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1 - Introdução
Os aminoácidos desempenham papel de destaque no metabolismo. Eles são adquiridos
através da dieta, da quebra de proteínas corporais e da síntese endógena, principalmente
dos aminoácidos não essenciais. Além disso, os aminoácidos têm diversos destinos
metabólicos, podendo ser utilizados na produção de compostos importantes, como melanina,
adrenalina, dopamina, serotonina, creatina, carnitina, entre outros. Eles também podem ser
convertidos em glicose e corpos cetônicos, demonstrando sua versatilidade e importância no
metabolismo celular.
Para serem utilizados como fonte de energia, os aminoácidos perdem seu grupo amina
(NH4+). Entretanto, esse grupo químico é tóxico, portanto, precisa ser excretado na forma de
ureia, que é formada no ciclo da ureia.
O α-cetoácido produzido nessa reação entra no ciclo de Krebs. Alguns α-cetoácidos são
convertidos em acetil-CoA e entram no ciclo de Krebs, alguns são convertidos em piruvato.
Os aminoácidos convertidos em acetil-CoA podem ser fontes apenas de corpos cetônicos no
jejum prolongado, sendo chamado de aminoácidos cetogênicos. Os aminoácidos convertidos
em piruvato podem ser utilizados na gliconeogênese para formar glicose, sendo chamados
de aminoácidos gliconeogênicos.
O glutamato, produzido pela transferência do grupo amina para o α-cetoglutarato, passa por
uma nova reação catalisada por outra transaminase. A enzima que catalisa a próxima reação
é a transaminase glutâmico pirúvica, que catalisa a transferência do grupo amina da
glutamato para o piruvato. Assim, o glutamato é convertido em α-cetoglutarato novamente,
enquanto o piruvato é convertido em alanina. O α-cetoglutarato formado volta e capta outros
grupos amina, enquanto a alanina é enviada para o sangue para chegar ao fígado, local onde
ocorre o ciclo da ureia.
A imagem ilustra o processo que ocorre de entrado dos aminoácidos no ciclo de Krebs. Legenda: PLP: piridoxal
fosfato, derivado da vitamina B6.
Portanto, observa-se que a alanina atua como veículo de transporte do grupo amina do
músculo para o fígado. Da mesma forma, a glutamina desempenha um papel crucial como
transportadora do grupo amina de vários outros tecidos para o fígado. No fígado, esses
aminoácidos liberam seus grupos aminos, que são incorporados ao ciclo da ureia.
Sobre o processo descrito anteriormente, a alanina perde seu grupa amina em uma reação
catalisada pela transaminase glutâmico pirúvica (TGP), a mesma reação que ocorreu no
músculo, porém catalisada no sentido contrário, os substratos são α-cetoglutarato e alanina e
os produtos são piruvato e glutamato.
Já a glutamina perde seu primeiro grupo amina através de uma reação catalisada pela
glutaminase, formando glutamato e NH4+. As próximas reações ocorrem com os glutamatos
proveniente da TGP e da glutaminase.
O glutamato formado por essas duas reações pode entrar no ciclo da ureia de duas formas
diferentes. A primeira forma é através da glutamato desidrogenase, que catalisa uma reação
que o glutamato doa grupo amina livre. A outra forma é a transferência do grupo amina do
glutamato ao oxaloacetato, o glutamato é convertido em α-cetoglutarato e o oxaloacetato é
convertido em aspartato. Essa reação de transferência do grupo amina é catalisada pela
transaminase glutâmico oxalacética (TGO).
Os grupos amina livre formados passam por uma última reação antes de entrar no ciclo de
Krebs, essa reação é catalisada pela carbamoil fosfato sintetase-1 (CPS-1). Essa enzima
catalisa a adição de um CO2 e um fosfato ao grupo amina. Essa reação resulta na formação
do composto chamado de carbamoil fosfato.
A primeira reação do ciclo de ureia é catalisada pela ornitina-transcarbamoilase. Essa reação
consiste na junção do carbamoil fosfato a ornitina (composto presente no ciclo da ureia),
formando a citrulina.
A segunda reação é catalisada pela arginino-succinato-sintetase (AGSS), que catalisa a
adição de um AMP a citrulina, formando o citrulil-AMP, que é apenas um intermediário. A
próxima conversão consiste na saída do AMP e na entrada do aspartato citato anteriormente,
formando o arginino-succinato. essa conversão também é catalisada pela AGSS.
A terceira reação é catalisada pela arginino succinato liase, que catalisa a quebra do arginino-
succinato em dois compostos: arginina e fumarato. A arginina continua no ciclo da ureia e o
fumarato retorna ao ciclo de Krebs.
A última reação do ciclo da ureia é catalisada pela arginase, que catalisa a quebra da arginina
em ureia e ornitina. A ureia será encaminhada aos rins e para posteriormente ser excretada.
A imagem ilustra a entrada dos aminoácidos glutamina e alanina no ciclo da ureia e o ciclo da ureia.
No músculo, durante a quebra de aminoácidos para produzir energia, o grupo amina dos
aminoácidos é transferido para o piruvato, convertendo-o em alanina. Esta alanina é
transportada para o fígado, onde é convertida de volta em piruvato, que pode servir como
substrato para a gliconeogênese. Assim, forma-se o ciclo conhecido como ciclo glicose-
alanina, no qual o piruvato resultante da glicólise no músculo recebe um grupo amina, é
transportado para o fígado, perde o grupo amino e é convertido em glicose pela
gliconeogênese.
No ciclo de Cori, durante o exercício intenso, o músculo produz lactato em grande quantidade
por meio da glicólise. Esse lactato é transportado para o fígado, onde pode ser convertido em
glicose por meio da gliconeogênese. A glicose pode então ser enviada de volta ao músculo,
completando o ciclo.
A imagem ilustra o ciclo glicose-alanina e o ciclo de Cori.
Como dito anteriormente, o ciclo da ureia possui importância de converter o grupo amina em
um composto menos tóxico. Em alguns casos, pessoas podem possuir distúrbios metabólicos
na produção da ureia. Esse distúrbio metabólico é chamado de hiperamonemia e pode ser de
caráter hereditário ou adquirido. A hiperamonemia hereditária é causada pela deficiência na
estrutura de alguma das enzimas do ciclo da ureia. Já a hiperamonemia adquirida é causada
por algum dano no fígado (Ex: cirrose). Em ambos os casos as concentrações de alanina,
glutamina e amônia (NH4+) aumentam no sangue, causando letargia, irritabilidade, vômitos,
convulsões, coma e até mesmo a morte.
A entrada dos aminoácidos no ciclo de Krebs é mais complexa do que a entrada de outros
combustíveis orgânicos, devido à variedade de formas pelas quais podem entrar. Alguns
aminoácidos entram no ciclo como α-cetoglutarato, outros como succinil-CoA, fumarato,
oxaloacetato, piruvato ou acetil-CoA. Vale lembrar que a forma que o aminoácido entra no
ciclo de Krebs pode definir se o aminoácido é gliconeogênico, cetogênico ou os dois.
A imagem ilustra a forma que cada aminoácido entra no ciclo de Krebs, destacando os aminoácidos cetogênicos
e os glicogênicos.
A síntese do grupo heme é bem importante devido à participação desse grupo químico na
estrutura de diversas proteínas, como a hemoglobina, a mioglobina e outros. A deficiência na
estrutura das enzimas que participam da via de síntese do grupo heme pode causar o
acúmulo de alguns intermediários dessa via, causando a doença conhecida como porfiria.
Alguns intermediários dessa via são sensíveis à luz, que em presença de luz formam ROS,
gerando dano à pele e outros tecidos, além de possuírem anemia devido à falta de grupo
heme para a síntese de hemoglobina.