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Na Cadeia Respiratória, ocorre a transferência da energia dessas ligações químicas de “baixa energia”
do NADH e FADH2 para ligações de “alta energia”, possibilitando a síntese do ATP.
Por outro lado, quando estamos em um estado de jejum, e nossos estoques de glicose estão baixos,
nosso organismo é capaz de produzir novas moléculas de glicose a partir de compostos não glicídicos,
num processo chamado de gliconeogênese. Essa é uma importante forma de regular a concentração
sanguínea de glicose, chamada de glicemia, visto que alguns órgãos funcionam quase exclusivamente
por meio de glicose.
Agora, assista a videoaula abaixo.
Antes de darmos início ao estudo das vias metabólicas propriamente ditas, precisamos definir alguns
conceitos sobre esses carreadores e moléculas energéticas, NADH, FADH2 e ATP. Fique atento ao
próximo tópico!
Figura 1 - Estrutura da molécula de ATP. Em vermelho destaca-se uma das ligações de alta energia entre
os fosfatos.
Fonte: Adaptada de Harvey (2015, p. 73).
Talvez você já tenha ouvido falar no ATP, porém NADH e FADH2 podem ser conceitos novos para você.
Vamos explorar o que são essas moléculas? Mantenha-se atento e siga em frente!
Figura 2 - Nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD+ / NADH). À esquerda da figura, observamos a forma
oxidada de NAD+, já à direita a forma reduzida de NADH. Destaca-se em vermelho o sítio de ligação ao
átomo de hidrogênio (H).
Fonte: OpenStax (2019).
Em breve, iremos iniciar o estudo sobre uma das principais vias metabólicas envolvidas com produção
de energia em nosso organismo: a Glicólise. Entretanto, você sabe como os carboidratos da alimentação
(doces, massas, grãos, frutas e laticínios, por exemplo) chegam até nossas células? Fique atento!
•
O GLUT-3 é o principal transportador da glicose no sistema nervoso central.
•
Já o GLUT-4 é abundante no tecido adiposo, coração e no músculo esquelético.
•
O GLUT-2, encontrado no fígado, pode tanto transportar a glicose para dentro dessas célula
(quando os níveis de glicose no sangue estão altos) quanto transportar a glicose das célula
para o sangue (quando os níveis sanguíneos de glicose estiverem baixos, por exemplo, n
jejum).
As células do tecido hepático, neurônios e eritrócitos não necessitam de insulina para transportar a
glicose. Já as células que têm GLUT-4, como tecido adiposo e músculos, necessitam da insulina para
que o transportador seja capaz de internalizar a glicose (NAVALE; PARANJAPE, 2016). A insulina é um
hormônio produzido pelo pâncreas, quando a concentração de glicose no sangue se eleva. Quando
produzida, sensibiliza as células musculares e adipócitos a captar glicose, removendo-a da corrente
sanguínea. Outro hormônio, também produzido pelo pâncreas, glucagon, tem efeito contrário,
estimulando a liberação de moléculas de glicose para a corrente sanguínea, quando a glicemia começa
a baixar. Essa liberação ocorre principalmente em condições de jejum, pela quebra do glicogênio
hepático. A manutenção da glicemia é fundamental para nosso organismo, visto que alguns órgãos,
como o cérebro, necessitam de um aporte constante de glicose para sua manutenção.
Vamos dar início ao estudo da via glicolítica, uma das vias metabólicas mais importantes em nosso
organismo!
3.1.4. Glicólise
A Glicólise é um processo que ocorre integralmente no citoplasma celular e pode ser definida como a
quebra de moléculas de glicose (6 carbonos) em 2 moléculas de piruvato (um composto mais simples
de 3 carbonos). De acordo com Nelson (2014):
Na glicólise (do grego glykys, “doce” ou “açúcar”, e lysis, “quebra”), uma molécula de glicose é
degradada em uma série de reações catalisadas por enzimas, gerando duas moléculas do
composto de três átomos de carbono, o piruvato. Durante as reações sequenciais da
glicólise, parte da energia livre da glicose é conservada na forma de ATP e NADH (NELSON,
2014, p. 544).
Na verdade, a Glicólise é um conjunto de dez reações químicas, que possui como produto final duas
moléculas de piruvato. Ainda, durante essas reações químicas são liberados ATP e NADH. O ATP pode
ser imediatamente utilizado pela célula como fonte de energia. Já o NADH seguirá para a fosforilação
oxidativa quando houver oxigênio disponível. Classicamente, as cinco primeiras reações da via glicolítica
são chamadas de Fase de Preparação, sendo que ao custo de 2 moléculas de ATP, ocorre a fosforilação
da glicose e sua conversão a gliceraldeído-3-fosfato. Já as cinco últimas reações são chamadas de
Fase de Pagamento, pois ocorre a conversão oxidativa do gliceraldeído-3-fosfato em piruvato e
formação de 4 ATPs e 2 NADH. Na imagem abaixo, pode ser observada uma representação esquemática
da Glicólise.
Figura 3 - Representação esquemática de Glicólise. Perceba que há uma divisão didática em Fase de
Preparação e Fase de Pagamento.
Fonte: Adaptada de Marzzoco (2015, p. 120).
No objeto interativo abaixo, você poderá aprender mais sobre etapas da Glicólise. Acompanhe!
Um ponto importante a ser observado, é que o saldo líquido de moléculas de ATP é igual a dois (2 ATP).
Isso se deve ao fato de que embora sejam produzidas quatro moléculas de ATP (4 ATPs) durante as
etapas finais, duas moléculas de ATP (2 ATPs) são consumidas nas etapas iniciais de preparação. Essas
duas moléculas são essenciais para a ativação da molécula de glicose, o que possibilita o início da
glicólise. Na imagem abaixo, temos um resumo das moléculas consumidas e produzidas na glicólise.
Figura 4 - Resumo da via glicolítica, na parte superior os compostos consumidos e na parte inferior os
compostos produzidos.
Fonte: Elaborada pelo autor (2018).
Os demais monossacarídeos da dieta, galactose e frutose, que representam a minoria dos carboidratos
consumidos diariamente, são convertidos em grande parte no fígado, em intermediários da glicólise e
assim são oxidados na via. A galactose é convertida em glicose 6-fosfato e a frutose é convertida a di-
hidroxiacetona fosfato e gliceraldeído 3-fosfato. Ambos produtos formados seguem a via glicolítica.
3.1.5. Destinos do Piruvato
Após a produção de Piruvato, essa molécula pode ter três destinos. Clique nas abas abaixo e aprenda
mais sobre o tema.
Destino 1
Em tecidos com disponibilidade de oxigênio, a glicólise é apenas
a primeira etapa de oxidação completa da glicose. Nesses
tecidos, o piruvato irá sofrer uma descarboxilação (perder um
carbono), na forma de CO2, dando origem ao Acetil-CoA. Esse
processo ocorre na mitocôndria e direciona o Acetil-CoA para o
Ciclo de Krebs para sua oxidação completa. Iremos abordar o
Ciclo de Krebs mais adiante.
Destino 3
Até agora, pudemos perceber o papel fundamental da glicose no metabolismo. Alguns tecidos
dependem, quase exclusivamente, da glicose para produção de energia. São exemplos desses órgãos o
cérebro, eritrócitos, testículos e medula renal. Somente o cérebro consome em média 120 g de
glicose/dia! Essa quantidade representa mais da metade das moléculas de glicose que temos
estocadas na forma de glicogênio hepático e muscular (NELSON, 2014).
VOCÊ QUER LER?
A fadiga muscular relacionada ao exercício muscular intenso é associada às
cãibras, por muitos esportistas. Essa associação é equivocadamente realizada com
base no excesso de ácido lático produzido, a partir do lactato, em condições de
exercício físico extenuante, em que o músculo não é suprido por oxigênio
adequadamente. Ou seja, alguns praticantes de exercícios atribuem suas câimbras
ao ácido lático acumulado nos músculos após um exercício extenuante. Acesse o
site e leia o texto produzido por Bordoni e Varacallo, intitulado MuscleCramps
(Cãibras Musculares, do inglês). Descubra as verdadeiras causas dessa condição!
Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK499895/
(https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK499895/)>.
3.1.6. Gliconeogênese
Essa é uma via bioquímica que em mamíferos ocorre majoritariamente no fígado e utiliza quase o
mesmo aparato enzimático da glicólise.
As principais moléculas precursoras para a síntese de novas moléculas de glicose são: lactato, glicerol e
aminoácidos. Há três pontos, das dez reações da glicólise, que se faz necessário a realização de um
“contorno”. Isso se deve ao fato de que sete enzimas catalisam reações reversíveis, tanto na glicólise
quanto na gliconeogênese, porém, três delas catalisam reações irreversíveis, sendo necessária ação de
outras enzimas para que o processo ocorra. Abaixo temos uma imagem que compara as etapas da
glicólise e gliconeogênese. Observe que alguns pontos da glicólise utilizam enzimas diferentes das
reações correspondentes da gliconeogênese:
Para que novas moléculas de glicose se formem, a primeira reação que precisa ocorrer é a conversão de
piruvato a fosfoenolpiruvato. Na glicólise, o fosfoenolpiruvato é convertido a piruvato pela enzima
piruvato-cinase, porém essa enzima não é capaz de realizar a reação contrária. Sendo assim, ao passo
que na glicólise, em apenas uma reação o fosfoenolpiruvato é convertido em piruvato, na
gliconeogênese, são necessárias duas reações para converter o piruvato em fosfoenolpiruvato (número
1 e 2 em azul, na imagem acima). É necessário o transporte do piruvato do citoplasma para a
mitocôndria, pois aí se encontram as enzimas que catalisam a reação. Uma vez na mitocôndria, o
piruvato sofre ação da piruvato-carboxilase (1), e é convertido em oxaloacetato. Em seguida, o
oxaloacetato é convertido em fosfoenolpiruvato (2) pela fosfoenolpiruvato-carboxicinase. Cada uma
dessas duas reações consome um fosfato de alta energia, sendo gastos, ao todo, duas dessas
moléculas, por piruvato formado. Ao passo que na glicólise, a conversão de fosfoenolpiruvato em
piruvato gerou apenas um ATP por piruvato. O segundo desvio refere-se à etapa de fosforilação da
frutose-6-fosfato pela fosfofrutocinase-1 (número 3 em azul na imagem acima). A geração de frutose-6-
fosfato a partir de frutose-1,6-bifosfato é catalisada por uma enzima diferente, a frutose-1,6-bifosfatase.
Por fim, o terceiro contorno é a reação final da gliconeogênese, a desfosforilação da glicose-6-fosfato
para formar glicose (número 4 em azul na imagem acima). O inverso da reação da hexocinase e
catalisado pela glicose-6-fosfatase.
Como visão geral, é possível converter piruvato em moléculas de glicose novamente, porém esse
processo é desfavorável energeticamente para a célula, em outras palavras, a célula gasta mais energia
para realizar a gliconeogênese, do que efetivamente a glicólise forneceu.
Como dito anteriormente, além do piruvato há outros precursores para síntese de glicose. De acordo
com Marzzoco (2015) esses compostos podem ser de diferentes tipos. Clique nas abas e confira!
Figura 6 - Precursores não glicídicos na gliconeogênese hepática. Lactato é convertido em piruvato; muitos
aminoácidos são catabolizados, direta ou indiretamente, em piruvato; glicerol e convertido em Di-
hidroxiacetona-fosfato.
Fonte: Elaborada pelo autor (2019).
A seguir, leia o caso clínico e compreenda na prática o que foi estudado até o momento.
CASO
Homem de 56 anos vai à consulta médica de acompanhamento do diabetes
tipo 1 que tem desde os 12 anos e sempre foi tratada com o uso de insulina.
Relata sentir tremores e sudorese às 2 horas da madrugada com açúcar
sanguíneo muito baixo, na ordem de 40 mg/dL. Sua esposa relata sentir um
hálito com leve cheiro de acetona. Entretanto, nota que pela manhã, ao
levantar em jejum, os níveis de açúcar no sangue estão altos, mesmo sem
ingerir qualquer carboidrato. Seu médico explicou que os níveis altos de
açúcar ao amanhecer eram o resultado de processos bioquímicos em
resposta à hipoglicemia noturna. Essa pessoa apresenta a manifestação
clássica do efeito de Somogyi, que se constitui em hiperglicemia ao acordar
em jejum como resposta à hipoglicemia na madrugada e ao amanhecer. A
recomendação médica foi que o paciente reduzisse a dose noturna de insulina
que tomava e monitorasse a glicemia na madrugada e ao acordar, pela manhã,
por alguns dias. A conduta surtiu efeito positivo, com melhora dos sintomas.
Feedback: O fígado é um órgão altamente especializado que desempenha um
papel central no metabolismo da glicose do corpo todo. Durante os períodos
de grande disponibilidade de glicose, o fígado aumenta a captação, o
armazenamento e a utilização de glicose. De maneira oposta, quando a
disponibilidade de glicose exógena diminui (por exemplo, durante o jejum
noturno) o fígado aumenta a produção de glicose, auxiliando a manter os
níveis sanguíneos de glicose. O fígado usa dois mecanismos para a produção
endógena de glicose, a mobilização do glicogênio intracelular (glicogenólise) e
a síntese de glicose a partir de outros precursores que não os carboidratos
(gliconeogênese). A insulina é secretada pelas células β das ilhotas do
pâncreas durante períodos de alta disponibilidade de glicose. Esse hormônio
peptídico ajuda a diminuir a glicose sanguínea para a faixa normal ao
estimular a glicogênese e a glicólise e, ao mesmo tempo, inibir a glicogenólise
e a gliconeogênese. Por outro lado, a secreção de glucagon pelas células α
das ilhotas do pâncreas é estimulada quando a disponibilidade de glicose
sanguínea reduz. O glucagon tem como alvo primário o metabolismo hepático
da glicose, aumentando a produção de glicose (via gliconeogênese e
glicogenólise). Além disso, da mesma maneira que o glucagon, a secreção de
adrenalina aumenta durante os períodos de baixa disponibilidade de glicose. O
diabetes tipo 1 é causado por uma deficiência severa ou total na produção de
insulina. Essa doença, também conhecida como diabetes de aparecimento
precoce, é geralmente causada por destruição autoimune de células β
pancreáticas. A falta de insulina, somada aos níveis elevados de glucagon e
adrenalina, leva a uma alta taxa de liberação de glicose pelo fígado, mantida
pela β-oxidação dos ácidos graxos. Essa alta taxa de β-oxidação de ácidos
graxos resulta em uma produção excessiva de corpos cetônicos e cetoacidose
subsequente. O tratamento do diabetes tipo 1 envolve o monitoramento
regular dos níveis de glicose no sangue e a administração de insulina. A
terapia com insulina associada com o jantar leva a uma diminuição nos níveis
de glicose no sangue. Essa baixa glicemia dispara a liberação dos hormônios
contrarregulatórios, glucagon e adrenalina, estimulando assim a produção
hepática de glicose. Inadvertidamente, isso resulta em níveis elevados de
glicose ao amanhecer (o efeito Somogyi).
Fonte: adaptado de TOY, E., C. et al. Casos Clínicos em Bioquímica. 3 ed.
AMGH, 2016, p. 227-233.
Nossos estudos sobre a glicólise e gliconeogênese nos permitiram até agora saber que nosso
organismo é capaz de produzir ATP e coenzimas (NADH), a partir da glicólise. Além disso, aprendemos
que, em situações de jejum, nosso organismo é capaz de sintetizar novas moléculas de glicose a partir
de outros compostos. No próximo tópico, vamos dar início ao estudo sobre o Ciclo de Krebs e
Fosforilação Oxidativa. Esse conjunto de reações permite a oxidação completa de carboidratos,
aminoácidos e lipídios.
Antes de seguirmos em frente, vamos testar seu conhecimento sobre os princípios gerais da
gliconeogênese? Para tanto, realize a atividade proposta abaixo.
Para dar sequência aos seus estudos, fique atento ao tema a seguir: Cliclo de Krebs e cadeia
respiratória.
O piruvato, produto final da glicólise, deve ser transportado para o interior da mitocôndria antes que
possa entrar no Ciclo de Krebs. Esse transporte é efetuado por um transportador específico para o
piruvato, que o ajuda a cruzar a membrana mitocondrial interna. Uma vez na matriz, o piruvato é
convertido em acetil-CoA pelo complexo da piruvato-desidrogenase, um complexo formado por três
enzimas (HARVEY, 2015). A ação do complexo enzimático ocorre na membrana interna da mitocôndria e
a conversão de Piruvato em Acetil-CoA libera um CO2 e um NADH num processo de descarboxilação.
Figura 8 - Reação de conversão realizada pelo complexo da piruvato desidrogenase. Destacado em rosa
são os átomos removidos do piruvato que formam o CO2. Em verde, Coenzima A que irá se ligar ao Acetil
(molécula de dois carbonos que resulta da remoção de CO2), formando Acetil-CoA.
Fonte: Adaptada de Nelson (2014, p. 634).
Agora que já sabemos de onde vem o composto de partida para o Ciclo de Krebs, vamos explorar um
pouco mais as reações que permitem a oxidação completa do Acetil-CoA? Fique atento!
Após a formação do citrato, ocorre uma série de reações que levam a liberação de dois CO2, três NADH,
um ATP e um FADH2. Após essa sequência de reações forma-se novamente um oxaloacetato, pronto
para ser condensado novamente com um novo Acetil-CoA. O processo é um tanto quanto lógico, visto
que um composto com quatro carbonos (oxaloacetato) se condensa com outro, de dois carbonos
(Acetil-CoA), formando um composto de seis carbonos (citrato). Então, após duas descarboxilações,
volta a se formar um composto com quatro carbonos novamente (oxaloacetato).
VOCÊ O CONHECE?
Você sabe por que o Ciclo de Krebs recebe esse nome? Ele se deve a Hans Krebs,
médico e bioquímico alemão (1900-1981). Ele foi o grande responsável por
desvendar a sequência das reações do Ciclo do Ácido Cítrico. Essa descoberta lhe
rendeu o prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1953 (compartilhado com Fritz
Lipmann). Para conhecer mais sobre a história e os feitos desse cientista fantástico
acesse: <https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/1953/krebs/biographical/
(https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/1953/krebs/biographical/)>.
Navegue pelo objeto interativo abaixo e aprenda mais sobre o Ciclo de Krebs. Confira!
Chegamos então ao final do Ciclo de Krebs, no qual a partir da oxidação de um Acetil-CoA pode-se obter,
3 NADH, 1 FADH2, 1 ATP e 2 CO2. O ATP poderá ser utilizado como fonte de energia pela célula, já as
moléculas de NADH e FADH2 serão posteriormente direcionados para a cadeia respiratória, para síntese
de mais moléculas de ATP.
Agora, vejamos se você compreendeu os conceitos mais importantes sobre o Ciclo de Krebs. Para isso,
resolva com atenção a atividade proposta na sequência.
Pudemos verificar até agora a capacidade de nossas células em metabolizar carboidratos,
especialmente, a glicose, em uma via metabólica chamada de glicólise. O piruvato, produto da glicólise,
é convertido em Acetil-CoA que avança para o Cliclo de Krebs e é totalmente oxidado. Não devemos
esquecer que pela glicólise são produzidas duas moléculas de piruvato. Portanto, a partir de uma
glicose, conseguimos “girar” o Ciclo de Krebs duas vezes.
Então, temos que:
Figura 10 - Hidrogênio na sua forma atômica neutra (ao centro) e íon hidreto (a direita).
Fonte: Naming [s.d].
A maior parte dos elétrons transportados pela cadeia de transporte de elétrons é proveniente da doação
dos elétrons de íons hidretos (:H-) removidos do NADH, que ao perderem seus dois elétrons, se tornam
prótons (H+), e são bombeados para fora da matriz mitocondrial. Esse bombeamento de prótons gera
uma diferença de concentração entre a matriz e o espaço intermembrana. Isso faz com que os H+
retornem a matriz por meio de canais específicos, fornecendo a energia necessária para a síntese de
ATP.
Vamos entender melhor como esses processos ocorrem?
• Cadeia transportadora de elétrons: é formada por um conjunto de
quatro complexos de transporte inseridos na membrana interna
da mitocôndria. Os complexos I e II catalisam a transferência de
elétrons para a ubiquinona (coenzima Q, ou apenas “Q”) a partir
de dois doadores de elétrons diferentes: NADH (complexo I) e
succinato-FADH2 (complexo II). O complexo III carrega elétrons da
ubiquinona reduzida para o citocromo c, e o complexo IV completa
a sequência, transferindo elétrons do citocromo c para o O2. Os
complexos, I, III e IV, além de funcionarem como transportadores
de elétrons, atuam também como bombeadores de prótons (H+)
da matriz mitocondrial para o espaço intermembrana (RODWELL,
2017).
• Fosforilação oxidativa: De acordo com o modelo quimiosmótico
proposto por Peter Mitchell,
A ATP-sintase (também chamada de complexo F0F1) é a enzima que catalisa a formação de ATP, a partir
de ADP + Pi. Em outras palavras, os prótons que foram bombeados para o espaço intermembrana,
retornam para a matriz. Durante sua passagem pela ATP-sintase, acoplada a membrana interna, eles
fornecem a energia livre necessária para síntese de moléculas de ATP.
Figura 11 - Etapas da Cadeia transportadora de elétrons e Fosforilação oxidativa. As setas indicam o fluxo
de transporte dos elétrons e o bombeamento de H+.
Fonte: Oxidative [s.d.]
Esses primeiros elétrons que chegam ao Complexo I e II são transferidos para a Coenzima Q, que, por
sua vez, através do Complexo III os transfere para o citocromo c. Por fim, o citocromo c transfere esses
elétrons ao Complexo IV. Em conjunto com átomos de oxigênio (que será o aceptor final desses
elétrons) e H+ da matriz mitocondrial, esses elétrons irão possibilitar a síntese de moléculas de H2O no
Complexo IV. Os H+ bombeados para o espaço intermembrana, irão retornar pelo poro da ATP-sintase e
fornecer a energia necessária para a síntese de ATP a partir de ADP + Pi, num processo chamado de
Fosforilação Oxidativa.
VOCÊ QUER VER?
Assista ao vídeo Electron Transport Chain [HD Animation] e visualize o processo de
transporte dos elétrons pelos complexos I – IV e a síntese de ATP (fosforilação
oxidativa). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rdF3mnyS1p0
(https://www.youtube.com/watch?v=rdF3mnyS1p0)>.
A força próton-motriz, gerada a partir da oxidação completa de uma molécula de glicose durante a
glicólise aeróbica é suficiente para formar muitas moléculas de ATP. A razão entre ATP sintetizado é de
cerca de 2,5 quando os elétrons entram na cadeia respiratória pelo complexo I, e 1,5 quando os elétrons
entram através da ubiquinona (Complexo III) (NELSON, 2014). Sendo assim cada NADH rende 2,5 ATP e
cada FADH2 rende 1,5 ATP. Retomando o raciocínio da quantidade de ATP gerado por molécula de
glicose completamente oxidada, temos que:
Figura 12 - Quantidade de ATP formado na oxidação da glicose e seus intermediários.
Fonte: Elaborado pelo autor (2018).
Nessa seção, você aprendeu que a partir dos doadores de elétrons iniciais NADH e FADH2 gera-se um
fluxo de elétrons pelos complexos I, II, III e IV, o que resulta no bombeamento de prótons através da
membrana mitocondrial interna. Esse bombeamento torna a matriz mitocondrial alcalina em relação ao
espaço intermembrana (ácido, rico em prótons H+). Esse gradiente de prótons fornece a energia (na
forma de força próton-motriz) para a síntese de ATP a partir de ADP e Pi pela ATP-sintase.
A membrana interna da mitocôndria é impermeável a Acil-CoA graxo, por isso através da ligação a uma
molécula de Carnitina, ele consegue ser transportado para a matriz mitocondrial, voltando a sua forma
original de Acil-CoA graxo posteriormente, liberando a Carnitina para realizar outros transportes. Sendo
assim a Carnitina desempenha papel essencial no metabolismo dos ácidos graxos para produção de
energia (MARZZOCO, 2015). Uma vez na matriz mitocondrial pode-se iniciar a β-oxidação, na qual a
cadeia do ácido graxo (agora acil-CoA graxo) poderá ser oxidada.
VOCÊ SABIA?
Você sabia que algumas pessoas utilizam suplementos a base de Carnitina
para perder peso? Será que isso é eficiente?
A Carnitina é um composto produzido pelo próprio organismo, a partir dos
aminoácidos lisina e metionina, sendo considerado um micronutriente não
essencial. Alguns indivíduos fazem uso de suplementos a base de Carnitina (L-
carnitina ou derivados), buscando acelerar a perda de peso ou melhorar
desempenho esportivo. De acordo com a International Society of Sports
Nutrition, em uma publicação recente (KERKSICK, 2018), esse assunto ainda é
um tanto quanto controverso no meio científico, não havendo consenso entre o
real benefício da suplementação de Carnitina para perda de peso e/ou melhora
no rendimento esportivo.
Leia o texto que se encontra no link abaixo e saiba mais sobre esse assunto e
sobre outros suplementos comumente utilizados por praticantes de
esportes! Disponível em:
<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6090881/
(https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6090881/)>.
A β-oxidação, ou Ciclo de Lynen, é um processo de oxidação dos ácidos graxos que ocorre na matriz
mitocondrial. Muitos tecidos utilizam ácidos graxos como fonte de produção de energia na forma de
ATP, como, por exemplo, os músculos e coração. O Cérebro e as hemácias não utilizam lipídios, fazendo
uso exclusivamente de carboidratos para produção de energia.
Graças ao transporte, com auxílio de Carnitina, o Acil-CoA, agora no interior da matriz mitocondrial,
sofrerá uma série de reações que culminarão com a formação de múltiplas moléculas de Acetil-coA,
com liberação de FADH2 e NADH. Segundo Marzzoco (2015, p. 198), “Esta via consta de uma série
cíclica de quatro reações, ao final das quais a acil-CoA é encurtada de dois carbonos, que são liberados
sob a forma de Acetil-CoA, com produção de FADH2 e NADH”.
O objeto abaixo você poderá aprender outros aspectos relacionados ao Ciclo de Lynen ou β-oxidação.
Fique atento e confira!
Sendo assim, perceba que, em cada volta do ciclo de Lynen, há produção de 1 FADH2, 1 NADH, 1 acetil-
CoA e 1 acil-CoA com dois átomos de carbono a menos que o ácido graxo original. Sempre que o
número de átomos de carbono do ácido graxo for par, a última volta do ciclo de oxidação inicia-se com
uma acil-CoA de quatro carbonos. Neste caso, são produzidas 2 acetil-CoA (além de FADH2 e NADH). O
número de voltas percorridas por um Acil-CoA graxo dependerá do número de carbonos que ele possui.
Os ácidos graxos com número ímpar de carbonos (menos comuns em nossa dieta) possuem um
mecanismo extra para a última volta no clico de Lynen, quando restam 3 carbonos na cadeia. Para
aprender mais sobre o tema, sugerimos que você consulte as indicações de leitura deste tópico.
Vamos tomar como exemplo o ácido palmítico, um ácido graxo de 16 carbonos. São necessárias sete
voltas no ciclo, gerando um total de 8 Acetil-CoA, já que na última volta formam-se duas moléculas de
Acetil-CoA. Assumindo que no Ciclo de Krebs sejam formados 3 NADH, 1 FADH2 e 1 ATP por Acetil-CoA
oxidado, nesse caso, temos o resultado final apresentado no quadro abaixo.
Quadro 1 - Quantidade de ATP formado na oxidação (β-oxidação e ciclo de Krebs) do ácido palmítico e
seus intermediários.
Fonte: Elaborado pelo autor (2018).
Fica evidente que o rendimento em mols de ATP é muito maior a partir de uma molécula de ácido graxo
do que a partir de uma molécula de glicose. Mesmo que esse ácido graxo tivesse apenas 6 carbonos (o
mesmo número de carbonos que a glicose) ainda assim, seriam produzidos mais ATPs que os 32
produzidos pela oxidação total da glicose.
A seguir, você estudará acerca da síntese de ácidos graxos. Além disso, também conhecerá sobre o
metabolismo de corpos cetônicos. Fique atento!
Mais adiante, vamos apresentar quais os destinos possíveis dos esqueletos carbônicos liberados na
forma desses α-cetoácidos. Por enquanto, vamos focar no destino do grupo amino transferido ao α-
cetoglutarato, que deu origem ao glutamato.
VOCÊ QUER LER?
As Transaminases são enzimas intracelulares. A presença de níveis plasmáticos
elevados de aminotransferases indica lesão em células ricas nessas enzimas. Por
exemplo, traumas físicos ou processos patológicos podem causar lise celular,
resultando na liberação de enzimas intracelulares para o sangue. Duas
aminotransferases – AST (alanina aminotransferase) e ALT (aspartato
aminotransferase) – são de especial valor diagnóstico quando aparecem no
plasma, sendo úteis no diagnóstico de doenças hepáticas, infarto do miocárdio e
doenças musculares. Acesse o link e saiba mais:
<https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/26834/000758693.pdf
(https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/26834/000758693.pdf)>.
Como descrito anteriormente, os grupos amino da maioria dos aminoácidos são, no final, afunilados na
síntese de glutamato, por meio de transaminação com o α-cetoglutarato. O glutamato sofre uma
desaminação oxidativa final, que nada mais é do que a remoção do grupo amino, numa reação
catalisada pela enzima glutamato-desidrogenase. Essa desaminação forma novamente o α-
cetoglutarato, que poderá ser novamente utilizado para a reação de transaminação com outros
aminoácidos. Essa desaminação culmina com a produção de uma molécula de amônia livre (NH4+). A
amônia produzida nos tecidos extra-hepáticos é transportada até o fígado, onde será convertida em
ureia, que é a principal forma de eliminação dos grupos amino através da urina (HARVEY, 2015).
Na figura, a numeração indica a ação das enzimas (1) carbamoil-fosfato sintetase I e (2) ornitina
transcarbamoilase, ambas encontradas nas mitocôndrias, e (3) argininossuccinato sintetase, (4)
argininossuccinato liase e (5) arginase, enzimas citoplasmáticas. Como podemos observar, ocorre o
transporte mediado por translocases da ornitina e da citrulina entre o citoplasma e o interior das
mitocôndrias, sendo o ciclo da ureia, um conjunto de reações que ocorrem em partes no citoplasma, e
em partes na mitocôndria.
Sendo assim, comprova-se a versatilidade metabólica dos aminoácidos em nosso organismo. Elas
podem ser muito mais do que apenas blocos de construção das proteínas.
Vamos verificar se você foi capaz de compreender os principais conceitos associados ao metabolismo
energético? Para tanto, realize a atividade proposta na sequência.
Para complementar seus estudos sobre os Processos Biológicos Básicos, a seguir, você verá sobre a
regulação hormonal do ciclo absortivo e de jejum. Fique atento!
No estado de jejum, nosso organismo está sob influência do glucagon majoritariamente. Nesse
momento, os estoques de lipídios e carboidratos são mobilizados. Os triacilgliceróis estocados no
tecido adiposo sofrem lipólise intensa, liberando ácidos graxos livres na corrente sanguínea (lipólise).
Esses ácidos graxos são captados pelos músculos para produção de energia e pelo fígado, onde sofrem
beta-oxidação. No fígado, esse processo dá origem aos corpos cetônicos, posteriormente consumidos
pelo cérebro e outros tecidos. Ainda, o glicerol liberado da quebra dos triacilgliceróis, serve como
precursor da gliconeogênese, bem como muito aminoácidos provenientes da proteólise endógena no
fígado. Associado à gliconeogênese, a glicogenólise hepática (quebra de glicogênio) auxilia na
manutenção da glicemia, afim de garantir um aporte de glicose constante ao cérebro.
Síntese
Concluímos o terceiro capítulo sobre o metabolismo energético. Agora, você já conhece as principais
macromoléculas energéticas e as principais vias metabólicas produtoras de energia em nosso
organismo.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
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