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Apostila
São Cristóvão,
2017
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I - Tema Central: Aminoácidos e Peptídeos.
II - Duração: 4 horas/aulas
IV - Meta:
Introduzir o estudo do conhecimento das estruturas e das propriedades químicas dos
aminoácidos e peptídeos.
V Objetivos específicos
1. Introdução.
2. Estrutura geral e nomenclatura dos aminoácidos.
3. Os aminoácidos são moléculas dipolares.
4. Classificação dos aminoácidos.
4.1 Baseada na polaridade da cadeia lateral.
4.2 Baseada nas suas necessidades na alimentação.
5. Aminoácidos especiais.
6. Estereoquímica dos aminoácidos
7. Peptídeos
7.1 Peptídeos de importância biológica
VII Pré-requisito:
Para acompanhar esta aula você deverá estudar ou rever conceitos de química abordados nas aulas
Introdução à Bioquímica e a Química da Água.
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Capítulo 3
1. Introdução
Os aminoácidos são moléculas orgânicas formadas por um grupo amino (-NH2), uma carboxila
(COOH), um átomo de hidrogênio (H) e uma cadeia lateral (grupo R) ligados ao carbono alfa. São os
blocos constitutivos de peptídeos e proteínas e apresentam diversas funções biológicas (figura 1) tais
como:
São as unidades estruturais das proteínas e peptídeos;
São componentes estruturais dos glicerofosfolipídios, uma das classes de lipídios das
membranas biológicas, como o aminoácido serina, grupo polar da fosfatidilserina;
Precursores na síntese de moléculas. Alguns aminoácidos são precursores na síntese de
moléculas complexas contendo nitrogênio. Exemplos incluem as bases nitrogenadas
componentes dos nucleotídeos e ácidos nucléicos, o heme (grupo orgânico contendo ferro) e
clorofila (pigmento de importância crítica na fotossíntese).
Fonte de grupos metila (-CH3) em reações de metilação. S-Adenosilmetionina, um derivado
da metionina, transfere grupos metilas em reações de metilação.
São componentes de coenzimas. O aminoácido -alanina que é encontrada na coenzima A.
Intermediários metabólicos. Vários aminoácidos atuam como intermediários metabólicos como
arginina, citrulina e ornitina componentes do ciclo da uréia. A síntese da uréia, uma molécula
formada no fígado, é o principal mecanismo de excreção do excesso de nitrogênio proveniente
do catabolismo dos aminoácidos.
Neurotransmissores. Alguns aminoácidos ou seus derivados atuam como mensageiros químicos
entre as células. Por exemplo, glicina, glutamato, arginina, ácido γ-aminobutírico (GABA, um
derivado do glutamato) e triptofano são neurotransmissores, substâncias liberadas de uma célula
nervosa e que influenciam outras células vizinhas (nervosas ou musculares). O gaba é sintetizado
a partir da descarboxilação do glutamato, por ação da enzima glutamato descarboxilase. Consiste
no principal neurotransmissor inibitório do Sistema Nervoso Central, mediando as ações
inibidoras dos interneurônios locais no cérebro, podendo mediar a inibição pré-sináptica dentro
da medula espinhal. Também atua dentro do córtex cerebral e entre o núcleo caudado e a
substância negra.
Precursores de hormônios. A tiroxina (um derivado da tirosina produzida pela glândula
tireóide) e o ácido indolacético (um derivado do triptofano e encontrado nas plantas) são
exemplos de hormônios.
Todos os 20 aminoácidos encontrados nas proteínas são -aminoácidos. Eles são formados por
um grupo amino (NH2), um grupo carboxila (COOH), um átomo de hidrogênio (H) e uma cadeia lateral
(radical ou grupo R), ligados a um átomo de carbono denominado carbono α. Os aminoácidos diferem
entre si apenas na natureza do grupo químico das suas cadeias laterais (figuras 2a e 2b). Os aminoácidos
em pH 7,0 são encontrados na forma ionizada, isto é, o grupo carboxila com carga negativa e o grupo
amino com carga positiva. Essa forma apresenta tanto um grupo ácido ( +NH3), como um grupo básico
(COO-), sendo denominada íon dipolar, zwitterion ou íon híbrido (figura 2b). Formas que apresentam
grupos ácidos e básicos nas suas estruturas são denominadas anfólitos.
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a) COOH b) -
COO
H2N C H +
H3 N C H
R R
Figura 2: a) Estrutura geral dos aminoácidos. Esta estrutura é comum a todos os -aminoácidos das
proteínas, exceto a prolina, um aminoácido cíclico. O grupo R, ou cadeia lateral ligada ao carbono é
diferente em cada um dos aminoácidos b) zwitterion ou íon híbrido, forma ionizada do aminoácido em
pH 7,0 ou ambiente aquoso.
Figura 3. Numeração orgânica dos carbonos dos aminioácidos que utilizam tantos numerais
quanto letras gregas. O carbono α de todos os aminoácidos é o carbono 2.
Fonte: Nelson e Cox, 2002.
Figura 4. Diferenças entre os pesos moleculares (PM) e os pontos de fusão (pf) do aminoácido
alanina e do ácido propiônico.
Os aminoácidos são mantidos unidos em uma estrutura cristalina por interações iônicas e essas
forças relativamente fortes contribuem para suas elevadas temperaturas de fusão e de ebulição. Grupos
químicos eletricamente carregados também são responsáveis pela condutividade elétrica em soluções
aquosas (os aminoácidos são eletrólitos), sua solubilidade em água relativamente alta e o momento
dipolar associado grande material cristalino. Consequentemente os aminoácidos são representados
melhores como moléculas carregadas que se cristalizam a partir de soluções contendo íons dipolares.
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Esses íons dipolares são chamados Zwitterion (figuras 2b e 4). Um zwitterion pode agir tanto como um
ácido (doador de prótons) ou como uma base (receptor de prótons). As substâncias que exibem esta dupla
natureza são ditas anfóteras ou anfólitos. Um -aminoácido simples monocarboxílico (apresentando
apena um grupo carboxila – COOH) como a alanina, é na realidade um ácido diprótico, quando está
totalmente protonado - apresenta dois grupos protonados, o grupo -COOH e o grupo -NH3 + , que podem
se ionizar para liberar prótons (figura 5).
Os aminoácidos são denominados com nomes comuns de acordo com três critérios, a saber: 1)
a fonte a partir da qual eles foram, pela primeira vez, obtidos na forma pura, como a tirosina, (tyros, do
grego, que significa queijo) nomeada assim por ter sido obtida do queijo. A asparagina, por que foi obtida
do aspargo; 2) uma característica química do aminoácido, como por exemplo a fenilalanina, denominada
assim por apresentar um grupo fenil ligado ao aminoácido alanina e 3) uma propriedade do aminoácido,
como por exemplo a glicina, que recebe esse nome, por ter o sabor doce, lembrando os glicídios
(açúcares).
A maioria dos aminoácidos tem seus nomes terminados com o sufixo “ina”, como: prolina,
glicina, alanina asparagina, etc. Outros têm nomes terminados em “ano”, como o triptofano e em “ico”,
como o ácido aspártico e o ácido glutâmico. O ácido aspártico e o ácido glutâmico em suas formas
ionizadas, apresentam carga líqüida negativa, são nomeados aspartato e glutamato, respectivamente, uma
vez que a terminação “ato” é usada para designar os ácidos carregados negativamente.
A tabela 1 lista os 20 aminoácidos padrões, acompanhados das abreviaturas de uma e de três
letras. Essas abreviaturas são utilizadas para descrever de forma prática a seqüência de aminoácidos de
proteínas. A regra seguida na abreviatura de três letras da maioria dos aminoácidos consiste em escrever
as três primeiras letras iniciais do seu nome em inglês. A abreviatura de uma letra é usada em textos
científicos quando se quer comparar as seqüências de aminoácidos de diversas proteínas. Essa abreviatura
é feita, para a maior parte dos aminoácidos, usando a primeira letra do nome do aminoácido
correspondente. Alguns têm símbolos que não têm nenhuma relação com os seus nomes, como por
exemplo, o triptofano e a lisina, que são representados por W e K, respectivamente. Como já existem dois
aminoácidos representados pelas letras L, leucina e T, treonina, convencionou-se representar a lisina com
a letra K e o triptofano com a letra W.
Tabela 1: Nome e Abreviatura dos Aminoácidos
Aminoácido Abreviatura de três letras Abreviatura de uma letra
Alanina Ala A
Arginina Arg R
Asparagina Asn N
Ácido aspártico Asp D
Ácido glutâmico Glu E
Cisteína Cys C
Glicina Gly G
Glutamina Gln Q
Histidina His H
Isoleucina Ile I
Leucina Leu L
Lisina Lys K
Metionina Met M
Fenilalanina Phe F
Prolina Pro P
Serina Ser S
Tirosina Tyr Y
Treonina Thr T
Triptofano Trp W
Valina Val V
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4. Classificação dos aminoácidos quanto à polaridade da cadeia lateral (R)
Os aminoácidos são classificados de acordo com a polaridade da sua cadeia lateral em apolares
(ou hidrofóbicos), polar neutro (ou hidrofílico), polar com carga negativa (ou ácidos) e polar com carga
positiva (ou básicos). A polaridade é a capacidade de um grupo químico se solubilizar em água por
interagir com ela por pontes de hidrogênio ou por formação de uma camada de solvatação ou hidratação.
Como os aminoácidos apolares só apresentam hidrocarboneto em sua cadeia lateral, não são solúveis em
água. Os aminoácidos polares, por apresentar grupos OH, SH, NH e C=O, são solúveis em água. Os
aminoácidos polares solubilizam-se na água, através da formação de pontes de hidrogênio Os
aminoácidos básicos apresentam carga líquida positiva no pH 7,0, enquanto os aminoácidos ácidos
apresentam carga líquida negativa no pH 7,0, permitindo a esses aminoácidos formarem uma camada de
hidratação, quando adicionados à água, portanto, hidrofílicos.
4.1 Aminoácidos apolares ou hidrofóbicos. Os grupos R nesta classe de aminoácidos são
apolares ou hidrofóbicos (figura 6). São formados em sua maioria por grupos hidrocarbonetos ou átomos
com valores de eletronegatividade próximos do carbono e hidrogênio, quais sejam: alanina, valina,
leucina, isoleucina, metionina, fenilalanina, glicina e prolina. Dentre eles, temos aminoácidos com
gupos R volumosos: alanina, valina, leucina e isoleucina. Esses aminoácios volumosos tem formas
características que são importantes na estabilização da estrutura das proteínas pela promoção de
interações hidrofóbicas em seu interior, como também em alguns casos causam impedimento estérico, ou
seja, impedimento esse devido à proximidade desses grupos químicos grandes numa cadeia polipeptídica.
Valina, leucina e isoleucina são aminoácidos de cadeia lateral ramificada. O grupo amino secundário
(imino) dos resíduos de Pro por fazer ligação covalente com o CH3 de sua cadeia lateral, formando um
anel ciclo do tipo imino, daí a prolina ser considerada um iminoácido. Esse anel é mantido numa
configuração rígida, que leva a uma redução na flexibilidade estrutural de regiões polipeptídicas contendo
prolina.
Figura 6. Aminoácidos apolares ou hidrofóbicos apresentam em sua cadeia lateral (R) hidrocarbonetos ou
átomos com baixo valor de eletronegatividade.
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Figura 7. Aminoácidos polares. Os aminoácidos polares apresentam em sua cadeia lateral grupos
químicos que interagem com a água por pontes de hidrogênio.
4.3 Aminoácidos polares básicos (com carga líquida positiva) no pH 7,0. Os aminoácidos
cujos grupos R apresentam carga positiva líquida em pH 7,0 são denominados aminoácidos básicos.
Dessa classe fazem parte lisina, arginina e histidina.
Lisina. É um aminoácido essencial e tem como caaracterítica que o diferencie dos outros
aminoácidos básicos um segundo grupo amino protonado na posição (ou carbono 6) da sua cadeia
alifática.
Arginina tem um grupo carregado positivamente (o grupo guanidino). A arginina, um
aminoácido semi essencial. É também um precursor de óxido nítrico, em que seu grupo guanidino sofre
reação química em presença da óxido nítrico sintase 2 (NOS 2), produzindo o óxido nítrico, que dentre
suas inumeráveis funções, atua como vasodilatador, relaxante muscular, agente antimicrobiano, entre
outras.
Histidina contém um grupo imidazol, sendo o único aminoácido primário que possui uma
cadeia lateral com um pKa próximo da neutralidade. Em muitas reações catalisadas por enzimas, um
resíduo de histidina facilita a reação ao servir como um doador ou aceptor de prótons (figura 8).
Destacamos ainda que as histonas são nucleoproteínas, ricas em aminoácidos básicos arginina
e lisina. As histonas não contem histina. A importância desses aminoácidos nas histonas é que suas cargas
positivas permitem a ligação de histonas com os grupos fosfatos do DNA, carregados negativamente. As
histonas são proteínas fundamentais no empacotamento do DNA.
4.4 Aminoácidos polares ácidos (com carga líquida negativa) no pH 7,0. Os aminoácidos
ácidos aspartato e glutamato apresentam grupos R com carga líquida negativa em pH 7,0; cada um
deles possui na cadeia lateral um segundo grupo carboxila (COOH) ionizado (COO -) em pH 7,0 (figura
8).
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Figura 8. Aminoácidos ácidos e básicos. Os aminoácidos ácidos glutamato e aspartato apresentam carga
líquida negativa no pH 7,0, enquanto os aminoácidos básicos arginina, histidina e lisina apresentam carga
líquida positiva. Fonte: Nelson e Cox, 2002.
5. Aminoácidos aromáticos
Os aminoácidos que apresentam em sua cadeia lateral um grupo fenil são denominados
aminoácidos aromáticos, que são tirosina, triptofano e fenilalanina (figura 9). Os aminoácidos
fenilalanina e triptofano com suas cadeias laterais aromáticas são apolares (hidrofóbicos), enquanto a
tirosina é polar (hidrofílico). O grupo hidroxila da tirosina pode formar pontes de hidrogênio e por isso
atua como um grupo funcional importante na atividade de algumas enzimas. O triptofano é
significativamente mais polar do que a fenilalanina devido ao seu nitrogênio do anel indol.
Os aminoácidos triptofano e tirosina promovem a absorção de luz na região ultravioleta (200 a
300nm) do espectro. Este fato é o responsável pela forte e característica absorbância da luz pelas
proteínas no comprimento de onda de 280nm e é uma propriedade muito explorada pelos pesquisadores
tanto na caracterização quanto na quantificação de proteínas em líquidos.
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Tabela 2: Aminoácidos essenciais e não-essenciais
Figura 10. Formação de cistina a partir da oxidação de duas moléculas de cisteína. Duas cisteínas são
oxidadas no grupo sulfidrila (SH) formando uma ligação covalente denominada ligação dissulfeto (S-S)
Fonte: Nelson e Cox, 2002.
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Figura 11. Estruturas químicas dos aminoácidos derivados ou especiais.
Fonte: Nelson e Cox, 2002.
7.1 Aminoácidos não protéicos ou metabólitos. Cerca de 300 aminoácidos adicionais foram
encontrados nas células apresentando uma gama ampla de funções biológica. Esses aminoácidos não
entram na formação da estrutura protéica. A ornitina e a citrulina (Figura 12) merecem uma nota
especial, porque são intermediárias importantes na biossíntese da arginina e no ciclo da uréia, sendo,
portanto metabólitos, substâncias que atuam numa via metabólica.
Figura 12. Estruturas dos aminoácidos metabólicos (metabólitos) ornitina e citrulina, envolvidos na
síntese de arginina e no ciclo da uréia. Fonte: Nelson e Cox, 2002.
8. Estereoquímica dos aminoácidos
C OO H COOH
H 2N C H H 2N C H
H CH3
G licin a Ala n in a
(m olé cu la s im é trica ) (m olé cu la a s s im é trica )
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Figura 13. Estruturas dos aminoácidos glicina e alanina.
Figura 14 - Isômeros ópticos. Os isômeros ópticos são imagens especulares não superpostas.
Fonte: Nelson e Cox, 2002.
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Figura 15. Determinação da configuração absoluta dos aminoácidos em relação ao D e L gliceraldeído.
Nessas fórmulas em perspectiva, os carbonos são alinhados verticalmente, com o átomo quiral no centro.
Os carbonos nessas moléculas são numerados iniciando-se pelo grupo aldeído (do gliceraldeído) ou a
carboxila de uma extremidade (do aminoácido alanina) de 1 a 3 de cima para baixo, conforme mostrado.
Quando apresentado desta forma, o grupo R do aminoácido (neste caso, o grupo metila da alanina) está
sempre abaixo do carbono . Os L-aminoácidos apresentam o -aminogrupo à esquerda e os D-
aminoácidos à direita.
Convém destacar que as letras maiúsculas D e L que antecedem os nomes dos aminoácidos não
se referem ao desvio da luz plano polarizada, mas, à configuração absoluta dessas moléculas. Portanto,
deve ser evitado o freqüente equívoco de fazer associação entre essas letras e o desvio da luz plano
polarizada. Para se referir ao desvio da luz plano polarizada são utilizados os símbolos (+), para
dextrorrotatório e (-) para levorrotatório, escritos após as letras D e L, seguido do nome do aminoácido.
Por exemplo, aminoácido L (-) serina, apresenta configuração absoluta L e é levorrotatório, enquanto L
(+) serina, apresenta configuração absoluta L e é dextrorrotatório.
A configuração das moléculas enquanto estruturas assimétricas é explicada por duas razões
principais:
1. A enorme diversidade de formas percebidas na natureza somente poderia ser possível com
moléculas assimétricas. Se as biomoléculas fossem simétricas, teríamos um mundo pobre em formas,
previsível e monótono, enfim, sem a riqueza da diversidade observada na biosfera.
2. As moléculas que entram na composição da matéria viva, na sua grande maioria, não estão
isoladas no ambiente celular. Elas interagem entre si e essa interação ocorre com o encaixe de uma
molécula com uma outra através da complementaridade de suas formas. A forma da molécula é
determinada por sua estrutura assimétrica e tal configuração é que possibilita a relação de
complementaridade que existe entre elas.
A maioria dos aminoácidos encontrados em proteínas apresenta configuração absoluta L (com
exceção da glicina), e isto, pode ser, em parte, explicado pela propriedade estereospecífica das enzimas,
denominada estereoespecificidade. A estereoespecificidade é uma propriedade cognitiva, que permite
às moléculas reconhecer outras moléculas de acordo com as suas formas. Assim, uma proteína como uma
enzima pode distinguir entre duas moléculas bastante semelhantes como os D- e L- aminoácidos.
As enzimas são as unidades funcionais do metabolismo, catalisando reações de síntese ou de
quebra de moléculas na célula. Então, como a estrutura do sítio ativo das enzimas é formada por
aminoácidos assimétricos, ela tem uma informação que faz com que sintetizem apenas os aminoácidos
com configuração L. Outra explicação para a configuração absoluta dos aminoácidos ser da série L, é que,
se a formação das estruturas protéicas ocorresse com misturas de D e L aminoácidos, haveria uma ruptura
da sua estrutura regular. Um dos princípios gerais observados na organização das biomoléculas é de que
as suas subunidades apresentam a mesma orientação espacial e de serem complexas e organizadas,
portanto, desordem no plano molecular não é compatível com a vida.
Os aminoácidos com configuração absoluta D não são encontrados em proteínas, mas são
comuns em certos peptídeos bacterianos, tomando parte da parede celular. Os D-aminoácidos são
produzidos a partir de modificação enzimática sofrida pelos L-aminoácidos. Os D-aminoácidos na parede
celular bacteriana conferem a essa estrutura uma resistência aumentada à ação das enzimas hidrolíticas,
porque esses aminoácidos não são substratos das peptidases, enzimas que clivam peptídeos.
9. Peptídeos
Os peptídeos são cadeias pequenas de aminoácidos, que podem ser formados pela reação dos
aminoácidos, ou pela hidrólise de proteínas. O grupo carboxila (-COOH) de um aminoácido reage com o
grupo amino (-NH2) de outro aminoácido, produzindo uma ligação covalente denominada ligação
peptídica (figura 16). Uma unidade de aminoácido na cadeia polipeptídica é denominado resíduo devido
à perda de uma hidroxila pelo grupo carboxila de um aminoácido e a eliminação de um átomo de
hidrogênio pelo grupo amino.
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Figura 16. Formação de um peptídeo. O grupo carboxila (COOH) de um aminoácido reage com um grupo
amino (NH2) de outro aminoácido, com eliminação de H2O, produzindo uma ligação covalente
denominada ligação peptídica. Fonte: Nelson e Cox, 2002.
Linus Pauling e Robert Corey trabalhando com di e tripeptídeos, através da técnica de difração
de raios X descreveram a configuração da ligação peptídica fazendo as seguintes conclusões:
• O comprimento da ligação covalente C-N da ligação peptídica é de cerca de 0,132 nm,
comprimento esse intermediário entre o da ligação simples (0,140nm) e dupla
(0,124nm).
• Os grupos químicos em torno da ligação peptídica (C-C-N-C) são coplanares;
• A disposição do oxigênio ligado ao carbono (C=O) é trans em relação ao hidrogênio
bem como os C1 e o C2 (figura 17);
• A ligação peptídica é rígida, ou seja, não há rotação entre os átomos de C-N. Esse
caráter parcial de dupla ligação da ligação peptídica impõe uma restrição à rotação em
torno da ligação C-N.
Figura 17. Configuração trans da ligação peptídica. O carbono da ligação peptídica é representado pela esfera preta
no centro da figura ligado ao oxigênio (esfera rosa), o nitrogênio pela esfera azul e o hidrogênio pela esfera cinza.
Esse caráter parcial de dupla ligação apresentado pela ligação peptídica, conferindo rigidez,
planaridade e um caráter polar ao esqueleto covalente se deve às formas de ressonância dessa ligação
(figura 18).
O -
O
+
C N C N
H
Figura 18 - Formas de ressonâncias da ligação peptídica
A extremidade de uma cadeia polipeptídica que contém o grupo amino corresponde ao primeiro
resíduo de aminoácido e a que contém o grupo carboxila corresponde ao último resíduo de aminoácido.
Os resíduos de aminoácidos na cadeia polipeptídica são nomeados por substituição do sufixo ina por il,
como serina, que passa a ser denominada seril e glicina de glicil. Aminoácidos como tirosina, são
nomeados apenas por substituição da letra a por il, portanto, tirosinil. O último aminoácido de uma cadeia
polipeptídica é nomeado sem qualquer alteração no seu nome. O peptídeo
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Ser•Gly•Ala•Val•Phe•Met•Ala formado por sete resíduos de aminoácidos (serina, glicina, valina,
fenilalanina, metionina e alanina) é nomeado serilglicilalanilvalilfenilalanilmetionilalanina.
Os peptídeos que apresentam até dez resíduos de aminoácidos, são nomeados utilizando os
prefixos di, tri, tetra, penta, hexa, hepta, octa, nona e deca ao nome peptídeo. O peptídeo formado por dois
aminoácidos é um dipeptídeo, por três, tripeptídeo, por quatro, tetrapeptídeo, por cinco, pentapeptídeo,
etc. Para os peptídeos que apresentam mais de dez resíduos de aminoácidos utilizamos os termos
oligopeptídeos ou polipeptídeos.
Os oligopeptídeos são cadeias pequenas de aminoácidos. Esse termo se aplica a peptídeos com
um número máximo de 20 resíduos de aminoácidos. Polipeptídio é um termo empregado par se referir a
peptídeos com mais de 20 resíduos de aminoácidos. Esse termo é empregado também como sinônimo de
proteína ou de uma cadeia de proteína. Alguns autores divergem na diferenciação de peptídeos de
proteínas. Segundo Lehninger, um polímero de aminoácidos é considerado uma proteína quando
apresentar uma cadeia com 100 unidades de aminoácidos. Para Devlin uma proteína deve conter uma
cadeia com um número mínimo de 70 aminoácidos e para Donald Voet, a partir de 40 aminoácidos.
9.5.1 A glutationa. A glutationa (GSH) é um tripeptídio que atua como agente redutor ou agente
antioxidante. É formado pelos aminoácidos glutamato, glicina e cisteína. O glutamato liga-se à cisteína
através de uma ligação peptídica incomum entre o grupo carboxila (COOH) da cadeia lateral (R) do
glutamato e o grupo α-amino (NH2) da cisteína (figuras 18a e 18b). O papel da GSH como agente
redutor é extremamente importante, particularmente no ambiente altamente oxidante do eritrócito. O
grupo sulfidrila (SH) do GSH pode ser utilizado para reduzir os peróxidos formados durante o transporte
de oxigênio. A forma oxidada resultante da GSH é composto por duas moléculas de GSH ligadas entre si
por ligação dissulfeto, abreviada GSSG (figura 18b). A enzima glutationa redutase utiliza NADPH como
cofator para reduzir GSSG de volta a duas moles de GSH. Assim, a via das pentoses fosfato é
extremamente importante para os eritrócitos produzirem NADPH, necessário pela glutationa redutase.
Nos eritrócitos o GSH mantém o estado ferroso (Fe2+) do grupo heme da hemoglobina, forma essa
essencial para o transporte de oxigênio. A forma férrica da hemoglobina (Fe 3+), também conhecida como
metemoglobina, não transporta oxigênio.
Figura 10. Estrutura do tripeptídeo glutationa em que se observa a ligação peptídica incomum entre a
COOH do grupo R do glutamato com o grupo alfa amino da cisteína, tanto na sua forma reduzida (a),
quanto na sua forma oxidada (b). São necessária duas moléculas de GSH para formar uma de GSSG.
A tabela 3 traz exemplos de alguns peptídeos com importantes atividades biológicas como os
dipeptídeos carnosina e anserina que atuam como tampões. Os tampões são misturas de ácidos e bases
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fracos que atuam no tamponamento do pH, ou seja, atuam evitando variações no valor de pH tanto para
valores ácidos como básicos. Esses dipeptídeos atuam tamponando o pH de células musculares.
a) Tyr•Gly•Gly•Phe•Met b) Tyr•Gly•Gly•Phe•Leu
Figura 19. Estruturas dos pentapeptídeos metionina-encefalina (a) e leucina-encefalina (b), ambos
peptídeos opiáceos que diferem apenas no aminoácido que está ligado a COOH terminal, que na
metionina encefalina é metionina e na leucina encefalina é leucina.
10. Resumo
Os aminoácidos são moléculas orgânicas formadas por um grupo carboxila, um grupo amino,
um átomo de hidrogênio e um radical ou cadeia lateral. São as unidades estruturais das proteínas e
peptídeos. Os 20 aminoácidos comumente encontrados na estrutura de proteínas são denominados
aminoácidos padrões ou primários. A maioria dos aminoácidos tem seus nomes terminados com o sufixo
“ina”, como: prolina, glicina, alanina asparagina, etc. Outros têm nomes terminados em “ano”, como o
triptofano e em “ico”, como o ácido aspártico e o ácido glutâmico. A maioria dos aminoácidos
encontrados em proteínas apresenta configuração absoluta L, excetuando-se a glicina que não tem
carbono assimétrico. Os aminoácidos são classificados de acordo com a polaridade da sua cadeia lateral
em apolar (hidrofóbico), polar neutro (hidrofílico), polar com carga negativa (ácido) e polar com carga
positiva (básico). A cadeia lateral dos aminoácidos apolares é formada por hidrocarbonetos ou átomos
com valores de eletronegatividade próximos do carbono e hidrogênio como alanina, valina, leucina,
fenilalanina, prolina, triptofano, metionina e isoleucina. Os aminoácidos polares ou polares neutros
apresentam grupos R solúveis em água como serina, treonina, cisteína, asparagina, tirosina, glutamina e
glicina. Os aminoácidos básicos apresentam grupos R com carga positiva líquida em pH 7,0 como lisina,
arginina e histidina e os ácidos têm grupos R com carga líquida negativa como aspartato e glutamato. Os
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aminoácidos essenciais não são produzidos nas células e devem ser obtidos da alimentação. Os
aminoácidos não essenciais são produzidos pelas células. Os aminoácidos derivados ou especiais são
formados a partir de modificações químicas sofridas por um dos 20 aminoácidos primários após a síntese
da cadeia polipeptídica. Os peptídeos são cadeias pequenas de aminoácidos, que podem ser formados pela
reação dos aminoácidos ou pela hidrólise de proteínas. O grupo carboxila de um aminoácido reage com o
grupo amino de outro aminoácido, produzindo uma ligação covalente denominada ligação peptídica. Os
peptídeos que apresentam até dez resíduos de aminoácidos, são nomeados empregando os prefixos di, tri,
tetra, penta, hexa, hepta, octa, nona e deca ao nome peptídeo. Para os peptídeos que apresentam mais
de dez resíduos de aminoácidos, utilizam-se os termos oligopeptídeos ou polipeptídios.
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11. Exercícios
1. Explique por que os aminoácidos sendo moléculas orgânicas podem formar sólidos cristalinos
branco, com elevados pontos de fusão e ebulição?
2. Como são classificados os aminoácidos de acordo com à sua polaridade?
3. O que são aminoácidos essenciais e não-essenciais? Exemplifique-os.
4. O que são aminoácidos especiais?
5. O que são aminoácidos neurotransmissores? Exemplifique-os
6. Explique o significado das letras D- e L- antes dos nomes de aminoácidos seguidas dos sinais
(+) e (-).
7. Como é definida a configuração absoluta de uma molécula orgânica?
8. Explique o motivo pelo qual glicina não poder apresentar isômeros ópticos nem configuração
absoluta L.
9. Por que a maioria dos aminoácidos encontrados em proteínas apresenta configuração (L-)?
10. Em que estruturas são encontrados aminoácidos com configuração D na natureza? Qual a
função biológica desses aminoácidos nessas estruturas?
11. Por que os peptídeos podem apresentar mistura de D e L-aminoácidos em suas estruturas
enquanto as proteínas são formadas apenas por aminoácidos de uma única série estereoisomérica?
12. Como podem ser formados os peptídeos e como eles são denominados?
13. Diferencie peptídeos de proteínas?
14. Exemplifique alguns peptídeos de ocorrência biológica.
15. Quantos peptídeos podem ser formados com os aminoácidos glicina, treonina e fenilalanina.
Descreva os peptídeos formados com estruturas destacando sua sequência?
NELSON, D.L, COX, M. M. Lehninger Princípios de Bioquímica. 5a. Edição, São Paulo,
Sarvier, 2010.
NELSON, D.L, COX, M. M. Lehninger Princípios de Bioquímica. 4a. Edição, São Paulo,
Sarvier, 2006.
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