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Biologia Celular
Fundamentos de Bioquímica
Água
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hidrogénio (Fig.1). As pontes de hidrogénio são interacções não-covalentes
resultantes da partilha parcial de um hidrogénio entre dois núcleos electronegativos:
um dos núcleos electronegativos contém o hidrogénio a ser partilhado, ligado
covalentemente, e designa-se por dador, enquanto o outro núcleo electronegativo
apresenta orbitais não ligantes e recebe o hidrogénio, designando-se por aceitador. A
água também pode formar pontes de hidrogénio com outros átomos electronegativos
para além do oxigénio, como por exemplo o azoto (Fig.2).
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As substâncias apolares não formam pontes de hidrogénio estáveis com a água e,
simultaneamente, não possuem dipolos moleculares permanentes. Estas substâncias
são designadas como hidrofóbicas, ou seja, têm “fobia” à água. Com a excepção dos
glúcidos, todas as moléculas biológicas principais possuem zonas hidrófobas e
hidrófilas, ou seja, são anfipáticas. Proteínas e ácidos nucleicos contêm na sua
estrutura uma certa distribuição de regiões polares e apolares que determina a sua
estrutura tridimensional. Os condicionalismos termodinâmicos, nomeadamente a
entropia da água, conduzem à maximização da interacção das regiões polares com a
água e ao enclausuramento das zonas apolares no interior da macromolécula. Por
outro lado, devido à distribuição linear e oposta das zonas polares e apolares nas
moléculas de alguns lípidos, estes formam estruturas supramoleculares como, por
exemplo, a bicamada lipídica da membrana celular, micelas ou vesículas em solução
aquosa. A água e os produtos da sua ionização, os iões hidrogénio e hidroxilo, são
factores importantes na determinação da estrutura e das propriedades biológicas das
proteínas, dos lípidos, dos glúcidos, dos ácidos nucleicos, assim como das
membranas e de muitos outros componentes celulares.
Uma importante propriedade física da água para os sistemas biológicos é o elevado
calor específico (é o mais elevado de todos os solventes comuns).
Termodinamicamente, quanto maior o calor específico menores são as variações de
temperatura que essa substância sofre, ou seja, quando se fornece calor à água, parte
desse calor é absorvido. Assim sendo, a água mantém praticamente constante a
temperatura de um organismo em relação ao seu meio ambiente.
Biomoléculas
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Figura 3- Organização hierárquica nos sistemas vivos. Esta organização inicia-se a partir de
interacções moleculares entre moléculas simples e termina com uma diversidade biológica
visível nos diferentes organismos que habitam o planeta, passando por intermediários de
complexidade crescente.
Aminoácidos
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• Iminos, se resultam da ciclização do grupo α-amino com a cadeia lateral
propionilo do aminoácido.
Apesar da representação geral dos aminoácidos sem carga estar quimicamente certa,
não traduz correctamente o que ocorre em condições reais. Por um lado, repare-se
que a existência em solução de uma forma contendo o grupo α-amina desprotonado (-
NH2) em simultâneo com o grupo α-carboxilo protonado (-COOH) só seria possível se
o ácido conjugado do primeiro grupo (-NH3) tivesse mais tendência em ceder o seu
protão do que o segundo, ou seja, se o grupo -NH3+ fosse um ácido mais forte que o
grupo -COOH. Contudo, o que acontece é precisamente o contrário, ou seja, nos
aminoácidos, o grupo α-carboxilo tem sempre mais tendência em ceder seu protão do
que o grupo α-amina protonado. Por outro lado, quando em solução aquosa a pH
neutro (condições próximas das fisiológicas), os grupos α-amina e α-carboxilo dos
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aminoácidos encontram-se ambos ionizados (nas formas formas –NH3+ e –COO-),
respectivamente (Fig.4a). Nestas condições, os aminoácidos podem actuar como
bases (Fig.4b) ou como ácidos (Fig. 4c).
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Dimensão da cadeia lateral
O processo de enrolamento de uma proteína com vista à aquisição da sua estrutura
tridimensional nativa (configuração mais estável) pode ser comparado a um puzzle
onde as peças se encaixam com uma precisão elevadíssima. O interior das proteínas,
na sua configuração nativa, apresenta um grau de densidade de empacotamento
semelhante a um sólido orgânico. Esta zona interior das proteínas, denominada por
núcleo hidrófobo, é responsável, em grande parte, pela estabilidade conformacional
destas macromoléculas. Mutações que provoquem a substituição de cadeias laterais
pequenas por cadeias laterais grandes irão gerar situações em que a conformação
tridimensional final terá dificuldades em acomodar um novo resíduo. Por outro lado,
mutações que substituam uma cadeia lateral grande por uma pequena, provocarão a
formação de cavidades no núcleo hidrofóbico e destabilizam a estrutura tridimensional
das proteínas (Fig.6).
Figura 6- Representação esquemática de uma proteína nativa (a) e da mesma proteína após
substituição de um resíduo de grandes dimensões por um de pequenas dimensões (b). Na
proteína nativa, um resíduo de triptofano encontra-se a interagir com os outros resíduos do
núcleo hidrofóbico, permitindo uma elevada estabilidade conformacional da estrutura
tridimensional proteica. A substituição do resíduo de triptofano por uma alanina, ou seja, de um
resíduo de grandes dimensões por um de pequenas (compare-se os volumes das superfícies
das cadeias laterais dos dois aminoácidos, à direita na imagem), desfavorece a interacção de
resíduos nessa zona, tornando-a menos densa (presença de cavidades no núcleo hidrofóbico),
logo, provoca uma destabilização na estrutura tridimensional da proteína.
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Carga da cadeia lateral
As interacções electrostáticas nas proteínas ocorrem em cadeias laterais de resíduos
de aminoácidos que possuem carga. O grau de protonação e desprotonação de um
aminoácido é dependente do valor de pH do meio. As interacções que se formam
entre grupos com carga oposta são do tipo electrostático e designam-se
genericamente por pontes salinas ou pares iónicos. Atendendo a que cargas opostas
se atraem, enquanto cargas do mesmo sinal tendem a repelir-se mutuamente,
percebe-se que esta propriedade das cadeias laterais de certos aminoácidos seja
determinante no processo de aquisição da estrutura tridimensional de uma proteína
(Fig.7).
Figura 7- Representação esquemática de uma proteína nativa (a) e da mesma proteína após
substituição de um resíduo com cadeia lateral positiva por um com cadeia lateral negativa (b).
Na proteína nativa, um resíduo de lisina encontra-se a estabelecer uma interacção
electrostática com um resíduo de carga negativa, atraindo-se mutuamente e favorecendo a
aproximação das porções da cadeia polipeptídica onde estão inseridos. A substituição do
resíduo de lisina por um ácido glutâmico, ou seja, de um resíduo carregado positivamente em
condições fisiológicas por um carregado negativamente, provoca uma alteração na estrutura
tridimensional final nesta região, devido à repulsão resultante da aproximação de resíduos de
carga do mesmo sinal.
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ocorrer na mesma cadeia polipeptídica (interacção intramolecular - Fig.8b) ou entre
cadeia polipeptídicas diferentes (interacção intermolecular - Fig.8c).
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Figura 9- Distribuição assimétrica de resíduos
de aminoácidos hidrófobos e hidrófilos em
proteínas globulares: nas proteínas
citoplasmáticas, os resíduos hidrófobos
tendem a assumir posições mais interiores,
enquanto os resíduos hidrófilos se distribuem
maioritariamente pela superfície (a); nas
proteínas membranares, os resíduos
hidrófobos encontram-se principalmente na
região proteica que atravessa a membrana,
enquanto os resíduos hidrófilos assumem
posições de contacto com os meios aquosos
extra e intracelulares. Os resíduos hidrófobos
encontram-se coloridos a amarelo, os
resíduos hidrófilos a azul e os restantes a
cinzento (b).
Proteínas
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As proteínas apresentam dimensões muito variáveis. Entre as proteínas constituídas
por apenas uma cadeia polipeptídica - proteínas monoméricas - tanto encontramos
proteínas como a ribonuclease A, uma proteína responsável pela hidrólise de ácido
ribonucleico (RNA), que é constituída por 51 aminoácidos e apresenta uma massa
global de apenas 5.7 kDa, como encontramos a apoproteína B, uma proteína
associada ao transporte de lípidos que é constituída por 4636 resíduos de
aminoácidos e tem uma massa molecular de 513 kDa. Contudo, existem também
proteínas constituídas por mais de uma cadeia polipeptídica, as quais se designam por
diméricas, triméricas, tetraméricas, etc., consoante apresentam duas, três ou quatro
cadeias polipeptídicas, respectivamente. Um exemplo é a transtirretina, uma proteína
que se encontra no plasma e no fluido cerebroespinal que é composta por quatro
cadeias polipeptídicas idênticas com 127 resíduos de aminoácidos cada e por uma
massa molecular global de 56 kDa. A transtirretina diz-se ser um homotetrâmero (o
prefixo “homo” surge pelo facto das cadeias polipeptídicas serem todas iguais). Outro
exemplo é a hemoglobina, a proteína responsável pelo transporte de O2 dos pulmões
para os tecidos, que é composta por quatro cadeias polipeptídicas iguais duas-a-duas
com 141 e 146 aminoácidos, no caso da hemoglobina humana, e cerca de 64 kDa de
massa molecular global. A hemoglobina diz-se ser um heterotetrâmero (o prefixo
“hetero” surge pelo facto das cadeias polipeptídicas serem diferentes).
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covalentemente à cadeia polipeptídica, mas cuja presença é necessária ao exercício
da função proteica. Os cofactores contribuem igualmente para a estabilização da
estrutura tridimensional da proteína de que fazem parte.
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uma molécula de água (desidratação) do grupo α-carboxilo de um aminoácido e do
grupo α-amina do aminoácido seguinte (Fig.11).
Estrutura secundária
Entende-se por estrutura secundária as conformações locais de partes da cadeia
polipeptídica de uma proteína, resultantes de interacções por pontes de hidrogénio a
curta distância ao longo da cadeia polipeptídica. A estrutura secundária de uma
proteína consiste em elementos repetidos como hélices (hélices α), conformações
estendidas (cadeias β) e voltas (turns e loops). A estrutura secundária contribui
significativamente para a estabilização da conformação global de uma proteína, uma
vez que cria uma extensa rede de pontes de hidrogénio.
Hélice α
É um dos elementos de estrutura secundária mais abundante nas proteínas,
possivelmente devido à facilidade deste arranjo maximizar o número de pontes de
hidrogénio entre os grupos carbonilo e os grupos amina da cadeia proteica principal,
acomodando simultaneamente a ligação peptídica rígida. A hélice α é estabilizada por
pontes de hidrogénio locais entre o oxigénio de um grupo carbonilo, C=O, e o
hidrogénio de um grupo amina, N-H, a uma distância de 4 resíduos de aminoácidos
(n+4). Desta forma, numa hélice α, todos os grupos amina e todos os grupos carbonilo
da cadeia principal que dela fazem parte encontram-se a formar pontes de hidrogénio,
exceptuando o grupo amina do primeiro resíduo e o grupo carbonilo do último resíduo
da hélice. A estrutura resultante destas interacções tem uma forma cilíndrica, com as
pontes de hidrogénio no interior e as cadeias laterais dos resíduos de aminoácidos
voltadas para o exterior (Fig. 12). O enrolamento das hélices α é sempre para a direita.
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Cada volta da hélice inclui 3.6 resíduos de aminoácidos e 14 átomos da cadeia
principal, o que corresponde a uma rotação de 100º por resíduo, de forma que é
projectada uma cadeia lateral para fora do eixo da hélice em intervalos de 100º.
Assim, esta estrutura apresenta a projecção de cadeias laterais para a mesma face da
hélice com uma periodicidade de 3 a 4 resíduos de aminoácidos.
Conformação β
A conformação β é formada por cadeias β (unidade básica) e origina uma topologia
em folha, a qual é denominada por folha β. As folhas β são constituídas por duas ou
mais cadeias β, as quais se caracterizam pela sua estrutura estendida. Esta
conformação é estabilizada por pontes de hidrogénio entre grupos amina
disubstituidos (N-H) e grupos carbonilo (C=O) pertencentes a resíduos de aminoácidos
relativamente distantes na sequência polipeptídica, mas próximos espacialmente.
Quando duas cadeias β seguem o mesmo sentido, formam uma folha β paralela,
quando seguem em sentidos opostos, formam uma folha β antiparalela (Fig.13). As
proteínas podem ainda apresentar folhas β mistas, que contêm paralelas e
antiparalelas. Globalmente, a conformação β distingue-se da hélice α por ser uma
estrutura estendida e por formar pontes de hidrogénio entre zonas da cadeia
polipeptidica relativamente distantes umas das outras. As cadeias β apresentam
geralmente uma torção para a direita, devido a efeitos estéricos impostos pela
configuração L dos aminoácidos. As cadeias pertencentes a folhas β paralelas
apresentam uma torção menor relativamente às cadeias pertencentes a folhas β
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antiparalelas. Esta torção pode originar conformações na forma de barril,
designando-se barril-β (Fig.14).
Figura 13- Folhas β paralelas (a) e folhas β antiparalelas (b). As folhas β são constituídas por
duas ou mais cadeias β unidas por pontes de hidrogénio.
Elementos de reversão
O elemento mais simples de estrutura secundária é a “volta”. Este tipo de estrutura
envolve 3 ou 4 resíduos e estabelece uma ponte de hidrogénio entre o oxigénio do
carbonilo de um resíduo e o hidrogénio do grupo amina do resíduo n+2 ou n+3,
revertendo o sentido da cadeia polipeptídica. Cerca de 25% dos resíduos de uma
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proteína globular encontram-se em “voltas”, os quais ao inverterem a direcção da
cadeia polipeptídica tornam possível a estrutura tridimensional típica destas proteínas.
Estrutura terciária
A estrutura terciária é a forma tridimensional adquirida por uma cadeia polipeptídica.
Por exemplo, numa proteína globular, os elementos de estrutura secundária
associam-se numa estrutura compacta estabilizada geralmente por interacções não
covalentes, como pontes de hidrogénio, interacções iónicas, interacções hidrofóbicas,
mas também por ligações covalentes entre resíduos de cisteína - pontes dissulfureto.
A estrutura tridimensional final resultante do enovelamento da cadeia polipeptídica e
arranjo espacial de todos os átomos constituintes da referida cadeia denomina-se por
estrutura terciária.
Estrutura quaternária
Muitas proteínas são constituídas por mais de uma cadeia polipeptídica, sendo esta
associação de cadeias essencial à função que desempenham. Tais proteínas
designam-se por oligómeros e as cadeias individuais constituintes por monómeros ou
subunidades. Designa-se por estrutura quaternária de uma proteína a estrutura
resultante da associação entre duas ou mais subunidades na formação de uma
proteína. A associação entre subunidades é estabilizada por ligações não covalentes,
como pontes de hidrogénio, interacções iónicas e hidrofóbicas.
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Enzimas
As proteínas não são as únicas substâncias com propriedades catalíticas nos sistemas
biológicos. Alguns RNA’s, denominados ribozimas, também executam essa função.
A reacção catalisada pela enzima pode ser esquematizada como se segue:
Substrato (S) → Produto (P)
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formado, mas em presença da mesma, a reacção ocorre em alta velocidade. Como a
maioria das reacções é reversível, os produtos da reacção numa direcção tornam-se
substratos para a reacção inversa.
As enzimas são os catalisadores mais específicos que se conhecem, tanto para o
substrato como para o tipo de reacção efectuada sobre o substrato. A especificidade
inerente da enzima reside numa cavidade ou fenda de ligação do substrato, que está
situada na superfície da proteína enzimática. A cavidade, denominada, centro activo, é
um arranjo de grupos presentes em cadeias laterais de certos aminoácidos que ligam
o substrato por ligações não-covalentes. Muitas vezes, os resíduos de aminoácidos
que formam o centro activo ficam em regiões distantes, na estrutura primária, mas
próximos no centro activo, pelo enovelamento da cadeia polipeptídica (estrutura
terciária).
Algumas enzimas têm outra região na molécula, o centro alostérico, afastada do
centro activo. No centro alostérico, moléculas pequenas específicas ligam-se e
causam alterações na conformação proteica que afectam o centro activo, aumentando
ou reduzindo a actividade enzimática.
A maioria das enzimas necessita de moléculas orgânicas ou inorgânicas pequenas,
essenciais à sua actividade e denominadas coenzimas e co-factores.
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• Coenzimas. São pequenas moléculas orgânicas, frequentemente derivadas de
vitaminas. Existem também certos nutrientes análogos às vitaminas (exemplo,
ácido lipóico e ácido p-aminobenzóico) que são sintetizados em pequenas
quantidades e que facilitam os processos catalisados por enzimas. Na tabela 3
estão algumas coenzimas, as reacções em que participam e as fontes
vitamínicas que dão origem às coenzimas.
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Tabela 4- Exemplos de coenzimas/co-factores e enzimas
Para reagir, as moléculas presentes numa solução devem colidir com orientação
apropriada e com a quantidade de energia que lhes permitam formar o complexo
activado, denominado estado de transição que representa os reagentes no estado
activado. Para atingir o estado de transição, necessita-se de uma quantidade de
energia definida como energia de activação (Ea) ou mais comum em bioquímica
energia livre de activação, ∆G≠ (o símbolo ≠ indica o processo de activação). Sob
condições fisiológicas, a velocidade das reacções pode ser aumentada pela redução
da energia livre de activação conseguida pela acção de enzimas.
A comparação do perfil energético das reacções catalisadas e não-catalisadas é
mostrada na figura 15 para a reacção:
A+B ↔C+D
No gráfico, o estado de transição corresponde ao ponto de mais alta energia da
reacção não-catalisada e é a medida da energia livre de activação, ∆G≠. Ou ainda, ∆G≠
é a energia livre do estado de transição subtraída da energia livre dos reagentes. No
complexo activado (estado de transição do sistema), os reagentes estão em forma
intermediária de alta energia e não podem ser identificados nem como reagentes nem
como produtos. O complexo do estado de transição pode ser decomposto em produtos
ou voltar aos reagentes.
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Figura 15- Diagrama energético de reacção catalisada e de reacção não-catalisada. ∆G≠ =
energia livre de activação, ∆G0 = variação da energia livre. A diferença entre os valores da
energia de activação de uma reacção catalisada e de uma reacção não-catalisada, indica a
eficiência do catalisador.
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• Capacidade de regulação da concentração e da actividade. Permite o ajuste
fino do metabolismo em diferentes condições fisiológicas.
Figura 16- Modelo chave-fechadura. A interacção entre a enzima (com estrutura rígida) e seu
substrato.
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• Modelo do encaixe induzido. Um modelo mais flexível de interacção
enzima-substrato é o encaixe-induzido, proposto por Koshland em 1958. Os
centros activos dessas enzimas não estão completamente pré-formados e a
interacção inicial do substrato com a enzima induz uma alteração
conformacional na enzima. Isso promove o reposicionamento dos aminoácidos
catalíticos para formar o centro activo e a estrutura correcta para interagir com
os grupos funcionais do substrato (Fig.17).
Figura 17- Modelo do encaixe induzido. A ligação inicial do substrato à enzima induz uma
mudança conformacional na enzima produzindo um melhor encaixe.
Temperatura
As reacções químicas são afectadas pela temperatura. Quanto maior a temperatura,
maior a velocidade da reacção. A velocidade aumenta porque mais moléculas
adquirem energia suficiente para atingir o estado de transição. Em reacções
catalisadas por enzimas, a velocidade é acelerada pelo aumento da temperatura até
atingir uma temperatura óptima na qual a enzima opera com a máxima eficiência.
Como as enzimas são proteínas (excepto as ribozimas), os valores da temperatura
óptima situam-se entre 35 a 40ºC e dependem do pH e da força iónica. Acima dessa
temperatura, a actividade das enzimas declina abruptamente por desnaturação
proteica. Sob condições de hipotermia, a actividade enzimática é deprimida. As
relações acima descritas são mostradas na figura 18.
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Figura 18- Efeito da temperatura sobre a velocidade
de uma reacção catalisada por enzima.
pH
A concentração de iões hidrogénio afecta as enzimas de vários modos. Primeiro, a
actividade catalítica das enzimas está relacionada com a ionização de aminoácidos no
centro activo. Por exemplo, a actividade catalítica de certas enzimas necessita a forma
protonada da cadeia lateral do grupo amina. Se o pH se tornar suficientemente
alcalino de tal modo que o grupo perde o seu protão, a actividade da enzima pode ser
reduzida. Além disso, os substratos podem também ser afectados. Se um substrato
contém um grupo ionizável, as mudanças no pH afectam a capacidade de ligação ao
centro activo. Segundo, alterações nos grupos ionizáveis podem modificar a estrutura
terciária das enzimas. Mudanças drásticas no pH promovem a desnaturação de muitas
enzimas.
Apesar de algumas enzimas tolerarem grandes mudanças no pH, a maioria delas só
são activas em intervalos muito estreitos. Por essa razão, os organismos vivos utilizam
tampões que regulam o pH. O valor do pH no qual a actividade da enzima é máxima é
chamado pH óptimo. O pH óptimo das enzimas varia consideravelmente. Por exemplo,
o pH óptimo da pepsina, enzima proteolítica produzida no estômago, é
aproximadamente 2. Para a quimiotripsina, que digere as proteínas no intestino
delgado, o pH óptimo é aproximadamente 8. O efeito do pH sobre a actividade das
enzimas é esquematizado na figura 19.
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Concentração da enzima
A velocidade máxima da reacção é uma função da quantidade de enzima disponível.
Existe um aumento proporcional em relação à quantidade de enzima no sistema.
Assim, a velocidade inicial da reacção enzimática é directamente proporcional à
concentração de enzima (existindo substrato em excesso) (Fig.20).
Concentração do substrato
Para atender às necessidades do organismo, as reacções bioquímicas devem ocorrer
em velocidade compatível. A velocidade de uma reacção bioquímica é expressa em
termos de formação de produto ou pelo consumo do reagente por unidade de tempo.
Ao considerar uma reacção unimolecular (que envolve um único reagente):
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A velocidade é constante porque não depende da concentração dos reagentes, mas
de outros factores. A quantidade de reagente é o suficiente para saturar todos os
centros catalíticos das moléculas enzimáticas. Assim, o reagente só existe na forma
de complexos enzima-substrato (ES). Como a curva velocidade-substrato é
hiperbólica, a fase de ordem zero atinge uma velocidade máxima, Vmax.
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Cinética enzimática
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Valores baixos de Km reflectem elevada afinidade da enzima pelo substrato e,
portanto, atingirá a máxima eficiência catalítica em baixas concentrações de substrato.
Valores de Km mais elevados reflectem baixa afinidade da enzima pelo substrato.
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Tabela 6- Constantes catalíticas de algumas enzimas.
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Reacções com multisubstratos
Mais de metade das reacções bioquímicas envolvem dois substratos, em lugar de um
único substrato a que obedece o modelo de Michaelis-Menten. As reacções com
multisubstratos podem proceder por diferentes mecanismos:
1. Mecanismo ordenado. Os substratos, S1 e S2, devem associar-se às enzimas com
uma ordem obrigatória antes que a reacção possa ocorrer. A ligação do primeiro
substrato é necessária para que a enzima forme o centro de ligação para o segundo
substrato. Muitas desidrogenases nas quais o segundo substrato é uma coenzima
(NAD+, FAD, etc.) são exemplos deste mecanismo.
2. Mecanismo aleatório. Os dois substratos podem se ligar à enzima em qualquer
ordem. A hexocinase transfere um grupo fosfato do ATP para a glicose por esse
mecanismo, apesar da glucose tender a ligar inicialmente à molécula de ATP.
3. Reacções de dupla-troca (pingue-pongue). Um ou mais produtos são libertados
antes que os outros substratos se liguem à enzima modificada. As reacções
catalisadas pela UDP-glicose-1-fosfato uridiltransferase, piruvato-carboxilase e acetil-
CoA-carboxilase são exemplos deste mecanismo.
Inibição enzimática
Inibidores são substâncias que reduzem a actividade das enzimas e incluem fármacos,
antibióticos, conservantes de alimentos e venenos. São importantes por várias razões:
(1) os inibidores enzimáticos actuam como reguladores das vias metabólicas. (2)
Muitas terapias por fármacos são baseadas na inibição enzimática. Por exemplo,
muitos antibióticos e fármacos reduzem ou eliminam a actividade de certas enzimas. O
tratamento da SIDA inclui inibidores das proteases, moléculas que inactivam a enzima
necessária para produzir novos vírus. (3) Desenvolvimento de técnicas para
demonstrar a estrutura física e química, e as propriedades funcionais das enzimas.
Distinguem-se dois tipos de inibição: reversível e irreversível, segundo a estabilidade
da ligação entre o inibidor e a molécula de enzima. Na inibição reversível ocorrem
interacções não-covalentes entre o inibidor e a enzima, enquanto a inibição irreversível
envolve modificações químicas das moléculas, levando a uma inactivação definitiva.
Na inibição reversível, a enzima retoma sua actividade após dissociação do inibidor.
Duas classes de inibidores reversíveis são descritas: competitivo e não-competitivo.
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Inibição competitiva
Inibidores competitivos são substâncias que competem directamente com o substrato
normal pelo centro activo das enzimas. São moléculas estruturalmente semelhantes
ao substrato. O inibidor (I) competitivo reage reversivelmente com a enzima para
formar um complexo enzima-inibidor (EI) análogo ao complexo enzima-substrato, mas
cataliticamente inactivo:
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Figura 23- Inibição competitiva. Gráficos de V0 versus concentração de substrato para uma
reacção de Michaelis-Menten na presença de um inibidor competitivo.
Inibição não-competitiva
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Inibição irreversível
A inibição irreversível envolve modificação covalente e permanente do grupo funcional
necessário para a catálise, tornando a enzima inactiva. É classificado como um
inactivador. Alguns pesticidas inibem o centro activo da acetilcolinesterase, o que
impede a hidrólise da acetilcolina na sinapse, resultando, no homem, paralisia dos
músculos respiratórios e edema pulmonar.
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A regulação das vias bioquímicas envolve mecanismos sofisticados e complexos. É
conseguida principalmente pelo ajuste das concentrações e actividades de certas
enzimas. O controlo é feito por: (1) controlo genético, (2) modificação covalente e (3)
regulação alostérica.
Controlo genético
A quantidade das enzimas disponíveis nas células depende da velocidade de sua
síntese e da velocidade de sua degradação. A síntese de enzimas em resposta às
mudanças das necessidades metabólicas é um processo conhecido como indução
enzimática, que permite a resposta celular de maneira ordenada às alterações no
meio.
A síntese de certas enzimas pode ser especificamente inibida por repressão. O
produto final de uma via bioquímica pode inibir a síntese de uma enzima-chave da
mesma via.
Regulação alostérica
As enzimas reguladas por moduladores ligados a locais adicionais e que sofrem
mudanças conformacionais não-covalentes são denominadas alostéricas. A afinidade
da ligação enzima-substrato das enzimas alostéricas é modificada por ligantes
denominados efectores ou moduladores alostéricos, unidos reversível e
não-covalentemente a locais específicos da estrutura tridimensional proteica e
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denominados locais alostéricos, que são diferentes e distantes dos centros activos
específicos para os substratos. Os efectores são pequenas moléculas orgânicas, por
exemplo, o ATP, proteínas de baixo peso molecular, substratos ou produtos da
reacção. A maioria das enzimas sujeitas a esses efeitos é decisiva na regulação do
metabolismo intermediário.
Os efectores podem ser:
• Efector alostérico positivo: aumenta a afinidade da enzima pelo substrato e,
assim, eleva a velocidade da reacção.
• Efector alostérico negativo: reduz a afinidade da enzima pelo substrato e,
assim, diminui a velocidade da reacção.
A maioria das enzimas alostéricas é oligomérica, ou seja, são compostas de várias
subunidades polipeptídicas, cada uma com um centro activo. Em algumas enzimas, o
local alostérico e o centro activo estão localizados na mesma subunidade (ex.:
piruvato-carboxilase); em outras, estão localizados em subunidades diferentes (ex.:
aspartato-carbamoiltransferase). Em consequência da natureza oligomérica das
enzimas alostéricas, a ligação do substrato a uma subunidade pode afectar a ligação
de outras moléculas de substrato aos outros centros activos. A cooperatividade é a
influência que a união de um ligante a uma subunidade tem sobre a união do ligante a
outras subunidade numa proteína oligomérica. A interacção estabelecida entre os
centros activos é evidenciada pela cinética da catálise: o gráfico de V0 versus a
concentração de substrato [S] é uma curva sigmóide, em lugar da curva hiperbólica de
Michaelis-Menten (Fig.25).
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Quanto à cooperatividade, as reacções podem ser:
• Positivamente cooperativa, onde a ligação do primeiro substrato aumenta a
afinidade de substratos adicionais para outros centros activos.
• Negativamente cooperativa, em que a ligação do primeiro substrato reduz a
afinidade por substratos adicionais.
Zimogénios
Isoenzimas
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isoenzimas são enzimas que catalisam a mesma reacção e têm estrutura primária
semelhante. Geralmente diferenciam-se pela sua mobilidade electroforética
(velocidade de migração quando submetidas a um campo eléctrico).
Um exemplo clássico é a lactato-desidrogenase (LDH), um tetrâmero formado por
duas espécies diferentes de subunidades polipeptídicas, denominadas M (músculo) e
H (coração). Essas subunidades são codificadas por genes diferentes. A combinação
das duas cadeias produz cinco isoenzimas que podem ser separadas
electroforeticamente (Tabela 9).
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celular ou morte prematura da célula. Nos casos de alteração da permeabilidade, as
enzimas de menor massa molecular aparecem no plasma. Quanto maior o gradiente
de concentração entre os níveis intra e extracelular, mais rapidamente a enzima se
difunde para fora. As enzimas citoplasmáticas surgem no plasma antes daquelas
presentes nos organelos celulares. Quanto maior a extensão do tecido lesado, maior o
aumento no nível plasmático. As enzimas não específicas do plasma são clarificadas
em várias velocidades, que dependem da estabilidade da enzima e sua
susceptibilidade ao sistema reticuloendotelial.
Algumas enzimas têm sua actividade no próprio plasma; por exemplo as enzimas
associadas à coagulação sanguínea (trombina), dissolução da fibrina (plasmina) e
clareamento de quilomicras (lipase lipoproteica). As enzimas mais ensaiadas no
laboratório clínico são mostradas na tabela 10.
Ácidos nucleicos
39
a síntese de vários ácidos nucleicos, e para a regulação da expressão dessa
informação contida no genoma.
O DNA é um polímero composto por arranjos de unidades monoméricas designadas
por nucleótidos. Cada nucleótido é constituído por uma base heterocíclica azotada que
pode ser uma purina como a adenina (A) ou a guanina (G), ou uma pirimidina como a
citosina (C) ou a timina (T). No nucleótido, a base encontra-se ligada a um açúcar, a
desoxirribose, que está ligada a um grupo fosfato (Fig.26).
40
Estrutura dos ácidos nucleicos
41
molécula de DNA. A forma B do DNA foi caracterizada pela repetição regular de dois
sulcos presentes na parte externa da molécula, um maior (major groove) e outro
menor (minor groove), com enrolamento helicoidal para a direita (Fig.28).
São ainda conhecidas duas formas adicionais isoméricas do DNA que resultam do
facto dos ângulos das ligações que envolvem as bases e a desoxirribose serem
flexíveis, permitindo alterações de conformação. A forma A do DNA existe apenas no
estado desidratado, não lhe sendo reconhecida nenhuma função biológica, e a forma
Z surge quando o enrolamento da dupla cadeia ocorre para a esquerda (Fig.29).
42
apresenta-se maioritariamente na forma circular. Quando o DNA circular ou linear com
ambas as extremidades ancoradas é torcido em volta do seu eixo longitudinal, a
tensão é aliviada pelo aparecimento de curvaturas e torções designadas de
super-hélices ou super-espirais. A formação destas estruturas em super-hélice é
biologicamente importante já que pode influenciar a expressão génica. Em
determinadas circunstâncias a super-hélice favorece o desenrolamento da dupla
hélice, promovendo o acesso de proteínas envolvidas na regulação da transcrição. O
grau de formação destas estruturas em super-hélice pode ser controlado por enzimas,
topoisomerases.
Embora a maior parte dos organismos possuam mecanismos que reduzem ao máximo
as alterações do DNA de forma a manter a estabilidade da informação contida no
genoma, o seu grande tamanho, a necessidade de se replicar em cada processo de
divisão celular e a sua interacção em inúmeros processos celulares, tornam-no alvo de
modificações físicas ou químicas que podem resultar em mutações.
43
Figura 31– Estrutura do RNA de
transferência da fenilalanina,
incluindo as sequências de bases
intramoleculares emparelhadas.
Figura 30– Estrutura secundária
do RNA.
44
Hidratos de carbono
Os glúcidos são em geral sólidos brancos, doces e solúveis em água. Os mais simples
são moléculas com apenas 3 carbonos enquanto os mais complexos se formam por
polimerização de glúcidos mais pequenos, constituindo por vezes macromoléculas
com peso molecular da ordem dos milhões de unidades de massa atómica. Os
polímeros de açúcar diferem das proteínas ou ácidos nucleicos por possuírem
ramificações. Comparados às proteínas, que geralmente são compactas, os polímeros
hidrofílicos de açúcar tendem a espalhar-se em soluções aquosas para maximizar as
pontes de hidrogénio com a água. Os hidratos de carbono servem para 4 funções
principais:
• A energia química armazenada nas ligações covalentes das moléculas de
açúcar é uma fonte primária de energia para as células.
• São os componentes estruturais mais abundantes na terra. Por exemplo, a
celulose que forma as paredes celulares das plantas, a quitina que forma os
exosqueletos dos insectos, e os glicosaminoglicanos que são encontrados nos
tecidos conjuntivos de animais.
• São componentes essenciais dos nucleótidos que formam o esqueleto
estrutural dos ácidos nucleicos e participam em muitas reacções metabólicas.
• Açúcares individuais e combinações de açúcares formam as cadeias laterais
dos lípidos e proteínas. Estas modificações promovem uma diversidade
molecular além daquela inerente às proteínas e lípidos por si, modificando as
suas propriedades físicas e expandindo grandemente o potencial destas
glicoproteínas e glicolípidos de interagir com outros componentes celulares em
reacções receptor-ligando específicas.
Oses
As oses podem ser definidas como poli-hidroxialdeídos ou poli-hidroxicetonas, com
fórmula empírica [CH2O]n, para n maior que 2, designando-se por aldoses se
possuírem o grupo funcional aldeído, ou cetoses se possuírem o grupo funcional
cetona. O gliceraldeído (uma aldotriose) e a di-hidroxiacetona (uma cetotriose) são os
glúcidos mais pequenos com apenas três átomos de carbono (Fig.32).
As aldopentoses e as aldo-hexoses são as oses mais abundantes nos seres vivos,
entre as quais se destacam pela sua importância a D-glicose, a D-ribose e a
D-galactose. As cetoses são menos abundantes, mas algumas, como a D-ribulose,
45
cetopentose intermediária da fotossíntese (ciclo de Calvin), e a D-frutose, cetohexose
componente da sacarose e intermediária em muitas vias metabólicas primárias, têm
funções importantes (Fig.33).
A figura 33 mostra as oses na sua forma linear. No entanto, esta não é a forma mais
abundante em solução aquosa, mas sim a forma cíclica que deriva de uma reacção
intramolecular entre um hidroxilo e o aldeído no caso das aldoses, ou a cetona, no
caso das cetoses. A figura 34 mostra as reacções de ciclização de algumas oses. Os
anéis de cinco lados, chamados furanoses, e os anéis de seis lados, chamados
piranoses, são os dois tipos de anéis termodinamicamente mais estáveis, e logo, os
mais abundantes.
46
Figura 34- Ciclização de oses em solução aquosa. É de notar que outras ciclizações são
possíveis. Por exemplo, a ribose pode formar um anel de seis lados (ataque do hidroxilo em C-
5, em vez do hidroxilo em C-4), bem como a frutose (ataque do hidroxilo em C-6, em vez do
hidroxilo em C-5).
47
Figura 35– Síntese da maltose a partir de duas moléculas de glicose.
Os poliósidos são formados por oses ligadas entre si por ligações glicosídicas. O
glicogénio é o poliósido de reserva nos animais. A maior parte do glicogénio pode ser
encontrada no fígado, onde forma grânulos característicos, e também no
músculo-esquelético.
48
Glicoconjugados
Peptidoglicano
As bactérias possuem uma parede celular baseada num glicoconjugado chamado
peptidoglicano ou mureína, cuja unidade monomérica está representada na figura 38.
É, portanto, um heteropoliósido, por conter derivados de oses, com ligações
covalentes cruzadas através de um polipéptido. Neste glicoconjugado a ligação
péptido-glúcido é do tipo amídico, por reacção entre o grupo carboxilo do ácido
N-acetilmurâmico e o grupo aminoterminal do péptido.
Proteoglicano
Este glicoconjugado é importante nos mamíferos e outros animais pluricelulares. Os
proteoglicanos são moléculas hidrofílicas e extracelulares que formam a substância
base do tecido conjuntivo, juntamente com as macromoléculas proteicas como o
colagénio e o elastano.
A constituição dos proteoglicanos baseia-se numa cadeia peptídica, chamada proteína
central, à qual se ligam covalentemente, através dos grupos hidroxilo de resíduos de
serina, alguns heteropoliósidos não ramificados (Fig.38). Estes heteropoliósidos
contêm sempre derivados de glicosamina e são por isso denominados por
glicosaminoglicanos. Os glicosaminoglicanos são sintetizados por formação de
ligações do tipo glicosídico entre derivados de glicosamina e outros derivados de oses,
49
activados com UDP no carbono anomérico. Estas reacções são catalisadas por
glicosiltransferases específicas e ocorrem no retículo endoplasmático, logo após a
síntese da proteína central, ou então quando a proteína central for transferida para o
Golgi (Fig.39).
Figura 39- Síntese de glicosaminoglicanos. Esta síntese começa com a ligação covalente à
proteína central.
50
Apesar dos derivados de oses serem adicionados um a um aos glicosaminoglicanos,
estes acabam por apresentar unidades repetitivas diosídicas, algumas das quais estão
representadas na figura 40. A sulfatação dos glicosaminoglicanos, por transferência de
um grupo sulfonato doado pelo PAPS, é catalisada por uma sulfotransferase e
acontece posteriormente ao alongamento da cadeia.
Os proteoglicanos são moléculas predominantemente aniónicas devido à abundância
de grupos carboxilo e sulfato na sua constituição. Esta característica torna-as
extremamente hidrófilas e com tendência em formar géis em água. Nos animais
pluricelulares, os proteoglicanos formam agregados em associação com outras
macromoléculas como o ácido hialurónico e pequenas proteínas, chamadas proteínas
de ligação (Fig.41), oferecendo uma interface intercelular e consistência mecânica aos
tecidos.
51
Glicoproteínas
As glicoproteínas que ocorrem em todas as células eucariotas são proteínas ligadas
covalentemente a uma cadeia oligosídica que muitas vezes é ramificada.
Normalmente a ligação entre a parte proteica e a parte glicídica é feita entre o carbono
de uma ose e as cadeias laterais de resíduos de serina, treonina ou asparagina
(Fig.42). Tal como em outros glicoconjugados, a parte glicídica é adicionada à proteína
numa fase de processamento pós-tradução, seja no retículo endoplasmático, seja no
Golgi, com a ajuda de glicosiltransferases.
As glicoproteínas podem ter como localização final o citoplasma celular, as
membranas celulares ou o meio extracelular. Normalmente a cadeia glicídica é
pequena (algumas unidades) nas glicoproteínas intracelulares, mas é grande (até
algumas dezenas) nas glicoproteínas membranares e extracelulares (Fig.43).
52
As glicoproteínas são ricas em características topológicas devido à variedade de
derivados de oses e de ramificações que a parte glicídica destas moléculas pode
conter. A parte glicídica contribui decisivamente para o reconhecimento molecular
específico das glicoproteínas porque, para além de apresentar ao meio uma
multiplicidade de grupos funcionais, pode ter uma forma muito variável, dependendo
do número, do tipo e das ramificações das oses e seus derivados que as compõem.
As glicoproteínas membranares projectam a sua parte glicídica (polar) para o meio
aquoso exterior ficando uma porção da parte proteica mergulhada na membrana. A
presença de glicoproteínas na face exterior das membranas plasmáticas é
especialmente importante porque contribui para o reconhecimento e adesão
intercelular nos tecidos e são factores de diferenciação utilizados pelas células do
sistema imunitário para a distinção entre as células próprias do organismo e as que
são estranhas. Esta função é partilhada com glicolípidos membranares que são
descritos mais adiante. Dissolvidas nos fluidos extracelulares existem glicoproteínas
que podem conter oligósidos com quase uma centena de unidades, as mucinas. Estas
macromoléculas contribuem para a caracterização imunológica do sangue, sendo
determinantes do grupo sanguíneo.
53
Lípidos
A maior parte dos lípidos são derivados acilados de álcoois e ácidos gordos. Os ácidos
gordos são hidrocarbonetos de 12 a 24 carbonos (região hidrofóbica), saturados (ex:
ácido palmítico) ou insaturados com um grupo carboxílico na extremidade (região
hidrofílica). Os ácidos gordos insaturados naturais contêm uma ou mais ligações
duplas (ex: ácido oleico, ácido linoleico) (Fig.45).
54
principal a que os ácidos gordos se ligam, glicerolípidos (ex: acilglicéridos,
fosfoglicéridos), esfingolípidos e ésteres de esteróis.
Acilglicéridos
Os acilglicéridos são ésteres de glicerol e ácidos gordos, podendo classificar-se como
monoglicéridos, diglicéridos ou triglicéridos, dependendo se o glicerol é esterificado
por um, dois ou três ácidos gordos, respectivamente. Os acilglicéridos são lípidos de
reserva de ácidos gordos e encontram-se essencialmente nos adipócitos.
Fosfoglicéridos
55
Figura 46– Estrutura dos fosfoglicéridos.
56
Esfingolípidos
57
da participação de glicosiltransferases (enzimas específicas para cada ose) que
existem no aparelho de Golgi.
Colesterol
58
Bioenergética
Existem dois tipos de reações opostas que ocorrem nas células, as vias
catabólicas e as vias anabólicas (Fig.50). As vias catabólicas permitem a
clivagem de macromoléculas em moléculas menores, que são utilizadas como
constituintes básicos para a síntese de outras moléculas assim como para a
obtenção de energia. As reações anabólicas usam de forma acoplada a
energia proveniente do catabolismo para permitir a biossíntese de
macromoléculas.
59
A tendência natural das coisas não vivas é que se tornem desordenadas. Por
outro lado, as células vivas não apenas mantém a sua organização como
também criam ordem. O anabolismo é um exemplo flagrante em que as células
sintetizam macromoléculas a partir de moléculas mais simples. A tendência
universal das coisas em tornarem-se desordenadas é expressa pela 2ª lei da
termodinâmica, que afirma que num sistema isolado o grau de desordem
somente pode aumentar. A medida do estado de desordem de um sistema é
denominada entropia. Assim, podemos afirmar que um sistema mudará
espontaneamente para um estado que apresente maior entropia.
Relativamente às células pode parecer que estas tendem a contrariar a 2ª lei
da termodinâmica, mas na realidade as células não são nenhum sistema
isolado. Para manterem a organização, as células adquirem energia do meio
ambiente (sob a forma de alimentos) para criarem ordem, como por exemplo a
formação de novas ligações químicas ou a construção de novas
macromoléculas. Durante o curso das reações químicas que aumentam a
ordem, parte da energia utilizada pelas células é convertida em calor (ou
energia cinética), que é a energia na sua forma mais desordenada. Como as
células não são sistemas isolados a energia cinética que resulta das reações
químicas é transferida rapidamente para o maio ambiente, aumentado deste
modo a entropia do meio ambiente.
60
usem adequadamente essa energia as células devem extrair essa energia de
uma forma utilizável. Os compostos orgânicos são formados essencialmente
por carbono e hidrogénio. Como cerca de 21% da atmosfera é formada por
oxigénio, as formas mais estáveis do carbono e do hidrogénio são o CO2 e
H2O, respetivamente. Assim sendo, as células conseguem obter energia a
partir dos hidratos de carbono (e outras biomoléculas) porque os seus átomos
de carbono e hidrogénio se combinam com o oxigénio, um processo químico
designado por oxidação. Quimicamente, a oxidação de uma molécula implica a
transferência de eletrões para uma outra molécula, que se torna reduzida. As
células para oxidarem uma determinada molécula necessitam de várias etapas.
Embora essas reações (anabólicas) possam ocorrer de forma espontânea
(deltaG<0) a sua velocidade é extremamente baixa, e consequentemente, é
necessário a presença de enzimas para que acelerem essas reações. Os
processos bioquímicos envolvidos na metabolização dos diferentes tipos de
biomoléculas serão abordados no 2º ano (Bloco Endocrinologia e
Metabolismo).
61
Figura 51– A interconversão do ATP e ADP ocorre de forma cíclica. Os dois fosfatos mais
externos são mantidos unidos ao resto da molécula por ligações anidridofosfóricas de alta
energia e podem ser transferidos facilmente. A adição de água ao ATP conduz à formação de
ADP + Pi (fosfato inorgânico). Esta hidrólise produz cerca de 11 a 13 Kcal/mol de energia útil. A
formação de ATP a partir de ADP e Pi (reação de condensação) é uma reação energeticamente
desfavorável e só ocorre se estiver acoplada a uma reação energeticamente favorável.
Para além disso, o ATP é também utilizado como fonte de grupos fosfato que
podem facilmente (mediado por enzimas cinase) permitir a transferência de um
grupo fosfato para um determinado substrato (proteínas, lípidos, etc), um
processo designado por fosforilação (Fig.52). Outras moléculas carregadoras
que podemos encontrar nas células são o NADPH, NADH e FADH2, que são
moléculas especializadas no transporte de eletrões até à cadeia de fosforilação
oxidativa.
62
Figura 52– Representação da utilização do ATP como dador de um grupo fosfato para uma
determinada proteína, nomeadamente num resíduo de serina ou treonina. Estas reações são
catalisadas por uma classe de enzimas designadas por “cinases”. Em termos biológicos um
outro aminoácido pode ser fosforilado, a tirosina, que está presente em determinados
recetores de membrana (UP3 de BBC). De salientar que esta modificação permite de forma
muito rápida ativar (ou inativar) determinadas proteínas.
63
Figura 53– Representação da Acetil-CoA, em que o átomo de enxofre forma uma ligação
tioéster com o acetato. Esta molécula de acetato pode ser facilmente transferida para outra
molécula porque a ligação tioéster é uma reação de alta energia. Este tipo de transporte é
extremamente importante após a formação do piruvato durante a glicólise, para que após a
sua oxidação o grupo acetato seja transportado através da coenzima A. Este assunto irá ser
abordado no 2º ano (Bloco Endocrinologia e Metabolismo).
Biossíntese de ATP
Durante o metabolismo, são sintetizadas diversas moléculas transportadoras
como por exemplo NADH e FADH2 durante o ciclo de Krebs. Estas moléculas
vão ser reoxidadas, transferindo para a cadeia respiratória os átomos de
hidrogénio e electrões. Os electrões são transportados ao longo da cadeia de
transporte de electrões localizada na membrana interna da mitocôndria,
passando sucessivamente para estados energéticos mais baixos, até ao
oxigénio. O oxigénio capta também H+ da solução aquosa formando-se assim
água.
A passagem dos electrões pela cadeia de transporte electrónico está acoplada
ao bombeamento de H+ para o espaço intermembranar e, consequente,
64
geração de um gradiente electroquímico entre o interior e o exterior da
mitocôndria (Figura 54). Desta forma, o potencial redutor das moléculas de
NADH e FADH2 é convertido em potencial electroquímico. Os H+ regressam
ao interior da mitocôndria através do complexo da ATP sintase, que utiliza a
energia libertada pela entrada de H+ a favor do seu gradiente electroquímico
para fosforilar o ADP, e formar ATP no interior da mitocôndria. O ATP é depois
transportado para o exterior da mitocôndria para poder ser utilizado noutros
locais da célula onde é necessário.
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Este documento foi preparado com base nas seguintes referências:
- Quintas A., Freire AP., Halpern MJ. Bioquímica – Organização Molecular da Vida,
2008, LIDEL
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