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Processo: 8997/18.8T9LSB.L1-3
Relator: MARGARIDA RAMOS DE ALMEIDA
Descritores: CONDUÇÃO PERIGOSA
DESISTÊNCIA DA QUEIXA
OFENSAS CORPORAIS
RELAÇÃO DE CONSUNÇÃO
Nº do Documento: RL
Data do Acordão: 09/02/2022
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Texto Parcial: N
Sumário: I.– O crime de ofensa à integridade física negligente de que o arguido era
acusado, foi arquivado por desistência da queixa. O processo prosseguiu
para apreciação do crime de condução perigosa de veículo rodoviário,
prática de ilícito este do qual o arguido foi absolvido.
III.– Temos, pois, que os bens jurídicos tutelados por estes dois
normativos têm uma área em comum; isto é, em certa medida (e
independentemente do facto de terem depois outros campos de
abrangência), ambos tutelam o direito à integridade física.
I–RELATÓRIO
II–QUESTÕES A DECIDIR.
III–FUNDAMENTAÇÃO.
Do concurso de crimes
Acresce que o crime de perigo concreto encontra-se numa relação de
concurso efectivo com o crime de dano quando o perigo concreto se
verificou em relação a outros bens jurídicos além daquele objecto do dano,
uma vez que o bem tutelado pela incriminação de perigo não se encontra
integralmente tutelado pela punição através do crime de dano.
Assim o crime de perigo concreto encontra-se numa relação de concurso
aparente com o crime de dano quando o perigo concreto se verificou
apenas em relação ao mesmo bem jurídico que foi lesado, que foi o caso
dos autos (em que o arguido vinha acusado dos dois crimes em concurso
real).
Há uma relação de subsidiariedade entre o crime de condução perigosa e a
ofensa à integridade física por negligência quando o dano se produziu
apenas em relação à vítima que foi também objecto do perigo. Assim, o
arguido nunca poderia ser condenado pelo crime previsto pelo art.º 291º/1
al. b) e 3 do Código Penal uma vez que estava imputado o crime de ofensa
à integridade física por negligência.
Verifica-se pois uma situação de concurso aparente de normas que impede
que o arguido seja condenado pela prática do crime de condução perigosa
porquanto a sua conduta, para além do dano causado no Assistente não
produziu qualquer outro perigo concreto para a vida ou integridade física
de outrem ou bens patrimoniais alheios de valor elevado.
Quanto ao crime de ofensa à integridade física por negligência foi já
declarado extinto o procedimento criminal por desistência da queixa pelo
que os factos dados como provados não integram a prática de qualquer
crime.
Assim, deve o arguido ser absolvido do crime que lhe é imputado e bem
assim da pena acessória por não se verificar o referido crime.
5.–Apreciando.
6.–Vejamos.
12.–Estipula o artº 291 do C. Penal, na parte que aqui nos importa, dada
a imputação constante na acusação, o seguinte:
Condução perigosa de veículo rodoviário
1-Quem conduzir veículo, com ou sem motor, em via pública ou
equiparada:
b)-Violando grosseiramente as regras da circulação rodoviária relativas
à prioridade, à obrigação de parar, à ultrapassagem, à mudança de
direcção, à passagem de peões, à inversão do sentido de marcha em
auto-estradas ou em estradas fora de povoações, à marcha atrás em
autoestradas ou em estradas fora de povoações, ao limite de velocidade
ou à obrigatoriedade de circular na faixa de rodagem da direita; e criar
deste modo perigo para a vida ou para a integridade física de outrem,
ou para bens patrimoniais alheios de valor elevado, é punido com pena
de prisão até três anos ou com pena de multa.
21.–Prosseguindo.
Uma vez que na acusação, em termos factuais, inexistem elementos que
permitam, a provarem-se, concluir ter o arguido tido uma conduta
dolosa, a verdade é que daí decorre que não pode este tribunal proceder
à reapreciação de um facto omisso ab initio, nem se mostra sequer
equacionável o preenchimento do nº3 do artº 291 do C. Penal.
Assim, resta saber se a matéria de facto constante na acusação, ainda
que integralmente dada como assente – e, no caso, apenas se mostra não
provada a consciência da ilicitude (Sabia o arguido que a sua conduta era
proibida e punida por lei penal) – seria susceptível de integrar o
preenchimento do tipo consignado no nº4 do artº 291 do C.
Penal (conduta e perigos causados por negligência).
IV–DECISÃO.
Face ao exposto, acorda-se em julgar improcedente o recurso interposto
pelo Mº Pº, mantendo-se a decisão alvo de recurso, embora por
fundamentos diversos.
Nos termos do artº 379 nº2 do C.P. Penal), elimina-se do rol de factos
não provados a sua alínea a) (o arguido agiu deliberadamente).
Sem tributação.