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Disciplina: Bioquímica

Aula 6: Bioquímica e metabolismo dos carboidratos


Apresentação

Nesta aula, estudaremos a estrutura, função e uma parte do metabolismo dos carboidratos. Conheceremos as moléculas
mais abundantes da natureza, nossa principal e mais deliciosa fonte energética. Veremos como esses compostos, como o
açúcar e o amido, que são o principal constituinte das dietas de muitas populações, são absorvidos, quebrados para
obtenção de energia ou armazenado para manter a nossa glicemia nos períodos de jejum. Além disso, aprenderemos outras
funções importantes que os carboidratos possuem no organismo.

Como esses compostos são polares, eles possuem sistemas especiais para atravessar a membrana da célula e serem
utilizados pelo organismo como fonte de energia.

Abordaremos o metabolismo da glicose e a via glicolítica. Por fim, estudaremos a fermentação lática e alcoólica, vias que
ocorrem na ausência de oxigênio.

Objetivos

Identificar nomenclatura, estrutura, ligações glicosídicas e funções dos carboidratos;

Esclarecer o transporte da glicose através das membranas plasmáticas e os diferentes transportadores;

Descrever o metabolismo da glicose, vias glicolítica, fermentação lática e alcoólica e via das pentoses-fosfato.
Definição, principais funções e estrutura

Os carboidratos também são conhecidos como glicídeos.

Do grego sakcharon, origem da palavra sacarídeo, significa


açúcar.

São as biomoléculas mais abundantes na natureza e


constituem nossa principal fonte de energia.

São importantes em nossa dieta, uma vez que alguns tipos


celulares dependem exclusivamente da glicose como fonte de
energia. Além disso, necessitamos manter níveis mínimos e
máximos de glicose no sangue — veremos o que acontece no
metabolismo quando exageramos nas quantidades de
carboidratos. 
Fonte: minadezhda / Shutterstock.

Podem ser denominados hidratos de carbono, porque em sua estrutura básica encontramos apenas átomos de carbono (C),
hidrogênio (H) e oxigênio (O). Em carboidratos mais complexos podemos encontrar átomos de nitrogênio (N), fósforo (F) ou
enxofre (S). Mas, a maioria dos carboidratos possui a fórmula empírica (CH2O)n.

Essas biomoléculas são os componentes mais abundantes nas plantas. São produzidos pelas plantas e algas pelo processo de
fotossíntese utilizando a luz solar. As plantas e micro-organismos fotossintéticos podem utilizar o CO2 como única fonte de
carbono e a partir dele sintetizar outros compostos como celulose, amido, proteínas e outros componentes orgânicos das células.

Os carboidratos possuem funções variadas e importantes nos organismos:

Fonte energética — Oxidação de Reserva energética — O amido é Matéria-prima para a biossíntese


carboidratos, principalmente a a forma de reserva energética em de outras biomoléculas.
glicose, via central de obtenção de plantas e o glicogênio é a reserva
energia dos organismos não energética em animais.
fotossintetizantes.

Formam o esqueleto estrutural Formam o esqueleto estrutural Interações célula-célula (ligados a


do DNA e RNA. das paredes celulares de proteínas/lipídeos).
bactérias e plantas e nos
exoesqueletos de artrópodes.

Os carboidratos possuem dois tipos de grupos funcionais na sua estrutura:

1 2

as hidroxilas (OH),
o grupo carbonila (C=O).
características dos álcoois.
Logo, dizemos que os carboidratos são poli-hidroxialdeídos ou poli-hidroxicetonas.

Se o grupo carbonila estiver no meio da molécula é característico das cetonas e se estiver em uma ponta da cadeia de
hidrocarboneto é um grupo aldeído.

Os carboidratos que possuem o grupo aldeído são chamados de aldoses e os que possuem cetonas são chamados de cetoses.
O sufixo OSE é característico desse grupo de moléculas.

A figura 1 representa uma cetose, é a diidroxiacetona. Podemos dizer que ela é uma triose, pois possui três carbonos. Observe
dois grupos álcoois (OH) e uma carbonila no meio da molécula e, portanto, um grupo cetona.

Figura 1:


Fonte: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Carboidrato#/media/File:Dihydroxyacetone_Fischer.svg>
.

Classificação dos carboidratos


Os carboidratos são classificados de acordo com o número de oses, ou açúcares simples.
Monossacarídeos

Possuem uma única unidade ou ose, de


poliidroxialdeído ou poliidroxicetona. Os
exemplos mais comuns no nosso dia a dia são a
glicose, frutose e galactose.

Esses monossacarídeos não podem ser


hidrolisados em moléculas mais simples, a maior
parte tem sabor doce, e são solúveis em água, já
que são compostos polares, mas insolúveis em
solventes apolares.

Os monossacarídeos podem ser representados


por cadeias abertas ou fechadas, desde que
possuam mais que cinco carbonos na estrutura
para que possam sofrer ciclização.

Normalmente, em meio aquoso, os


monossacarídeos com cinco ou mais carbonos
aparecem em estrutura cíclica, também
denominadas anel.

O nome genérico dos monossacarídeos é dado


pelo número de carbonos mais a terminação
ose.

Na figura 2 observamos duas importantes hexoses, cada uma representando um grupo de monossacarídeos, as cetoses e as
aldoses.

Figura 2

TABELA

Número de carbonos Prefixo

3 TRI

4 TETR

5 PENT

6 HEX

7 HEPT
O quadro a seguir correlaciona os monossacarídeos a suas funções no organismo.

Monossacarídeo Função

Ribose (Pentose) Estrutural (RNA)

Desoxirribose (Pentose) Estrutural (DNA)

Glicose (Hexose) Energia

Frutose (Hexose) Energia

Galactose (Hexose) Energia

Atividade proposta
Vamos ver se você entendeu a classificação? Observe a figura com a estrutura da galactose, um importante açúcar presente no
leite e nos produtos derivados de leite. Você consegue classificá-la?

D-galactose


Fonte: molekuul_be / Shutterstock).

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Oligossacarídeos 

São polímeros formados por poucas unidades (2-20) de monossacarídeos, unidas por ligações covalentes chamadas
ligações glicosídicas. Os mais abundantes na natureza são os dissacarídeos. Um exemplo comum é o dissacarídeo
sacarose, proveniente do açúcar da cana, que resulta da união da D-glicose com a D-frutose. Outros exemplos: maltose e
lactose.
Polissacarídeos 

São polímeros formados por mais de 20 unidades de oses, ou resíduos, ligados por ligações glicosídicas e podem ter até
milhares de unidades. O amido (mais de 1400 resíduos de glicose), a celulose (mais de 4000 resíduos de glicose) e o
glicogênio (mais de 30000 resíduos de glicose).

Leitura

As propriedades dos carboidratos <galeria/aula6/docs/pdf01_aula06.pdf> .

Ligação glicosídica

Dissacarídeos

Os dissacarídeos são formados por dois monossacarídeos ligados entre si covalentemente por uma ligação chamada o-
glicosídica, ou simplesmente, glicosídica. Ela ocorre entre o grupo OH de um açúcar e o carbono anomérico (carbono da
carbonila) da outra ose, liberando uma molécula de água. Essas ligações são fortes e, nos organismos, necessitam de enzimas
para serem rompidas.


Fonte: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Liga%C3%A7%C3%A3o_glicos%C3%ADdica#/media/File:Enlace_glucos%C3%ADdico.png> .

Observe a estrutura da sacarose, um dissacarídeo, resultado da união de uma molécula de glicose a uma de frutose, açúcar
presente, por exemplo, na cana e na beterraba.

Figura 9. Fonte: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Dissacar%C3%ADdeo#/media/File:Saccharose.png>
.

Video

Assista ao vídeo Glycoside bond <https://www.youtube.com/watch?v=-Ln6sxbdnJ8> , que mostra a ligação entre duas moléculas
de glicose para formar a ligação glicosídica da maltose, açúcar encontrado em cereais.

A molécula de lactose é um dissacarídeo presente no leite, resultante da união entre a glicose e a galactose. Indivíduos que
possuem intolerância à lactose não possuem a enzima lactase no intestino e, portanto, não conseguem digeri-la, por isso, devem
evitar consumir leite e derivados, melhorando os sintomas da doença, que é genética. Também podem fazer uso de suplementos
de lactase.

A figura 10 mostra a hidrólise da molécula de lactose pela lactase, liberando uma molécula de galactose (em vermelho) e outra de
glicose (em azul).


Figura 10. Fonte: Wikimedia Commons <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?
search=File%3ALactose+hydrolysis.svg&title=Special%3ASearch&profile=advanced&fulltext=1&advancedSearch-
current=%7B%22namespaces%22%3A%5B6%2C12%2C14%2C100%2C106%2C0%5D%7D&ns6=1&ns12=1&ns14=1&ns100=1&ns106=1&ns0=1#/media/File:Lactose_hydrolysis.svg>
.

Polissacarídeos

Os polissacarídeos, também chamados de glicanos, diferenciam-se uns dos outros pelas unidades monoméricas que os
compõem, comprimento da cadeia, tipo de ligação glicosídica e grau de ramificação. São divididos em:

1 2

Homopolissacarídeos Homopolissacarídeos
Formados por um único tipo de monossacarídeo. Exemplo: Formados por dois ou mais tipos de oses. Exemplo: os
amido, glicogênio, celulose e quitina. peptideoglicanos e glicosaminoglicanos.

Podemos ainda classificá-los como estruturas lineares como é o caso da celulose, ou ramificadas como é o caso do glicogênio.

Figura 11. Fonte: extender_01 / Shutterstock.

O quadro a seguir mostra os principais polissacarídeos, suas funções e onde são encontrados.

Polissacarídeo Funções e fontes

Glicogênio Reserva energética de animais e fungos.

Amido Reserva energética de vegetais e algas.

Celulose Funçãoestrutural. Compõe a parede celular das células vegetais e algas.

Quitina Função estrutural. Compõe a parede celular de fungos e exoesqueleto de artrópodes.

Ácido hialurônico Função estrutural. Cimento celular em células animais.

Os polissacarídeos obtidos na alimentação são quebrados em unidades monoméricas para que possam ser absorvidos pelo
intestino.

Amido

Contém dois tipos de polímeros de


O amido é a forma de armazenamento glicose.
de carboidratos nas plantas.

Encontrado, por exemplo, em sementes, Composto em 15-20% pela estrutura da

cereais, batata e feijão. amilose e 80-85% pela estrutura da


amilopectina.


Fonte: Gayvoronskaya_Yana / Shutterstock.

A amilose é uma cadeia de glicose linear constituída de 250-300 resíduos de maltose, unidas por ligações glicosídicas α
(1→4), que reage com iodo, formando uma coloração azul;

Amilopectina é uma macromolécula, menos solúvel que a amilose, constituída de aproximadamente 1400 resíduos de α-
glicose. Possui estrutura ramificada, na parte linear formada por ligações glicosídicas α (1→4), e nas ramificações (ocorrem
a cada 24-30 resíduos) formada por ligações glicosídicas α (1→6), essas últimas reagem com iodo formando coloração
vermelha, portanto a reação da amilopectina com iodo forma uma coloração vermelho violáceo.

A α-amilase, uma enzima encontrada na saliva e no suco pancreático, é capaz de hidrolisar apenas as ligações glicosídicas alfa-
1,4 presentes no amido.


Figura 12. Fonte: chromatos / Shutterstock.

Glicogênio

É o carboidrato de armazenamento no fígado, de forma a liberar glicose no sangue durante o período de jejum; é armazenado no
músculo de mamíferos para utilização durante exercício.

É um polímero muito ramificado, formado por subunidades de glicose unidas por ligações glicosídicas α (1→4), e nas
ramificações (ocorrem a cada 8-12 resíduos) formada por ligações glicosídicas α (1→6), possuindo estrutura mais compacta que
o amido.

A estrutura ramificada do glicogênio permite que as enzimas que atuam na sua quebra, liberem simultaneamente as moléculas de
glicose não redutoras presentes nas extremidades das ramificações, permitindo a rápida produção de glicose em períodos de
necessidade metabólica.

Figura 13. Fonte: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Glicog%C3%A9nio#/media/File:Glykogen.svg> .

Celulose

A celulose é um polímero linear de até quinze mil resíduos de glicose unidos por ligações glicosídicas β (1→4), não ramificado e
insolúvel em água. Possui uma função estrutural nas paredes celulares rígidas das células de plantas.

Atenção

Os únicos vertebrados que são capazes de utilizar a celulose como alimento são o gado e outros ruminantes, pois o rúmen
(compartimento estomacal extra) é colonizado por bactérias e protistas que secretam a enzima celulase capaz de romper as
ligações deste polissacarídeo.


Figura 14. Fonte: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Celulose#/media/File:Cellulose_Sessel.svg> .

Quitina

A quitina possui um papel estrutural e é um polímero que apresenta boa resistência mecânica, formando o exoesqueleto de
artrópodes. Ela é constituída de cadeia linear, formando fibras estendidas semelhantes às da celulose, também não é digerível por
vertebrados. É composta por resíduos de N-acetilglicosamina em ligações β (1→4).


Figura 15. Fonte: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Quitina#/media/File:Chitin.png> .
Ácido hialurônico

É um biopolímero formado por resíduos de ácido D-glicurônico alternados com a N-acetilglicosamina, sendo denominado um
glicosaminoglicano. Apresenta textura viscosa que funciona como lubrificante no líquido sinovial das articulações, forma o tecido
gelatinoso do humor vítreo nos olhos e na pele.


Figura 16. Fonte: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81cido_hialur%C3%B4nico#/media/File:Hyaluronan.png>
.

Glicoconjugados

Os glicoconjugados são moléculas biologicamente ativas. Nessas moléculas, os carboidratos estão ligados covalentemente a
uma proteína ou lipídeo, formando proteoglicanas, glicoproteínas e glicolipídeos. Essas moléculas possuem diferentes funções
celulares como:

Sinalização e reconhecimento
Adesão e migração
Resposta imune e

célula celular cicatrização

Transporte de glicose para dentro das células

As moléculas de glicose não podem atravessar a membrana das células por difusão simples, em virtude de sua natureza polar e
de seu grande tamanho. Em função disso, dois tipos principais de transportadores foram identificados, a de co-transportadores
sódio-glicose (SGLTs – sodium-glucose linked transporters) e a difusão facilitada independente de sódio realizada pela família de
transportadores conhecida como GLUT (GLUT1- GLUT14 facilitated diffusion glucose transporters).

Os SGLTs (SGLT 1-6) foram os primeiros a serem estudados.

Transportam glicose contra um gradiente de concentração, juntamente com o transporte de íons sódio na membrana;

Aproveitam o gradiente de concentração do sódio gerado pela bomba sódio potássio ATPase;

Estão envolvidos no transporte de glicose nas células epiteliais do intestino (absorção), túbulos renais (reabsorção) e plexo
coroide.

A família de transportadores GLUTs realiza o transporte por um mecanismo de difusão facilitada. Estão divididos em três classes
de transportadores.

Os de classe I são os mais bem descritos e envolvem os GLUTs 1 a 4.

Os de classe II e III ainda estão em estudo mais aprofundado.


Classe I

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GLUT – 1 

Abundante nos eritrócitos e encéfalo, envolvido na captação de glicose do sangue. É mais comum em tecidos fetais;

Não depende de insulina e mantém os níveis basais de glicose.

GLUT-2 

Encontrada no fígado, células beta do pâncreas, rins e células intestinais (após a absorção);

Transporta nos dois sentidos, envolvido na regulação da glicemia (jejum). Não depende de insulina.

GLUT-3 

Encontrado principalmente no cérebro, envolvido na captação de glicose do sangue. É independente de insulina.

GLUT-4 

Abundante no tecido adiposo, músculo esquelético e cardíaco, e cérebro que aumenta de quantidade e se abre em
resposta à insulina;

Envolvido na captação de glicose do sangue;

Fica armazenado no citoplasma da célula em vesículas, que são transportadas para a membrana sob estímulo da
insulina. O estímulo da insulina aumenta o transporte de glicose em dez a vinte vezes.


Efeitos da insulina na captação e metabolismo da glicose. A insulina se liga ao seu
receptor, que desencadeia uma cascata de ativação de várias proteínas (2). Isso inclui: a
translocação do GLUT4 das vesículas citosólicas para membrana plasmática permitindo a
entrada de glicose (3), síntese de glicogênio quando há excesso de glicose e de ATP (4),
glicólise, quebra de glicose em piruvato, para obtenção de energia (5), síntese de ácidos
graxos se houver excesso de glicose e glicogênio (6).

Saiba mais
Assista aos vídeos Insulin Signaling, que mostra a expressão aumentada do transportador GLUT4 em concentrações aumentadas
de glicose, em resposta a presença da insulina; e The Role of Insulin in the Human Body, que mostra de maneira mais geral o papel
da insulina, nos mesmos tecidos.

Glicemia

O termo glicemia refere-se à quantidade de glicose encontrada


no sangue, que não deve estar nem acima nem abaixo dos
valores normais.


Fonte: andriano.cz / Shutterstock.

 GLICEMIA NORMAL
60 a 99 mg/dL de sangue.

HIPERGLICEMIA
Pré-diabetes 100 a 125mg/dL.

 Diabetes ≥ 126mg/dL.

HIPOGLICEMIA
Abaixo de 50 mg/dL.

O controle feito por hormônios como insulina, glucagon, adrenalina e glicocorticoides será discutido adiante.

Metabolismo dos carboidratos

Via glicolítica ou glicólise

Comentário

O sufixo lise significa quebra e o sufixo gênese significa síntese. Isso facilitará reconhecer o significado da nomenclatura das vias
metabólicas.
É a via que corresponde à oxidação da glicose em ácido pirúvico e estará ativada sempre que a célula necessitar de energia.

Representa a primeira etapa do catabolismo dos carboidratos;

Ocorre no citoplasma da célula;

Parte da energia liberada é armazenada na forma de ATP.

Em certos tecidos e tipos celulares de mamíferos (eritrócitos, medula renal, cérebro e esperma por exemplo), a glicólise é a
principal, ou mesmo única, fonte de energia metabólica.

Reação global

Glicose + 2 NAD+ + 2 ADP + 2 Pi -----------> 2 NADH + 2 piruvato + 2 ATP + 2 H2O

A glicólise é uma via catabólica que envolve dez reações em etapas sucessivas mediadas por enzimas e pode ser dividida em
duas fases:

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Fase preparatória 

Envolve cinco etapas e converte uma molécula de glicose em duas moléculas de gliceraldeído 3—fosfato.

Nessa fase, há consumo de ATP em duas etapas. A glicose é primeiramente fosforilada. Assim que entra na célula em
Glicose-6-P, essa fosforilação da glicose ocorre para que ela não seja transportada de volta para o meio extracelular. Após
algumas etapas há a sua conversão em gliceraldeído-3-fosfato.
Fase de pagamento 

Esta fase envolve mais cinco etapas e corresponde à conversão das duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato até chegar a
duas moléculas de piruvato.

Nessa fase, há geração de quatro moléculas de ATP e duas moléculas de NADH que é uma molécula transportadora de
elétrons e que, posteriormente, veremos que poderá gerar mais ATP na cadeia respiratória.

Na via glicolítica formam-se quatro moléculas de ATP; como foram gastas duas moléculas de ATP na fase preparatória, o
produto líquido da glicólise são duas moléculas de ATP.


Figura 17. Estrutura dos componentes da glicólise anaeróbia mostradas, utilizando projeções de Fischer. Os compostos correspondem à glicose
(Glu), glicose 6-fosfato (G6P), frutose 6-fosfato (F6P), frutose 1,6-bifosfato (F16BP), dihidroxicetona fosfato (DHAP), gliceraldeído 3-fosfato (GA3P), 1,3-
bifosfoglicerato (13BPG), 3-fosfoglicerato (3PG), 2-fosfoglicerato (2PG), fosfoenolpiruvato (PEP) e piruvato (Pir). As enzimas que participam dessa via
metabólica estão indicadas pelos números sublinhados, e correspondem à hexoquinase (1), glicose 6-fosfato isomerase (2), fosfofrutoquinase-1 (3),
frutose-bifosfato aldolase (4), triose fosfato isomerase (5), gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase (6), fosfoglicerato quinase (7), fosfoglicerato mutase
(8), fosfopiruvato hidratase (enolase) (9) e piruvato (10). Fonte: Wikipedia <https://pt.wikipedia.org/wiki/Glic%C3%B3lise#/media/File:Glycolysis--F-
PM.png> .

Saiba mais

Assista ao vídeo Glycolysis: An Overview <https://www.youtube.com/watch?v=8Kn6BVGqKd8> , que explica as reações que


ocorrem na via glicolítica..

A glicólise é regulada para manter níveis constantes de ATP no organismo. O ajuste de velocidade da via glicolítica é
alcançado pela interação complexa entre o consumo de ATP, a regeneração do NADH e a regulação alostérica de algumas
enzimas desta via. A regulação e integração do metabolismo será vista em detalhes na última aula.

Rotas alternativas do piruvato

O piruvato formado na via glicolítica pode tomar três rotas metabólicas alternativas:

1. Em presença de O2 – O piruvato vai a acetil-CoA e segue para o Ciclo de Krebs e cadeia respiratória. Essa via será
discutida posteriormente.

2. Na ausência de O2 – No organismo humano, ocorre fermentação a lactato no músculo em contração vigorosa, nos
eritrócitos e em algumas outras células;

3. Na ausência de O2 – Em leveduras ocorre fermentação a etanol e CO2.


Fermentação lática 

Ocorre redução do piruvato a lactato pela enzima lactato desidrogenase, o NADH produzido na glicólise é reoxidado, desse
modo pode ser utilizado novamente. Não há ganho adicional de ATP. Essa é a via mais rápida de obtenção de energia, ocorre
nos exercícios de alta intensidade.


Figura 18. Fonte: Wikipedia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Fermenta%C3%A7%C3%
A3o_l%C3%A1ctica#/media/File:Esquema_Fermenta%C3
%A7%C3%A3o_l%C3%A1ctica1.jpg> .

Dica

Os eritrócitos mesmo em condições aeróbias, produzem lactato a partir de glicose.


Fermentação alcoólica 

Ocorre descarboxilação do piruvato pela enzima piruvato-descarboxilase e transformação em acetaldeído; posteriormente,


há redução do acetaldeído pela enzima álcool desidrogenase. São produzidos etanol e CO2.

O CO2 produzido é o responsável pela carbonatação caraterística de bebidas alcoólicas como a champanhe, assim como
pelo crescimento da massa do pão e do bolo.


Figura 19. Fonte: Wikipedia <https://en.wikipedia.org/wiki/Fermentation#/media/File:Ethanol_fermentation-1.svg>
.

Etapa 1 – A glicose é convertida em duas moléculas de piruvato pela via glicolítica;

Etapa 2 – as duas moléculas de piruvato são convertidas em duas moléculas de acetaldeído com liberação de CO2;

Etapa 3 – As duas moléculas de acetaldeído são reduzidas a duas moléculas de etanol, e o NADH é reoxidado em NAD+.

Obs. A formação de ATP ocorre apenas na via glicolítica. E essa via está presente apenas em leveduras e fungos, não ocorre
no organismo humano.

Via das pentoses-fosfato

A via das pentoses fosfato também é chamada de via do fosfogliconato ou via da hexose monofosfato.

Ela também utiliza a glicose-6-fosfato, como a via glicolítica, mas na fase oxidativa leva à produção de Ribose-5-fosfato, CO2 e
NADPH.
O NADP+ é o aceptor final de elétrons e a pentose vai ser útil para a síntese de nucleotídeos, coenzimas, DNA e RNA,
principalmente em células que se dividem rapidamente.

Em outras células, o produto essencial dessa via não é a pentose, e sim o NADPH, como nos eritrócitos, onde o NADPH reduz os
danos dos radicais de oxigênio, e tecido adiposo ou fígado, onde ocorre a síntese de grande quantidade de ácidos graxos e o
NADPH fornece a força redutora para as reações biossintéticas.

Na segunda fase, não oxidativa, converte as pentoses-fosfato em glicose-6-fosfato, que inicia o ciclo novamente.

Essa é uma via citoplasmática, assim como a glicólise, e compartilha algumas enzimas com ela.

A entrada de glicose-6-fosfato na via glicolítica ou na via das pentoses-fosfato vai depender das quantidades relativas de NADP+ e
NAPH disponíveis.

Quando há conversão muito rápida de NADPH em NADP+, devido a reduções biossintéticas, o nível de NADP+ eleva-se, ativa
alostericamente a glicose-6-fosfato-desidrogenase (G6PD), primeira enzima da via das pentoses-fosfato, estimulando
especificamente essa via;

Quando a demanda por NADPH é menor e o nível de NADP+ diminui, a via das pentoses-fosfato também diminui e a glicose-
6-fosfato é utilizada na via glicolítica. Um aumento na concentração de NADPH inibe a enzima G6PD.

Atividade
1. Qual é o polissacarídeo de reserva energética em animais, que fica armazenado no músculo e fígado?

a) Glicose
b) Celulose
c) Amido
d) Glicogênio
e) Maltose

2. No músculo esquelético, a entrada de glicose na célula depende da presença da insulina. Sem esse hormônio o transportador
GLUT4 não é capaz de fazer o transporte de glicose para dentro das células. Explique esse processo.

3. Um atleta, que participou de uma corrida de 1.500m, desmaiou depois de ter percorrido cerca de 800m devido à oxigenação
deficiente de seu cérebro. Sabendo-se que as células musculares podem obter energia por meio de processo anaeróbico,
chamado fermentação, no músculo esquelético do atleta desmaiado deve haver acúmulo de:

a) Glicose
b) Glicogênio
c) Monóxido de carbono
d) Ácido lático
e) Etanol

Referências

HARVEY, R.A; FERRIER, D.R. Bioquímica Ilustrada. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.

HORI, J. Bioquímica. Rio de Janeiro: Editora Universidade Estácio de Sá, 2015.

NELSON, D.L.; COX, M. Lehninger Princípios de bioquímica. 5.ed. São Paulo: Sarvier, 2011.

SACKHEIM, G.I.; LEHMAN, D.D. Química e bioquímica para ciências biomédicas. 1.ed. Barueri, SP: Manole, 2001.
STRYER, L., TYMOCZKO, J.; BERG, J. Bioquímica. 7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

Próxima aula

Metabolismo de carboidratos (segunda parte), metabolismo do glicogênio, gliconeogênese e ciclo das pentoses;

Bioenergética, transformações biológicas e as leis da termodinâmica;

Ciclo de Krebs e da fosforilação oxidativa.

Explore mais

Leia o texto Atualização sobre hemoglobina glicada (HbA1C) para avaliação do controle glicêmico e para o diagnóstico do diabetes:
aspectos clínicos e laboratoriais <//www.scielo.br/pdf/jbpml/v45n1/07.pdf> .

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