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RELATOR..
DR(A). RONNIE PAES SANDRE
..:
REDATOR.
...:
PROC./RE
65449-1/180 - AGRAVO DE INSTRUMENTO Inteiro Teor do Acórdão
C..:
ACÓRDÃO
NOTAS TAQUIGRÁFICAS
VOTO
O pedido do órgão ministerial foi indeferido pela MM.ª Juíza (f.09-10) ao fundamento de não ter
sido constatada a ocorrência de violência doméstica, não sendo as declarações da vítima o bastante
para suprir o requisito exigido pela norma, determinando, sem seguida, a remessa de cópia da
decisão à autoridade policial para juntar ao inquérito policial.
Inconformado com a decisão, apelou o Ministério Público, alegando, em suas razões recursais
(f.12-18), que a palavra da vítima em crimes cometidos no âmbito doméstico é de suma
importância, já que as violências ocorrem, na maioria das vezes, dentro do próprio âmbito familiar.
O recurso foi contrariado pelo apelado (f. 27-30), pugnando pelo não conhecimento da apelação,
por inadequação do recurso interposto. No mérito, protesta pelo seu desprovimento.
É, no essencial, o relatório.
Em que pesem as razões expostas pela defesa do apelado, com a devida vênia, razão não lhe
assiste, pois trata-se de decisão definitiva, ou com força de definitiva, onde a MM.ª Juíza analisou o
mérito do pedido de aplicação das medidas protetivas, indeferindo-as, o que desafia recurso de
apelação, consoante o disposto no art. 593, do Código de Processo Penal.
Logo, tratando-se indeferimento de pedido formulado em medida cautelar que põe fim à medida,
cabe apelação. Sobre o tema é a jurisprudência:
"Da decisão definitiva que resolve medida cautelar cabe recurso de Apelação, nos termos do art.
593, II, do CPP, e é de ser conhecida na esfera criminal se, apesar de ter sido requerida no âmbito
civil, ela visa, precipuamente, o ajuizamento da Ação Penal, desde que apresentada no prazo legal,
sendo irrelevante que tenha sido fundamentada no art. 513 do CPC" (RJDTACRIM 40/60; apud
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado, 11ª ed., São Paulo, Atlas, 2006, p.1480).
Não foram argüidos outros questionamentos preliminares ou nulidades e, não vislumbrando nos
autos qualquer irregularidade que deva ser declarada de ofício, passo ao exame do mérito da
apelação.
Como visto alhures, busca o Ministério Público a reforma da decisão que indeferiu pedido de
aplicação de medida protetiva requerida por Elisa Barbosa da Silva por não ser as declarações da
vítima o bastante para suprir o requisito exigido pela norma.
A Lei 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, foi criada para coibir a violência doméstica
e familiar contra a mulher, tem por escopo oferecer proteção integral à mulher vítima de violência
doméstica, contemplando, além das medidas de natureza penal como também medidas protetivas à
vítima.
Examinando detidamente os autos, com a devida venia, à MM.ª Juíza, a meu ver, razão assiste ao
Parquet, pois a palavra da vítima em crimes cometidos no âmbito doméstico é de suma
importância, já que, em regra, as violências ocorrem, na maioria das vezes, dentro do próprio
âmbito familiar, sem prova testemunhal.
Na espécie, a vítima relata em suas declarações de f. 04-05, ter sido agredida por seu companheiro,
aduzindo:
"(...) QUE por volta de um ano, Agnaldo se tornou uma pessoa muito agressiva, pois tem feito uso
constante de bebidas alcoólicas, sempre dorme fora de casa e quando aparece, chega embriagado,
nervoso e agride a declarante com socos, murros, chutes; QUE a mesma explica que depois de
sofrer agressões físicas, ele ainda "a procura para manter relações sexuais", mas que não usa força
física, porque cede por medo, esclarecendo se pudesse, não teria mais relações com Agnaldo; QUE
por várias vezes já pediu ao mesmo que saísse de casa, sabendo qye ele já tem outra mulher, mas
Agnaldo não responde nada para a declarante e continua dentro de casa, cada vez mais agressivo;
QUE uma vez, ele acorrentou o seu filho Paulo César de oito anos, nos pés de uma cama, isto
porque o menino estava dando trabalho na escola; QUE ele não agrediu o menino fisicamente, mas
o acorrentou por um bom tempo; QUE quando Agnaldo agride a declarante fisicamente, ele o faz
na presença dos filhos da mesma, apenas as crianças testemunhas estas agressões; (...)
Conforme se vê das declarações da vítima, a mesma vem sofrendo agressões reiteradamente de seu
companheiro Agnaldo Resende da Silva, não havendo razão para descrer de sua palavra, pois nos
casos de violência doméstica, em regra, são cometidos na clandestinidade.
Além do mais, como bem disse o douto Promotor de Justiça "tratam-se de medidas que podem ser
revogadas a qualquer momento, se demonstrada a impertinência das mesmas, tendo as referidas
medidas o prazo de duração de 30 dias, nos termos do art. 806 do CPC".
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do
Ministério Público ou a pedido da ofendida.
Portanto, não há a alegada ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa, pois trata-se de
medida cautelar, e, como tal, admite-se o deferimento da medida sem ouvir o suposto agressor,
quando se fizer presente fumus boni juris e o periculum in mora, como o caso em exame. Sobre o
assunto decidiu este eg. Tribunal de Justiça:
Destarte, não há qualquer ofensa a direito constitucional do apelado, sem sua oitiva, quando
presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora, à luz do o art. 19 da Lei Maria da Penha que
expressamente prevê a possibilidade de concessão de medida protetiva de urgência sem audiência
das partes.
Ademais, por força da Lei 11.340/06, a autoridade judiciária poderá conceder tantas medidas
quantas forem necessárias para garantir a proteção da vítima e de seus dependentes, sendo possível
ainda serem substituídas ou revistas a qualquer tempo por outra de maior eficácia, ou ainda
podendo ser acrescentadas àquelas já concedidas anteriormente, de forma a complementar a
proteção.
Para evitar que a vítima venha sofrer agressões, há de se deferir as medidas protetivas, consistente,
no afastamento de Agnaldo Resende da Silva do local de convivência com a ofendida, pelo prazo
de 30 (trinta) dias, não devendo o mesmo se aproximar da ofendida e de seus filhos até à distância
de 100 (cem) metros, nos termos do art. 22, incisos I e III, "a" da Lei 11.340/06.
Fiel a essas considerações e a tudo mais que dos autos consta, meu voto é no sentido de se rejeitar a
preliminar de não conhecimento do recurso e, no mérito, DAR PROVIMENTO ao recurso para
deferir o pedido de aplicação das medidas protetiva, para afastar Agnaldo Resende da Silva do
local de convivência com a ofendida, pelo prazo de 30 (trinta) dias, não devendo o mesmo se
aproximar da ofendida e de seus filhos até à distância de 100 (cem) metros, nos termos do art. 22,
incisos I e III, "a" da Lei 11.340/06.
É como voto.