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Disciplina: Bioquímica

Aula 10: Integração metabólica


Apresentação

Nesta disciplina, estudamos várias vias metabólicas importantes para a obtenção de energia. Agora, reuniremos todo o
conhecimento adquirido para entender como os sinais hormonais coordenam anabolismo e catabolismo nos diferentes
órgãos e tecidos.

Nos organismos superiores, as vias metabólicas são reguladas para um trabalho cooperativo, evitando que vias opostas
ocorram simultaneamente. Ou seja, é importante entender como as enzimas regulatórias estão funcionando para gerar
energia de forma eficiente quando necessário, bem como organizar o armazenamento energético para situações de
carência.

Nesta aula, apresentaremos exemplos das situações de jejum, estado alimentado, adaptações metabólicas no exercício,
bem como abordaremos algumas disfunções do metabolismo, como diabetes e obesidade.

Objetivos

Identificar a ação e regulação hormonal das principais vias metabólicas;

Descrever os pontos centrais de integração do metabolismo energético;

Distinguir os estados metabólicos específicos como estado alimentado, jejum, adaptações metabólicas no exercício, e
disfunções do metabolismo como diabetes e obesidade.
Primeiras palavras
No organismo humano, temos padrões metabólicos diferenciados de acordo com o tipo de trabalho a ser realizado por
determinado tipo celular. A integração do metabolismo energético entre quatro tecidos fundamentais, como podemos observar na
figura a seguir, ocorrerá em função da sinalização hormonal, da sinalização de neurotransmissores, e dependerá da
disponibilidade de substratos circulantes no organismo.

O controle do metabolismo também será realizado pela produção, regulação alostérica e modificação covalente das enzimas
regulatórias ou chaves das vias. Observe a figura abaixo.
Mecanismo de comunicação entre os quatro principais tecidos
Regulação hormonal
Na aula 5, estudamos as bases do metabolismo e a biossinalização e vimos a importância da comunicação entre as células de
modo que haja o melhor aproveitamento dos nutrientes, e que as vias metabólicas contrárias não estejam ativadas
simultaneamente.

Os sinais neuronais e hormonais do nosso organismo são responsáveis por integrar e coordenar os nossos sistemas. Conheça-os
melhor abaixo.

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Sinais neuronais 

Nos sinais neuronais, o mensageiro químico é um neurotransmissor que é liberado na fenda sináptica.

Sistema hormonal 

No sistema hormonal, os mensageiros são hormônios liberados na corrente sanguínea, capazes de alcançar alvos distantes
no organismo. Esses mensageiros vão atuar em receptores específicos nas células-alvo e são capazes de desencadear uma
cascata de eventos intracelulares após uma interação de alta afinidade e seletividade.

A localização dos receptores vai depender do tipo de ligante:


Podem estar localizados na membrana plasmática em contato com o meio extracelular, no citosol, ou no núcleo.

No caso de hormônios peptídicos, que são hidrossolúveis (ex. insulina), os receptores estão na membrana plasmática, já que
essas moléculas não são capazes de atravessar a bicamada fosfolipídica.

Nos hormônios lipossolúveis, como os esteroides, os receptores encontram-se dentro da célula, uma vez que não possuem
dificuldade de atravessar a membrana.

Dentro da célula, é desencadeada uma cascata de eventos que resulta em amplificação dos sinais intracelulares em várias ordens
de grandeza e, normalmente, esses eventos ocorrem em curto espaço de tempo (milissegundos ou segundos).

Já os eventos intracelulares que envolvem a ativação de receptores nucleares e transcrição gênica são processos mais
demorados, por horas ou até mesmo dias.

Os tecidos dos mamíferos possuem função especializada que reflete na anatomia e atividade metabólica.

O pâncreas, por exemplo, é uma glândula com função digestiva e endócrina. Ele é
responsável pela secreção de enzimas digestivas, exercendo função exócrina e, além disso,
possui uma função endócrina com produção de importantes hormônios, envolvidos no
controle de glicemia, insulina e glucagon.
Observe na figura a seguir a influência da taxa de glicose no sangue na secreção de insulina e glucagon pela porção endócrina do
pâncreas.

Regulação da glicemia pelo hormônio glucagon e insulina | Fonte: Wikipedia

Quando há aumento da taxa de glicose no sangue (glicemia) em função da presença de alimentos, há estímulo das células beta
do pâncreas que secretam insulina e inibição das células alfa.

A insulina é um hormônio responsável pela diminuição da glicemia ao estimular a


captação de glicose pelas células. Ela regula o metabolismo de carboidratos, proteínas
e lipídeos como veremos a seguir.

A insulina ativa é um polipeptídeo com 51 aminoácidos, formado por duas cadeias polipeptídicas ligadas por duas pontes
dissulfeto. A cadeia A possui 21 aminoácidos e uma ligação dissulfeto adicional, e a cadeia B possui 30 aminoácidos.

A insulina humana é muito parecida com a bovina (diferença de 3 aminoácidos) e a suína (diferença de 1 aminoácido). Ela é
produzida como pró-hormônio e, posteriormente, convertida por ação proteolítica em sua forma ativa.

Pacientes com diabetes mellitus tipo 1 não produzem insulina e necessitam de sua administração, via subcutânea; alguns
pacientes diabetes mellitus tipo 2 não controlado também podem necessitar de doses de insulina exógena.
Saiba mais

Antigamente, a insulina disponível para o tratamento desses pacientes era obtida a partir do pâncreas bovino ou suíno.
Atualmente, as insulinas disponíveis no mercado são produzidas a partir da tecnologia do DNA recombinante, em bactérias
Escherichia coli. Leia mais no artigo do Explore +.

Em situação de jejum, quando não há ingesta de alimentos, há uma diminuição da glicemia. Essa baixa taxa de glicose no
sangue inibe as células beta no pâncreas e estimula as células alfa a produzir o hormônio glucagon.

Conheça melhor as funções dos hormônios glucagon e ADRENALINA:

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Glucagon 

Também é um hormônio polipeptídico, sua forma ativa possui 29 aminoácidos, e é responsável em aumentar as taxas de
glicose no sangue; como seu efeito é contrário ao da insulina, sua secreção é diminuída em presença de insulina.

ADRENALINA 

Também conhecida como epinefrina é um hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais em respostas a situações de
stress, também denominado hormônio de “luta e fuga”.
Esse hormônio é produzido a partir do aminoácido tirosina e prepara o organismo para grandes esforços físicos,
acarretando modificações fisiológicas e metabólicas no organismo:

Dilatação das vias aéreas para facilitar a captação de O2;

Aumento da frequência e força dos batimentos cardíacos, com resultante elevação da pressão arterial;

Favorece o fluxo de oxigênio e de combustíveis para os tecidos;

Age principalmente nos tecidos muscular, adiposo e hepático;

Aciona a glicogenólise (degradação de glicogênio) no fígado e nos músculos, ativando a enzima glicogênio-fosforilase e
inativando a glicogênio sintase pela fosforilação dependente de AMPc dessas enzimas, resultando em liberação de glicose
do fígado para o sangue e, no músculo, de glicose para trabalho muscular anaeróbio; a glicólise anaeróbia resulta em
aumento de ATP no músculo;

Há aumento de gliconeogênese no fígado e aumento de lipólise no tecido adiposo, resultando em liberação de ácidos
graxos para serem utilizados como combustível;

Estimula a liberação de glucagon e diminuindo a secreção de insulina, reforçando seus efeitos metabólicos.

O cortisol é conhecido como hormônio do estresse, e uma série de situações como ansiedade, dor, glicose sanguínea baixa,
jejum, estimulam a liberação desse corticosteroide pelo córtex adrenal. Seu papel é fornecer combustível suficiente para manejo
da situação de estresse. Por ser um hormônio de ação em receptores nucleares que alteram a síntese proteica, sua ação é bem
mais lenta, já que envolve mudança nos tipos e quantidades de enzimas sintetizadas nas células-alvo, e não nas pré-existentes.

Ele atua no:


Tecido adiposo Músculo
Promovendo o aumento de liberação de ácidos graxos a Estimulando a degradação de proteínas e a exportação
partir dos triglicerídeos, que vão servir como combustível dos aminoácidos para o fígado, de forma a serem
para outros tecidos e o glicerol será utilizado na precursores na gliconeogênese. Também estimula
gliconeogênese no fígado. diretamente a enzima-chave desta via, a PEP-
carboxicinase.

Fígado
A glicose produzida é armazenada no fígado na forma de
glicogênio ou exportada para o sangue para atender a
outros tecidos.
A resposta final é a restauração da glicemia e o aumento das reservas para dar suporte à
resposta de luta e fuga. Períodos prolongados de estresse resultam em danos aos músculos
e ossos, causando alterações das funções endócrina e imunológica.

Atividade
1. A insulina age quando os níveis de glicose no sangue aumentam, resultando em diminuição dessas taxas. Qual hormônio
apresenta ação antagônica a da insulina?

a) Tiroxina
b) Glucagon
c) Antidiurético
d) Cortisol
e) Adrenalina

Integração metabólica
Quando avaliamos o papel do fígado, observamos que ele possui uma função central no processamento e na distribuição de
nutrientes, tanto que nos referimos aos outros órgãos como extra-hepáticos ou periféricos.

 Fígado humano – anatomia 3D | Fonte: Shutterstock


Durante a digestão, as macromoléculas são degradadas por hidrólise enzimática em constituintes mais simples, para que
possam ser absorvidos pelas células epiteliais que revestem o lúmen intestinal.

As moléculas simples de açúcares, aminoácidos e triacilgliceróis reconstituídos, passam das células do epitélio intestinal para os
capilares sanguíneos e seguem pela veia porta diretamente para o fígado, sendo este o primeiro a ter acesso aos nutrientes
ingeridos.

Nos hepatócitos, os nutrientes da dieta são transformados em combustíveis e precursores necessários a outros tecidos, e essa
exportação é realizada através do sangue. A parte restante dos triglicerídeos é encaminhada para o tecido adiposo pela via
linfática, e são armazenados nesse tecido para posterior utilização, como combustível energético.

O tipo e a quantidade de nutrientes que são enviados para o fígado vão depender da
dieta, e do intervalo entre as refeições, entre outros fatores.

Atenção

Os carboidratos são os nutrientes primeiramente utilizados como combustíveis. Já o consumo pelos tecidos periféricos varia de
acordo com órgão, atividade e estado nutricional geral do organismo.

O fígado possui uma grande flexibilidade metabólica, de forma a atender as necessidades dos tecidos periféricos. Por exemplo,
se a dieta for rica em proteínas, os hepatócitos realizam catabolismo.

O tecido adiposo possui um metabolismo glicolítico ativo, oxidam piruvato e ácidos graxos pelo ciclo de Krebs e realizam a
fosforilação oxidativa. Embora a maior parte da síntese de ácidos graxos em humanos ocorra nos hepatócitos, o tecido adiposo
pode converter a glicose (via piruvato e acetil-CoA) em ácidos graxos e, posteriormente, em triglicerídeos, que são
armazenados nos grandes glóbulos de gordura. Os adipócitos armazenam os triglicerídeos provenientes do fígado, transportados
no sangue como VLDL, e do trto intestinal, provenientes dos quilomícrons, após refeição rica em gordura.

O hormônio glucagon, secretado em resposta a níveis baixos de glicose no sangue, leva à liberação e quebra dos triglicerídeos
no tecido adiposo. Os ácidos graxos livres se ligam à proteína albumina e são transportados até os tecidos, onde se dissociam da
albumina e se difundem para o citoplasma, onde sofrem oxidação, como, por exemplo, no músculo esquelético e coração.

O glicerol é fosforilado para ser oxidado na via glicolítica, ou pode ser utilizado para formar glicose pela gliconeogênese, no fígado.
A adrenalina também mobiliza a liberação dos ácidos graxos dos adipócitos para ser utilizado como combustível.
Utilização de nutrientes pelo fígado e por tecidos periféricos

Indivíduo alimentado (pós-prandial)


Quando a taxa de glicose está alta no sangue, por exemplo, após uma refeição (situação pós-prandial), as células beta do
pâncreas, presentes nas ilhotas de Langerhans são estimuladas a produzir o hormônio insulina.

No tecido hepático, o transporte de glicose é realizado pelo transportador GLUT2 que independe de insulina e é extremamente
eficiente, tanto que a concentração de glicose no hepatócito é basicamente a mesma do sangue.

Você sabe qual é a primeira reação que a glicose sofre ao entrar no hepatócito?

A primeira reação é a fosforilação pela enzima glicocinase (hexocinase IV), que possui regulação diferenciada das outras
isoenzimas hexocinases, em outros tecidos periféricos.

A glicocinase não é regulada pelo seu produto, glicose-6-fosfato, o que permite que o hepatócito continue fosforilando a glicose
quando seus níveis são muito elevados. Além disso, em baixas quantidades de glicose, a fosforilação é mínima, garantindo que o
fígado não irá consumi-la na via glicolítica, como forma de combustível. Isso garante que o fígado exporte a glicose para o sangue
e outros tecidos como cérebro.

Outros açúcares como frutose e galactose também podem ser convertidos em glicose-
6-fosfato.

Em condições de glicemia elevada, aumento de glicose-6-fosfato e presença de insulina, a síntese de glicogênio (glicogênese) é
estimulada no fígado e músculo.

Nessas condições metabólicas, a enzima cinase, reguladora desta via, a glicogênio-sintase-cinase 3 (GSK3) é inativada pela
insulina e a enzima glicogênio sintase fica na sua forma ativa (desfosforilada). No fígado, os hepatócitos utilizam o excesso de
glicose sanguínea para a síntese de glicogênio que irá ocupar até 10% do peso total do fígado.

Na presença de insulina, há aumento na captação da glicose pelos miócitos e adipócitos. Nessa situação metabólica, há o
deslocamento do transportador de glicose GLUT4 de vesículas citoplasmáticas para a membrana, permitindo a entrada de glicose
nessas células.

O alto consumo de carboidratos e proteínas na dieta resulta em excesso de glicose e


aminoácidos, que, pelo estímulo da insulina, serão convertidos em acetil-CoA.

Quando há excesso de acetil-CoA nas mitocôndrias e ATP disponível, a síntese de ácidos graxos será estimulada.

O acetil-CoA é transportado pela carnitina para o citoplasma, onde ocorre a síntese. O ácido graxo sintetizado no fígado será,
posteriormente, armazenado na forma de triglicerídeos no tecido adiposo, constituindo reserva energética.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/GLUT4#/media/File:Insulin_glucose_metabolism_ZP.svg

Jejum e jejum prolongado


Algumas horas após a ingestão de carboidratos da dieta, os níveis de glicose no sangue diminuem em função do consumo
pelo cérebro, eritrócitos e outros tecidos.

A diminuição da glicemia estimula a liberação de glucagon pelas células alfa nas Ilhotas de Langerhans, na porção endócrina do
pâncreas. Ele estimula a degradação de glicogênio no fígado (glicogenólise) ao ativar a enzima glicogênio fosforilase e inativar a
glicogênio sintase, reguladas por fosforilação, desencadeada por AMPc.

A glicogenólise hepática repõe a glicose sanguínea. A via glicolítica fica inibida no fígado, e a gliconeogênese é estimulada,
ocorrendo conversão de aminoácidos, oriundos da degradação de proteínas no fígado, glicerol (provenientes dos triglicerídeos) e
oxaloacetato em glicose.

No tecido adiposo, aumenta a mobilização de ácidos graxos. A lipólise é estimulada pela lipase sensível a hormônio, aumenta a
disponibilidade de ácidos graxos para o fígado e outros tecidos, e menor quantidade de glicose é utilizada como combustível pelo
fígado e pelo músculo, poupando-a para o encéfalo. Observe o esquema abaixo.
O fígado utiliza ácidos graxos como fonte principal de combustível, e o excesso de acetil-CoA é convertido em corpos cetônicos,
que são enviados a outros tecidos.

No jejum prolongado o cérebro se adapta e utiliza corpos cetônicos quando há


deficiência de fornecimento de glicose.

O músculo, no jejum, utiliza ácidos graxos como fonte de combustível. Após jejum prolongado, o músculo utiliza corpos cetônicos
como fonte de energia e suas proteínas são degradadas para fornecer aminoácidos para a gliconeogênese.

O jejum é caracterizado por intensa troca de substratos entre fígado, encéfalo, músculo e tecido adiposo.

Os gráficos a seguir mostram as taxas de glicose no sangue em relação ao tempo após ingestão de alimentos.

No primeiro gráfico, após 12 horas, observa-se a importância da gliconeogênese para a manutenção dos níveis de glicose no
sangue.

No segundo gráfico observa-se também os níveis de ácidos graxos e corpos cetônicos na corrente sanguínea após jejum
prolongado.
Atividade
2. O pâncreas é uma glândula mista, ou seja, possui função endócrina e exócrina. Na porção endócrina, o pâncreas produz dois
hormônios: a insulina e o glucagon. Selecione a alternativa que descreve a função desses dois hormônios, respectivamente:

a) Facilita a absorção de glicose e aumenta o nível de glicose disponível no sangue.


b) Aumenta a quantidade de glicose disponível no sangue e aumenta a produção de glicose.
c) Aumenta a quantidade de insulina no sangue e diminui a taxa de respiração celular.
d) Facilita a absorção da glicose e diminui a concentração de glicose no sangue.
e) Ambos atuam facilitando a absorção de glicose.

Exercício intenso
Nos miócitos, células da musculatura esquelética, o metabolismo é especializado na geração de ATP como fonte imediata de
energia para a contração muscular.

Seu trabalho mecânico ocorre de acordo com a demanda, diferentemente do músculo cardíaco que tem atividade contínua, com
ritmo regular de contração e relaxamento e caracterizado por metabolismo completamente aeróbio o tempo todo; excetuando as
condições de obstrução das artérias por depósitos lipídicos ou coágulos sanguíneos, que pode levar à morte celular, como
acontece no infarto do miocárdio.
 Fonte: Mabel Amber, still incognito... from Pixabay

O músculo esquelético pode atender a demandas rápidas de contração como em uma corrida de 100m, em que trabalha com
capacidade máxima por pouco tempo, ou trabalho prolongado, como é o caso de uma maratona, que resulta em trabalho físico
mais lento, porém prolongado.

Em situações de explosão de atividade intensa, a obtenção de energia ocorre primeiro pela degradação de glicogênio a lactato
pela fermentação lática; nesse caso, a corrente sanguínea não consegue fornecer oxigênio nem combustíveis com a rapidez
necessária. A adrenalina também estimula essa via. Como a quantidade de glicogênio armazenada é baixa, cerca de 1% do peso
total do músculo esquelético, e como a liberação de lactato diminui o pH tecidual, limitando essa via, o músculo esquelético
utiliza, em seguida, outra fonte de ATP: a fosfocreatina e ADP são convertidos pela enzima creatina cinase em creatina e ATP para
contração muscular. No período de recuperação do esforço, a reação contrária é realizada pela mesma enzima.

O ciclo de Cori mostra cooperação metabólica entre o fígado e o músculo. Após o período de atividade intensa, a pessoa respira
fortemente por algum tempo, utilizando muito oxigênio e produzindo muito ATP por fosforilação oxidativa no fígado.

O ATP produzido é utilizado para a conversão do lactato, transportado do músculo para o fígado, pelo sangue, em glicose pela
gliconeogênese. A glicose formada retorna ao músculo para repor as reservas de glicogênio, completando o ciclo de Cori.

O ciclo de Cori pode ser visto na figura a seguir. As setas em vermelho tracejado mostram a direção das reações na situação de
esforço físico. As setas em verde pontilhado são as reações que ocorrem no período de reoxigenação (descanso).
O ciclo de Cori | Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_de_Cori#/media/File:CiclodeCori-pt.svg

Diabetes

Diabetes mellitus (DM)

O diabetes mellitus (DM) consiste em um distúrbio metabólico caracterizado por


hiperglicemia persistente, decorrente de deficiência na produção de insulina ou na sua
ação, ou em ambos os mecanismos, ocasionando complicações em longo prazo. Atinge
proporções epidêmicas, com estimativa de 415 milhões de portadores de DM
mundialmente. A hiperglicemia persistente está associada a complicações crônicas micro
e macrovasculares, aumento de morbidade, redução da qualidade de vida e elevação da
taxa de mortalidade.

Existem evidências de que indivíduos com diabetes mal controlado ou não tratado
desenvolvem mais complicações do que aqueles com o diabetes bem controlado.”

Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2017-2018)

Aspectos clínicos:

Fase assintomática – Diagnóstico laboratorial;

Fase sintomática – Consequências.

Entenda melhor sobre esses sintomas abaixo:

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Glicosúria 

O limiar para absorção renal é ultrapassado, causando diurese osmótica (Poliúria), a qual provoca desidratação, sede e
aumento da ingestão hídrica (Polidipsia).

Polifagia 

É uma condição que leva o paciente a sentir fome de maneira compulsiva e regular.
A doença é dividida em duas classes clínicas principais:

Diabetes tipo 1 Diabetes tipo 2


Também denominado insulina-dependente, tem início Diabetes não insulina-dependente, ou também chamado
precoce e sintomas graves. Requer insulinoterapia e diabetes resistente à insulina. Desenvolve-se mais
controle adequado durante toda a vida do paciente. lentamente e, normalmente, acomete pessoas mais velhas
e obesas.

Para diagnóstico laboratorial da DM é necessário a realização dos três exames a seguir:

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Glicemia em jejum 

Deve ser coletada em sangue periférico após jejum calórico de, no mínimo, 8 horas.

TOTG (Teste Oral de Tolerância a Glicose) 

Previamente à ingestão de 75g de glicose dissolvida em água, coleta-se uma amostra de sangue em jejum para
determinação da glicemia; coleta-se outra, então, após 2 horas da sobrecarga oral. Importante reforçar que a dieta deve ser a
habitual e sem restrição de carboidratos pelo menos nos três dias anteriores a realização do teste. Esse teste permite avaliar
a glicemia após sobrecarga, que pode ser a única alteração detectável no início do DM, refletindo a perda de primeira fase da
secreção de insulina.

Hemoglobina glicada (HbA1c) 

Oferece vantagens ao refletir níveis glicêmicos dos últimos três a quatro meses; sofre menor variabilidade no dia a dia e
independe do estado de jejum para sua determinação.

O quadro a seguir mostra os critérios adotados pela sociedade brasileira de diabetes:


Pessoas com qualquer tipo de diabetes não conseguem captar eficientemente a glicose do sangue. Músculo e tecido adiposo
dependem de insulina para a captação de glicose pelo transportador GLUT4.

Além disso, outra característica é a quebra excessiva de ácidos graxos, porém, de forma incompleta, resultando em acúmulo de
acetil-CoA, que leva a um acúmulo de corpos cetônicos, já que os tecidos extra-hepáticos não conseguem utilizar o acetoacetato
e beta-hidroxibutirato na velocidade com que são produzidos pelo fígado.

O sangue de diabéticos descompensados possui a acetona, que é volátil e promove hálito cetônico característico quando exalada.
Os corpos cetônicos são ácidos carboxílicos que se ionizam liberando prótons.

No diabetes não controlado pode ocorrer redução do pH sanguíneo, que, em combinação com a cetose resulta em cetoacidose,
pode ser uma condição potencialmente fatal. Além disso, há degradação de proteínas celulares, de forma a produzir
aminoácidos glicogênicos para a síntese de glicose via gliconeogênese.

O diabetes não controlado é caracterizado por altos níveis de glicose no sangue e na urina, e produção e excreção de corpos
cetônicos.

Atenção

O tratamento do diabetes tipo 1 envolve a administração de insulina por toda a vida do paciente. Já o tratamento do diabetes tipo
2 inclui exercício, dieta adequada e fármacos, que aumentam a produção de insulina ou a sensibilidade ao hormônio, pelo
receptor.

Obesidade
A obesidade vem se tornando comum em vários países, acometendo, inclusive, um número maior de crianças e adolescentes. Ela
é mais comum em países desenvolvidos, já que a disponibilidade de alimentos é maior.
 Obesidade infantil | Fonte: Shutterstock

É considerada uma doença multifatorial. Atualmente, acredita-se que os fatores externos são mais relevantes que os genéticos na
incidência da doença. Está, muitas vezes, associada ao diabetes tipo 2.

A síndrome metabólica inclui obesidade, hipertensão, lipídeos sanguíneos elevados e resistência à insulina, e pode resultar em
diabetes tipo 2 e risco cardíaco elevado.

Estudos mostram que a resistência à insulina pode ser uma consequência de uma ingestão elevada de lipídeos que não pode ser
acomodada no tecido adiposo, resultando em armazenamento anormal de lipídeos no músculo e no fígado.

Pesquisas na área do metabolismo mostraram que o adipócito, além de armazenamento de triglicérides, também pode ser
considerado um órgão endócrino, em que se destacam a síntese de adiponectina, a angiotensina e a leptina.

Mais recentemente, foi descoberta a grelina, que também é um peptídeo, mas que é produzido nas células do estômago, e está
envolvida diretamente na regulação do metabolismo energético a curto prazo. Os níveis circulantes de grelina encontram-se
aumentados durante jejum prolongado e em estados de hipoglicemia, e têm sua concentração diminuída após a refeição ou
administração intravenosa de glicose. Sua concentração plasmática é diminuída após refeições ricas em carboidratos,
concomitantemente à elevação de insulina plasmática. Níveis plasmáticos aumentados de grelina foram encontrados após
refeições ricas em proteína animal e lipídeos, associados ao pequeno aumento da insulina plasmática.

Comentário

O tratamento da obesidade consiste em dieta e exercício físico. A melhora da qualidade da dieta inclui aumento da ingestão de
fibra dietética e diminuição de consumo de alimentos ricos açúcar e gordura. Pode ser acompanhado de medicamentos para
inibir o apetite ou reduzir a absorção de gordura. Quando essas medidas não são eficazes, procedimentos cirúrgicos podem ser
alternativas.
Atividade
3. Um paciente, após ter feito uma bateria de exames de sangue solicitada pelo seu médico, observou que a glicemia de jejum de
8 horas apresentou um resultado de 140mg/dL. Esse resultado é suficiente para determinação de diabetes mellitus? Caso não
seja, qual procedimento deve ser adotado?

Notas

Leptina

É uma importante substância na regulação da ingestão alimentar e no gasto energético, gerando um aumento na queima de
energia e diminuindo a ingestão alimentar. Seu pico de liberação ocorre à noite e nas primeiras horas da manhã. O aumento de
leptina encontrado em pessoas obesas é atribuído a alterações no receptor de leptina ou a uma deficiência em seu sistema de
transporte na barreira hematoencefálica, fenômeno denominado resistência à leptina, semelhante ao que ocorre no diabetes. Os
benefícios terapêuticos do tratamento com leptina em indivíduos obesos são ainda controversos.

Referências

HARVEY, R.A; FERRIER, D.R.Bioquímica Ilustrada. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.

HORI, J.Bioquímica.Rio de Janeiro: Editora Universidade Estácio de Sá, 2015.

NELSON, D.L.; COX, M.Lehninger Princípios de bioquímica. 5.ed. São Paulo: Sarvier, 2011.

STRYER, L., TYMOCZKO, J.; BERG, J.Bioquímica.7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

Próxima aula

Explore mais

Para saber mais sobre os assuntos estudados nesta aula, leia o artigo A Evolução da Insulinoterapia no Diabetes Melito Tipo 1.

Leia o texto:

A Evolução da Insulinoterapia no Diabetes Melito Tipo 1. <//www.scielo.br/pdf/abem/v52n2/14.pdf>

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