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Fisiologia Endócrina

Argos Alves – S II – Medicina UFC Fortaleza


Hormônios: peptídeos ou protéicos (maioria; derivam de aminoácidos), esteroides (derivam de
colesterol) e amínicos (catecolaminas; derivam do AA tirosina).

REGULAÇÃO DA SECREÇÃO HORMONAL:

Neurais x feedback (mais comuns; direto ou indireto).

Feedback negativo: alguma característica da ação hormonal, direta ou indiretamente, inibe a


secreção posterior do hormônio. Ex: eixo hipotalâmico-hipofisário, secreção de insulina.

Feedback positivo: alguma característica da ação hormonal provoca mais secreção do


hormônio. É raro. Ex: efeito do estrogênio na secreção de FSH e LH no meio do ciclo menstrual,
ocitocina e dilatação do colo do útero no parto.

REGULAÇÃO DOS RECEPTORES HORMONAIS

Sensibilidade: concentração do hormônio que produz 50% da resposta máxima, que pode ser
alterada modificando o número de receptores ou a afinidade deles pelo hormônio.

Obs: os hormônios podem regular para mais ou para menos os seus próprios receptores e até
mesmo regular os receptores de outros hormônios (Ex: progesterona e receptores de
estrogênio (para menos) ou receptores de LH (para mais), T3 e receptores de TRH (para
menos).

MECANISMOS DA AÇÃO HORMONAL E SEGUNDOS MENSAGEIROS

Complexo hormônio receptor acoplado a proteínas efetoras por proteínas G. Proteínas


efetoras: adenilil ciclase e fosfolipase C. Após a ligação com as proteínas efetoras, segundos
mensageiros são produzidos (AMPc e IP3), que amplificam o sinal inicial do hormônio.

Também existem os mecanismos dos hormônios esteroides, o pela tirosina quinase (insulina e
IGF-1) e o pela guanilato ciclase (PNA e NO).

Proteína G: subunidade α tem ação GTPase; quando ligada ao GDP, a proteína G fica inativa,
mas quando está ligada ao GTP, a proteína G fica ativa e pode realizar sua função acopladora.

Adenilil ciclase: ligação de um hormônio a um receptor, acoplado à proteína Gs ou Gi, que


ativa ou inibe a adenilil ciclase, levando a aumento ou diminuição de AMPc. O AMPc através de
diversas de etapas que ativam a proteína quinase A, fosforila proteínas intracelulares, que irão
executar as ações fisiológicas finais. AMPc é degradado pela fosfodiesterase.

Fosfolipase C: ligação de um hormônio a um receptor e acoplamento pela proteína Gq à


fosfolipase C, que catalisa a liberação de DAG e IP3 do PIP2. O IP3 provoca liberação de Ca2+
das reservas do retículo endoplasmático. Ca2+ e DAG ativam a proteína quinase C, que
fosforila proteínas e produz as ações fisiológicas finais.
Hormônios esteroides e tireoidianos: envolvem receptores citosólicos ou nucleares, que
iniciam a transcrição de DNA e síntese de novas proteínas. Atuam lentamente (horas).

RELAÇÕES HIPOTALÂMICO-HIPOFISÁRIAS

Hipófise posterior (neuro-hipófise): coleção de axônios cujos corpos celulares estão no


hipotálamo. Secreta ADH e ocitocina, que são neuropeptídios produzidos no hipotálamo.

Hipófise anterior (adeno-hipófise): coleção de células endócrinas. Secreta 6 hormônios: TSH,


FSH, LH, GH, prolactina e ACTH. A maior parte do seu suprimento sanguíneo é venosa, a partir
do hipotálamo, suprido pelos vasos porta hipofisários longos e curtos. Por isso, recebem altas
concentrações de hormônios hipotalâmicos.

HORMÔNIOS DO LOBO ANTERIOR DA HIPÓFISE

TSH, FSH E LH: glicoproteínas com duas subunidades, α e β. As subunidades α são iguais para
os 3 hormônios, enquanto que as β, apesar de bastante homólogas, são diferentes, o que
confere especificidade biológica. HCG é estruturalmente relacionado com essa família.

Família do ACTH: derivados da POMC, inclui também o MSH.

Hormônio do Crescimento: Secretado durante toda a vida em padrão pulsátil,


aproximadamente a cada 2 horas, embora o maior surto de secreção ocorra 1 hora após o
início do sono. Na puberdade ocorre um grande surto secretor, estimulado pelo estrogênio nas
mulheres e testosterona nos homens. Hipoglicemia, inanição, exercícios e estresse são
estimuladores do GH. É estimulado pelo GHRH, que atua nas células somatotróficas, utilizando
o AMPc e IP3 como 2ºs mensageiros. É inibido pela somatostatina, que bloqueia a ação do
GHRH nas células somatotróficas, inibindo a geração de AMPc.

Ações do GH (diretas nos tecidos-alvo ou indiretas através de somatomedinas, as IGFs):

- Efeito diabetogênico: causa resistência à insulina e diminui a captação de glicose e sua


utilização pelos tecidos-alvo. Aumenta a lipólise no tecido adiposo. Ocorre aumento dos níveis
sanguíneos de insulina.

- Aumento da síntese protéica e do crescimento dos órgãos: aumenta a captação de AA e


estimula a síntese de DNA, RNA e proteínas.

- Aumento do crescimento linear: Nos ossos em crescimento, as placas epifisárias se alargam e


mais tecido ósseo é depositado nas extremidades dos ossos longos. Há proliferação de
condrócitos.

Deficiência de GH em crianças resulta em falha do crescimento, baixa estatura, obesidade


moderada e puberdade retardada. Pode ser tratada com reposição de GH.

Excesso de GH causa acromegalia, sendo comumente associado a um adenoma de hipófise.


Antes da puberdade, o excesso de GH provoca gigantismo, devido à estimulação hormonal
intensa das placas epifisárias. Após a puberdade, há aumento do periósteo, do tamanho dos
órgãos, das mãos, pés e língua, características faciais rudes, resistência à insulina e intolerância
à glicose. É tratada com análogos da somatostatina (ex: octreotídeo).

Prolactina: Sintetizada pelas células lactotróficas. TRH, gravidez (estrogênio), amamentação e


TRH estimulam a secreção de prolactina, enquanto dopamina (uma catecolamina),
bromocriptina (agonista dopaminérgico), prolactina e somatostatina inibem a secreção de
prolactina. A dopamina é principalmente sintetizada pelos neurônios dopaminérgicos do
hipotálamo, mas também pode ser secretada por neurônios dopaminérgicos do lobo posterior
da hipófise ou células não-lactotróficas da hipófise anterior.

Ações da prolactina:

- Desenvolvimento das mamas: proliferação e ramificação dos ductos mamárias na puberdade;


crescimento e desenvolvimento dos alvéolos mamários na gravidez.

- Produção de leite: Induz a síntese de lactose, caseína e lipídeos do leite. Obs: os elevados
níveis de estrogênio e progesterona durante a gravidez dessensibilizam os receptores de
prolactina na mama e bloqueiam a ação desse hormônio, o que muda no parto.

- Inibição da ovulação: Inibe a síntese e a liberação do GnRH.

Deficiência de prolactina: destruição do lobo anterior da hipófise ou das células lactotróficas.

Excesso de prolactina: destruição do hipotálamo, interrupção do eixo hipotalâmico-hipofisário


ou prolactinomas, causando galactorréia e infertilidade. Tratamento: bromocriptina

HORMÔNIOS DO LOBO POSTERIOR DA HIPÓFISE

ADH e ocitocina são neuropeptídios sintetizados nos corpos celulares de neurônios


hipotalâmicos e secretados pelas terminações nervosas na hipófise posterior.

Síntese e secreção de ADH e ocitocina:

- ADH: corpos celulares nos núcleos supra-ópticos do hipotálamo. Pró-hormônios (pró-


pressofisina) são acondicionados em grânulos secretores com a neurofisina-2 (proteínas
carreadoras). Após clivagens proteolíticas, pró-pressofisina é convertida em ADH. Quando um
potencial de ação é transmitido do corpo celular para o axônio e daí para as terminações
nervosas na hipófise posterior, que são despolarizadas. O Ca2+ entra, provocando exocitose
dos grânulos secretores.

- Ocitocina: corpos celulares nos núcleos paraventriculares. Pró-hormônios são as pró-oxifisina


e os grânulos contém neurofisina-1.

Hormônio Antidiurético

Regulação da osmolaridade dos líquidos corporais. Atua nas células principais da porção
terminal do túbulo distal e ductos coletores, aumentando a reabsorção de água.

Alteração na osmolaridade do soro é percebida pelos osmorreceptores do hipotálamo


anterior, estimulando ou inibindo a secreção de ADH.
A hipovolemia provoca uma queda na PA, que é percebida pelos barorreceptores no átrio
esquerdo, na artéria carótida e no arco aórtico. Essa informação é transmitida pelo nervo vago
ao hipotálamo, estimulando a secreção de ADH.

Dor, náusea, hipoglicemia e algumas drogas (nicotina, opiáceos e agentes antineoplásicos)


estimulam a secreção de ADH, enquanto etanol, agonistas α-adrenérgicos e o PNA inibem.

O ADH também provoca a contração do músculo liso vascular, constrição das arteríolas e
aumento da resistência periférica total através do receptor V1, que é acoplado à fosfolipase C
por uma proteína Gq e tem como 2º mensageiro o IP3/Ca2+.

Diabetes insípido central (ou neurogênico): falha na liberação de ADH pela hipófise posterior,
provocando grande volume de urina diluída e liquídos corpóreos concentrados. Tratado com
análogo do ADH, o dDAVP (desmopressina).

Diabetes insípido nefrogênico: células principais do ducto coletor não respondem ao ADH
devido a um defeito no receptor V2, na proteína Gs ou na adenilato-ciclase. Níveis elevados
por conta da estimulação da osmolaridade do soro aumentada. Tratado com diuréticos
tiazídicos, que inibem a reabsorção de Na+ na porção inicial do túbulo distal, diminuem a FG e
provocam contração secundária do LEC (por conta da maior secreção de Na+), o que aumenta
a reabsorção proximal de solutos e de água.

Síndrome do ADH inapropriado: ADH secretado em excesso por um local autônomo (ex:
carcinoma de células “em grão de aveia” do pulmão), provocando excesso de reabsorção de
água e diluição dos líquidos corporais. A urina é inapropriadamente concentrada. É tratada
com um antagonista do ADH, como a demeclociclina ou com restrição de água.

Ocitocina

Secreção de ocitocina estimulada pela amamentação; visão, som ou olfato da criança; e a


dilatação do colo uterino. Durante a amamentação, receptores sensoriais no mamilo
transmitem impulsos à medula espinhal por meio de neurônios aferentes. Essa informação
sobe no feixe espino-talâmico para o tronco encefálico e, finalmente, para os núcleos
paraventriculares do hipotálamo, estimulando a liberação de ocitocina pelas terminações
nervosas na hipófise posterior.

Ocitocina provoca contração uterina, sendo importante na indução do trabalho do parto e na


redução do sangramento pós-parto.

HORMÔNIOS TIREOIDIANOS

Hormônios T3 (mais ativo) e T4 (maior secreção). Nos tecidos-alvo há conversão de T4 em T3


pela 5’-iodase, que remove um átomo de iodo.

São sintetizados pelas células epiteliais foliculares da tireóide. Na luz do folículo há os colóides,
que consistem em hormônios tireoidianos recém sintetizados unidos à tireoglobulina.

Etapas da síntese dos hormônios:


1) Síntese de tireoglobulina (com tirosina) e eliminação para a luz folicular
2) Bomba de I-

Níveis baixos de I- estimulam a bomba, que aumenta sua atividade para compensar a
deficiência. Altos níveis de I- inibem a bomba (efeito de Wolff-Chaikoff).

3) Oxidação de I- para I2

Peroxidase catalisa essa oxidação. Inibida pelo propiltiouracil (PTU), que bloqueia a síntese dos
hormônios tireoidianos. Tratamento eficaz para hipertireoidismo.

4) Organificação do do I2 em MIT e DIT

Reação também catalisada pela peroxidase. Forma monoiodotirosina (MIT) e diiodotirosina


(DIT).

5) Reação de acoplamento do MIT e do DIT em T3 e T4

Duas moléculas de DIT se combinam para formar T4 (mais rápido), enquanto que uma
molécula de DIT e uma de MIT se combinam para formar T3.

6) Endocitose da tireoglobulina (com T3, T4 e restos de MIT e DIT)


7) Hidrólise de T4 e T3; T4 e T3 entram na circulação

Proteases lisossomais hidrolisam as ligações peptídicas liberando T3, T4, DIT e MIT.

8) Desiodação dos MIT e DIT residuais; Reciclagem do I- e da tirosina pela desiodase

A maior parte do T3 e T4 circula ligada à globulina ligante de tiroxina (TBG). Pequenas


quantidades circulam ligadas à pré-albumina ligante de T4 e à albumina. Quantidade ainda
menor circula na forma livre (fisiologicamente ativa).

Obs: O estrogênio na gravidez inibe a degradação hepática da TBG, diminuindo os níveis de


hormônio livre o que, por feedback negativo, aumenta os níveis totais de T3 e T4.

Regulação da secreção dos hormônios tireoidianos

TRH: secretado pelos núcleos paraventriculares do hipotálamo. Atua nas células tireotróficas
da hipófise anterior, estimulando a secreção de TSH. Também estimula a secreção de
prolactina.

TSH: regula o crescimento da tireóide (efeito trófico) e a secreção dos hormônios tireoidianos,
que inibem a secreção de TSH por dessensibilizarem os receptores de TRH nas células
tireotróficas. TSH se liga a um receptor de membrana, que é acoplado à adenilato ciclase por
uma proteína Gs, que gera AMPc (2º mensageiro do TSH).

Obs: Doença de Graves é uma forma comum de hipertireoidismo causada por elevados níveis
circulantes de imunoglobulinas estimulantes da tireoide, que são anticorpos contra o receptor
de TSH. Elas provocam aumento dos níveis circulantes dos hormônios tireoidianos, que
diminuem os níveis de TSH por feedback negativo.

Ações dos hormônios tireoidianos

Promovem a formação do osso (sinergicamente com o GH e as somatomedinas), aumentam a


taxa metabólica basal (BMR), a produção de calor e o consumo de oxigênio, além de alterarem
os sistemas cardiovascular e respiratório, aumentando o fluxo sanguíneo e a entrega de
oxigênio aos tecidos. Aumentam a absorção de glicose pelo TGI e potencializam os efeitos de
outros hormônios sobre a gliconeogênese, a lipólise e a proteólise. Têm efeito geral catabólico.
Induzem a síntese de miosina cardíaca e da Ca2+ ATPase no retículo sarcoplasmático. No
período perinatal, são essenciais para a maturação normal do SNC.

Obs: Gravidez, jejum, estresse, falência hepática/renal e bloqueadores β-adrenérgicos


diminuem a conversão de T4 em T3. A obesidade aumenta a conversão de T4 em T3.

Proteínas sintetizadas sob comando dos hormônios tireoidianos: Na+-K+ATPase (aumenta


consumo de oxigênio, a BMR e produção de calor), proteínas de transporte, receptores β1-
adrenérgicos (aumentam a frequência e a contratilidade cardíaca), enzimas lisossomais e
proteolíticas, proteínas estruturais.

Hipertireoidismo

Forma mais comum: doenças de Graves. Outras causas são neoplasias de tireoide, excessiva
produção de TRH ou TSH e administração de quantidades excessivas de hormônios
tireoidianos exógenos.

Sintomas: perda de peso; ingesta alimentar aumentada por conta do aumento da taxa
metabólica; excessiva produção de calor e sudorese secundária, pelo consumo aumentado de
oxigênio; alta frequência cardíaca; respiração ofegante ao esforço; tremor; nervosismo e
fraqueza devido aos efeitos sobre o SNC dos hormônios tireoidianos. Provoca bócio.

Tratamento: drogas como PTU, remoção cirúrgica da tireoide ou ablação com iodo-132.

Hipotireoidismo

Causa mais comum: destruição auto-imune da tireoide (tireoidite de Hashimoto), na qual


anticorpos podem francamente destruir a glândula ou bloquear a síntese dos hormônios
tireoidianos. Outras causas são a remoção cirúrgica no tratamento do hipertireoidismo,
insuficiência hipotalâmica ou hipofisária e deficiência de I-.

Sintomas: taxa metabólica diminuída e ganho de peso sem ingestão alimentar aumentada;
diminuição da produção de calor e intolerância ao frio; frequência cardíaca diminuída;
lentificação dos movimentos, fala arrastada, atividade mental diminuída, letargia e sonolência;
edema periorbital; constipação; perda de cabelo e disfunção menstrual. Em alguns casos
ocorre mixedema (filtração aumentada de líquido para fora dos capilares e edema devido ao
acumulo de mucopolissacarídeos osmoticamente ativos no líquido intersticial). No período
perinatal, o hipotireoidismo não tratado prova cretinismo.
Tratamento: reposição hormonal (geralmente T4, que se converte em T3 nos tecidos-alvo).

CÓRTEX E MEDULA ADRENAL

Medula adrenal: mais interna, ocupa aproximadamente 20% do tecido. Tem origem
neuroectodérmica e secreta as catecolaminas epinefrina e norepinefrina.

Córtex adrenal: Origem mesodérmica, com 3 camadas distintas (zona reticular, zona
fascicular e zona glomerular). A reticular, mais interna, secreta androgênios adrenais
(desidroepiandrosterona DHEA e androstenediona). A fascicular, intermediária, secreta
glicocorticoides (cortisol). A glomerular, mais externa, secreta mineralocorticoides
(aldosterona).

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