EXCELENTISSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA __
VARA DE INQUÉRITOS POLICIAIS E MEDIDA CAUTELARES DA COMARCA
DE BELÉM/PA
REU PRESO
Processo n°: 0803510-45.2024.8.14.0401
EDINALDO MIRANDA DA SILVA JUNIOR, já devidamente
qualificado nos autos do processo em epígrafe, atualmente segregado cautelarmente na Central de custódia provisória da Marambaia - CCP Marambaia, neste ato por seu advogado ao final assinado, requerendo desde já prazo para a juntada do instrumento de procuração, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, requerer REVOGAÇÃO DE SUA PRISÃO PREVENTIVA COM OU SEM APLICAÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS PREVISTAS NO ARTIGO 31 CPP, pelos fundamentos de fato e de direito que passa a expor:
DOS FATOS
O acusado foi autuado em flagrante pela conduta prevista no
artigo 33 da lei nO 11.343/2006, INQUÉRITO POR FLAGRANTE n o 00008/2024.100124-1, o qual se encontra à disposição no Sistema Penitenciário do Estado do Pará. O acusado teve sua prisão preventiva decretada mediante decisão expedida pelo Juízo de Plantão, convertendo a prisão em flagrante em preventiva acreditando estarem presentes os requisitos constantes do art. 312, caput, Código de Processo Penal e que as medidas cautelares diversas da prisão se revelam inadequadas.
Esta é a síntese fática do processo.
DO DIREITO
Sabemos que este não é o momento de analisar o mérito, mas
deve-se ter precaução e com senso para que futuramente não seja causado injustiças.
Diante da narrativa apresentada, a prisão não se mostra
verídica, evidenciando um claro abuso de autoridade. Segundo o relato do detido, este saíra da residência materna com a finalidade de adquirir pão, momento em que foi surpreendido pela ação policial. Temeroso em virtude do uso da tornozeleira eletrônica, acelerou sua motocicleta na tentativa de evitar possíveis retaliações, resultando em uma colisão com outra motocicleta durante o percurso. Em seu depoimento, negou veementemente estar na posse de qualquer sacola ou substâncias ilícitas, conforme segue abaixo: Excelência, temos de ressaltar que tecnicamente o acusado é primário, haja vista que não possui em seu desfavor nenhuma condenação penal transitada em julgado, possui uma filha que é recém nascida e o mesmo já estava trabalhando para se ressocializar em sociedade e sustentar sua nova família que havia chegado.
Esse é raciocínio abordado por GUILHERME DE SOUZA NUCCI
ao ensinar sobre a “primariedade”:
“Primariedade é a situação de quem
não é reincidente. Este, por sua vez, é aquele que torna a cometer um crime, depois de já ter sido condenado definitivamente por delito anterior, no País ou no exterior, desde que não o faça após o período de cinco anos, contados da extinção de sua primeira pena”.(Código de Processo Penal Comentado; 4ª ed.; ed. RT; São Paulo; 2005; p. 915).
Ressalte-se também que o mesmo não é possuidor de maus
antecedentes, pois como preleciona GUILHERME DE SOUZA NUCCI: “Somente é possuidor de maus antecedentes aquele que, à época do cometimento do fato delituoso, registra condenações anteriores, com trânsito em julgado, não mais passíveis de gerar a reincidência (pela razão de ter ultrapassado o período de cindo anos)”. (Op. Cit; p. 915).
A defesa requer sua revogação de prisão cautelar, e
responder o processo judicial em liberdade, por ser inocente e de direito. Pois sua defesa respondendo adequadamente ao processo, fazendo jus a aplicabilidade de um brocardo jurídico da presunção de inocência até que se esgotem todos os recursos da ampla defesa e contraditório, onde a prisão cautelar é uma exceção.
Neste sentido alinham-se Américo Bedê Júnior e Gustavo
Senna (Princípios do Processo Penal: Entre o garantismo e a efetividade da sanção), Aury Lopes Filho (Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional), Fernando da Costa Tourinho Filho (Processo Penal), Paulo Rangel (Direito Processual Penal) e Vicente Greco Filho (Manual de Processo Penal).
Assim, diante do princípio constitucional da presunção de
inocência - art. 5º, inc. LVII da Constituição Federal cabe ao Estado acusador apresentar prova cabal a sustentar sua denúncia, impondo-se ao magistrado fazer valer brocado outro, a saber: allegare sine probare et non allegare paria sunt - alegar e não provar é o mesmo que não alegar.
A certeza do direito penal mínimo no sentido de que nenhum
inocente seja punido é garantida pelo princípio humanístico e constitucional in dubio pro reo. É o fim perseguido nos processos regulares e suas garantias. Expressa o sentido da presunção de não culpabilidade do acusado até prova em contrário: é necessária a prova – quer dizer, a certeza, ainda que seja subjetiva – não da inocência, mas da culpabilidade, não se tolerando a condenação, mas exigindo-se a absolvição em caso de incerteza. (FERRAJOLI, 2006, p. 104).
A incerteza é, na realidade, resolvida por uma presunção
legal de inocência em favor do acusado, precisamente porque a única certeza que se pretende do processo afeta os pressupostos das condenações e das penas e não das absolvições e da ausência de penas.
A legislação diz, Art. 321. Ausentes os requisitos que
autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste Código.
O dispositivo reitera o comando do art. 282, §6º, do CPP,
de que “a prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319)”. Reforça-se, aqui, a natureza subsidiária da prisão preventiva em relação às medidas cautelares diversas da prisão (art. 319, do CPP), sensivelmente menos onerosas para o investigado ou acusado.
A regra, portanto, na falta de motivos para a imposição da
prisão preventiva, será a decretação da liberdade provisória, sem fiança.
Em face da situação danosa o acusado se encontra,
justifica-se a presente medida. Vale pontuar que o mesmo cumpre todos os requisitos para obtenção de liberdade provisória, eis que possui residência fixa, RÉU PRIMÁRIO e trabalhador. Comprometendo-se a comparecer em todos os atos processuais solicitados.
Segundo Cezar Roberto Bitencourt, (Código penal comentado
7. Ed. — São Paulo: Saraiva, 2012):
“Em outros termos, o limite do lícito
termina necessariamente onde começa o abuso, pois aí o dever deixa de ser cumprido estritamente no âmbito da legalidade, para mostrar-se abusivo, excessivo e impróprio, caracterizando sua ilicitude. Exatamente assim configura-se o excesso, pois, embora o “cumprimento do dever” se tenha iniciado dentro dos limites do estritamente legal, o agente, pelo seu procedimento ou condução inadequada, acaba indo além do estritamente permitido, excedendo-se, por conseguinte.”
Vejamos o que discorre o insigne JULIO FABRINI MIRABETE
sobre o tema:
Como, em princípio, ninguém dever ser recolhido à prisão
senão após a sentença condenatória transitada em julgado, procura-se estabelecer institutos e medidas que assegurem o desenvolvimento regular do processo com a presença do acusado sem sacrifício de sua liberdade, deixando a custódia provisória apenas para as hipóteses de absoluta necessidade.
No caso em tela, patente é a inexistência do periculum in
libertatis, cabendo ressaltar que a medida cautelar só deve prosperar diante da existência de absoluta necessidade de sua manutenção e caso subsista os dois pressupostos basilares de todo provimento cautelar, ou seja, o fumus bonis júris e o periculum in mora, devendo haver a presença simultânea dos dois requisitos, de modo que, ausente um, é ela incabível.
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA
O Requerente não apresenta e não ocasionará nenhum risco
para a ordem pública, cabendo ressaltar que é no seio da família, núcleo social de suma importância para a redução da criminalidade, que o Requerente pretende se estabelecer e dar continuidade sua vida cotidiana, razão pela qual não se pode cometer a injustiça de presumir uma periculosidade inexistente.
Igualmente, impor ao Requerente o cumprimento antecipado de
uma pena é o mesmo que fechar os olhos aos princípios que norteiam o ordenamento jurídico, em especial, no que pertine ao princípio da inocência e a dignidade da pessoa humana. CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL
O Requerente não pretende e de nenhuma forma perturbará ou
dificultará a busca da verdade real, no desenvolvimento da marcha processual, pois estará voltado, tão-somente, a defender- se da acusação que contra si foi imputada, estando certo de que com a continuidade do labor diário chegará ao termo do processo com a consciência de ter feito jus à confiança do Estado-juiz e da sociedade.
Ademais, o Requerente é consciente de que a instrução
criminal que é o meio hábil de exercer o direito constitucional do contraditório e da ampla defesa, ONDE PROVARÁ SUA INOCÊNCIA NO CURSO PROCESSUAL, razão pela qual não se pode presumir que o mesmo se voltará contra o único meio que possibilitará o exercício de sua defesa.
APLICAÇÃO DA LEI PENAL
A prisão não deve prosperar sob o argumento de se garantir
a aplicação da lei penal, posto que o Requerente possui possibilidade de trabalho, endereço conhecido e jamais se furtará a se defender da acusação que lhe é imputada, sendo que poderá e se disponibilizará a ser localizado a qualquer momento para a prática dos atos processuais, comprometendo-se a comparecer a todos os atos do processo.
Mais por mais, é de singular interesse do Requerente se
prontificar e disponibilizar-se para responder ao processo, uma vez que a única forma de trazer à tona a verdade real dos fatos para a aplicação justa da lei.
O mesmo tem requisitos legais para estar em liberdade e
responder a todo ato processual dessa forma, nada mais justo é que seja concedido através da postulada, em sede revogação da prisão preventiva, para assim, seja efetuada a justiça consagrada na Constituição Federal de 1988.
Referente a dignidade da pessoa humana, pontuam os autores
Ives Gandra da Silva Martins, Gilmar Ferreira Mendes, Carlos Valder do Nascimento (Tratado de direito constitucional, v. 1 / – 2. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2012): O fundamento básico de todos esses direitos é a dignidade da pessoa humana, pela sua criação à imagem e semelhança de Deus, diferente e, portanto, superior a todo o universo material. As Constituições Alemã (art. 1.1), Chinesa (art. 38) e Espanhola (art. 10), entre tantas, assentam ser inviolável a dignidade da pessoa humana.
Assim, nesse Estado Constitucional e democrático de direito
é que encontraremos o fundamento de validade do ius puniendi, bem como suas limitações. É um Estado em que os direitos humanos deverão ser preservados a qualquer custo. Como diz precisamente Norberto Bobbio, ‘o reconhecimento e a proteção dos direitos do homem estão na base das Constituições democráticas’.
A Carta magna de 88:
"Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LXV - a prisão ilegal será
imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou
nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
provisória, com ou sem fiança;
1º - As normas definidoras dos direitos e
garantias fundamentais têm aplicação imediata.
Que espécie de ressocialização de um ser humano poderemos
esperar, quando lhe são sonegados os mínimos direitos constitucionalmente assegurados.
Assim, constitucionalmente assegura-se o direito da
liberdade ao acusado, já que é possuidor de todos os requisitos legais e a prisão cautelar é exceção, figurando na Constituição Federal a presunção de inocência até o trânsito em julgado de todos os recursos cabíveis no contraditório e ampla defesa.
Neste sentido o TJ/RS:
HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO.
ROUBO SIMPLES. ART. 157, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL.
DESNECESSIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA. PACIENTE
PRIMÁRIO. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS.
APLICAÇÃO DE MEDIDA CAUTELAR MENOS GRAVOSA. POSIBILIDADE NO CASO CONCRETO. As circunstâncias do caso concreto não evidenciam a necessidade da segregação cautelar do paciente, já que não demonstrado o periculum libertatis, ou seja, o risco que a liberdade do agente possa ocasionar à ordem pública. No caso em apreço, o paciente é jovem (18 anos) e primário, não respondendo a nenhum outro processo na seara criminal. Além disso, comprovou endereço fixo e atividade laboral lícita. Sendo assim, diante do contexto fático, impõe-se a concessão da ordem de habeas corpus, condicionada à medida cautelar de comparecimento mensal em Cartório para informar endereço e justificar atividades, sob pena de revogação do benefício em caso de descumprimento. HABEAS CORPUS CONCEDIDO. DETERMINADA A EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ DE SOLTURA NA ORIGEM. (Habeas Corpus Nº 70068174853, Quinta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lizete Andreis Sebben, Julgado em 24/02/2016)
HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO.
ROUBO MAJORADO. ART. 157, § 2º, INC. I E II, DO CP.
DESNECESSIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA. PACIENTE
PRIMÁRIO. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS.
APLICAÇÃO DE MEDIDA CAUTELAR MENOS GRAVOSA.
POSIBILIDADE NO CASO CONCRETO. As
circunstâncias do caso concreto não evidenciam a necessidade da segregação cautelar do paciente, já que não demonstrado o periculum libertatis, ou seja, o risco que a liberdade do agente possa ocasionar à ordem pública. No caso em apreço, dos agentes flagrados, o paciente é o único primário e que não responde a nenhum outro processo na seara criminal e que comprovou endereço fixo e atividade laboral lícita. Sendo assim, diante do contexto fático, impõe-se a concessão da ordem de habeas corpus, condicionada às medidas cautelares de comparecimento mensal em Cartório para informar endereço e justificar atividades, e proibição de ausentar-se da Comarca, sob pena de revogação do benefício. HABEAS CORPUS CONCEDIDO. DETERMINADA A EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ DE SOLTURA NA ORIGEM. (Habeas Corpus Nº 70067328682, Quinta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lizete Andreis Sebben, Julgado em 16/12/2015)
Vale dizer, não há mais como cogitar da liberdade
divorciada da justiça social, como também infrutífero pensar na justiça social divorciada da liberdade.
Em suma, todos os direitos humanos constituem um complexo
integral, único e indivisível, em que os diferentes direitos estão necessariamente inter-relacionados e interdependentes entre si.
De outra, é certo que a ordem pública não será burlada e
nem afetada com a soltura do acusado, pois não se justifica nenhum argumento como o de que com a soltura poderia voltar a delinquir, já que o mesmo é trabalhador, tem residência fixa e meios lícitos de sobrevivência.
Neste sentido, a ampla defesa através de medidas protetivas
ao acusado deverão exaurir-se todas as possiblidades levando em consideração a presunção de inocência, consagrada na Carta Magna de 1988, artigo 5º, inciso LVII.
A segregação cautelar é medida excepcional, exigindo a
presença dos requisitos previstos nos artigos 312 e 313 do Código de Processo Penal para a sua decretação. Assim, deve vir assentada em elementos que demonstrem a sua efetiva imprescindibilidade no contexto em que praticada a infração, especialmente com a entrada em vigor da Lei 12.403/2011. A prisão não pode ser encarada como antecipação de pena, pois seu caráter é de necessidade diante da periculosidade do agente e da gravidade concreta do suposto crime.
Conforme Ferrajoli (2006, p. 104): “A incerteza é, na
realidade, resolvida por uma presunção legal de inocência em favor do acusado, precisamente porque a única certeza que se pretende do processo afeta os pressupostos das condenações e das penas e não das absolvições e da ausência de penas.
DOS PEDIDOS
Assim sendo, conclui-se ser admissível a revogação da
prisão preventiva, haja vista as condições pessoais do acusado, isto basta para evidenciar a não periculosidade do agente e baseado na presunção de inocência constitucional.
Por todo o exposto, requer seja revogada a prisão
preventiva, por ausentes os requisitos dos artigos 311 de 312 do Código de Processo Penal, com devida expedição de alvará de soltura em favor do acusado, como medida de INTEIRA JUSTIÇA.
Pelo exposto e de acordo com a melhor doutrina e
jurisprudência aplicadas ao caso em análise, requer a concessão da LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA, uma vez restarem ausentes às hipóteses constantes do Art. 312 do CPP.
Se V. Exa entender de outra forma, que seja aplicada outra
medida diversa da prisão.como tornozeleira eletrônica.
Concedida a medida pleiteada, requer a imediata expedição
de alvará de soltura em favor do Requerente, conforme as disposições legais pertinentes.