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NORTE – ALAGOAS
DOS FATOS
Ínclito magistrado, consta na denúncia de fls. nº 91/93 que no dia 28 de
março do ano em curso, por volta das 00hrs50min, Ancelmo Correia da Silva conduzindo
veículo automotor em estado de embriaguez alcoólica, seqüestrou e constrangeu Sandra
de Souza Magalhães, mediante grave ameaça, a com ele manter conjunção carnal e
subtraiu para si uma aliança e uma mala de viagens pertencentes a essa mesma vítima.
DO DIREITO
Compulsando os autos verifico tratar-se de imputação delitiva em desfavor
do acusado Ancelmo Correia da Silva, pela suposta prática dos seguintes crimes: estupro,
roubo, seqüestro e embriaguez ao volante.
Preliminarmente
É bem sabido por todos que militam na seara criminal que o Art. 225 do
CP, tipifica que:
Art. 225. CP. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II
deste Título, procede-se mediante ação penal
pública condicionada à representação.
Assim, entendemos como regra que a ação penal será de iniciativa pública
condicionada à representação do ofendido nos crimes contra a liberdade sexual, a
exemplo do estupro em testilha.
1
NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual. 4ª edição. Revista, ampliada e atualizada,
Revista dos Tribunais, 2013.
STJ. Revogação da Súmula 608. O advento da Lei
12.015/2009, que alterou a redação do Art. 225 do
Código Penal, os delitos de estupro e de atentado
violento ao pudor, mesmo com violência real
(hipótese da Súmula 608/STF) ou com resultado
lesão corporal grave ou morte (antes definidos no
Art. 223 do Código Penal e hoje definidos no Art.
213, §§ 1º e 2º), passaram a se proceder mediante
ação penal pública condicionada à representação,
nos termos da nova redação do Art. 225 do Código
Penal, com exceção apenas para os casos de vítima
menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável
(parágrafo único do Art. 225 do Código Penal). Se a
lei nova se apresenta mais favorável ao réu nos
casos de estupro qualificado, o mesmo deve ocorrer
com as hipóteses de violência real, isto é, para as
ações penais públicas incondicionadas nos termos
da Súmula 608/STF, segundo a qual, “no crime de
estupro, praticado mediante violência real, a ação
penal é pública incondicionada”. Tais ações penais
deveriam ser suspensas para que as vítimas
manifestassem desejo de representar contra o réu”
(Resp 1227746/RS, 5ª T, rel. Gilson Dipp,
02.08.2011).
Noutro giro, como a peça exordial acusatória foi recebida por este Juízo em
11.04.2016, conforme faz prova às fls. nº 94 e por se passarem mais de 30 (trinta) dias,
com arrimo na lição de RÔMULO DE ANDRADE MOREIRA pugnamos pela extinção da
punibilidade à respeito do crime de estupro, com fincas no Art. 107, IV (decadência), do
Código Penal Brasileiro.
2
MOREIRA, Rômulo de Andrade. Ação penal nos crimes contra a liberdade sexual e nos delitos sexuais contra
vulnerável – a lei nº 12.015/09. Disponível em
http://www.migalhas.com.br/mostra_noticia_articuladas.aspx?cod=91630. Acesso em 09.06.2016
Preliminarmente era o que tinha a expor. Adentraremos aos demais
crimes imputados na denúncia.
3
SANTOS, Juarez Cirino. Direito Penal: Parte Geral. 2ª ed. Curitiba: ICPC; Lumen Juris, 2007, p. 587
4
MALATESTA, Nicola Framarino Dei. A lógica das provas em matéria criminal, v. II. Tradução: Waleska
Girotto Silverber. São Paulo: CONAN, 1995, p. 153.
5
CARRARA. Francesco. Programa do Curso de Direito Criminal: Parte Geral, v. II. Tradução: José Luiz A.
Franceschini e J. R. Prestes Barra. São Paulo: Saraiva 1957, p. 431.
A revelação legítima, prestada espontaneamente, Art. 65, inciso III, alínea
“d” do CP, na lição de SALO DE CARVALHO6 “opera como atenuante obrigatória da pena
judicialmente imposta por ter o agente confessado espontaneamente, perante a
autoridade, a autoria do crime”.
Ressalte-se que não houve indiciamento por esse delito, bem como
não há nos autos qualquer prova da apreensão e devolução da res furtiva
indicada.
6
CARVALHO, Salo de. Delação Premiada e Confissão: Filtros Constitucionais e Adequação Sistemática, p.
241, disponível em www.esmal.tjal.jus.br.
De se ver que o crime previsto no Art. 157 do Código Penal é complexo, ou
seja, há a proteção de dois bens jurídicos, a saber, o patrimônio e a integridade física. No
caso sob apreço, houve apenas a perpetração, por parte do denunciado, de ameaça e/ou
constrangimento ilegal, porquanto o bem jurídico “patrimônio” não foi efetivamente
ofendido, já que a suposta vítima não experimentou qualquer prejuízo material.
Pelo expendido, tenho que, pela não ocorrência de dano efetivo ao bem
jurídico tutelado pela norma penal, qual seja: patrimônio da vítima; rogamos com lastro
na ausência de lesividade da conduta, pela absolvição do réu quanto ao crime de roubo,
por não haver ofensa relevante ao patrimônio dos ofendidos, o que determina a
descaracterização do crime complexo de roubo.
DA PRODUÇÃO DE PROVAS
Visando apurar os fatos articulados na denúncia e participar de forma
concreta e efetiva no convencimento do magistrado com a finalidade de obter uma
prestação jurisdicional favorável, a defesa, desde já, suplica a produção de todos os
meios de prova em direito admitidos, especialmente, testemunhal, documental e
pericial.
DOS PEDIDOS
Postas tais considerações e por entendê-las prevalecentes sobre as razões
que justificaram o pedido de condenação despendido pelo preclaro órgão de execução
do Ministério Público, pugna a defesa:
(i) preliminarmente, pela rejeição da denúncia por faltar condição para o exercício da
ação penal no que concerne ao crime de estupro, conforme disposição do Art. 395, II, do
Código de Processo Penal, qual seja: representação da vítima;
(ii) preliminarmente, seja extinta punibilidade do réu com supedâneo no Art. 107, IV
(decadência) do CP, quanto ao crime de estupro c/c o Art. 397, IV do CPP;
(iii) quanto ao crime estampado no Art. 306 do CTB, seja considerada a confissão do
acusado na dosimetria da pena;
(iv) que Vossa Excelência reconheça a ausência da tipicidade material na suposta
conduta do delito de roubo para absolver o réu, com base no Art. 386 I, II e VII c/c o Art.
397, III do CPP;
ROL DE TESTEMUNHAS:
01. IVAN ANDERSON BARBOSA CHGAS, qualificado às fls. nº 32;
02. SÍLVIO SOUTEBAN ALBUQUERQUE MARANHÃO, qualificado às fls. nº 34;
03. MARIDO DE SANDRA DE SOUZA MAGALHÃES, endereço para localização às fls. nº
35.