os prejuízos causados pelos
cartéis)? - Post 03 de 05.
Ainda, observando o gráfico da oferta e da demanda, verifiquem que quanto maior for o
preço, mais a esquerda do ponto “B” ele estará na curva da demanda (A-D), o que
implica constatar que menor tenderá a ser o excedente do consumidor (e maior o do
produtor).
80
Doutrina
O que é o peso morto (ou como mensurar economicamente os prejuízos causados pelos
cartéis)? - Post 04 de 05.
Teoria do Monopólio
Já teríamos aqui um problema. Ocorre que a prática também gera um peso morto, que é,
justamente, o triângulo C-D-E no gráfico. O que significa, então, peso morto? Veremos
no último post desta série!
Forte abraço!
81
Doutrina
O que é o peso morto (ou como mensurar economicamente os prejuízos causados pelos
cartéis)? - Post 05 de 05.
Peso Morto
E ai, os gráficos ficaram mais fáceis?! Deu pra entender o que significa peso morto ou
perda estática dos cartéis?! Dúvidas, só mandar um direct ou deixar um comentário!
82
LEI DO CADE E CONCURSO PÚBLICO – 27º CONCURSO MPF
Concurso
a) A Lei 12.529/11 instituiu o controle prévio dos atos de concentração, exigindo que
todas as empresas aguardem a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (CADE) antes de implementarem os seus processos de fusão, sob pena de
nulidade;
b) O acordo de leniência pode ser celebrado pela Superintendência-Geral do CADE em
qualquer fase investigativa, com pessoa física, ou jurídica, autora da infração à ordem
econômica que colabore efetivamente com a investigação identificando os demais
envolvidos na infração e fornecendo informações e documentos que comprovem a
infração noticiada ou sob investigação;
c) O termo de compromisso de cessação da prática sob investigação ou dos seus efeitos
lesivos é um acordo firmado pela Superintendência-Geral do CADE que poderá ser
realizado em qualquer fase do procedimento administrativo e ter caráter confidencial.
d) A apresentação de proposta de termo de compromisso de cessação importa em
confissão da ilicitude da conduta, impõe o fornecimento de provas acerca das práticas
que o compromissário reconhece a priori como ilícitas e suspende o andamento do
processo administrativo.
Gabarito: B
...
Essa questão foi cobrada no 27º concurso do MPF e, ao comentá-la com os alunos do
projeto Identidade, falei que faria um post aqui específico sobre ela. Vamos lá!
A alternativa “A” pode gerar alguma dúvida, porque está quase perfeita. De fato a Lei
12.529/2011 instituiu o controle prévio de atos de concentração (§2º do art. 88) e a
consequência de um ato implementado sem a autorização do CADE pode ser a nulidade
(§3º do art. 88), mas não é preciso que “TODAS” as empresas aguardem decisão do
CADE. Aqui está o problema. A regra do §3º se aplica apenas para aqueles casos em
que a notificação do ato de concentração seja obrigatória, ou seja, hipóteses dos incisos
I e II do art. 88.
A alternativa “C” está errada, pois o TCC não é firmado pela SG (diferentemente da
Leniência), mas pelo CADE, por meio do plenário do TADE, ainda que, a depender da
fase do processo, a iniciativa decorra de despacho do SG ou de conselheiro-relator.
Além disso, quanto ao caráter confidencial, a lei fala que a proposta “poderá ter caráter
confidencial” (§5º do art. 85).
83
A alternativa “D” está errada, primeiro, porque a proposta de TCC não suspende a
tramitação do processo administrativo (§6º, art. 85). Segundo, falar em reconhecimento
de participação da conduta e em colaboração com a investigação apenas faz sentido em
TCCs de cartéis (infrações plurissubjetivas). Trata-se de requisitos previstos no RI do
CADE e consolidados em maio de 2016, quando da publicação do Guia de TCCs em
cartéis da autarquia.
A alternativa “B” está correta e, portanto, era a resposta que deveria ser assinalada.
84
ACORDO DE LENIÊNCIA, TERMO DE COMPROMISSO DE CESSAÇÃO E
ACORDO EM CONTROLE DE CONCENTRAÇÃO
DOUTRINA
Aspectos Gerais
Olá, meus amigos?! Tudo bem! Esta série de posts vai tratar dos chamados acordos
administrativos ou instrumentos consensuais que podem ser firmados entre o CADE e
os administrados. São eles: (i) no controle repressivo ou de condutas, o (i.a) acordo de
leniência (Leniência) e o (i.b) termo de compromisso de cessação (TCC), bem como,
(ii) no controle preventivo ou de estruturas, o (ii.a) acordo em controle de concentração
(ACC).
Por óbvio, pelas limitações deste espaço, apenas serão abordados os principais aspectos
de cada um deles. O objetivo principal aqui é possibilitar que eles sejam bem
diferenciados entre si, bem como identificar os seus requisitos. Vamos lá?! No próximo
post começamos com a Leniência!
Forte abraço!
85
DOUTRINA
Leniência
Leniência
A Leniência está prevista nos arts. 86 e 87 da Lei 12.529/2011. É firmada pelo CADE,
por intermédio da Superintendência-Geral (SG), com pessoas físicas e jurídicas
responsáveis pela prática de infração, e possibilita a redução da pena administrativa de
1/3 a 2/3, para os casos em que a SG já tinha conhecimento prévio da infração, ou a sua
extinção, quando não se sabia da infração noticiada.
A própria lei traz os requisitos cumulativos para a assinatura da leniência: (a) primazia,
ou seja, o agente econômico seja o primeiro a se apresentar; (b) cessação da conduta; (c)
a SG não pode já dispor de provas suficientes para uma condenação; e (d) confissão e
cooperação.
Forte abraço!
86
DOUTRINA
Ainda, quanto aos procedimentos, vale frisar que a leniência é assinada pela SG, sem
necessidade de homologação pelo Tribunal (quando do julgamento do processo, o
TADE verifica se a leniência foi cumprida ou não, aplicando seus benefícios), enquanto
que o TCC deve ser homologado pelo TADE.
87
DOUTRINA
O caso do ACC é curioso porque o dispositivo da Lei 12.529/2011 que o previa foi
vetado (vide art. 92) e a sua previsão hoje consta apenas no Regimento Interno do
CADE (RI-CADE)! Mas é preciso entender o contexto. A redação do caput do art. 92
previa que o ACC podia ser firmado apenas pelo SG, antes de impugnar a operação
(posicionar-se por reprovação ou aprovação com restrições). Isso restringiria o escopo
do acordo que, por exemplo, não poderia ser negociado com o conselheiro-relator
quando o processo já estivesse no Tribunal.
Em síntese, esse tipo de acordo é muito útil para aqueles casos em que há uma
sinalização por parte do CADE de que um ato de concentração deve ser reprovado ou
aprovado com restrições, pois permite que autoridade e administrado possam moldar
juntos, de maneira mais efetiva, os remédios necessários para a aprovação da operação.
É isso, pessoal. Com este post terminamos nossa série sobre “Principais acordos
administrativos do antitruste brasileiro”. Vamo que vamo!
88
SURGIMENTO DO ANTITRUSTE
Além disso, embora seja comum a denominação “Direito Antitruste”, como referência
ao combate ao trusts, é importante compreender que esse instituto jurídico é estranho à
realidade brasileira. Por meio dos trusts (que vem de “confiar”, “confiança”), no final
do século XIX, agentes econômicos concentravam poder nas mãos dos trustees, que
ficavam responsáveis por administrar verdadeiros conglomerados, sendo um dos mais
conhecidos o da Standard Oil de John Rockefeller.
#direitoeconomicodescomplicado
89
EXPRESSÕES ESTRANGEIRAS CORRIQUEIRAS NO DIREITO DA
CONCORRÊNCIA
DOUTRINA
Post 01 de 02.
Market sharing – É o cartel que segmenta o mercado relevante (por regiões, por clientes
etc.) entre seus membros. Mais comum vermos a expressão “market-sharing cartel”,
mas aqui coloquei propositadamente após market share para não confudirmos: market-
sharing (com ING é um tipo de cartel), enquanto market share é participação de
mercado.
90
Separei em dois posts pelas limitações de espaço aqui do Insta! E ai, qual é a sua
expressão estrangeira favorita (ou detestada) na matéria?! Amanhã mando as minhas
outras 05 expressões!
DOUTRINA
Post 02 de 02.
Cross Elasticity – prestigiando o nosso seguidor que sugeriu este vocábulo, elasticidade
cruzada da demanda é a medida de quanto varia a demanda por determinado bem,
quando o preço de outro bem muda. Para produtos substitutos, a elasticidade cruzada
será positiva (a demanda de um produto aumenta quando o preço do outro aumenta),
enquanto para produtos complementares, a elasticidade cruzada será negativa (a
demanda de um produto diminui, quando o preço do outro aumenta). Evitem decorar
isso e entendam com exemplos. Para quem café e chá são substitutos entre si (pra mim
não são. Chá não substitui café... rs), se o preço do café aumenta, você tende a comprar
mais chá, confere? Agora considere arroz e feijão, que são complementares (pra mim o
exemplo fica melhor com feijão e farinha): se o preço do feijão aumenta, é possível que
você diminua seu consumo de arroz, né?! Esses, em síntese, são exemplos da
elasticidade cruzada da demanda.
91
Essas foram as 10 expressões que primeiro vieram à mente! Será que esqueci de alguma
expressão estrangeira importante do Direito da Concorrência?! Me fala ai! Deixa seu
comentário!
Forte abraço!
92
MODELOS DE AUTORIDADES DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA NO MUNDO
93
FINALIDADE DO DIREITO DA CONCORRÊNCIA
Doutrina
POST 01
Legenda
Qual é o fim do Direito da Concorrência (ou “Existirmos, a que será que se destina”)?
Olá, meus amigos! Tudo bem?! Essa talvez seja a questão mais debatida no Direito da
Concorrência na atualidade. Acadêmicos e operadores do direito que atuam na área
escrevem constantemente sobre qual deve ser o seu objetivo, ou, ainda quais devem ser
os seus objetivos (porque a singularidade da pergunta também é repleta de
controvérsias).
Este e o próximo post pretendem fazer um breve panorama nessa discussão, a qual não é
recente, porquanto remonta ao surgimento do Sherman Act em 1890, mas,
aparentemente, tem se acentuado no Brasil e no mundo depois da crise financeira de
2008. A ideia deste post surgiu quando eu e o professor André Santa Cruz gravamos a
primeira aula do nosso curso e ventilamos essa discussão. Ainda, vem para responder
alguns seguidores que pediram para explicar a vinculação entre Direito da Concorrência
e Políticas Públicas (vide último card do segundo post).
Então, segue o fio. Para você não se perder, cada card foi baseado na obra de
determinado autor. Na ordem, serão os seguintes citados neste post: (i) Herbert
Hovenkamp, The Federal Antitrust Policy; (ii) Robert Bork, The Antitrust Paradox; (iii)
Herbert Hovenkamp novamente, em The Antitrust Enterprise; (iv) Phillip Areeda,
Antitrust Analysis e (v) Massimo Motta, Competition Policy.
Atentem que essa não é uma questão meramente teórica. A depender das premissas
adotadas, a política de defesa da concorrência de determinado país pode sofrer guinadas
impressionantes. Destaco aqui, por exemplo, que Tim Wu e Lina Khan assumiram,
recentemente, importantes cargos no governo Biden, o que pode indicar mudanças
sensíveis de rumos no antitruste dos Estados Unidos.
Quando minha filha mais nova, Clara, nasceu, postei fotos do nascimento dela com a
pergunta da canção do Caetano, Cajuína, “existirmos, a que será que se destina”? O
Direito da Concorrência sofre do mesmo dilema. Claro, de forma muito menos
relevante... ☺.
...
Qual é o fim do Direito da Concorrência (ou “Existirmos, a que será que se destina”)? –
POST 01
94
Ao analisar o surgimento do Direito da Concorrência (cuja primeira norma data de
1889, no Canadá, mas tem o Sherman Act dos Estados Unidos como referência, em
1890), tenta-se identificar, ali, qual seria exatamente seu propósito. Há inúmeras teorias,
as quais estão, de certa forma, resumidas nesta passagem do Hovenkamp, em “Federal
Antitrust Policy”: “Alguns estudiosos têm argumentado que os autores do Sherman Act
estavam preocupados quase exclusivamente com a eficiência alocativa, medida pela
economia neoclássica moderna. Outros concluíram que o Congresso muitas vezes
expressava preocupação com a ‘justiça’ ou a equidade no comportamento empresarial,
mas nunca articulou qualquer conceito de eficiência alocativa, nem mesmo nas leis
antitruste. Ainda outros argumentam que a principal preocupação do Congresso era
evitar transferências de riqueza dos consumidores para os detentores de posição
dominante ou monopolistas (...) Uma teoria com maior poder explicativo é, realmente,
que o Sherman Act foi aprovada a mando de pequenas empresas que tinham sido
feridas pela formação de grandes empresas, mais eficientes“. Convenhamos, não é cool
dizer que o Direito da Concorrência tem por fim proteger os pequenos empresários dos
grandes, mais eficientes.
95
competitivos. Nesse sentido, reforça que, na dúvida, em cenários complexos, para o
qual o Estado não pode oferecer uma resposta precisa, é melhor não intervir.
Em “Antitrust Analysis”, o professor Phillip Areeda, que foi um dos mais influentes
juristas na área do antitruste e lecionou na Universidade de Harvard por mais de 30
(trinta) anos, reconhece que, para o mainstream, a concorrência perfeita é o standard
a ser perseguido, apesar de toda a dificuldade de a realidade se adequar à teoria, bem
como que o uso da economia é indispensável para o antitruste, apesar de suas
limitações. Porque não será possível prever as consequências das proibições de um ou
outro comportamento específico, as autoridades e os doutrinadores do direito da
concorrência deverão responder à seguinte pergunta repetidamente: até que ponto se
deve buscar a verdade econômica em um caso particular no qual as hipóteses podem ser
controversas ou indefinidas e o ordenamento jurídico não possa dar uma solução clara.
Phillip Areeda trabalha com o conceito de workable competition, o qual, conforme o
próprio autor reconhece, não é preciso, mas pelo menos tenta, por aproximação, melhor
apreender a realidade dos mercados.
O economista Massimo Motta, em “Competition Policy”, por sua vez, adota o conceito
de bem-estar econômico como elemento central para a avaliação do desempenho de
determinado mercado e, a partir dele, pauta a sua compreensão acerca do direito da
concorrência. Segundo Motta, semelhantemente a Hovenkamp, objetivos ou
considerações de política pública diferentes de eficiência não são importantes e se os
governos quiserem atingi-los, isso não deveria ocorrer por meio da política de defesa da
concorrência, mas sim pela utilização de instrumentos diversos, desde que estes
interfiram na concorrência o mínimo possível. Maximo Motta, de maneira bastante
sincera, embora reconheça a eficiência como norte do antitruste, afirma que o faz na
condição de economista. E afirma que cabe aos políticos, sociólogos e juristas
decidirem se, diante de um conflito, irão priorizar considerações econômicas ou outras
de natureza diversas.
Por limitações do Instagram, encerro por aqui este post. Vimos até aqui o primeiro
grupo de opiniões acerca do(s) objetivo(s) do Direito da Concorrência, que denominei
de (i) “defensores da métrica econômica como sendo a única viável”. No próximo post,
vamos ver os (ii) “partidários a uma maior abertura”. Vamo que vamo!
96
Doutrina
POST 02
Legenda
Qual é o fim do Direito da Concorrência (ou “Existirmos, a que será que se destina”)?
Olá, meus amigos! Tudo bem?! Essa talvez seja a questão mais debatida no Direito da
Concorrência na atualidade. Acadêmicos e operadores do direito que atuam na área
escrevem constantemente sobre qual deve ser o seu objetivo, ou, ainda quais devem ser
os seus objetivos (porque a singularidade da pergunta também é repleta de
controvérsias).
Este post, que é uma continuação do anterior, pretende fazer um breve panorama nessa
discussão, a qual não é recente, porquanto remonta ao surgimento do Sherman Act em
1890, mas, aparentemente, tem se acentuado no Brasil e no mundo depois da crise
financeira de 2008. A ideia deste post surgiu quando eu e o professor André Santa Cruz
gravamos a primeira aula do nosso curso e ventilamos essa discussão. Ainda, vem para
responder alguns seguidores que pediram para explicar a vinculação entre Direito da
Concorrência e Políticas Públicas (vide último card).
Então, segue o fio. Para você não se perder, cada card foi baseado na obra de
determinado autor. Na ordem, serão os seguintes citados neste post: (i) Tim Wu,
Antitrust in the New Gilded Age; (ii) de Lina Khan, “Amazon´s Antitrust Paradox” e
“Book Review: The End of Antitrust History Revisited”; (iii) Maurice Stucke,
“Reconsidering Antitrust’s Goals”; (iv) Calixto Salomão, “Direito Concorrencial”, (v)
Ana Frazão, “Direito da Concorrência” e (vi) Paula Forgioni, “Fundamentos do
Antitruste”.
Atentem que essa não é uma questão meramente teórica. A depender das premissas
adotadas, a política de defesa da concorrência de determinado país pode sofrer guinadas
impressionantes. Destaco aqui, por exemplo, que Tim Wu e Lina Khan assumiram,
recentemente, importantes cargos no governo Biden, o que pode indicar mudanças
sensíveis de rumos na política antitruste dos Estados Unidos.
Quando minha filha mais nova, Clara, nasceu, postei fotos do nascimento dela com a
pergunta da canção do Caetano, Cajuína, “existirmos, a que será que se destina”? O
Direito da Concorrência sofre do mesmo dilema. Claro, de forma muito menos
relevante... ☺.
Esses são os pontos que eu considero mais essenciais nesta discussão acerca do(s)
objetivo(s) Direito da Concorrência. Para saber mais, não perde a live que eu e o
professor @André vamos fazer nesta quinta, 19h. Vamo que vamo!
...
97
Qual é o fim do Direito da Concorrência (ou “Existirmos, a que será que se destina”)? –
POST 02
Tim Wu, em “Antitrust in the New Gilded Age”, chama atenção para o fato de que, nas
quatro últimas décadas, a política de defesa da concorrência nos Estados Unidos e em
outros grandes países teria sido propositalmente enfraquecida para propiciar o acúmulo
de poder econômico, em uma repetição da chamada “Era Dourada” da segunda metade
do século XIX, a qual foi marcada por níveis extremos de concentração de renda,
desigualdade e pelo florescimento de regimes ditatoriais fascistas. E esse movimento se
deve, segundo Wu, ao triunfo da Escola de Chicago e das lições de Bork, sobretudo no
final dos anos 70, que são notadamente contra o controle de estruturas. Para Wu,
qualquer Estado pautado em princípios como o da igualdade e da descentralização de
poder deve adotar uma Neo-Brandeisian Agenda, que reforce as preocupações com
fusões e aquisições, bem como reconheça a proteção do processo de concorrência como
objetivo do antitruste. Você não faz a mínima ideia do que seria essa Neo-Brandeisian
Agenda, né?! Aportuguesando, Neo-Brandesiana. Vamos lá
Conforme explica o próprio Wu, essa agenda Neo-Brandesiana seria: “[...] a return to
Brandeis wrote, ‘the true test of legality is whether the restraint imposed is such as
merely regulates and perhaps thereby promotes competition or whether it is such as
may suppress or even destroy competition’”. Louis D. Brandeis nasceu em Louisville,
no Estado de Kentucky, Estados Unidos, em 13 de novembro de 1856, e foi apontado
como ministro da Suprema Corte norte-americana em 1916. Ele criticava a
concentração econômica verificada no seu país no final do século XIX e início do
século XX. Em publicação para celebrar o centenário do seu nascimento, intitulada “Mr.
Justice Brandeis, Competition and Smallness: a Dilemma Re-examined”, publicada em
“The Yale Law Journal”, consta o seguinte resumo do seu pensamento: “Distrustful of
all concentration of power, he maintained that the giant corporation was a menace to
the democratic process. Brandeis believed that the social development of the individual,
neglected in a concentrated economy, would be fostered by an atmosphere of small
business. He thus concluded society would profit if the government shattered the big
enterprises which dominated industry” (Yale Law Journal, 1956, p. 69). É possível
também encontrar, como referência a essa agenda de pensamento sobre o direito da
concorrência, de forma mais crítica, a expressão “Hipster Antitrust”.
Os escritos recentes de Lina Khan, “Amazon´s Antitrust Paradox” e “Book Review: The
End of Antitrust History Revisited” também partem desta premissa: nas últimas décadas,
a legislação antitruste dos Estados Unidos tem se concentrado no bem-estar dos
consumidores, de maneira que, provavelmente, concentrações ou condutas que
resultem, ao menos imediatamente, em preços mais baixos não seriam consideradas
ilegais. Em “Amazon´s Antitrust Paradox”, publicado em 2017, Khan defende que esse
foco é muito estreito, devendo o Estado se preocupar com objetivos mais amplos de
concorrência, a partir do estudo de caso da Amazon. O seu argumento central é que não
deveria ser abandonada, conforme propõe a Escola de Chicago, cujo propósito central é
a promoção de eficiência e bem-estar do consumidor, a preocupação com estruturas e
com o próprio processo competitivo. Por essa razão, na visão de Lina Khan, o livro de
98
Tim Wu mencionado anteriormente foi lançado em um momento extremamente
propício, a fim de que os fins do antitruste, especialmente nos Estados Unidos, sejam
rediscutidos.
Ainda, pelo menos desde 2012, Maurice Stucke, em “Reconsidering Antitrust’s Goals”,
chama atenção para o fato de identificar os objetivos a serem perseguidos pela defesa da
concorrência não é apenas uma discussão acadêmica, mas também prática, porquanto
pode ajudar na aplicação e na efetividade da política, norteando os agentes públicos que
lidam com a matéria, facilitar a transparência e a avaliação acerca das medidas já
efetivadas, bem como evitar que diferentes atores, por exemplo, agentes públicos do
Poder Executivo e membros do Poder Judiciário, decidam de maneira contraditória.
Para ele, os indivíduos, inseridos em um determinado ambiente cultural e social,
condicionam suas escolhas não apenas com fundamento em critérios econômicos,
racionais, mas também em outros valores. A complexidade do ser humano não fica
adstrita ao modelo previsível de comportamento estabelecido pela economia. E, em uma
democracia, essa complexidade, de certa forma, está representada por diversos grupos
sociais e políticos. A partir dessas premissas, Maurice E. Stucke conclui que “a política
de defesa da concorrência em qualquer democracia com razoável pluralismo não pode
ser reduzida a uma meta única, bem definida. Qualquer política de defesa da
concorrência, que pretenda promover o bem-estar, deve balancear objetivos múltiplos
de caráter político, social, moral e econômico”.
99
Para Ana Frazão, em “Direito da Concorrência”, o controle do poder econômico é não
apenas um dos instrumentos mais efetivos da tutela dos consumidores, mas também um
dos principais pilares da democracia. Daí ser um assunto que deveria interessar a todos
os cidadãos e, por isso, submetido ao amplo escrutínio social. Esse é um argumento
relevante para que as questões concorrenciais não sejam decididas sob uma perspectiva
exclusivamente técnica, desconectada dos princípios constitucionais que regem a ordem
econômica e o Estado Democrático de Direito. Frazão reconhece a centralidade da
Constituição para a aplicação do direito da concorrência no Brasil. O art. 173, §4º7,
apenas pode ser entendido a partir da compreensão de sua natureza instrumental e de
sua conformidade com o art. 1708, o qual centra a ordem econômica na valorização do
trabalho e na livre iniciativa, princípios que, necessariamente, devem ter por finalidade
assegurar a existência digna. Assim, o direito da concorrência não pode ser reduzido a
um viés meramente economicista, pautado no conceito de eficiência, nem a um mero
instrumento de política econômica: é imprescindível perquirir, na atividade de controle
do poder econômico, em que medida os princípios constitucionais estão sendo
observados.
7
Assim estabelece o art. 173, §4º, da Constituição Federal: “A lei reprimirá o abuso do poder econômico
que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros”
(BRASIL, 1988).
8
O art. 170 dispõe: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV -
livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX -
tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que
tenham sua sede e administração no País. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de
qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos
previstos em lei (BRASIL, 1988).
100
O CADE E A ANALISE DE ATOS DE CONCENTRAÇÃO DE INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS
Olá, meus amigos! Tudo bem?! Essa notícia da aquisição da Easynvest pelo
Nubank faz a gente relembrar o quiproquó entre CADE e BACEN sobre a análise de
atos de concentração envolvendo instituições financeiras. Estão lembrados disso?!
Não?! Então vamos lá, para um breve resumo!
101
Essa discussão chegou ao Judiciário em 2002, no caso BCN-BRADESCO aqui
mencionado, e o TRF1, por maioria, deu razão ao CADE. Em síntese, decidiu que a Lei
Bancária e a Lei Antitruste deveriam ser aplicadas tendo presente a regra da
complementaridade. O BACEN analisaria o equilíbrio do Sistema Financeiro, ao passo
que o CADE tutelaria a concorrência. Ainda, decidiu o TRF1 que mesmo os pareceres
da Advocacia-Geral da União aprovados pelo Presidente da República não seriam de
observância obrigatória pelo CADE no tocante à interpretação e aplicação das normas
da legislação de defesa da concorrência, nem no que diz respeito à delimitação de sua
esfera de atribuições jurídicas.
Nesse período, houve pelo menos uma tentativa legislativa de colocar um ponto
final nessa discussão, com destaque para projeto de lei aprovado no Senado (vide
https://g1.globo.com/economia/noticia/senado-aprova-projeto-que-define-atribuicoes-
de-cade-e-banco-central-no-controle-de-instituicoes-financeiras.ghtml, notícia de 2018),
ainda pendente de aprovação no Congresso, que reconhece a complementaridade da
análise das instituições. Esse era o entendimento que, em 2018, prevalecia entre as
instituições.
Dessa forma, no final daquele ano, CADE e BACEN assinam ato normativo
conjunto para tentar por fim ao problema (Ato Normativo Conjunto nº 01, de 10 de
dezembro de 2018), adotando a tese da complementaridade. Em síntese, os atos de
concentração econômica de instituições financeiras deverão ser submetidos tanto ao
BACEN quanto ao CADE, que os examinarão de forma independente, em processos
próprios, observados os prazos e condições previstos na legislação que disciplina a
atuação de cada uma das autarquias (vide art. 2º). E existe uma possibilidade
excepcional de o BACEN aprovar unilateralmente os atos de concentração quando
“aspectos de natureza prudencial indiquem haver riscos relevantes e iminentes à solidez
e à estabilidade do Sistema Financeiro Nacional” (vide art. 6º).
102
regulados, conforme disposto no art. 26, §1º, da Lei 13.848/2019 (Lei da Agências
Reguladoras Federais).
Por fim, para acabar com esta novela (digo, esse post), o caso Easynvest /
Nubank, já havia sido aprovado pelo CADE, desde outubro de 2020, mais
especificamente pela SG, que entendeu se tratar de operação que não trazia
preocupações concorrenciais, conforme notícia que segue. FIM! ☺
103
SISTEMA FINANCEIRO
NACIONAL
104
SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL – ASPECTOS GERAIS
Doutrina
Nos (ii) seguros privados, o órgão normativo é o (a) Conselho Nacional de Seguros
Privados (CNSP), o supervisor é a (b) Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e
os operadores são as (c) seguradoras e resseguradores, entidades abertas de previdência
e sociedades de capitalização.
Essa informações estão representadas no quadro postado acima (que pode ser obtido no
endereço https://www.bcb.gov.br/pre/composicao/composicao.asp?frame=1) e são úteis
para a compreensão, de forma sistêmica, da organização do sistema financeiro nacional.
O (i) mercado financeiro, por sua vez, é também dividido em quatro outros mercados:
de capitais, monetário, de crédito e de câmbio. Mas isso será tema de um post futuro.
Por fim, tem um livro excelente e gratuito da CVM sobre mercado de capitais,
intitulado “Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro”, cuja 4ª edição foi lançada ano
passado. A definição aqui utilizada de sistema financeiro foi retirada dele. Ele e outros
livros da série TOP estão disponíveis no portal do investidor
(https://www.investidor.gov.br/publicacao/LivrosCVM.html#TOP). Vale muito à pena!
105
HISTÓRIA DA MOEDA NO BRASIIL
Curiosidade
Em 1694, D. Pedro II, rei de Portugal, criou a primeira Casa da Moeda, na Bahia. Todas
as moedas de ouro e de prata em circulação na Colônia deveriam ser enviadas à Casa da
Moeda para serem transformadas em moedas provinciais. No entanto, as dificuldades e
os riscos do transporte fizeram com que a Casa da Moeda fosse transferida de uma
região para outra. Em 1699, mudou-se para o Rio de Janeiro; no ano seguinte, para
Pernambuco; e de novo para o Rio, em 1703.
As patacas foram as moedas que circularam por mais tempo no Brasil, de 1695 a 1834.
Essa série era composta pelas moedas de prata nos valores de 20, 40, 80, 160, 320 e 640
réis. O valor de 320 réis – pataca – deu nome à série. É a primeira foto do post acima.
Entre 1918 e 1935, com a finalidade de facilitar o troco, foi cunhada uma nova série de
moedas em cuproníquel que substituiu cédulas de valores pequenos e moedas antigas. A
moeda de 100 réis, dessa série, ficou conhecida como “tostão”.
Forte abraço!
106
AUTONOMIA DO BACEN E LEI COMPLEMENTAR 179/2021
Doutrina
Legenda
Olá, meus amigos! Tudo bem?! Este post poderia ir para a série “(Not too) Old, but
gold”, mas quando a Lei foi sancionada, eu estava em “licença paternidade”... rs
Mas o que significa exatamente esta “autonomia” do BACEN? Não era autônomo
antes?
...
Você está por dentro da Lei Complementar nº 179/2021, que conferiu autonomia ao
BACEN? Segue o fio.
O Banco Central do Brasil (BACEN) é uma autarquia federal criada pela Lei nº
4.595/64 que, dentre as competências previstas nos arts. 9º, 10 e 11, deve cumprir e
fazer cumprir as normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), emitir
moeda-papel e moeda metálica, nas condições e limites autorizados pelo CMN, exercer
o controle do crédito e conceder autorização para o funcionamento das instituições
financeiras.
107
zelar pela estabilidade e pela eficiência do sistema financeiro, suavizar as flutuações do
nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego.
Sobre a autonomia, não sei se você sabia, mas a Lei 4.595/64 concedia mandatos fixos
ao presidente e diretores do Banco Central, sinalizando para a autonomia da instituição.
Na prática, porém, a autonomia da instituição não vigorou, até que pela Lei 6.045, de
maio de 1974, os mandatos fixos foram formalmente revogados.
Por fim, o art. 5º, que limita as hipóteses de exoneração do Presidente e dos Diretores da
seguinte forma: (i) a pedido; (ii) no caso de acometimento de enfermidade que
incapacite o titular para o exercício do cargo; (iii) quando sofrerem condenação,
mediante decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, pela prática
de ato de improbidade administrativa ou de crime cuja pena acarrete, ainda que
temporariamente, a proibição de acesso a cargos públicos; (iv) quando apresentarem
comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos do
Banco Central do Brasil. Neste último caso, compete ao Conselho Monetário Nacional
submeter ao Presidente da República a proposta de exoneração, cujo aperfeiçoamento
ficará condicionado à prévia aprovação, por maioria absoluta, do Senado Federal.
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REGULAÇÃO
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LEI DAS AGÊNCIAS REGULADORAS FEDERAIS
Doutrina
Lei das Agências Reguladoras – Lei 13.848/2019, Aspectos gerais (Post 01 de 03)
Primeira, atentem que não foram revogadas as legislações particulares de cada setor
(apenas um ou outro dispositivo expressamente previsto). Por exemplo, a Lei
9.427/1997 (da ANEEL), a Lei 9.472/1997 (da ANATEL) e Lei 9.478/1997 (da ANP)
continuam em vigor. A nova lei, expressamente, ressalvou o que dispuser a legislação
específica e previu sua aplicação para as agências reguladoras futuramente criadas
(parágrafo único do art. 1º).
Segunda, o CADE não está incluído no rol do art. 2º, por um motivo simples, mas que
vez ou outra ainda suscita dúvidas: o CADE não é uma agência reguladora. É uma
autarquia especial (como são as agências reguladoras) e ainda que alguns aspectos das
agências reguladoras, como a investidura a termo dos dirigentes e estabilidade durante o
mandato, sejam aplicados ao CADE, ele não regula os mercados. As agências
reguladoras tratam de regulação setorial, sobretudo em mercados que carecem de
concorrência, como os em que haja monopólios naturais. O CADE, por sua vez, é a
autoridade de defesa da concorrência, agindo de modo transversal.
110
Doutrina
Olá, meus amigos, tudo bem? Vou elencar aqui meus “top 05” dispositivos da lei.
Vamos lá:
A obrigatoriedade de consulta pública prévia para criar ou alterar atos normativos, nos
termos do art. 9º: “Serão objeto de consulta pública, previamente à tomada de
decisão pelo conselho diretor ou pela diretoria colegiada, as minutas e as propostas de
alteração de atos normativos de interesse geral dos agentes econômicos, consumidores
ou usuários dos serviços prestados”.
Por fim, o necessário diálogo entre as agências reguladoras e o CADE, nos termos do
art. 25: “Com vistas à promoção da concorrência e à eficácia na implementação da
legislação de defesa da concorrência nos mercados regulados, as agências reguladoras
e os órgãos de defesa da concorrência devem atuar em estreita cooperação,
privilegiando a troca de experiências”.
Que difícil! Deixei de fora a criação de ouvidorias em todas as agências (art. 22) e a
previsão delas firmarem TACs (art. 32) com o coração na mão... rs É isso, pessoal!
Próximo post vamos tratar das principais revogações promovidas. Forte abraço!
111
Doutrina
Olá, meus amigos, tudo bem? O último capítulo da Lei 13.848/2019, “Disposições
Finais e Transitórias”, alterou diversos dispositivos de textos normativos variados
relacionados a agências reguladoras.
A Lei 13.848/2019 entrou em vigor 90 dias depois de sua publicação, portanto vige
desde 24/09/2019 (publicada no DOU em 26/06/2019).
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REGULAÇÃO EM CONCURSOS PÚBLICOS
CONCURSO
TRF5 – 2015. QUESTÃO 39. Assinale a opção correta acerca do papel do Estado como
agente regulador e da competência para a atividade regulatória.
A alternativa C está errada. Não apenas podem sofrer penalidades por parte da agência
reguladora do respectivo mercado, como também podem sofrer penalidades do CADE.
A Lei 12.529/2011, no seu art. 31, por exemplo, foi expressa em prever sua aplicação a
agentes econômicos “mesmo que exerçam atividade sob regime de monopólio legal”.
113
A D está errada ao falar que as agências nos Estados Unidos não se submetem ao
judicial review. Submetem-se de forma parametrizada por precedentes como os das
doutrinas Chenery (1943) e Chevron (1984). Esta última forjou o princípio da
deferência técnico-administrativa, aplicada pelo STF no precedente já comentado aqui
também (RE 1083955 AgR, julgado em 28/05/2019, Relatoria Ministro Luiz Fux).
Neste caso, o STF decidiu que o mérito da decisão do CADE não poderia ser revisto.
Esse entendimento torna errada, também, a parte final da assertiva.
#direitoeconomicodescomplicado
114
ORDEM ECONÔMICA
INTERNACIONAL
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SISTEMA DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS DA OMC
Doutrina
Olá, pessoal! Tudo bem?! Nesta semana teremos uma série com 04 publicações sobre o
“sistema de solução de controvérsias da OMC”, que se insere no contexto do chamado
Direito Econômico Internacional. Esta é a primeira!
A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi criada por meio de acordo assinado
em Marrakesh, em 15 de abril de 1994 (incorporado no Brasil pelo Decreto
1.355/1994), como resultado final da chamada “Rodada Uruguai” (1986-1993), com a
finalidade de auxiliar no cumprimento do GATT (General Agreement on Tariffs and
Trade ou, em português, Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio), assinado em 1947 e
em vigor desde 1948. O seu objetivo é, em síntese, expandir o comércio mundial por
meio da redução de barreiras alfandegárias.
Nas próximas três publicações, vamos tratar (i) das principais características do sistema
de controvérsias, (ii) de suas fases e seus procedimentos e (iii) de como o tema já foi
cobrado em concurso público! Boa semana pra gente!
116
Doutrina
(ii) automaticidade: foi estabelecida uma jurisdição “quase obrigatória”, com base na
regra do consenso negativo, a qual estabelece que somente não será estabelecido painel
se todos os Membros votarem contra o estabelecimento, inclusive o demandante. Do
mesmo modo, só não será adotado um relatório se todos votarem contra sua adoção,
inclusive o Membro vencedor na disputa.
(iii) duplo grau de jurisdição: criação de um órgão revisor permanente dos relatórios dos
painéis, denominado Órgão de Apelação (“OA”), que representa a existência de um
duplo grau de jurisdição no âmbito do SSC da OMC;
Nas próximas duas publicações, vamos tratar (i) de suas fases e seus procedimentos e
(ii) de como o tema já foi cobrado em concurso público! Até a próxima!
117
Doutrina
(i) Consultas: fase inicial do contencioso, momento em que a parte demandante solicita
à parte demandada informações sobre sua legislação e suas práticas comerciais, e requer
modificações das medidas questionadas, conforme os acordos da OMC. A parte
demandada tem o prazo de 10 dias para responder à parte demandante, e as consultas
devem ser realizadas em 30 dias. Se as consultas não solucionarem a disputa em 60 dias
do recebimento do pedido, a parte demandante pode requerer o estabelecimento de
painel.
(ii) Painel: os painéis são constituídos por três membros, que deverão ser escolhidos de
comum acordo pelas partes. As partes apresentam ao painel petições escritas e
participam de audiências, oportunidade em que podem apresentar e defender oralmente
seus argumentos. Ao final de seus trabalhos, o painel emite um relatório sobre a
compatibilidade das medidas questionadas em relação aos acordos da OMC. Em teoria,
o prazo para a apresentação deste relatório é de até 6 meses, prorrogáveis por mais três.
Na prática, a fase de painel tem durado cerca de 12 meses ou mais, para casos de maior
complexidade.
(iii) Apelação: eventuais apelações dos relatórios dos painéis deverão ser apresentadas
ao Órgão de Apelação (AO), órgão permanente que tem a função de revisão de aspectos
jurídicos dos relatórios emitidos pelos painéis. O OA é composto por 7 membros
permanentes, com mandato de 4 anos, renovável uma vez. Apenas 3 desses 7 membros
participam de cada controvérsia. O relatório do Órgão de Apelação deverá ser adotado
pelo OSC e incondicionalmente obedecido pelas partes, a não ser que o OSC decida,
por consenso, pela não adoção desse relatório.
Na próxima publicação vamos ver como o tema foi cobrado em concurso público! Até a
próxima!
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SISTEMA DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS DA OMC EM CONCURSOS
PÚBLICOS
Concurso
TRF5 – 2017. 37. Considere que haja controvérsia entre determinado país que se
posicionou contrário à política de outro Estado de concessão de subsídios à exportação
de produtos automobilísticos. A respeito desse caso, assinale a opção correta
considerando as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC) bem como as
fases do processo decisório desse organismo.
B) Em caso de apelação, o plenário da OMC deve decidir, nessa fase, sobre as questões
fáticas trazidas à revisão, em audiência.
C) Mesmo que o país interessado leve o caso a outro foro internacional, a jurisdição
compulsória recairá sobre a OMC, se as partes envolvidas forem membros da
organização.
A alternativa “A” está errada ao falar que na fase de conciliação se decidem as questões
de fato e de direito. A chamada fase de “Consultas” é a inicial do contencioso, momento
em que a parte demandante solicita à parte demandada informações sobre sua legislação
e suas práticas comerciais, bem como requer modificações das medidas questionadas,
conforme os acordos da OMC. Se não for resolvido o problema nesta fase, a parte
demandante pode solicitar que seja constituído um órgão especial, chamado de Painel,
para solucionar a querela.
A alternativa “B” está errada porque a apelação não vai para o “Plenário da OMC”, mas
para o Órgão de Apelação (AO), órgão permanente que tem a função de revisão de
aspectos jurídicos dos relatórios emitidos pelos painéis. O OA é composto por 7
membros permanentes, com mandato de 4 anos, renovável uma vez. Apenas 3 desses 7
membros participam de cada controvérsia.
A alternativa “D” está errada porque somente os Membros da OMC – isto é, Estados,
territórios aduaneiros autônomos e determinadas organizações internacionais (no caso, a
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União Europeia) – podem participar desse mecanismo, sendo o recurso vedado a outros
atores, como empresas, pessoas físicas e organizações não-governamentais.
A alternativa “E” está errada, pois, como visto, os painéis são constituídos por três
membros, que deverão ser escolhidos de comum acordo pelas partes.
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DUMPING E PREÇO PREDATÓRIO SÃO COISAS DISTINTAS!
Doutrina
Legenda
Olá, meus amigos! Tudo bem?! Por incrível que pareça, quando eu estava no último ano
do ensino médio, estudei, nas aulas de Geografia, Direito da Concorrência. O livro
trazia, como exemplo de uma das práticas investigadas pelo CADE, o Dumping.
O dumping não é a única prática desleal de comércio internacional, mas talvez seja a
mais conhecida. Certamente é a mais confundida. É comum associarem a prática de
dumping ao preço predatório, infração de defesa da concorrência. Há até editais de
concursos públicos que inserem no contexto da Defesa da Concorrência, portanto do
CADE, o dumping.
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que o valor normal dos produtos, deve ser condenado se causar ou ameaçar dano
material a uma indústria estabelecida no território de um contratante ou atrasa
materialmente o estabelecimento de uma indústria nacional”. O critério, portanto, é o
do “valor normal do produto”.
E considera-se valor normal o preço efetivamente praticado para o produto similar nas
operações mercantis normais, que o destinem a consumo interno do país exportador (art.
8º do Decreto 8.058/2013). Em síntese, se um país exportador vende um produto no
mercado externo por preço menor do que ele oferta no mercado interno, isso pode
caracterizar dumping. O dumping até pode ser praticado com o produto sendo vendido
abaixo do seu preço de custo, mas não é esse exatamente o critério analisado (e sim o de
preço normal, praticado no mercado interno do exportador) para configuração desse
ilícito.
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