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Química e

Metabolismo de
Aminoácidos

Prof. Maximiliano Zierer


Introdução
• As proteínas são as macromoléculas mais abundantes
nas células vivas. Elas são os instrumentos moleculares
por meio dos quais a informação genética é expressa.

• Todas as proteínas de todos os organismos vivos (do


mais simples ao mais complexo) são formadas pelo
mesmo conjunto de 20 aminoácidos, ligados
covalentemente em sequências lineares. Cada um
destes 20 aminoácidos tem uma cadeia lateral distinta.

• As células podem produzir proteínas com propriedades


e atividades completamente distintas pela reunião dos
mesmos 20 aminoácidos em muitas combinações e
sequências diversas.
• A partir destes blocos formadores (os aminoácidos),
os diferentes organismos vivos podem sintetizar
produtos largamente diferentes entre si, como
enzimas, hormônios, anticorpos, transportadores,
músculos, proteínas do cristalino do olho, teias de
aranha, chifres de animais, proteínas do leite,
antibióticos, venenos de fungos, etc...

• Para compreender a correlação entre a estrutura e a


função biológica de uma determinada proteína, é
necessário antes conhecer as estruturas dos
aminoácidos e compreender como as suas
propriedades químicas influenciam o funcionamento
das proteínas.
Estrutura geral
Um aminoácido é constituído de um grupamento
amino (NH2), uma carboxila (COOH), um átomo de
hidrogênio (H) e um radical ou grupo R (R), ligados
a um átomo de carbono que é chamado de
carbono  por ser o adjacente ao grupamento
carboxila (ácido).

Em pH fisiológico, os
grupos amino e
carboxila estão na forma
ionizada: −NH3+e −COO-
A única exceção a esta fórmula básica é o
aminoácido prolina, que contém um grupo
imino (NH) no lugar do grupo amino (NH2).

Os aminoácidos diferem entre si pela cadeia


lateral ou grupo R, o qual varia em estrutura,
tamanho e carga elétrica, influenciando a
solubilidade do aminoácido em água.

As propriedades das cadeias laterais dos


aminoácidos, principalmente o fato de algumas
delas terem afinidade pela água e outras não,
são importantes para a conformação das
proteínas e, portanto, para sua função.
Propriedades Óticas dos Aminoácidos

Todos os aminoácidos (exceto a glicina) possuem


um átomo de carbono assimétrico (no mínimo) ou
um centro quiral, já que ele está ligado a quatro
grupos diferentes: −NH3+, −COO-, −H e −R.

Emil Fischer, 1891

Os aminoácidos com carbono  assimétrico


apresentam dois isômeros opticamente ativos:
formas D e L (estereoisômeros).
Propriedades Óticas dos Aminoácidos
Na glicina, este carbono não é assimétrico porque o
grupo R é constituído por −H:

Portanto, dos 20 aminoácidos primários, 19 são quirais


(e existem nas formas D e L) e somente um (a glicina)
é aquiral ou não-quiral.

Os resíduos de aminoácidos nas moléculas protéicas


são sempre L-estereoisômeros. D-aminoácidos são
encontrados apenas em alguns peptídeos da parede
de células bacterianas e em alguns peptídeos que
agem como antibióticos.
CLASSIFICAÇÃO QUANTO À CADEIA
LATERAL EM SOLUÇÃO

➢ Os aminoácidos são classificados, de acordo com


a tendência de interagir com água em pH
biológico, em apolares ou polares. Podem também
ser classificados nos cinco grupos abaixo:

1- Grupos R alifáticos e não polares;


2-Grupo R aromático;
3-Grupos R não carregado, polares;
4-Grupos R positivamente carregado (básico)
5- Grupos R negativamente carregados (ácidos)
Aminoácidos Apolares

✓ Os aminoácidos apolares (ou "oleosos",


porque são hidrofóbicos como os lipídeos) têm
grupos R constituídos por cadeias orgânicas
com caráter de hidrocarboneto, que não
interagem com a água.

✓ Têm geralmente uma localização interna na


molécula de proteína quando esta é globular
(nas proteínas de membrana, ficam
mergulhadas na bicamada lipídica).
Aminoácidos polares
✓ possuem grupos R, com carga elétrica líquida ou
grupos com cargas residuais, que os capacitam a
interagir com a água. São geralmente encontrados na
superfície da molécula protéica.
1- Grupos R alifáticos e não polares
2- Grupos R aromáticos
3- Grupos R não carregados (polares)

✓ Os aminoácidos polares
neutros ou sem carga são
seis. Serina, Treonina e
Tirosina têm um grupo
hidroxila (OH) na cadeia
lateral:

✓ Asparagina e Glutamina têm um grupo amida na cadeia


lateral (O=C−NH2), e Cisteína têm um grupo sulfidrila (SH)
na cadeia lateral.
✓ A cisteina é oxidada para formar uma aminoácido
dimérico chamado cistina, através de uma ponte
dissulfeto.
4-Grupos carregados R positivamente (básicos)

✓ Estes aminoácidos contém um segundo grupo amino,


ou no caso da Histidina, um outro átomo de N em
grupamento imidazol.
5- Grupos R negativamente carregados (ácidos)

✓ possuem duas carboxilas ou –COOH

✓O Glutamato é o mais predominante


neurotransmissor excitatório no sistema nervoso
central.
Aminoácidos não-primários
Aminoácidos como ácidos ou bases
✓ Quando dissolvido em água os aminoácidos formam
íons dipolares chamados zwitterions.

Caráter ácido Caráter básico


Catabolismo dos
Aminoácidos
Catabolismo dos Aminoácidos: Introdução
• A degradação oxidativa de aminoácidos faz uma
contribuição significativa para a liberação de energia
metabólica, e varia com o tipo de organismo e a situação
metabólica em que ele se encontra.

• Imediatamente após uma refeição, os carnívoros podem


obter através da oxidação dos aminoácidos até 90% das
suas necessidades de energia.

• Os herbívoros podem obter, desta fonte, apenas


pequena fração das sua necessidades energéticas.

• Já os vegetais raramente oxidam aminoácidos para


obter energia.
Catabolismo dos Aminoácidos: Introdução
• Nos animais, os aminoácidos podem sofrer degradação
oxidativa em três circunstâncias metabólicas diferentes:

• Durante a síntese e degradação normais das proteínas


celulares (renovação ou “turnover” das proteínas);

• Quando, devido a uma dieta rica em proteínas, os


aminoácidos são ingeridos em excesso em relação às
necessidades corporais de biossíntese de proteínas;

• Durante o jejum severo ou o diabetes mellitus, quando


os carboidratos estão inacessíveis ou não são utilizados
adequadamente.
Transaminação dos Aminoácidos: Fígado

Reações de
transaminação no
citossol dos
hepatócitos:
aminotransferases
ou transaminases
(PLP: Piridoxal
Fosfato- B6).

O glutamato conduz os grupos amino para ser utilizados por vias


biossintéticas, ou então, para uma seqüência de final de reações para
formar produtos nitrogenados degradados → serão excretados.
O glutamato libera amônia no Fígado
O glutamato é
transportado do
citossol para as
mitocôndrias
(matriz) onde sofre
L-Glutamato desaminação
Desidrogenase oxidativa.
+ADP
- GTP O α-cetoglutarato
formado pela
desaminação do
glutamato pode ser
empregado no ciclo
de Krebs ou para a
síntese de glicose.
A glutamina
transporta amônia
na corrente
sanguínea

A amônia é muito tóxica para


os tecidos animais. Ela é
convertida em um composto
não-tóxico antes de ser
exportada, através do
sangue, dos tecidos extra-
hepáticos para o fígado ou
para os rins.
A alanina transporta amônia
dos músculos para o fígado

A alanina também desempenha


um papel especial no transporte
para o fígado dos grupos amino
em uma forma não-tóxica, por
meio do ciclo glicose-alanina.

Deste modo, a carga energética


da gliconeogênese é imposta
sobre o fígado e não o músculo,
que pode empregar todo o ATP
disponível na contração
muscular.
A Excreção do Nitrogênio

• Quando não são utilizados para a síntese de novos


aminoácidos ou de outros compostos nitrogenados, os
grupos amino são destinados a formação e um único
produto final, a uréia.
• A maioria das espécies aquáticas (ex: peixes ósseos) →
excretam o N do grupo amino como amônia
(amoniotélicos);
• A maioria dos animais terrestres excretam uréia
(ureotélicos);
• Pássaros e répteis excretam ácido úrico (uricotélicos);
• Os vegetais reciclam praticamente todo os seus grupos
amino e a excreção de N só ocorre em situações raras.
O Ciclo da Uréia
• Nos organismos ureotélicos, a amônia (NH4+) é convertida
a uréia nas mitocôndrias dos hepatócitos por meio do Ciclo
da Uréia (Hans Krebs, 1932).
• Dos hepatócitos, a uréia passa para o sangue, é
transportada até os rins onde é excretada na urina.
• O ciclo da uréia começa no interior das mitocôndrias do
fígado, mas três passos enzimáticos subseqüentes ocorrem
no citossol. Assim o ciclo abrange dois compartimentos
celulares.
• Assim como acontece no ciclo de Krebs, há uma etapa
preparatória precedente na qual é produzido o carbamil
fosfato à partir do CO2 (na forma de HCO3-), em uma reação
catalisada pela carbamil fosfato sintetase I, com gasto de
ATP.
O Ciclo da Uréia e o Ciclo de Krebs
podem ser unidos
• O fumarato, produzido na reação da argininosuccinato
liase, é também um intermediário do ciclo de Krebs, e
assim, os ciclos são interconectados em um processo
dito “biciclo ou bicicleta de Krebs”. Entretanto, cada
ciclo pode funcionar independentemente.

• Fumarato → Malato → Oxaloacetato

• O aspartato, formado na mitocôndria por transaminação


entre o oxaloacetato e o glutamato, pode ser
transportado para o citossol, onde serve como doador de
N na reação do ciclo da Uréia catalisada pela
argininosuccinato sintase.
Aminoácidos Glicogênicos e Cetogênicos
• Seis aminoácidos que são degradados até acetoacetil-
CoA e/ou acetil CoA podem liberar corpos cetônicos no
fígado, pela conversão em acetona e β-hidróxi-butirato.
Esses aminoácidos são chamados de cetogênicos: Trp,
Phe, Tyr, Ile, Leu e Lis.

• Os aminoácidos que podem ser convertidos em


piruvato, α-cetoglutarato, succinil-CoA, fumarato e
oxaloacetato podem ser convertidos em glicose e
glicogênio são chamados de glicogênicos.

• A divisão entre aminoácidos cetogênicos e glicogênicos


não é perfeita: quatro aminoácidos são tanto cetogênicos
quanto glicogênicos: Tyr, Phe, Trp e Ile.
Biossíntese dos
Aminoácidos
Introdução
• A contribuição do N para a massa total dos
organismos vivos é menor somente que as
respectivas contribuições de C, O e H. A maior parte
deste N está ligada nos aminoácidos e nucleotídeos.

• As vias biossintéticas que levam aos aminoácidos e


nucleotídeos são extensivamente inter-relacionadas,
compartilhando vários intermediários comuns.

• O fluxo metabólico através da maioria dessas vias não


é tão grande como o fluxo biossintético que leva a
carboidratos e a gorduras dos tecidos animais.
O Ciclo do Nitrogênio
• Quatro quintos da atmosfera terrestre são compostos
pelo Nitrogênio molecular (N2). Porém apenas um
número relativamente pequeno de espécies vivas
pode converter o nitrogênio atmosférico em formas
químicas úteis para os organismos vivos.

• O primeiro passo do ciclo do N é a sua fixação


(redução) do N2 atmosférico por bactérias fixadoras
de N e que produzem amônia (NH3 ou NH4+).

• São capazes de fixar o N2 atmosférico as


cianobactérias, algumas bactérias de vida livre no
solo (ex: Azotobacter) e bactérias simbiontes de
raízes de plantas leguminosas (Rhizobium).
A Fixação do Nitrogênio
• O complexo da nitrogenase,
enzima presente nas bactérias
catalisa a redução (fixação) do N2
a NH3 (amônia), é constituída por
duas proteínas: uma Fe-proteína
(dinitrogenase redutase) e uma
MoFe-proteína (dinitrogenase).

• Esse sistema de fixação do nitrogênio produz mais


nitrogênio metabolicamente útil do que a planta
necessita; o excesso é excretado para o solo,
tornando-o mais rico.
O nitrogênio
reduzido na forma
de é assimilado
primeiro em
aminoácidos e
depois em outras
biomoléculas que
contêm N.
Dois aminoácidos,
glutamato e
glutamina, fornecem
o ponto de entrada.
Visão geral da Biossíntese dos
Aminoácidos
• Todos os aminoácidos são derivados de intermediários
da glicólise, do ciclo de Krebs ou da via das pentoses
fosfato. O N entra nessas vias por meio do glutamato e
da glutamina. Algumas vias são simples, outras não.
Para a síntese de aminoácidos aromáticos, as vias são
mais complexas.
• A maioria das bactérias e vegetais podem sintetizar
todos os 20 aminoácidos primários, enquanto que os
mamíferos podem sintetizar apenas metade deles,
geralmente os sintetizados por vias mais simples. Estes
são chamados de aminoácidos não-essenciais, para
evidenciar o fato de que não é necessário que estejam
presentes na alimentação.
Aminoácidos não-essenciais e
essenciais e seus precursores
Conclusões
• Os aminoácidos são os blocos estruturais básicos
das proteínas. A compreensão da química dos
aminoácidos permitirá ao aluno correlacionar a
estrutura com a atividade biológica das proteínas,
que são as moléculas mais abundantes do nosso
corpo e desempenham papéis cruciais para a vida.

• O catabolismo dos aminoácidos é mais ativo


dependendo do organismo vivo e da situação
metabólica considerada.

• Nos sistemas vivos, o nitrogênio reduzido é


incorporado primeiro nos aminoácidos , e depois
em uma variedade de biomoléculas nitrogenadas,
como nucleotídeos, porfirinas, creatina,
neurotransmissores e coenzimas.

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