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Paciente com ácido úrico elevado, não deve comer carne. E então, qual é a explicação que
vocês dão? Por que não pode comer muita carne? A carne é rica em proteínas.A proteína é rica
em aminoácidos e estes serão degradados até CO2,H2O e uréia. Este paciente deve evitar a
ingestão de carne porque também a carne é rica em nucleotídeos. Basta lembrar que carne é
tecido muscular; tecido muscular é rico em adenosina. Enquanto vivo, o músculo usava ATP
frequentemente como fonte de energia. E aí, esses nucleotídeos da classe das purinas são
degradados até ácido úrico para excreção. O paciente deve evitar a ingestão de carne. A
explicação geralmente dada de que a carne é rica em proteínas não vale; está errado. Não
produzimos ácido úrico a partir de aminoácidos. Produzimos ácido úrico a partir da
degradação; do catabolismo de nucleotídeos.
Um aminoácido tem na sua estrutura geral um carbono alfa ligado a um grupo de carboxila, a
um grupo amina, a um hidrogênio e um radical. O esqueleto de carbonos acabará sendo
degradado completamente até CO2 e H20; o catabolismo é convergente. Vamos convergir
para acetil-coA, ciclo de Krebs e cadeia transportadora de elétrons. O grupo amina terá que ser
transformado em uréia para excreção. A primeira etapa no catabolismo de aminoácidos é a
desaminação. O grupo amina de um aminoácido é removido e isto é catalisado por enzimas
que são denominadas transaminases. Vamos ter uma transaminase para cada aminoácido. E
por que transaminases? Só a partir de uma proteína, obtemos 20 aminoácidos diferentes. Na
natureza existem mais de 300 aminoácidos. Imagina se para cada aminoácido ocorresse uma
via catabólica diferente até formar uréia, CO2 e H2O. Seria um trabalho bioquímico e
metabólico muito grande; exigiria da célula várias enzimas e desta maneira acaba gastanto
muita energia para sintetizar essas enzimas e realizar essa degradação. Então novamente
vocês vão observar que o catabolismo é convergente. A lógica da transaminação é a seguinte:
um aminoácido sem o grupo amina se torna um cetoácido. Ex: piruvato é um cetoácido
carboxílico de 3 carbonos. Se este cetoácido recebe um grupo amina, ele se torna um
aminoácido. Seria o aminoácido alanina. Cetoácido com 4 carbonos: oxaloacetato;
intermediário do ciclo de Krebs. Se eu coloco um grupo amina aqui, eu tenho um aminácido, o
aspartato. Cetoácido com 5 carbonos: α-cetoglutarato; intermediário do ciclo de Krebs. Se eu
adiciono um grupo amina eu tenho um aminoácido, o glutamato. Sem o grupo amina, o
esqueleto de carbono do aminoácido passa a ser um cetoácido. A transaminação
quimicamente falando nada mais é do que a remoção do grupo amina de um aminoácido
qualquer e a transferência deste grupo amina que foi removido para algum cetoácido.
Portanto a transaminação também é útil no processo de síntese de aminoácido. Eu posso, por
exemplo, produzir alanina a partir do piruvato. Eu retiro o grupo amina de um aminoácido
qualquer e faço a transferência desta amina para o piruvato. Tenho o aminoácido alanina. Os
aminoácidos não essenciais, aqueles que a gente sintetiza, eles podem ser produzidos
utilizando o nitrogênio, grupo amina de um outro aminoácido que você tenha obtido na
alimentação. Uma vez que a transaminação permite a remoção do grupo amina de um
aminoácido qualquer; grupo amina este que será transferido para um cetoácido. Então,
transferindo um grupo amintia de um aminoácido qualquer para um cetoácido, eu produzo um
outro aminoácido. Essa reação é útil no anabolismo, para eu sintetizar um aminoácido. No
catabolismo, quando uma célula qualquer sua está degradando algum aminoácido que exista
em excesso naquela célula, o grupo amina do aminoácido será transferido para um cetoácido
caboxílico de 5 carbonos, que é justamente o α-cetoglutarato. Adicionando um grupo amina a
esse α-cetoglutarato, eu terei o glutamato. O glutamato é um amioácido cujo o radical é um
esqueleto de 3 carbonos sendo o último uma carboxila. O catabolismo mais uma vez
convergente. Você tinha grupos amino de diferentes aminoácidos que agora foram
recolhidos;coletados na forma de um único aminoácido, o glutamato. Então, em uma única via
metabólica você terá amônia e uréia para excreção. Você ingeriu proteínas, ingeriu 20 tipos de
aminoácidos diferentes e o excedente de aminoácidos que o seu corpo vai degradar, tem o
processo de degradação iniciado por uma reação de transaminação; onde o grupo amina de
qualquer um destes aminoácidos poderá ser transferido para o α-cetoglutarato, dando origem
a glutamato. Simplificando o esquema todo, a gente vai ter a partir de um aminoácido apenas
a produção de amônia que será convertida em uréia para excreção. O catabolismo é
convergente. Ao invés de existirem vias catabólicas diferentes uma a partir de cada
aminoácido eu começo com a transaminação e recolho um grupo amina de vários aminoácidos
diferentes sob a forma de um único aminoácido, o glutamato. Para isso, essa reação de
transaminação consome α-cetoglutarato.
O glutamato será então o aminoácido que irá sofrer desaminação dando origem a íons amônia.
E com isso você resgata o α-cetoglutarato. Evolutivamente os organismos aquáticos
encerravam aqui. A amônia é bastante volátil e hidrofílica, então por difusão vai ser elimnada
para o meio aquoso. Nós, organismos terrestres vamos precisar transformar esta amônia em
uréia para excreção. A uréia é bastante hidrofílica para ser excretada na água, porém não é
tóxica como a amônia. Por que a amônia é tóxica? Esta reação de desaminação do glutamato
liberando íons amônia é espontaneamente reversível. Então caso ocorra acúmulo de amônia, a
amônia em excesso reage com o α-cetoglutarato dando origem de novo ao glutamato. Por que
isso é tóxico? Primeiro lembrando que o α-cetoglutarato é um intermediário do ciclo de Krebs
e espontaneamente a amônia reagir com o α-cetoglutarato dando origem ao glutamato, você
estará prejudicando o ciclo de Krebs.
Vamos supor que em uma célula exista 100 mols de α-cetoglutarato participando do cicl de
Krebs. Então, você teria 100 reações do ciclo de Krebs acontecendo simultaneamente. Se
houver excesso de amônia nesta célula, ela irá reagir espontaneamente com o α-
cetoglutarato. Então ao invés de 100, você terá 99,98,97,96 e por aí vai. A intensidade e a
frequência que essas reações do ciclo de Krebs ocorrem na mitocôndria destas células, irá
diminuir. Porque está diminuída a disponibilidade; a concentração de um intermediário do
ciclo de Krebs. A consequência disso é, no mínimo, cansaço; fadiga.
Mostrando o ciclo da uréia, vocês vão entender a razão da venda de alguns suplementos de
aminoácidos supostamente como energéticos. Não é que o aminoácido será usado como fonte
de energia para aquele indivíduo, mas é porque o aminoácido, por exemplo, a arginina e o
aspartato que são suplementos comuns; esses são aminoácidos que participam no fígado da
conversão de amônia em uréia para excreção. Então a lógica é a seguinte: se a sua dieta é
deficiente destes aminoácidos, a falta destes aminoácidos compromete a capacidadede do
fígado em transformar amônia em uréia. Por uma deficiência alimentar você vai sofrer de
fadiga. A amônia vai se acumular, vai reagir com o α-cetoglutarato prejudicando o ciclo de
Krebs. Então, o suplemento destes aminoácidos é vendido como energético por essa razão.
Não é que você vai degradar o aspartato, a arginina e gerar mais ATP. Não é isso. É que são
aminoácidos que participam da conversão de amônia em uréia. Se esses aminoácidos
estiverem faltando na sua dieta, na sua alimentação, você acaba tendo acúmulo de amônia. É
bastante comum na química você receber um paciente se queixando de cansaço e o primeiro
motivo que você questiona é em relação a alimentação. Na maioria das vezes a causa para o
cansaço é uma alimentação inadequada e corrige isso corrigindo a alimentação. Se por uma
deficiência alimentar ou por um defeito genético o ciclo da uréia não está funcionando, você
não vai conseguir transformar amônia em uréia. A amônia então vai se acumular. Se o defeito
for genético, essa não conversão de amônia em uréia acontece desde o primeiro dia de
existência desse organismo. O fígado do indivíduo não consegue fazer essa conversão. Retardo
mental vai acontecer porque o glutamato ele também é um neurotransmissor e o próprio
glutamato também é o precurssor para a síntese de outro neurotransmissor, o gaba. Com
efeitos contrários; antagônicos. Então, o próprio aminoácido glutamato tem outra função
fisiológica; ele atua como neurotransmissor. E também é substrato para a produção de outro
neurotransmissor. Se houver acúmulo de amônia, a produção destes neurotransmissores
aumenta e passa a ser involuntária. Ela está acontecendo pela natureza reversível da reação de
desaminação do glutamato. Nesse caso não tem cura e desde bebê precisa fazer dieta e nesse
caso é complicado. Você pode fazer suplementação com cetoácido pra que qualquer
excedente de aminoácido que ele tenha recebido na alimentação, ao sofrer desaminação ao
invés de consumir o α-cetoglutarato para produzir glutamato, você vai produzir um outro
aminoácido. Isso é só um paliativo; o retardo mental vai acontecer. Se está com sintomas e
características de retardo no desenvolvimento psicomotor, uma das causas depende do ciclo
da uréia. Aí você vai ter que pesquisar onde é o erro para fazer o diagnóstico. A desaminação
que a arginina vai sofrer no ciclo da uréia já vai dar origem a uréia. A desaminação que o
aspartato vai sofre no ciclo da uréia dará origem a uréia e não a amônia. Então, quanto mais
intermediários tiver disponível para o ciclo da uréia consumir, mais amônia vai ser convertida
em uréia para a excreção. Mas veremos o ciclo da uréia mais adiante. A amina destes
aminoácidos, aspartato e arginina, no ciclo da uréia, não vão dar origem a amônia e sim, darão
origem a uréia. Não vai s ter esse excedente de amônia que se está imaginando.
Entendida a toxicidade da amônia, nesta célula qualquer do seu corpo, portanto não é o
hepatócito, onde está ocorrendo o catabolismo de aminoácidos e a produção de amônia; esta
amônia não deve sair desta célula. Ela é muito tóxica. A amônia, será transformada em outro
aminoácido, glutamina. A produção de glutamina quimicamente ocorre da seguinte maneira:
glutamato recebe um grupo amina e se α-cetoglutarato. Recebeu um nitrogênio e se tornou
glutamato. Agora pode receber mais um grupo amina e se tornar glutamina. Eu tinha um
aminoácido ácido e agora eu tenho um aminoácido básico, cuja função é transportar na
corrente sanguínea grupamentos amina até o fígado. Veja, se fizermos a dosagem agora dos
20 tipos de aminoácidos na corrente sanguínea, a expectativa é encontrar esses 20
aminoácidos mais ou menos na mesma concentração. Você obteve esses aminoácidos na dieta
a partir da hidrólise de proteínas. A excessão será a glutamina. Constantemente há a produção
de glutamina endógena. As suas células estão produzindo glutamina e oferecendo-a para o
sangue. Qual é o papel? Transportar esse nitrogênio; esse grupo amina até o fígado. A própria
reação de síntese de glutamina já minimiza a formação de amônia. Vamos supor que 100
moléculas de glutamato tenha sido produzida naquela célula. Não serão 100 glutamatos
sofrendo desaminação. Eu tenho 50 glutamatos sofrendo desaminação e 50 glutamatos
reagindo com a amônia gerada produzindo glutaminas. Então eu diminuo a produção de
amônias e gero uma aminoácido básico; glutamina que será o responsável pelo transporte no
sangue desse nitrogênio. Ao invés de amônias sendo ofercidas na corrente sanguínea, a gente
tem um aminoácido glutamina.
Então no sangue teremos glutamina com o papel de transportar grupos amina até o fígado. O
fígado vai sintetizar uréia e fornece essa uréia para o sangue que vai sofrer filtração e vai sair
na urina. Então estávamos em uma célula qualquer e agora vamos para uma célula específica;
a célula hepática, onde ocorre a produção de uréia.
Quimicamente lógica das reações é a seguinte: por isso a natureza cíclica dessas reações (Ver
esqueleto do ciclo no caderno). A ornitina mais carbamoilfosfato dá origem a citrulina. A amina
doada pelo aspartato transforma a citrulina em arginina. A arginina tem no seu radical duas
aminas e o carbono para a síntese d uréia. A arginina será hidrolisada. Vai sair carbono com as
duas aminas e o oxigênio da água. Você recupera a ornitina. O ciclo reinicia mais uma vez. De
novo, ornitina mais carbamoilfosfato, citrulina. Citrulina com mais um grupo amina, arginina.
Arginina é hidrolisada liberando uréia e permitindo o resgate da ornitina. O ciclo reinicia.
Quem descreveu essas reações do ciclo da uréia e o ciclo do ácido cítrico, foi Krebs. Ver a
sequência de reações do ciclo: ornitina vai reagir com carbamoilfosfato e vai dar origem a
citrulina. Citrulina vai reagir com aspartato; aminoácido ácido aspártico. Vai dar origem a um
intermediário do ciclo, chamado arginosuccinato. O aminoácido aspartato conjugado a
citrulina deu origem a arginosuccinato. O objetivo é o aspartato doar um grupo amina. O
esqueleto de carbonos vai embora. Vai sair o esqueleto de carbono sob a forma de fumarato;
intermediário do ciclo de krebs. Vai sair a arginina. Arginina vai ser hidrolisada liberando uréia
e permitindo a recuperação; o resgate da ornitina. Então vai sair carbono ligado ao oxigênio e
ligado aos dois grupos amina, uréia. A arginina foi hidrolisada. Recupera a ornitina e ciclo se
reinicia. Já foram identificados e caracterizados defeitos genéticos relacionados a expressão de
cada enzima catalizadora de reações do ciclo da uréia. Então se o indivíduo herdou
geneticamente um defeito; um gen mutante que expressava a enzima
ornitinatranscarbamoilase, que é a primeira enzima do ciclo da uréia. Se a primeira enzima do
ciclo da uréia não funciona, esse organismo não consegue tranformar ornitina em citrulina;
com isso haverá acúmulo de ornitina. Então você pode diagnosticar tal defeito enzimático
solicitando a dosagem de ornitina. Se o defeito enzimático for na segunda reação do ciclo da
uréia, a arginosuccinatosintase não funciona, haverá acúmulo de citrulina. Também solicita a
dosagem de citrulina. Se o defeito enzimático é relacionado a enzima arginosuccinatoliase,
que degradaria o arginosuccinato produzindo arginina, este intermediário arginosuccinato vai
acumular. Se o defeito enzimático é na última reação, a arginase é defeituosa, se acumula
arginina. Então o diagnóstico para o defeito enzimático do ciclo da uréia é feito solicitando a
dosagem de qualquer um dos intermediários do ciclo da uréia. Aquele intermediário que seria
o substrato para a enzima defeituosa, ele vai acumular. Qualquer que seja a enzima, o
resultado final é o mesmo. Interrompo o ciclo da uréia e acumulo amônia. É importante que o
diagnóstico seja feito o mais breve possível para poder começar uma dieta e melhorar a
qualidade de vida do paciente. A única reação que ocorre fora da mitocôndria é a da arginase,
vai produzir uréia.