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ORIGEM.. FONTE..... DJ 294 de


4A CAMARA CIVEL Imprimir
...: .: 13/03/2009
ACÓRDÃO..
12/02/2009 LIVRO......: (S/R)
..:
PROCESSO. COMARCA.
200803037877 MOZARLANDIA
..: ...:

RELATOR..
DR(A). RONNIE PAES SANDRE
..:
REDATOR.
...:
PROC./RE
65449-1/180 - AGRAVO DE INSTRUMENTO Inteiro Teor do Acórdão
C..:

EMENTA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. MEDIDAS PROTETIVAS A VITIMA DE


....: VIOLENCIA DOMESTICA. DEFERIMENTO SEM A PREVIA OITIVA DO
AGRESSOR. POSSIBILIDADE. ALIMENTOS PROVISORIOS. PEDIDO DE
EXONERACAO OU REDUCAO. DESCABIMENTO. AFASTAMENTO DO
CONJUGE AGRESSOR DO LAR CONJUGAL. SUSPENSAO DA MEDIDA.
JUSTIFICATIVA PLAUSIVEL. ADMISSIBILIDADE. DECISAO REFORMADA. I -
AS MEDIDAS PROTETIVAS PREVISTAS NO ARTIGO 22 DA LEI N. 11.340/2006,
SAO SANCOES DE NATUREZA JURIDICA CIVEL, CUJA IMPUGNACAO
DESAFIA ESPECIE RECURSAL CIVEL, POSTO QUE AO TEMA SE APLICAM,
SUBSIDIARIAMENTE, OS DITAMES DO CODIGO DE PROCESSO CIVIL. II -
NAO PRESCINDE DE OITIVA DA PARTE CONTRARIA, A APLICACAO DAS
MEDIDAS PROTETIVAS DE URGENCIA PREVISTAS NA LEI MARIA DA
PENHA, SOB PENA DE SE FRUSTRAR O ESCOPO DA NORMA, OU SEJA, DE
CONFERIR PROTECAO IMEDIATA A MULHER VITIMA DE VIOLENCIA
DOMESTICA. III - E DEVIDA A PRESTACAO DE ALIMENTOS PELO CONJUGE-
AGRESSOR, PARA ATENDER COM SUPERFICIALIDADE E PROVISORIEDADE
AS NECESSIDADES DA VITIMA DA VIOLENCIA EM TESTILHA. IV - NAO SE
COMPROVANDO QUE A VITIMA DA AGRESSAO DOMESTICA NAO FAZ JUS
AOS ALIMENTOS EM TELA, NAO HA QUE SE FALAR EM EXONERACAO DA
OBRIGACAO DO CONJUGE ALIMENTANTE. V - NAO COMPORTA REDUCAO
O 'QUANTUM' FIXADO A ESSE TITULO, SE INEXISTE COMPROVACAO
SATISFATORIA DA IMPOSSIBILIDADE DO ALIMENTANTE DE ARCAR COM A
OBRIGACAO NO MONTANTE ENTAO ARBITRADO. VI - A SUSPENSAO DA
MEDIDA DE AFASTAMENTO DO AGRESSOR DO LAR CONJUGAL, E
ADMISSIVEL QUANDO CESSADO O MOTIVO QUE A ENSEJOU. AGRAVO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

DECISÃO. ACORDAM OS INTEGRANTES DA 2A TURMA JULGADORA DA 4A CAMARA


...: CIVEL, A UNANIMIDADE DE VOTOS, EM CONHECER DO RECURSO DE
AGRAVO DE INSTRUMENTO, DANDO-LHE PARCIAL PROVIMENTO, NOS
TERMOS DO VOTO DO RELATOR.
Número do processo: 1.0261.07.054430-7/001(1) Númeração Única: 0544307-94.2007.8.13.0261
Processos associados: clique para pesquisar
Relator: ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS
Relator do Acórdão: ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS
Data do Julgamento: 03/03/2009
Data da Publicação: 23/03/2009
Inteiro Teor:
EMENTA: PENAL - LEI MARIA DA PENHA - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - MEDIDAS
PROTETIVAS - PALAVRA DA VÍTIMA - ADMISSIBILIDADE. 1. Nos crimes de violência
doméstica rotineiramente praticados na clandestinidade, a palavra da vítima é o suficiente para o
deferimento de medias protetivas "inaudita altera pars". 2. Inexiste ofensa aos princípios da ampla
defesa e do contraditório a decisão que defere medida protetiva sem oitiva do suposto agressor,
quando presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora, pois o art. 19 da Lei 11.340/06 - Lei
Maria da Penha - prevê expressamente a possibilidade de concessão de medidas protetivas de
urgência sem audiência das partes. 3. Preliminar de não-conhecimento rejeitada e, no mérito,
recurso provido.

APELAÇÃO CRIMINAL N° 1.0261.07.054430-7/001 - COMARCA DE FORMIGA -


APELANTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS - APELADO(A)(S):
AGNALDO RESENDE DA SILVA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ANTÔNIO ARMANDO DOS
ANJOS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 3ª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de


Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das
notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM REJEITAR PRELIMINAR E PROVER O
RECURSO.

Belo Horizonte, 03 de março de 2009.

DES. ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS - Relator

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS:

VOTO

Perante o Juízo da Vara Criminal da Comarca de Formiga, o Ministério Público requereu a


aplicação das medidas protetivas de urgência previstas no art. 22, incisos II, III, "a", "b" e "c" da
Lei 11.340/06 contra Agnaldo Resende.

O pedido do órgão ministerial foi indeferido pela MM.ª Juíza (f.09-10) ao fundamento de não ter
sido constatada a ocorrência de violência doméstica, não sendo as declarações da vítima o bastante
para suprir o requisito exigido pela norma, determinando, sem seguida, a remessa de cópia da
decisão à autoridade policial para juntar ao inquérito policial.
Inconformado com a decisão, apelou o Ministério Público, alegando, em suas razões recursais
(f.12-18), que a palavra da vítima em crimes cometidos no âmbito doméstico é de suma
importância, já que as violências ocorrem, na maioria das vezes, dentro do próprio âmbito familiar.

O recurso foi contrariado pelo apelado (f. 27-30), pugnando pelo não conhecimento da apelação,
por inadequação do recurso interposto. No mérito, protesta pelo seu desprovimento.

Nesta instância, instada a se manifestar, a douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer da lavra


do Procurador de Justiça, Dr. José Alberto Sartório de Souza (f.43-47).

É, no essencial, o relatório.

Ab initio, por ser prejudicial ao mérito, examino inicialmente a preliminar de inadequação do


recurso, argüida pelo apelado.

Em que pesem as razões expostas pela defesa do apelado, com a devida vênia, razão não lhe
assiste, pois trata-se de decisão definitiva, ou com força de definitiva, onde a MM.ª Juíza analisou o
mérito do pedido de aplicação das medidas protetivas, indeferindo-as, o que desafia recurso de
apelação, consoante o disposto no art. 593, do Código de Processo Penal.

Logo, tratando-se indeferimento de pedido formulado em medida cautelar que põe fim à medida,
cabe apelação. Sobre o tema é a jurisprudência:

"Da decisão definitiva que resolve medida cautelar cabe recurso de Apelação, nos termos do art.
593, II, do CPP, e é de ser conhecida na esfera criminal se, apesar de ter sido requerida no âmbito
civil, ela visa, precipuamente, o ajuizamento da Ação Penal, desde que apresentada no prazo legal,
sendo irrelevante que tenha sido fundamentada no art. 513 do CPC" (RJDTACRIM 40/60; apud
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado, 11ª ed., São Paulo, Atlas, 2006, p.1480).

Sendo assim, rejeito a preliminar argüida pelo apelado.

Não foram argüidos outros questionamentos preliminares ou nulidades e, não vislumbrando nos
autos qualquer irregularidade que deva ser declarada de ofício, passo ao exame do mérito da
apelação.

Como visto alhures, busca o Ministério Público a reforma da decisão que indeferiu pedido de
aplicação de medida protetiva requerida por Elisa Barbosa da Silva por não ser as declarações da
vítima o bastante para suprir o requisito exigido pela norma.

A Lei 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, foi criada para coibir a violência doméstica
e familiar contra a mulher, tem por escopo oferecer proteção integral à mulher vítima de violência
doméstica, contemplando, além das medidas de natureza penal como também medidas protetivas à
vítima.

Examinando detidamente os autos, com a devida venia, à MM.ª Juíza, a meu ver, razão assiste ao
Parquet, pois a palavra da vítima em crimes cometidos no âmbito doméstico é de suma
importância, já que, em regra, as violências ocorrem, na maioria das vezes, dentro do próprio
âmbito familiar, sem prova testemunhal.

Na espécie, a vítima relata em suas declarações de f. 04-05, ter sido agredida por seu companheiro,
aduzindo:
"(...) QUE por volta de um ano, Agnaldo se tornou uma pessoa muito agressiva, pois tem feito uso
constante de bebidas alcoólicas, sempre dorme fora de casa e quando aparece, chega embriagado,
nervoso e agride a declarante com socos, murros, chutes; QUE a mesma explica que depois de
sofrer agressões físicas, ele ainda "a procura para manter relações sexuais", mas que não usa força
física, porque cede por medo, esclarecendo se pudesse, não teria mais relações com Agnaldo; QUE
por várias vezes já pediu ao mesmo que saísse de casa, sabendo qye ele já tem outra mulher, mas
Agnaldo não responde nada para a declarante e continua dentro de casa, cada vez mais agressivo;
QUE uma vez, ele acorrentou o seu filho Paulo César de oito anos, nos pés de uma cama, isto
porque o menino estava dando trabalho na escola; QUE ele não agrediu o menino fisicamente, mas
o acorrentou por um bom tempo; QUE quando Agnaldo agride a declarante fisicamente, ele o faz
na presença dos filhos da mesma, apenas as crianças testemunhas estas agressões; (...)

Conforme se vê das declarações da vítima, a mesma vem sofrendo agressões reiteradamente de seu
companheiro Agnaldo Resende da Silva, não havendo razão para descrer de sua palavra, pois nos
casos de violência doméstica, em regra, são cometidos na clandestinidade.

Aliás, sobre o assunto tem decidido este eg. Tribunal de Justiça:

APELAÇÃO CRIMINAL - DELITO DE LESÃO CORPORAL - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA -


AUTORIA E MATERIALIDADE - COMPROVAÇÃO - PALAVRA DA VÍTIMA -
IMPORTÂNCIA - LEGÍTIMA DEFESA - INOCORRÊNCIA - CONDENAÇÃO MANTIDA -
RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1 - Nos delitos que envolvem violência doméstica,
praticados, na maioria das vezes, sem a presença de testemunhas, a palavra da vítima é de suma
importância para a elucidação dos fatos, mormente quando a mesma é coerente e encontra amparo
no exame de corpo de delito. 2 - A excludente da legítima defesa somente pode ser reconhecida
quando o agente se utiliza moderadamente dos meios necessários para repelir injusta agressão, o
que não ocorreu no presente caso. (TJMG, 5ª C.Crim., Ap nº 1.0024.07.386955-4/001, Rel. Des.
Adilson Lamounier, v.u. julg. 25.11.2008; pub. DOMG de 09.12.2008).

APELAÇÃO CRIMINAL - IRRESIGNAÇÃO DEFENSIVA - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA -


AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS - PALAVRA DA VÍTIMA - RELEVÂNCIA
- ABSOLVIÇÃO - IMPOSSIBILIDADE. As lesões corporais praticadas no âmbito familiar são, na
maioria das vezes, realizadas às escuras, sem a presença de testemunhas. Daí ser relevante, neste
tipo de delito, a palavra da vítima, não sendo imprescindível que existam testemunhas presenciais.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJMG, 1ª C.Crim., Ap nº 1.0382.05.051316-9/001,
Rel. Des.ª Márcia Milanez, v.u. julg. 18.03.2008; pub. DOMG de 04.04.2008).

Portanto, em casos de violência doméstica, rotineiramente praticados de forma clandestina, a


palavra da vítima constitui na melhor prova, já que quase nunca há testemunhas.

Além do mais, como bem disse o douto Promotor de Justiça "tratam-se de medidas que podem ser
revogadas a qualquer momento, se demonstrada a impertinência das mesmas, tendo as referidas
medidas o prazo de duração de 30 dias, nos termos do art. 806 do CPC".

De outra parte, não há se falar em ofensa ao princípio do contraditório e o da ampla defesa, no


deferimento de medida protetiva sem oitiva do suposto agressor, pois a Lei 11.340/06 faculta ao
Magistrado aplicar tal medida inaudita altera parte, conforme se depreende do art. 19:

Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do
Ministério Público ou a pedido da ofendida.

§ 1o As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de


audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente
comunicado.

Portanto, não há a alegada ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa, pois trata-se de
medida cautelar, e, como tal, admite-se o deferimento da medida sem ouvir o suposto agressor,
quando se fizer presente fumus boni juris e o periculum in mora, como o caso em exame. Sobre o
assunto decidiu este eg. Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS - LEI 11.340/06 - MEDIDA PROTETIVA DE URGÊNCIA -


AFASTAMENTO DO LAR - DECISÃO MANIFESTAMENTE LEGAL - HABEAS CORPUS
DENEGADO. Não há falar em nulidade da decisão que, sem sua oitiva, afastou o paciente da
residência da mulher, visto que, presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora, o art. 19 da Lei
Maria da Penha expressamente prevê a possibilidade de concessão de medida protetiva de urgência
sem audiência das partes. (TJMG, 4ª C.Crim., Ap nº 1.0000.08.474751-8/000, Rel. Des. Ediwal
José de Moraes, v.u. julg. 04.06.2008; pub. DOMG de 18.06.2008).

Destarte, não há qualquer ofensa a direito constitucional do apelado, sem sua oitiva, quando
presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora, à luz do o art. 19 da Lei Maria da Penha que
expressamente prevê a possibilidade de concessão de medida protetiva de urgência sem audiência
das partes.

Ademais, por força da Lei 11.340/06, a autoridade judiciária poderá conceder tantas medidas
quantas forem necessárias para garantir a proteção da vítima e de seus dependentes, sendo possível
ainda serem substituídas ou revistas a qualquer tempo por outra de maior eficácia, ou ainda
podendo ser acrescentadas àquelas já concedidas anteriormente, de forma a complementar a
proteção.

Para evitar que a vítima venha sofrer agressões, há de se deferir as medidas protetivas, consistente,
no afastamento de Agnaldo Resende da Silva do local de convivência com a ofendida, pelo prazo
de 30 (trinta) dias, não devendo o mesmo se aproximar da ofendida e de seus filhos até à distância
de 100 (cem) metros, nos termos do art. 22, incisos I e III, "a" da Lei 11.340/06.

Fiel a essas considerações e a tudo mais que dos autos consta, meu voto é no sentido de se rejeitar a
preliminar de não conhecimento do recurso e, no mérito, DAR PROVIMENTO ao recurso para
deferir o pedido de aplicação das medidas protetiva, para afastar Agnaldo Resende da Silva do
local de convivência com a ofendida, pelo prazo de 30 (trinta) dias, não devendo o mesmo se
aproximar da ofendida e de seus filhos até à distância de 100 (cem) metros, nos termos do art. 22,
incisos I e III, "a" da Lei 11.340/06.

Custas "ex lege".

É como voto.

Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): FORTUNA GRION e JANE


SILVA.

SÚMULA : REJEITARAM PRELIMINAR E PROVERAM O RECURSO.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.0261.07.054430-7/001

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