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A meu pai

INTRODUÇÃO
A TEORIA
ECONôMICA
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE
PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
ESCOLA DE ADMIN"ISTRAÇAO DE EMPRESAS
DE S. PAULO
FUNDAÇAO GETCLIO VARGAS

INTRODUÇAO
-
'
A TEORIA
1\

ECONOMICA

EDITORA McGRAW-HILL DO BRASIL, LTDA.


SÃO PAULO - RIO DE JANEIRO - BELO HORIZONTE
DUSSELDORF, JOHANNESBURG, KUALA LUMPUR, LONDON,
MEXICO, MONTREAL, NEW DELHI, NEW YORK, PANAMA,
St. LOUIS, SAN FRANCISCO, SINGAPORE, SYDNEY, TORONTO.
coPYrtsht @ 1972 da Editora MeGraw-H111 do Brasil .Ltda..
Nenhuma parte àesta. pubUcac;Ao poderá ser reproduzlàa., guar..
dada pelo sistema "retrteval" ou transmitida de qualquer modo ou por
qualquer outro meio, seja este eletrônico, mecânico, de fotocópia, de
gravação, ou outros, sem prévia autorizaçl.o por escrito da Editora..

1973
Todos os direitos reservados
EDITORA McGRAW-HILL DO BRASIL, LTDA.
Rua Tabapuã, 1105 Av. Rio Branco, 156, s/2614 Rua Turmalina, 27
lTADl-BIBI, SÃO PAm.o RIO DE JANEIRO B:a.o HORIZONTE
SÃo PAULO Gl1.ANABABA MINAS Ga.us

Impresso no BrasU
Printed tn BT421l
Prefácio

O objetivo do presente texto é fornecer a base teórica funda-


mental para a compreensão de fenômenos econômicos.
Cada vez mais, podemos notar a importância da Economia
em nossa vida cotidiana. Nem um dia se passa sem que os meios
de comunicação de massa se refiram a problemas e acontecimentos
econômicos em todo o mundo.
Embora intuitivamente todos nós tenhamos algumas noções
do que seja a Ciência Econômica e de seus fundamentos mais im-
. portantes, toma-se necessário um conhecimento de sua base teórica,
tanto para dos fatos inferirmos suas conseqüências como para melhor
fundamentarmos nossas opiniões.
O texto que ora apresentamos focaliza as áreas mais impor-
tantes da Ciência Econômica, ou sejam, Microeconomia (Teoria
do Consumidor, Teoria da Firma, Teoria· do Mercado), Macro-
-economia (O Modelo Keynesiano, Moeda e Crédito), Economia
Internacional e Desenvolvimento Econômico.
Dentro do possível, apresentamos os elementos teóricos de
maneira a aproveitar ao máximo os conhecimentos intuitivos pre-
sentes em todos nós. Os pontos mais importantes são desenvolvidos
no texto e, nas Questões para Discussão, apresentadas no final de
cada capítulo, tentamos colocar problemas de caráter mais prático,
_para serem resolvidos com o auxílio da Teoria.
Desta forma, as Questões para Discussão se tomam parte inte-
grante da matéria apresentada, já que são desenvolvimentos da teoria
discutida.
Nos Resumos apresentados ao final de cada capítulo, a matéria
tratada de forma analítica é recolocada em seu contexto mais amplo,
para que o leitor não se perca nos meandros, muitas vezes essenciais
para a compreensão da matéria.

PREFACIO VII
Finalmente, poderíamos salientar que o presente texto nasceu
de uma série de apostilas preparadas pelo autor na Escola de Admi-
nistração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas,
para utilização nos cursos de Administração Pública, em face da
.não existência de um texto de Teoria Econômica que fosse sufi-
cientemente acessível e, ao mesmo tempo, condensado, para ser
utilizado num curso introdutório.
Assim, o presente texto pode ser utilizado tanto em um currí-
culo onde conste somente um curso de Economia, como em um
curso de Introdução à Economia, numa Faculdade de Ciências
Econômicas.

EsCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃo PAULO


DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

São Paulo, 28 de dezembro de 1972

M. C. C. A.

VIII PREFACIO
Sumário

Prefácio v
Capítulo 1 - INTRODUÇÃO ........................ 1
O Problema Econômico .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 2
Resumo .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 8
Questões para Discussão .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 8
Capítulo 2 - O MECANISMO DE TOMADA DE DECISõES 11
O Sistema de Preços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
A Procura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
A Oferta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
O Preço de Equilíbrio .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 23
O Sistema de Preços como Mecanismo Decisório . . . . 24
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Questões para Discussão .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 25
Capítulo 3 - AS REAÇõES DO MERCADO . . . . . . . . . . . . 30
Interdependências na Demanda e na Oferta . . . . . . . . 30
A Elasticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Resumo .................. ·'................. 44
Questões para Discussão .... - .. .. .. .. .. .. .. .. .. 44
Capítulo 4 - A ESTRUTURA DO MERCADO I . • . . . . . . . . 48
Tipos de Mercado . _. _. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Situações Intermediárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
A Estrutura da Procura .......... _.......... - . . 52
Capítulo 5 - A ESTRUTURA DO MERCADO 11 ..... , . . . 62
A Estrutura da Oferta ............... - ........ - 62
A Oferta em Mercados Competitivos . . . . . . . . . . . . 66
Custos Fixos e Custos Variáveis ............... _ 68
Análise Marginal . _.......... _. _.. _.......... _ 73
A Oferta num Sistema Monopolístico . . . . . . . . . . . . 79
Algumas Considerações Quanto à Eficiência Econômica 84
Resumo . _....... _................. __ . . . . . . . . 8)
Questões para Discussão ........... _. . . . . . . . . . . 86
SUMARIO IX
Capítulo 6 - OS AGREGADOS ECONôMICOS E O SETOR
REAL ....................................... 88
O F1uxo Econômico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . 89
A Poupança e o Investimento .. . .. .. . .. .. .. .. .. 92
Alguns Conceitos .. .. .. .. . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 94
Os Vazamentos e as Injeções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
A Determinação do Equilíbrio do F1uxo Econômico 97
Variações nos Investimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
O Governo e o Nível de Renda . . . . . . . . . . . . . . . . 103
A Inflação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
O Multiplicador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
Resumo . . . . . . . . . . . . . .. .. . . .. . . . . . . . . .. . . .. . . 110
Questões para Discussão .... _......... . . .. • . . . . . 110

Capítulo 7 - O SETOR MONETÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . 113


O Dinheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
O Setor Monetário e o Setor Real . . . . . . . . . . . . . . 114
A Preferência pela Liquidez e a Taxa de Juros 117
A Função Investimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
A Oferta de Dinheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Tipos de Política Monetária .. .. .. . .. .. . .. .. .. .. 123
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
Questões para Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124

Capítulo 8 - O SETOR EXTERNO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126


A Determinação da Taxa de Câmbio . . . . . . . . . . . . . 126
O Balanço de Pagamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
Por Que Comerciar com o Exterior? . . . . . . . . . . . . 131
O Setor Externo e o Nível Interno da Renda 133
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
Questões para Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136

Capítulo 9 - DESENVOLVIMENTO ECONôMICO 138


Crescimento Econômico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
Crescimento e Desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
O Desenvolvimento Econômico nos_ Países Subdesenvol-
vidos ............................ _. . . . . . . 143
Obstáculos Mais Comuns ao Desenvolvimento em Paí·
ses Subdesenvolvidos . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . 143
O Planejamento Econômico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
Questões para Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
X SUMARIO
Introdução
1
O problema da definição, de forma concisa e completa, da
Economia como ciência e de sua situação na área de estudo tem
desafiado pensadores, desde Adam Smitb até nossos dias.
Smith classificou sua obra A Riqueza das Nações como "uma
investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das Nações".
J. S. Mill considerava a Economia como "a ciência prática da pro-
dução e distribuição da riqueza".
Mais modernamente, a ênfase tem passado do conceito de ri-
queza como ponto focal do estudo da Economia para o conceito
de bem-estar material, ou seja, vem-se dando mais importância
ao aspecto humano e seu relacionamento com bens materiais.
Tal tendência fica clara na definição de Alfred Marshall, que
talvez seja a definição mais conhecida e que diz: "Economia é o
estudo do homem dirigindo sua vida cotidiana" ( "Economics is a
study of mankind in tbe ordinary business of life").
A popularidade da definição de Marshall talvez possa ser
explicada por seu alto grau de generalidade, englobando os aspectos
mais· particulares constantes de outras definições.
Embora as definições criem grandes controvérsias, todas con-
cordam, com relativa facilidade, no tocante à área de ação da
Ciência Econômica. Ela fornece respostas parciais a questões como:
"Que deve uma sociedade ou um país produzir? Como se determi-
nam os preços? Como se forma e se altera a renda de um país?
O que determina a poupança e o investimento? Por que há períodos
de crescimento econômico e períodos de estagnação? Que é a in-
flação? Qual a política econômica que o governo deve adotar? Qual
o seu papel no bem-estar da população? O que determinam as rela-
ções econômicas internacionais? Por que existem disparidades nos
níveis de riqueza entre regiões do mesmo país?
INTR.ODUÇAO
1
Estas e infinitas outras perguntas enquadrain-se na área de
estudos da Economia e para elas os economistas tentam achar
respostas adequadas.
Para tal, os economistas observam a realidade e, baseados na
seleção de certas propriedades e sua relação com fatos, criaram
uma teoria.
A teoria é testada através de modelos que nada mais são do
que simulações da realidade, tentando reconstituir-as relações entre
as propriedades observadas empiricamente. Assim, a Ciência Eco-
nômica, como toda ciência, não pode ser concreta e necessita de
graus variáveis de abstração. Não se deve esperar da Ciência Eco-
nômica indicações exatas, nem prognósticos precisos, visto que a
teoria nada mais é do que uma aproximação altamente simplificada
da realidade, a qual é infinitamente complexa, principalmente nas
áreas das Ciências Sociais.
É necessário, por exemplo, supor que o homem seja racional
em todos os seus atos econômicos. Se tal implicação não fosse
adotada, seria impossível montarcse uma teoria que levasse em
consideração os caprichos e impulsos, às vezes irracionais, dos in-
divíduos.

O PROBLEMA ECONôMICO

O problema econômico aparece quando se usam recursos para


a satisfação de necessidades ou desejos do homem. Os recursos
a serem utilizados não são somente recursos naturais, como terra,
água, minerais, vegetais etc., os quais, muitas vezes, o- homem não
necessitou transformar ou beneficiar. Os recursos incluem também
recursos físicos e mentais do homem, como sua força bruta e inte-
ligência, além de instrumentos, ferramentas, máquinas e edifícios
por ele fabricados.
O economista chama a todos esses recursos fatores de produ-
ção, porque eles são usados para a produção de coisas que atendem
às necessidades dos homens. Estas coisas são chamadas bens. Além
de bens, os fatores de produção podem criar serviços, qne ignal-
mente atendem a necessidades humanas, que, todavia, não são sa-
tisfeitas por bens físicos, concretos, tangíveis e, sim, por simples
solicitação de necessidade não material, como educação, limpeza,
um corte de cabelo etc.
O ato de fazer esses bens e serviços chama-se produção e o
ato de usá-los para satisfazer a necessidades chama-se conswrw.
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA
2
EscasseL Os desejos e necessidades humanas são insaciáveis
e, assim, a procura ·de bens e serviços pelo homem para satisfazer a
tais desejos é infinita. Na realidade, a procura efetiva de bens e
serviços é limitada pelo poder aquisitivo dos indivíduos; mas a
procura potencial é, de fato, infinita. Sempre que possível, o homem
tentará obter uma quantidade crescente de bens e serviços para
satisfazer a seus desejos.
No 'entanto, os recursos ou fatores de produção existentes são
limitados, criando-se, assim, uma escassez relativa de produção
com respeito aos desejos. Toma-se necessário, então, que o homem
crie um mecanismo pelo qual seja possível decidir o que será pro-
duzido; quais os desejos que serão satisfeitos; que quantidades serão
produzidas; como será efetuada a produção; como obter o máximo
de um conjunto de recursos escassos; como será distribuida a pro-
dução; quem terá seus desejos satisfeitos e quem não os terá.
Escolha. Em virtude da escassez, somos obrigados a escolher.
Se preferirmos produzir maior quantidade de um determinado bem,
devemos, então, aceitar uma quantidade menor de outro, já que
os recursos são limitados.
A escolha econômica é feita de várias maneiras, dependendo
do sistema econômico vigente. Em certas economias primitivas, a
escolha é feita pelo chefe do grupo; em economias socialistas, a
decisão é centralizada. Nas economias capitalistas, as decisões ou
escolhas econôruicas são individualizadas e feitas pelos consumido-
res e pelos produtores, através do poder aquisitivo que o dinheiro
lhes confere. No mundo ocidental moderno, existe um sistema
misto, onde, além do poder de escolha anferido pelo dinheiro, as
decisões também são tomadas por delegação de poder, como pelos
sindicatos, pelo governo etc.
A escolha pode ser exemplificada, usando-se o caso de uma
dona de casa que se dirige ao mercado para fazer compras, levando
consigo uma certa quaotia que, assim, liruita o montante de com-
pras que poderá efetuar, para satisfazer a suas necessidades ou
desejos. Suponhamos que seu poder de compra seja de Cr$ 100,00
e que os produtos à venda se limitem a laranjas, maçãs e peras.
Certamente, várias serão as combinações possíveis para esta dona
de casa; no entanto, ela escolherá a combinação que, dentro do
limite imposto por seu poder aquisitivo, melhor puder satisfazer a
seus desejos.
Da mesma forma, uma economia, liruitada por sua dotação
fatorial, escolherá a combinação possível de produtos que mais
satisfação proporcionar à coletividade.
m'TRODUÇAO
3
Vejamos o exemplo concreto na tabela 1.1 que nos indica
algumas das várias combinações de frutas possíveis, cujo custo
seja igual ao dinheiro em poder da dona de casa, ou seja, Cr$
100,00.

TABELA 1.1

COMBINAÇõES POSSIVEIS SUJEITAS À LIMITAÇÃO DO


PODER AQUISITIVO

. Dúzias de Dúzias de Dúzias de


Laranjas Maçãs Peras Despesa total
(a Cr$ 5,00) (a Cr$ 10,00) (a Cr$ 20,00)

10 3 1 100,00

20 - - 100,00

- I 5 2,5 100,00

5 2,5 2,5 100,00

1 3,5 3 100,00

etc. etc. etc. 100,00

Podemos notar que, para uma compra de uma dúzia de peras,


ela terá de deixar de comprar duas dúzias de maçãs ou 4 dúzias de
laranjas ou uma combinação entre elas, de modo que sejam libe-
rados Cr$ 20,00, que é o preço de uma dúzia de peras.
Em termos de uma economia, quando se decide pela produção
de um bem qualquer, também se está sacrificando algo que poderia
ter sido produzido com os recursos que dirigimos à produção do
bem escolhido. A isto chamamos custo de oportunidade de um
bem. Sempre que houver escassez, teremos de sacrificar algo, para
obtermos alguma coisa. Este sacrifício é o custo de oportunidade.
INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA
4
CURVA DE POSSffiiLIDADE DE PRODUÇÃO

Vamos supor uma economia que produza somente dois bens,


dada uma dotação fatorial definida.
A Curva de Possibilidade de Produção, também chamada Cur-
va de Transformação, é o conjunto de pontos que indicam as
combinações possíveis dos dois bens, de tal forma que todos os
fatores de produção sejam utilizados, dado um certo nível de desen-
. volvimento tecnológico.
O gráfico 1.1 representa a curva de possibilidade de produção
para um país que produz somente trigo e automóveis. O eixo hori-
zontal representa a produção de trigo e o eixo vertical, a produção
automobilística.
GRÁFICO 1.1

CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO

~ ~
-~
>
•O ~

s
2 ~

<= M

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Trigo ( 1.000 toneladas)

Se todos os fatores de produção fossem utilizados somente na


produção de trigo, poder-se-ia produzir um total de 10.000 tone-
ladas. Se, no entanto, o país resolvesse produzir somente automóveis,
produziria um total de seis veículos. A curva de possibilidade de
r-•odução indica todas as combinações possíveis de trigo e auto-
móveis, como, por exemplo, 5.000 toneladas de trigo e 3 auto-
móveis. ·
lliTRODUÇÃO
5
A curva de possibilidade de produção, em si, não indica qual
a combinação que será escolbida, mas tão somente todas as possi-
bilidades abertas à economia. Podemos ter certeza, no entanto,
de que, se a comunidade agir racionalmente, jamais se estabelecerá
em qualquer ponto no interior da curva, pois isto implicaria em um
aproveitamento parcial de seus recursos, ou seja, haverá desemprego
de fatores de produção. A curva indica as combinações possíveis,
com a utilização total dos fatores, o que exclui todo e qualquer
ponto à direita da curva, por serem combinações que exigiriam
mais fatores de produção do que os disponíveis.
Uma curva de possibilidade de produção reta, como no. grá-
fico 1.1, indica que os custos de oportunidade são constantes. Qual-
quer movimentação de fatores da produção de automóveis para
à de trigo, ou vice-versa, significaria que os fatores possam sempre
produzir automóveis e trigo numa .proporção fixa de 6:10.000. Tal
fenômeno decorre do fato de que, qualquer que seja o nível da ·
produção de automóveis ou de trigo, os fatores de produção reti-
rados de um setor e transferidos para o outro serão tão eficientes
quanto os já utilizados anteriormente. Se, no entanto, os fatores
a serem transferidos forem continuamente menos eficientes do que
os anteriores, o custo de oportunidade será crescente e a curva de
possibilidade de produção será côncava, com relação à origem,
como vemos no gráfico 1.2.

INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA


6
GRÁFICO 1.2

CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO


CUSTO -DE OPORTUNIDADE CRESCENTE

B
c
D
0
·-Qj
> E
•O

j F

<" I '
I
I I.

' '
o G H l J A

Trigo (1.000 toneladas)

O caso descrito no gráfico 1.2 indica uma economia que po-


deria produzir ou OB de automóveis ou OA de trigo.
Partindo-se do ponto B, notamos que, para cada decrésciino
uniforme de produção de automóvel (BC = CD = DE = EF), o
aumento na produção de trigo é decrescente ( OG > GH > HI
> IJ), o que indica que o custo de oportunidade do trigo é cres-
cente, em decorrência do fato de que os fatores não são igualmente
eficientes na produção de automóveis e de trigo.
Verificamos, então, que a escassez de recursos nos obriga a
optar.entre a alocação dos fatores na produção de bens alternativos.
A escolha entre os objetivos vários e conflitantes é bem exempli-
ficada pelo conceito de custo de oportunidade. Por exemplo, o
custo de oportunidade de GH de trigo, no gráfico 1.2, é igual a
CD de automóveis.
A Ciência Econômica refere-se a esse dilema e tenta deter-
minar:
- que bens e serviços produzir e em que quantidades;
- como maximizar a produção, dada uma certa dotação
fatorial;
INTRODUÇÃO
7
- como distribuir a produção entre os membros da comu-
nidade;
- como atingir, a longo prazo, níveis mais altos de produção
e consumo.

RESUMO

A escassez de recursos produtivos, frente à insaciabilidade dos


desejos humanos, criou a necessidade da escolba para a maximiza-
ção da satisfação, escolba esta que acarreta sempre o sacrifício
de algum bem. ou serviço (custo de oportunidade) . Aí está a essên-
cia do problema econômico, que é resolvido por urna série de
padrões de comportamento, os quais a Ciência Econômica estuda.

QUESTõES PARA DISCUSSÃO

1) Por que razão estudamos Economia?

2) "O objetivo de toda produção é satisfazer a desejos hu-


mailos.." Comente.

3) A riqueza, como um estoque de bens acumulados até


um dado momento, precisa ter 4 qualidades:
a) deve proporcionar satisfação;
b) deve ter valor monetário;
c) deve ser limitada quantitativamente e
d) deve poder ser transferida a outras pessoas.
Justifique a necessidade dessas qualidades, para que um
bem possa ser considerado como riqueza.

4) O dinheiro constitui riqueza


a) para um indivíduo?
b) para uma comunidade?

5) O processo produtivo moderno baseia-se grandemente na


divisão do trabalho. Quais as vantagens (e desvantagens)
que dela se podem auferir?
INTRODUÇãO A TEORIA ECONOMICA
8
6) Marshall afirmou: "De certa maneira, só há dois agentes
de produção, a natureza e o homem." Comente.

7) Alguns autores afirmam que o empresário deveria ser


considerado como um fator de produção distinto do tra- ·
balho ou mão-de-obra, visto ter funções que o diferenciam
do trabalhador, ou seja,
a) aceitação de risco;
b) controle e organização;
c) introdutor de inovações.
Você concorda?

8) "O fator te"a (recursos naturais) é limitado em quanti-


dade e não tem custo de produção." Você concorda?

9) A. Lei dos Rendimentos Decrescentes nos diz que, com


aplicações sucessivas de fatores, mantendo-se um deles
constante, após um certo ponto a produção aumentará .
menos que proporcionalmente. Assim sendo, a aplicação
desta lei no fator te"a levar-nos-á, fatalmente, a uma
estagnação do setor agrícola?

1O) A quantidade do fator trabalho disponível depende basi-


camente de:
a) população;
b) percentagem de população disposta a trabalhar;
c) o período de trabalho.
Justifique estas influências na disponibilidade de mão-de-
-obra.
11 ) Para o economista, capital é riqueza que pode ser usada
para a produção de mais riqueza. Justifique essa definição.

12) Como o crescimento econômico de uma comunidade afe-


taria a curva de possibilidade de produção?

13 ) Economistas usam a expressão "bens livres" para des-


crever bens que são tão abundantes que todos podem
ter a quantidade que desejarem dos mesmos. Quantos
bens livres você poderia enumerar?
INTR.ODUÇAO
9
14) O que determina o valor de um bem? O seu custo de
produção ou sua escassez relativa?

15) No gráfico 1.1, determine o custo de oportunidade da


produção de· 6.000 toneladas de trigo.

16) Você acha que a Economia ( conio uma preocupação dos


homens por problemas econômicos) sempre existiu ou
só surgiu com o aparecimento das nações modernas?
17) O que ocorreria com a curva de possibilidade de produ-
ção, se houvesse uma inovação tecnológica que aumen-
tasse a eficiência dos fatores na produção de um só bem?

}Q INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA


O Mecanismo de Tomada
de Decisões 2
O que descrevemos no capítulo anterior é o cenário no qual
uma comunidade opera em termos econômicos. No sistema capita-
lista, a comunidade age em termos dos indivíduos que a compõem.
Cada um, perseguindo os seus interesses próprios e tendo como
objetivo a maximização de sua satisfação, contribui para a maxi-
mização do grau de satisfação da comunidade como um todo.
Uma economia, dados uma certa dotação fatorial e um certo
nível tecnológico, que produzisse, por exemplo, somente 2 bens,
a e b, teria, conseqüentemente, uma certa curva de transformação.
A questão que se propõe, então, seria qual combinação de bens
produzir.
Vários poderiam ser os sistemas decisórios. Poder-se-ia, por
exemplo, produzir uma combinação dos dois bens, tal que cada
indivíduo da comunidade recebesse quantias iguais às de todos os
outros indivíduos. Haveria, no entanto, certos indivíduos que pre-
feririam o bem a, a ponto de, prazeirosamente, permutarem duas
unidades do bem b recebido por uma unidade adicional de a; igual-
mente, poderiam existir indivíduos que tivessem preferência pelo
bem b, a ponto de aceitarem duas unidades a menos de a por uma
unidade adicional de b. Se se conseguir acasalar estes dois gru-
pos possíveis, eles permutariam os bens a e b entre si e,. assim,
conseguiriam aumentar sua satisfação.
Poderíamos também conceber um outro sistema deci~ório, mais
centralizado, onde todas as preferências individuais fossem levadas
em conta e as quotas dos bens a e b atribuídas a cada indivlduo
já refletissem tal diversidade.
O que podemos notar nos dois sistemas descritos anteriormente
é que ambos são demasiadamente pessoais· e exigem uma quanti-

O MECANISMO DE TOMADA DE DECISOES


11
dade de informações que ainda hoje nos são inacessíveis. No pri-
meiro exemplo, haveria necessidade de que uns indivíduos pro-
curassem outros que aceitassem realizar a troca de mercadorias, de
tal forma que satisfizesse aos dois; no segundo, haveria necessidade
de uma compilação das preferências individuais.
Temos, assim, uma primeira visão das dificuldades encontra-
das por possíveis sistemas decisórios.

O SISTEMA DE PREÇOS
Como mencionado acima, o sistema capitalista não é centra-
lizado e as decisões são tomadas pelos próprios indivíduos, por
intermédio de um sistema impessoal e que lida com o problema
da informação por um mecanismo codificado. Referimo-nos ao
conceito de mercado, que age através do Sistema de Preços. Agindo
em benefício próprio, os indivíduos, impessoalmente afetando e
sendo afetados pelo sistema de preços, tomam as decisões que
maximizarão a satisfação coletiva. ·
É importante notar que o sistema de preços impõe certos pré-
-requisitos que se permeabilizam intensamente numa cultura, atra-
vés de suas estruturas política, social e moral, como, por exemplo,
os direitos da liberdade de escolha e da propriedade privada, ~em
os quais as decisões individuais perderiam o sentido.
Vejamos agora, num exemplo concreto, como uma co,muni-
dade, cuja alocação de recursos já estava determinada por um
ponto em sua curva de transformação (1 ) , age através do mecanis-
mo de preços, para poder atingir um grau de satisfação maior.
Uma variação na procura de um bem quer dizer que o desejo
dos consumidores para adquirirem um bem mudou, como conse-
qüência de algo que não seja uma variação no seu preço. Por
exemplo, uma mudança na preferência dos consumidores. Isto quer
dizer que, ao mesmo preço que antes, vai-se desejar adquirir, hoje,
uma quantidade maior ou menor do mesmo bem.
Como o mercado reagiria a tal variação?·
Vamos supor que os fazendeiros cultivassem laranjas, maçãs e
peras e que, em decorrência de uma mudança na preferência dos
consumidores, a procura por laranjas houvesse aumentado. Logica-
mente, como o poder aquisitivo dos consumidores continua o mesmo,
um aumento na procura de laranjas terá de ser acompanhado por
um declínio na procura de maçãs e peras.
(1) No exemplo que segue, como a comunidade produz três bens, em reall~
dade teríamos uma super/fcie e não uma curva de transformação.

INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA


12
O que acontecerá com os preços no mercado? Como a pro-
dução continua a ser a mesma que antes do aumento na procura
de laranjas, ocorrerá uma falta destas para {~tender a todos os
consumidores e um excesso de maçãs e de peras. Isto fará com
que o preço da laranja se eleve, visto que os consumidores insatis-
feitos oferecerão preços mais altos por ela, ou com que os comer-
ciantes, vendo que não há a quantidade de laranjas suficiente para
atender a todos, elevem-lhes o preço.
O aumento no preço das laranjas fará com que os fazendeiros
cultivem mais laranjas e menos peras e maçãs, visto que as laranjas
proporcionam maiores lucros que anteriormente. Os fatores de
produção serão transferidos da produção de maçãs e peras para a
produção de laranjas e isso acarretará um aumento na produção das
últimas e um declinio na produção das primeiras.
O que acontecerá no mercado, agora que a produção de laran-
jas aumentou e a de maçãs e peras diminuiu? O preço das laranjas
diminuirá, mas ainda será mais alto do que antes da mudança da
preferência dos consumidores. Os fazendeiros, conseqüentemente,
transferirão mais recursos para a produção de laranjas até que o
preço seja tal que não mais compense essa transferência. :f: impor-
tante notar que, quando do primeiro aumento nos preços das laran-
jas, os preços das maçãs e das peras caíram muito, visto que os
comerciantes não conseguiram achar compradores para as mesmas.
Porém, no processo de transferência dos fatores de produção para
o cultivo da laranja, a produção de maçãs e peras diminuiu, fazendo
com que seus preços se elevassem um pouco.
No final do processo, as transferências de recursos cessarão,
os preços se estabilizarão (as laranjas a um preço mais alto e as
maçãs e peras a um preço mais baixo que inicialmente) e o pro-
cesso produtivo, através do mecanismo de preços de mercado, efe.
tuou uma alteração na utilização dos fatores de produção, em
decorrência de uma alteração no desejo dos consumidores. Perce-
bemos, então, que o sistema de preços de mercado funciona auto-
maticamente, sem nenhuma coordenação central, respondendo aos
desejos· dos agentes econômicos, todos eles agindo livre e individual-
mente e cada qual satisfazendo a seus próprios interesses.
O sistema de preços, reagindo a tais variações, emite sinais
que serão captados pelo processo produtivo, que fará, então, modi-
ficações correspondentes.
:f: fácil notar que o sistema de preços de mercado funciona
não só no mercado de bens de consumo, mas também no mercado
de serviços, de trabalho, de bens de capital e monetário. :f: através
0 MECANISMO DE TOMADA DE DECISõES
13
dele que todos, agindo individualmente, operam na economia e,
como resultado de pressões individuais, determinam conjuntamente
o que será produzido, como será produzido e como o produto será
distribuído.
:f;; interessante notar também que é possível atingir tais resul-
tados, em virtude da existência de competição em todos os merca-
dos. Por exemplo, é por causa da competição entre consumidores
para adquirirem a produção insuficiente de laranjas que os preços
sobem; igualmente, é por causa da competição entre os comercian-
tes que os preços das maçãs e das peras caem. Também é o me-
canismo competitivo que faz com que os fazendeiros diminuam a
produção das outras frutas, para aumentarem a de laranjas. Há
aí uma competição pelo lucro alto, o que, eventualmente, como já
vimos, leva o preço da laranja a diminuir gradativamente.
O que acabamos de descrever é a Lei da Oferto. e da Procura
e o seu mecanismo de determinação do preço.
Antes de desagregarmos o mercado em seus componentes, de-
vemos notar; então, que o sistema de preços age como um meca- ·
nisrno simbólico, orientador das ações econômicas de uma comu-
nidade.

A PROCURA.

A procura por um bem indica-nos, dados determinados con-


dicionantes, a quantidade do bem que os indivíduos desejam adqui-
rir. Os principais fatores que influenciam a procura ou a demanda
por um bem são:
a) Gosto e preferência dos membros da comunidade: vimos,
no exemplo acima, como uma mudança na preferência dos
consumidores afetou a procura pelos bens em questão e
esta, conseqüentemente, afetou todo o mercado.
b) População: o simples número de habitantes, desde que dis-
pondo da poder aquisitivo, afetará o montante procurado.
Também a distribuição da população por idade determi-
nará o perfil da procura. Uma população jovem, por exem-
plo, demandará, certamente, uma quantidade maior de pro-
dutos de consumo próprios à juventude.
c) Nível de renda da comunidade: quanto mais alto o poder
aquisitivo da comunidade, maior será o montante de bens
e serviços demandados.

14 INTRODUÇÃO A TEORIA ECONO_MICA


d) Distribuição de renda entre os membros da comunidade:
supondo-se que cada grupo sócio-econômico tenha seu pa-
drão próprio de consumo, uma modificação na parcela
da renda total recebida por cada grupo afetará o consumo
dos bens e serviços por ele preferidos. Assim, uma redistri-
buição de renda a favor das classes de alta renda causaria
um aumento na procura por bens de luxo, ao passo que, se
a redistribuição favorecesse os grupos rurais de baixa renda,
dificilmente o aumento na procura favoreceria os bens de
luxo.
e) Preços dos outros bens: suponhamos que o preço de um
bem qualquer seja constante e que os preços de bens con-
correntes caiam. Evidentemente, o consumidor racional re-
formularia seu padrão de consumo, passando a preferir os
bens cujos preços baixaram, já que são bens substitutivos
ao bem antes consumido.
f) Preço de bem em questão: evidentemente, todos sabemos
que, quanto mais alto o preço de um bem, menor quan-
tidade será demandada e vice-versa.

Todos esses fatores estão constantemente alterando-se e, con-


seqüentemente, formam um processo dinâmico, fazendo com que a
procura por um bem seja um fato muito fluido. No entanto, eco-
nomistas mantêm todos os fatores constantes (coeteris paribus),
exceto um, e assim conseguem isolar os efeitos de cada uma das
variáveis que afetam a demanda.
A Curva da Procura. A curva da procura mostra a quantidade
de um bem ou serviço que será consumido, a cada nível de preço,
. durante um determinado período de tempo. Devemos ressaltar que
somente o preço varia, determinando, assim, .um novo nível de
demanda e mantendo-se constantes todos os outros fatores que
possam afetar a procura.
A curva da procura por um bem em uma comunidade é, sim-
plesmente, a soma das curvas de procura de todos os indivíduos que
a compõem.
Da mesma maneira que na tabela 2.1 relacionamos as quanti-
dades demandadas pelos indivíduos X e Y a cada nível de preços,
poderíamos fazer o mesmo para todos os indivíduos e a soma das
procuras individuais determinar-nos-ia a tabela da procura da co-
munidade;
O MECANISMO DE TOMADA DE DECISõES
15
TABELA 2.1

PROCURA PELO BEM A DOS INDIVIDUOS X E Y

Preço por unidade Unidades demandadas Unidades demandadas


por X por y

1 10 8
2 7 6
3 5 5
4 3,5 4,5
5 2,0 3
6 1,0 1
7 0,8 o

10 0,5 o
A tabela 2.2 indica-nos a procura pelo bem A para toda a
comunidade, que nada mais é do que a soma das tabelas individuais
de todos os membros dessa comunidade. Baseando-nos na tabela
2.2, podemos montar o gráfico 2.1, que representa as informações
contidas na tabela 2.2.

TABELA 2.2

PROCURA PELO BEM A

Preço por unidade Quantidade demandada


(1.000 un.)

1 100
2 90
3 80
4 70
5 60
6 50
7 40
8 30
9 20
10 10
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA
16
GRÁFICO 2.1

A CURVA DA PROCURA PELO BEM A

o lO 20 30 40 50 60 'lO 80 ia 100

Quantidade ( 1.000 unidades)

Com o auxílio da Curva da Procura, podemos determinar as


quantidades demandadas a vários níveis de preços possíveis. Assim,
ao preço de 5, a quantidade procurada será de 60.000 unidades,
ao preço de 3 a quantidade aumenta para 80.000 e assim por diante.
Variações nos preços e as respectivas variações nas quanti-
dades demandadas são movimentos ao longo da curva da procura.
Se, no entanto, a renda da comunidade aumentar, teremos, então,
um deslocamento da curva, já que movimentos ao longo da curva
oçorrem somente quando os preços do bem em questão variam.
Igualmente, teremos deslocamento da curva, para a direita ou para
a esquerda, quando qualquer outro fator de influência na demanda,
que não seja o preço do bem em questão, variar. Tais desloca-
mentos. representam aumento ou quedas na procura, ao passo que
movimentos ao longo da curva representam aumento ou quedas nas
quantúlades procuradas.
No gráfico 2.2 está representado o caso em que houve um
aumento na renda da comunidade. Com a renda inicial de, diga-
mos, 5.000.000 de unidades monetárias, a curva da procura é re-
presentada pela reta DD. Quando a renda aumenta para, digamos,
8.000.000 de unidades monetárias, em vista do maior poder aqui-
sitivo de que agora é possuidora a comunidade, espera-se que a
O MECANISMO DE TOMADA DE DECISOES
17
curva se desloque para a direita, representando, assim, um aumen-
to na procura (D'D').
Podemos notar que, aos mesmos preços, as quantidades pro-
curadas representadas pela reta D'D' são maiores que as repre-
sentadas pela reta DD, ou seja, antes do aumento da renda.

GRÁFICO 2.2

AS CURVAS DA PROCURA, ANTES E DEPOIS DO


AUMENTO DA RENDA

10



7

3 ' --
-------- - - - - - - --+--
'
'' D'

o 10 20 ao 40 so eo 10 ao 90 100 no 120

Quantidade (1.000 unidades)

Ao preço de 5, a quantidade demandada antes do aumento


da renda era de 60.000 unidades e, depois do aumento da renda,
ao mesmo preço, a procura aumentou e a quantidade demandada
passou a ser 80.000 unidades. O mesmo fenômeno ocorreu no
exemplo dado no iuício do capítulo, quando, em decorrência de
uma mudança na preferência dos consumidores, a curva da pro-
cura por laranjas se deslocou para a direita.

A OFERTA

O segundo componente do mecanismo de mercado é a oferta,


que representa o comportamento dos produtores. A oferta por um
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA
18
bem indica-nos, dados determinados condicionantes, a quantidade
do bem que os indivíduos desejam produzir e oferecer no mercado.

Os principais fatores que influenciam a oferta de um bem são:


a) Os objetivos das pessoas físicas e/ ou jurídicas: embora a
Teoria Econômica pressuponha a racionalidade dos indi-
víduos e; portanto, que. eles desejem maximizar seus lucros,
existem restrições de ordem moral e legal em alguns casos
que impedem que a obtenção do maior lucro possível seja
o objetivo predominante dos produtores. Assim, o preço
de mercado deixa de ser o determinante exclusivo, coeteris
paribus, da oferta e a ele se juntam objetivos de bem-estar
coletivo e desejo de servir à comunidade.
b) O nível de avanço tecnológico: quanto maior for o avanço
tecnológico, maior será o aproveitamento dos recursos pro-
dutivos disponíveis e, portanto, maior poderá ser a oferta
por bens e serviços. Este fenômeno está intimamente ligado
ao efeito do custo de produção na oferta.
c) Preço dos outros bens: os produtores, na competição pelo
lucro, investirão seus recursos na produção de bens que lhes
proporcionem os melhores retornos. Assim, o nível do preço
dos outros bens, principalmente aqueles que poderiam ser
produzidos com, aproximadamente, os mesmos recufSús uti-
lizados na produção de outros, poderá atrair para este setor
fatores de produção empregados em outras atividades. No
exemplo do início do capítulo, foi o que ocorreu, quando
os produtores de maçãs e peras se transferiram para a pro-
dução de laranjas, que, em virtude do aumento de seus
preços, poderiam proporcionar melhores rendimentos.
d) Preço do bem em questão: quanto mais alto for o preço
de mercado do bem produzido, maior será o incentivo aos
empresários para aumentar a produção(2).

Da mesma maneira que na procura, os economistas mantêm


todos estes fatores constantes, exceto um, e conseguem, assim,
isolar os efeitos de cada uma das variáveis que afetam a oferta.
(2) Pressupõe~e. aqui, que haja Competição Perfeita e que os custos mar-
ginais sejam crescentes, como veremos adiante.

O MECANISMO DE TOMADA DE DECISOES


19
A Curva da Oferta. A curva da oferta mostra· a quantidade
de um bem ou serviço que será oferecido no mercado, a cada nível
de preço, durante um período determinado. Devemos ressaltar que
somente o preço do bem em questão varia, mantendo-se constantes
todos os outros fatores que possam afetar a oferta do bem.
A curva da oferta de um bem de uma economia é a soma das
curvas de oferta de todos os empresários (produtores) da comu-
nidade.
A tabela 2.3 relaciona as quantidades ofertadas pelos produ-
tores M e N a cada nível de preço. Prosseguindo, se relacionarmos
as quantidades ofertadas por todos os empresários e as somarmos,
obteremos a curva da oferta da comunidade.

TABELA 2.3

OFERTA DO BEM A PELOS PRODUTORES ME N

Preço por unidade Unidades ofertadas Unidades ofertadas


porM por N

1 o o
2 o o
3 o 20
4 55 65
5 65 78
6 74 86
7 80 93
8
9
10 92 100

Os empresários, baseados nos preços alternativos e em suas


estruturas de custo, oferecem várias quantidades no mercado e a
soma das ofertas de todos está relacionada na tabela 2.4. Baseados
na mesma, as quantidades ofertadas podem ser descritas grafica-
mente, como no gráfico 2.3.
INTRODUÇAO A TEORIA EÕONOMICA
20
TABELA 2.4

OFERTA DO BEM A

Preço por unidade Quantidade ofertada


(em 1.000 uu.)

1 o
2 o
3 20
4 40
5 60
6 80
7 100
8 120
9 140
10" 160

GRÁFICO 2.3

A CURVA DA OFERTA DO BEM A

10

.,
~ 7
.,
~
8
·a
"o
,. •'
~

oQ 3
~
~
2
""

Quantidade ( 1.000 unidades)

O MECANISMO DE TOMADA DE DECISOES


21
Podemos ver que, ao preço de 5, a quantidade ofertada será
de 60.000 unidades e, ao preço de 3, a quantidade ofertada reduz-se
para 20.000, já que alguns produtores; cuja estrutura de custos de
produção seja mais elevada, serão obrigados a abandonar a produ-
ção de A, por não obterem os lucros necessários para mantê-los
no negócio.
O mecanismo acima descrito representa um movimento ao
longo da curva de oferta, num raciocínio análogo ao da curva da
procura, e causa aumentos ou quedas nas quantidades ofertadas.
Se, no entanto, algum outro fator, que não o preço de A, variar,
ocorrerão deslocamentos da curva, que representam aumentos ou
quedas na oferta.
O gráfico 2.4 ilustra caso de uma ínovação tecnológica íntro-
duzida na produção de A. Como conseqüência, houve uma queda
nos custos de produção.
GRÁFICO 2.4

AS CURVAS DA OFERTA, ANTES E DEPOIS DA


INOVAÇÃO TECNOLOGICA

10

'
8

o
~

• 6
~ 5

"o 4

"'o
~
3
• 2
""
o g
õ ~
~
o ~ ~ ~ ~ g ;g g õ ~ ~ g ~
~

Quantidade (1.000 unidades)

Vemos que, com a redução nos custos, os produtores, aos mes-


mos preços que anteriormente, oferecem, agora, quantidades maiores
no mercado. Ao passo que a curva 00 nos indica que somente com
um preço de mercado •uperior a 2 unidades monetárias os produ-

22 INTRODUÇÃO A TEORIA ECON OMICA


teres. ofereceriam A no mercado, a curva 0'0' mostra-nos que, agora,
a qualquer preço superior a 0,5 unidades monetárias, haverá pro-
dução ofertada.

O PREÇO DE EQUILlBRIO
No gráfico 2.5, curvas de oferta (00) e procura (DD) pelo
bem A estão superpostas. Podemos, agora, verificar que só há
um preço que iguala a quantidade ofertada à procurada.
Ao preço· de 3, por exemplo, a quantidade ofertada será de
20.000 unidades, ao passo que a quantidade demandada será de
80.000 unidades. Como a procura é maior do que a oferta, o preço
de mercado tenderá a subir, conforme virilos no exemplo inicial
do capítulo, e ele oscilará até que atinja o nível de 5 unidades mo-
netárias quando as quantidades ofertada e procurada igualarão a
60.000 unidades.
Ao preço de 5, tanto os produtores quanto os consumidores
poderão satisfazer a seus desejos no mercado e estabelecer-se-á o
equilíbrio.
GRÁFICO 2.5

AS CURVAS DA PROCURA E DA OFERTA PEW BEM A

"
9

~• •

~
·;:;
• •
"
o
~

o
li'

"'" 2

Quantidade (1.000 unida.des)

Tanto os consumidores quanto os produtores poderão realizar


seus planos de compra e venda, respectivamente, e não terão qual-
quer incentivo para alterarem suas condutas no próximo período.
O MECANISMO DE TOMADA DE DECISOES
23
O gráfico 2.5 também ilustra o efeito no preço de equilíbrio
de um deslocamento na curva de procura (de DD para D'D') que
passou a ser de 5,4 unidades monetárias, com as quantidades ofer-
tadas e procuradas iguais a 66.000 unidades do produto.
Deixaremos para o leitor responder se foi este o caso que
ocorreu com o mercado de laranjas, no exemplo dado no início do
capítulo.

O SISTEMA DE PREÇOS COMO MECANISMO DECISúRIO


Se a economia que vimos descrevendo só produzisse dois bens
A e B, e as curvas de oferta e procura pelo bem A fossem repre-
sentadas pelas retas 00 e DD, ela estaria estacionada no ponto P
de sua curva de poss.ibilidade de produção, como podemos cons-
tatar comparando os gráficos 2.5 e 2.6.
Estariam sendo produzidas 60.000 unidades de A ao preço de
5 unidades monetárias e sendo demandada a mesma quantidade,
bem como, aproximadamente, 135.000 unidades do bem B (as cur-
vas dá oferta e procura pelo bem B não foram aqui representadas.
Supomos, no entanto, que a quantidade de equihôrio no mercado
de B seja de 135.000 unidades).

GRÁFICO 2.6

CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO

>00

~ '"·~
-~

,.'"
~ >oo

"] 00
00
;o

~ 00

~ 00
& ~

"
",.

Quantidade bem A (1.000 unidades)

INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA


24
Havendo o deslocamento da curva de procura pelo bem A
para D'D', digamos, em decorrência de uma modificação na prefe-
rência da comunidade favorecendo o bem A, o mercado, agindo
como mecanismo decisório, deslocará o ponto P para a direita, ao
longo da curva de transformação.
Em decorrência da maior procura por A, o preço subirá para
o novo preço de equilíbrio, igual a 5,4 unidades monetárias. A este
novo preço, mais elevado que o preço anterior, os produtores passa-
rão a alocar uma maior quantidade ·de fatores na produção de A
e uma quantidade menor na produção de B.
No novo ponto P', a economia estará produzindo 66.000 uni-
dades de A e 127.000 unidades de B, satisfazendo, assim, ao aumen-
to da procura dos consumidores de A.
Podemos perceber, então, que os consumidores, agindo no mer-
cado, elevaram o preço de A e, assim, sinalizaram aos produtores,
através do preço mais alto, os quais responderam ao sinal, ofere-
cendo uma quantidade maior de A no mercado.

RESUMO

O problema da escolha é solucionado no sistema capitalista


·pelo mecanismo de mercado. Nele, os produtores e os consumidores ·
afetam e são afetados pelos preços de mercado e, assim, alteram
sua conduta respondendo aos sinais emitidos pelo sistema de preços.
Tal mecanismo decisório é impessoal e descentralizado (ou
mesmo atomizado) e é, como diz o Prof. Robert Dorfman, neste
contexto, que "a eficiência do sistema de preços como uma maneira
de passar informações deve ser admirada ( ... ) Nenhum código
jamais engendrado pelo homem pode aproximar-se da eficiência (do
sistema de preço), que simplesmente evoluiu através dos tempos"(3).

QUESTõES PARA DISCUSSÃO

1) Descreva as reações no·' mercado, se os fazendeiros, no


exemplo dado no início do capítulo, decidissem produzir
mais maçãs e menos laranjas e peras.
2) Demonstre como a curva da procura se desloca quando:
a) a população aumenta;
-:::-::-:--c
(3) Robert Dorfman, The Price System, Prentice-Hall Inc., New Jersey, 1965,
2.a edição, pág. 7.

O MECANISMO DE TOMADA DE DF.tJISóES


25
b) a renda diminui;
c) o preço dos outros bens sobe;
d) o preço dos outros bens cai.

3) Construa a curva da procura por ovos, dado o consumo


mensal de uma dona de casa representado na tabela a
seguir.

Preços Quantidade (dúzias)

1 14
3 7
6 4,5
9 3
12 2
14 1

l4

15
12

11

10

o

~

~
"' •'
4

Quantidade (dúzias)

INTRODUÇAO A TEORIA ECONôMICA


26
Caso o preço aumentasse de 9 para 14 unidades monetá-
rias, a dona de casa iria (aumentar-diminuir) suas compras
de . . . . . . . . . . . . dúzias de ovos.
A uma queda no preço, haveria uma variação na (curva
de procura, quantidade procurada) .
A visita de um parente que gosta de ovos fez com que a
dona de casa passasse a comprar uma quantidade maior
de ovos aos mesmos preços. Houve um (movimento ao
longo da curva, deslocamento da curva) .

4) No gráfico abaixo, DD representa a curva da procura ori-


ginal e D'D' a curva no período seguinte, após uma mu-
dança nas preferências dos consumidores.

P'
"'o
·~

~
0.. p
D

D'

Quantidade

O que significa uma curva de procura com a forma de


DD, comparada com as curvas de pr-ocura retilineas?
Com a modificação de DD para D'D':
a) a procura (aumentou, diminuiu, permaneceu a mesma).
b) se o preço tivesse mudado de OP para OP', a quanti-
dade demandada teria (aumentado, diminuído, perma-
necida a mesma).
O MECANISMO DE TOMADA DE DECISOES
27
5) Demonstre C{)mo a curva da oferta se desloca quando:
a) o preço doo outros bens sobe;
b) o custo da produção cai;
c) a firma decide, por outros motivos que não o lucro,
aumentar a oferta.

6) O que ocorreria com o preço de mercado se:


a) a oferta aumentasse;.
b) a procura caísse;
c) a oferta caísse e a procura aumentasse.

7) O que poderia ocorrer se:


a) o governo tabelasse o preço de um bem;
b) o governo estabelecesse um preço acima do nível de
eqúilibrio.

8) Represente graficamente a tabela abaixo e determine o


preço de equilíbrio. Nesta economia, só há 3 compradores
e 2 vendedores.

Quantidades

Preço Comprador Comprador Comprador Vendedor Vendedor


1 2 3 1 2
1 20 10 18 8 3
2 10 8 18 13 10
3 5 7 16 15 13
4 o 3 12 21 1ô
5 o 1 10 30 19

Ao preço de 5, a quantidade ofertada será (maior, menor,


igual) em relação à quantidade demandada.
Ao preço de 5, o preço de mercado tenderá a (subir, di-
minuir, permanecer o mesmo).
INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA
28
Ao preço de 6, os consumidores desejarão consumir ....
unidades e os produtores desejarão vender. . . unidades.
Como a quantidade que os consumidores desejam é (maior,
menor) que a que os vendedores desejam oferecer, o preço
tenderá a (subir, cair).

9) · Este capítulo menciona, com freqüência, o mecanismo de


alocação de recursos de uma comunidade. Será que o fato
de grandes somas de dinheiro serem gastas em cigarros,
bebidas, pornografia etc. não prova que o sistema está alo-
cando recursos de forma não desejável?

10) Você acha que, em realidade, os agentes econônticos (pro-


dutores e consuntidores) agem da maneira descrita no
texto do capítulo?

O MECANISMO DE TOMADA DE DECISõES


29
As Reações do Mercado
3
Vimos, nos capítulos anteriores, que é através da Lei da
Oferta e da Procura que decisões são tomadas no sistema capi-
talista. A oferta e a procura, agindo livremente no mercado, esta-
belecerão preços que orientarão os agentes econômicos em suas
decisões.
Neste capítulo, abordaremos aspectos relacionados às reações
do mercado, face a modificações nas estruturas da oferta e da
procura.

INTERDEPEND~NCIAS NA DEMANDA E NA OFERTA

Demanda Complementar. Certos produtos são, muitas vezes,


complementares de tal forma que a demanda por um, automatica-
mente, cria demanda pelo outro. Por exemplo, automóveis e gaso-
lina, açúcar e café, cigarro e fósforo etc. Desta maneira, toda
vez que haja uma modificação qualquer na demanda por um deles,
a demanda pelo outro também será afetada.
Nos gráficos 3.I e 3.2, temos o caso de dois mercados, A e B,
de bens que são complementares. O aumento na procura do bem A
(por exemplo, em decorrência ue uma maior preferência pelo bem
B) de DaDa para D'aD' a, também causou um aumento na procura
do bem B de Dt,D. para D'•D'•,

30 INTRODUÇãO A TEORIA ECONôMICA


DEMANDAS COMPLEMENTARES
Bom B

o, o·,
o,

o· •
o·.
o,

o '· o· ::-
Quantldad~ Quantidade

GRÁFICO 3.1 GRÁFICO 3.2

Devemos notar que, embora bens complementares sofram efei-


tos de interdependência, os aumentos ou quedas, em suas procuras,
não são necessariamente iguais ou proporcionais. Por exemplo,
um aumento na procura por café em 1O kg não implica em um
aumento de 1O kg por açúcar; da mesma forma, um aumento em
10% na procura por automóveis pode não implicar em um aumento
em 1O% na procura por gasolina, visto que os novos automóveis
poderiam não ser usados com a mesma intensidade que os exis-
tentes antes do aumento da demanda.
Notamos também que as condições de oferta dos bens com-
plementares não são necessariamente semelhantes, como podemos
notar comparando, nos gráficos 3. 1 e 3. 2, as curvas O,Ob e ObO,.
Em decorrência de todas estas diversidades, o ajustamento do
mercado poderá ser dessemelhante para os dois produtos comple-
mentares.
Notamos nos gráficos acima que o mercado do bem A deter-
minou um aumento no preço de A de OP., para OP2, aumento este
maior que o do bem B, que foi de OP', para OP'2. Quanto às novas
quantidades transacionadas, houve um aumento maior no bem B
de Oq', para Oq'2 do que no bem A de Oq, para Oq2.
AS REAÇOES DO MERCADO
31
Demanda Competitiva. Alguns produtos competem intensa-
mente uns com os outros. Seria o caso de manteiga e margarina,
leite fresco e leite em pó, ir ao Teatro X ou ao Teatro Y etc. Em
certo sentido, todos os bens produzidos numa comunidade com-
petem com todos os outros, já que, sendo o poder aquisitivo dos
consumidores limitado, a opção por um produto qualquer implica
a redução do consumo de algum outro. No entanto, certos produ-
tos concorrem de maneira tão direta que são chamados de bens
competitivos ou substitutos. ·
Nos gráficos 3.3 e 3.4, temos o caso de dois produtos M e N,
que são competitivos ou substitutos. Um aumento na procura pelo
bem M implica em uma queda na procura pelo bem N.

DEMANDA COMPETITIVA
B~m M s ..m !'.'

c
o
c.

o.
,.,
~
r • P'2


•.• "·'
"'
o,
o - '· o· ' '
Quantidade Q~>antid.ad<>

GRÁFICO 3.3 GRÁFICO 3.4

Notamos que, antes das modificações pa procura pelos bens


M e N, a curva da procura no mercado do bem M era a DmDm, a
oferta OmOm e, ao preço de OP,, era transacionada a quantidade
O'q1. Com o aumento na procura de DmDm para D'mD'm o preço
subiu para OP, e a quantidade transacionada para O'q,.
No mercado do bem N, devido à substitubilidade entre N e M,
houve, em decorrência do aumento na procura de M, uma queda
na pro~ura de N de DnDn para D'nD' n e, em conseqüência, o pre-
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA
32
ço caiu de O'P', para O'P'2 e as quantidades transacionadas caíram
de Oq', para Oq'2.

Oferta complementar. Em certos casos, para que se possa


aumentar a quantidade ofertada de um bem, é necessário que haja
um aumento correspondente na oferta de outro. Tal seria o caso, por
exemplo, nos mercados de ovos e de carne de galinha, leite e carne
de vaca, gasoliua e gás etc. Poder-se-ia argumentar, no entanto, que
seria possível aumentar a quantidade ofertada de leite, sem um
aumento proporcional na oferta de carne, simplesmente aummtan-
do-se a produtividade leiteira do rebanho existente. Todavia, em-
bora os aumentos possam não ser proporcionais, haverá sempre
aumentos correspondentes nos dois mercados.
Suponhamos que haja um aumento na procura por leite. Tal
fato acarretará um aumento no preço, que incentivará os produ-
tores a aumentarem a quantidade ofertada do produto. No gráfico
3.5, que exemplifica este caso, um aumento na procura de DxDL
para. D'LD'L, fez com que o novo preço de equih'brio aumentasse
de OP 1 para OP2 ·e as quantidades transacionadas aumentassem de
Oq, para Oq2. .

OFERTA COMPLEMENTAR
(Leite e Carne)

Mercado de carne

<!)
o

o p, o P' 1

l p,
"
~

o L---------~~-------
~ ff
o· L---------~~~~---------
Quantidade Quantidade

GRÁFICO 3.5 GRÁFICO 3.6

AS REAÇõES DO MERCADO
33
Devemos notar que não houve um aumento na oferta de leite,
mas sim um aumento na quantidade ofertada do produto, em de-
corrência de um deslocamento na curva de procura para a direita.
Em decorrência da necessidade de um maior número de vacas
para que a produção de leite pudesse aumentar de Oq, para Oq2,
houve um aumento na oferta de carne bovina (gráfico 3.6) de
0,0, para 0',0',. Como resultado, o preço da carne caiu de
O'P' 1 para O'P'2 e, em decorrência da queda do preço, as quanti-
dades transacionadas aumentaram de O'q', para O'q'•·

Oferta Competitiva. No exemplo acima, um aumento na pro-


cura por leite acarretou também um aumento na oferta da carne.
No entanto, a produção de leite é competitiva com relação à pro-
dução de milho, por exemplo. Num sentido mais amplo, podería-
mos afirmar que todos os produtos são competitivos uns com os
outros, devido ao fato de que todos utilizam fatores de produção
escassos e, portanto, o aumento na produção de um bem acarretará,
necessariamente, a queda na produção de um outro (custo de
oportunidade). Assim sendo, o aumento no número de animais
para a produção de mais leite concorre com a produção de milho,
visto que áreas antes cultivadas serão, agora, transformadas em
pastagens. Dessa forma, um aumento na quantidade ofertada de
leite implicará em uma redução da oferta de milho.
Deixaremos a cargo do leitor a montagem da ilustração gráfica
deste exemplo. ·

A ELASTICIDADE

Já vimos como as curvas da oferta e da procura determinam,


· simultaneamente, o equilíbrio no mercado de um bem. Chamamos,
agora, a atenção do leitor para a importância das inclinações das
curvas da oferta e da procura. Inicialmente, poderíamos dizer, de
forma pouco rigorosa, que, quanto maior a inclinação de uma curva
de oferta, maior será o aumento no preço necessário para fazer com
que os produtores aumentem sua produção em uma unidade ou
vice-versa.
Por exemplo, no gráfico 3. 7, utilizaremos as duas curvas de
oferta TT, e TT2; podemos constatar, visualmente, que a inclina-
ção da curva de oferta TT2 é maior que a curva TT1• Para que haja
um aumento na quantidade ofertada de Oq, para Oq2, podemos
verificar que, no caso da curva menos inclinada TT,, o preço teria
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA
34
de aumentar de OP, para OP2, ao passo que, no caso da curva
mais inclinada TI2, o preço teria de subir de OP, para OP•.
Constatamos, assim, que, no caso da curva mais inclinada TT2,
ó aumento no preço PsP• teve de ser duas vezes o aumento P1P2
no caso da curvã menos inclinada TI,. A explicação econômica para
tal caso poderia ser a maior dificuldade encontrada pelos produ-
tores em transferir recursos da produção de outros bens para a
produção em questão, o que os faria incorrer em custos mais ele-
vados de produção. Seria o caso em que os produtores localizados
em TI2 tivessem de oferecer salários mais altos para conseguir
mão-de-obra para aumentar a produção de Oq, para Oq2 do que os
produtores localizados em TI,. Isto ocorreria, se os produtores em
TI2 vivessem numa área de escassez de mão-de-obra, ao passo que
os produtores em TI, tivessem uma disponibilidade de trabalho
mais abundante.
Outro exemplo seria o caso em que os produtores Tiz tivessem
de se utilizar de fatores de produção cuja produtividade fosse mais
baixa que os dos produtores TI,, como a produção de banana nos
Estados Unidos e no Equador, respectivamente.
Quanto à inclinação da curva da procura, podemos dizer que,
quanto mais inclinada ela for, menor será a queda no preço ne-
cessário para que a quantidade demandada aumente em 1 unidade
ou vice~versa.
No gráfico 3.7, ilustramos tal fenômeno medindo as quedas nos
preços necessários para que a quantidade demandada aumente de
Oq, para Oq2, utilizando as curvas da procura PP, (menos incli-
nada) e PPz (mais inclinada). Notamos que, no caso da curva
PP,, o preço terá de cúr de OPs para OP7 e, no caso da curva
PPz, o preço caiu de OPs para OPs. Podemos constatar que, no
caso ,da curva mais inclinada (PPz), a queda no preço teve de
ser duas vezes a queda no caso da curva menos inclinada (PP,).
O fato de que a curva mais inclinada (PPz) seja menos sensível
a variações no preço poderia ser explicado, por exemplo, por julga-
rem os consumidores o bem em questão mais limitado em sua
utilidade, de forma que somente uma queda considerável no seu
preço faria aumentar-lhe o consumo. Um exemplo concreto seria
o consumidor de ar refrigerado no Canadá, face a um consumidor
em uma ilha tropical.
A inclinação das curvas de oferta e de procura também influi
nos preços e quantidades de equilíbrio num mercado.
Notamos que, dada uma curva de oferta, digamos, TI, no
gráfico 3. 7, quanto mais inclinada for a curva da procura, menor
será a quantidade transacionada e mais baixo, também, o preço
AS REAÇõES DO MERCADO
35
de equilíbrio e vice-versa. Por exemplo, a interseção das curvas
TI 1 e pp, no ponto B indica uma certa quantidade transacionada
e um certo preço de equilíbrio (não traçados no gráfico). Se deslo-
carmos a curva PP, para baixo, centrada no eixo P, deslocaremos
o ponto B em direção ao ponto A, ao longo de TI,. Assim fazendo,
vemos que, quanto mais inclinada a curva de procura, menor o
preço e menor a quantidade. De maneira similar, dada uma curva
de procura, digamos, PP,, quanto mais inclinada a curva da oferta,
menor a quantidade transacionada e mais alto o preço e vice-versa.
Constatamos isto, deslocando a ·curva TI, para cima, centrada no
eixo T, e deslocando o ponto de equilíbrio B em direção ao ponto
C, ao longo de PP,.
A inclinação das curvas de oferta e procura também afeta a
determinação de equilíbrio no caso de deslocamentos das mesmas.
Partamos do ponto de equilíbrio A, entre as curvas TI, e PP2.
Se deslocarmos a curva de procura PP2 para P'P'2, o novo ponto
de equilíbrio será o ponto D.

ELASTICIDADE T,
/
,. /
/
/
/
/
/

ok-~-~---------------------------------------

GRÁFICO 3.7
Se, no entanto, a curva da oferta fosse mais inclinada, diga-
mos, TT2, o novo ponto de equilíbrio seria o ponto E. Podemos
constatar que, no ponto E, o preço de equilíbrio é mais alto do
que em D e a quantidade transacionada é menor. Concluímos,
então, que, dado um deslocamento da curva da procura, quanto
mais inclinada for a curva da oferta, menor será o aumento na
quantidade transacionada e mais alto será o novo preço de equilí-
brio e vice-versa.
Tal caso ocorreria, por exemplo, se aumentasse a procura por
abacaxis e, dependendo da época deste deslocamento, a inclinação
da curva de oferta seria diferente. Durante a safra, os produtores
podem aumentar a oferta num dado mercado sem ser preciso um
aumento muito grande nos preços. Tal não seria o caso durante a
entressafra, quando, possivelmente, um aumento na quantidade ofer-
tada só seria possível importando-se abacaxis de outras áreas pro-
dutoras que estivessem no período de safra.
Poderíamos supor, agora, um aumento na oferta de T'T'2
para TT2, sendo a curva da procura a reta P'P' ,. O ponto de
equihôrio inicial era F e, depois do deslocamento da oferta, passou
a ser G. Notamos que o preço caiu e a quantidade transacionada
aumentou. No entanto, se a curva da procura fosse mais inclinada,
digamos, P'P',, o preço teria caído mais e a quantidade teria aumen-
tado menos, como podemos constatar comparando os pontos G e
H. Seria o caso se comparássemos os efeitos de um deslocamento
na oferta de roupas de lã, em virtude de um novo processo tecno-
lógico que reduziu seus custos de produção, primeiramente no in-
vemo e depois no verão. Durante o inverno, devemos esperar uma
maior sensibilidade dos consumidores a um aumento na oferta,
o que seria refletido numa curva de procura menos inclinada
(P'P',). Durante o verão, no entanto, quando roupas quentes não
são necessárias, a curva da procura se toma mais inclinada
(P'P'a) e, mesmo com uma queda de preço maior, a quantidade
adicional transacionada foi menor do que durante o inverno.
Deixaremos ao leitor a tarefa de prosseguir nesta linha de
raciocínio, formulando hipóteses quanto às possíveis curvas de oferta
e procura, até que fique patente a importância das inclinações das
curvas na maneira como o mercado reage às variações em seus
componentes. Desta importância nasceu a necessidade de medirmos
as inclinações das curvas de oferta e procura e tentarmos quantifi-
car a sensibilidade das mesmas a variações no preço. A isto cha-
mamos elasticidade-preço.
AS REAÇOES DO MERCADO
37
Definimos elasticidade-preço da procura(l) como
p variação percentual na quantidade procurada
Ep = variação percentual no preço
e elasticidade-preço da oferta como
o variação percentual na quantidade ofertada
Ep =
variação percentual no preço
Se o valor numérico da elasticidade (ignoramos o sinal) é
ignal a 1, dizemos que a elasticidade é unitária; se maior que 1,
dizemos que a curva é ~lástica e, se menor que 1, dizemos que é
inelástica.
No gráfico 3.8 temos duas curvas de procura e duas curvas de
oferta. A elasticidade da curva P'P', no intervalo de A a B, é ignal a
variação percentual na quantidade
variação percentual no preço
10
X 100
65 15,4%
= ---=-- = -0,77
-1 -20%
X 100
5
A curva P'P' é, portanto, inelástica no intervalo AB ..
A curva PP, no entanto, já é elástica no intervalo CD.
30
X 100
p 70 43,0%
E = - - - - "' = -7,3
p -0,5 -5,9%
X 100
8,5
sendo sua elasticidade igual a 7,3 aproximadamente.

(1) Tal de!inlção é tanto mais exata quanto menor for o intervalo con-
dQ/Q
&iderado. Se o intervalo tender para zero, teremos no limite Ep = dP/P

INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA


38
CURVAS DE PROCURA CURVAS DE OFERTA
0'

H
" '
13 -----------

" "
11 ___________ _!_

" o



,.

é:Sli:t~S0:~3 gi;~Ji: õ:S~tg :;~::: .. ~i:l


g ~
• Quantic!ad~

GRÁFICO 3.8

Deixaremos ao leitor os cálculos da elasticidade-preço da oferta,


entre os oontos FG em 00, HI e JK em 0'0'.
Observamos, portanto, que, quanto maior a inclinação da cur-
va no intervalo em questão, menor será sua elasticidade e, quanto
menos inclinada, mais elástica ela será.
Notamos no gráfico 3.9 que a curva PP, é perfeitamente elás-
tica, ao passo que a q,q é perfeitamente inelástica. Notamos, tam-
bém, que as elasticidades variam ao longo das curvas, exceto alguns
casos especiais que ignoraremos aqui(2).

(2) O conceito de elasticidade não é equivalente ao de inclinação. Enquanto


declividade ou inclinação se refere a toda curva (no caso de uma reta), o con-
ceito de elasticidade refere-se a um ponto ou, de uma forma aproximada, a
um segmento. O leitor não deve referir-se, de agora em cllante, à elasticidade
como inclinação ou declividade.

AS REAÇOES DO MERCADO
39
ELASTICIDADE

p~--------------t------------------P,

Quantidade

GRAFICO 3.9

FATORES QUE INFLUENCIAM A ELASTICIDADE-PREÇO


DA PROCURA

Poderíamos investigar algumas das causas mais importantes


das diferentes elasticidades das curvas da procura.
a) Possibilidade de substituição: quanto maior o número de
produtos similares que poderão substituir o bem em ques-
tão, maior será a elasticidade da curva de procura do
mesmo. Não havendo substitutos, a curva da procura tende
a ser mais inelástica, como seria o caso do sal.
Mas um aumento no preço da manteiga poderia causar
substituição desta pela margarina.
b) O grau de essencialidade: um produto essencial, como, por
exemplo, um remédio, tende a ser mais inelástico, princi-
INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMI.CA
40
palmente se não houver substitutos para o mesmo. Se exis-
tem bons substitutos, mesmo sendo essencial, a curva da
procura tenderá a ter mais elasticidade.
c) A importância relativa do bem no gasto total do consu-
midor: quanto menor for o custo do bem a ser adquirido
na despesa do consumidor, mais inelástica sua curva de
procura. Por exemplo, compare as elasticidades da curva
de procura de fósforo e de uísque importado.
d) O tempo, cronologicamente falando: a curto prazo, uma
mudança no preço de um bem pode não afetar de maneira
sensível a quantidade demandada. Com o passar do tempo,
no entanto, substitutos serão encontrados ou formar-se-ão
novos hábitos de consumo, de modo que a curva da pro-
cura tenderá a tornar-se mais elástica.

FATORES QUE INFLUENCIAM A ELASTICIDADE-PREÇO


DA OFERTA

Basicamente, são fatores técnicos que condicionam a elastici-


dade-preço da curva de oferta. Muitas vezes, por razões de dispo-
nibilidade de fatores, transportes ou mesmo conhecimento do mer-
cado, a curva da oferta é insensível a variações nos preços e, assim,
não reage prontamente a estímulos do mercado. Tal inelasticidade
da oferta é, geralmente, mais grave em países subdesenvolvidos,
onde imperfeições no mercado e condições técnicas precárias im-
pedem um ajustamento mais imediato da oferta a modificações nos
preços.
O tempo, no entanto, tende a tornar a curva da oferta mais
elástica, visto que, mais a longo prazo, vão-se criando condições
para que ela reaja.

ELASTICIDADE-RENDA DA PROCURA

Já vimos como o nível da renda afeta a curva da procura,


deslocando-a para a direita ou para a esquerda. Podemos, então,
definir elasticidade-renda da procura como
Ep variação percentual na quantidade
r variação percentual na renda
AS REAÇOES DO MERCADO
41
O gráfico 3.10 ilustra um caso em que a renda aumentou,
digamos, em 1O%, causando o deslocamento da curva da procura
de PP para P'P'. Conseqüentemente, ao preço de mercado (OB),
notamos que um aumento em 10% na renda causou um aumento
em 40% na quantidade demandada. Em conseqüência,

E~ ~ :g: ~ 4, isto é, a elasticidade é igual a 4 e o bem

é elástico com relação à renda.

20 40 60 80 100 120 140 160 ISO 200

Quantidade

GRÁFICO 3.10

Alguns bens sofrem quedas em sua procura, em decorrência


de um aumento na renda. Neste caso, o numerador da fórmula da
elasticidade terá sinal negativo e, portanto, o valor da elasticidade
também terá sinal negativo. Quando tal acontece, dizemos que o
bem é inferior.

A ELASTICIDADE-PREÇO DA PROCURA E A
RECEITA TOTAL

A importância do conceito de elasticidade-preço da procura


para o empresário prende-se ao fato de que uma variação no preço
acarretará uma variação na receita (preço multiplicado pela quan-
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONôMICA
42
tidade). Por exemplo, no gráfico a seguir, a receita total pelo bem
X é igual à quantidade OA multiplicada pelo preço OB.

RECEITA PELO BEM X


R = OA, OB, onde R = receita

'I
-~,F
~ curva da procura

o A E
Quantidade

A receita é igual à área OACB.


Se o preço cair para D, a quantidade demandada aumentará
para OE e a receita total será igual à área sombreada OEFD; no
caso concreto acima, é, evidentemente, menor do que OACB (ou
a área GFEA é menor do que a área BCGD). O que ocor-
reu neste caso é que a procura é inelástica e,. então, urta queda
no preço acarretou uma queda na receita total. Tal fenômeno é
explicável pelo fato de que, sendo a curva inelástica, a razão
variação percentual na quantidade d
. _ tem e ser menor que I.
vanaçao percentual no preço
Assim, o numerador terá· de ser menor que o denominador. Como
a quantidade reage em direção inversa à do preço na curva da
procura, o aumento na quantidade vendida foi menor que a queda
no preço, em termos percentuais, causando, assim, uma queda na
receita.
AS REAÇõES DO MERCADO
43
Concluímos que, no caso de uma curva de procura inelástica,
o produtor não deve reduzir seus preços, sob pena de sofrer uma
queda em sua receita.
Pediríamos ao leitor que exercitasse sua compreensão deste
problema, justificando os itens da tabela a seguir.

TABELA 3.1

ELÁSTICIDADE-PREÇO E RECEITA

aumento no preço->queda da receita


Procura elástica {
queda no preço->aumento da receita

aumento no preço-> aumento da receita


Procura inelástica {
queda no preço->queda da receita

Procura de elasticidade { aumento no preço->receita não varia


unitária queda no preço->receita não varia

RESUMO

Os agentes econômicos agem, na Economia, através do meca-


nismo do mercado. Os consumidores influenciam o mercado por
intermédio da procura e os produtores por intermédio da oferta.
Tal processo decisório faz com que o mercado reaja a cada
estímulo exercido pelos agentes. O mercado, reagindo, ajusta-se às
novas condições de oferta e de procura.
Investigamo•, neste capítulo, como uma alteração na estrutura
do mercado causa urna série de reações subseqüentes e como o con-
ceito de elasticidade esclarece a compreensão da posição em que
o mercado voltará a estar em equilíbrio.

QUESTõES PARA DISCUSSÃO

1) Cite os exemplos de bens que tenham:


- demanda complementar
- demanda competitiva

44 INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA


oferta complementar
oferta competitiva

2) Suponha as seguintes curvas de oferta nos mercados A e B,


o,

" "

~ •
t, •4
"
o, o,
10 :zo 30 oo so eo to eo ~ 1oouo 120 l30 IO:Z030tOSO«<7680 $0 100 llO 120 UO

Quantidade Qoantidade

e as seguintes tabelas de procura:

Preço Procura A Procura B


1 100 60
2 90 45
3 80 35
4 70 30
5 60 25
6 50 20
7 40 15
8 30 10
9 20 5
10 10 o
Represente graficamente a curva da procura A e cha-
me-a n•.
Suponha. que haja um aumento na procura por A em
5 unidades. Represente a nova curva e chame-a D'•·
Suponha que os bens A e B tenham procuras com-
plementares e que haja um aumento na relação fixa de
AS REAÇOES.DO MERCADO
45
A para o aumento B de 1:1,5 (um para um e meio).
Represente a nova curva de B e chame-a de D'b·
- O que ocorreu com o preço e a quantidade no mer-
cado de A? Qual o novo preço de equilíbrio no mer-
cado de B?
- Suponha que os bens A e B tenham procuras competi-
tivas e que a relação de alterações na procura de A
para B seja 1 : 3. Partindo da tabela de procura de B,
qual seria o novo preço de equih'brio de B? Chame a
nova curva da procura de B de D"b·
- Suponha, agora, que os bens A e B tenham ofertas com-
petitivas, de tal forma que o aumento na procura de
A de Da para D'. afete a curva de oferta de B, na
proporção de 1 : 1. (Cada unidade transacionada adi-
cional de A acarreta um deslocamento equivalente na
curva de oferta de B.) Qual seria o novo preço de
equih'brio e a quantidade transacionada do bem B?
3) Calcule a elasticidade-preço da curva da procura Da no
exercício 2, entre os preços 5 e 6.

4) Qual a elasticidade-preço da curva de oferta D,, entre


os preços 1 e 2?

5) Crie exemplos concretos (e prove-os numericamente) de:


a) uma oferta inelástica
b) uma procura elástica
c) uma procura inelástica

6) Um comerciante que revende um produto de elasticidade-


-preço da procura igual a 2,5 está em dúvida se deve ou
não abaixar seus preços de venda, para aumentar sua
receita. Considere seus custos como sendo nulos. O que
você o aconselharia a fazer? E se a elasticidade-preço da
procura fosse 0,5?

7) Trace uma curva de oferta elástica e uma curva de pro-


cura inelástica. Parta de um ponto qualquer na curva da
oferta que não o ponto de equilíbrio e suponha que tanto
produtores como consumidores imaginem que as condições
prevalentes no momento serão as mesmas nos períodos se-
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA
46
guintes e que por esta suposição ajustem suas condutas.
Você notará que haverá uma situação instável, que não
levará o mercado a uma situação de equilíbrio. Por exem-
plo, a um ponto na curva de oferta abaixo da quantidade
de equilíbrio, o preço será mais alto que o preço de equi-
lfbrio; a tal preço, os produtores desejarão ofertar uma
quantidade maior ao mercado; no entanto, esta quantidade
só poderá ser absorvida a um preço mais baixo; com preço
baixo, os produtores diminuem sua quantidade, o que no-
vamente eleva os preços a um ponto mais alto que os
anteriores e assim por diante. Chama-se a esse fenômeno
Cobweb. Cite exemplos reais onde o Cobweb possa ocorrer.

AS REAÇõES DO MER.CADO
47
A Estrutura do Mercado
4
I
Vimos, nos capítulos anteriores, como o mercado reage a
variações na estrutura da oferta e da procura. Tais variações se
dão quando os agentes econômicos desejam alcançar algum obje-
tivo e, através do mecanismo de preços e de mercado, colocam toda
a engrenagem econômica em funcionamento, fazendo com que a
economia se ajuste aos novos desejos dos agentes. Estes, por sua
vez, também ajustam seu comportamento às novas condições decor-
rentes da movimentação da engrenagem econômica, até que, por
ajustes sucessivos, o mercado chega a um novo ponto de equilíbrio.
O problema econômico de uma comunidade é fazer com que
seus recursos escassos sejam totalmente aproveitados, maximizando,
conseqüentemente, o montante de bens e serviços disponíveis a seus
membros. Pelo mecanismo do mercado, os indivíduos, agindo con-
forme seus interesses pessoais, conseguem maximizar a produção
nacional, ou seja, atingir o ponto de pleno emprego dos fatores de
produção.
Tal mecanismo, dispensando a necessidade de um sistema cen-
tralizado de tomada de decisão, chamado por Adam Smith de a
mão invisível, atinge também outros objetivos importantes, ou seja,
fazer com que a utilização dos fatores de produção seja realizada de
maneira racional e também com que a produção total da comuni-
dade seja satisfatoriamente distribuída entre seus membros.
É com relação a esses objetivos que estudaremos a estrutura
do mercado e também a "racionalidade" da ação de seus compo-
nentes, consumidores e produtores e como esses fatores poderã<>
influenciar, direta ou indiretamente, a realização de tais objetivos.
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA
48
TIPOS DE MERCADO
Um mercado é composto de vendedores e compradores de um
produto. Assim, a Bolsa de Valores, feiras livres e livrarias são
exemplos de mercados de ações, produtos alimentares e livros, res-
pectivamente.
Observemos, no entanto, que o relacionamento entre compra-
dores e vendedores poderá seguir padrões diferentes, dependendo
do mercado. O mercado de produtos alimentícios, por exemplo, é
caracterizado pela existência de grande número de vendedores e com-
pradores, sendo que o preço é determinado pelo jogo da procura
e da oferta dos mesmos; assim sendo, os preços são fixados por
todos, simultaneamente, numa tentativa de cada qual satisfazer a
seus interesses próprios.
Poderíamos contrastar tal situação com um mercado onde o
preço é fixado unilateralmente por um único vendedor, como seria
o caso de serviços telefônicos fornecidos somente pelo governo.
Aqui, o preço não é uma tentativa de escoar a produção, mas sim
uma determinação de agente que tem poder para tal.
Tendo em vista estas diferenças, classifica-se o mercado em
três tipos mais importantes:

Competição Perfeita. Esta categoria descritiva, certamente com


alto grau de idealização, é o padrão de referência para grande parte
da teoria microeconômica. f: o tipo de mercado que temos em
mente aó descrevermos o mecanismo de funcionamento do sistema
de preço através da oferta e da procura.
A competição perfeita limita o poder da exploração no siste-
ma econômico e leva-a através da concorrência entre os agentes eco~
nômicos, para a obtenção do lucro, a uma situação de pleno em-
prego. f: a concorrência que faz com que certos setores da economia
que estejam usufruindo de altos lucros vejám outros agentes econô-
micos, munidos de fatores de produção, entrarem no mesmo setor,
na expectativa de também usufruírem de lucros mais altos do que
estavam obtendo em outras atividades. Isto acarretará um aumento
na oferta do bem produzido neste setor, o que causará uma queda
nos preços, até que a taxa de lucro neste setor seja "normal".
quando, então, o incentivo para a transferência de fatores de pro-
dução (recursos naturais, capital e mão-de-obra) para este setor
desaparecerá.
f: também o que observamos quando, em vista da escassez
de um certo produto, os poucos que o têm vendem-no a preços
muito altos, obtendo, assim, avultados lucros, baseados na expio-
A ESTRUTURA DO MERCADO
49
ração de uma situação vantajosa com relação ao resto da comuni-
<lade. Havendo competição perfeita, outros comerciantes imedia-
tamente tratarão de obter o mesmo bem para vendê-lo, o que, então,
causará uma queda nos preços, até que a taxa de lucro nesse
comércio seja novamente equiparada às taxas dos demais setores.
É neste tipo de mercado que os consumidores tentarão obter
uma mercadoria pelo preço mais baixo, o que tenderá a igualar o.<
preços de todos os vendedores. O fato de que; não conseguindo
vender a um preço mais elevado que seus competidores, os vende-
dores reduzirão seus preços, para escoar sua produção, até que
todos sejam nivelados, forçará a estabilização em um preço de equi-
líbrio, que igualará a oferta à procura.
Da mesma forma, um possível desemprego de fatores de pro-
dução refletir-se-á numa quantidade ofertada maior que a deman-
dada, causando uma queda em seu preço, tomando possível a sua
absorção pelo sistema produtivo e aumentando, conseqüentemente,
o quantum produzido. Em outras palavras, a lei da oferta e da
procura funciona no mercado de fatores de produção da mesma
forma que no mercado de bens e serviços de consumo e de inves-
timento, levando a economia a uma posição de pleno emprego dos
fatores de produção. ·
Quais são as condições para que tal mecanismo de ajuste
funcione, ou seja, para que haja competição perfeita?
I) É necessário que compradores possam comparar os preços
de diversos vendedores, para, então, obterem o preço mais
baixo. Para que isto seja possível, é preciso que os bens
que os diversos vendedores tenham para vender sejam
iguais ou homogêneos.
2) É necessário que tanto os vendedores como os comprado-
res tenham conhecimento perfeito das condições do mer-
cado, para que possam competir com todos em pé de
igualdade.
3) É necessário que haja mobilidade perfeita de fatores de
produção, para que vendedores e compradores possam
afluir àquele setor do mercado, onde acham que podem
competir com os lá existentes e que estes não oponham
obstáculos à entrada daqueles (livre-entrada).
4) É necessário que cada comprador ou vendedor represente
uma parte muito pequena do mercado, de tal modo que
a sua ação individual não afete as condições globais do
mercado (atomização ).
INTRODUÇAO A TEORIA ECONôMICA
50
Estas condições, estando presentes, eliminarão, via concorrên-
cia, qualquer exploração no mercado, fazendo com que os preços
se igualem aos custos. (Está incluída em custos a remuneração do
empresário, a que chamamos lucro normal.) Assim, poderão os
consumidores pagar pelo bem o seu custo real para a comunidade,
expandindo-se a procura e a oferta acima dos níveis em que preva-
leceriam num tipo de competição imperfeita ou mesmo de mono-
pólio.

Monopólio. Neste tioo· de mercado, a característica básica do


regime de competição perfeita, ou seja, a concorrência, tanto entre
os consumidores como entre vendedores, desaparece. É um caso-
limite, onde só existe um fabricante ou fornecedor de um bem ou
serviço. Tal situação é caracterizada em indústrias onde o único
produtor tenha uma patente ou onde ele tenha o controle de uma
fonte de recursos essencial ao produto. Assim, não haveria livre-
-entrada a outros produtores.
O poder monopolístico é reforçado quando o produto não
tem similares próximos, de tal forma que o consumidor fique total-
mente dependente do único fornecedor. Em tal situação, o mono-
polista tem poder absoluto sobre o preço, visto que não há compe-
tidores que o obriguem a igualar o preço ao seu custo de produção.
Logicamente, ele fixará seu preço no ponto onde seus lucros sejam
maximizados, havendo, assim, a chamada exploração monopolística.

SITUAÇõES INTERMEDIÁRIAS

Podemos notar que nem a hipótese da competição perfeita


nem a de monopólio são situações compatíveis com a realidade
observada. Existem situações intermediárias, que refletem mais pre-
cisamente o que ocorre no mundo real.
Uma delas é a competição monopolística, que se caracteriza
por uma falta de homogeneidade dos produtos, embora possam
ser substitutos próximos uns dos outros. Há, então, uma situação
onde os produtos são diferenciados, o que faz com que seus pro-
dutores sejam praticamente os únicos a produzirem tal bem. As dife-
renças entre os produtos podem ser diferenças próprias dos mesmos,
diferença de qualidade, em forma, desenho, apresentação, estilo
e mesmo em sua embalagem. Exemplos típicos são: sabão em pó,
pasta de dente, detergentes etc. É justamente esta diferenciação entre
eles que cria urna certa viscosidade na procura, fazendo com que a
A ESTRUTURA DO MERCADO
51
mudança de um produto para outro similar não seja exclusivamente
uma função de preço.
Nesta situação, as firmas poderiam agir como monopolistas,
porém o preço dos concorrentes limita seu poder monopolístico.
Em tal tipo de mercado, as firmas travam lutas desenfreadas, porém,
raramente, uma guerra de preços. As lutas refletem-se em publi-
cidade, cada uma tentando deslocar para a direita a curva da pro-
cura por seus produtos, e .geralmente, seguem os preços ditados
por uma firma líder. Neste caso, o consumidor está pagando pela
publicidade, cujo custo está incluído no preço do produto. Isto
eleva o custo e diminui a produção relativamente à de concorrência
perfeita.
O caso de oligopólio traduz-se numa situação onde o mesmo
produto é vendido por umas poucas firmas a uma estrutura de pro-
cura que não é viscosa. V árias hipóteses já foram aventadas sobre
o resultado de tal situação. Aqui, mais do que nunca, uma guerra
de preços é inviável, visto que a procura é fluida, o que obrigaria
os concorrentes a baixarem seus preços sucessivamente, numa luta
sem tréguas. Também nesta situaÇão, provavehnente, os preços não
seriam tão baixos, nem a produção tão alta quanto o seria em
regime de competição ·perfeita.

A ESTRUTURA DA PROCURA

Tendo estudado as reações do mercado a variações da oferta


e da procura, resta-nos descrever o padrão de comportamento do
consumidor e, no capítulo seguinte, o do produtor.
A procura por uma mercadoria depende, como vimos no cap.
2, de uma série de fatores, entre eles o preço e o nível de renda.
A Teoria do Consumidor toma como ponto de partida uma série
de dados de cunho psicológico, social, cultural etc., que afetarão
o comportamento do consumidor, mas que, no entanto, fogem da
área de estudo da Economia.
Partimos, portanto, de uma situação onde gosto e preferência
de uma comunidade já são conhecidos e estudaremos como o con-
sumidor distribuirá seu poder aquisitivo, entre os bens disponíveis,
baseados somente em fenômenos econômicos, como preço dos bens
e nível de renda. Assim, por exemplo, uma variação na preferência
de uma comunidade será levada em consideração pelos economistas,
devido a seu reflexo nas variáveis econômicas, mas não tentaremos
determinar as causas de tal variação.
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA
52
Os fenômenos que fogem da alçada da Economia são repre-
sentados pelas curvas de indiferença. Exemplificaremos este con-
ceito supondo a existência de uma economia simplificada que produz
somente dois bens, A e B, e tentaremos determioar como um con-
sumidor, com uma certa renda, distribuirá seus gastos entre os dois
bens, de modo a maximizar sua satisfação. Eliminando, por en-
quanto, as limitações impostas pelo poder aquisitivo do consumidor,
poder-se-iam determinar, supondo-se uma renda inicial hipotética,
quais as possíveis combioações de A e de B que dariam ao consu-
midor o mesmo grau de utilidade ou satisfação. Em outras palavras,
quais as possíveis combioações de A e de B que deixariam o con-
sumidor indiferente entre elas.
Partindo-se de uma possível combinação ioicial dada ao con-
sumidor de 40 unidades de A e 40 unidades de B, poderíamos
perguntar-lhe quantas unidades de B seriam necessárias para com-
pensar um decréscimo de 1O unidades de A, de modo que sua satis-
fação total permanecesse a mesma. A resposta poderia ser: 8 unida-
des de B. Assim, uma combinação de 40 de A e 40 de B propor-
cionaria ao consumidor a mesma satisfação que 30 de A e 48 de B.
Repetindo este tipo de pergunta (se adicionarmos ou dimiouír-
mos X unidades de A, quantas unidades de B serão necessárias
para compensar o ganho ou a perda, de forma que a utilidade total
permaneça a mesma?), poderíamos montar uma tabela como a que
se encontra a seguir, que é representada no gráfico 4.1, chamada
curva de indiferença I,.

TABELA 4.1

TABELA DE INDIFERENÇA

Quantidade de A Quantidade de B
100 10
90 12
80 15
70 20
60 25,5
50 33
40 40
30 48
20 60
10 79
A ESTRUTURA DO MERCADO
53
CURVA DE INDIFERENÇA

100
\
90 \
80 \
70 \
Bem A 60
\
50

40 -,.-,----
I 1 M'p
---~
''
30 I
I
1 ! I'
I I ....
--L-~----•---
I2
20
I I
10
1

I
I
I
I
1
I
1
r,
o 10 20 30 40
' 50 60 70 80 90 100

Bem B

GRÁFICO 4.1

Examinemos, agora, a combinação de A e B representada pelo


ponto P no gráfico 4.1. Embora não seja possível quantificar o nível
de utilidade auferida pelo· indivíduo no ponto P, é possível, no
entanto, inferir que é maior do que no ponto M. Como a utilidade
no ponto M é a mesma que em qualquer outro ponto da curva I,,
inferimos que o ponto P é superior a qualquer ponto na curva I,.
Sabemos que o ponto P é superior a M, baseados no princípio
da insaciabilidade do consumidor, ou seja, o consumidor jamais se
sentirá totalmente satisfeito com uma combinação de bens e, toda
vez que a ela for adicionado algum bem, a satisfação total será
maior. Por exemplo, no ponto M o consumidor tem uma dada satis-
fação auferida pelo consumo da combinação de 40 unidades de
A e 40 unidades de B. No ponto P, sua combinação será acrescida
de 20 unidades de B, sem que haja um declínio na quantidade de
A. Concluímos, portanto, que sua satisfação será maior em P do
que em M.
Pelo mesmo raciocínio com o qual montamos a curva I,, po-
deríamos montar uma curva I., passando pelo ponto P e infinitas
INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA
54
outras curvas de indiferença, formando, então, um mapa de indi-
ferença.
Devemos notar que duas curvas de indiferença não se podem
cruzar, pois teríamos, então, violado o princípio da insaciabilidade,
além de termos de admitir inconsistências nas preferências do con-
sumidor. No gráfico 4.2, ilustramos este fato.

CURVAS DE INDIFERENÇA l'UO PODEM SE CRUZAR

r,
Bem B

GRÁFICO 4.2

Pelas razões expostas acima, o ponto N deve ser superior ao


ponto R. No entanto, o ponto Q encontra-se na mesma curva que
R, o que implica que a utilidade no ponto R é igual à do ponto Q.
Igualmente, o ponto Q encontra-se na mesma curva que N e, con-
seqüentemente, a utilidade no ponto Q é igual à do ponto N. Como
duas variáveis iguais a uma terceira são iguais entre si, concluímos
que as utilidades em R e em N são iguais, o que provamos não
ser verdadeiro.
Devemos notar, também, que as curvas de indiferença são con-
vexas com relação à origem. Tal fato se explica pelo princípio da
A ESTRUTURA DO MERCADO
55
Utilidade Marginal Decrescente. Tal princípio nos diz que, quanto
maior for a quantidade consumida de um bem por um indivíduo,
menor será a utilidade da última unidade consumida. Por exemplo,
a utilidade do primeiro copo de água é, sem dúvida, maior que a
do segundo e a do segundo maior que a do terceiro e assim por
diante. Inversamente, quanto menor for a quantidade consumida
de um bem, maior será a utilidade da última unidade consumida.
No gráfico 4.3, mostramos como a lei da utilidade marginal
decrescente explica a convexidade das curvas de indiferença. No
ponto C, uma unidade de A será trocada por 0,4 de unidade de B,
suficientes para manter o nível de utilidade constante. No ponto D,
combinação que consiste em uma quantidade de A menor e de B
maior que no ponto C, uma unidade de A será trocada por 0,5 de
unidade de B e, no ponto E, por 1,5 de unidade de B. Isto é expli-
cável pelo fato de que, partindo-se do ponto C em direção ao
.ponto E, as quantidades de A tornam-se menores, o que aumenta a
utilidade da última unidade de A. Conseqüentemente, maiores quan-
tidades de B ·são necessárias para compensar a perda de utilidade
causada pelo decréscimo de A e manter o indivíduo num mesmo
nível de satiSfação.

CURVAS DE INDIFERENÇA

Bem B
.GRAFICO 4.3

56 INTRODUÇãO A TEORIA ECONOMICA


Vamos introduzir, agora, a variável econômica, que, junta"
mente com as curvas de indiferença, ilustrarão o comportamento
do consumidor.
Além da preferência (curvas de indiferença), o consumidor
será condicionado por seu poder aquisitivo. Dados os preços dos
bens A e B, a renda do consumidor e suas preferências, podere-
mos determinar como ele alocará seus recursos entre as duas mer-
cadorias disponíveis, de modo a maximizar sua utilidade.
Suponhamos que um indivíduo tenha uma renda igual a 1.000
cruzeiros mensais e que o preço do bem A seja 25 cruzeiros e o
preço do bem B seja 20 cruzeiros. Com estes dados, poderemos
traçar a sua linha de orçamento, ou seja, a reta cujos pontos repre-
sentem combinações acessíveis ao consumidor,. dado seu orçamento.
O gráfico 4.4 representa a linha de orçamento desse indivíduo.

LINHA DE ORÇAMENTO E CURVAS DE INDIFERENÇA

50
45

40

35
30

25

20

15

10
5 ''

o 51015 20 25 30 3540 45 50

Bem B

GRÁFICO 4.4

Caso toda a sua renda fosse gasta na compra do bem A,


ele poderia adquirir 40 unidades; caso fosse gasta em B, poderia
A ESTRUTURÁ DO MERCADO
57
adquirir 50 unidades; os óutros pontos da linha de orçamento
representam todas as combinações de A e B possíveis.
A combinação que maximizará sua satisfação será aquela que,
além de ser um ponto na linha de orçamento, também é um ponto
na curva de indiferença mais alta possível, ou seja, o ponto P no
gráfico 4.4, que representa um consumo de 25 unidades de A
e 20 unidades de B. Esta combinação é acessível ao consumidor,
já que as quantidades multiplicadas por seus preços somam 1.000
cruzeiros, que é a renda do consumidor, e é também o ponto loca-
lizado na curva de indiferença mais alta possível, ou seja, a que
representa o nível de utilidade mais alto possível.
Qualquer ponto que não seja P em Ia, ou qualquer ponto em
qualquer curva de indiferença mais alta que la, não é acessível ao
consumidor, pois representa combinações cujo custo é mais alto
do que o poder aquisitivo do consumidor.
Qualquer ponto na linha de orçamento representa uma combi-
nação possível, mas somente P é o ponto que maxirniza a utilidade
total. Por exemplo, o ponto E é um ponto acessível ao consumidor;
no entanto, está localizado na curva de indiferença h, que é iníe-
rior à Ia.
No ponto E, o consumidor será indiferente entre uma unidade
de B e 0,2 de unidade de A. Como uma unidade de B custa 20
cruzeiros e 0,2 de unidade de A custa 5 cruzeiros,. o consumidor
certamente se deslocaria do ponto E. Não comprando uma unidade
de B, ele libera 20 cruzeiros e compra 0,2 de unidade de A para
compensar a perda de uma unidade de B. Como 0,2 de A custa
5 cruzeiros, ainda sobram 15 dos 20 cruzeiros liberados inicialmente,
com os quais o consumidor pode adquirir mais 0,6 de unidade de
A·. Como ele só necessitava de 0,2 de A para compensá-lo por I
unidade a menos de B, e como o dinheiro liberado foi suficiente
para comprar·0,8 de unidade de A, o consumidor se deslocou para
o ponto F, que representa um nível de utilidade·mais alto que em Iz.
Prosseguindo o mesmo raciocínio, o consumidor se deslocará
até o ponto P, onde sua utilidade será maxirnizada.
Um aumento de renda (um deslocamento da linha de orça-
mento para a direita) possibilitará ao consumidor atingir níveis de
satisfação mais altos. No gráfico 4.4, o consumidor poderia atingir
o ponto M, localizado numa curva de indiferença superior a Ia.
Outra variação econômica, além do nível de renda, também
pode ocorrer, modificando o comportamento do consumidor: são
os preços. Vamos supor Jiue o orçamento do consumidor se man-
tenha constante ao nível de 1.000 cruzeiros, que o preço de A
INTRODUÇãO A TEORIA ECONOMICA
58
continue sendo 25 cruzeiros, mas que o preço de B caia para 14,30
cruzeiros. Assim sendo, a linha de preços anterior se desloca, como
vemos no gráfico 4.5.

LINHA DE ORÇAMENTO E CURVAS DE INDIFERENÇA

60

55
50

45
-.: 40

~
(l:l
35
30
25
20

15

10

5 10 15 20 25 3_0 35 40 50 60 70 80

Bem B
GRÁFICO 4.5

Do bem A, ao preço de 25, o consumidor poderá adquirir


um total de 40 unidades nas duas situações, pois seu preço não
variou. Quanto ao bem B, notamos q 11e antes, ao preço de 20, era
possível adquirir 50 unidades, mas, agora que o preço caiu J)ara
14,30, é possível adquirir 70 unidades, aproximadamente. Relacio-
nando-se os novos preços com as curvas de indiferença do consu-
midor, notamos que aconteceu o que seria de esperar, ou seja, um
acréscimo no consumo de B, em vista da queda de seu preço.
Tendo sido explicado, da maneira acima, o comportamento
do consumidor, faremos, agora, uma pequena modificação para
A ESTRUTURA DO MERCADO
59
podermos, do acima exposto, montar a curva da procura para um
consumidor. Em vez de considerarmos dois bens, A e B, considera-
remos somente um deles, o bem B. Os demais bens serão todos
englobados no que, no eixo vertical do gráfico 4.6, chamaremos
reserva orçamentária, ou seja, o dinheiro que será reservado para
a compra de bens que não seja o B, representado no eixo horizontal.

A MONTAGEM DA CURVA DE PROCURA

1-UW

~
'
-----------T-
'
<>00 ___________ j _ _: __

,
- - - - - - - ---1--t--

"" :'
''
' '''
'
'.
'

GRÁFICO 4.6

Suponhamos que o orçamento total do consumidor seja 1.000


cruzeiros, e que o preço de B seja 20 cruzeiros por unidade. A
linha de orçamento mostra que, se todo o orçamento do consumidor
for gasto em B, ele poderá adquirir 50 unidades e que, se os
consumidores preferirem não comprar B, seu orçamento total será
reservado para a compra dos outros bens. Qualquer outro ponto
na linha de orçamento indica a combinação de B e do montante
reservado para outros bens possíveis ao consumidor. Vemos, então,
INTRODUÇãO A TEORIA ECONOMICA
60
que, no ponto P, o consumidor adquirirá 15 unidades de B e reser-
vará 700 cruzeiros para a compra de outros bens.
Notamos que o eixo vertical também indica o total gasto com a
compra de B, que é a diferença entre o orçamento total ( 1.000
cruzeiros) e o montante reservado para a compra de outros bens
(700 cruzeiros), ou seja, 300 cruzeiros ( 15 unidades de B, ao
preço unitário de 20 cruzeiros) .
Como a curva da procura relaciona as quantidades demanda-
das a cada nível de preços, o que temos a fazer é variar os preços
de B, deslocando a linha de orçamento e determinando, junta-
mente com as curvas de indiferença, as quantidades de B deman-
dadas.
Podemos, então, montar a tabela de procura pelo bem B. Sa-
bemos que, ao preço de 20, serão demandadas 25 unidades de B
(ponto N). Se o preço de B subisse para 25 cruzeiros (se o orça-
mento total fosse gasto em B, seria suficiente para adquirir 40
unídades), o consumidor iria adquirir 17,5 unidades de B (ponto
R). Finalmente, o exemplo nos mostra que, ao preço de 14,80
cruzeiros (se o orçamento total fosse gasto em B, seria suficiente
para adquirir, aproximadamente, 67,5 unidades), o consumidor
iria adquirir 35 unídades de B (ponto Q).

TABELA DE PROCURA PELO BEM B


Preço Quantidade

14,80 35
20,00 25
25,00 17,5

Se repetirmos o mecanismo para outros níveis de preços, po-


deremos montar a tabela completa e, depois, traçar a curva da
procura.
Vimos, então, qual a lógica do consumidor e como podemos
montar a curva da procura, que é elemento essencial no mecanismo
do mercado.

A ESTRUTURA DO MERCADO
61
A Estrutura do Mercado
5
n
A ESTRUTURA DA OFERTA

Vejamos, agora, como são tomadas as decisões ao nível do


produtor ou da firma.
Antes de tentarmos determinar a quantidade que uma firma
produzirá, dados vários níveis de preços de mercado, tentaremos
explicar como o produtor minimizará seus custos de produção
unítários.
Vamos supor que uma firma que produza um bem X utilize
dois fatores de produção: capital e mão-de-obra. Suporemos que
as especificações técnicas de fabricação do produto permitam uma
substituição de um fator pelo outro, ou seja, existem várias propor-
ções de capital e de mão-de-obra que possibilitam a fabricação
do bem. Por exemplo, é possível fabricar-se cigarro utilizando
pouco capital, ou, então, por ll!l1 processo altamente mecanizado,
utilizando-se muitas máquinas e equipamentos e, relativamente,
pouca mão-de-obra, ou seja, poucos operadores dos equipamentos.
Poderíamos traçar uma curva, cujos pontos representassem
combinações de capital e mão-de-obra, sendo que a produção de
qualquer combinação se mantivesse constante. O gráfico 5.I repre-
senta tais curvas, que chamamos de isoquantao.

INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA


62
ISOQUANTAS

-;;; 10
~
.5 9
~
O"
-~ 8
s 7
~
'O
o 6
><
~ s
s
-~
100 unidades de x
4
5
3
75 unidades de x
Oi
~

·s.
~
2 50 unidades de x
ü

o 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Mão-de-obra (homem/dia)

GRÁFICO 5.1

A isoquanta representada indica todas as combinações de capi-


tal e de mão-de-obra, que, conjugados, produzem 50 unidades ao
bem X, num certo período. Por exemplo, o produtor poderia con-
seguir este nível de produção ou contratando 7 unidades de capital
e 20 de homem/dia (ponto P) ou 3 unidades de capital e 60 de
homem/dia (ponto Q) ou por qualquer outro ponto da isoquanta.
Como a isoquanta representa possibilidades técnicas de pro-
dução, poderíamos ter um mapa de isoquantas, cada uma delas
representando um nível de produção. No gráfico 5.1, representamos
três das infinitas isoquantas possíveis, para os níveis de 50, 75 e
100 unídades do bem X a serem produzidas.
Por um raciocínio semelhante ao utilizado no caso das curvas
de indiferença, chegaríamos a mostrar que as curvas de isoquantas
não se poderiam cruzar, tarefa que deixaremos a cargo do leitor.
Quanto à conveiddade das isoquantas com relação à origem,
tal fato é explicado pela Lei dos Rendimentos Decrescentes. Esta
lei demonstra-nos que, se mantivermos todos os fatores de produção
constantes, exceto um, e se aumentarmos as quantidades do fator
variável em incrementos iguais sucessivos, o aumento na produção
A ESTRUTURA DO MERCADO
63
total decorrente da aplicação de cada unidade adicional do fator
variável será decrescente.
Se, por exemplo, um trabalhador rural lavra uma área de
terra suficiente para 2 trabalhadores, a adição de um segundo tra-
balhador aumentará a produção num certo montante. A adição de
um terceiro, ainda que aumente a produção total, causará um
aumento na produção inferior ao aumento trazido pela adição do
segundo trabalhador; a adição de um quarto trabalhador causará
um aumento inferior ao do terceiro, podendo-se imaginar um ponto
onde a adição de mais um trabalhador chegue mesmo a diminuir
o total produzido, em decorrência da falta de espaço físico para que
eles trabalhem.
Baseados neste princípio, podemos deduzir que, na maior parte
dos casos, as isoquantas serão convexas com relação à origem.
No exemplo acima, podemos notar que a relação Terra/Tra-
balho cai com a adição de mais trabalhadores, o que causa uma
queda no aumento da produção causado ·por unidades adicionais
de trabalho, em virtude de pressões cada vez maiores no fator
constante.
Tal fenômeno ocorre ao longo das isoquantas, onde, por exem-
plo, a relação capital/mão-de-obra cai constantemente, quando se
desloca, verbi gratia, do ponto P para o ponto Q; assim, a pressão
sobre o fator capital é exercida tanto por uma queda no montante
de capital empregado quanto por um incremento na quantidade
de mão-de-obra utilizada. Nota-se que o raciocinio não é um em-
prego direto da lei dos Rendimentos Decrescentes, pois esta lei
pressupõe que um fator permaneça constante e não decrescente.
No entanto, é um raciocínio induzido pela Lei dos Rendimentos
Decrescentes.
Sendo dadas as especificações técnicas da produção, repre-
sentadas pelas isoquantas, restaria considerar os preços dos fatores
de produção utilizados, ou seja, capital e mão-de-obra. Suponhamos
que uma firma se defronte com as possibilidades técnicas (isoquan-
tas) representadas no gráfico 5.2. Admitiremos agora que, para
efetuar a produção, ela tenba um fundo de 200.000 unidades, mo-
netárias e que o preço do capital seja 1.000 cruzeiros por unidade
e o da mão-de-obra 50 cruzeiros. Qual será a combinação de fatores
(capital e mão-de-obra) que permitirá a produção aos custos mais
baixos possíveis, ou, com outra maneira de examinar o mesmo
problema, qual a combinação de fatores que permitirá, dado o
fundo de 200.000 unidades monetárias, produzir o maior número
possível de unidades?
INTRODt10AO A TEQRIA li:CONOHICA
64
ISOQUANTAS E ISOCUSTOS

325
300
275
250

225
~ 200
"
~ 175
150
125
100
75
50
25

Mão-de-obra

GRÁFICO 5.2

A relação de preço entre os fatores é representada pela reta


chamada isocusto. Em qualquer ponto da reta, o dispêndio total
nos fatores de produção será igual a 200.000 cruzeiros, pois esta
é a disponibilidade da firma. Poderia esta utilizar a combinação
representada pelo ponto Q e produzir 200 unidades. No entanto,
com o mesmo custo de 200.000 cruzeiros, poderia deslocar-se para
a combinação P e produzir 300 unidades, reduzindo, assim, seu
custo unitário.
O ponto de maior eficiência é o ponto P, onde um ponto do
isocusto coincide com um ponto da isoquanta mais alta possível.
Se a firma decidisse expandir suas atividades e incorporasse um
fundo adicional para tal fim, a curva de isocusto se deslocaria para
a direita, paralelamente ao isocusto inicial.
Se, no entanto, ocorresse uma modificação nos preços rela-
tivos dos fatores, a inclinação da curva de isocusto modificar-se-ia.
No gráfico 5.2, exemplificamos o caso de um aumento do preço
da mão-de-obra para, aproximadamente, 61 cruzeiros, sem que o
A ESTRUTURA DO MERCADO
65
preço do capital se modificasse. Com o fundo de· 200.000 cru-
zeiros, só é possível contratar 3.250 trabalhadores, se não fosse
contratada nenhuma unidade de capital. Como resultado, o custo
unitário subiu, pois, com o mesmo fundo, só é possível, agora,
produzir 200 unidades do produto. Nota-se também que, em de-
corrência do aumento do preço da mão-de-obra, houve substituição
de capital por mão-de-obra e a técnica de produção passou a utilizar
relativamente menos mão-de-obra.
Vimos, então, que o produtor selecionará a técnica de produ-
ção (proporção de fatores), cujo custo unitário de produção seja
o mais baixo possível.
Isto, no entanto, não é tudo o que o produtor terá de consi-
derar. Deverá ele produzir 200, 300 ou 1.000 unidades de pro-
duto?
Embora um aumento na produção possa representar um custo
total maior (um deslocamento da linha de isocusto), dependendo
das condições de procura, o nível mais alto da produção poderá
aumentar o lucro do empresário.
Introduziremos, agora, fatores de demanda, que, conjugados
com os custos de produção, determinarão o nivel de produção a
vários níveis de preço, ou seja, a curva da oferta.

A OFERTA EM MERCADOS COMPETITIVOS


Supondo-se que os preços dos fatores sejam constantes, para
que a empresa. no gráfico 5.2 atinja um nível de produção mais
alto que o ponto P, ela terá de incorrer em custos de produção
mais altos, contratando mais fatores de produção. No entanto, ela
só tomará esta atitude se o aumento da produção incrementar os
lucros da empresa.
Logicamente, a maximização dos lucros não é o objetivo prin-
cipal de todas as empresas modernas; no entanto, poderemos tomar
este caso como representativo de boa parte das mesmas. Podemos
dizer que, satisfeitos certos objetivos, não monetários, muitas vezes,
as firmas tentam, então, ajustar sua produção de forma a maximizar
seus lucros. Em outras palavras, o raciocinio que desdobramos
abaixo poderá ser reduzido a uma condição de certa subordinação
a outros objetivos.
Num regime de competição perfeita, as firmas são sempre
suficientemente pequenas e numerosas dentro de cada indústria, de
tal forma que nenhuma delas, isoladamente, poderá afetar o preço
do mercado.
INTRODUÇAO A TEORIA ECONOWCA
66
Dada uma certa curva de procura para uma indústria qualquer,
modificações introduzidas na oferta, por parte de qualquer firma
agindo individualmente, representarão somente deslocamentos infi-
nitamente pequenos, já que sua participação na oferta total é muito
reduzida ( atomização).
Concluímos daí que, para cada firma, individualmente, o preço
de mercado já é previamente determinado, ou seja, a curva da
procura é uma reta paralela ao eixo horizontal, onde a interseção
com o eixo vertical determina o preço· de mercado.

DETERMINAÇÃO DO A CURVA DE PROCURA


PREÇO DE MERCADO PARA UMA FIRMA X

Oferta.

! Po ---------- ---------- +-------~P~ra

Pr<l<:ura

Quantidade Quantidade

GRAFICO 5.3

. O gráfico 5.3 demonstra como o mercado, englobando todas


as firmas na curva da oferta, determina o preço de equilíbrio Pe
e como tal preço é dado às firmas individuais, tranformando-se em
suas curvas de procura.
As firmas, individualmente, já conhecem seu preço de venda.
Acima do preço Pe, havendo competição perfeita, elas não conse-
guirão escoar sua produção; da mesma forma, não venderiam abaixo
do preço Pe, já que sabem que, ao preço de mercado (Pe), elas
conseguirão vender toda a sua produção. Sabem também que, como
a participação de cada uma delas na oferta total da indústria é
extremamente pequena, qualquer que seja seu nível de produção,
o preço de mercado não será afetado.
Evidentemente, se todas as firmas que compõem a indústria
aumentassem suas respectivas produções, a cada nível de preço, a
curva da oferta total seria deslocada para a direita e, então, tería-
mos uma variação no preço de mercado. Todavia, devido à grande
A :SSTRUTURA DO MERCADO
67
automização na produção, dificilmente teríamos um fenômeno seme-
lhante.
Tendo sido determinado o preço do produto para cada uma das
firmas, resta-lhes ajustarem seu nível de produção, de forma a ma-
ximizarem seus lucros. Tal ajuste se dá ~onsiderando-se os custos
das firmas.

CUSTOS FIXOS E CUSTOS VARIAVEIS

Custo.s fixos são aqueles nos quais as firmas incorrem, inde-


pendentemente do nível de produção. Por exemplo, imobilização
em terreno, prédio e equipamentos têm custos como juros de capital
empregado e depreciação. Qualquer que seja a produção da firma,
o empresário terá de fazer· frente a tais despesas, mesmo que a
firma não esteja operando.
Outro exemplo, seriam os impostos prediais, territoriais etc.,
em que incorre a firma, esteja ela produzindo à capacidade máxima
ou fechada por motivo de férias coletivas de seus funcionários.
Ainda outro exemplo seria custo gerencial, que permanece inalte-
rado, qualquer que seja a produção da firma. lnclnímos aí o gerente,
seção de vendas, contabilidade etc.
Custo.s variáveis são os custos em que incorrem as firmas que
variam em função do nível de produção, como, por exemplo, custo
de matérias-primas e intermediárias, salários de operários, custo
de energia, comissões de venda etc. Tais custos variam proporcio-
nalmente à variação na produção, embora tal proporção possa não
ser fixa em todos os níveis.
A soma dos custos fixos e dos custos variáveis chama-se custo
total de produção. Chamamos de custo médio o custo total dividido
pelo número de unídades produzidas. Na tabela 5.1 relacionamos
os custos acima mencionados, para uma firma X.
A coluna 1 indica-nos as quantidades produzidas. A coluna 2,
os custos fixos, ao nível de 200, qualquer que seja a quantidade
produzida. As colunas 3 e 4 representam custos variáveis de salário
e energia, respectivamente, e a coluna 5, o custo variável total.
Com relação aos custos variáveis, notamos que, até o nível de
produção de 11 O unidades, o custo de salário é proporcional ao
nível de produção na proporção de 3 para 1. Para ultrapassar o nível
de 120 unidades de produção, já seriam necessários trabalhadores
em 2 turnos, o que aumentaria a proporção para 3,15 para 1 ao
nível de 120 unidades, 3,27 para 1 ao nível de 130 unidades e
3,5 para 1 ao nível de 140 unidades. Isto se dá devido ao fato

68 INTRODU'ÇAO A TEORIA ECONOMICA


TABELA 5.1
ESTRUTURA DE CUSTOS (CR$)

UDidades Custo Variável Custo Custo


Custo
produ- Fixo Total Médio
zidas Salários Energia Total

(1) (2) (3) (4) (5) {6) (7)


(3}+(4) (2)+(5) (6)+(1)

10 200 30 5 35 235 23,5


20 200 60 10 70 270 13,5
30 200 90 15 105 305 10,2
40 200 120 19 139 339 8,5
50 200 150 23 173 373 7,5
60 200 180 27 207 407 6,8
70 200 210 30 240 440 6,2
80 200 240 33 273 473 5,8
90 200 270 35 305 505 5,5
100 200 300 36 336 536 5,4
110 200 330 37 367 567 5,1
120 200 378 40 418 618 5,1
130 200 426 50 476 676 5,2
140 200 490 60 550 750 5,3
150 200 580 70 630 830 5,5
160 200 680 70 730 930 5,8
170 200 790 85 875 1075 6,3
180 200 920 85 1005 1205 6,6
190 200 1040 100 1140 1340 7,1
200 200 1180 100 1280 1480 7,4
210 200 1305 120 1425 1625 7,7
220 200 1445 130 1575 1775 8,1

A ESTRUTURA DO MERCADO 69
de serem necessanas taxas de salário mais altas para trabalhos
noturnos e devido à dificuldade crescente de se recrutarem trabalha-
dores para um 2. 0 turno, o que encarece, progressivamente, o custo
de salário.
O fenômeno oposto ocorre com o custo de energia, até o nível
de 120 unídades de produção, onde o custo da energia utilizada é
acrescido por quantidades decrescentes. A partir do nível de pro-
dução de 120 unídades, no entanto, toma-se necessário utilizar mais
energia do que a capacidade dos transformadores, forçando, por-
tanto, o consumo de eletricidade e encarecendo os custos.
O custo total agrega os custos variáveis com os custos fixos e,
dividido pelo número de unídades produzidas, dá-nos o custo médio
da produção, na coluna 7.
N atamos que o custo médio cai até o nível de 11 O uriidades e,
depois, começa a subir. A queda do custo médio é explicada por
dois fatores:
1 ) O componente do custo fixo do custo total vai sendo ra-
teado por uma quantidade crescente de unídades produzi-
das, de forma que o custo fixo unítário
Custo fixo
( ) cai progressivamente.
Unidades produzidas
2) O componente de custo de energia do custo variável aumen-
ta, até o nível de 120 unídades, menos que proporcional-
mente ao aumento na produção. Tal fenômeno ocorre em
patamares, como podemos observar analisando a coluna 4.

No entanto, a partir do nível de 120 unidades produzidas, o


custo médio começa a subir, devido ao aumento mais que pro-
porcional dos custos variáveis (salários e energia) com relação à
quantidade produzida. O encarecimento do custo variável unitário
Custo variável
( ) é suficientemente significativo para rever-
Unidades produzidas
ter o efeito do barateamento do custo médio devido à queda do
Custo fixo
custo fixo unítário ( ).
Unídades produzidas
Resta-nos, agora, indagar qual o nível de produção que ma-
ximizará os lucros da empresa, sendo dadas a estrutura de custos
e o preço de mercado. Suponhamos que o preço de mercado seja
de Cr$ 7,00 por unidade.
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA
70
Para determinarmos o nível de produção, vamos introduzir o
concerto de custo marginal. Definimos esse custo como o acréscimo
ao custo total decorrente do aumento na produção de uma unidade
adicional. Convém notar aqui que, na tabela 5.2, o custo marginal
não foi calculado para cada unidade adicional de produto, mas para
cada grupo de 1O unidades adicionais. Notamos que, na prática,
nunca são conseguidos levantamentos de custos por unídade de pro-
duto, mas sim por lotes; assim sendo, o raciocínio será feito levan-
do-se em consideração unídades adicionais de lotes e não unidades
de produto.
As colunas 1, 2 e 3 são tiradas da tabela 5.1. A coluna 4,
que indica o custo marginal, foi calculada da seguinte maneira: .
como o custo marginal é o acréscimo no custo total decorrente do
aumento da produção de uma unídade (no caso, um lote de 10 uní-
dades), calculamos o mesmo subtraindo, por exemplo, o custo
total para a produção de 60 unidades do custo total de 50 unída-
des, que resulta em 34. Isto indica que a empresa, partindo do
ponto de produção de 50 unídades, terá um custo marginal de 34,
para produzir um lote a mais de 1O unidades. Poderíamos aproxi-
mar, dizendo que o custo marginal por unídade de produção é 3,4,
34
ou seja . Isto está indicado na coluna 4a que é a coluna 4 divi-
10
dida por 1O unidades que compõem um lote.
Examinando a coluna 4a, notamos que o custo marginal cai
até o nível de produção de 110 unidades. A partir de então, sobe,
fazendo aumentar também o custo médio, que, até então, era de-
clinante, a partir do ponto onde eles são iguais, ou seja, ao nível
de produção de 120 unidades.
A coluna 5 indica-nos o preço de mercado do produto. Como
estamos em regime de competição perfeita, o preço é constante e
igual a Cr$ 7,00 no exemplo acima.
A coluna 6 dá-nos a receita total, ou seja, o preço unitário
multiplicado pela produção. Como o regime é de competição per-
feita, supomos que o produtor consiga escoar toda a sua produção,
qualquer que seja ela, ao preço fixado pelo mercado.
· A coluna 7 indica-nos o lucro da firma, aos vários níveis de
produção. Ele é determinado, subtraindo-se o custo total da re-
ceita total. Notamos que a operação só se torna lucrativa a partir
de níveis de produção entre 50 e 60 unidades. Até então, o em-
presário teria prejuízo ou perdas. Os lucros aumentam até atingir
Cr$ 234,00 ao nível de 130 unidades, passando, então, a declinar,
e a partir de 190 unidades de produção a firma volta a ter pre-
A ESTRUTURA DO MERCADO
71
TABELA 5.2

Unidades Custo Custo Custo Preço Receita


Custo
produ-
zidas Total Médio Mar~ Marginal
p/ ote p/ unid.
Merc.
UDit. Total
Lucro

(1) (2) (3) (4) (4a) (5) (6) (7)


(5)x(l) (6}--(2)

10 235 23,5 235 23,5 7 70 -165


20 270 13,5 35 3,5 7 140 -130
30 305 10,2 35 3,5 7 210 -95
40 339 8,5 34 3,4 7 280 -59
50 373 7,5 34 3,4 7 350 -23
60 407 6,8 34 3,4 7 420 +13
70 440 6,2 33 3,3 7 490 +50
80 473 5,8 33 3,3 7 560 +87
90 505 5,5 32 3,2 7 630 +125
100 536 5,4 31 3,1 7 700 +164
110 567 5,1 31 3,1 7 770 +203
120 618 5,1 51 5,1 7 840 +222
130 676 5,2 58 5,8 7 910 +234
140 750 5,3 . 74 7,4 7 980 +230
150 830 5,5 80 8,0 7 1050 +220
160 930 5,8 100 10,0 7 1120 +190
170 1075 6,3 125 12,5 7 1190 +115
180 1205 6,6 130 13,0 7 1260 +55
190 1340 7,1 135 13,5 7 . 1330 -10
200 1480 7,4 140 14,0 7 1400 -80
210 1625 7,7 145 14,5 7 1470 -155
220 1775 8,1 150 15,0 7 1540 -235

INTRODUÇAO A TEORIA ECONOllllCA


72
juízo. Como já vimos anteriormente, tal fenômeno acontece em
decorrência da estrutura dos custos fixos e variáveis. Sugeriríamos
ao leitor que retraçasse a argumentação para explicar o comporta-
mento dos lucros..
Estamos, agora, em condições de determinar o nível de pro-
dução que maximizará os lucros, ou seja, o nível de produção entre
130 e 140 unídades.
Devido à estrutura de nosso exemplo, não podemos afirmar
com certeza o nível ótimo de produção, mas sabemos que ele se
acha entre 130 e 140 unidades. Podemos fazer tal afirmação ba-
seados na análise marginal, que nos diz ser o nível de produção
que maximizará os lucros aquele em que o custo marginal é igual
ao preço. Ao nível de 130 unídades, o custo marginal é de 5,8 e ao
nível de 140 unídades ele é de 7,4. Concluimos, portanto, que o
ponto onde o custo marginal seja Cr$ 7,00 está entre 130 e 140
unídades do produto.

ANALISE MARGINAL

Podemos afirmar que o nível de produção que maximizará os


lucros é aquele em que o custo marginal foi igual ao preço, pela
seguinte razão: se a firma estiver produzindo ao nível de 10 uni-
dades conforme a tabela 5.2, verificamos que seu prejuízo é de
Cr$ 165,00; se a firma decidir expandir sua produção de 10 para
20 unidades, o custo marginal unítário será de Cr$ 3,50, mas o
preço de venda será de Cr$ 7,00 por unídade; assim sendo, a
firma "lucrará" nas 1O unídades adicionais produzidas Cr$ 35,00,
o que reduzirá seu prejuízo para Cr$ 130,00. Seguindo o mesmo
raciocínio, a firma passará a expandir sua produção, reduzindo seu
prejuízo, até que chegue ao nível de produção de 60 unidades, onde
já obterá um lucro de Cr$ 13,00. A produção não cessará neste
ponto, pois, para aumentar o produto de 60 para 70 unidades, o
custo marginal unitário será Cr$ 3,30 e o preço de venda de Cr$
7,00. Desta forma, o empresário "lucrará" nas 1O unidades adicio-
nais Cr$ 37,00, o que aumentará o lucro total de Cr$ 13,00 para
Cr$ 50,00. Seguindo o mesmo raciocínio, o empresário verá que seu
lucro máximo será obtido quando produzir entre 130 e 140 unidades
de produto.
Além deste ponto, seu lucro será reduzido, pois, para aumentar
sua produção de 140 para 150 unídades, o custo marginal unitário
será de Cr$ 8,00 e o preço de venda de Cr$ 7,00, perdendo, assim,
Cr$ 10,00 nas 1O unidades adicionais e reduzindo seus lucros de
A ESTRUTURA DO MERCADO
73
Cr$ 230,00 para Cr$ 220,00. Concluímos, portanto, que o ponto
de produção que maximizará o lucro em regime de competiçiio
perfeita será aquele em que o custo marginal for igual ao preço.
Poderíamos exemplificar graficamente o raciocínio com o auxí-
lio do gráfico 5.4.

A DETERMINAÇÃO DA QUANTIDADE A PRODUZIR


PELA FIRMA EM COMPETIÇÃO PERFEITA
Custo Marginal

Custo Médio

p l-----',___---~....:.~-----L._---Preço de Mercado
P'

I ' I
I
I I
o q" q' q

Quantidade

GRÁFICO 5.4

Observando a tabela 5.2, notamos que o preço do produto é


fixo, em regime de competição perfeita. No gráfico 5.4, o preço
é OP.
Observando, mais uma vez, a tabela 5.2, notamos que o custo
médio declina até atingir a produção entre 11 O e 120 unidades,
passando, depois, a aumentar com o aumento da produção. Pode-
mos verificar também que o custo marginal se situa abaixo do
-preço médio, até o ponto em que o custo médio atinge um mínimo,
quando, então, o custo médio e o custo marginal são iguais. Tal
situação verifica-se ao nfvel de produção de 11 O unidades. A partir
de então, o custo marginal toma-se mais alto que o custo médio,
ou seja, a partir do ponto A no gráfico acima. Estas relações estão
presentes no gráfico 5.4, como o leitor pode verificar.

74 INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA


Como o ponto de maXimização dos lucros se encontra. ao nível
de produção onde o custo marginal é igual ao preço de mercado,
a firma representada no gráfico 5.4 produziria no ponto B, ofertando
ao mercado a quantidade Oq.
Com base neste tipo de análise, podemos montar a curva da
oferta para a firma X representada no gráfico 5.4.
Sabemos que ao preço Op a oferta seria Oq. Se o preço fosse
Op', a quantidade ofertada seria Oq' e assim para qualquer outro
nível de preço. Existe, no entanto, um nível de preço abaixo do
qual a firma simplesmente não ofertaria qualquer quantidade no
mercado. Tal preço é aquele que é igual ao custo médio variável.
Vimos na tabela 5.1 que os custos da firma se dividem em
custos fixos e custos variáveis.
A curto prazo, qualquer que seja o nível de produção da firma,
ela terá de arcar com o custo fixo, até mesmo na situação extrema
de não estar produzindo nada. Desta forma, seu prejuízo seria
igual ao custo fixo total, já que, não produzindo nada, ela não
teria custos variáveis.
Somente a longo prazo é que uma firma que esteja tendo pre-
juízo poderá desfazer-se de seus investimentos e, assim, cessar os
prejuízos.
No gráfico 5.5 estão representadas as curvas de custo mar-
ginal, custo médio total e custo médio variável.
A curva de custo médio variável é a coluna 5 da tabela 5.1,
dividida pela coluna 1, ou seja, ela representa o custo variável por
unidade produzida. A diferença entre a curva de custo médio total
e a curva de custo médio variável é o custo médio fixo, que, como
se deveria esperar, é decrescente ao aumentarmos o nível de pro-
dução.
Já vimos que, ao preço op", a firma ofertaria a quantidade oq"
no mercado e neste ponto (A) não estaria auferindo lucro, já que
o custo médio é igual à receita média. O empresário teria somente
uma remuneração por seus serviços prestados, chamada de lucro
normal, cujo montante é um item de custo e já está incluído no
custo médio total. O lucro normal seria o equivalente a uma reti-
rada pro labore e não inclui lucros propriamente ditos, ou seja,
uma sobretaxa sobre sua remuneração. Em outras palavras, o lucro
normal é o custo de oportunidade do empresário.
A ESTRUTURA DO MERCADO
75
Custo Marginal

Custo médio total


p Custo Médio Variável

p•
P"

'' '
o q"' q" q' q

Quantidade

GRAFICO 5.5

A qualquer preço abaixo de op", o empresário estará tendo


prejuízo, já que o custo médio total é superior ao preço pelo qual
ele vende seu produto.
No entanto, a curto prazo, produzindo ou não, o empresário
terá de arcar com o custo fixo e a pergunta se resume na possi-
bilidade ou não de reduzir o prejuízo.
Observando o gráfico 5.5, vemos que, para preços entre Op"
.e Op'", o empresário, se continuar produzindo as quantidades res-
pectivamente situadas entre os pontos A e D, poderá reduzir seu
prejuízo, o qual seria igual ao custo fixo total, caso não produzisse
nada.
A qualquer preço entre Op" e Op"', a receita ainda não seria
suficiente para eliminar o prejuízo. No entanto, ela é suficiente para
cobrir os custos variáveis e ainda resta uma soma para custear uma
párte dos custos fixos. O empresário, desta forma, ainda continuará
produzindo de forma a minimizar sen prejuízo. Tal comportamento,
no entanto, verificar-se-á somente a curto prazo, já que, a longo
prazo, ou seja, assim que as condições permitirem, ele fechará a
firma, na qual estava tendo uma perda monetária.
INTRODUÇAO A TEOR.IA ECONOMICA
76
A qualquer preço acima de Op", o empresário estaria auferin-
do lucros acima do lucro normal e, portanto, produziria nos pontos
onde o custo marginal é igual ao preço.
Concluímos daí que uma firma em competição perfeita terá
sua curva de oferta de curto prazo coincidente com sua curva de
custo marginal, em seus pontos acima da curva de custo médio
variável. Ao preço Op'", o empresário estaria indiferente, entre pro-
duzir a quantidade Oq'" ou não produzir.

A CURVA DE OFERTA DA FIRMA A CURTO PRAZO

p --------------------

P'
P"
P'"i"------------~
D

o q"' q" q' q

Quantidade

GRÁFICO 5.6

A ESTRUTURA DO MERCADO
77
No gráfico 5.6 está representada a curva de oferta da firma a
curto prazo. Os pontos A, B, C e D são os mesmos do gráfico
5.5. A soma horizontal das curvas de oferta de todas as firmas
numa indústria seria a curva de oferta da indústria.
Constatamos o fato de que, acima do preço Op", a firma terá
lucros extras, em virmde do preço estar a um nível mais alto que
o custo médio. Poderíamos perguntar se, em regime de competição
perfeita, tal situação seria estável.
A curto prazo, a firma poderia continuar auferindo lucros
acima do lucro normal. No entanto, a longo prazo, tal situação ten-
deria a desaparecer.
Como já vimos anteriormente, num sistema de · competição
perfeita, haveria perfeita mobilidade de fatores, bem como conhe-
cimento perfeito. Empresários em outras atividades, que não esti-
vessem auferindo lucros extras, sentir-se-iam motivados a ingressar
no ramo explorado pela firma acima mencionada, com o intuito de
partilhar dos altos lucros recebidos naquele setor. Como um número
significativo de empresários efetuaria tal mudança, a curva de oferta
total (soma das curvas de oferta individuais) deslocar-se-ia para
a direita, causando uma queda no preço de mercado.
Se, no gráfico 5.5, o preço de mercado fosse Op', tal situação
tenderia a fazer esse preço de mercado cair.
A firma X, representada no gráfico 5.5, continuaria operando
até que o preço de mercado caísse ao nível Op"'.
Se, no entanto, as outras firmas tivessem uma estrutura de
custos tal que, mesmo ao preço abaixo de Op'", seus custos totais
pudessem ser cobertos, o preço de mercado se estabilizaria em tal
nível e a firma X seria obrigada ou a encerrar suas atividades ou,
então, reduzir seus custos de produção, equiparando sua tecnologia
à das outras firmas, cujos custos são mais baixos.
A longo prazo, teríamos, em competição perfeita, uma situação
onde todas as firmas estariam operando com uma tecnologia que
reduzisse ao máximo a estrutura de custos e, devido à competição
pelo lucro, nenhuma estaria auferindo lucros acima dos lucros nor-
mais. O gráfico 5.7 representa uma firma em tal situação.

INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA


78
EQUIL!BRJO DE LONGO PRAZO

Custo Marginal

1 p

o q
Quantidade

GRÁFICO 5.7

O preço de mercado Op possibilita ao empresário acin:a uma


receita que cobre seus custos totais, mas que, no entanto, não é
suficiente para gerar lucros extras.

A OFERTA NUM SISTEMA MONOPOLlSTICO

A diferença entre o comportamento de uma firina em regime


de competição perfeita e outra em regime de monopólio pode ser
explicada pelas suas curvas de procura.
Vimos como, em competição perfeita, a curva da procura de
uma firma é infinitamente elástica e o preço é determinado pelo
mercado. A firma, passivamente, ajusta sua produção ao preço
dado.
Em monopólio, tal fenômeno não ocorre. Como só há um pro-
dutor de determinado produto, a curva da procura do mercado se
identifica com a curva da procura da firma monopolista. Esta pode
A ESTRUTURA DO MERCADO
79
manipular os preços, alterando as quantidades ofertadas, coisa que
não seria possível em competição perfeita, devido à atomização
da produção.
Em competição perfeita, a firma aumenta sua produção até
igualar custo marginal ao preço. Desta maneira, enquanto o custo
de uma unidade adicional for menor que o preço, o produtor
aumentará seu "lucro", ao expandir sua produção nesta unidade
adicional.
Em monopólio, ao aumentar sua produção em uma unidade
adicional, haverá uma queda no preço, já que a sua curva da pro-
cura tem inclinação negativa. Desta forma, o produtor monopolista
aumentará sua produção, enquanto seu custo marginal for mais
baixo que a receita adicional gerada pelo aumento na quantidade
ofertada em uma unidade. Em outras palavras, ele aumentará sua
produção até que seu custo marginal seja igual à sua receita mar-
ginal.
Definimos receita marginal como o acréscimo na receita total
(preço multiplicado pela quantidade vendida), decorrente da venda
de uma unidade adicional.
Em competição perfeita, a condição de uma maximização de
lucros era custo marginal igual ao preço. Em monopólio, a condição
é custo marginal igual à receita marginal.
Convém notar que a diferença é puramente circunstancial, já
que a receita marginal é igual ao preço, quando a curva da procura
é infinitamente elástica. Sugerimos ao leitor que prove esta afirma-
ção por ~i mesmo.
Na tabela 5.3, colocamos a firma X da tabela 5.2 frente a
uma situação monopolística e veremos como ela determinará seu
nível de produção e o preço de mercado.
As colunas 1, 2, 3, 4 e 5 foram tiradas da tabela 5.2. A
coluna 6, juntamente com a coluna 1, representam os dados da
tabela de procura para o produto, a qual se identifica com a curva
da procura da firma. A coluna 1 indica quais as quantidades que
seriam demandadas aos preços constantes da coluna 6. A coluna 7
é o produto dos preços pelas quantidades. Notamos que a receita
total aumenta com a queda nos preços até o nível de preço de
Cr$ 7,50 por unidade. Isto nos indica que a curva é elástica neste
segmento.
No segmento entre os níveis de preço de Cr$ 7,50 e Cr$ 7,00
ela tem elasticidade unitária e abaixo de Cr$ 7,00 ela se toma ine-
lástica.
INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMIOA
80
A coluna 8 indica a receita marginal. Como a receita marginal
é a variação na receita total decorrente do aumento de renda de
uma unidade adicional (no caso, um lote de 1O unidades), calcula-
mos a mesma subtraindo, por exemplo, a receita total para 60
unidades vendidas da receita total para 50 unidades vendidas, o que
resulta em 90. Isto indica que a empresa, partindo da venda de 50
unidades, terá uma receita adicional de 90, caso venda um lote de
10 unidades a mais. Poderíamos aproximar, dizendo que a receita
marginal por unidade é 9,0, ou seja, 9Ü/10. Isto está indicado na
coluna 8a, que é a coluna 8 dividida por 1O, ou pelo número de
unidades que compõem um lote. Observando a coluna Sa, notamos
que a receita marginal por unidade cai a qualquer nível de pro-
dução, tomando-se negativa a partir de 150 unidades vendidas.

A ESTRUTURA DO MERCADO
81
TABELA 5.3

Custo Custo Preço Receita Receita Receita


Unid. Custo Custo Marg. Marg. Marg. Marg. LUC>O
l'rod. Total Módio Unit. Total
p/ lote p/ un. p/ lote p/un.
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (8a) (9)
(6)x (!) (7)-(2)

10 235 23,5 235 23,5 14,0 140 140 14;0 -95


20 270 13,5 35 3,5 13,5 270 130 13,0 o
30 305 10,2 35 3,5 13,0 390 120 12,0 85
40 339 8,5 34 3,4 12,5 500 110 .11,0 161
50 373 7,5 34 3,4 12,0 600 100 10,0 227
60 407 6,8 34 3,4 11,5 690 90 9,0 283
70 440 6,2 33 3,3 11,0 770 80 8,0 330
80 473 5,8 33 3,3 10,5 840 70 7,0 367
90 505 5,5 32 3,2 !O,O 900 60 6,0 395
100 536 5,4 41 4,1 9,5 950 50 5,0 414
llll 567 5,1 51 3,1 9,0 990 40 4,0 423
120 618 5,1 51 5,1 8,5 1020 30 3,0 402
130 676 5,2 58 5,8 8,0 !040 20 2,0 364
140 750 5,3 74 7,4 7,5 1050 !O 1,0 300
!50 830 5,5 80 8,0 7,0 1050 o o 220
!60 930 5,8 100 10,0 6,5 !040 -10 -1,0 110
170 1075 6,3 125 12,5 6,0 !020 -20 -2,0 -55
180 !205 6,6 130 13,0 5,5 990 -30 -3,0 -215
190 !340 7,1 135 13,5 5,0 950 -40 -4,0 -390
200 1480 7,4 140 14,0 4,5 900 -50 -5,0 -580
210 1625 7,7 145 14,5 4,0 840 -60 -6,0 -785
220 1775 8,1 !50 15,0 3,5 770 -70 -7,0 -1005

INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA


82
Não devemos esquecer que, embora a quantidade vendida seja
maior, a receita marginal· será decrescente em virtude da necessidade
de que o preço caia para que seja absorvida uma oferta maior.
Observando a tabela 5.3, notamos que a produção que maxi-
mizará os lucros do empresário se situa entre 11 O e 120 unidades
do produto. Neste ponto o custo marginal será igual à receita mar-
ginal e o preço estará entre Cr$ 8,50 e Cr$ 9,00 por unidade.
O lucro foi maximizado já que, enquanto o custo marginal é
mais baixo que a receita marginal, compensa aumentar a produção
em uma unidade. Tal possibilidade se esgota quando eles se igualam.
Graficamente, ilustramos o caso no gráfico 5.8.

DETERMINAÇÃO DA QUANTIDADE A PRODUZIR PELA


FIRMA EM MONOPóLIO

Çusto Marginal

Custo Médio

Procura
\
'
Receita marginal
I

o
Quantidade

GRÁFICO 5.8

A ESTRUTURA DO MERCADO
83
A produção que maximizará os lucros do monopolista é a quan-
tidade Oq., determinada na interseção A. Para que a quantidade
Oq. seja vendida, o monopolista pode cobrar Op., o que é indicado
pelo ponto C na curva da procura. A diferença ÃC entre o preço
e o custo médio representa lucros extras, acima do lucro normal,.
que o monopolista teria assegurado para si.

ALGUMAS CONSIDERAÇõES QUANTO À EFICffiNCIA


ECONOMICA

Baseados nos dois modelos de equihbrio da firma, poderemos


tirar algumas conclusões quanto à relação entre a estrutura do
mercado e a eficiência econômica.
Em competição perfeita, o preço do produto tende a apro-
ximar-se do custo marginal. Isto indica .que o preço que o consu-
midor deseja pagar por uma mercadoria, ou seja, a satisfação ou
utilidade que o consumidor obtém com seu uso, é igual ao custo ·
da mercadoria para a sociedade como um todo.
Observando o gráfico 5.8, .notamos que, em regime de com-
petição perfeita, a quantidade produzida seria Oqx e o preço Opx.
Em monopólio, a quantidade produzida é menor, Oq., e o preço
é mais alto, Op.. Isto nos mostra que o consumidor está pagando
pela última unidade de mercadoria um preço mais alto do que o
custo da mesma, de tal forma que seria possível aumentar a satis-
fação total dos consumidores, aumentando a produção. O consu-
midor ainda desejaria adquirir mais unidades da mercadoria a um
preço mais alto que seu custo. Em segundo lugar, a longo prazo,
em sistema de competição perfeita, as firmas se veriam coagidas a
adotar as técnicas de produção que minimizassem os custos de pro-
dução. Tal coação não seria verdadeira em monopólio, já que a
firma monopolista não teria concorrentes competindo pelos lucros
·gerados no sistema produtivo.
Em situações reais, no entanto, poderíamos questionar a vali-
dade dos dogmas que acusam o monopólio de ser prejudicial à
eficiência econômica do sistema.
Poderíamos citar o caso de indústrias que têm custos decres-
centes com o aumento da quantidade produzida. Seria o caso de
energia, onde os custos unitários caem com o aumento da escala
de produção. Nesta situação, se a produção fosse atomizada, os
custos seriam mais altos, não seria possível realizar o benefícios de
economias de escala, já que todos os produtores são pequenos e
INTRODtJÇAO A TE(>RIA ECONOMICA
84
constituem, individualmente, uma parcela muito pequena da oferta
total.
Outra consideração pertinente seria relacionada com a moti-
vação das firmas monopolistas. Embora elas possam ter o poder
monopo!i~ta, podem não se utilizar de tal expediente como conten-
. . ção da produção para elevar os preços. Inicialmente, por causa
da "boa iinagem" que as firmas desejam preservar para si e, em
segundo lugar, devido ao fato de que, embora elas possam ter um
monopólio do seu produto, existem substitutos próximos, de modo
que a fluidez do consumidor de um produto para outro possa ser
incentivada por uma politica de exploração. Na realidade, não exis-
tem monopólios perfeitos, mas, sim, situações que se assemelham
mais à competição monopolística.
Outros argumentos a favor do monopólio seriam, em primeiro
lugar, uma diversificação na produção, efeito este causado pelo de-
sejo de cada firma de criar uma situação monopolística para si.
Em segundo lugar, firmas grandes possuem melhores condições para
o desenvolvimento de pesqnisas tecnológicas. Dificilmente podería-
mos entrever o nascimento de novas técnicas de produção efetuadas
por firmas atomizadas e de pequeno porte.
Em verdade, torna-se muito difícil julgar-se maior ou menor
conveniência de monopólio ou de competição perfeita. O que de-
senvolvemos neste capítulo foram modelos teóricos, que não repre-
sentam a realidade, mas, sim, alguns traços observáveis e propo-
sitadamente exagerados, para lhes conferir um grau de maior gene-
ralidade. Eles nos fornecem pontos de referência para julgamento
e nunca um padrão a ser reproduzido na vida real.

RESUMO

Nestes capítulos, investigamos a maneira como a estrutura do


mercado afeta a obtenção dos objetivos econômicos de uma comu-
nidade.
Descrevemos dois tipos de estrutura de mercado: a competição
perfeita e o monopólio, que são dois extremos opostos de tipos de
mercado. ·
A segnir, investigamos o comportamento do agente consumidor
e de que maneira ele atinge seu ponto de satisfação máxima.
Passamos a descrever o padrão de comportamento do agente
produtor, inicialmente em competição perfeita e, depois, em mo-
nopólio.
A ESTRUTURA lJO MERCADO
85
Finalmente, pudemos criar alguns critérios de avaliação que
nos auxiliarão a julgar a eficiência econômica das várias estruturas
de mercado existentes no mundo real.

QUESTõES PARA DISCUSSÃO

1) Você acha que existe competição perfeita? E monopólio?


2) Exemplifique 3 casos reais de mercado, onde não haja
livre entrada.
3) Como você classificaria os seguintes mercados? Por quê?
- A Bolsa de Valores
- A indústria de computadores eletrônicos
- A indústria automobilistica
- A indústria de cosméticos
- O setor cafeeiro
4) Se a utilidade total de um bem é muito alta, isto implica
dizer que a utilidade marginal também o é?
5) Você crê que o consumidor moderno seja "soberano"
em suas decisões?
6) Explique por que, a curto prazo, a curva da oferta de
uma firma em competição perfeita é igual à sua curva
de custo marginal. Quais as limitações a esta afinnação?
7) O produtor minimizará seus custos de produção adotando
a combinação de fatores representada no ponto de tan-
gência, entre o isocusto e a isoquanta. Explique e desen-
volva esta afirmação.
8) Você faria alguma consideração sobre a forma das iso-
quantas nas firmas modernas? Em outras palavras, será
que existe, em realidade, uma ampla margem de substi-
tuição entre fatores?
9) Classifique os seguintes custos em fixos ou variáveis:
- Salário de operários
- Eletricidade
- Comissão de venda
INTRODUÇãO A TEORIA ECONOMICA
86
- Retiradas da diretoria
- Depreciação
-Aluguel
10) Suponhamos que sua firma tenha um custo fixo de Cr$
100.000,00 e que sua produção possa variar de 10 a 500
unidades. Represente os custos fixos unitários.
11) Suponhamos que os custos variáveis sejam de Cr$ 10,00
por cada 20 unidades produzidas. Represente grafica-
mente os custos total, médio e marginal.
12) Continuando o exercício acima, determine um preço de
mercado e identifique a produção da firma em competição
perfeita.
13) Se a firma acima fosse monopolista, qual seria sua pro-
dução? (Iniciaimente, monte sua curva de procura.)
14) Quais as condições para que uma firma tenha poder mo:
nopolista? Cite exemplos concretos de como tal poder
pode ser mantido.
15) Por que o preço do monopolista não tende a ser igual
ao ponto mínimo de sua curva de custo?

A ESTRUTURA DO MERCADO
87
Os Agregados Econômicos
e o Setor Real 6
Até este ponto, descrevemos o funcionamento de unidades
individuais dentro de um sistema econômico, ou seja, a racionali-
dade do consumidor, da forma e de como as unidades individuais
se relacionam com o mercado. Em outras palavras, estudamos a
Teoria Microeconômica.
Passamos, agora, à Teoria Macroeconômica. O ponto focal de
interesse se deslocará para os agregados econômicos. As questões a
que nos proporemos não mais se relacionam com o nível de produ-
ção da empresa X, Y ou Z, mas sim com o nível total da pro-
dução, agregando a produção de todas as unidades produtivas; não
nos interessará mais saber o que o indivíduo M deseja consumir,
em função dos preços e de sua preferência, mas sim a que nível
de consumo global estará a economia e assim por diante.
·Robert Heilbroner( 1) assim descreve a Macroeconomia:
"Tal esforço (para aprender alguma coisa sobre Macro-
economia) e a disposição de abandonar nosso ponto de vista
familiar da vida econômica, substituindo-o por outro novo,
são, por vezes, desconcertantes. É nossa capacidade de deixar
para trás o conhecimento do cenário econômico como parti-
cipantes individuais e adotar uma nova visão, da qual possa-
mos perceber todas as atividades econômicas, simultânea e
coletivamente - visão que abarca não os atos de uma única
pessoa ou firma ou cidade, mas que abrange toda a sociedade.
De todas as exigências intelectuais feitas pela Teoria Econô-
mica, esta adoção do ponto de vista do economista talvez seja
a mais difícil. Mas é também a mais necessária, pois somente
depois de termos ocupado este ponto de observação, situado
(1) Hellbroner. R. Elementos de Macroeconomi4. Zahar EditOres. Rio de Ja~
nelro, 1966, pá.g, 16.

INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA


88
em posição elevada, começamos a ver o panorama extraordi-
nário de que se ocupa a Teoria Econômica "

O FLUXO ECONOMICO
Observando-se a economia como um todo, notamos uma série
de fluxos.
Em primeiro lugar, há um fluxo real de bens e de serviços.
Firmas contratam mão-de-obra, compram matérias-primas ·e bens de
investimento e produzem bens, que são, posteriormente, vendidos a
outras firmas as quais tran~formam o produto ainda mais, até que
o produto final seja vendido ao consumidor. Durante todas essas ope-
rações, há uma constante transferência de bens e de serviços, entre
os agentes econômicos. A isto chamamos fluxo real.
Em segundo lugar, existe a contrapartida monetária dos fluxos
reais, a que chamamos fluxos monetários. Toda vez que um bem ou
um serviço é transferido de um agente para outro, são efetuados
pagamentos em troca deles. O fluxo monetário, conseqüentemente,
gira em direção contrária do fluxo real.
A interação desses dois fluxos, o real e o monetário, cria, como
conseqüência, o fluxo de renda.
Quando um trabalhador é contratado por uma firma, ele lhe
transfere os seus serviços (fluxo real) e recebe em troca dinheiro
(fluxo monetário). Em decorrência dessa operação, ele recebeu
um certo poder aquisitivo, que poderá gastar (fluxo de renda),
comprando o produto da firma.
Da mesma forma, uma firma que vende matéria-prima a outros
também está criando fluxos.

Produto Pagamento
Serviços
Vamos, agora, definir renda. Todo pagamento a fatores de pro-
dução chama-se renda e inclui salários, lucros, juros e aluguéis,
sendo estes, respectivamente, pagamentos feitos aos fatores traba-
lho, empresário, capital e recursos naturais ou bens imóveis.
Chama-se produto o valor dos bens e serviços finais, produ-
zidos num determinado período. O produto inclui bens de consumo
duráveis e não duráveis e também bens de investimento, com a con-
dição de que tenham sido produzidos durante o período determi-
nado.
O valor final do produto é igual à soma dos valores adicionados ·
durante o processo produtivo.
Assim, o valor dos bens intermediários não está incluído no
valor do produto final; seria contar duplamente o valor do bem
intermediário se, por exemplo, somássemos ao produto de uma
economia tanto o valor do tabaco quanto o valor do cigarro, pois
o preço do tabaco já está incluído no preço final do cigarro.
No esquema abaixo, acha-se exemplificado tudo a que nos
referimos até o momento.

FLUXOS ECONOMICOS

Fatores de
Produçfi.o

Serviços Fábrica de Cigarros


Fazenda

Refinaria

90 INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA


Suponhamos que, numa economia, só haja produção de cigar-
ros e que a população só necessite consumir este produto.
O setor fatores de produção inclui o fator mã<Hie-obra, que
é a população assalariada e empresarial da economia, mais os outros
indivíduos que, embora não oferecendo seu próprio trabalho para
o processo produtivo, oferecem fatores de produção de sua proprie-
dade, como capital e imóveis. Dessa forma, é para o setor dos fatores
de produção que afluem pagamentos por serviços prestados, tais
como mão-de-obra; juros, como pagamentos por empréstimos efe-
tuados às firmas; aluguéis, como pagamentos pelo uso de proprie-
dades dos indivíduos e lucros, como pagamentos efetuados pelas
firmas aos seus proprietários. Assim, quando a refinaria paga 10
unidades monetárias aos fatores de produção, já está incluído o
próprio lucro do proprietário da firma que, como empresário, é
·parte do setor de "fatores de produção.
Como já havíamos definido, todos os pagamentos efetuados ao
setor fatores de produção chamam-se renda. V amos mostrar, agora,
como a renda é igual ao valor adicionado pelo sistema produtivo.
Quando a fazenda comprou serviços aos fatores de produção,
ela criou valor pelo uso destes serviços. Por exemplo, contratou
homens e tratores para cultivarem a terra e, desse processo, resultou
o tabaco, cujo preço é igual à renda, ou é igual aos pagamentos
efetuados aos fatores mais o lucro do fazendeiro (que também é
renda). Assim, o valor adicionado, ou o valor criado neste primeiro
processo, é igual à renda.
No próximo estágio, a refinaria adquiriu o tabaco da fazenda;
o ato de adquirir não adiciona valor ao bem. Tal adição só é
feita quando ele contrata serviços dos fatores de produção e com
eles refina o tabaco adquirido. Assim, o valor do tabaco refinado
é igual ao valor adicionado pela fazenda, mais o valor adicionado
pela refinaria. O valor adicionado pela refinaria é_ igual aos seus
custos de produção, mais os lucros da firma. Tais valores, como
vimos anteriormente, são iguais à renda.
Seguindo-se o mesmo raciocinio, em todos os estágios de pro-
dução, vemos que a renda total crhda nessa economia simplifi-
cada é igual ao total dos valores adicionados criados na mesma.
No nosso exemplo, a renda é igual a todos os recebimentos pelos
fatores de produção, que são iguais a 45 unidades monetárias. O
valor adicionado é também igual a 45 unidades monetárias.
Passemos, agora, ao produto. Definimos o produto como o
valor do bem final, neste caso, cigarro.
A fábrica adquiriu o tabaco refinado por 25 unidades mone-
tárias e, para fabricar o cigarro, adicionou o valor de 20 unidades
OS AGREGADOS ECONOMICOS E O SETOR REAL
91
monetárias, onde já está incluído o lucro. Assim, o seu preço de
venda é igual a 45 unidades monetárias. Podemos, agora, redefinir
o produto como a soma dos valores adicionados, que é também
igual a 45 unidades monetárias. Como a renda é igual à soma dos
valores adicionados, podemos concluir que renda = produto.
Convém notar, mais uma vez, que o valor dos bens interme-
diários (tabaco cru e tabaco refinado) não é somado ao valor do
cigarro, quando se chega ao produto final, pois os seus valores já
estão incluídos no preço do cigarro. Assim, poderíamos, nova-
mente, chegar ao produto, somando-se todas as transações em bens
efetuadas no sistema e deduzindo-se daí o valor dos bens interme-
diários.
Pagamento à fazenda 1O
Pagamento à refinaria 25
Pagamento à fábrica 45
80
Valor dos bens intermediários -35
Valor do produto 45

Notemos, agora, que os pagamentos de renda efetuados aos


fatores de produção lhes conferem poder aquisitivo sobre o produto
da economia. Assim, o produto é vendido pelas firmas ao setor
de fatores de produção. O dispêndio efetuado, nesta compra, cha-
ma-se despesa. É fácil notar-se que a despesa é, necessariamente,
igual ao produto, visto que o que é comprado tem, necessariamente,
de ser igual ao vendido.
Assim, renda = despesa = produto.

A POUPANÇA E O INVESTIMENTO

O leitor deve ter notado que, no exemplo acima, os indivíduos


que receberam renda gastaram-na totalmente para adquirirem o
produto. Isto, no entanto, não corresponde à realidade, visto que
eles podem poupar parte de sua renda e reservá-la para consumo
posterior. Assim, poderemos fazer a seguinte notação:

(YR renda)
(C = consumo)
(P = poupança)

INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA


92
Isto nos diz que a renda poderá ser consumida ou poupada.
As firmas poderiam, igualmente, ter reservado uma parte de
sua produção para investimento. Por exemplo, poderiam ter reser-
vado uma parcela do valor de sua produção para a formação de
bens, parcela que seria usada no futuro para a produção de outros
bens. Por exemplo, em vez de enviar ao setor de fatores de pro-
dução todo o lucro da fábrica de cigarros, uma parte poderia ser
retida para a compra de máquinas, a fim de aumentar a capacidade
da firma. Em outras palavras, parte do valor do produto fmal
poderia ser consumida e parte poderia ser usada para a formação
de capital. Assim, poderíamos notar:
Yp =C+ I (Yp = produto)
( c= consumo)
( I investimento)
Como YR = Yp
p = I ( P = poupança)

Concluimos, então, que poupança é igual ao investimento.


O leitor poderia estranhar, dizendo que não há, necessaria-
mente, essa igualdade e que somente por coincidência o montante
poupado pelos indivíduos seria igual ao montante investido pelas
firmas.
Nestes termos, não hesitaríamos em concordar com o leitor,
mas agora toma-se necessário definir investimento corretamente.
Ele não é somente aquela parte da produção que não é consumida
e que é usada para a produção de outros bens no futuro, mas
também a parte do produto que não é consumida e é simplesmente
estocada, sendo usada para consumo posterior. Assim, investimento
é igual à formação de capital mais variação de estoques.
Por exemplo, vamos supor que, numa economia, o produto
(conseqüentemente, a renda) seja igual a Cr$ 200,00, que os in-
divíduos poupem Cr$ 50,00 de sua renda e consuinam o restante,
que as firmas decidam investir somente Cr$ 30,00 e que, final-
mente, o restante da produção seja vendido para consumo. Nata-
mos, aqui, que a poupança não é igual ao investimento propriamente
dito (significando formação de capital), porém, a formação de ca-
pital mais a variação de estoques (que é o investimento) será igual
à poupança.
Vejamos a razão: o investimento é de Cr$ 30,00, de modo que
restam Cr$ 170,00 de mercadorias, que as firmas desejam vender
aos consumidores. Porém, as famílias desejam poupar Cr$ 50,00
OS AGREGADOS ECONOMICOS E O SETOR REAL
93
e, portanto, só lhes restam Cr$ 150,00 para comprarem mercado-
ras de consumo. Como resultado disto, as firmas não conseguirão
vender tudo o que desejam, ficando com Cr$ 20,00 em mercado-
rias .(Cr$ 170,00 - Cr$ 150,00), que serão estocadas. Houve,
então, uma variação de estoques de + Cr$ 20,00. Conseqüen-
temente,
p =I

visto que P é igual a Cr$ 50,00 e I é igual a Cr$ 30,00 de formação


de capital mais Cr$ 20,00 de variação de estoques.
Poderíamos dizer que o investimento planejado das firmas
(Cr$ 30,00) não pôde ser concretizado, visto que o investimento
realizado foi diferente (Cr$ 50,00).

ALGUNS CONCEITOS

Os ativos reais de uma sociedade, tais como imóveis, máquinas,


ferramentas etc., desgastam-se com o uso. Por exemplo, uma má-
quina não dura eternamente. Se ela só dura 1O anos, dizemos que
a sua taxa de desgaste ou depreciação é de 10% ao ano, de modo
que, no fim de 10 anos, ela não tem mais qualquer valor ou. uti-
lidade. Assim, é importante saber qual é a parte da produção total
de uma economia que é simplesmente uma reposição dos ativos
desgastados nesse ano e qual a parte que é, reallnente, o fruto
adicional do processo produtivo.
A produção total de uma economia chama-se produto bruto.
Se deduzirmos do produto bruto a parcela que deverá substituir
o desgaste dos ativos (a depreciação), teremos o produto líquido.
Notamos, também, que parte do que é produzido dentro de
um país pode não pertencer a residentes neste país e que pode
pertencer-lhes ·parte do que é produzido em outros países.
O valor do que é produzido internamente, mas que é proprie-
dade de não residentes, pode ser enviado para o estrangeiro, como
pagamentos de renda (remessa de lucros, rayalties etc.), e vice-
versa. Dizemos, então, que o produto interno é tudo o que foi
produzido dentro do país e o produto nacional é igual ao produto
interno + renda recebida - renda enviada. O produto nacional
demonstra-nos não o que foi produzido internamente, mas a pro-
dução total que pertence a residentes no país.
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONO:MICA
94
Produto interno bruto
- Depreciação

Produto interno líquido


Renda enviada
+ Renda recebida

Produto nacional líquido


+ Depreciação
Produto nacional bruto

OS VAZAMENTOS E AS INJEÇõES

Vnnos que a economia no seu processo de funcionamento cria


fluxos entre os setores de fatores de produção e das firmas e que
estes fluxos se perpetuarão se obtivermos uma situação de equilí-
brio. Definimos uma situação de equilíbrio como um estado em
que todos os agentes econômicos conseguem realizar seus planos
. e onde não têm qualquer incentivo para variar sua conduta.
Por exemplo, uma situação na qual o investimento realizado
não é igual ao investimento planejado, claramente não é uma
situação de equilíbrio. No exemplo que vimos, os empresários foram
obrigados a estocar Cr$ 20,00 em mercadorias e, como resultado
disto, provavelmente diminuirão sua produção no período seguinte.
Só poderá haver equilíbrio quando a poupança for igual ao investi-
mento planejado; assim, os empresários não se verão obrigados a
variar o seu nível de estoques contra seus desejos.
Poderíamos ilustrar a situação de equilíbrio usando o con-
ceito de vazamentos e de injeções (ou gastos compensatórios). Abai-
xo, temos uma situação em que não há poupança nem investimentos.
Neste caso, o fluxo recebido pelos fatores é pago às empresas,
que o enviam novamente aos fatores, no período seguinte, e assim
·por diante.

OS AGREGADOS ECONOMICOS E O SETOR REAL


95
Fatores de
Produção

Bens

Ci'$ 100,00

Serviços
Firmas

Assim, a economia está em equilíbrio com um produto igual


a Cr$ 100,00.
Acontece que a poupança é um vazamento no fluxo e isto
fará com que as firmas não consigam receber a totalidade da renda
paga aos fatores de volta. Neste caso, as firmas diminuiriam sua
produção no período seguinte e, desse modo, pagariam menos renda
e assim por diante. A economia não estaria em equilibrio.
Ela só poderia restabelecer o equilíbrio se houvesse alguma
injeção no fluxo, que compensasse o vazamento de poupança. Tal
injeção é o investimento planejado. Quando a poupança é igual
ao investimento planejado, o fluxo retoma a seu nível de equi-
h'brio.

96 INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA


Fatores de Produção f-'-'p'.;c"P:..c'.;;c"'c.'_ _ _ CrS 20,00

CrS 80,00

CrS 100.00

Servicos

Bens

Investimento

I
'---F-i<_rn_"_ ___,,...f------""'--- CrS 20,00

Nesta situação, a renda dos fatores foi de Cr$ 100,00, mas eles
só desejaram consumir Cr$ 80,00. As firmas prodUZiram Cr$
100,00, mas desejaram vender somente Cr$ 80,00 e reservar os
Cr$ 20,00 restantes para investir. Assim, quando P = I0 , a eco-
nomia está em equilíbrio (Ip = investimento planejado).
Existem outros vazamentos, como importações e impostos, e
outras injeções, como exportações e gastos governamentais.

A DETERMINAÇÃO DO EQUILtBRIO DO FLUXO


ECONôMICO
Além da igualdade vazamento I injeção, uma outra forma
de ~ expressar uma situação de equilíbrio é quando a oferta total
é igual à procura total.
A oferta total baseia-se na expectativa dos empresários quanto
às possibilidades de vendas. Assim, as firmas responderão a qual-
quer estimulo da procure e, quando a oferta se igualar à procura,
o ponto de equilíbrio terá sido determinado. Podemos expressar
isto da seguinte maneira:
Y =C + I (Y = produto)
(C = consumo)
(I = investimento)
Y é a produção dos empresários ou a oferta. C + I é o total
da procura (quando não há governo, nem comércio internacional),
OS AGREGADOS ECONOMICOS E O SETOR REAL
97
visto que os bens são procurados ou para serem consumidos pelos
indivíduos ou procurados pelas próprias firmas para serem inves-
tidos.
A quantia a ser investida ou a procura de investimento também
é uma decisão feita pelos empresários autonomamente. A decisão
de consumir (ou poupar.), no entanto, será feita· pelos consumido-
res individuais.
Poderíamos perguntar, agora, o que.determina o consumo. O
consumo é determinado pela renda do indivíduo. Por exemplo,
quanto maior for meu salário, mais irei gastar em bens de consu-
mo. Agora, que parcela do aumento do meu salário eu consumirei
e que parcela eu pouparei· dependem simplesmente de miuba von-
tade. Chamamos de propensão marginal a consumir esta proporção
do aumento da renda que seria consumida e propensão marginal a
poupar a que seria poupada.
Poderíamos expressar tudo isto através da função consumo, que
relaciona o quantum a ser consumido com os vários níveis de renda.
A função consumo representa, assim, a soma do consumo dç.s indi-
víduos de uma comunídade, dados certos níveis de renda possíveis.

FUNÇÃO CONSUMO

Função Consumo
C = Cc + b(Y)

,.
,.
,.

y
,.
GRÁFICO 6.1

INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA


98
A função consum:o no gráfico 6.1 é igual à equação C = 100
+ 0,5 (Y), o que nos diz que, mesmo que a renda seja zero,
haverá um aumento de 100 (possibilitado por poupanças anterio-
res) e que, havendo qualquer acréscimo na renda, a metade será
consumida e a metade será poupada (propensão marginal a con-
sumir igual a 0,5).
Assiril, quando a renda é 100, o consumo será igual a 150.
c = 100 + 0,5(100) = 150
quando a renda é 200, o consumo será
c = 100 + 0,5(200) = 200
Neste ponto, o consumo não mais é maior que a rendá e, daí
em diante, haverá sempre uma poupança positiva.
Isto pode ser expresso por uma réta de 45°, que transforma
distâncias horizontais em distâncias verticais.
•oo

Y=C
/
/
c. p
/ Fundio Consumo
m -----------------

/
<00
___________ L __
~ /
,(.
Consumo

<00

100 200 soo 60Q 100 800

GRÁFICO 6.2

Ao longo da reta Y = C, teremos sempre um consumo igual


à renda. Comparando-se esta reta com a função consumo, pode-
mos determinar a poupança e o consumo. Por exemplo, com uma
renda de 500, o consumo será de 350 (C = 100 + 0,5(500) =
350). A poupança nos é dada pela diferença entre a função procura
OS AGREGADOS ECONOMICOS E O SETOR REAL
99
e a reta de 45° (neste caso, poupança é igual à renda menos o
consumo, isto é, 500 - 350 = 150).
Nossa hipótese é de que a propensão marginal a consumir (b)
seja sempre menor do que 1 (um), de modo que haverá sempre
uma propensão marginal a poupar maior do que zero (1 - b > O).
Voltando, agora, ao equilíbrio da renda, ela será determinada
quando a oferta for igual à procura ou quando as injeções forem
iguais aos vazamentos (poupança = investimento planejado) . Alge-·
bricamente, a renda de equilíbrio será:
Y =C +I (1) (Y = renda de equilíbrio)
C = C. + b{Y) (2) (C = consumo)
substituindo-se (2) em {1), (I = investimento)
Y = Co + b(Y) +I (C. = constante da função consumo)
Y - b(Y) = Co +I (b = propensão marginal a
(1 - b)Y = Co+ I consumir

ly = (C. + I) -1-1
1-b

Por exemplo, se .o nível do investimento planejado é igual a


30 (determinado exogenamente, ou seja, determinado autonoma-
mente pelos empresários) e a função consumo é C = 100 +
0,5 (Y), a renda de equilíbrio será:
1 c. = 100
Y = {Co + I) I = 30
1-b b = 0,5
Substituindo-se
1
Y= (100 + 30)
1-0,5
1
Y= 130-- = 130.2 = 12601
0,5
Graficamente, podemos determinar o nível da renda de equi-
líbrio quando a oferta total for igual à procura total (qualquer ponto
INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA
100
ao longo da reta de 45°). Para obtermos a procura total, basta
somarmos os investimentos à função consumo.

"'
y

GRÁFICO 6.3

Assim, teremos a reta C + I, que representa a procura total.


No ponto onde ela cortar a reta de 45°, teremos o ponto de equi-
líbrio, onde Y, no eixo horizontal, é igual a C + I, no eixo vertical
e, conseqüentemente, a oferta total será igual à procura total.
Com uma renda de 260, o consumo será de:
+
c = 100 0,5(260) = 230
e a poupança será de 260 - 230 = 30. O investimento planejado
também é de 30; então, P = lo e a economia está em equih'brio.
Por que a economia não estaria em equilíbrio ao nível de
renda de 280?
Porque; com uma renda de 280, a poupança seria:
p = y - c = 280 - [100 + 0,5(280)] =
= 280 - (100 + 40) =
= 280 - 240 = 40
OS AGREGADOS ECONOMICOS E O SETOR REAL
101
Com P = 40 e lp = 30, os vazamentos não Seriam iguais às
injeções e haveria, então, um investimento não planejado de 10
(variação de estoques). No próximo período, os empresários dimi-
nuiriam sua produção até que ela chegasse ao equihôrio de 230,
onde ela se estabilizaria, já que os empresários foram obrigados a
estocar parte de sua produção, por falta de demanda para a mesma.

VARIAÇõES NOS INVESTIMENTOS

O que ocorreria com o nível da renda, se houvesse uma variação


no nível dos investimentos?
Já vimos que o investimento não varia em função da renda
( Y) e, sim, em função da decisão dos empresários. Vamos supor
que a renda potencial da economia seja 300, isto é, empregando-se
todos os fatores de produção de que a economia dispõe, chega-se
a um produto (ou renda) igual a 300. Visto que a renda de equi-
hôrio é de 260, está havendo desemprego de fatores. Os empre-
sários percebem este fato e resolvem aumentar os investimentos em
20, passando-os de 30 para 50. Qual será o novo nível da renda de
equihôrio? Ele será:
1
Y = (Co +
I) =
1-b

1
= (100 + 50) =
1-0,5
1
150 . =
0,5

= 150.2 = 300

Com o nível de investimento igual a 50, a renda de equilíbrio


é 300, que é o seu nível potencial. A economia chegou, então, ao
seu nível de pleno emprego. O grande economista Joim Maynard
Keynes, quem primeiro usou este tipo de análise de curto prazo
em 1936, chegou, assim, a uma importante conclusão quanto ao
funcionamento de uma economia.
Lembremo-nos de que a Teoria da Competição Perfeita diz
que, havendo desemprego, os preços dos fatores cairiam, o que
INTRODUÇAO À TEORIA ECONOMICA
102
faria com que os empresários contratassem o excedente, levando
a economia automaticamente ao nível de pleno emprego.
Keynes sugeriu que a economia poderia, perfeitamente, estabi-
lizar-se num ponto aqúém do nível de pleno emprego, visto que os
preços, principalmente da mão-de-obra, são inflexíveis para baixo.
Em outras palavras, mesmo havendo desemprego, os operários não
se ofereceriam para tràbalhar por menos do que o salário estabele-
cido.
Keynes chamou a atenção de todos para o fato de que, para
a economia chegar ao nível de pleno emprego, é necessário que a
procura agregada aumente. Acabamos de ver como isto pode ser
feito, através de um aumento nos investimentos.

O GOVERNO E O NlVEL DE RENDA


Uma outra maneira de se aumentar a procura total ou agregada
é através de um aumento nos· gastos governamentais ( G).
Vimos como gastos governamentais também são injeções no
fluxo e, como tal, agem numa economia da mesma forma que os
investimentos. Para que haja equilíbrio, é necessário que:
p I + G
t t
vazamentos injeções
e somente assim a oferta será igual à procura agregada.

Visto que G tem o mesmo efeito que I, temos que:

Y=C +I+G
C= Co+ b(Y)
Y = c. + b(Y) +I+G
Y - b(Y) = Co +I+ G
Y(l - b) = C. +I + G

IY = {Co + I + G) ~I
OS AGREGADOS ECONOMICOS E O SETOR REAL
Hl3
Desta forma, mesmo que os empresários não desejassem aumen-
tar os investimentos para 50, o governo poderia iniciar gastos (de
consumo, pagamentos de renda ou mesmo investimentos) de tal
forma que G fosse igual a 20, elevando-se, assim, o nível de renda
da economia.

1
Y = (Co+ I+ G)
1-b

1
y = (100 + 30 + 20)
1-0,5

1
y = 150 .
0,5

y = 150.2

Ao nível de renda de 300,


p = Y-C
p = 300 - [100- 0,5(300)]
p = 300 - 250
p = 50
e I = 30 e G = 20 de forma que,
P=I+G ou 50=30+20

O governo também poderia manipular os impostos (T), o que


baixaria a renda disponível dos indivíduos (renda disponível é a
renda recebida menos os impostos ou Y• =Y - T) e, conse-
qüentemente, faria com que o consumo baixasse. Isto teria um efeito
depressivo no nível da renda, já que, caindo o consumo, a procura
agregada (C + I + G) também cairia.
Desta forma, chegamos à conclusão de que o governo também
deve interferir na economia para aumentar ou diminuir o nível da
renda.
lNTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA
104
O governo poderá, então, manipular G e T. A manipulação de
T (os impostos) chama-se política fiscal. Por exemplo, se a eco-
nomia estiver sofrendo de desemprego, o governo poderá diminuir T,
o que elevará o consumo e, conseqüentemente, a procura e a oferta.
Ou, então, o governo poderia manter T estável e aumentar G, po-
dendo, mesmo, incorrer num deficit orçamentário. A manipulação
conjunta de G e T chama-se política orçamentária. O governo esta-
ria, então, manipulando um possível déficit, superavit ou equilíbrio
no orçamento.

A INFLAÇÃO

A inflação - um aumento no nível de preços - é um fenô-


meno que já recebeu diversas explicações. Uma das teses mais
conhecidas é a dos estruturalistas, que afirmam ser ela causada por
fatores estruturais de uma economia, tais como estrangulamentos
em certas áreas (falta de mão-de-obra qualificada é um caso),
pressões institucionais inevitáveis (sindicatos, por exemplo), im-
perfeições no mercado etc.
A análise keynesiana que vimos desenvolvendo fornece-nos
uma outra interpretação para o fenômeno.
Já vimos que existe um ponto onde o nível de renda está em
seu potencial máximo. Este ponto, no entanto, não pode ser bem
delineado, de modo que nos referimos a uma faixa de pleno em-
prego.
Quando a renda de uma economia se aproximar desta faixa,
haverá possibilidade de que se comecem a sentir certas pressões
inflacionárias. Logicamente, quando tentarmos atingir uma renda
que ultrapasse a esta faixa, teremos inflação de demanda.
Ela se caracteriza pelo fato de a procura agregada estar além
do que a oferta possa satisfazer, visto não haver mais fatores de
produção disponíveis que possibilitem um aumento na produção. A
longo prazo, poderia haver inovações tecnológicas, que aumenta-
riam a produtividade dos fatores, mas, a curto prazo, ocorreria
a inflação, já que uma procura maior que a oferta tenderia a causar
uma elevação nos preços.
No gráfico abaixo, apresentamos uma situação ,nitidamente
inflacionária.
OS AGREGADOS ECONOMICOS E O SETOR REAL
105
INFLAÇÃO DE DEMANDA

Faixa de pleno emprêgo

GRÁFICO 6.4

A procura agregada precisa ser comprimida, para que YE se


desloque para a esquerda e a economia evite a inflação. Os em-
presários poderiam diminuir I; o governo poderia aumentar os
impostos sem aumentar seus gastos ou, ainda, cortar seus gastos,
mantendo constantes os impostos. Poderia, também, aumentar os
impostos num montante maior que um aumento nos gastos.
Devemos também salientar uma outra teoria da inflação, que
não se relaciona diretamente com a análise keynesiana que abor-
damos até aqui. Trata-se da inflação de custos.
De acordo com esta teoria, a pressão para a elevação do nível
de preços parte de decisões autônomas, sem intervenção do me-
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA
106
canismo de mercado implícito na inflação da demanda. Seria o
caso, por exemplo, de sindicatos de trabalhadores, os quais, por
sua força política e/ ou econômica, conseguem aumentos salariais,
mesmo quando não há escassez de mão-de-obra, encarecendo o
preço final do produto.
Uma variante d.esta teoria, chamada inflação administrada, põe
em evidência o fato de que, muitas vezes, empresas monopolísticas
simplesmente aumentam seus preços para auferirem uma taxa de
lucro mais alta. Quando tais firmas produzem bens usados como
insumos em outros estágios de produção, isto causaria nos outros
setores uma inflação de custos, o que se poderia transformar-se
em uma espiral inflacionária.
Devemos notar que todas as teorias da inflação estão intima-
mente relacionadas, de tal forma que se toma difícil isolar-se a
causa principal de pressões inflacionárias. ·
Vejamos um exemplo: os gastos governamentais elevados de
uma economia próxima à faixa de pleno emprego poderia gerar
um nível de demanda agregada superior à oferta. Isto causaria
uma inflação de demanda.
Em virtude da elevação de preços, os sindicatos poderão con-
seguir um aumento nos salários, para compensar a perda do poder
aquisitivo real do trabalhador, o que, elevando o custo de produ-
ção, poderá acusar uma alta nos preços finais do produto (inflação
de custos). Certas firmas, no entanto, poderão utilizar-se do ·fato
de seus custos terem aumentado, para elevarem seus preços além
do incremento nos custos, causando, assim, uma nova pressão in-
flacionária (inflação administrada) . Estas firmas poderão agir de
tal forma visando a um incremento em seus lucros ou, então, em
virtude de uma expectativa de inflação futura. Elevando seus preços
além do incremento em seus custos, estar-se-ão precavendo contra
futuras elevações no nível de preços (inflação causada por razões
psicológicas de expectativas de futuro aumento nos preços). Ha-
vendo expectativa de aumento nos preços, os consumidores dese-
jarão aumentar as compras de bens de consumo e as firmas também
desejarão incrementar seus estoques de matéria-prima, por exem-
plo, prevendo uma queda no valor real do dinheiro. Por razões de
deficiências no setor de distribuição a varejo, como também por
causa da elasticidade da oferta de curto prazo, natural em produ-
tos agrícolas, criar-se-ão novas pressões de aumentos de preços (in-
flação estrutural) .
Notamos assim que, uma vez iniciado o processo, forma-se
uma espiral inflacionária, da qual todas as teorias expostas oferecem
explicações parciais para o fenômeno.
OS AGREGADOS ECONOMICOS E O SETOR REAL
107
O MULTIPLICADOR
Observamos, ·nos exemplos anteriores, que um aumento na
procura agregada causará um aumento na renda, igual ao aumento

1
da procura multiplicado por . Assim, a renda é determinada
1- b

por
1
Y = (Co+ I+ G) - - - ,
1- b
e a variação na renda por

1
!J. Y = (!J. c. + !J. I + !J. G) (!J. = variação)
1-b
Supondo-se que só o investimento varie, !J. Co e !J. G serão
iguais a zero. Então,
1
!J. y = !J. I - - -
1-b
se somente os gastos do governo variassem,
1
!l.Y=!J.G ;
1- b

ou, então, ambas poderiam variar:


1
Y = (!J. I + !J. G) --
1- b
O fator que multiplica a variação na procura agregada (!J.I ou
1
!J.G ou ambos), ou seja, , chama-se o multiplicador.
1-b
INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA
108
:g por causa do efeito multiplicador que um aumento em
10 nos investimentos causa um aumento na renda igual a 40, se

1 1
b = 0,75 ( - - = = 4). Isto nos diz que o mul-
1- b 1 - 0,75

tiplicador é igual a 4.
A causa do efeito multiplicador é a seguinte: quando o governo,
por exemplo, aumenta os seus gastos em 1O (sem o correspondente
aumento em T), alguém receberá estes 1O como pagamento por um
serviço ou um bem vendido ao governo. Isto quer dizer que a renda
já aumentou em 1O, pois, sem o governo, este gasto não teria sido
efetuado. Esta pessoa, se a propensão marginal a consumir for de
0,5, consumirá 5 e poupará 5. No ato de consumir, a pessoa teve
que efetuar um pagamento a alguém, cuja renda foi, assim, incre-
mentada em 5. Esta segunda pessoa gastará 2,5 e poupará o resto.
Dessa forma, 2,5 foram recebidos por uma 3. a pessoa e assim por
diante. Os incrementos na renda foram:

1.a pessoa ~ 10
2.a pessoa ~ 5
3.a pessoa 2,5
4.a pessoa ~ 1,25, e assim por diante.

O processo prossegue infinitamente, sendo que cada incremento


da renda é menor que o anterior. A soma de todos os incrementos
é igual ao produto do aumento inicial pelo referido multiplicador,
que será 10.2 = 20, visto que o multiplicador é igual a

1 1
--= 2*
1- b 1 0,5

(I- r)n
* A soma de uma progressão geométrica é igual a a c - - -
1-r
onde r é a razão e a é o termo inicial. Como (1- r)n se aproxima de
zero, ao passo que n aumenta, ignoramos o tenno e a soma pode ser
I
expressa por a - - .
I - r
OS AGREGADOS ECONOMICOS E O SETOR REAL
109
Assim, um aumento na procura agregada causará um aumento
na renda igual ao aumento inicial ampliado pelo multiplicador, o
qual mede a magnitude da variação da renda.
E interessante notar que, quanto maior a propensão marginal
a consumir, mais alto será o valor do multiplicador. No entanto,
quanto maior a propensão marginal a consumir, mais baixa será
a parcela poupada de um dado aumento da renda. Um multipli-
cador alto aumenta a renda nUlÍla proporção alta, dado um aumento
em investimento, por exemplo, mas dificulta o próprio ato de in-
vestir.

RESUMO
Investigamos, neste capítulo, como os agregados, ou seja, a
soma das atividades individuais, criam fluxos econômicos, os quais
determinam o uivei de atividade da economia como um todo.
Definimos alguns desses fluxos, que são essenciais para se
avaliar a atividade econômica, e constatamos que eles são dinâmi-
cos por natureza, de tal forma que a economia pode ou não estar
em equih'brio.
Através da análise keynesiana, foram introduzidos outros prin-
cípios, que mostram que o equih'brio de pleno emprego nem sempre
pode ser atingido sem a intervenção no sistema de mercado e que
certas variáveis podem e devem ser manipuladas, para incrementar
ou reduzir o nível de atividade econômica global.

QUESTõES PARA DISCUSSÃO


1 ) Determine o produto, a renda e a despesa desta economia,
que se compõe de duas firmas:
CONTA DE LUCROS E PERDAS
Vendas 245,00
Salários 165,00
Juros 25,00
Aluguéis 15,00
Matérias-primas
adquiridas de outra firma 20,00
Lucro 20,00

245,00 245,00
INTRODUÇAO A TÉORIA ECONOMICA
110
2) Exemplifique como o processo de formação de capital
fixo seria efetuado, numa economia onde existissem vários
bens produzidos (inclusive bens de capital).
3) Mostre como a poupança é, necessariamente, igual ao
investimento realizado, tanto quando a poupança é maior
que o investimento planejado, quanto quando o investi-
mento planejado é maior que a poupança.
4) Cite algum pais onde o produto nacional é maior que o
produto interno. E vice-versa também.
5) Discuta as razões por que impostos e importações são
vazamentos e por que gastos governamentais e exporta-
ções são injeções no fluxo econômico.
6) Por que a oferta total é igual à procura agregada, quando
os vazamentos são iguais às injeções?
7) Você poderia pensar em alguma outra influência na de-
terminação do consumo, além do nível da renda?
8) De quanto seria o consumo, se a função consumo fosse
igual a C = 40 + D0,60(Y), a níveis de renda iguais a
1) 100
2) 150
3) 570
A que nível de renda a poupança será zero? De quanto
é a poupança, aos níveis de renda acima?
9) Determine a renda de equilíbrio, algébrica e graficamente,
quando C = 70 + 0,75 (Y) e I = 25. Por que não
haveria equilíbrio com uma renda de 300?
1O) Ilustre graficamente o que ocorre com a renda, quando
os investimentos aumentam de 30 para 50 e C = 100
+ 0,5 (Y)?
11) Por que os salários são inflexíveis para baixo?
12) Determine algébrica e graficamente o ponto de equilíbrio,
com G = 20, I = 30 e C = 100 + 0,5(Y).
13) Volte à questão 12) e determine o nível da renda, se
G = 10.
OS AGREGADOS ECONOMICOS E O SETOR REAL
111
14) Qual o efeito no nível da renda com:
a) um superavit orçamentário do governo;
b) um deficit orçamentário do governo;
c) uma diminuição em T, somente;
d) um aumento em T, somente?
Explique por quê.
15) Mencione alguns outros fatores estruturais que você acha
que poderiam causar inflação.
16) Demonstre algébrica e graficamente em quanto a procura
agregada teria de diminuir, se C = 100 + 0,5 (Y),
I = 30, G = 20 e o nível de pleno emprego fosse 280.
17) O que ocorreria com a magnitude do multiplicador, se
os seguintes fatores ocorressem:
1) -um aumento na parcela de qualquer acréscimo da
renda que a população consome;
2) um aumento nos gastos governamentais;
3) um subsídio fixo per capita, doado pelo governo ·às
camadas mais pobres da população;
4) uma relação na percentagem que as firmas distribuem
como dividendos para financiar novos investimentos?

INTROiltlCAO A TE:OlllA >:coNOMICA


112
O Setor Monetário
7
O DINHEIRO

Qualquer coisa universalmente aceita como pagamento em


troca de bens ou serviços é dinheiro.
O dinheiro tem certas características que o diferenciam dos
outros bens. fl um meio de troca, o que possibilita transações entre
pessoas que não tenham a dupla coincidência de desejos, que se
toma necessário quando transações são efetuadas por troca ou bar-
ganha. Um indivíduo que tivesse um cavalo e quisesse trocá-lo por
uma vaca não teria que achar uma pessoa que tivesse uma vaca
e quisesse trocá-la por um cavalo. Através do uso do dinheiro, ele
teria de vender o cavalo inicialmente e, com o dinheiro, procuraria
uma vaca. O método, como vimos, elimina uma série de condições
que seriam essenciais para se efetuar a transação, sem o auxilio
do dinheiro.
O dinheiro também é um modo conveniente de se acumularem
valores. Assim, como o dinheiro mantém o ·seu poder aquisitivo, fica
claro que, mantendo-se dinheiro, se estaria mantendo o comando
sobre a parte correspondente em dinheiro do produto da nação.
fl fácil notar como a função do dinheiro associada ao acúmulo
de valor pode ser extremamente prejudicada pela inflação.
O dinheiro também é uma unidade contábil, o que facilita,
sobremaneira, operações com unidades diferentes. O dinheiro é o
denominador comum para máquinas, frutas e animais e, assim sendo,
permite uma melhor agregação na economia.
O dinheiro mais comum em nossa civilização tem sido o ouro.
Por ser de difícil manuseio, era depositado em lugares seguros (os
"goldsmiths") e o depositário emitia recibos prometendo devolver
O SETOR MONETARIO
113
o ouro contra apresentação do mesmo. Assim, o ouro passou a ter
o seu equivalente em papel, circulando livremente como dinheiro -
o papel-moeda - mas garantido pelo depósito em metal junto ao
"goldsmith".
Com o passar dos tempos, e aqui está também a origem dos
bancos, os "goldsmiths" perceberam que, se os seus clientes con-
fiassem neles, não haveria necessidade de manter-se o lastro -
ouro integral sobre o papel-moeda que corria livremente. Ele estaria.·
seguro, se mantivesse somente uma percentagem do valor do papel-'
-moeda em ouro, para garantir possíveis saques do metal, sob apre-
sentação do seu "recibo". Eles poderiam, conseqüentemente, emitir
mais "recibos" (papel-moeda) do que possuíam em ouro. Nasceu,
assim, o papel-moeda, que não é simplesmente a contrapartida do
ouro, mas que é universalmente aceito, mesmo desvinculado do
precioso metal (moeda fiduciária). Tal confiança baseia-se. na
garantia do governo, que agora controla totalmente a emissão de
dinheiro.
Quando se fala em dinheiro, fala-se, então, de qualquer meio
de pagamento universalmente aceito. Modemamente, incluimos na
oferta de dinheiro as moedas metálicas em circulação, o papel-
-moeda e os depósitos bancários a vista.

O SETOR MONETÁRIO E O SETOR REAL


Os clássicos, em sua famosa Teoria QUfll'ltitativa da Moeda,
achavam que a oferta monetária, ou seja, a quantidade de dinheiro
em circulação, não teria qualquer efeito sobre o setor real da eco-
nomia. Julgavam eles que o sistema monetário nada mais era do
que uma superestrutura, cujo intuito ou função era simplesmente
facilitar as operações entre agentes econômicos e que variações na
oferta de dinheiro não afetariam o nível de emprego, nem a renda
real gerada numa economia.
Esta visão se operava na suposição de que, havendo Concorrên-
cia Perfeita, o nível do produto seria sempre o de pleno emprego
dos fatores de produção, o que, aliás, Keynes provou não ser corre-
to. A flexibilidade nos preços faria sempre com que a remuneração
dos fatores caísse, caso houvesse desemprego, o que incentivaria a
maior utilização dos mesmos até que o desemprego fosse totalmente
absorvido e a renda da economia encontrar-se-ia novamente em um
nível potencial.
Desta forma, o setor monetário serviria somente para lubri-
ficar o mecanismo descrito acima. Um aumento ou queda na oferta
de dinheiro faria com que o nível de preços aumentasse ou caísse,

114 INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA


mantendo, no entanto, os preços relativos constantes. Por exem-
plo, 1 tonelada de trigo teria o valor equivalente a 2 toneladas de
milho, não importando se o trigo custasse Cr$ 100,00 a tonelada
e o milho Cr$ 50,00 a tonelada, ou se ele custasse Cr$ 500,00 a
tonelada e o milho Cr$ 250,00. O importante é que, qualquer que
seja o nível de preços, o valor do trigo será sempre duas· vezes maior
que o valor do milho.
Os preços relativos só sofreriam alterações caso houvesse de-
semprego dos fatores de produção. Neste caso, haveria uma modi-
ficação no valor real do bem ou do serviço, o que, como já vimos,
faria com que o desemprego fosse absorvido. Por exemplo, havendo
trabalhadores desempregados, a taxa de salário poderia cair de
Cr$ 100,00 para Cr$ 80,00. Se todas as outras variáveis se manti-
vessem constantes, a mão-de-obra se tornaria relativamente mais
barata que o preço do capital, por exemplo.
Isto acarretaria um aumento na procura por mão-de-obra e o
desemprego seria eliminado, voltando a economia a produzir o
nível de produção máximo que lhe permite sua dotação fatorial.
Supunham os clássicos que, exceção feita a certas flutuações
de curto prazo, a economia se manteria sempre ao nível de pleno
emprego e que variáveis monetárias não afetariam o setor real da
economia.
Desta forma, a inflação ou a deflação seriam fenômenos restri-
tos ao setor monetário, desde que houvesse uma variação na oferta
de dinheiro, não afetando em nada a produção real da economia.
A Teoria Quantitativa da Moeda pode ser descrita formal-
mente da seguinte maneira:
MV = PT, onde
M = oferta de dinheiro
v = velocidade de circulação da moeda
p = nível geral de preços
T = número de transações efetuadas
durante o período em conta.

A equação nos diz que a oferta de dinheiro multiplicada pela


velocidade de circulação da moeda é igual ao número de transa-
ções efetuadas vezes o nível de preços.
O primeiro termo representa o volume das despesas, ou seja,
a quantidade de dinheiro existente multiplicada pelo número de
vezes que o dinheiro foi utilizado. Se a oferta de dinheiro é igual
O SETOR MONETARIO
115
a Cr$ 1.000.000,00 e se, em média, este montante foi utilizado 5
vezes durante um ano, isto nos diz que o total· de· despesas efe-
tuadas foi Cr$ 5.000.000,00.
O segundo termo representa o volume das receitas, ou seja, o
nível médio de preços vezes o número de transações efetuadas. Se
o nível médio de preços das transações é igual a Cr$ 100,00 e se
foram efetuadas 50.000 transações durante o ano, o total'das re-
ceitas será igual a Cr$ 5.000.000,00.
Logicamente, o total da despesa será igual ao total da receita,
ou seja, o valor das compras será igual ao valor das vendas.
Como os clássicos supunham que V (velocidade da moeda)
era sempre constante e que refletia, simplesmente, um hábito da
população, e também que T (número de transações) estava sempre
ao nível de pleno emprego, para que MV = PT, qualquer variação
em M (oferta de dinheiro) acarretará variações correspondentes em
.p (nível de preços) ou vice-versa, de tal forma que a igualdade
seja mantida.
Se T e V são constantes, o nível de preço será uma função da
oferta de dinheiro, ou seja:
v
p = M-
T
Notamos que a renda de urna economia, ou seja, PT, variará
em termos nominais com variações na despesa, ou seja, MV; no
entanto, o nível de produção real não será modificado.
Constatamos, assim, que a Teoria Quantitativa da Moeda se-
para completamente a longo prazo o setor monetário ·do setor real
da economia. Esta interpretação mecânica do sistema econômico
é válida, se V e T se mantiverem realmente constantes. No entanto,
tal não ocorre.
Mostraremos, agora, que existe um elo de ligação entre o setor
monetário e o setor real, que é a taxa de juros, e que há preferência
pela liquidez, de tal forma que V e T não podem ser consideradas
constantes.
Nossa experiência com aumentos na oferta monetária e com a
inflação daí decorrente é suficiente para que olhemos tal teoria com
grandes suspeitas. A inflação não é neutra, como preconizam os
clássicos, e pode causar efeitos reais na economia. Ela redistribui a
renda contra aqueles que, por receberem rendas fixas, criam distor-
ções na estrutura de investimentos, favorecendo a especulação,
inibem a poupança e criam conflitos sociais.
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA
116
A PREFERSNCIA PELA LIQUIDEZ
E A TAXA DE JUROS

A taxa de juros, que é a remuneração, pagamento ou preço do


dinheiro, é determinada pela procura e pela oferta do mesmo.
A procura por dinheiro é baseada em três motivos principais:
1) A procura para transações, baseada na renda recebida.
Como o dinheiro não é totalmente gasto no dia em que
se recebem os salários, e sim durante o período entre os
recebimentos, haverá sempre um "saldo em caixa", ou seja,
uma parcela t da renda ( ty) que representa ..a procura para
transações;
2) A procura por precaução. Como o próprio nome diz, é
um saldo que se mantém para contornar qualquer impre-
visto. Esse saldo é ll!lla parcela p da renda (py);
3) A procura especulativa. Baseia-se na taxa de juros. Quanto
mais baixa a taxa de juros, menos incentivo terão os poupa-
dores a emprestar seus fundos, que, assim, permanecem
em forma líquida, esperando que a taxa de juros suba, para,
então, obterem maiores rendimentos( 1). Se a taxa de juros
é baixa, o custo de oportunidade de manter o dinheiro em
forma líquida também é baixo.

Assim, com uma renda Y,, as procuras por transações e por


precaução podem ser representadas por uma proporção da renda
Y,, onde K = t +
p e a procura por especuiação será uma função
negativa da taxa de juros C - d (i). A procura total por dinheiro
será:
P = KY, +
C - d (i), onde

i representa a taxa de juros(2). Devemos notar que K, d e c são


constante&.
Observando o gráfico 7.1, vemos uma curva de procura de
dinheiro e duas curvas de oferta. O segmento õa representa o mon-
tante da parcela K da renda recebida (neste caso, a renda é Yt).
Tal parcela representa o minimo de dinheiro que será mantido em
forma líquida, independentemente do nível da taxa de juros.
(1) Notamos também que o valor de ativos rentáveis é tanto maior quanto
menor é a taxa. de juros, se os rendimentos são fixos. Assim, convém espera:r que
a taxa. ele juros suba para então comprar ativos a preços mais baixos.
(2) TecnJ.camente, K é o inverso da velocidade de circulação da moeda.

O SETOR MONii:I'AruO
117
A DETERMINAÇÃO DA TAXA DE JUROS
m

,,
Taxa Je Juros I
I
-------~-----

'.'
' Dinheiro
o '------'. b
c+ d(i)

GRÁFICO 7.1

A reta j b representa a procura especu!ativa e, como podemos


observar, a procura ou preferência pela liquidez aumenta quanto
mais baixa é a taxa de juros.
As duas retas verticais pontilhadas (M• e M1 ) representam
uiveis de oferta de dinheiro, que são exogenamente determinadas.
A um uive! de oferta de dinheiro igual a M2, a taxa de juros de
equili'brio será i2; a um uivei de oferta maior, igual a M,, a taxa
· de juros de equili'brio cairá para i,.
Notamos, então, que a taxa de juros igualará a oferta à procura
por dinheiro (M = KY, +
C - d (i)) e que, dada uma certa
renda de equih'brio Y,, variações na oferta monetária acarretarão
modificações na taxa de juros de equih'brio.

A FUNÇÃO INVESTIMENTO
No capítulo anterior, afirmamos que o nível de investimentos
era exogenamente determinado.
Vamos, agora, tomar o modelo mais realista, fazendo com que
o investimento varie em função da taxa de juros. Na realidade,
INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA
118
quanto mais baixa for a taxa de juros, menor será o preço que os
empresários terão de pagar para efetuar investimentos e vice-versa;
ligamos, assim, o setor monetário ao setor real.
Uma variação na taxa de juros acarretará variações na taxa de
investimento, o que, conseqüentemente, fará variar a procura agre-
gada e a renda de equilíbrio.
A curva que relaciona a taxa de juros e o nível de investi-
mento chama-se Eficiência Marginal do Investimento, que poc;e-
mos ver no gráfico 7 .2, à direita.
A Eficiência Marginal do Investimento, ou seja, a rentabili~
dade da última unidade investida, representa a expectativa dos
empresários com relação à lucratividade e às oportunídades de
investimento.
Obviamente, os empresários investirão seu capital naquelas
oportunidades que lhe darão a rentabilidade mais alta. Ao passo
que tais investimentos são feitos, a lucratividade de investimentos
adicionais vai decrescendo. · ·
Com um investimento efetuado de Cr$ 5.000.000,00, a :taxa
de lucro esperada ·pode ser de 15%; com Cr$ 25.000.000,0Q in-
vestidos, a taxa de lucro será menor, digamos, de 5% e assim· por
diante.
Os empresários efetuarão investimentos até onde a taxa de
lucro for igual à taxa de juros, ou seja, até onde a remuneJ:iiÇão
do investimento ao empresário for igual ao custo de capital para
o mesmo.
A LIGAÇÃO ENTRE O MERCADO REAL
E O MERCADO MONETARIO
y, m, m,
I I Taxa de
,,
Tuo juros
juros I
I
,,•
Tuo
lucro

·I
I
r

Eficiência marginal
I I do ihwstimento

'• f--t--~- +- -
,, f---1---:--~
I i
I, I~ Investimento

Quantidade d?
Dinheiro
GRÁFICO 7.2
Na situação acima, por exemplo, dadas a procura por dinheiro
(com YE - y,) e a oferta monetária Mt, a taxa de juros será h,
a qual determinará no gráfico, que relaciona a taxa de juros e os
investimentos, o nível I, de investimentos.
Com este investimento, teremos o nível de renda de equilibrio
igual a y,, onde I, no gráfico 7.2 é igual a I, no gráfico 7.3.

A RENDA DE EQUILIBRIO

C.l.P.G.

-- -- c+G
c

____ 12
~--~---------r--r-----11

Nivel de renda

GRÁFICO 7.3

Suponhamos que o nível de renda y, estivesse abaixo da renda


de pleno emprego e que o governo quisesse expandir a renda. Ele
poderia usar políticas fiscal e orçamentária, que já conhecemos;
mas, também poderia usar uma politica monetária que se relacione
com variações na oferta de dinheiro. Neste caso, o governo teria
de aumentar a oferta monetária (mesmo através de emissão, pois,
como a economia não está a pleno emprego, isto não acarretaria
·inflação de demanda) para M2, o que faria com que a taxa de juros
INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA
120
baixasse para k; à· taxa de juros i., mais baixa que h, os investi-
mentos aumentarão de r, para r., o que levará a economia a um
nível de renda Y•, mais alto que y,.
Vimos, aqui, qual o efeito da política monetária na economia,
mas não estudamos, devidamente, como o governo efetua a política
monetária. Um modo seria através de emissões e recolhimentos de
papel-moeda, o que, no entanto, é uma forma perigosa e precária
de efetivar uma política monetária racional. Vejamos a estrutura
da oferta de dinheiro e como pode ser ela manipulada.

A OFERTA DE DINHEIRO

Além do papel-moeda, emitido pelo governo, definimos como


dinheiro os depósitos bancários à vista.
Vejamos, então, como os bancos comerciais podem fazer variar
a oferta de dinheiro através de variações em seus depósitos.
Suponhamos, inicialmente, que haja um só banco em toda a
economia e que sua situação seja a descrita pelo balanço abaixo.
BANCO

Ativo Passivo

Caixa 250 Depósitos 1000


Empréstimos . 850 Capital 100

1100 1100

Caixa
- - - = 0,25
Depósito
Chamamos de reservas o dinheiro que os bancos mantêm em
caixa para efetuarem pagamentos contra apresentação de cheques
Já havíamos visto como os antigos "goldsmiths" só mantinham
uma parte do lastro-ouro para garantirem os empréstimos. Da
mesma forma, os bancos comerciais mantêm uma percentagem
dos depósitos em forma de dinheiro líquido e o restante é empres-
tado a juros pelos bancos. Vemos, então, que o banco, no exemplo,
mantém em caixa 25% de seus depósitos.
Vamos supor que o governo regule o montante de caixa em
relação aos depósitos, que chamaremos de reserva compulsória, e
O SETOR MONETARIO
121
que ela seja de 25% . Os bancos podem mariter reservas acima
deste limite mínimo de 25% se eles assim o desejarem. Vamos
supor, aqu~ que os bancos julguem a reserva de 25% perfeitamente
segura e não queiram manter reservas extras.
Se houvesse um depósito de 100, efetuado, a situação do
banco seria a seguinte:

Ativo Passivo

Caixa 350 Depósitos 1100


Empréstimos 850 Capital 100

1200 1200
Caixa
= 0,32
Depósitos
Como o intuito do banco é ter lucro através de pagamentos
de juros sobre empréstimos e como ele acha que 25% de reservas
oferecem segurança, o banco irá aumentar seus empréstimos. Vamos
supor, agora, que não haja vazamentos; em outras palavras, que
o banco, ao emprestar o dinheiro, faça-o via abertura de uma conta
em nome do tomador do empréstimo. Assim, seus depósitos tam-
bém aumentarão com um aumento nos empréstimos. Os bancos
notarão que, emprestando mais 300, os depósitos aumentarão para
1400 e que o caixa, sendo 350, a reserva será de 25%, que é o
desejado.

Ativo Passivo

Caixa 350 Depósitos 1400


Empréstimos 1150 Capital 100
1500 1500
Caixa
= 0,25
Depósitos
O que notamos foi que, com um aumento no caixa de 100,
houve um acréscimo nos depósitos de 400, o que aumentou no
mesmo tanto a oferta de dinheiro, já que depósito a vista é dinheiro.
INTRODUÇÃO· A TEORIA ECONOMICA
122
Neste caso, o multiplicador bancário foi de 4 (o multiplicador
1
é igual a -, r sendo a reserva compulsória).
r
O multiplicador poderá ser amaciado se o banco, por exemplo,
desejar manter em caixa uma reserva maior do que a reserva
compulsória e também se houver vazamento no sistema tal como
um tomador de empréstimo, que, em vez de aceitar uma conta no
banco e usar cheques, prefira retirar dinheiro. Isto reduzirá o
caixa e limitará a expansão dos empréstimos.
O mesmo mecanismo funcionaria se, em vez de um só banco,
a economia dispusesse de vários. Os fenômenos se repetiriam, só
que, em vez de ocorrerem num só banco, ocorreriam no sistema
bancário como um todo. Assim, um empréstimo efetuado pelo
banco X pode aumentar não os seus depósitos, mas os depósitos
do banco Y, se o tomador fizer um pagamento a um cliente do
banco Y. Notamos, no entanto, que o efeito multiplicador será o
mesmo, considerando-se todos os bancos em conjunto.

TIPOS DE POL!TICA MONETÁRIA

A política monetária tem como principal objetivo o controle


da oferta de dinheiro, e conseqüentemente, o da taxa de juros. Os
principais instrumentos utilizados são: controle direto da quanti-
dade de dinheiro em circulação, modificações na taxa de reserva
compulsória, open-market, e taxa para redesconto.
O controle direto se relaciona principalmente com emissões
de dinheiro e sua circulação POr intermédio das autoridades mone-
tárias. -
Variando as taxas de reserva compulsória, o governo pode,
também, controlar a oferta de dinheiro efetuada pelos bancos. Por
exemplo, com uma taxa de reserva compulsória de 25% e I 00
unidades monetárias em caixa, os bancos poderiam emprestar e
aumentar seus depósitos em 400. Uma queda para 20% possibili-
. taria um aumento em seus empréstimos de 400 para 500.
As operações "open-market" começam, agora, a ser utilizadas
no Brasil. Ela é feita quando o governo emite e vende ou, então,
recolhe títulos.
Ao vender títulos, o governo está retirando dinheiro da cir-
culação, pois, ao ser pago em cheque, por exemplo, o governo
realmente retira o dinheiro da caixa do banco, causando, então, uma
O SETOR MONETARIO
123
redução nos empréstimos bancários de acordo com ·o multipli-
cador. Quando o governo recolhe títulos, ele paga aos vendedores,
que, então, depositam esse dinheiro em bancos, os quais expandem
empréstimos e depósitos, de acordo com o multiplicador bancário.
A taxa para redesconto é a taxa pela qual o Banco Central
empresta aos bancos comerciais.
Um aumento na taxa desencoraja os bancos a tomarem em-
prestado do Banco Central e incentiva-os a liquidarem parte de
seus outros ativos ou diminuírem seus empréstimos. O efeito será
uma diminuição na oferta monetária e nos empréstimos. Uma
queda nas taxas incentivaria empréstimos do Banco Central e tam-
bém empréstimos ao público.
No Brasil, onde o mercado de capitais é ainda imperfeito, a
política de manipulação da taxa para redesconto não é eficiente;
o maior efeito é provavelmente o efeito psicológico de tais varia-
ções, o que indicaria, então, a direção da política governamental.

RESUMO

Vimos, neste capítulo, o efeito que variáveis monetárias têm


na determinação do nível de atividade de uma economia. Adiciona-
mos, assim, um elemento a mais ao modelo examinado no capítulo
anterior.
A seguir, investigamos as maneiras como a oferta de dinheiro
variam e constatamos a importância da política monetária na ma-
nutenção da renda de equilfbrio ao nfvel de pleno emprego.
A política monetária é de importância fundamental, tanto no
combate à inflação quanto na expansão da atividade econômica.

QUESTõES PARA DISCUSSÃO

1 ) Uma sociedade usa vacas como meio de troca. Quais as


desvantagens que você vê neste sistema?
2) O dinheiro não é um conceito fixo e imutável. Ele tem
variado muito através da história da humanidade." (Dis-
cuta.)
3 ) Desde 193 3 que não é mais possível converterem-se dó-
lares em ouro. Em 1968, o congresso americano eliminou
o lastro-ouro do dólar, que era de 25%. Isto quer dizer
que o dólar não tem mais "valor"?
DiTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA
124
4) Descreva o uso de política monetária com o fito de depri-
mir o nível da renda, já que a renda está na faixa de
pleno emprego e pressões inflacionárias já se fazem sentir.
5) Havendo inflação, o que provavelmente ocorreria com
o poder aquisitivo de:
a) um dono de fábrica;
b) um operário;
c) uma viúva que viva da pensão do marido;
d) um acionista de uma firma;
e) uma pessoa que empresta dinheiro a juros por pe-
'ríodos de 5 anos?
6) Por que razão bancos poderiam querer manter reservas
acima do limite mínimo estipulado por lei?
7) Você acha que um banco faria empréstimos com todos
os seus recursos ou reservaria parte deles para mantê-los
em outros investimentos como títulos, ações, letras de
cãmbio etc.? Que fator determinaria a divisão dos ativos
do banco entre caixa, empréstimos e investimentos em
ativos rentáveis?
8) Indique o efeito de:
a) um aumento na taxa de reserva compulsória
b) emissão e venda de títulos governamentais
c) anúncio de aumento na taxa para redesconto
9) Você acha aceitável considerarmos a curva da oferta de
dinheiro totalmente inelástica, com relação à taxa de
juros?
1O) O que acontecerá com a taxa de juros, se houver alguma
modificação no nível de renda? Exemplifique grafica-
mente.
11) "A Teoria Quantitativa da Moeda é um truísmo que em
nada nos auxilia a compreender a realidade." Discuta esta
afirmação.

O SETOR MONETAR!O
125
O Setor Externo
8
CO~RCIO INTERNACIONAL
Vamos, agora, estudar os problemas relacionados com o fato
de as nações comerciarem entre si.
O comércio internacional é efetuado por compradores e ven-
dedores residentes em países diferentes e que usam, internamente,
moedas distintas para efetuarem suas transações. Por exemplo, o
vendedor de café brasileiro receberá pagamento em dólar de. com-
prador americano. Como o vendedor necessita de cruzeiros para
efetuar suas transações no Brasil, é necessário que dólar possa
Ser convertido em cruzeiro. O preço de uma moeda em termos de
uma outra chama-se taxa de conversão ou taxa de câmbio. Por ela,
o ven.dedor brasileiro poderá trocar seus dólares por cruzeiros e,
caso deseje importar algo, será a essa taxa que comprará os dóla-
res, para efetuar o pagamento ao vendedor americano.

A DETERMINAÇÃO DA TAXA DE CÃMBIO

É importante notar o efeito que teria nos preços dos bens


comerciados internacionalmente uma variação na taxa de câmbio.
Por exemplo, se a taxa de câmbio entre o cruzeiro e o dólar
for de Cr$ 4,00 por dólar, um bem vendido no Brasil por Cr$
8,00 custará ao importador americano dois dólares; da mesma
forma, um importador brasileiro terá de gastar Cr$ 8,00 para com-
prar dois dólares com os quais efetuaria o pagamento por uma
importação cujo preço nos E.U.A. fosse de dois dólares.
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA
126
Se a taxa mudasse para Cr$ 5,00 por dólar (uma desvaloriza-
ção do cruzeiro), o importador brasileiro teria de dispender Cr$
10,00 para efetuar o mesmo pagamento de US$ 2.00, ao passo
que o importador americano, que necessitasse efetuar um paga-
mento por umaimportação do Brasil de Cr$ 8,00, teria de despender
somente US$ 1.60. O efeito da desvaloriZação do cruzeiro foi fazer
com que os produtos brasileiros se tomassem mais baratos no
exterior, ao passo que os produtos estrangeiros se tomassem, agora,
mais caros para os importadores brasileiros.
Mas poderíamos perguntar o que determina a taxa de câmbio
Num mercado competitivo, a taxa de conversão de cruzeiro
em dólar, por exemplo, seria determinada pela oferta e procura pelo
cruzeiro. A oferta será determinada por aqueles que têm cruzeiros
em seu poder e a procura por aqueles que os desejam comprar.
(Em outras palavras, quem oferta cruzeiros deseja comprar dólares
e quem demanda cruzeiros deseja vender dólares.)
No gráfico abaixo, teremos, no eixo vertical, o preço do cru-
zeiro em dólar e, no eixo horizontal, quantidades de cruzeiros.

OFERTA E PROCURA POR CRUZEIROS

0,70

0,60 oferta
Preço d~
cruzeiros
em o,so
dólares
0.40

0,30

0,20

Quantidade de cruzeiros

GRÁFICO 8.1

O SETOR EXTERNO
127
A taxa de câmbio será determinada no ponto em que a oferta
for igual à procura por cruzeiros, neste caso, US$ 0.30 por cru-
zeiro.
E importante notar que a oferta por cruzeiros representa a
procura por bens importados transformada em termos de dólares.
O que ela nos diz é que, quanto mais alto for o preço ou valor do
cruzeiro, mais importações desejaremos efetuar, visto que o custo
da importação será mas baixo. A curva de procura representa
quanto podemos obter em cruzeiros, através de nossas exportações
efetuadas em dólares. A curva, realmente, reflete a procura de
importadores estrangeiros pelos nossos bens de exportação.
Se houvesse um aumento na oferta por cruzeiros, ou seja,
um aumento em nossa procura por bens importados (isto representa
um deslocamento da curva e não um movimento sobre a curva),
a taxa de câmbio de equihôrio se alteraria, como vemos no grá-
fico 8.2.
TAXA DE CAMBIO

0,70
Preço de
cruzeiros
•m
dólares "''
'·"
MO

'·"'
0,20

0,10

Quantidade de cruzeiros

GRÁFICO 8.2

O preço do cruzeiro em dólares diminuiu; em outras palavras,


é necessário menos dólares para comprar um cruzeiro ou mais
cruzeiros para comprar um dólar. Houve, então, uma desvalori-
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMIOA
128
zação do cruzeiro. O seu preço em dólares caiu para US$ 0.20;
isto quer dizer que o novo preço do dólar, em cruzeiro, é de
Cr$ 5,00, ao passo que antes era de Cr$ 3,33.
Devemos observar, no entanto, que as taxas de câmbio, em
realidade, não são determinadas pelo livre jogo de mercado, mas,
sim, fixadas pelo governo.
Isto pode transformar-se numa importante arma para a política
econômica, chamada política cambial. Se o governo desejar incen-
tivar exportações e desincentivar importações, deverá desvalorizar
o cruzeiro em termos do dólar. Assim fazendo, estará protegendo
a sua produção interna contra a competição estrangeira.
Vejarnos, por exemplo, o que ocorreria se o governo fixasse
a taxa de câmbio a Cr$ 5,00 por dólar, ou seja, US$ 0.20 por
cruzeiro taxa fixa 1).
TAXAS FIXAS

0.70

...,
oferta 2
Preço em

,,
dólares

cruuiros . ..,
0,40

0,30

0.20

0,10

procura

Quantidade de cruzeiros

GRÁFICO 8.3

Neste caso, o governo está, evidentemente, criando condições,


ainda que artificiais, para que a procura por cruzeiro (ou seja,
a oferta de dólares provenientes de nossas exportações) seja maior
que a oferta por cruzeiro (ou seja, a nossa procura por bens im-
portados), num montante igual ao segmento ãb.
O SETOR EXTERNO
Se o governo houvesse fixado a taxa de câmbio a Cr$ 2,50,
ou seja, US$ 0.40 por cruzeiro (para baratear importações consi-
deradas essenciais), a nossa procura por importações seria maior
que nossas importações atuais, devendo, então, o governo esta-
belecer tarifas aduaneiras com o fito de deslocar a curva da oferta
por cruzeiro (ou seja, nossa procura por importações) para a
esquerda, evitando, assim, deficit em nosso baianço de pagamentos.
Sem tal medida, as importações seriam maiores que as exporta-
ções, num montante igual ao segmento ca.
Devemos observar, no entanto, que nem sempre uma desvalo-
rização da moeda pode ter o efeito desejado. Se, no exemplo, as
importações que um país efetua forem inelásticas com relação ao
preço, o aumento no custo das importações decorrentes da desvalo-
rização poderá não afetar sobremaneira o montante das importações.
Da mesma forma, se a elasticidade-preço dos produtos exportados
também for baixa nos mercados externos, a queda no custo dos
produtos exportados não causará um aumento no volume das ex-
portações.
Assim sendo, a desvalorização de uma moeda, tendo como obje-
tivo eliminar um deficit no Balanço Comercial ( exportações-im-
portações) , poderá não alcançar os objetivos propostos.
Tal fenômeno ocorre com relativa freqüência em economias
subdesenvolvidas. A elasticidade-preço das importações pode ser
baixa em virtude da essencialidade dos produtos importados (ma-
térias-primas, bens de capital e produtos alimentares essenciais)
e a elasticidade-preço das exportações também pode ser baixa, como
acontece com grande parte das exportações que se compõem, so-
bretudo, de produtos primários.

O BALANÇO DE PAGAMENTOS

O Balanço de Pagamentos é uma conta que registra transa-


ções com o exterior. Compõe-se de duas partes:
Balanço em conta-corrente, que registra nossas importações e
exportações de bens, serviços e fatores de produção (inclui seguro,
frete, royalties etc.) ;
Balanço de capital, que registra as entradas e saídas de capital
e de reservas (incluindo ouro) .
Um decifit em conta-corrente (mais importações do que expor-
tações) precisa ser contrabalançado por um superavit em conta de
capital, o que quer dizer que se necessita efetuar pagamentos com
reservas ou, então, tomar emprestado no estrangeiro.
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA
130
Um superavit em conta-corrente precisa ser contrabalançado
por um deficit em conta-corrente, o que quer dizer que aumentou-
se as reservas ou, então, efetuou-se empréstimos a compradores
estrangeiros.
Chama-se superavit ou deficit no balanço de pagamentos um
desequilíbrio nas contas, quando se excluem movimentos de reser-
vas. Se, por exemplo, importa-se mais do que se exporta, haverá
um defiCit em conta-corrente. Este deficit poderá ser financiado
parcialmente pela entrada de capitais autônomos, parcialmente por
empréstimos compensatórios e, parcialmente, por movimento de
reservas acumuladas pelo governo. É o valor do movimento de
reservas, que chamaríamos de deficit ou superavit no balanço
de pagamentos.

POR QUE COMERCIAR COM O EXTERIOR

Se o mundo todo fosse nm só pafs, não haveria comércio in-


ternacional, visto que todo ele seria efetuado internamente. Os
princípios que levam o homem a comerciar internamente são os
mesmos que o levam a comerciar com outros países.
O comércio entre dois Estados seria mantido inalterado se os
mesmos se transformassem em ·países independentes. As normas
e vantagens desse comércio, provavelmente, seriam mantidas inal-
teradas. A única diferença seria nas formas de pagamento, o que
já examinamos na seção anterior.
Comércio entre indivíduos ou entre nações possibilita-os a con-
centrarem seus esforços na produção de bens para os quais eles
possuem uma vantagem com relação a outros e trocam esses bens
por outros que não poderiam produzir de forma eficiente. O próprio
fato da concentração em certas áreas de produção tende a aumentar
a produtividade nessas atividades, em decorrência de um conheci-
mento mais perfeito da área, de economias de escala, de possibili-
dades de maior divisão de trabalho etc.
Vejamos um exemplo. Se, com duas unidades de fatores de
produção, o Brasil conseguir produzir 10 sacas de café ou um
metro de tecido e, com essas mesmas duas unidades, a lndia puder
produzir duas sacas de café ou 7 metros de tecido, pelo quadro
abaixo veremos que, havendo comércio e concentração na produção
de bens onde o país tenha vantagem com relação a outro, a pro-
dução total será maior do que se cada país produzir ambos os pro-
dutos para seu próprio consumo.
O SETOR EXTERNO
131
Café Tecido
Brasil 10 1
lndia 2 7
Se o Brasil, por exemplo, deixasse de produzir um metro de
tecido e o importasse da lndia, poderia produzir ·-lO sacas de café-
a mais. A índia deixaria de produzir café (-2 sacas) para forne-
cer,. em seu lugar, 7 metros de tecido. O efeito líquido seria:
Café Tecido
+lO -1
-2 +7

Porém, a vantagem do comércio exterior especializado também


existe, mesmo quandg não haja vantagem absoluta de um país sobre
outro; basta que haja uma vantagem comparativa. Por exemplo, o
Brasil poderia ser eficiente na produção tanto de café quanto de
tecido, mas deveria concentrar-se no produto onde sua superioridade
fosse maior.
Produção por 100 unidades de recursos
Café Tecido
Brasil 1.000 50
índia 80 30
Com as 100 unidades de recursos, o Brasil poderia produzir
mais café e tecido do que a índia. Porém, se o Brasil transferisse
1O unidades de recursos para o café e a lndia, 100 unidades para a
produção de tecidos, o efeito líquido seria:
Café Tecido
Brasil +100 -5
lndia -80 +30

+20 +25
Seria, pois, vantajoso, havendo vantagem absoluta ou simples-
mente comparativa, que países produzisesm bens nos quais tivessem
uma produtividade maior com relação a outros bens e importassem
aquilo para cuja produção outros países tivessem vantagem absoluta
ou comparativa. Assim, seria possível que países se especializassem
INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA
132
em certos setores de produção e usufruíssem, como conseqüência,
de uma quantidade maior de ambos os bens, através do comércio
internacional.

O SETOR EXTERNO E O NlVEL INTERNO DA RENDA


Vimos, no cap. 5, que
Y=C+I+G
Vamos, agora, introduzir no modelo as variáveis do setor ex-
temo. ..
Já havíamos visto que as exportações representam injeções
no fluxo econômico, uma vez que o mercado externo remunera o
produto adquirido. De maneira oposta, as importações representam
vazamentos no fluxo econômico, já que os importadores nacionais
fazem pagamentos pelo produto importado e tais quantias são in-
corporadas aos fluxos econômicos do país de origem do produto.
Vemos, então, que:
Y = C + I + G + (X - M),
onde X = exportações e M = importações.
Verificamos, então, que o produto interno é igual ao consumo
interno, mai& os investimentos, mais gastos governamentais, mais
o saldo das exportações menos importações.
Se o saldo é positivo, temos, então, um líquido positivo de
injeções menos vazamentos (quando as exportações são maiores que
as importações) e, se o saldo é negativo, temos, então, um líquido
negativo de injeções menos vazamentos (quando as importações são
maiores que as exportações) .
Podemos concluir, imediatamente, que um saldo positivo de
X - M se refletirá num fator de expansão no nível de renda da
economia, da mesma forma que o seria um acréscimo nos investi-
mentos ou nos gastos governamentais, já que todas estas variáveis
são injeções na procura agregada. De forma oposta, um saldo nega-
tivo refletir-se-á num fator de contração do nível da renda.
Vemos, então, que o saldo X - M é uma importante variável
na determinação do nível da renda e está sujeito a medidas de polí-
tica econômica, como a imposição de tarifas e a política cambial.
No gráfico 8.4, temos uma situação em que uma economia se
acha estabilizada a um nível de renda aquém da faixa de pleno
emprego.
Para aumentar o nível de renda da economia até elíminar o
desemprego, o governo poderia adotar medidas de caráter fiscal,
O SETOR EXTERNO
133
orçamentário e monetário, conforme já foi discutido em capítulos
anteriores.
Vejamos, agora, como o governo poderia agir, tomando medi-
das de caráter tarifário, comercial e cambial.
A função consumo é dada pela equação
C= 40 0,2Y +
O nível de investimento, dada uma taxa de juros e uma curva
de Eficiência Marginal do Investimento, situa-se ao nível de 20
e os gastos governamentais ao nível de 10.
Quanto ao setor externo, notamos que o país tem um saldo
negativo na variável X - M, o que indica que as importações são.
maiores que as exportações, num montante de 20 unidades mone-
tárias. Podemos, então, determinar o nível de equihôrio da renda,
qne é igual a •
C I + +
6 (X - M) +
y = ---------
1-b

y
40 20 + 10-20 +
62,5
0,8

DETERMINAÇÃO DO NIVEL DE RENDA

/ Y = C +I+ G +(X·M)

C,I,P,G(X•M)
C+l+G.+(X·M)

--------/_-;1t:=
===-----:;;/-r~tt=-=
C+ I+ G
2

.~-;;==;;;~/==-====~r===- =~-Co-
C+ I+ G + (X·M)

c + b(Y)

+ t
:~--
0
---.--L------r ---·--------
- ------=-+-~=-~.I. =--=:-.:_<_X_-~(.:..--
-G
JL1"'"7.--o---_,1-J-,:-~'-f<l,.,-~-...,..-----
0
1

Nlve! de ~nda
20 .40 ~ UI lOO U0 140 1110 180
- '~ --------------- (X-M)

Faixa de pleno emprego


GRÁFICO 8.4

INTRODUÇãO A TEORIA ECONOMICA


134
Supondo-se que haja desemprego na situação apresentada pelo
gráfico'8.4, o governo resolve eliminar o saldo negativo de X- M,
através de duas medidas:
1) Desvalorizando a moeda. Como a elasticidade-preço ,das
exportações era relativamente alta, a medida redundou
num aumento das exportações. No entanto, as importações
não caíram como era esperado, o que indica sua inelasti-
cidade-preço.
Para efetivamente reduzir as 'mportações, o governo tomou
outra medida:
2) Impondo quotas de importações para produtos conside-
rados supérfluos. Dessa forma, conseguiu efetivamente a
redução desejada no nível de importações.

Com estas duas medidas, o governo conseguiu transformar o


deficit na variável X - M num saldo positivo de 15 unídades.
O efeito no nível da renda pode ser medido pela equação
1
AY=A (X- M) ou seja,
1 - b'
1 35
A Y = 35 = = 43,75
1 0,2 0,8
O novo nível da renda foi, em conseqüência, aumentado para
106,25, diminuindo, conseqüentemente, o uivei de desemprego.

RESUMO
Neste capítulo, dedicamo-nos aos problemas decorrentes da
existência de fluxos econônticos entre diferentes países.
As trocas de bens e de serviços criam o problema da taxa
de câmbio, já que, nos diferentes países, circulam moedas dife-
rentes. Em última análise, só haverá uma taxa de câmbio entre
duas moedas, quando haja intercâmbio real de mercadorias e ser-
viços entre dois ou mais países.
Justificamos o intercâmbio comercial baseados nas teorias de
comércio de Adam Sntith (Teoria da Vantagem Absoluta) e de
David Ricardo (Teoria da Vantagem Comparativa).
Finalmente, integramos o setor externo no modelo keynesiano
de determinação de renda e constatamos a importância dos fluxos
O SETOR EXTERNO
135
econômicos internacionais na determinação da renda interna de
um país.

QUESTõES PARA DISCUSSÃO

1) Descreva os efeitos de uma valorização do cruzeiro com


relação ao dólar.
2) Por que a curva da oferta de dólares é positivamente
inclinada, ou seja, a oferta aumenta quando o preço do
·dólar aumenta?
3) O que ocorreria com a taxa de câmbio se:
a) a procura por bens importados diminuísse?
b) a oferta por dólares aumentasse?
c) a procura por bens de exportação do Brasil caísse?
Por quê?
4) Que razões poderiam fazer com que a curva da oferta
ou a da procura por dólares se deslocasse?
5) O que aconteceria com a taxa de conversão, se o nível
de preços num país estivesse subindo com relação ao do
outro? (Se houvesse inflação?)
6) Quais as vantagens e as desvantagens da taxa de câmbio
fixa?
7) Exemplifique o que seria um saldo no balanço de paga-
mentos.
8) Haveria alguma vantagem no comércio exterior, se exis-
tisse a seguinte situação?
Produção por 100 unidades de recursos
Café Tecido
Brasil 1.000 90
índia 100 9
Experimente recolocar fatores de produção entre as duas
atividades, para ver se você consegue aumentar a produ-
ção total, tanto de café quanto de tecido.
9) A Teoria da Vantagem Comparativa preconiza uma divi-
são internacional de trabalho. Você acha, a longo prazo,
tal sugestão vantajosa para um país subdesenvolvido?

136 INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA


1O) Qual seria a renda de equili'brio do país descrito no grá-
fico 8.4, se as medidas governamentais tomadas somente
conseguissem igualar as exportações às importaçÕes?
Resolva esta questão gráfica e algebricamente.

O SETOR EXTERNO
137
Desenvolvimento
Econômico 9
CRESCIMENTO ECONôMICO
Observando o mundo atual, notamos um desnível cada vez
maior entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos. Este
desnível pode ser observado em todos os campos de atividade eco-
nômica, mas o que realmente nos impressiona não é a diferença
absoluta entre os ricos e os pobres, mas, sim, o fato de os ricos se
tomarem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres,
em comparação com os ricos.
:f: a ·observação desse fato, mais os efeitos psicológicos de-
correntes dos modernos métodos de comunicação (efeito demons-
tração), que têm levado as autoridades de paí~es subdesenvolvidos
a tentarem acelerar as suas taxas de crescimento econômico.
O processo de crescimento econômico pode ser efetuado pela
utilização de recursos ociosos, por inovações tecnológicas, por um
esforço maior em seu processo produtivo, por um aumento em sua
capacidade produtiva, etc.
A curto prazo, poder-se-ia efetivar o crescimento econômico
pelo método keynesiano do aumento da procura agregada, através
de gastos governamentais, política fiscal ou por investimentos cres-
centes; a longo prazo, porém, é necessário que a economia aumente
sua capacidade produtiva, para que não encontre barreiras ao seu
desenvolvimento posterior.
O próprio ato de investir, .aumentando a curto prazo o nível
da Tenda via aumento na procura agregada, gerará no futuro um
aumento na oferta de bens e serviços. Aumentando o estoque de
capital, a capacidade produtiva do sistema também foi expandida.
O aumento da capacidade produtiva gerada por um dado
investimento é determinada pela relação técnica chamada relação
INTRODUÇÃO A TEORIA ECONôMICA
138
produto-capital marginal. Por exemplo, um investimento adicional
de Cr$ 10.000,00 gerará, dependendo das relações técnicas tais como
administração tecnológica, controle etc., um aumento no produto
anual de Cr$ 5.000,00. A relação produto capital marginal será,
5.000
portanto, - - - = 0,5.
10.000
Pmarg.
Devemos notar que a relação varia mnito de setor para.
Kmarg.
setor e mesmo de indústria para indústria. A relação ·que nos
interessa é a relação média para a economia.
Notamos, então, que o investimento eleva a capacidade pro-
dutiva pela relação produto-capital marginal e que o mesmo investi-
mento eleva a renda da economia pela relação do multiplicador.
Para que a economia cresça em equihôrio, é necessário que a capa-
cidade produtiva (!I oferta) cresça à mesma taxa que a renda e,
portanto, à mesma taxa que a demanda agregada. Caso contrário,
a economia pode parar de crescer, se a capacidade produtiva cresce
mais rapidamente que a demanda,· gerando a capacidade ociosa e
inibindo investimentos.
Chamemos a CP o acréscimo na capacidade produtiva, 1:. Y
Pmarg.
o acréscimo na renda, o:: a relação , I o investimento
Kmarg.
aI
líquido e - - a taxa de aumento dos investimentos e b a propensão
I
marginal a consumir.
Sabemos que a CP = o: I e sabemos também que
1 1
1:.Y = a I , onde é o valor multiplicador.
1-b 1-b
Para que haja crescimento equilibrado, é necessário que 1:.Y =
1
1:. CP, ou seja, aI = o: I; multiplicando ambos os termos
1-b
por 1 - b (que é a propensão marginal a poupar) e, em seguida,
1:. I
dividindo por I, teremos - - = o: (1 - b) .
I
DESENVOLVIMENTO ECONôMICO
139
Vemos, então, que a taxa de crescimento de investimento
AI.
(--) deve ser igual ao valor da relação produto-capital marginal
I .
multiplicada pela propensão marginal a poupar.
Vemos, então, que a taxa de crescimento do investimento não
deve ser inferior nem superior a o: (1 - b), sob pena de o cres-
cimento não ser equilibrado - a economia geraria capacidade
ociosa, retardando o crescimento, ou geraria urna procura supe-
rior à oferta, criando pressões inflacionárias.
Daí a necessidade de se manter a taxa de crescimento de inves-
timentos constantes.

CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

O crescimento econômico é um processo cumulativo. Para


termos uma idéia desse processo, reproduzimos aqui urna tabela
sobre os efeitos de diferentes taxas de crescimento do nível da
renda, ao fim de certos períodos de tempo.

TABELA 9.1

CRESCIMENTO PERCENTUAL ANUAL

(ano O = 100)

Anos 1% 2% 3% 5% 7%
o 100 100 100 100 100
10 111 122 135 165 201
30 135 182 246 448 817·
50 165 272 448 1.218 3.312
70 201 406 817 3.312 13.429
100 272 739 2.009 14.841 109.660
(FoNTE: Lipsey, R. e Steiner, P. Economics. Ha.rper Int. Eclltion, pág. 745.)

Observamos que, com uma taxa de crescimento de 5% ao ano,


no final de 30 anos a renda ter-se-á quadruplicado, em termos
reais; ao cabo de 70 anos, ela S<l multiplicará por 33 e, ao cabo de
100 anos, por 148.
INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA
140
Face a esses fatos, o crescimento econômico regular, contínuo
e auto-sustentado tomou-se o ponto focal de toda a política eco-
nômica governamental, principalmente em países subdesenvolvidos.
Com tal intento, governos têm tomado sobre si não só a res-
ponsabilidade de efetuarem investimentos, como também a de in-
centivarem e criarem condições para que o setor privado de uma
economia os efetue.
E importante notar que aumentar simplesmente investimentos
seria uma política de curto prazo, mas que, a longo prazo, é ne-
cessário que se criem novas oportunidades de investimentos, intro-
duzindo-se, assim, um elemento de mudança qualitativa estrutural
no processo de crescimento. Este não é só o processo "clássico"
de acumulação de capital, mas também um processo onde novos
fatores de crescimento sejam criados, através de inovações tecno-
lógicas, de melhoria do f;~tor humano por meio da educação, de
modificações nas normas de ação das sociedades tradicionalistas,
além de modificações essenciais na estrutura social e política, para
que o desenvolvimento tenha diante de si condições favoráveis ao
seu prosseguimento.
A importância desses fatores não tangiveis ao processo de de-
senvolvimento econômico foi alvo de estudo por E. F. Denison (1 ) .

TABELA 9.2

CAUSAS DO CRESCIMENTO ECONOMICO NOS E.U.A.


(% do total)

Causa 1909-1929 1929-1957


Aumento na força de trabalho 39 27
Melhor nível de educação e treinamento 13 27
Aumento no estoque de capital 26 15
Progresso tecnológico 12 20
Outros (principalmente economias de escala) 10 11

100 100

Notamos a importância crescente da tecnologia e da educação


contra a perda de importância de fatores materiais, como capital
e mão-de-obra.
(1) The Sourcu ot Economic Growth in the U. S. (N. Y. Committee for Eco-
nomic Development, 1962).

DESENVOL'VIMENTO ECONOMICO
141
Devemos perguntar, agora, até que ponto teorias "clássicas"
de acumulação de capital e, mais recentemente, o nascimento da
tecnologia como fonte dinâmica de um processo de crescimento
são fatores suficientes para desencadear o mecanismo de desenvol-
vimento econômico nos atuais países subdesenvolvidos, e não tão
somente crescimento do produto.

O DESENVOLVIMENTO ECONôMICO NOS PA1SES


SUBDESENVOLVIDOS
O processo de desenvolvimento não poderá ser compreendido
como um simples índice econômico, mas deve incorporar uma série
de condições supletivas, sem as quais não se poderá realizar.
Poderíamos perguntar-nos por que permanecemos subdesen-
volvidos.
Um fato importante é o círculo vicioso da pobreza. Um pais
pobre poupará pouco e, conseqüentemente, investirá pouco, per-
manecendo assim pobre e novamente poupando pouco. No entanto,
esse pouco investido poderia levar o pais a um rompimento no
círculo vicioso; já vimos que, mesmo a modestas taxas de cresci-
mento de 3% ao ano, no final de 50 anos poderíamos mais do
que quadruplicar a renda; poderíamos esperar também que a pro-
pensão marginal a poupar fosse mais alta do que a média dos
países.
O problema surge quando consideramos um país como subde-
senvolvido, não com relação à sua renda global, mas sim quando
examinamos o padrão de vida de seus habitantes. A renda per
capita (renda dividida pela população) dá-nos um indice, ainda que
grosseiro, do padrão de vida de uma comunidade .. tl ai que nos
defrontamos com o nosso maior inimigo, ou seja, a explosão demo-
gráfica.
A população brasileira tem crescido a taxas superiores a 3%
ao ano, o que anulará totalmente um crescimento na renda de
igual valor anual. Tal explosão se deve, principalmente, à queda
nas taxas de mortalidade, decorrentes de melhorias médico-sani-
tárias.
Com tal explosão demográfica, fica a sociedade numa situação
onde, além de ter de dividir entre um número cada vez crescente
os frutos de seus esforços desenvolvimentistas, se vê obrigada a
investir maciçamente em projetos em que a relação produto/capital
é baixa, ou seja, onde os frutos do investimento não se traduzem
num crescimento imediato e tangível da produção global, tais como
investimentos em hospitais, serviço social, habitações etc.
mTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA
142
Tal situação também obriga um país a ter de acelerar tre-
mendamente as suas taxas de crescimento, para que possa haver
crescimento na renda per capita.
A curto prazo, já analisamos de que maneira o governo pode-
ria incentivar uma aceleração no processo de desenvolvimento,
através de instrumentos de políticas monetária, fiscal, cambial e
orçamentária.
A longo prazo, no entanto, o problema do desenvolvimento
econômico se apresenta de forma muito mais complexa: Uma
política de curto prazo orientada para a obtenção de altas taxas
de crescimento, pode não ser adequada para gerar os efeitos qua-
litativos que caracterizam o desenvolvimento econômico.
Os países subedsenvolvidos teriam que efetuar transformações
em todos seus sistemas aue, em muitos casos, ainda se acham
presos a estruturas considêradas obsoletas e até mes'mo incompa-
tíveis com o processo de desenvolvimento. Alguns exemplos am-
plamente observados seriam a falta de estruturas educacionais
voltadas a objetivos técuico-científicos, estruturas sociais que não
favorecem a inovações e reformas, falta de· espírito empresarial,
aversão ao capital estrangeiro e à exploração de certos recursos
minerais, e muitos outros.
Seria oportuno notar que qualqu er esforço no sentido de
acelerar o ritmo de crescimento de uma economia e de gerar um
processo de desenvolvimento genuíno envolve, antes de mais nada,
uma aceitação geral desses objetivos.
A maior dificuldade, ·possivelmente, é o fato de que o pro-
cesso de desenvolvimento implica necessariamente em um sacri-
fício no presente objetivando o recebimento de retornos no futuro.
Tal esforço pode fazer necessário que gerações inteiras aceitem
uma queda em seus padrões de vida como a história do moderno
desenvolvimento do Japão poderia bem testemunhar.

OBSTÁCULOS MAIS COMUNS AO DESENVOLVIMENTO


EM PAlSES SUBDESENVOLVIDOS

1. Imperfeições no mercado: em países subdesenvolvidos nota-


mos, com freqüência, grandes imperfeições no mercado, de modo
que a economia não consegue alocar seus recursos de maneira
eficiente. Tais imperfeições são decorrentes de sistemas de comu-
nicações e transportes precários, estrangulamentos com referência
a certos tipos de mão-de-<:>bra e de capital (humano e ,físico), ten-
dências monopolísticas de certas indústrias, visto que o pequeno
DESENVOLVIMENTO ECONOMIOO
143
mercado interno não comportaria um sistema eficiente de competi-
ção, tabelamento de preços, às vezes como conseqüência de pressões
políticas e sociais etc.
Tais imperfeições impedem a obtenção de um sistema eficiente
de recursos; no entanto, um planejamento racional de desenvolvi-
mento poderia superar algumas dessas dificuldades. Novamente, os
países subdesenvolvidos vêem-se impedidos, muitas vezes, de for-
mular um planejamento eficiente, visto não disporem de dados
estatísticos abundantes e corretós.
2. Tecnologia e educação: mais uma vez nos referimos ao
exemplo japonês, para observarmos como a tecnologia pode ser
desenvolvidas de forma a ajustar-se às condições reinantes num
país. Tal fato só pode ser possível com um sistema educacional
eficiente, adaptado às condições próprias do país e bem desenvol-
vido, de forma a poder proporcionar instrução àqueles que o dese-
jem e se mostrem capazes.
Os japoneses, por exemplo, não hesitam em copiar técnicas
estrangeiras, não antes, porém, de as adaptarem às suas próprias
condições, ou seja, a uma economia onde a mão-de-obra ainda é
abundante e relativamente barata.
3. Inflação: a elevação dos preços nos países subdesenvolvidos
pode ser uma faca de dois gumes. Há quem diga que uma elevação
controlada dos preços é realmente inevitável num país em desen-
volvimento, visto que seria impossível que tal crescimento se desse
sem encontrar pontos de estrangulamento. A inflação seria, então,
um fator que assinalaria as áreas onde houvesse tensões, de modo
que fatores de produção se vissem atraídos para essas áreas.
Além disso, o processo inflacionário pode acarretar uma pou-
pança forçada, além de uma certa concentração da renda, o que
tenderia a aumentar a poupança.
U perigo, no entanto, apresenta-se quando verificamos que
e extremamente difícil manter a inflação controlada e evitar que
ela se transforme numa espiral. Se isto ocorresse, além de problemas
em nosso balanço de pagamentos, teríamos de enfrentar situações
de efervescência social, visto que os grupos econômicos· estariam
todos numa louca corrida para protegerem ou até aumentarem o
seu poder aquisitivo.
Provavelmente, ocorreria também uma distorção nos investi-
mentos, que se deslocariam para bens imóveis, com baixa relação
produto/capital.
4. Estrangulamento externo: países subdesenvolvidos exportam,
geralmente, produtos primários e importam manufaturados. Um
INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA
144
fato comum no processo de desenvolvimento econômico é que as
necessidades de importação de matérias-primas e bens de capital
aumentam, ao passo que suas exportações, geralmente, não crescem
à mesma taxa (com exceção feita aos países exportadores de petró-
leo). Isto cria, então, grandes deficits em seus balanços de paga-
mentos, o que eventualmente tenderá a diminuir sua capacidade de
importar.
:É por esta razão que, muito comumente, se notam altas tari-
fas aduaneiras para bens de consumo importados, o que, além de
incentivar a produção interna via proteção e aumento nos preços
desses bens, libera divisas para a importação de bens de capital
e matéria-prima essenciais.
O capital estrangeiro poderia aliv.iar essa tensão, além de
trazer consigo um know-haw mais moderno. No entanto, ele tam-
bém pode ser uma faca de dois gumes. Algumas restrições .que
poderíamos fazer ao capital estrangeiro, que não fossem correta e
conscientemente regulamentado, seriam a alta remessa de lucros ao
exterior, o emprego de urna tecnologia desenvolvida para condições
diferentes da dos países subdesenvolvidos,. a transferência do centro
de decisões para o exterior, urna grande dependência externa etc.
5. Mercado interno insuficiente e dualismo econômico: uma
outra característica comum a países subdesenvolvidos é a existência
de estruturas econômicas modernas nos grandes centros urbanos
e urna estrutura ultrapassada e obsoleta nas zonas rurais. Isto pode
criar dois importantes problemas: primeiro, a não exploração do
mercado potencial que se acha nas zonas não urbanas, justamente
em decorrência do atraso reinante nessas áreas; segundo, o grande
êxodo para os centros urbanos de segmentos consideráveis da popu-
lação rural que, geralmente, não estão aparelhados para se integra-
rem nesses focos econômicos mais modernizados.
Cria-se, então, urna situação em que o setor industrial não
pode, realmente, beneficiar-se de economias de escala que pressu-
poriam um amplo mercado e que o leva a produzir bens orientados
para a satisfação da população urbana de renda média e alta, pro-
duzindo, então, quantidades consideráveis de bens de luxo, ao passo
que grandes camadas da população não podem adquirir nem os bens
mais essenciais à sua sobrevivência.
Urgiria, então, uma política que visasse à maior incorporação
do homem do campo à economia de mercado, isto através de um
programa de modernização e de exploração mais racional do setor
rural, para que se pudesse efetivar, igualmente, a criação de um
mercado rural para bens manufaturados.
DESENVOLVIMENTO ECONOMICO
145
Esse seria, também, um passo importante no prosseguimento
do processo de substituição de importações, possibilitando, então,
que se produzissem equipamentos industriais, internamente, o que
não seria viável, face ao mercado restrito para produtos industriais.

O PLANEJAMENTO ECONOMICO

A crescente distância. entre os países .ricos e os pobres é, sem


dúvida, um grande incentivo para que os países subdesenvolvidos
concentrem esforços em políticas desenvolvimentistas. Visto que os
países pobres têm "pressa" em se desenvolverem, toma-se cada
vez maís potente a necessidade de o governo intervir na economia
como um órgão centralizador das decisões maís importantes e, tam-
bém, como o agente economicamente mais poderoso da nação.
:€ neste ponto que nos perguntamos: até que ponto o estudo
de como os países hoje desenvolvidos cresceram é um bom guia
para nossa política de desenvolvimento? Deve o governo intervir
energicamente ou manter um clima liberal, à moda do laissez-faire?
Até que ponto deve o governo formular um plano de desenvol-
vimento?
Os países desenvolvidos, como E.U.A., Inglaterra, Canadá
etc., atingiram, sem dúvida alguma, alto nível de renda per capita
através de um sistema liberal, em que o governo tiÍlha somente
uma função supletiva ao setor privado. Parece-nos, no entanto, que
tal processo foi possível em circunstâncias completamente diversas
das condições atuais dos países subdesenvolvidos.
O próprio subdesenvolvimento não existia, quando países como
a Inglaterra entraram num surto de progresso. Não havia, como
conseqüência, a premência e impaciência com que países subde-
senvolvidos tentam hoje atingir padrões mais altos de vida. As
condições sociais, culturais e psicológicas eram bem diversas das
atuais. Seria impossível repetir-se a experiência, quando as con-
dições são totalmente diversas.
Uma diferença, que imediatamente salta à vista, é o fato de
o crescimento populacional ser devido a uma taxa de mobilidade
bem mais baixa, em face da alta taxa de mortalidade que havia
na época. Como resultado disso, não houve grandes dificuldades
em se absorverem os excedentes populacionaís nos setores indus-
triais, porque nunca chegaram a proporções alarmantes, como se
vê, atualmente, em regiões subdesenvolvidas.
Pode haver, então, uma completa participação da população
no processo de desenvolvimento. Com o prosseguimento da indus-
INTRODUQAO A TEORIA ECONOMICA
146
trialização, criou-se escassez de mão-de-obra, o que possibilitou pro-
gressos tecnológicos, capitais intensivos, que aumentavam tremen-
damente a produtividade da mão-de-obra, o que se converteu em
grande melhoria do padrão de vida da população.
Com relação a essa diferença demográfica e a muitas outras
que existem, seria supérfluo qualquer estudo mais detalhado, visto
que são perfeitamente observáveis por qualquer estudante que ca-
sualmente folheie um livro de História Econômica. O Planejamento
Econômico possui dois grandes atrativos:
a) acelera a taxa de crescimento;
b) orienta a economia na direção desejada.

Já havíamos visto como a taxa de investimento é um fator


importante no crescimento econômico. É sacrificando parte do con-
sumo crescente que se pode acumular capital e aumentar a produção
total no futuro. Tal investimento, no entanto, só poderá ser man-
tido se houver poupança. Em países como o nosso, o círculo vicioso
da pobreza impossibilita a poupança privada. O governo, no entanto,
poderia intervir energicamente e forçar, atrav6s de impostos, a popu-
lação a poupar. Neste caso, pressionaria o padrão de consumo para
baixo, através de retirada de poder aquisitivo da população, e in-
vestiria tais fundos. Esse processo aumentaria investimentos e tam-
bém a taxa de crescimento. É muito duvidoso que, voluntariamente,
a população decidisse reduzir o seu consumo, de modo que a inter-
venção do governo através de um planejamento de meios e de
objetivos seria altamente vantajosa.
Planejamento também poderia influenciar outras variáveis, além
da poupança; o diagnóstico de uma economia poderia ser seguido
por medidas que visassem à eliminação de estrangulamentos, seja
de mão-de-obra, de capital, de comunicações e transportes etc., além
de criar condições psicológicas para um esforço desenvolvimentista.
O processo de aceleração da taxa de crescimento (já vimos
como pequenas variações nas taxas de crescimento causam grandes
mudanças no produto de uma nação, ao longo dos anos) é im-
portante em países subdesenvolvidos, se não pelo simples fato de
querermos alcançar os países ricos, pelo menos para não regre-
dirmos em nossa renda per capita. Não nos devemos esquecer que
a ausência de uma política demográfica adequada poderá anular
grande parte, senão totalmente qualquer esforço desenvolvimentista.
Também importante é o fato de que, pelo planejamento da
economia, se pode orientá-Ia para uma desejada direção. Seria muito
duvidoso se o mercado, imperfeito como é, realmente orientasse a
DESENVOLVIMENTO ECONOMICO
147
economia, de acordo com o desejo da sua população, a longo prazo.
A racionalidade de curto prazo nem sempre se orienta para obje-
tivos de longo prazo. No Brasil, por exemplo, estamos tentando
transformar em um país industrial de uma economia tradicional-
mente agrícola. Inicialmente, isto envolve esforço e sacrifícios, mas
poder-se-ão no futuro, colher os frutos de tais políticas, às vezes
nem sempre saborosos. Um exemplo típico desse problema, onde,
a curto prazo, podemos tomar decisões que nos prejudicam a longo
prazo, foi a preocupação brasileira em manter preços altos de
café, solucionando problemas internos imediatos, como a obtenção
de divisas para prosseguir na industrialização, porém abrindo um
enorme guarda-chuva sob o qual se abrigaram todos os nossos
atuais concorrentes.

RESUMO
Vimos, neste capítulo, como o processo de desenvolvimento
econômico pode ser encarado. Notamos a diferença entre desen-
volvimento econômico e crescimento econômico e quais as princi-
pais dificuldades que encontram os países subdesenvolvidos em se
erguerem sobre seu estado de pobreza de subdesenvolvimento.
Vimos, também, que, para a obtenção de objetivos como cres-
cimento e desenvolvimento, pleno emprego, equihôrio no balanço
de pagamentos e estabilidade de preços, é necessário um planeja-
mento rigoroso e consciente, sem o qual os atuais países subdec
senvolvidos dificihnente diminuirão o hiato entre eles e as naçõe•
desenvolvidas.

QUESTõES PARA DISCUSSÃO

1 ) Quais os erros em que se pode incorrer, ao se diagnosticar


o desenvolvimento ou o subdesenvolvimento simplesmente,
através da renda per capita de uma nação?
2) Você acha que poderíamos encontrar justificativas histó-
ricas para o subdesenvolvimento, além de fatores que de-
penderiam exclusivamente de uma visão mais objetiva da
realidade?
3) Você crê que o subdesenvolvimento é um fenômeno pura-
mente econômico e, como tal, medidas de caráter estrita-
mente econômico poderiam solucionar o problema, a curto
prazo? E a longo prazo?
INTRODUÇAO À TBORIA ECONOMICA
148
4) A que você atribui o fato de um país como a Alemanha,
totalmente destruído na II Guerra Mundial, poder cons-
tituir-se tão rapidamente e colocar-se entre os países mais
desenvolvidos do mundo?
5) Discorra sobre as dificuldades que um governo encontraria
na implementação de uma política de desenvolvimento, se
não houvesse uma infra-estrutura política, social e psico-
lógica favorável ao crescimento econômico. Dê exemplos
concretos.
6) Discorra sobre diferenças entre os atuais países subde-
senvolvidos e os desenvolvidos, no início do processo de
seu crescimento econômico.
7) Que dificuldades você esperaria encontrar para a elabo-
ração e implementação de um plano de desenvolvimento,
num país como o Brasil atual?
8) Você acha que o crescimento na renda per capita necessa-
riamente melhoraria o padrão de vida de uma população?
9) Quais os custos do crescimento econômico?
10) Você julga mais importante uma política que vise a aumen-
tar a procura agregada ou uma que vise ao aumento da
capacidade produtiva de uma economia?
11 ) Sugira algumas medidas que criariam condições para um
aumento na capacidade produtiva.
12) Medidas que visem ao crescimento da renda num pais
desenvolvido podem ser igualmente aplicadas em países
subdesenvolvidos? Por quê?
13) Sugira uma forma de política econômica (monetária, fiscal,
cambial ou orçamentária) que solucione os seguintes pro-
blemas:
a) dependência tecnológica para com outras nações;
b) desemprego e queda na taxa de crescimento;
c) inflação e queda na taxa de crescimento;
d) concentração excessiva da renda.
14) Qual deveria ser a taxa de crescimento do investimento,
para se manter uma taxa de crescimento equilibrado, se.
a propensão marginal a poupar fosse 0,2 e a relação
produto-capital marginal fosse 0,6?
DESENVOLVIMENTO ECONOMICO
149
!J. I
15) Descreva o que ocorreria, se - - > cc ( 1 - b).
I
16) Por que razão você acha que as atuais nações subdesen-
volvidas têm tanta pressa em se desenvolver economica-
mente?

15 Q INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA


íNDICE REMISSIVO E DE ASSUNTO

A capacidade produtiva
análise Keynesiana (vide tam~ expansão pelo investimento 138·
bém, Xeynes J. M.), 105, 135, -140
138 capital, definição, 9
atomização, 50, 67, 80, 84 balanço de, 130-131
custo de, 119-
B estrangeiro, 145
balanço de pagamentos formação de, 93
definição, 130 mercado de, 124
partes do - substituição por trabalho, 62-66
balanço de capital, 130-131 e as teorias clássicas de acumu-
balanço em conta corrente, lação, 138-140, 141, 142
130-131 cheques, 121, 123
bancos comerciais (vide também ciência econômica, definições, 1~2,
· depósitos bancários) 7-8
--e empréstimos, 122, 123, 124 círculo vicioso da pobreza
origem de, 114 e a exploração demográfica,
bens, definição, 2 142-143
comerciados internacionalmente e a poupança privada, 147
e a taxa de câmbio, 126-130 rompimento do, 142
competitivos, 32 eobweb, 47
complementares, 31 comércio internacional (vide tam-
de luxo, 145 bém, câmbio e balanço de pa-
gamentos)
e o fluxo econômico, 89-92 definição, 126
homogêneos, 50 e o níVel interno da renda, 1~3··
intermediários, 90, 92 -135
livres, definição, 9 razões para (vantagem compa-
substitutos, 32 rativa), 131-133
competição monopolistiea, 51-52
c competição perfeita
câmbio, taxa de curva de oferta da firma a cur-
definição, 126 to prazo, 77-78
de equilíbrio, 128 curva de oferta da firma à lon-
determinação da go prazo, 78-79
num mercado competitivo, características de, 49-51
127-129 comparada ao monopólio, 80
pelo governo, 129-130 determinação da produção em,
efeito nos preços de bens no 74
comércio exterior, 126-130 eficiência, 84-85
íNDICE REMISSIVO E DE ASSUNTO
151
preço de mercado em, 66w67 como obstáculo ao desenvolvi-
c<msumidor (vide também curvas mento, 145
de indiferença) correção através de ação go-
teoria do, 52 vernamenial, 134-135
princípio da insaciabilidade, 54, deflagração
55 e a teoria quantitativa da moe-
racionalidade do, 88 da, 115
consumo (vide também propensão demanda (vide também procura)
marginal a consumir) competitiva,. 32-33
definição, 2 complementar, 30-31
determinação do, 98 inflação de, 105
e poupança, 92 Denison, E. F., 141
função consumo depósitos bancários
característica da, 98w102 e a oferta de dinheiro, 114, 121,
conversão, taxa de (vide câmbio, 122-123,
taxa de) e o investimento, 119
crescimento (vide também desen- e o multiplicador bancário, 123,
volvimento) 124
a curto prazo e longo prazo, 148 e as reservas, 121-123
pelo método Keynesiano, 138-140 depreciação
definição, 94
e o papel do governo, 143 desemprego
a longo prazo eliminação através de política
e o elemento de mudança qua- econômica, 134-135
litativa, 141, 143 e o preço da mão de obra, 103
o papel do governo, 143 e a teoria quantitativa da moew
nos E.U.A., 141 da, 114-117
e investimento, 138-140 desenvolvimento econômico (vide
equilibrado, 139-140 depreciação)
e o círculo vicioso da pobreza, despesa
142-143 definição, 92
meios de efetuá-lo, 138 igualdade com produto, 92
obstáculos ao (vide países sub- desvalorização
desenvolvidos) como política cambial, 129-130,
cruzeiro 135
efeitos da desvalorização do, efeito nos preços de bens co-
127-130 merciados internacionalmente
oferta e procura, 127-130 127-130
custos dinheiro
fixo, 68-70, 73, %, 76 características, 113-114
margina.l, 71, 73, 74, 75, 77, 80, e o setor externo (vide taxa de
83, 84 câmbio)
médio, 68-71, 74, 75, 76, 78, 84 oferta de, 114-118
médio fixo, 75 componentes da, 114
médio variável, 75, 77 e os depósitos bancários, 121-
real, 51 -123
toial, 68-71, 78, 79 e o nível de preços, 114, 115.
·variável, 68-70, 73, 75, 76 116
e política monetária, 120-121,
D 123-124
déficit origem do, 114
no balanço de pagamentos 130- procura por
-131 curva de, 118
INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA
152
equação da, 117 exportação
razões da, 117 como injeção no fluxo econô-
Dorfman, R., 25 mico, 97, 133-135
dualismo econômico, 145 e a taxa de câmbio, 126-180
e elasticidade preço, 130, 135
E e política cambial, 129-130
economias de escala, 84, 145
educação F
importância no processo de de- faixa de pleno emprego (vide ple-
senvolvimento, 141 no emprego)
necessidade de adaptação, 143, fluxos econômicos
144 de renda, definição, 89
eficiência marginal do investi- .e o setor externo, 133-135
mento (vide investimento) e o equilíbrio macroecc.nômico,
-efeito demonstração, 188 95-97
elasticidade preço da oferta e a monetário, definição, 89
inflação estrutural, 107 real, definição, 89
definição, 87-89 função consumo (vide consumo)
fatores que influenciam, 41
elasticidade preço da procura G
definição, 87-89 gastos compensatórios (vide inje-
e a receita total, 42--44 ções)
fatores que influenciam, 40-41 gastos governamentais
elasticidade preço no comércio ex- como injeções nos fluxos econô-
terno, 180, 185 micos, 97, 103
elasticidade renda da procura, e o aumento da procura, 104
41-42 e o crescimento econômico, 138
empréstimos bancários, 122, 128, e inflação de demanda. 106
124 e o multiplicador, 109
equilíbrio governo (vide também, gastos go-
definição, 95 vernamentais, impostos, política
equilíbrio da firma fiscal, política orçamentária,
em competição perfeita política monetária, reserva com-
a curto prazo, 73-78 pulsória, política cambial)
a longo prazo, 78-79 responsabilidade em pa!ses sub-
em monopólio, 79-84 desenvolvidos, 141, 143, 146-
macroeconômico, 95-97, 100 -148
e elasticidade, 85, 36-37
preço de H
definição, 23, 67 Heilbroner, R., 88
e a curva de possibilidade de
produção, 24-25
renda de, 100-102 importação
e a oferta monetária, 120-121 como vazamento no fluxo eco-
taxa de juros de, 118 nômico, 97, 133-135
escassez, 3, 7 de matérias primas e de bens.
escolha econômca, 3-4-67 de capital, 145
estoques e investimento, 93, 94 e elasticidade preço, 130, 135
exploração monopolística, 51 e a taxa de cambio, 126-130
explosão demográfica e política cambial, 129-130
e desenvolvimento, 146-147 imposto
e o círculo vicioso da pobreza, como vazamento do fluxo eco-
142 nômico, 97

lNDICE REMISSIVO E DE ASSUNTO 153


e a renda disponível, 104 características, 63-64
e a inflação de demanda, 106 e isocustos no equilíbrio da fir-
e o governo, 105 ma, 65-66
indiferença, curvas de e a lei dos rendimentos decres-
características, 55-56 centes, 63-64
derivação de, 58-64
e o equilíbrio do consumidor, J
57-61 juros, taxa de
e mudanças no nível de preços, definição, 117
59 de equilíbrio, 118
e o princípio da insaciabilidade, como ligação entre o setor real
54 e o setor monetário, 116, '119
e o princípio da utilidade mar- e investimento, 118-121
ginal decrescente, 56 e a preferência pela liquidez,
e a curva da procura, 60-61 117-118
inflação e a taxa de lucro, 118
administrada, 107
efeitos psicológicos, 107 K
como obstáculo ao desenvolvi-
mento, 144 Keyne, J. M. 102-103, 114
de custos, 106-107
de demanda, 105 L
e o setor real, 115-116 laissez faire (vide Sistema libe-
explicação estruturalista, 105 ral)
explicação Keynesiana, 105-106 lei da oferta e da procura, 14, 50
relacionamento entre teorias de lei dos rendimentos decrescentes,
107 9, 63, 64
injeções liquidez, preferência pela, 116-117
e a situação de equilíbrio, 95-97 lucro
investimento maximização do
definição, 93 como objetivo das emprêsas,
e a poupança forçada, 147 66
e o círculo vicioso da pobreza, em competição perfeita, 73-74,
142 . 75, 80
e o crescimento econômico, 138- em monopólio, 80, 83-84
·140 normal, 51, 75, 78
e a taxa de juros, 118-121 taxa de, 49
e o multiplicador, 108-110 e a taxa de juros, 119
e o nível da renda, 102-103
eficiência marginal do, 119 M
igualdade de poupança e de, 93 mão de obra
e o governo, 103-105, 120-121 definição, 91
planejado, 94 aumento da produtividade em
como injeção, 96
e o nível de equilíbrio, 96 países desenvolvidos, 147
realizado, 94 inflexibilidade para baixo no
e crescimento em equilíbrio, preço da, 103
138-140 substituição por capital, 62-66
isocusto mão invisível, 48
definição, 65 Marshall, A., 1, 9
e isoquantas no equilíbrio da mercado
firma, 65-66 definição, 12, 48-49
isoquantas componentes do (vide oferta,
definição, 62-63 procura),
INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA
154
imperfeições em paises subde· fatores que influencia-m a, 19
senvolvidos, 143, 144 total
tipos de, 49-52 e a determinação do equilí-
monetário (vide também dinhei- brio da renda, 97
monetário (vide também di- oferta no comércio internacional,
nheiro) 12-130
ligação com mercado real, 119 oferta de dinheiro (vide dinheiro)
rural· e desenvolvimento econô- oferta. de moedas estrangeiras,
,mico, 145 127-128
Mill, J. S., 1 oferta monetária (vide dinheiro)
modelo oligopólio, 52
definição, 2 open-market, 123-124
moeda (vide também dinheiro) oportunidade, custo de
fiduciária, 114 definição, 4
taoria quantitativa da, 114-116 e a curva de possibilidade de
velocidade de circulação da, 115- produção, 7
·116 orçamento, linha de
monopólio, 85 definição, 57
características do, 51 deslocamento da, 58
maximização do lucro em, 80, e as curvas de indiferença, 57-
83-84 -61
e a curva de procura da firma, na montagem da curva da prc
. 79-80 cura do consuinidor, 60·61
equilibrio da firma em, 80-84 ouro
e a inflação administrada, 107 e origem do dinheiro, 118-114,
eficiência do, 84-85 121
multiplicador, 108-110, 139
multiplicador bancário, 123, 124 p
países subdesenvolvidos (vide
o também, círculo vicoso da po·
oferta breza, explosão demográfica,
definição, 19 crescimento econômico)
competitiva, 34 crescente desnível para com os
complementar, 33-34 países desenvolvidos, 138, 146
curva da inelasticida~~e. da oferta em, 41
definição, 20 obstáculos ao rlesenvolvimento·
da firma, a curto prazo em nos, 143-146
competição perfeita, 75-78 possibilidade ãe re-peth -se a
da firma, a longo prazo, em experiência dos países desenw
competição perfeita, 78-79 volvidos, 146-147
de bens complementares, 30- responsabilidade do governo nos,
·31, 33-84 141, 143, 146-148
de bens substitutos, 32-83 papel moeda (vide dinheiro)
deslocamento da, 22-28 planejamento econômico
elasticidade, 84-39 vantagens, 147-148
movimento ao longo da, 22
na déterminação do preço de dificuldades em países subde·
equilíbrio, 23-24 · senvolvidos, 144
e a inflação de demanda, 105, pleno empregO
107 como parte do problema econô--
em mercados competitivos, 66-68 mico, 48
estrutura da, 62-66 e a teoria quantitativa da moe-
num sistema monopolístico, 79- da, 114-116
-84 e o setor externo, 133-135

fNDICE Rl!:MISSIVO E DE ASSUNTO 155


e a política monetária, 120~121 da firma em competição per-
faixa de, 105, 107 feita, 67
política cambial, 129, 134-135 da firma em monopólio, 79-80
política fiscal, 105, 120 deslocamentos da
e o crescimento econômico, 139 eomo resultado do aumento
política monetária da renda, 17-18
e expansão da renda, 120·121 efeito no preço de equilí-
tipos de, 123-124 brio, 25
política orçamentária, 105, 120 inclinação da, 34-39
_ poupança (vide também, propen- e a elasticidade, 35-39
são marginal a poupar) montagem da curva do con-
como parte da renda, 92, 100 sumidor, 60-61
eomo vazamento do fluxo de movimentos ao longo da cur-
renda, 96 va, 17
e a função consumo, 99-102 na determinação do preço de
e o nível de equilíbrio da renda, equilíbrio, 23-24-25
96 num sistema monopolístico,
igualdade ao investimento pla~ 79-80
nejado em equilíbrio, 93 c ~ comportamento do consumi·
forçada como meio de estímulo dor (vide curvas de indife-
aos investimentos e à taxa rença),
de crescimento, 147 principais fatores que influen-
preços ciam, 14-15
de mercado total ou agregoada
em competição perfeita. 67 e a - determinação de equilí-
em monopólio, 80 brio, 97
e a receita da finna nn com~ procura especulativa, 117
petição perfeita, 78-79 como função negativa da taxa
sistema de de juros, 117
como mecanismo decisório, procura externa, 128-130
12-14, 24-25 procura para transações, 117
e a lei da oferta e da pro~ procura por dinheiro (vide di-
cura, 14 nheiro)
e a transferênda de recur- procura por divisas, 127-128
sos, 13 procura por precaução, 117
efeitos sociais, 12 produção
procura (vide também demanda) definição, 2
definição, 14 curva de possibilidade de (vide
agr~goada também curva de transfor~
como fator de crescimento mação)
econom1co, 138.140 definiçãO, 5, 6
e a inflação de demanda, 105, características, 6-7
106, 107 e o sistema de preços, 24
e o multiplicador, 108-110 exclusão de pontos no inte-
e o nível de pleno emprego, rior e à direita da curva, 6
103 linear ou reta, 6
a curva da fatores de
definição, 15-16 definição, 2
de bens substitutos (ou com- combinação de fatores abertos
petitivos), 32-33 à firma, 62~66
de bens complementares, 30- e a inflação de dem~nda, 105
-31 em competição perfeitg, 49,
de bens de oferta comple- 50
mentar, 33-34 e o fluxo econômico, 90, 92

INTRODUÇAO A TEORIA ECONOMICA


156
produto através da política monetá-
definição, 90, 91, 92 ria, 120-121
igualdade com a despesa, 92 per eapita e o círculo vicioso
igualdade com a renda, 92 da pobreza, 142-143
igualdade com a soma dos valo- variação na renda e investi-
res adicionados, 92 mento, 102-103, 138
interno, 94 reserva orçamentária, 60
e o efeito do comércio inter- reservas
nacional, 133-135 definição, 121
nacional, 94 compulsória, 121-123
produto bruto, 94 manipulação pelo governo,
produto líquido, 94 123
propensão marginal a · consumir~ e o balanço de pagamentos, 130-
98, 99, 100 -131
Ricardo, D., 135
e o multiplicador, 110 riqueza, 1, 8
no crescimento em equilíbrio,
139 s
propensão marginal a poupar, 98,
100 serviços, 2
e o multiplicador, 110 e o fluxo econômico, 89
no crescimento em equilíbrio, sistema liberal, 146
Smith, A., 1, 48, 133
139, 140 subdesenvol:vimento (vide países
subdesenvolvidos)
R substituição de importações, 146
receita superavit no balanço de paga-
definição, 42
marginal, 80, 81, 83 mentos, 130-131
e a ela'3ticidade preço, 42-44
total, 43, 80, 81 T
recursos ociosos, 138 tarifas aduaneiras, 130, 145
redesconto, taxa de, 124 tecnologia
e a oferta de dinheiro, 124 adaptação da, 144
relação produto-capital marginal, inovações na
138-140, 141 e o desenvolvimento econômi-
remessa de lucros, 94, 130 co, 138, 141, 142
renda ocasionando deslocamentos na
de equilíbrio, 100-102, 120 curva de oferta, 22-23
e o coméreio externo, 133-135 e a produtividade dos fatores,
disponível, 104
distribuição da 105
efeito na procura, 15 teoria .macroeconômica, 88-89
e o ·multiplicador, 108-110 teoria microec<lnômica, 88
fluxo de, 89 teoria quantitativa da moeda (vi-
geração de, 89 de moeda)
igualdade à despesa, 92 títulos
igualdade ao valor adicionado, e a oferta de dinheiro, 123-124
91 trabalho
igualdade ao produto, 92 divisão do, 8
manipulação pelo governo transformação, curva de (vide
através da política cambial, também curva de possibilidade
134-135 de produção), 5-

íNDICE REMISSIVO E DE ASSUNTO


157
u dos bens intermediários, 90, 92
utilidade marginal decrescente, final do produto, 90
55-56 igualdade com a renda, 91
vazamentos do fluxo econômico
v e o equilíbrio macroeconômico,
valor 95-97
adicionado, 90 vantagem absoluta, 132, 185
criação de, 91 vantagem comparativa, 132, 135

INTRODUÇÃO A TEORIA ECONOMICA


158

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