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METABOLISMO DOS AMINOÁCIDOS

1-INTRODUÇÃO:
As Proteínas são as principais moléculas estruturais e funcionais de todos os
organismos vivos. Os Aminoácidos constituem todas as moléculas de Proteínas através
da ligação peptídica que une um resíduo ao outro formando a estrutura primária. As
Proteínas da dieta, desta forma, são as principais fontes de Nitrogênio para os animais.
A dieta protéica diária necessária para os adultos é de 0,5 a 0,7 g/kg de peso corporal e
para as crianças de um a três anos é de 4 g/kg. Os aminoácidos presentes nas células
animais originam-se das proteínas de dietas exógenas e das proteínas endógenas. As
proteínas endógenas, as quais totalizam 30 a 40 g/dia, são proteínas secretoras, bem
como componentes protéicos de células de descamação. As proteínas exógenas, as quais
totalizam no mínimo 75 a 100 g/dia, são obtidas através da dieta do indivíduo.

2-DIGESTÃO:
Inicia-se no estômago e completa-se no intestino delgado. É obtida por hidrólise
das ligações peptídicas catalisada por enzimas proteolíticas: Pepsina, cuja fonte é o suco
gástrico, Tripsina, Quimotripsina e Carboxipeptidase, cuja fonte é o suco pancreático e,
Aminopeptidases, Dipeptidases e Tripeptidases, produzidas pelas células do epitélio
intestinal. Cerca de 10 a 15% das proteínas que chegam ao trato gastrintestinal são
digeridas pela Pepsina, enzima secretada pelas células principais. A digestão protéica no
estômago é especialmente importante, pois os seus produtos funcionam como
secretagogos, estimulando a secreção de Proteases pelo pâncreas. Estas Proteases, como
a Tripsina, são secretadas na forma inativa e precisam ser ativadas no intestino. A
Enteroquinase, enzima secretada pelas células epiteliais do duodeno e do jejuno,
transformam o tripsinogênio, forma inativa, em Tripsina. As Peptidases continuam o
processo digestivo iniciado pelas proteases pancreáticas.

3-ABSORÇÃO:
Após a hidrólise das proteínas os aminoácidos são rapidamente absorvidos
através de processo ativo, com consumo de ATP e dependente da presença da Vitamina
B6 (Piridoxal-fosfato). Vários sistemas dependentes de Sódio foram identificados para o
transporte de dipeptídeos, tripeptídeos e aminoácidos. Os polipeptídeos são pouco
absorvidos. Transportadores separados estão presentes para a absorção de aminoácidos
ácidos, neutros e básicos, sendo que os últimos são absorvidos mais lentamente. Uma
vez no interior dos enterócitos, peptidases intracelulares digerem alguns dos
polipeptídeos em aminoácidos. Os polipeptídeos e aminoácidos restantes são
transportados através da membrana basolateral dos enterócitos, por difusão simples ou
facilitada.

4-CIRCULAÇÃO:
A maioria dos aminoácidos segue a circulação porta e uma menor quantidade
segue a via linfática. Do sangue os aminoácidos são retirados pelos diversos tecidos, de
acordo com as necessidades do organismo, para a síntese de proteínas. A absorção de
proteínas íntegras é rara e pode causar reações de sensibilização imunológica.
5-REAÇÕES DE TRANSFORMAÇÃO DOS AMINOÁCIDOS:

Como é do nosso conhecimento, os aminoácidos se caracterizam por


apresentarem o grupo amino (NH2) o qual é responsável pela presença do Nitrogênio e
o restante da molécula constituída de Carbono, Hidrogênio e Oxigênio, basicamente.
Outros elementos como o Enxofre aparecem na estrutura de poucos aminoácidos. Como
as proteínas representam a principal fonte de Nitrogênio da dieta humana, é interessante
conhecer a relação entre a quantidade de Nitrogênio ingerido e a quantidade de
Nitrogênio excretado, a qual denominamos “Balanço Nitrogenado”. Este balanço é dito
positivo quando a quantidade de Nitrogênio ingerido é maior do que a quantidade
excretada (anabolismo maior do que catabolismo); ocorre durante o período de
crescimento e de reparação de tecidos. Quando a quantidade de Nitrogênio ingerida é
igual à quantidade excretada (anabolismo igual ao catabolismo), dizemos que há um
equilíbrio. Assim deve ser no homem adulto normal. Quando a quantidade de
Nitrogênio excretada é maior do que a quantidade ingerida (anabolismo menor do que
catabolismo), dizemos que o balanço nitrogenado está negativo. Este fato ocorre em
casos de inanição, má nutrição, doenças que provocam febre, após queimaduras e
traumas, e na velhice.
Apenas 10% da energia liberada durante o metabolismo é proveniente dos
aminoácidos. O restante vem da oxidação de glicídios e triglicerídeos. Somente em três
circunstâncias metabólicas especiais os aminoácidos podem ser degradados para
produzir ATP ou para ser eliminados do organismo, já que não existem locais para seu
armazenamento:
a) quando ingeridos em excesso na alimentação muito rica em proteínas ou com o uso
de suplementos alimentares;
b) quando, após absorção não são utilizados para a síntese protéica;
c) durante o jejum ;
d) nos pacientes diabéticos;

5.1-REAÇÃO DE TRANSAMINAÇÃO:
Ocorre entre um aminoácido e um -cetoácido. O grupo amino do aminoácido,
removido na reação, será transferido ao -cetoácido e usado na síntese de novos
aminoácidos e ou na síntese da uréia. A transformação mais comum que ocorre é do
ácido glutâmico em ácido pirúvico ou ácido oxaloacético. Os principais produtos
formados são alanina e ácido aspártico. Um conjunto de enzimas participa desta reação:
transaminase-glutâmico-pirúvico (GPT), transaminase-glutâmico-oxaloacético (GOT),
alanina-transaminase e aspartato-transaminase. As enzimas GPT e GOT necessitam da
participação da coenzima piridoxina (Vitamina B6), nas formas de piridoxal-fosfato e
piridoxamina-fosfato.

5.2-REAÇÃO DE DESAMINAÇÃO:
Conforme o próprio nome está indicando, nesta reação o aminoácido perde o
grupo amino em presença de uma enzima desidrogenase, formando um cetoácido. As
reações vistas anteriormente, reações de transaminação, são facilmente reversíveis, pois
têm constante de equilíbrio próxima de 1. Desta forma, a desaminação de um
aminoácido depende da remoção contínua dos produtos formados: o glutamato e o -
cetoácido correspondente ao aminoácido. O glutamato pode ser removido por
transaminação com o oxaloacetato, formando aspartato, por ação da enzima aspartato-
transaminase, conforme reação abaixo:
glutamato + oxaloacetato -cetoglutarato + aspartato

Esta enzima é a aminotransferase mais ativa na maioria dos tecidos dos


mamíferos, evidenciando a importância da transaminação entre glutamato e aspartato. O
glutamato pode também ser desaminado, produzindo NH 4+. Esta reação é catalisada pela
glutamato-desidrogenase, uma enzima mitocondrial, que utiliza o NAD+ como
coenzima e é encontrada principalmente no fígado. Não são conhecidas desidrogenases
análogas a esta, que promovam a mesma reação para qualquer outro aminoácido.
Através desta reação a maioria da amônia (NH4+) do nosso organismo é formada. Neste
caso, e para que a mesma não se acumule, esta pode ser recuperada e utilizada na
síntese de novos aminoácidos, de bases nitrogenadas, ou ainda na formação de produtos
de excreção como a uréia.

5.3-REAÇÃO DE DESCARBOXILAÇÃO:
O próprio nome da reação indica que o aminoácido sofre descarboxilação, em
presença da enzima descarboxilase, e o produto é uma amina. Por exemplo: a
descarboxilação do aminoácido Histidina produz a Histamina, a do Triptofano produz
Serotonina, a do Ácido glutâmico produz Ácido -amino-butírico e a do aminoácido
Serina produz Etanolamina.

6-VIAS DE DEGRADAÇÃO DOS AMINOÁCIDOS:


Nas reações dos aminoácidos, quando ocorre a eliminação do grupo amino,
sobra um esqueleto carbonado denominado cetoácido. É este cetoácido que , quando
oxidado, produz ATP. Cada aminoácido origina um cetoácido diferente que, por sua
vez, seguirá uma via metabólica especial e sempre distinta das outras. Entretanto, apesar
de existirem tantas vias metabólicas diferentes, as mesmas convergem para formação de
produtos comuns, tais como o piruvato, o acetilCoA e alguns intermediários do Ciclo de
Krebs. Os aminoácidos que dão origem ao piruvato e a intermediários do Ciclo de
Krebs são chamados Glicogênicos, pois podem ser convertidos em glicose através da
via denominada Gliconeogênese. São eles: Alanina, Ácido Glutâmico, Arginina,
Metionina, Prolina e Hidroxiprolina, Serina, Valina, Glicina e Ácido Aspártico.
Aqueles que dão origem ao AcetilCoA são denominados cetogênicos como por
exemplo: Leucina, Triptofano e Lisina e podem formar Lipídeos e Corpos cetônicos.
Alguns podem ser tanto glicogênicos quanto cetogênicos: Isoleucina, Fenilalanina e
Tirosina. Neste caso são aminoácidos chamados mistos.

7-DESTINO DA AMÔNIA:
Conforme dito anteriormente, a amônia é tóxica para o nosso organismo. Devido
a isto ela não pode acumular-se, tendo que ser transformada e não pode circular
livremente pelo sangue. Sua toxicidade se deve à inibição de reações do Ciclo de Krebs,
pois reage com o -cetoglutarato, provocando alterações na produção de ATP. Este
composto contribui ainda para aumentar a formação de corpos cetônicos. A amônia
formada nos diversos tecidos, sob a forma de ácido glutâmico, poderá ser liberada do
mesmo através da reação de desaminação oxidativa e ser utilizada para a síntese de
outros aminoácidos e de bases nitrogenadas. Quando transportada dos diversos tecidos
para o fígado vai formar uréia. Nos músculos o destino da amônia é a formação do
aminoácido alanina a partir de piruvato, pois neste tecido ocorre a glicólise com grande
freqüência.
8-SÍNTESE DA URÉIA:
A síntese da Uréia nos mamíferos é feita no fígado, através do Ciclo de Krebs-
Henseleit, também chamada Ureogênese. A síntese inicia-se na matriz mitocondrial,
com a formação de carbamoil-fosfato a partir de íons bicarbonato e amônio e consumo
de duas moléculas de ATP. A amônia chega ao fígado pelas vias glutamina e/ou alanina,
nos animais ureotélicos. O carbamoil-fosfato condensa-se com a ornitina, formando
citrulina, que é transportada para o citosol, onde reage com o aspartato, formando
arginino-succinato que se decompõe em arginina e fumarato. A arginina é hidrolisada,
regenerando a ornitina e produzindo uréia, que é transportada para os rins e eliminada
pela urina. Este ciclo envolve a participação de três aminoácidos, sendo dois não
protéicos (ornitina e citrulina) e um protéico (arginina). Participam ainda cinco
enzimas: a carbamoil-fosfato-sintetase, a ornitina-transcarbamoilase, a arginino-
succinato-sintetase, a argininosuccinato-liase e a arginase. Apenas os animais
ureotélicos, a maioria dos vertebrados, produzem uréia por esta via, pois possuem a
enzima arginase em grande quantidade. A soma das reações de formação de carbamoil-
fosfato e do Ciclo da uréia mostra a equação final da síntese:

Aspartato + NH4+ + HCO3- + 3ATP + H2O uréia + fumarato + 2ADP +


2Pi + AMP + Ppi + +4H+

Portanto, a síntese de uma molécula de uréia consome quatro ligações fosfato


ricas em energia, já que o Ppi é prontamente hidrolisado. Todavia, o fumarato formado
neste ciclo pode ser convertido em oxaloacetato, por reações análogas às do Ciclo de
Krebs. As enzimas envolvidas estão, entretanto, localizadas no citosol. O oxaloacetato,
por transaminação, forma aspartato. Considerando-se este acoplamento, há produção,
pela malato-desidrogenase, de um NADH + H++, que forma três ATP por fosforilação
oxidativa, reduzindo para um o consumo de ATP.

9-FORMAÇÃO DE CREATINA-FOSFATO:
A creatina é uma substância nitrogenada presente em todos os tecidos,
especialmente nos músculos estriados, no cérebro e no sangue na forma de
fosfocreatina. Sua formação ocorre a partir dos aminoácidos glicina, metionina e
arginina, compreendendo duas fases:
Fase 1-Ocorre nos rins, na presença da enzima transamidinase, que catalisa a
transferência do grupo amidina da arginina para a glicina.
Fase 2-Forma-se o ácido guanidinoacético que passa ao fígado onde é metilado à custa
da S-adenosil-metionina formando creatina. A creatina pode ser fosforilada ou ainda
pode se converter em creatinina mediante uma reação de desidratação espontânea. A
creatinina é eliminada pela urina, após filtração glomerular. Sua taxa normal no sangue
é de 1 a 2 mg/dL.

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