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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CICERO ROBERLANIO NUNES BELEM e tjce.jus.br, protocolado em 08/01/2023 às 17:14 , sob o número 02000069420238060124.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA
COMARCA DE MILAGRES-CE.

DISTRIBUIÇÃO DE URGÊNCIA

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjce.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0200006-94.2023.8.06.0124 e código CAB0663.
PEDE PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO DA AÇÃO
AUTOR PORTADOR DE DOENÇA GRAVE
(art. 1.048, inc. I do novo CPC)
MEDICAMENTO NEGADO POR PLANO DE SAÚDE

AILA MARIA BELÉM DE FIGUEIREDO, divorciada, professora, residente e


domiciliada na Rua Santos Dumont, nº. 296, Centro, Milagres-CE, CEP nº. 63250-000,
inscrita no CPF nº. 346.612.553-72 e RG nº: 970290173-89, vem, por meio de seu
advogado, com o devido respeito a Vossa Excelência, ajuizar a presente

AÇÃO COMINATÓRIA C/C PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA PROVISÓRIA DE


URGÊNCIA,

Contra UNIMED FORTALEZA SOCIEDADE COOPERATIVA MEDICA LTDA, pessoa


jurídica de direito privado, possuidora do CNPJ(MF) nº. 05.868.278/0001-07 MATRIZ,
estabelecida Av. Santos Dumont, 949 – CEP: 60.150-160 - Fortaleza-CE, em razão das
justificativas de ordem fática e de direito, abaixo evidenciadas.

PRELIMINARMENTE

( a ) Benefícios da justiça gratuita (novo CPC, art. 98, caput)


A parte Autora não tem condições de arcar com as despesas do processo, uma
vez que são insuficientes seus recursos financeiros para pagar todas as despesas
processuais, inclusive o recolhimento das custas iniciais.
Destarte, formula pleito de gratuidade da justiça, o que faz por declaração de
hipossuficiência em anexo, sob a égide do art. 99, § 4º c/c 105, in fine, ambos do
Codigo de Processo Civil, quando tal prerrogativa se encontra inserta no
instrumento procuratório acostado.
( b ) Prioridade na tramitação do processo (novo CPC, art. 1.048, inc. I)
Em face do que dispõe o Código de Processo Civil, assevera aquele que é portador de
doença grave – documento comprobatório anexo --, fazendo jus, portanto, à
prioridade na tramitação do presente processo, o que de logo assim o requer.
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I - DOS FATOS

a) Do primeiro diagnóstico

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No dia 16 de Dezembro de 2019 ao realizar exames de rotina foi detectado
um nódulo sólido no quadrante superior interno da mama da requerente, que foi
encaminhada pelo mastologista, para realização da core biopsy e envio do estudo
histopatológico.
Dia 19 de Dezembro o resultado do laudo da biópsia diagnosticou a paciente
com Carcinoma ductal invasivo grau II de SBR (Sistema de Graduação de Scarff,
Bloom & Richardson). Conforme laudo da biópsia em anexo. Sendo o médico
responsável pelo diagnóstico o Doutor Gilberto de Alencar Nunes, CREMEC – 8779.
No início de janeiro de 2020 a requerente foi encaminhada para o
oncologista para dar início ao tratamento do câncer de mama. Iniciando em 15 de
Janeiro de 2020 a quimioterapia sendo acompanhada pelo Dr. Weslley Mota
Monteiro – CRM 97722-CE, especialista em oncologia Clínica.
O tratamento da quimioterapia durou até 28 de maio de 2020, sendo
realizadas 16 sessões.
Em 22 de julho de 2020 foi realizada a mastectomia bilateral bem como a
biópsia de linfonodo sentinela (BLFS) e a colocação de prótese. Tendo resposta
patológica completa.

b) Do Segundo diagnóstico

A requente, após finalizar o tratamento, continuou realizando exames de


rotina conforme orientação do médico oncologista, e do mastologista.
Em 21 de setembro de 2022, por solicitação do médico mastologista, foi
realizada a ressonância magnética das mamas. Na qual foi detectado um tecido
amorfo no prolongamento axilar direito que poderia corresponder a tecido
fibrótico, tendo possibilidade de ser lesão residual.
Ao analisar o resultado do exame, o mastologista (Dr. Ricardo Souto Quidute),
solicitou a realização de biópsia da região examinada. Na mesma consulta, ao
realizar um exame físico constatou uma alteração na região da pele da mama
direita e solicitou que também fosse realizado biópsia do local.
Foi coletado material para exame anátomo patológico, tendo como
diagnóstico, apontado no dia 14 de Outubro de 2022, um “carcinoma pouco
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diferenciado infiltrando derme”. Sendo considerado como recidiva do tumor de
mama anteriormente diagnosticado e tratado. (laudo em anexo)
A requerente foi encaminhada para consulta com o oncologista no dia 18 de

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Outubro de 2022, e foi solicitado o tratamento imediato de quimioterapia.
A quimioterapia foi iniciada no dia 21 de Outubro, através do Plano de Saúde
Unimed (Parte Ré), tendo sido receitado pelo Oncolongista responsável pelo
tratamento, Dr. Weslley Mota Monteiro – CRM 97722-CE, a seguinte medicação:
Docetaxel+Gemzar (conforme relatório em anexo).
No dia 04 de Novembro, foi realizado um exame de cintilografia óssea onde
foi detectado lesões ósseas, em virtude disso, o médico oncologista, solicitou a
realização da imunoterapia que utiliza o medicamento “Keytruda
(Pembrolizumabe)” - (receita em anexo) - em associação à quimioterapia em
andamento (Docetaxel+Gemzar), devido Bx da recidiva neoplásica mostrar padrão
de C.A de mama TRIPLO NEGATIVO, e está em primeira linha de tratamento
paliativo.
Conforme consta no relatório médico, foi feita a opção pelo uso do
medicamento Keytruda (Pembrolizumabe) com base no estudo Keynote 355 (recorte
abaixo), que recomenda o uso desse medicamento associado à Quimioterapia à
escolha do médico

c) Da negativa da medicação pelo Plano de Saúde

A paciente está realizando a quimioterapia na Clínica Infusion (Centro de


Reumatologia e Onco-hematologia do Cariri, CNPJ: 19.439.078/0001-35) Rua
Professora Maria Nilde Couto Bem, nº 220, Ed, Office Cariri, 9º Andar, Salas 901 a
906. Juazeiro do Norte-CE.
A solicitação do medicamento da Imunoterapia (Keytruda) foi encaminhada
pela clínica supracitada à Unimed Fortaleza no dia 17 de Novembro de 2022.
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Porém, no dia 23 de Novembro a Unimed encaminhou e-mail para a paciente
respondendo negativamente à solicitação do medicamento (keytruda). Diante
da resposta negativa a requerente encaminhou nova solicitação para a Ouvidoria da

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Unimed – Fortaleza que ratificou a negativa administrativa do medicamento,
pelos seguintes argumentos:

(inteiro teor em anexo)

Deste modo, a requerente tá seguindo a quimioterapia sem a associação da


imunoterapia receitada pelo médico oncologista (keytruda). Isto porque o plano
de Saúde da requerente se nega a fornecer o medicamento que, por ter um custeio
muito elevado (Cerca de R$ 18.780,00 a caixa), a requerente não tem condições de
adquirir fora do plano.

II - DO DIREITO

A recusa da Ré é alicerçada no que expressa o art. 17 Inciso I, alínea C) da


Resolução Normativa 465/2021 da ANS:

Art. 17. A cobertura assistencial de que trata o plano-referência compreende todos os procedimentos
clínicos, cirúrgicos, obstétricos e os atendimentos de urgência e emergência previstos nesta Resolução Normativa e
seus Anexos, na forma estabelecida no art. 10 da Lei nº 9.656, de 1998.
Parágrafo único. São permitidas as seguintes exclusões assistenciais:
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I - tratamento clínico ou cirúrgico experimental, isto é, aquele que:

a) emprega medicamentos, produtos para a saúde ou técnicas não registrados/não regularizados no país;

b) é considerado experimental pelo Conselho Federal de Medicina – CFM, pelo Conselho Federal de

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Odontologia – CFO ou pelo conselho federal do profissional de saúde responsável pela realização do procedimento;
ou

c) faz uso off-label de medicamentos, produtos para a saúde ou tecnologia em saúde, ressalvado
o disposto no art. 24;

Conforme o e-mail de resposta enviado pela Ouvidoria da Unimed (anexo), o


medicamento foi negado sob a justificativa de que, conforme a indicação prevista
na bula, O keytruda (pembrolizumabe) deve ser utilizado em associação com a
quimioterapia, estando a quimioterapia restrita as opções: paclitaxel, nab-paclitaxel
ou gencitabina-carboplatina.
No entanto, a quimioterapia da requerente indicada para a associação ao
Keytruda foi a genticabina-docetaxel. Sendo, portanto, considerada pela parte ré
como uma indicação Off-Label, motivo pelo qual a requerida negou o fornecimento
do medicamento à paciente.
Importante destacar, que a justificativa utilizada pelo plano de Saúde é
apenas uma manobra para negar o medicamento por ter seu custo muito
elevado.
De acordo com o recorte da Bula acima destacado, percebe-se que não é feito
qualquer ressalva quanto à quimioterapia a ser utilizada, ficando a critério médico.
Ocorre que, a própria Anvisa em publicação no Diário Oficial da União, em 23
de Maio de 2023, incluiu o câncer de mama triplo negativo entre as indicações
terapêuticas do Keytruda (Pembrolizumabe) sem qualquer ressalva quanto ao
medicamento utilizado na quimioterapia. Segue imagem da publicação no site
oficial da Anvisa.

Figura 1: Recorte da Bula do Keytruda


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https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/medicamentos/novos-medicamentos-e-indicacoes/
keytruda-r-pembrolizumabe-nova-indicacao-4#:~:text=KEYTRUDA%C2%AE
%20%C3%A9%20indicado%20para,tratamento%20adjuvante%20ap%C3%B3s%20a%20cirurgia.

Ora, a negativa de que se trata é absolutamente injustificada na medida em


que restam inequívocos neste caso:

1. Que o tratamento com o fármaco Pembrolizumabe 200mg (Keytruda®)


foi prescrito especificamente para o caso da autora pelo seu médico
assistente;

2. A existência de contrato de plano de saúde entre autora e ré, com


previsão de cobertura para tratamento de câncer;

3. A existência de estudos que atestam a eficácia do tratamento prescrito,


inclusive o supramencionado, publicado pelo Grupo Oncologia Brasil e
pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica.

Diante do exposto, por ser absolutamente ilegal a negativa fornecida à autora,


alternativa não lhe restou se não o ajuizamento desta ação para que a ré seja
compelida ao fornecimento do medicamento em questão, que faz parte do
tratamento de sua doença e apresenta-se como único meio comprovadamente eficaz
de aumento das suas chances de cura.
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III. A APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR AOS

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CONTRATOS DE PLANO DE SAÚDE. ENUNCIADO 469/STJ E PRECEDENTES.

A princípio, importa esclarecer que o Código de Defesa do Consumidor (CDC) se


aplica à relação entre autora e ré, especialmente quanto ao “contrato de assistência
à saúde” a que está submetido a autora, orientando a (in)validade de suas cláusulas
e a interpretação mais favorável ao consumidor.

Neste sentido é o Enunciado nº. 469 do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA


(STJ):
Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de
plano de saúde (Súmula 469, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
24/11/2010, DJe 06/12/2010).

Nesta trilha de ideias, plenamente aplicável o CDC à relação entre as partes, o


que, de certo, fará conduzir à interpretação mais benéfica à consumidora quanto à
análise das cláusulas que normatizam o contrato de assistência à saúde.

IV - MÉRITO. ILEGALIDADE DA NEGATIVA. PRECEDENTES CONCEDENDO O


MEDICAMENTO.

A ré, na qualidade de operadora de plano de saúde, firmou com a autora


contrato cujo objeto principal é a “transferência (onerosa e contratual) de riscos
referentes à futura necessidade de assistência médica ou hospitalar. A efetiva
cobertura (reembolso, no caso dos seguros de reembolso) dos riscos futuros à sua
saúde e de seus dependentes, a adequada prestação direta ou indireta dos serviços de
assistência médica (no caso dos seguros pré-pagamento ou de planos de saúde
semelhantes) é o que objetivam os consumidores que contratam com estas empresas”
(MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor . 6ª ed. São
Paulo: RT, 2014, p. 192/193).

Desse modo, quando a autora foi diagnosticada com câncer de mama (CID-10
C509) e seu médico oncologista lhe recomendou enfaticamente que fizesse
tratamento incluindo o uso do fármaco Pembrolizumabe (Keytruda®), o que
esperava da ré é que ela lhe fornecesse a devida assistência médica.
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O contrato esteve sendo bem executado pela ré até que a autora lhe solicitou
o tratamento, momento em que a operadora de plano de saúde se negou a fornecer
o fármaco indispensável ao tratamento dessa doença, que possui evolução rápida.

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Limitou-se a ré a justificar o indeferimento do tratamento, argumentando
ausência de previsão no rol da ANS.

No entanto, a recusa da ré não se sustenta pelos seguintes fatos:

I. A literatura médica brasileira e estrangeira, em uníssono,


recomenda o uso do fármaco para pacientes com câncer de
mama;

II. O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA e o TRIBUNAL DE JUSTIÇA


DO CEARÁ entendem que a recusa de cobertura em razão de
prescrição “off label” não se sustenta e o rol da ANS é
exemplificativo, não podendo haver limitação quanto a
tratamento/procedimento para doença coberta;

III.a Resolução 1401/1993 do Conselho Federal de Medicina (CFM)


proíbe que as operadoras de planos de saúde limitem a
liberdadede escolha do tratamento pelo médico assistente;

IV. O CFM garante, como princípio fundamental em seu Código de


Ética Médica, a autonomia ao médico para indicar o tratamento
específico para aquele paciente.

Vejamos a jurisprudência do STJ sobre o assunto:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE SAÚDE.
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. MEDICAMENTO REGISTRADO NA
ANVISA. TRATAMENTO DE CÂNCER. RECUSA DE COBERTURA INDEVIDA.
DANOS MORAIS. OCORRÊNCIA.
1. Cuida-se, na origem, de ação de obrigação de fazer, visando o
fornecimento do medicamento succinato de ribociclibe (Kisqali),
necessário para tratamento oncológico.
2. Segundo a jurisprudência do STJ, "é abusiva a recusa da operadora
do plano de saúde de custear a cobertura do medicamento
registrado na ANVISA e prescrito pelo médico do paciente, ainda que
se trate de fármaco off-label, ou utilizado em caráter experimental"
(AgInt no AREsp 1.653.706/SP, Terceira Turma, julgado em 19/10/2020, DJe
26/10/2020; AgInt no AREsp 1.677.613/SP, Terceira Turma, julgado em
28/09/2020, DJe 07/10/2020; AgInt no REsp 1.680.415/CE, Quarta Turma,
julgado em 31/08/2020, DJe 11/09/2020; AgInt no AREsp 1.536.948/SP,
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Quarta Turma, julgado em 25/05/2020, DJe 28/05/2020), especialmente
na hipótese em que se mostra imprescindível à conservação da vida
e saúde do beneficiário 3. Considera-se abusiva a negativa de
cobertura de antineoplásicos orais. Precedentes.

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(AgInt no AgInt no AREsp n. 2.030.294/MS, relatora Ministra Nancy
Andrighi, Terceira Turma, julgado em 22/11/2022, DJe de 24/11/2022.)

No mesmo sentindo é oque entende o Tribuna de Justiça do Ceará

DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO.


PLANO DE SAÚDE. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA 608 DO STJ. AÇÃO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PLANO
DE SAÚDE. SEGURADO PORTADOR DE NEOPLASIA MALIGNA.
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS AMBULATORIAIS. NEGATIVA
INDEVIDA. TRATAMENTO NECESSÁRIO E INDICADO PELO MÉDICO
ASSISTENTE. ABUSIVIDADE DA CLÁUSULA QUE LIMITA A FORMA DE
TRATAMENTO NO CONTRATO FIRMADO ENTRE AS PARTES. ROL DA ANS
MERAMENTE EXEMPLIFICATIVO. REAÇÃO LEGISLATIVA. INCIDÊNCIA DA
LEI Nº 14.454/2022. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM
INDENIZATÓRIO FIXADO EM MONTANTE RAZOÁVEL. RECURSOS
CONHECIDOS MAS NÃO PROVIDOS.. 2. Destaca-se que o deslinde da
matéria deverá pautar-se pelo Código de Defesa do Consumidor, pois a
relação estabelecida entre as partes, de fato, adequa-se perfeitamente ao
liame estabelecido entre fornecedor e consumidor, conforme se verifica no
enunciado de nº 608 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:
Súmula 608: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de
plano de saúde, salvo os administrados por entidades de autogestão. 3.
Infere-se do entendimento sumulado da Corte Cidadã que a Lei nº
9.656/98, legislação dos planos e seguros privados de assistência à saúde,
deverá ter seus dispositivos interpretados em consonância com a legislação
consumerista. 4. Nos termos do art. 51, IV e XV, do Código de Defesa do
Consumidor, são consideradas abusivas as cláusulas contratuais que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou que sejam
incompatíveis com a boa-fé ou com a equidade ou que estejam em
desacordo com o sistema de proteção ao consumidor e acabem por colocar
a vida do consumidor em risco. 5. Dessa forma, há muito o STJ
pacificou o entendimento de que o plano de saúde pode
estabelecer quais doenças estão sendo cobertas, mas não que tipo
de tratamento poderá ser utilizado para alcançar a cura. 6. Em
sendo assim, a exclusão da cobertura de medicamento
ambulatorial prescrito pelo médico assistente para tratar a
neoplasia maligna significaria negar a própria essência do
tratamento, pois desvirtua a finalidade do contrato de assistência à
saúde. 7. Não obstante a Lei nº 9.656/98 exclua da cobertura securitária
os medicamentos para uso domiciliar, o art. 10, VI, do mencionado
diploma excepciona expressamente os fármacos antineoplásicos de uso
oral, estando abrangidos por esta exceção os que previnem os efeitos
colaterais de tal tratamento. 8. É conveniente lembrar que não se pode
negar ao usuário desse programa a assistência básica de que ele disporia
se estivesse de fato hospitalizado, incluindo-se aí os fármacos para tratar
os efeitos colaterais. 9. Desta forma, claramente se observa que o fato
causou à parte consumidora gravame que sobeja a esfera do
aborrecimento. 10. O valor arbitrado a título de dano moral deve pautar-se
pelos parâmetros da razoabilidade e da proporcionalidade, sob pena de se
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deferir enriquecimento indevido a uma das partes ou arbitrar valor que não
repare o dano sofrido. No caso ora trazido à baila, mostra-se a importância
de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) como razoável para reparar o dano sofrido
pelo usuário do plano de saúde. Precedentes da 2ª Câmara de Direito
Privado do TJCE. 11. Por fim, destaque-se que a análise do item 4, do

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acórdão julgado no recurso EREsp 1.886.929/SP e EREsp 1.889.704/SP,
pelo STJ, resta prejudicada eis que a discussão acerca da taxatividade ou
não do rol da ANS findou resolvida. É que restou definido que o plano de
saúde não pode se recusar a custear tratamento prescrito pelo médico,
pois cabe a este indicar qual é o melhor tratamento para o segurado
(paciente). 12. Esvaziada, nessa sequência de fundamentos, a tese de que
o rol da ANS fosse taxativo, eis que a jurisprudência pacífica entende por
indicar que se trata de rol exemplificativo, bem como a reação legislativa
criada pela Lei nº 14.454/2022 elucidou a referida controvérsia. 13. Assim,
é de se manter o entendimento anteriormente adotado por este relator,
bem como pelos pares integrantes desta egrégia 2ª Câmara de Direito
Privado, que assim vem decidindo em casos análogos. 14. Recursos
conhecidos mas não providos. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos os
presentes autos da apelação cível e recurso adesivo de nº 0187806-
46.2017.8.06.0001, em que figuram as partes acima indicadas, acordam
os Desembargadores da 2ª Câmara Direito Privado do egrégio Tribunal de
Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade, conhecer dos recursos, mas
para negar-lhes provimento, nos termos do voto do relator. Fortaleza, 07
de dezembro de 2022. CARLOS ALBERTO MENDES FORTE Presidente do
Órgão Julgador DESEMBARGADOR CARLOS ALBERTO MENDES FORTE
Relator
(Apelação Cível - 0187806-46.2017.8.06.0001, Rel. Desembargador(a)
CARLOS ALBERTO MENDES FORTE, 2ª Câmara Direito Privado, data do

julgamento: 07/12/2022, data da publicação: 08/12/2022)

Uma vez constatada a essencialidade do medicamento, tem-se que a ausência


de previsão no rol da ANS jamais poderia servir como fundamento para justificar a
negativa de cobertura pelo plano de saúde, uma vez que referida lista é meramente
exemplificativa e contém apenas o mínimo obrigatório que deve ser custeado pela
operadora.

V. DO DANO MORAL

É certo que aborrecimentos decorrentes de relações contratuais estão ligados


a vivência em sociedade, cujas expectativas são desatendidas de modo corriqueiro e
nem por isso surgem abalos psicológicos com contornos sensíveis de violação à
dignidade da pessoa humana.
Por outro lado, a configuração de um efetivo dano moral, em seu refinado
aspecto subjetivo e humano, constitui-se como resposta sancionadora da violação de
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importantíssimo bem-da-vida tutelado pelo ordenamento jurídico: a dignidade da
pessoa humana.
In Casu A requerente detectou o ressurgimento de um problema oncológico

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que imaginava ter superado e recebeu recomendação médica de imediato
tratamento quimioterápico, com utilização do Keytruda, sob pena de
comprometimento de sua saúde.
A delicada situação em que se encontrava evidencia o agravamento de sua
condição de dor, de abalo psicológico e com prejuízos à saúde já debilitada,
sobretudo diante de seu histórico clínico.
A negativa de fornecimento do tratamento, exigindo da beneficiária do plano
de saúde, depois de mais de 20 anos de relação contratual, o ajuizamento de ação
judicial para alcançar o início do processo da almejada cura da doença, sem dúvidas
demonstra a violação do direito subjetivo da recorrida, que ultrapassa o ilícito
exclusivamente contratual, em dano de sua personalidade.
Isto posto, considerando a gravidade do ocorrido, dos danos causados e
a capacidade econômica da parte ré e da consumidora, requer a condenação da
parte ré em R$ 20.000 (Vinte mil reais) a título de indenização por danos
morais.

VI – TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA DE NATUREZA ANTECIPADA


EM CARÁTER ANTECEDENTE.

A tutela de urgência é tipificada no art. 300 do Código de Processo Civil, nos


seguintes termos:
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo. (…) § 2º A tutela de urgência pode ser concedida
liminarmente ou após justificação prévia.
Sobre a tutela provisória, FREDIE DIDIER JR. leciona que:

“A principal finalidade da tutela provisória é abrandar os males do tempo e garantir a


efetividade da jurisdição (os efeitos da tutela). Serve, então, para redistribuir, em
homenagem ao princípio da igualdade, o ônus do tempo do processo. Se é inexorável
que o processo demore, é preciso que o peso do tempo seja repartido entre as partes,
e não somente o demandante arque com ele”

Atendo-se ao caso dos autos, apenas a concessão da tutela de urgência na


forma antecipada, levada a efeito mediante o fornecimento do medicamento,
poderá evitar o perecimento do direito à saúde da autora, restando
fls. 12

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CICERO ROBERLANIO NUNES BELEM e tjce.jus.br, protocolado em 08/01/2023 às 17:14 , sob o número 02000069420238060124.
configurados os requisitos para a sua concessão na forma dos arts. 303 e 304 do CPC
conforme se segue:

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjce.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0200006-94.2023.8.06.0124 e código CAB0663.
PROBABILIDADE DO DIREITO PERIGO DO DANO
✓ existe de prescrição para tratamento com o ✓ A autora tem 53 anos de idade e foi
medicamento realizada por especialista diagnosticada com câncer de mama triplo
negativo recidiva.
✓ a literatura médica brasileira e estrangeira,
em uníssono, recomenda o uso do fármaco para ✓ O início imediato do tratamento é crucial
tratamento da doença que acomete a autora; para que a autora tenha boa chance de cura, o
que diminui a cada dia de atraso no início do
✓ É pacífico o entendimento de que o rol da tratamento.
ANS é exemplificativo, não podendo haver
limitação quanto a tratamento/procedimento ✓ O custo do medicamento é elevadíssimo não
para doença coberta; podendo ser custeado pela autora.

✓ a Resolução 1401/1993 do Conselho Federal


de Medicina (CFM) proíbe que as operadoras de
planos de saúde limitem a liberdade de escolha
do tratamento pelo médico assistente; e

✓ o CFM garante, como princípio fundamental


em seu Código de Ética Médica, a autonomia ao
médico para indicar o tratamento específico para
aquele paciente.

Justamente neste sentido, de modo a preservar o direito à saúde e à vida em


casos análogos ao da autora, os tribunais vêm decidindo pela pertinência da
antecipação de tutela concessiva do medicamento Pembrolizumabe ao paciente:

Trata-se de agravo de instrumento, com pedido de liminar, nos


autos da ação cominatória, da decisão de fls. 54/57 dos autos de
origem, na parte que deferiu a tutela provisória de urgência para
compelir a ré a autorizar e custear o fornecimento do
medicamento Pembrolizumabe, nos termos da prescrição de fls.
24, no prazo de 15 dias, sob pena de multa. (…) No caso, o próprio
médico da autora citou em seu relatório estudos que comprovam
a eficácia do Pembrolizumabe no tratamento do câncer que
acomete a autora, confirmando que o medicamento aumenta a
probabilidade de um desfecho favorável.(…) Dessa forma, fica
mantida a decisão recorrida porquanto presentes os requisitos
do art. 300 do CPC/2015. (TJSP; Agravo de Instrumento 2160398-
86.2020.8.26.0000; Relator (a): Alcides Leopoldo; Órgão Julgador:
4ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 26ª Vara Cível;
DJe 17/07/2020)
fls. 13

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CICERO ROBERLANIO NUNES BELEM e tjce.jus.br, protocolado em 08/01/2023 às 17:14 , sob o número 02000069420238060124.
Assim, uma vez devidamente preenchidos os pressupostos da tutela
provisória de urgência na forma antecipada, sua concessão é medida imperiosa a
fim de que seja determinado que a ré passe a fornecer à autora, de imediato, o

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjce.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0200006-94.2023.8.06.0124 e código CAB0663.
medicamento Pembrolizumab (Keytruda®), conforme prescrito no relatório
médico.
Ressalta-se, finalmente, que a modalidade de tutela pleiteada é capaz de
estabilização caso não seja interposto pela ré o competente recurso da decisão de
deferimento, exatamente conforme preceitua o art. 304 do CPC.

VII – DOS PEDIDOS


Diante do exposto, pede-se:

a) a concessão da tutela de urgência antecedente de natureza


antecipada/satisfativa, sob forma liminar, para determinar à ré que forneça à
autora, no prazo de 48 horas, o medicamento Pembrolizumabe (Keytruda®),
exatamente conforme prescrição anexa e enquanto durar o tratamento, sob pena
de multa diária;

b) A autorização para que a decisão que conceder a tutela sirva de ofício, e possa
ser encaminhada à ré pela autora; ou

c) a intimação pessoal da ré sobre a concessão da presente tutela provisória de


urgência para, querendo, recorrer, sob pena de sua estabilização, o que desde já se
requer nos termos do art. 304 c/c 303, §6º, do CPC/15;

d) Inversão do Ônus da prova, considerando tratar-se de relação de consumo.

e) Condenação da ré em R$ 20.000 (Vinte mil reais) a título de Danos Morais.

f) Seja condenada a ré nos honorários de sucumbência, caso estabilizada a decisão e


julgado extinto o processo mediante sentença (art. 304, §1º c/c art. 485, X, c/c art. 85,
todos do CPC).
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito,
em especial o pericial e o documental.

Dá à causa o valor de R$ 28.780,00


Nestes termos, pede Deferimento.
Milagres-CE, 06 de Janeiro de 2022
Cícero Roberlanio Nunes Belém
OAB nº 46.382/CE

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