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Apelação Cível - Turma Espec.

III - Administrativo e Cível


Nº CNJ : 0007173-23.2011.4.02.5101 (2011.51.01.007173-4)
RELATOR : Desembargador Federal REIS FRIEDE
APELANTE : JANETE DE MATOS
ADVOGADO : RJ143061 - IVAN ALVES DA SILVA FILHO
APELADO : UNIAO FEDERAL
PROCURADOR : ADVOGADO DA UNIÃO
ORIGEM : 01ª Vara Federal de Niterói (00071732320114025101)
EMENTA

DIREITO ADMINISTRATIVO. MILITAR. PERDA OU EXTRAVIO DE “NOTEBOOK”.


RESPONSABILIDADE DO SERVIDOR PELO BEM CONFIADO A SUA GUARDA.
SINDINCÂNCIA. LEGALIDADE. INQUÉRITO POLICIAL MILITAR. DESNECESSIDADE.
OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR PREJUÍZO CAUSADO À FAZENDA NACIONAL. DANO MORAL.
NÃO OCORRÊNCIA.

1. O cerne da questão discutida nos autos é analisar se a sindicância instaurada para apurar
desaparecimento de equipamento pertencente à Marinha do Brasil, e sob guarda da Autora, incorreu em
alguma ilegalidade passível de anulação.
2. Conforme se depreende dos autos, após determinação para verificação dos materiais de todas as
Incumbências da Organização Militar, detectou-se a falta de um notebook, cuja guarda era de
responsabilidade da Autora. Após ser instaurada sindicância, através da Portaria nº 78/09, para apurar o
desaparecimento do computador portátil, passou-se à oitiva de oito testemunhas, dentre as quais a Autora.
De seu depoimento (fls. 189/190), depreende-se falta de cuidado na guarda do equipamento extraviado.
3. No relatório final da Sindicância (fl. 238), chegou-se à conclusão de que a Apelante concorreu para o
desaparecimento do notebook extraviado, por não ter exercido de forma apropriada a guarda e custódia do
bem em apreço. Assim sendo, concluiu-se que a Autora-Apelante deveria ser “citada” para repor o material
extraviado, conforme sua própria sugestão.
4. Restou plenamente demonstrado pela sindicância que a ausência de zelo pela guarda e vigilância do bem
a si confiado acabou por, em última análise, contribuir para o seu desaparecimento de Organização Militar.
Inclusive a própria militar demonstrou conhecimento de que ela poderia ser responsabilizada pelo extravio
do equipamento de informática.
5. Uma vez que o Inquérito Policial Militar (IPM) constitui “procedimento administrativo investigatório
instaurado no exercício da polícia judiciária militar, disciplinado pelo CPPM, destinado à apuração de
fato caracterizado, em tese, como crime militar” (DGPM-315) entende-se que a não abertura de Inquérito
Policial Militar não constitui irregularidade na conduta da Administração Militar, uma vez que nenhuma
das sindicâncias, em qualquer momento, conclui pela existência de crime militar.
6. A conclusão final da sindicância afirma que a Apelante praticou contravenção disciplinar, enquadrada
no art. 7º, item 48 do Decreto nº 88.545. Há que se observar que não foi aplicada nenhuma das penas
previstas no art. 14 do RDM, sendo que a Solução da sindicância não afirma que a reposição do material
extraviado constitui aplicação de pena.
7. A reposição do computador portátil portanto, em que pese ter sido sugerida pela própria Apelante, se
deu, de fato, não como aplicação de pena e sim como obrigação de indenizar prejuízo causado à Fazenda
Nacional com a reposição de material extraviado.

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8. Da análise da SGM-601 - Normas sobre Auditoria, Análise e Apresentação de Contas na Marinha,
depreende-se que o extravio de material dá origem a dívida com a Fazenda Nacional, por se tratar de um
prejuízo causado ao Erário. A obrigação daqueles que têm dívida com a Fazenda Nacional só se extingue
após concluída a indenização integral do prejuízo causado. Registre-se que o responsável pelo prejuízo
pode repor o material extraviado adquirindo-o no comércio, nas mesmas condições e características do
anterior, que é exatamente o que ocorreu no caso em apreço.
9. Considero, assim, perfeitamente válido o ato que concluiu pela necessidade de a Apelante repor o
material extraviado, uma vez que concluiu ser sua a responsabilidade pelo desaparecimento, restando clara
a ausência de zelo pela guarda e vigilância do bem a si confiado.
10. Noutro eito, verifica-se que não houve o alegado impedimento ao contraditório, tendo a Apelante
recebido cópia dos autos da sindicância (fls. 222). A própria autora deu recibo de recebimento de cópia dos
autos (fls. 231).
11. Em relação ao dano moral, verifico que este não ocorreu. Para que haja direito à indenização por
danos, como se sabe, é preciso a configuração clara dos elementos essenciais de responsabilidade civil, a
Conduta Lesiva, Nexo de Causalidade, o Dano Sofrido, propriamente dito. No caso em tela, a autora não
demonstrou prejuízos de ordem moral sofridos em decorrência da conduta do réu.
12.. Apelação desprovida.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a 6ª Turma
Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação,
nos termos do relatório e voto constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente
julgado.

Rio de Janeiro, de de 2017 (data do julgamento)

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Apelação Cível - Turma Espec. III - Administrativo e Cível
Nº CNJ : 0007173-23.2011.4.02.5101 (2011.51.01.007173-4)
RELATOR : Desembargador Federal REIS FRIEDE
APELANTE : JANETE DE MATOS
ADVOGADO : RJ143061 - IVAN ALVES DA SILVA FILHO
APELADO : UNIAO FEDERAL
PROCURADOR : ADVOGADO DA UNIÃO
ORIGEM : 01ª Vara Federal de Niterói (00071732320114025101)

RELATÓRIO

Trata-se de Apelação Cível interposta por JANETE DE MATOS em face de sentença de fls.
350/357 que julgou improcedente o pedido, condenando a Autora em honorários advocatícios, fixados em
10% (dez por cento) do valor atribuído à causa.

A Autora ajuizou ação ordinária, com pedido cautelar incidental de exibição do inteiro teor
dos autos de sindicâncias (Portarias nºs 78 e 82 de abril e maio de 2009, respectivamente), em face da
União Federal, pretendendo a anulação do ato administrativo que a puniu, a condenação da União a
devolver o valor do notebook comprado e entregue à Marinha, indenização pelo dano moral que suportou,
bem como indenização pelo dano material consistente em todos os direitos inerentes a que teria direito se
não tivesse tido que solicitar sua reserva remunerada em 2009, antes da data aprazada, que seria no ano de
2012.

Em suas razões recursais (fls. 95/9), a Apelante aduz, em síntese, que houve irregularidade
na conduta da administração pública, uma vez que deveriam ter instaurado o IPM (Inquérito Policial
Militar), em virtude da prática delituosa ocorrida, ou seja, “furto”. Afirma também que deveria ter pleno
acesso aos autos da sindicância, para que pudesse defender-se e fundamentar sua justificativa, tendo direito
ao contraditório.

Contrarrazões às fls. 361/366.

Manifestação do Ministério Público Federal, à fl. 385, pugnando pela sua não intervenção
no feito.

É o relatório.

Reis Friede
Relator

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Apelação Cível - Turma Espec. III - Administrativo e Cível
Nº CNJ : 0007173-23.2011.4.02.5101 (2011.51.01.007173-4)
RELATOR : Desembargador Federal REIS FRIEDE
APELANTE : JANETE DE MATOS
ADVOGADO : RJ143061 - IVAN ALVES DA SILVA FILHO
APELADO : UNIAO FEDERAL
PROCURADOR : ADVOGADO DA UNIÃO
ORIGEM : 01ª Vara Federal de Niterói (00071732320114025101)

VOTO

Conheço do recurso, tendo em vista estarem presentes os pressupostos de admissibilidade.

Primeiramente, defiro o benefício da gratuidade de justiça requerido.

O cerne da questão discutida nos autos é analisar se a sindicância instaurada para apurar
desaparecimento de equipamento pertencente à Marinha do Brasil, e sob guarda da Autora, incorreu em
alguma ilegalidade passível de anulação.

A sentença não merece reparos.

Conforme se depreende dos autos, após determinação para verificação dos materiais de
todas as Incumbências da Organização Militar, detectou-se a falta de um notebook, cuja guarda era de
responsabilidade da Autora.

Após ser instaurada sindicância, através da Portaria nº 78/09, para apurar o desaparecimento
do computador portátil, passou-se à oitiva de oito testemunhas, dentre as quais a Autora.

De seu depoimento (fls. 189/190), depreende-se falta de cuidado na guarda do equipamento


extraviado, pois, como bem resumiu a Sentença guerreada, “autora afirmou que a chave do armário ficava
dentro de uma gaveta, debaixo de uma agenda. Depois, reconheceu que a aludida gaveta ficava sempre
aberta, com chave na fechadura; ou seja, ao alcance de qualquer pessoa que adentrasse na sala”.

Em uma conclusão parcial da sindicância, seu Encarregado estabeleceu que não foi possível
determinar o autor do desaparecimento, e em que circunstâncias este se deu (fl. 212), e, após, remeteu-a a
seus superiores, ante a possibilidade da responsabilidade recair sobre um Oficial da Marinha, com posto
mais antigo.

Em seguida, deu-se continuidade ao processo administrativo de inquirição acerca do


desaparecimento do bem, determinando-se nova oitiva da Apelante, agora não mais como testemunha e
sim como sindicada.

Leia-se da Sentença a quo o seguinte trecho:

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“Nesta segunda inquirição, JANETE foi perguntada se sabia que poderia ser
responsabilizada pelo desaparecimento do computador. Reconheceu ter ciência
disso e se propôs a repor o equipamento à Marinha para encerrar a sindicância,
que já lhe trazia problemas de saúde:

‘Perguntada se tinha conhecimento de que todo servidor público pode ser


chamado à responsabilidade pela perda ou extravio de material que lhe fora
confiado, respondeu que sim, conforme prevê a SGM-303. Independente de
ter conhecimento de minha responsabilidade, conforme consta na SGM-303,
registro que não era somente eu que tinha acesso a chave do compartimento
onde ficava o notebook e não me considero,portanto, a única responsável
pelo desaparecimento do material. Acrescentou que está com sério problema
de saúde que vem se agravando pelo stress provocado pela presente
sindicância, e, por isso, propõe-se a repor a OM com um equipamento similar
e encerrar a questão (fls. 233)’.” (grifos nossos)

No relatório final da Sindicância (fl. 238), chegou-se à conclusão de que a Apelante


concorreu para o desaparecimento do notebook extraviado, por não ter exercido de forma apropriada a
guarda e custódia do bem em apreço. Assim sendo, concluiu-se que a Autora-Apelante deveria ser “citada”
para repor o material extraviado, conforme sua própria sugestão.

Da análise detida dos autos, resta incontroverso que a Apelante era a responsável pela
guarda patrimonial do bem cujo desaparecimento deu azo a presente controvérsia (fl. 109).

Saliente-se que restou plenamente demonstrado pela sindicância que a ausência de zelo pela
guarda e vigilância do bem a si confiado acabou por, em última análise, contribuir para o seu
desaparecimento de Organização Militar. Inclusive a própria militar demonstrou conhecimento de que ela
poderia ser responsabilizada pelo extravio do equipamento de informática.

Neste particular, importa registrar que, o item 1.4. alínea “b” da SGM-303, norma da
Marinha sobre gestão de material, preceitua que “todo servidor público poderá ser chamado a
responsabilidade pela perda ou extravio do material que lhe for confiado, para guarda ou uso, bem como
pelo dano que, dolosa ou culposamente, causar a qualquer material, esteja ou não sob sua
responsabilidade”.

Quanto à responsabilidade do servidor público pelo desaparecimento de bens confiados à


sua guarda, confira-se também o seguinte julgado:

“DIREITO ADMINISTRATIVO. MILITAR. NEGLIGENCIA. SINDICANCIA


CONCLUSIVA QUANTO À RESPONSABILIDADE DO SERVIDOR. LEGALIDADE.
REPOSIÇÃO AO ERÁRIO DO VALOR DEVIDO. INCABÍVEL DANO MORAL.
1 - Trata-se de apelação objetivando a reforma da sentença proferida nos autos da Ação
Ordinária que julgou improcedente o pedido de recebimento de indenização por danos

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morais, em virtude de sindicância instaurada para apuração do desaparecimento de dois
projetores de multimídia, a qual imputou ao autor a prática da contravenção disciplinar
prevista no item 47 do art. 7º do Regulamento Disciplinar da Marinha, bem como o
dever de ressarcir a Fazenda Nacional do valor de R$ 3.826,67 (três mil e oitocentos e
vinte e seis reais e sessenta e sete centavos).
2. A r. sentença merece ser mantida. Isto porque a Sindicância instaurada através da
Portaria nº 36, de 04 de setembro de 2000, foi conclusiva quanto a negligência do autor
como responsável pelos 2 (dois) projetores de multimídia, patrimônio pertencente à
União.
3. Neste aspecto, o Juízo a quo apreciou devidamente a questão salientando que “o
autor não carreou aos autos qualquer prova que derrubasse as assertivas da sindicância
realizada, que apurou que o mesmo teve responsabilidade pelo desaparecimento das
mercadorias em questão. Aliás, o que se infere dos autos é que o referido militar, por
ocasião da transferência da responsabilidade pela gestão de material, tanto na
assunção quanto na passagem, não conferiu o material constante da relação referente à
Incumbência, o que demonstra que o mesmo agiu de forma imprudente, no exercício da
função de Encarregado, sem a observância do dever de cuidado e zelo quanto ao
patrimônio público”.
4. Incabível a indenização por dano moral, eis que o autor não demonstrou prejuízos de
ordem moral sofridos em decorrência da conduta do réu. Ademais, não há que se cogitar
de indenização por dano moral quando os atos ditos atentatórios revelam-se atos
necessários à apuração de desaparecimento de objetos que se encontram sob a
responsabilidade do servidor.
5. Apelação conhecida e improvida.”

(TRF2, AC 200151010069229, 6ª Turma Especializada, Desembargador Federal


GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA GAMA, Data Publicação: 12/01/2010)

Impende ressaltar que o DGPM-315, que trata das normas sobre justiça e disciplina na
Marinha do Brasil conceitua Sindicância como o “procedimento administrativo investigatório sumário,
que se destina a apurar ocorrências anômalas ao serviço, sobre as quais o titular da OM considere
necessário maiores esclarecimentos, que não configurem, a princípio, crime militar”.

É digno de nota que no relatório parcial de fl. 212, assevera-se que não há como determinar
a autoria do desaparecimento e nem mesmo pode-se afirmar que o laptop tenha desaparecido dentro da
OM, visto que há contradição nos depoimentos tomados (fl. 211).

Note-se, ainda, que constatou o relatório de fl. 238 que não há elementos de autoria ou
materialidade suficientes que remetam ao acometimento de ato doloso de qualquer das partes arroladas.

Neste contexto, uma vez que o Inquérito Policial Militar (IPM) constitui “procedimento
administrativo investigatório instaurado no exercício da polícia judiciária militar, disciplinado pelo
CPPM, destinado à apuração de fato caracterizado, em tese, como crime militar” (DGPM-315) entende-
se que a não abertura de Inquérito Policial Militar não constitui irregularidade na conduta da
Administração Militar, uma vez que nenhuma das sindicâncias, em qualquer momento, conclui pela

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existência de crime militar.

Anote-se que também o Decreto nº 88.545/1983 (Regulamento Disciplinar para a Marinha -


RDM) em seu Art. 6º define Contravenção Disciplinar como “toda ação ou omissão contrária às
obrigações ou aos deveres militares estatuídos nas leis, nos regulamentos, nas normas e nas disposições
em vigor que fundamentam a Organização Militar, desde que não incidindo no que é capitulado pelo
Código Penal Militar como crime”.

A conclusão final da sindicância (“Solução” de fl. 241) afirma que a Apelante praticou
contravenção disciplinar, enquadrada no art. 7º, item 48 do citado Decreto nº 88.545: “extraviar ou
concorrer para que se extraviem ou se estraguem quaisquer objetos da Fazenda Nacional ou documentos
oficiais, estejam ou não sob sua responsabilidade direta”.

Entretanto, há que se observar que não foi aplicada nenhuma das penas previstas no art. 14
do RDM, sendo que a Solução da sindicância não afirma que a reposição do material extraviado constitui
aplicação de pena.

Como bem analisado pela Sentença a quo:

“No seu relatório final, a sindicância sugeriu que JANETE deveria “ser citada a repor o
material extraviado adquirindo-o no comércio, nas mesmas condições e características
do anterior, com nota fiscal emitida em seu nome, conforme estabelece o item 8.2.4. da
SGM.601 e sugerido por ela própria” (fls. 238). Veja que o texto não fala em aplicação
de pena. Aliás, reposição de patrimônio não figura entre as penas disciplinares previstas
no artigo 14 do Decreto 88.545/83.

Tal sugestão de solução foi acolhida pela autoridade julgadora, determinando-se a


reposição do bem pela autora; além de outras medidas administrativas genéricas, para
que tal fato não voltasse a ocorrer (fls. 241).

Enfim, não faz sentido a alegação da autora de que não tem ideia dos fundamentos
jurídicos da conclusão da sindicância, que deveria repor o equipamento desaparecido,
se foi ela própria quem sugeriu este desfecho. A sua responsabilidade patrimonial
decorre tão somente de fato culposo, criminalmente irrelevante, que em nada deveria
prejudicá-la em sua carreira.” (grifos nossos)

A reposição do computador portátil portanto, em que pese ter sido sugerida pela própria
Apelante, se deu, de fato, não como aplicação de pena e sim como obrigação de indenizar prejuízo causado
à Fazenda Nacional com a reposição de material extraviado .

Senão vejamos:

A SGM-601 - Normas sobre Auditoria, Análise e Apresentação de Contas na Marinha, cujo

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propósito é “estabelecer procedimentos para execução das tarefas de auditoria, análise e apresentação de
contas sobre os atos de gestão orçamentária, financeira e patrimonial, praticados pelos agentes públicos
das organizações da administração direta e indireta, sob a jurisdição da Marinha do Brasil”, consolida “
as diversas informações contidas na legislação vigente e nas instruções normativas do TCU, bem como
Portarias e Decisões Normativas da CGU e da CISET-MD, que regulamentam as atividades de auditoria,
análise e apresentação de contas, no âmbito do Comando da Marinha”.

Tal documento traz em seu bojo diversas previsões que esclarecem substancialmente a
questão:

“6.1.1 - As dívidas com a Fazenda Nacional originam-se, dentre outras, das


seguintes ilegalidades e irregularidades causadoras de prejuízos à Fazenda
Nacional:
(...)
s) extravio de material;

6.2 - INSTRUMENTOS PARA APURAÇÃO DE DÍVIDAS


A apuração dos fatos (acontecimentos) e atos (documentos), que derem causa a
prejuízos à Fazenda Nacional, será realizada por meio de Sindicância, Processo
Administrativo Disciplinar, Inquérito Policial Militar (IPM) ou Tomada de Contas
Especial (TCE), quando necessário, ou ainda, por meio de procedimento
administrativo previsto em Normas próprias.

6.10 - RESPONSABILIDADE DOS AGENTES


6.10.1 - Todo militar ou servidor civil, investido ou não em cargo ou função, que
vier a causar prejuízos à União, às pessoas físicas ou jurídicas ou ao serviço, terá
sua responsabilidade administrativa, civil ou criminal vinculada às omissões ou
atos ilegais em que incorrer ou praticar.

6.13.2 - A obrigação daqueles que têm dívida com a Fazenda Nacional só se


extingue após concluída a indenização integral do prejuízo causado à Fazenda
Nacional.

8.2 - INDENIZAÇÃO À FAZENDA NACIONAL


8.2.1 - Características gerais:
Indenização à Fazenda Nacional é o pagamento feito para reparação de prejuízo
ou dano que se tenha causado ao Erário.
A cobrança pelos prejuízos causados à Fazenda Nacional, sejam decorrentes de
erro, engano, omissão, fraude, furto, roubo, desfalque, alcance, negligência,
imprudência, imperícia ou decorrentes de qualquer outra causa, é exigível de
imediato e pelo total do prejuízo.
A indenização de prejuízo causado à Fazenda Nacional poderá ser feita em
qualquer fase do processo

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8.2.4 - Reposição ou reparo do material extraviado ou danificado:
a) o responsável, militar, servidor civil ou terceiro, poderá repor o material
extraviado adquirindo-o no comércio, nas mesmas condições e características do
anterior, com nota fiscal emitida em seu nome;” (grifos nossos)

Da análise da SGM-601, portanto, depreende-se que o extravio de material dá origem a


dívida com a Fazenda Nacional, por se tratar de um prejuízo causado ao Erário.

Infere-se também que a instauração de Sindicância é instrumento correto para apurar os


fatos e atos que derem causa a prejuízos à Fazenda Nacional, apontando, ao final, quem seria o agente a ser
responsabilizado pelo prejuízo, ainda que este tenha decorrido de negligência.

Percebe-se, por fim, que a obrigação daqueles que têm dívida com a Fazenda Nacional só se
extingue após concluída a indenização integral do prejuízo causado. Registre-se que o responsável pelo
prejuízo pode repor o material extraviado adquirindo-o no comércio, nas mesmas condições e
características do anterior, que é exatamente o que ocorreu no caso em apreço.

Considero, assim, perfeitamente válido o ato que concluiu pela necessidade de a Apelante
repor o material extraviado, uma vez que concluiu ser sua a responsabilidade pelo desaparecimento,
restando clara a ausência de zelo pela guarda e vigilância do bem a si confiado.

Noutro eito, verifica-se que não houve o alegado impedimento ao contraditório, tendo a
Apelante recebido cópia dos autos da sindicância (fls. 222). A própria autora deu recibo de recebimento de
cópia dos autos (fls. 231).

Em relação ao dano moral, verifico que este não ocorreu. Para que haja direito à
indenização por danos, como se sabe, é preciso a configuração clara dos elementos essenciais de
responsabilidade civil, a Conduta Lesiva, Nexo de Causalidade, o Dano Sofrido, propriamente dito. No
caso em tela, a autora não demonstrou prejuízos de ordem moral sofridos em decorrência da conduta do
réu.

Ante o exposto, nego provimento à Apelação.

É como voto.

Reis Friede
Relator

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