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Conceitos Gerais

e Metabolismo dos
Carboidratos
Juan Fernando Riasco Palacios
Conceitos Gerais
e Metabolismo dos
Carboidratos

Introdução
Nesse conteúdo, abordaremos o estudo do metabolismo dos carboidratos.
Começaremos, então, estudando estrutura, classificação e nomenclatura desses
carboidratos, assim como a visão geral sobre anabolismo e catabolismo. Quanto
ao metabolismo de carboidratos, será abordado o estudo do metabolismo tanto
anaeróbico como aeróbico, contemplando todas as vias necessárias e os produtos
gerados por elas.

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Carboidratos
Segundo Nelson e Cox (2014), os carboidratos são as biomoléculas mais abundantes
na Terra. A cada ano, a fotossíntese converte mais de 100 bilhões de toneladas de
CO2 e H2O em celulose e outros produtos vegetais. Alguns carboidratos, como a
sacarose e o amido, são os principais elementos da dieta em muitas partes do mundo,
e sua oxidação é a principal via de produção de energia na maioria das células não
fotossintéticas.

Definição, classificação e estrutura química dos carboidratos.

Os carboidratos são macromoléculas compostas essencialmente por átomos de


carbono, hidrogênio e oxigênio. Por isso, também são chamados hidratos de carbono.
Outras nomenclaturas são dadas aos carboidratos, como glicídeos, oses, sacarídeos e
açúcares. Esses compostos apresentam alta solubilidade em água e são hidrofílicos,
com capacidade de retenção de água. Os carboidratos são representados pela
fórmula geral (CH2O)n, em que se refere ao número de carbonos, que deve ser maior
ou igual a 3. Essa nomenclatura pode ser considerada inadequada, visto que muitos
carboidratos não apresentam essa fórmula geral (como a glicosamina, que contém
um grupo amino) e existem compostos com essa fórmula que não são carboidratos
(ácido lático, por exemplo). Os carboidratos com gosto doce, como sacarose, glicose
e frutose, comuns na alimentação humana, são chamados açúcares (MARZZOCO;
TORRES, 2018; PINTO, 2017).

Considerando a natureza do seu grupamento carbonila, os carboidratos podem ser


distinguidos entre si em poli-hidroxialdeídos ou poli-hidroxicetonas. O gliceraldeído e
di-hidroxiacetona dão origem a uma gama de monossacarídeos, formando a família
das aldoses e cetoses, respectivamente, uma vez que o grupamento funcional dessas
moléculas é o aldeído e a cetona.

As cetoses mais comuns são aquelas com função cetona no carbono 2. A posição do
grupo carbonila faz com que as cetoses apresentem um centro assimétrico a menos
do que as aldoses isoméricas (PINTO, 2017).

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Figura 1 - Representação dos açúcares mais simples encontrados na natureza.
Fonte: Bellé e Sandri (2014, p. 69).
#paracegover: A imagem corresponde à representação química dos açúcares
mais simples encontrados na natureza: gliceraldeído (aldotriose) e dihidroxiace-
tona (cetrotise).

A molécula de gliceraldeído apresenta um único centro assimétrico, sendo possível,


portanto, dois estereoisômeros (enantiômeros): o D-gliceraldeído e o L-gliceraldeído.
A adição de um grupo HCOH no esqueleto carbônico da molécula de gliceraldeído a
torna capaz de gerar quatro estereoisômeros, em função de apresentar agora dois
centros assimétricos. Para as oses com mais de um centro assimétrico, como as
hexoses (D-glicose), as notações D e L indicam a configuração absoluta do carbono
assimétrico mais distante da função aldeídica ou cetônica. As aldoses e cetoses
exibem propriedades típicas de aldeídos e cetonas, como a capacidade de reduzir
agentes oxidantes fracos, assim chamadas de açúcares redutores. (MARZZOCO;
TORRES, 2018; PINTO, 2017). Assim Os carboidratos podem ser classificados de
acordo com o seu Grau de Polimerização (GP) , segundo a FAO, em: açúcares (incluindo
monossacarídeos, dissacarídeos e poliois), oligossacarídeos e polissacarídeos.
Os açúcares tem GP igual a 1 ou 2, os oligossacarídeos tem GP entre 3 e 9 e os
polissacarídeos possuem GP acima de 9.

Monossacarídeos

Também chamados de açúcares simples, são açúcares que não podem ser
clivados em conteúdos menores, sob condições químicas brandas ou mesmo
por meio de reações enzimáticas. Os monossacarídeos podem ser classificados
de três maneiras principais, de acordo com o número de átomos de carbono -
monossacarídeos contendo três átomos de carbono são chamados de trioses,
enquanto aqueles com quatro carbonos são chamados de tetroses e aqueles
com cinco são chamados de pentoses etc.

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Dissacarídeos e trissacarídeos

A união de duas oses é chamada de dissacarídeo, e a de três oses, trissacarídeo.


Tanto os dissacarídeos quanto os trissacarídeos são bastante comuns na
natureza. Como exemplo de dissacarídeo temos a sacarose (glicose + frutose),
conhecida como açúcar refinado. Como exemplo de trissacarídeo, a rafinose
(glicose + frutose + galactose), presente em altas concentrações na soja,
podendo interferir na absorção dos nutrientes da dieta, além de ser uma das
principais responsáveis pela indução de flatulência em humanos e outros
animais.

Oligossacarídeos

O termo oligossacarídeo (significa poucos) consiste em 3 a 10 monossacarídeos


unidos entre si por ligações glicosídicas.

Polissacarídeos

Os polissacarídeos, tal qual seu nome sugere (poli = muitos) são homopolímeros
de açúcares simples e seus derivados unidos entre si por ligações glicosídicas,
podendo ser lineares (por exemplo, celulose) ou ramificados (por exemplo,
glicogênio).

Confira na figura a seguir os carboidratos de cada um desses grupos apresentados.

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Figura 2 - Carboidratos que representam os monossacarídeos, dissacarídeos, trissacarídeos e polissa-
carídeos.
Fonte: Modificado pelo conteudista. Imagem original em Pinto (2017, p. 77).
#paracegover: desenho tridimensional de carboidratos que representam os
monossacarídeos, dissacarídeos, trissacarídeos e polissacarídeos

Os carboidratos exercem diversas funções. As que mais se destacam são:

Função energética

A oxidação dos carboidratos é o principal modo de obtenção de energia pelas


células por meio da formação de moléculas de adenosina trifosfato (ATP). Além
disso, são considerados como fonte energética de uso imediato em tecidos dos
mamíferos (BELLÉ; SANDRI, 2014).

Função estrutural

Essa função é exercida pelos polissacarídeos, os quais podem atuar tanto


como componentes estruturais do exoesqueleto, como das paredes celulares
dos vegetais. Como exemplos, podemos citar a quitina e a celulose (BELLÉ;
SANDRI, 2014).

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Função de armazenamento de energia

Os carboidratos são extremamente eficientes para armazenamento de energia.


Essa função é desempenhada pelo glicogênio e pelo amido. O glicogênio é
responsável pelo armazenamento de glicose nos tecidos hepático e muscular.
Eles são recrutados e metabolizados para fornecimento de energia em condições
nas quais os níveis glicêmicos do sangue diminuem. O amido, contudo, é uma
importante fonte de armazenamento de energia nos vegetais (BELLÉ; SANDRI,
2014).

Definição de metabolismo e vias metabólicas: anabolismo e


catabolismo

Metabolismo é o conjunto de reações bioquímicas e processos físico-químicos que


ocorrem na célula e no corpo, nos quais matéria e energia são trocadas com seu
ambiente (VOET, 2013).

Os principais objetivos do metabolismo são:

• Obter energia química, que é armazenada nas ligações fosfato de ATP.


• Transformar substâncias químicas a partir do exterior da célula em moléculas
que podem ser utilizadas pela célula.
• Construção de matéria orgânica própria a partir de energia e moléculas obti-
das no meio ambiente. Essa matéria orgânica armazena uma grande quanti-
dade de energia nas ligações.
• Destruição dessas moléculas para obter a energia que contêm.

O metabolismo é dividido em duas fases inter-relacionadas, chamadas de Anabolismo


e Catabolismo, que ocorrem simultaneamente.

Anabolismo é uma reação química construtiva em que moléculas complexas são


sintetizadas a partir de outras mais simples, que podem ser orgânicas ou inorgânicas.
Assim, as moléculas podem crescer e se renovar ou ser armazenadas como reservas
de energia. Este processo de construção metabólica, onde se consome energia para
obter moléculas grandes de outras menores, é possível graças ao fornecimento de
energia da adenosina trifosfato (ATP). Nessas reações, os compostos mais oxidados
são reduzidos. Por meio do anabolismo, os seres vivos podem formar proteínas a
partir de aminoácidos e, assim, manter os tecidos do corpo. (PINTO, 2017).

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Catabolismo é a parte do processo metabólico pelo qual diferentes nutrientes
orgânicos são degradados, reduzidos ou oxidados às suas formas mais simples, para
que o corpo os assimile e os transforme em energia. Essa energia é essencial para
o funcionamento do anabolismo. A energia liberada é armazenada em moléculas de
adenosina trifosfato (ATP), e assim a célula pode realizar ações vitais como a contração
muscular e a síntese de moléculas. É uma fase destrutiva de redução onde, de uma
molécula orgânica complexa, como carboidratos e lipídios, outras mais simples como
H2O, CO2, ácido lático ou amônia são obtidas (PINTO, 2017).

Um exemplo de processo catabólico é a digestão, que transforma e decompõe grandes


complexos moleculares em formas mais simples, para que possam ser usados ​​como
matéria-prima e energia em processos anabólicos. Por esse motivo, a digestão é
essencial para o funcionamento adequado do anabolismo. (LEHNINGER; NELSON e
COX, 2019).

Funções do anabolismo: Funções de catabolismo:


Aumentar a massa muscular; Degradar nutrientes orgânicos;

Formar os componentes e tecidos celulares de Extração de energia química de nutrientes


crescimento; degradados.

Armazenar energia;

Armazenar energia;

Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

Glicólise aeróbica e anaeróbica.

A glicólise (do grego, glykus, doce + lysis, quebra) compreende um conjunto de reações
bioquímicas que degradam a glicose em piruvato em células animais. A via glicolítica
é utilizada em todos os tecidos para a quebra da glicose, com o objetivo de fornecer
intermediários
energia (na forma de ATP) e intermediárias para outras vias metabólicas. A glicólise
é o centro do metabolismo dos carboidratos, pois, praticamente todos os glicídios
- provenientes tanto da dieta como de reações catabólicas ocorrendo no organismo -
podem ser convertidos em glicose (FERRIER, 2019).

A oxidação da glicose é conhecida como glicólise. A glicose é oxidada em piruvato.


O piruvato será convertido em lactato, em condições anaeróbias, ou convertido em
Acetil-Coa em condições aeróbias, existindo, portanto, dois tipos de glicólise, uma
aeróbica e outra anaeróbica.

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Glicólise aeróbica

A glicólise aeróbia prepara as condições necessárias para a descarboxilação


oxidativa do piruvato a acetii-CoA, o principal combustível do ciclo do ácido
cítrico (ciclo de Krebs). acetil-CoA

Glicólise anaeróbica

Quando o oxigênio está esgotado, como durante exercícios prolongados e


vigorosos, o produto glicolítico dominante em muitos tecidos é o lactato e o
processo é conhecido como glicólise anaeróbica.

A glicólise pode ser dividida em duas etapas:

• Fase I (gasto de ATP) –

Compreende a conversão da glicose até a obtenção de duas moléculas de


gliceraldeído-3-fosfato e di-hidroxiacetona-fosfato, processo que requer cinco
reações. O organismo tem capacidade de reverter di-hidroxiacetona-fosfato em
gliceraldeído-3-fosfato, por isso, normalmente são formadas duas moléculas
de gliceraldeído-3-fosfato (Conforme a figura abaixo ).A glicose é inicialmente
fosforilada no carbono 6, o que a impede de deixar o citosol celular para o
meio externo, já que o grupo fosfato lhe confere carga negativa, tornando a
molécula essencialmente incapaz de se difundir pela membrana plasmática.
Subsequentemente, a glicose-6-fosfato sofre isomerização em frutose-6-
fosfato, que, por sua vez, sofre fosforilação no carbono 1, sendo convertida
em frutose-1,6-bifosfato. A fosforilação desses compostos iniciais se dá pelo
gasto de duas moléculas de ATP, que são convertidas em ADP.

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Fase II (produção de ATP)

Consiste nas cinco reações subsequentes àquelas que ocorrem na primeira


etapa, ou seja, envolve a conversão de duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato
em piruvato. Nessa fase da glicólise, duas moléculas de 1,3-bifosfoglicerato
são convertidas em 3-fosfoglicerato, produzindo 2 ATP. Posteriormente, duas
moléculas de fosfoenolpiruvato são desfosforiladas para produzir piruvato
(Figura 3.5). Os grupos fosfato removidos são incorporados por duas moléculas
de ADP, sendo convertidos em ATP. Assim, na fase II, tem-se a produção de
quatro moléculas de ATP, enquanto, na fase I, ocorre o gasto de duas moléculas
de ATP, de modo que o balanço energético líquido da glicólise é de 2 ATP (ver
Figura 3.5) (MARZZOCO; TORRES, 2018; PINTO, 2017).

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Figura 3 - Visão geral da glicólise. Os nomes das enzimas que catalisam as etapas da via estão em
itálico.
Fonte: BROWN (2018, p. 156).

O piruvato é convertido em lactato pela enzima lactato desidrogenase (LDH), e o


lactato é então transportado para fora da célula para a circulação. Essa conversão
de piruvato em lactato dá à célula um mecanismo para a oxidação de NADH (gerado
durante a reação da gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase (GAPDH) ) em NAD+ que
ocorre durante a reação catalisada por LDH. Esta redução é necessária porque o NAD+
é um substrato necessário para o GAPDH, sem o qual a glicólise pararia. (MARZZOCO;
TORRES, 2018).

Ciclo de Krebs e fosforilação oxidativa

A respiração celular ocorre em três etapas. Na primeira, as moléculas combustíveis


orgânicas (glicose, ácidos graxos e alguns aminoácidos) são oxidadas para produzirem
acetil-CoA. Na segunda etapa, os grupos acetil entram no ciclo do ácido cítrico (ciclo
de Krebs), que os oxida a CO2; parte da energia dessas oxidações é conservada nos

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transportadores de elétrons reduzidos (NADH e FADH2) e os elétrons são transferidos
posteriormente ao O2. Na terceira etapa da respiração, estas coenzimas reduzidas são
oxidadas, doando prótons (H1) em uma série de moléculas carreadoras de elétrons,
conhecida como cadeia respiratória, resultando na formação de água (H2O).

A acetil-CoA entra no ciclo do ciclo de Krebs (na mitocôndria de eucariotos, no citosol


de bactérias) quando a citrato-sintase catalisa a sua condensação com o oxalacetato
para a formação de citrato. O ciclo ocorre em sete reações sequenciais, incluindo
duas descarboxilações. O ciclo de Krebs converte citrato em oxalacetato e libera dois
CO2. A via é cíclica, de modo que os intermediários não são exauridos; para cada
oxalacetato consumido na via, um é produzido.

Para cada acetil-CoA oxidada pelo ciclo do ciclo de Krebs, o ganho de energia
consiste em três moléculas de NADH, uma de FADH2 (ATP ou GTP) e um nucleosídeo
trifosfatado.

Além da acetil-CoA, qualquer composto que origine um intermediário do ciclo do ciclo


de Krebs com quatro ou cinco carbonos (por exemplo, os produtos da degradação
de muitos aminoácidos) pode ser oxidado pelo ciclo. Outra característica do ciclo do
ácido cítrico é que ele serve tanto ao catabolismo quanto ao anabolismo (anfibólico);
os intermediários do ciclo podem ser desviados e utilizados como material de partida
para a síntese de vários produtos. Os vertebrados não conseguem sintetizar glicose
a partir do acetato ou dos ácidos graxos que dão origem a acetil-CoA. Nos vegetais,
em leveduras e algumas bactérias, encontra-se uma via alternativa de metabolismo de
acetil-CoA, chamada ciclo do glioxilato (MARZZOCO; TORRES, 2018).

Quando os intermediários são desviados do ciclo de Krebs o para outras vias, eles
são repostos por algumas reações anapleróticas, que produzem intermediários de
Curiosidade
quatro carbonos por meio da carboxilação de compostos de três carbonos. Essas
As enzimaspor
reações são catalisadas que catalisam carboxilações
piruvato-carboxilase, utilizam comumente
PEP-carboxicinase, a
PEP-carboxilase
biotina para ativar o CO2 e transportá-lo a aceptores, como piruvato
e enzima málica.
ou fosfoenolpiruvato (NELSON; COX, 2014).

Metabolismo do glicogênio e gliconeogênese

O glicogênio é um polímero de armazenamento de glicose ao qual iremos abordar os


aspectos gerais de sua estrutura, locais de armazenamento e importância. Também
falaremos sobre os processos de Glicogênese e Glicogenólise e sobre Regulação da
glicemia.

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Aspectos gerais do glicogênio: estrutura, locais de
armazenamento, importância

O glicogênio é um polímero de armazenamento de glicose; conteúdos de glicose são


ligadas por dois tipos de ligações, linearmente por ligações glicosídicas (α1-> 4) e
formando ramificações por ligações glicosídicas (α1-> 6).

Saiba mais
Os conteúdos de glicose podem ser separadas do glicogênio por
digestão ou hidrólise e por mobilização ou fosforólise. Os dois
principais locais de armazenamento de glicogênio são o fígado
(10% em peso) e o músculo esquelético (2% em peso), embora
muito mais glicogênio se acumule no músculo, uma vez que tem
uma massa muito maior no total do que o fígado (FERRIER, 2019).

No fígado, a síntese e a degradação dos processos de glicogênio têm a função de


manter os níveis de glicose no sangue necessários para atender às necessidades
gerais do corpo. Por outro lado, no músculo, o glicogênio desempenha um papel como
reservatório de glicose para suas próprias necessidades.

Uma vez que o metabolismo do glicogênio é um sistema tão finamente controlado,


não é surpreendente que deficiências enzimáticas determinadas geneticamente
resultem em doenças. O estudo dessas doenças e as deficiências enzimáticas
associadas a elas propiciaram maior compreensão sobre o equilíbrio do sistema.
Nesse sentido, doenças genéticas são valiosas ferramentas de pesquisa. Por sua
vez, a caracterização bioquímica das vias afetadas por uma doença genética conduz,
muitas vezes a estratégias proveitosas para seu tratamento. Muitas das doenças que
foram caracterizadas resultam de deficiências hereditárias de uma ou outra enzima
do metabolismo do glicogênio (VOET, 2013). Esses defeitos estão listados na Tabela.

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Deficiência Nome Estrutura do
Tipo Tecido
enzimática comum glicogênio
Glicose - 6 Doença de
I -fosfatase
Fígado
von Gierke
Normal

Todos os Doença de
II A-1,4-glicosidade
lisossomos Pompe
Normal

Amilo-1,6-
glicosidase Cadeias externas
Doença de
III (enzima Todos os orgãos
Cori
faltando ou
desramificadora de muito curtas
glicogênio)

Amilo-(1,4 à 1,6)-
Transglicosilase Fígado, Cadeias muito
Doença de
IV (enzima provavelmente
Andersen
longas não
ramificadora de todos os órgãos ramificadas
glicogênio)

Glicogênio - Doença de
V fosforilase
Músculo
McArdle
Normal

Glicogênio - Doenças de
VI fosforilase
Fígado
Hers
Normal

Fosfofruto- Doença de
VII cinase
Músculo
Tarui
Normal

Deficiência
de
Fosforilase-
VIII cinase
Fígado fosforilase- Normal
cinase
ligada ao X

Fosforilase-
IX cinase
Todos os tecidos Normal

Normal,
Glicogênio -
0 sintase
Fígado deficiente em
qualidade

Tabela 1 - Doenças hereditárias de armazenamento de glicogênio.


Fonte: VOET (2013, p. 666).

Glicogênese e glicogenólise.

O glicogênio éum polissacarídeo de cadeia ramificada formado, exclusivamente, por


α-D-glicose. Os principais estoques de glicogênio no corpo se encontram nos músculos

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esqueléticos e no fígado, embora a maioria das demais células armazene pequenas
quantidades para uso próprio. A função do glicogênio muscular é servir como reserva
de combustível para a síntese de trifosfato de adenosina (ATP) durante a contração
muscular.

A glicogênese (síntese de glicogênio) é realizada a partir das moléculas de α-D-glicose.


O processo ocorre no citosol e requer energia fornecida pelo ATP (para a fosforilação
da glicose) e pelo trifosfato de uridina (UTP) (FERRIER, 2019).

A glicogenólise (degradação do glicogênio) é a mobilização do glicogênio nos tecidos


para sua degradação por fosforólise. A via de degradação que mobiliza o glicogênio
armazenado no fígado e no musculo esquelético não é o inverso das reações de
síntese. Em vez disso, é necessário um conjunto particular de enzimascitosólicas.A
glicogênio fosforilase catalisa a clivagem fosforolítica (fosforólise) do glicogênio
em glicose-1-P. A clivagem fosforolítica do glicogênio é energeticamente vantajosa
porque o açúcar liberado já está fosforilado. A glicogênio fosforilase éuma das várias
enzimas envolvidas no catabolismo do glicogênio, a enzima que regula de forma mais
eficaz a glicogenólise. A regulação do glicogênio fosforilase hepática e muscular é
diferente (FERRIER, 2019).

Como o destino metabólico do glicogênio é diferente, a glicogenólise é regulada por


diferentes sinais hormonais em cada tecido (glucagon no fígado e β-adrenérgico
no músculo). O glucagon é produzido em resposta aos baixos níveis de glicose. A
adrenalina faz parte da resposta de “alertar” o indivíduo para o perigo.

1. Lactato

produzido nos músculos pela respiração anaeróbica quando o oxigênio se torna


escasso.

2. Aminoácidos

obtidos a partir da dieta ou, nos casos mais extremos, a partir de proteínas, em
grande parte, as do músculo. A maioria dos 20 aminoácidos básicos pode ser
convertida em oxaloacetato e, assim, entrar na via da gliconeogênese.

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3. Triacilgliceróis

degradados em seus componentes de ácidos graxos e glicerol. Os ácidos


graxos não podem ser utilizados na via da gliconeogênese, porém o glicerol
pode ser metabolizado a glicerol 3-fosfato e, em seguida, a di-hidroxiacetona
fosfato pela ação da glicerol quinase e da glicerol 3-fosfato desidrogenase,
respectivamente.

Gliconeogênese

A gliconeogênese é uma via para a síntese de glicose a partir de vários precursores.


Ela permite ao organismo manter um suprimento de glicose para a geração de energia
durante condições extremas, como inanição ou exercício excessivo, quando as fontes
de carboidratos podem faltar. O fígado só pode armazenar glicogênio suficiente para
fornecer energia ao encéfalo durante um período de inanição de até 12h. Depois de
12h, o fígado passa a utilizar a gliconeogênese para manter o encéfalo no modo
atuante enquanto for possível. (BROWN, 2018). A conversão do piruvato em glicose é,
em parte, o processo inverso da glicólise.

No entanto, os principais substratos para a gliconeogênese entram na via em diferentes


locais. Embora o piruvato seja considerado como ponto inicial para a gliconeogênese,
os principais substratos para a via são outros compostos que não são carboidratos,
presentes nas células e sacrificados quando a inanição ou o exercício intenso fazem
com que o corpo tenha uma necessidade urgente de fontes de energia. Os principais
substratos para a gliconeogênese são o lactato, os aminoácidos e glicerol.
Regulação da glicemia
A concentração de glicose no sangue deve ficar em torno de 1g x L-1. A presença
de glicose no sangue vem originalmente dos alimentos. Para não depender muito da
frequência das refeições ou do tipo de alimento ingerido, o corpo desenvolveu um
processo regulatório que envolve muitos órgãos e um complexo sistema hormonal.
A função endócrina está associada à secreção de hormônios no sangue por células
especializadas, as células α e β das ilhotas de Langerhans. As células α secretam
um hormônio hiperglicêmico chamado glucagon. As células β secretam um hormônio
hipoglicêmico chamado insulina. Portanto, esses dois hormônios estão ativamente
envolvidos na regulação da glicose no sangue (MAGALHÃES, 2017). O glucagon,
untamente com a adrenalina, o cortisol e o hormônio do crescimento (os “hormônios
jcontrarreguladores”), se opõe a muitas das ações da insulina. Em especial, o glucagon
age na manutenção dos níveis de glicose sanguínea, pela ativação da glicogenólise e
da gliconeogênese.

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Conclusão
Finalizamos o estudo desse conteúdo. Pudemos compreender que a glicose
desempenha um papel central em todos os metabolismos, pois ela é o substrato
energético universal para células humanas e a fonte de carbono para a síntese de
muitos outros compostos. Todos os tipos de células humanas a utilizam para obter
energia.

Vimos também que a excreção de insulina e glucagon pelo pâncreas auxilia o uso
e o armazenamento da glicose pelo organismo. Além disso, temos ainda os outros
carboidratos da dieta (principalmente frutose e galactose), que são convertidos em
glicose ou em intermediários do metabolismo da glicose. (Smith, Colleen, 2007).

Carboidratos.

Os carboidratos são macromoléculas compostas essencialmente por átomos de


carbono, hidrogênio e oxigênio.São representados pela fórmula geral (CH2O) n,
e podem ser classificados em quatro grupos: monossacarídeos, dissacarídeos,
oligossacarídeos e polissacarídeo

Metabolismo.

Metabolismo é o conjunto de reações bioquímicas e processos físico-químicos


que ocorrem na célula e no corpo. O metabolismo é dividido em duas fases
inter-relacionadas que ocorrem simultaneamente: Anabolismo e Catabolismo.

Insulina.

Hormônio polipeptídico composto de 51 aminoácidos, produzido e secretado


pelas células beta das ilhotas de Langerhans no pâncreas.

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Referências
BELLÉ, L. P.; SANDRI, S.. Bioquímica aplicada: reconhecimento e caracterização de
biomoléculas. São Paulo: Érica, 2014.

BETTELHEIM, F. A. et al. Introdução à bioquímica. São Paulo: Cengage Learning, 2016.

BROWN, T. A. Bioquímica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

CAMPBELL, M. K.; FARRELL, S. O. Bioquímica. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning,


2016.

FERRIER, Denise R. Bioquímica ilustrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. Recurso
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LEHNINGER, Albert L.; NELSON, David L.; COX, Michael M. Princípios de bioquímica. 7.
ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.

MAGALHÃES, A. C. et al. Bioquímica básica e bucal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2017.

MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica básica. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2018.

NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre:


Artmed, 2014.

PINTO, W.J. Bioquímica clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

MARKS, D. A. . L. M. . &. S. C. Bioquímica Médica Básica de Marks-Uma abordagem


Clínica: Artmed, 2007.

VOET, J.; VOET, J. G. Bioquímica. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.

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