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JUÍZO DE DIREITO DA VARA DO ÚNICO OFÍCIO DA COMARCA DE SANTA LUZIA DO

NORTE – ALAGOAS

ANCELMO CORREIA DA SILVA, já qualificado nos autos do processo em


epígrafe, por conduto deste Advogado legalmente habilitado mediante instrumento
procuratório constante às fls. nº 84, com fulcro no Art. 396-A e seguintes, todos do
Código de Processo Penal – CPP e demais normas aplicáveis a espécie vem tempestiva e
mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência em atendimento constelar de praxe
ao despacho exarado às fls. tombadas sob o nº 94, responder a acusação ofertada pelo
Douto representante do Parquet estadual em atividade nestas plagas, tudo
consubstanciado nos motivos fáticos e fundamentos jurídicos expostos a seguir:

DOS FATOS
Ínclito magistrado, consta na denúncia de fls. nº 91/93 que no dia 28 de
março do ano em curso, por volta das 00hrs50min, Ancelmo Correia da Silva conduzindo
veículo automotor em estado de embriaguez alcoólica, seqüestrou e constrangeu Sandra
de Souza Magalhães, mediante grave ameaça, a com ele manter conjunção carnal e
subtraiu para si uma aliança e uma mala de viagens pertencentes a essa mesma vítima.

Aduziu ainda que a vítima estava acompanhada por seu marido em um


caminhão, nas proximidades do DER/AL, quando foi abordado por Ancelmo Correia e
por outro indivíduo não identificado, que renderam o casal e deles subtraíram suas
alianças e mala de viagem. Ato contínuo, Ancelmo Correia, simulando estar armado,
ordenou que Sandra de Souza subisse na garupa de sua motocicleta e a levou para um
local ermo na BR-316 (Km 265, município de Satuba), onde, ameaçando matá-la
constrangeu-a a com ele manter conjunção carnal.

Após o estupro, Ancelmo tentou empreender fuga em sua motocicleta, mas


foi abordado por policiais rodoviários federais, que o prenderam em flagrante delito,
sendo submetido ao teste de etilômetro, que apresentou resultado de 0,78 mg/l.
Finalmente, no entender do titular da ação penal em curso, o denunciado
praticou os crimes previstos nos Arts. 213, 157, 148, § 1º, inciso V do Código Penal – CP
e 306 do Código de Trânsito Brasileiro – CTB, requerendo a posterior condenação nos
termos da peça vestibular.

DO DIREITO
Compulsando os autos verifico tratar-se de imputação delitiva em desfavor
do acusado Ancelmo Correia da Silva, pela suposta prática dos seguintes crimes: estupro,
roubo, seqüestro e embriaguez ao volante.

Pois bem. Adentraremos ao mérito da conduta delituosa declinada pelo


RMP em desfavor do ora defendente, vez que, desde já, numa análise mais acurada dos
autos, em nossa humilde ótica a classificação dos crimes em detrimento dos fatos
atribuídos ao réu frente ao devido processo legal, não comporta de certo, tudo aquilo
que fora exposto, resultando em rejeição parcial da denúncia por faltar condição de
procedibilidade da ação penal no tocante ao crime de estupro, motivo ensejador da
preliminar oportunamente argüida.

Preliminarmente
É bem sabido por todos que militam na seara criminal que o Art. 225 do
CP, tipifica que:
Art. 225. CP. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II
deste Título, procede-se mediante ação penal
pública condicionada à representação.

Assim, entendemos como regra que a ação penal será de iniciativa pública
condicionada à representação do ofendido nos crimes contra a liberdade sexual, a
exemplo do estupro em testilha.

Nesse passo, até poderia ser diferente o entendimento com arrimo na


Súmula nº 608 do Supremo Tribunal Federal – STF, que diz:
Súmula nº 608. STF. No crime de estupro, praticado
mediante violência real, a ação penal é pública
incondicionada.

Todavia, por dois motivos, tal súmula não se aplica.

In casu, a primeira razão para a não acomodação da Súmula nº 608 do STF


encontra guarida no fato do suposto estupro ser praticado, provavelmente, tão somente,
com ameaça e não com violência real ou qualquer outra condição.

O segundo argumento é amparado na doutrina de NUCCI e na majoritária


jurisprudência pátria, citadas a seguir.

Para GUILHERME DE SOUZA NUCCI1:


Elimina-se a Súmula 608 do STF, vale dizer, em caso
de estupro de pessoa adulta, ainda que cometido
com violência, a ação é pública condicionada à
representação. Lembremos ser tal Súmula fruto da
Política Criminal, com o objetivo de proteger a
mulher estuprada, com receio de alertar os órgãos
de segurança, em especial, para não sofrer
preconceito e ser vítima de gracejos inadequados.
Chegou-se, inclusive, a criar a Delegacia da Mulher,
para receber tais tipos de ocorrência. Não há razão
técnica para a subsistência do preceito sumular, em
particular pelo advento da reforma trazida pela Lei
nº 12.015/2009.

Já a jurisprudência tem firmado entendimento que o crime de estupro de


pessoa que seja maior, capaz e não vulnerável, deve proceder mediante representação
do ofendido, nos termos do Art. 225 do CP:

1
NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual. 4ª edição. Revista, ampliada e atualizada,
Revista dos Tribunais, 2013.
STJ. Revogação da Súmula 608. O advento da Lei
12.015/2009, que alterou a redação do Art. 225 do
Código Penal, os delitos de estupro e de atentado
violento ao pudor, mesmo com violência real
(hipótese da Súmula 608/STF) ou com resultado
lesão corporal grave ou morte (antes definidos no
Art. 223 do Código Penal e hoje definidos no Art.
213, §§ 1º e 2º), passaram a se proceder mediante
ação penal pública condicionada à representação,
nos termos da nova redação do Art. 225 do Código
Penal, com exceção apenas para os casos de vítima
menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável
(parágrafo único do Art. 225 do Código Penal). Se a
lei nova se apresenta mais favorável ao réu nos
casos de estupro qualificado, o mesmo deve ocorrer
com as hipóteses de violência real, isto é, para as
ações penais públicas incondicionadas nos termos
da Súmula 608/STF, segundo a qual, “no crime de
estupro, praticado mediante violência real, a ação
penal é pública incondicionada”. Tais ações penais
deveriam ser suspensas para que as vítimas
manifestassem desejo de representar contra o réu”
(Resp 1227746/RS, 5ª T, rel. Gilson Dipp,
02.08.2011).

TJMG. Diante da modificação do artigo 225 do


Código Penal Brasileiro, introduzida pela Lei
12.015/2009, o crime de estupro exceto quando
cometido contra menor de 18 (dezoito) anos ou
pessoa vulnerável – deverá ser apurado através de
ação penal pública condicionada à representação da
vítima, ainda que praticado com violência real. (HC
1.0000.09.508562-7/000(1)/MG, 2º C.C., rel. Renato
Martins Jacob, 03.12.2009).

TJRJ. A questão está superada pela nova redação do


artigo 225 do Código Penal que lhe deu a Lei 12.015
de 07.08.2009, a qual não mais refere à violência
real ou grave ameaça, ou à situação econômica dos
responsáveis pela vítima ou outra qualquer
condição para justificar a atuação do Ministério
Público. Essa regra simplesmente dispõe que “Nos
crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título,
procede-se mediante ação penal pública
condicionada à representação”, vale dizer, o crime
de estupro, tipificado no artigo 213, integrante
deste capítulo, agora englobando também a conduta
anteriormente denominada de atentado violento ao
pudor, em princípio, é perseguido mediante ação
penal pública condicionada à representação,
independentemente do emprego de violência real
ou ficta, somente se afastando a representação
quando se tratar de menor de 18 anos ou de pessoa
vulnerável. Em relação aos crimes de estupro e
atentado violento ao pudor, é de se observar que a
Lei 12.015/2009, ao englobar num único tipo, no
caso o artigo 213, as condutas antes definidas
distintamente, passou a classificar essas condutas
como crime único, afastando assim as discussões
que existiam acerca de se tratar de concurso
material, formal ou continuidade delitiva, de sorte
que, como é norma mais benéfica, retroage,
alcançando situações pretéritas como a do caso em
exame” (Ap. 0000746-69.2007.8.19.0048 – RJ, 1ª
C.C., rel. Ricardo Bustamante, 04.08.2010).

TJRS. Em se tratando de estupro cometido contra a


vítima maior de 18 anos – que não se amolda ao
perfil de vulnerável – após o advento da Lei
12.015/2009, mostra-se indispensável à
representação da vítima. Ausente esta condição da
ação, impositiva a manutenção do trancamento da
ação operado na origem” (Rec. 7005088194/RS, 5ª
C.C, rel. Francesco Conti, 19.12.2012).
Portanto, diante dos argumentos ao norte alinhavados, assim como, por
não haver nos autos “representação da vítima”, ocasionando a falta de condição para o
exercício da ação penal, que por sua vez, são os requisitos exigidos pela lei para que o
órgão acusatório, exercendo o direito de ação, consiga obter do judiciário uma análise
quanto à existência da pretensão punitiva do Estado e a possibilidade de sua efetivação,
é que suplicamos pela rejeição parcial da denúncia (Art. 395, inciso II), no tocante ao
recebimento integral, quanto ao crime de estupro, pela falta da representação da vítima.

Ademais, sendo necessária a representação do ofendido, em havendo o


oferecimento da denúncia, deverá o magistrado quando do recebimento da exordial,
determinar a intimação da vítima para, se assim desejar, representar em Juízo,
demonstrando, com isso, o seu interesse no prosseguimento do feito.

É de se considerar ainda, que o prazo para a apresentação da


representação em Juízo deverá ser o de 30 (trinta) dias, aplicando-se, por
analogia, o Art. 91 da Lei nº 9.099/95, sob pena de ser reconhecida a decadência e,
conseqüentemente, declarada a extinção da punibilidade, nos termos do Art. 107,
IV do Código Penal2.

Enfim, por não constar nos autos em apreço a representação da vítima,


condição sine qua non para o prosseguimento do feito, a denúncia quanto ao crime de
estupro deverá ser rejeitada com fulcro no Art. 395, II do CPP.

Noutro giro, como a peça exordial acusatória foi recebida por este Juízo em
11.04.2016, conforme faz prova às fls. nº 94 e por se passarem mais de 30 (trinta) dias,
com arrimo na lição de RÔMULO DE ANDRADE MOREIRA pugnamos pela extinção da
punibilidade à respeito do crime de estupro, com fincas no Art. 107, IV (decadência), do
Código Penal Brasileiro.

2
MOREIRA, Rômulo de Andrade. Ação penal nos crimes contra a liberdade sexual e nos delitos sexuais contra
vulnerável – a lei nº 12.015/09. Disponível em
http://www.migalhas.com.br/mostra_noticia_articuladas.aspx?cod=91630. Acesso em 09.06.2016
Preliminarmente era o que tinha a expor. Adentraremos aos demais
crimes imputados na denúncia.

Do crime de embriaguez ao volante – Art. 306 do CTB


Excelência, quanto ao delito de embriaguez ao volante não existe o que se
rechaçar, haja vista, ser o increpado confesso. Outrossim, a prova técnica, pericial
produzida às fls. nº 06 e 17 (exame de etilômetro), comprova indubitavelmente a
conduta amoldada ao tipo penal inserto no Art. 306 do vigente Código de Trânsito
Brasileiro.

Confessar significa admitir a autoria ou a participação em crime3. É o ato


pelo qual o imputado opta por declarar-se autor/partícipe do delito, assumindo sua
responsabilidade pelo que fora praticado.

Contudo, é de se esclarecer que a confissão reveste-se de características


particulares, gerando efeitos jurídicos apenas para aquele que a realiza. Conforme
MALATESTA4 é “o testemunho em desvantagem própria”. CARRARA5 sustenta que a
confissão do réu “é qualquer afirmação por ele emitida em prejuízo próprio”.

Nesse passo, contemplando o que consta nos autos do inquérito policial


tombado sob o nº 14/2016 apurado pelo 14º Distrito Policial em Satuba/AL, no
interrogatório firmado pelo acusado Ancelmo Correia da Silva, se extrai das fls. nº
36/37, em depoimento prestado a autoridade policial, o seguinte:
QUE, na data de hoje 28/03/2016 estava no DER
tomando uma cerveja e ao sair do bar para sua casa
passou e viu um casal discutindo; QUE, a mulher
ficou na pista e quando o mesmo ia passando a
mulher estendeu a mão.

3
SANTOS, Juarez Cirino. Direito Penal: Parte Geral. 2ª ed. Curitiba: ICPC; Lumen Juris, 2007, p. 587
4
MALATESTA, Nicola Framarino Dei. A lógica das provas em matéria criminal, v. II. Tradução: Waleska
Girotto Silverber. São Paulo: CONAN, 1995, p. 153.
5
CARRARA. Francesco. Programa do Curso de Direito Criminal: Parte Geral, v. II. Tradução: José Luiz A.
Franceschini e J. R. Prestes Barra. São Paulo: Saraiva 1957, p. 431.
A revelação legítima, prestada espontaneamente, Art. 65, inciso III, alínea
“d” do CP, na lição de SALO DE CARVALHO6 “opera como atenuante obrigatória da pena
judicialmente imposta por ter o agente confessado espontaneamente, perante a
autoridade, a autoria do crime”.

Contudo, é de se trilhar pela ocorrência da confissão espontânea com o seu


reconhecimento quando da dosimetria da pena, devendo ser considerada como
atenuante máxima e, no concurso com as agravantes, prevalecer sobre elas, na 2ª
(segunda) fase de aplicação da reprimenda penal diante de uma possível condenação.

Do crime de roubo – Art. 157 do CP


No que diz respeito ao crime de roubo, a denúncia informa que o
imputado, mediante grave ameaça subtraiu para si um par de alianças e uma mala de
viagens pertencentes à vítima Sandra de Souza Magalhães e seu marido.

Ressalte-se que não houve indiciamento por esse delito, bem como
não há nos autos qualquer prova da apreensão e devolução da res furtiva
indicada.

O direito penal hodierno exige, para a configuração íntegra da existência


do crime em seu aspecto analítico, em sua concepção estratificada, a ocorrência da
Tipicidade Conglobante. Por sua vez, esta exige a confluência da Tipicidade Formal
(adequação do fato ao preceito primário da norma penal incriminadora) e a Tipicidade
Material (ocorrência de dano efetivo ao bem jurídico tutelado pela norma penal).

Na presente ação penal não restou configurada a Tipicidade Material, vez


que inexistente o dano ao patrimônio da suposta vítima; o que faz afastar a ingerência
do Direito Penal como ramo do direito a tutelar o bem jurídico “propriedade”, porquanto
não houve afetação direta a este.

6
CARVALHO, Salo de. Delação Premiada e Confissão: Filtros Constitucionais e Adequação Sistemática, p.
241, disponível em www.esmal.tjal.jus.br.
De se ver que o crime previsto no Art. 157 do Código Penal é complexo, ou
seja, há a proteção de dois bens jurídicos, a saber, o patrimônio e a integridade física. No
caso sob apreço, houve apenas a perpetração, por parte do denunciado, de ameaça e/ou
constrangimento ilegal, porquanto o bem jurídico “patrimônio” não foi efetivamente
ofendido, já que a suposta vítima não experimentou qualquer prejuízo material.

Nesta seara, se perfaz atual e correta à lição de EUGENIO RAÚL


ZAFFARONI e JOSÉ HENRIQUE PIERANGELI, em sua excelente obra Manual de Direito
Penal Brasileiro, ed. RT, p. 467 – dissertando sobre bem jurídico, afirmam com precisão
que “todos os bens jurídicos poderiam ser reduzidos a um único: a
disponibilidade” e que “no sentido de disponibilidade como uso, a vida é o mais
disponível dos bens jurídicos, porque costumamos consumi-la a cada momento a
nosso bel-prazer, mas ao decidir sobre ela freqüentemente somos premiados e
condecorados por arriscá-la”.

Concluem os citados autores que “bem jurídico penalmente tutelado é a


relação de disponibilidade de um indivíduo com um objeto, protegido pelo Estado
que revela seu interesse mediante a tipificação penal de condutas que o afetam”.
Assim, avalizado pelas precisas colocações dos supramencionados juristas, reafirmo o
entendimento de que é realmente possível a incidência do princípio de insignificância
mesmo nos crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, porque o juízo de
tipicidade material não passa pela análise do comportamento da vítima, ou seja, seu
dissenso ou contrariedade à ação do agente e, sim, em um juízo de lesividade da conduta
– nullum crimen sine iniuria (não há crime sem ofensa – princípio da ofensividade).

Todavia, reconheço e aqui se constitui que, em se tratando de violência


moral, possível hipótese dos autos, difícil se torna aquilatar a insignificância da conduta,
principalmente porque o resultado é basicamente psicológico, ou seja, o temor sofrido
pela vítima frente à ameaça do criminoso. Resulta do exposto que efetivamente não se
pode falar em lesão insignificante à integridade física e corporal da vítima, porquanto
não há nos autos elementos necessários para medir quantidade de temor sofrida com a
conduta do apelante.

Noutro viés, como já afirmado, o delito de roubo é espécie de crime


complexo, porquanto a conduta descrita no tipo penal do Art. 157 ofende mais de um
bem jurídico, ou seja, o patrimônio e também a pessoa. Lógica a conclusão de que, sob o
prisma da tipicidade material, a lesividade da conduta para se adequar ao tipo penal
deste delito deve abranger necessariamente os dois valores protegidos pela norma.
Equivale dizer: para que se possa falar em tipicidade no delito de roubo é imprescindível
significativa lesão ao patrimônio e à pessoa, cumulativamente.

Segundo o entendimento doutrinário de CÉSAR ROBERTO


BITTENCOURT no Manual de Direito Penal – Parte Geral – Ed. Revistas dos Tribunais 4ª
ed. p.45: “A tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos bens
jurídicos protegidos, pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens ou interesses
é suficiente para configurar o injusto típico”.

Pelo expendido, tenho que, pela não ocorrência de dano efetivo ao bem
jurídico tutelado pela norma penal, qual seja: patrimônio da vítima; rogamos com lastro
na ausência de lesividade da conduta, pela absolvição do réu quanto ao crime de roubo,
por não haver ofensa relevante ao patrimônio dos ofendidos, o que determina a
descaracterização do crime complexo de roubo.

Do crime de sequestro – Art. 148, inciso V do CP


Sequestro é crime contra a liberdade individual, onde a intenção do agente
é privar a vítima de sua liberdade, sem visar à vantagem econômica (patrimonial), mas
obtendo vantagem moral.

Nesse prisma, o sequestro é punível a título de dolo, como no caso em tela,


sendo configurado o crime de roubo e/ou estupro, a modalidade de privação da
liberdade individual, deve ser aquilatada como meio de execução para outra infração.
Assim, a jurisprudência tem firmado entendimento:
O elemento subjetivo do sequestro é a vontade
consciente dirigida à restrição da liberdade alheia.
Deixa, portanto, de ser crime contra a liberdade
pessoal quando constitui meio ou elemento de outra
infração. (TJSP – Ap. – Rel. Des. Hoeppner Dutra – RT
488/318).

O elemento do sequestro ou cárcere privado é a


vontade consciente dirigida à legítima privação ou
restrição de liberdade alheia. E mais: tal como se dá
com o constrangimento ilegal e a ameaça, o crime
em questão, quando constitui meio ou elemento de
outro crime, perde a sua autonomia e é absolvido
por este. (TJSP – Ap. – Rel. Des. Djalma Lofrano –
RJTJSP 33/284).

Sequestro – Cárcere privado – Inaplicabilidade do


Art. 148 do CP – Ocorrência – Agente que privou a
vítima de sua liberdade de locomoção com o intuito
de assistir-lhe o desnudamento – Caracterização –
Crime-meio – Conduta que sobreveio como meio de
execução de outro crime (Constrangimento ilegal) –
Recurso parcialmente provido para absolver o
apelante. (TJSP – Ap. 115752 – Órgão Julgador: 2ª
Câmara Criminal – Rel. Des. Canguçu de Almeida).

Se a privação momentânea da liberdade da vítima


do roubo faz parte da própria violência tipificadora
desse delito, não há se falar também em sequestro,
pois ocorreria, então, um bis in idem evitado,
adotando-se o princípio da consunção. (TJSP – Ap.
Rel. Des. Camargo Sampaio – RT 499/314).

Data máxima vênia, o agente ministerial ao ofertar sua denúncia, não


impõe respeito ao princípio da consunção. Pelo princípio da consunção ou da absorção, a
norma definidora de um crime constitui meio necessário ou fase normal de preparação
ou execução de outro crime, ou seja, há consunção quando o fato previsto em
determinada norma é compreendido em outra, mais abrangente, aplicando-se somente
esta, como amplamente explanado na jurisprudência acima citada.

Por fim, consolidado no princípio alegado, sustentamos o sequestro como


meio ou elemento para a consumação dos delitos de estupro e/ou roubo, acaso sejam
comprovados.

DA PRODUÇÃO DE PROVAS
Visando apurar os fatos articulados na denúncia e participar de forma
concreta e efetiva no convencimento do magistrado com a finalidade de obter uma
prestação jurisdicional favorável, a defesa, desde já, suplica a produção de todos os
meios de prova em direito admitidos, especialmente, testemunhal, documental e
pericial.

DOS PEDIDOS
Postas tais considerações e por entendê-las prevalecentes sobre as razões
que justificaram o pedido de condenação despendido pelo preclaro órgão de execução
do Ministério Público, pugna a defesa:

(i) preliminarmente, pela rejeição da denúncia por faltar condição para o exercício da
ação penal no que concerne ao crime de estupro, conforme disposição do Art. 395, II, do
Código de Processo Penal, qual seja: representação da vítima;

(ii) preliminarmente, seja extinta punibilidade do réu com supedâneo no Art. 107, IV
(decadência) do CP, quanto ao crime de estupro c/c o Art. 397, IV do CPP;

(iii) quanto ao crime estampado no Art. 306 do CTB, seja considerada a confissão do
acusado na dosimetria da pena;
(iv) que Vossa Excelência reconheça a ausência da tipicidade material na suposta
conduta do delito de roubo para absolver o réu, com base no Art. 386 I, II e VII c/c o Art.
397, III do CPP;

(v) na imputação de sequestro, que seja reconhecida a incidência do princípio da


consunção, acaso reste comprovado os crimes de roubo e/ou estupro, impedindo
condenação própria atinente ao ilícito abordado.

(vi) seja deferido o comparecimento espontâneo de testemunhas defensivas, embora


sejam conceituais.

Termos em que pede e espera deferimento.

Maceió/AL, 10 de junho de 2016

VICTOR CAVALCANTE NASCIMENTO JÚNIOR


OAB/AL nº 7.757

ROL DE TESTEMUNHAS:
01. IVAN ANDERSON BARBOSA CHGAS, qualificado às fls. nº 32;
02. SÍLVIO SOUTEBAN ALBUQUERQUE MARANHÃO, qualificado às fls. nº 34;
03. MARIDO DE SANDRA DE SOUZA MAGALHÃES, endereço para localização às fls. nº
35.

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