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MANUAL DE ENDOCRINOLOGIA
(Segunda Edição – Prova Nacional de Acesso 2021)
ISBN
978-84-18278-54-9
DEPÓSITO LEGAL
M-26691-MMXIX
IMPRESSÃO
Impressão concluída em setembro de 2020
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para todos os países.
AUTORES PRINCIPAIS
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO......................................................................................................... 11
[CI] 1.1. Tipos de hormonas............................................................................................. 11
1.2. Fisiologia hormonal............................................................................................ 11
CAPÍTULO 6. HIPOGLICEMIA....................................................................................................... 64
[CC]
CAPÍTULO 7. MD, D, T, GD DOENÇAS DAS GLÂNDULAS PARATIROIDEAS E HOMEOSTASE DO CÁLCIO.......... 65
[CO]B 7.1. Metabolismo fosfocálcico................................................................................... 65
7.2. Hipercalcemia..................................................................................................... 65
7.3. Hiperparatiroidismo primário.............................................................................. 66
7.4. Hipocalcemia...................................................................................................... 69
7.5. Pseudo-hipoparatiroidismo................................................................................. 69
7
CAPÍTULO 11. SÍNDROME METABÓLICA....................................................................................... 82
[CC]
BIBLIOGRAFIA...................................................................................................................................................................... 96
[CI] Capítulo introdutório. [CO] Capítulo obrigatório (importância A/B/C segundo a matriz de conteúdos do PNA). [CC] Capítulo complementar
MD: Mecanismo Doença D: Diagnóstico P: Prevenção T: Terapêutica GD: Gestão do Doente
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ORIENTAÇÕES PNA
A Endocrinologia é uma especialidade de importância alta na PNA relativamente ao número de perguntas a que se refere. Não
é uma especialidade que exija um estudo intensivo, pois não é muito complexa. Assim sendo, é uma área a investir devido à sua
rentabilidade. O tema: Os distúrbios da glândula tiroideia foi o tema mais perguntado, seguido de Doenças das glândulas
paratiroideias e homeostase do cálcio na PNA 2019 na Endocrinologia.
Este manual engloba não apenas a patologia médica e benigna da endocrinologia, mas também a área da neoplasia e cirúrgica,
tornando-se num bom investimento.
0,66% 12,66%
OF GT
0,66% 10,00%
OC PQ
DM IF 9,33%
1,33%
2,66% NF GC 8,66%
3,33% UR CD 7,33%
OT ED 7,33%
3,33%
OR HM
4,00% 6,00%
RM NR
4,66% 6,00%
PN PD
6,00% 6,00%
Embora a diabetes seja conhecida desde 1500 a.C., foi somente em 1921 que se
fizeram progressos significativos no conhecimento e tratamento da doença. Ante-
riormente, sabia-se que a laqueação do ducto pancreático em cães levava à dege-
neração das células secretoras de tripsina, enquanto que as ilhotas de Langerhans
permaneciam intactas. No verão de 1921, Banting e Best obtiveram uma amostra
do pâncreas de um cão antes da laqueação dos ductos pancreáticos. De seguida,
administraram parte desse pâncreas com as ilhotas de Langerhans intactas em cães
com diabetes. Foi com grande surpresa que constataram que isso reduzia e inclusi-
vamente fazia desaparecer a glicosúria em cães com diabetes. Tinham descoberto
a insulina proveniente das ilhotas de Langerhans. Graças a estas descobertas, Ban-
ting ganhou o Prémio Nobel da Medicina em 1922.
Capítulo 1
Introdução CI
1.1. Tipos de hormonas Tipos de recetores:
11
Capítulo 2
CO
Distúrbios da hipófise e do hipotálamo C
MD, D, T, GD
Hipófise
(IPF)
Glândula periférica
Figura 1. Hipófise, posição anatómica Figura 2. Regulação do eixo hipotálamo-hipófise- glândulas periféricas.
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Capítulo 2 · Distúrbios da hipófise e do hipotálamo
TSH ou tirotropina
Prolactina (PRL)
A sua estrutura é similar à FSH, LH e gonadotrofina coriónica
Em condições normais, é a única hormona em que predomina (hCG), com as quais tem em comum a subunidade α, sendo a
a inibição (devido à dopamina produzida ao nível hipotalâmico), subunidade ß a que a caracteriza. É estimulada pela TRH e ini-
em detrimento da estimulação (produzida pela TRH). Por este bida pela concentração de T3 e T4, através de feedback negativo.
motivo, no caso de interrupção hipotálamo-hipofisária, como Além disso, a sua libertação é reduzida por: somatostatina,
na secção do pedúnculo hipofisário após traumatismo craniano dopamina e glucocorticoides.
moderado-grave, a secreção de todas as hormonas hipofisárias
diminui, exceto a prolactina, que aumenta a partir do momento –– Ação.
em que cessa a sua inibição hipotalâmica. Estimula a síntese de T4 e T3.
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Manual APNA · Endocrinologia
Testes de estimulação
–– Para estimular a GH.
Hormonas da neuro-hipófise
• Hipoglicemia induzida por insulina (gold standard). A neuro-hipófise libera duas hormonas: a oxitocina e a ADH ou
Défice completo se GH for <3 μg /l, défice parcial se GH vasopressina. Estas últimas são sintetizadas nos núcleos para-
estiver entre 3 e 10 μg /l, normal se GH for> 10 μg / l. ventriculares e supra-óticos do hipotálamo e daqui são transpor-
• Determinação sérica de GH durante o sono ou durante a tadas através dos axónios (dos nervos) até à hipófise posterior,
atividade física (condições de estimulação). onde são armazenadas nas terminações nervosas em forma de
• Outros. grânulos.
Teste de estimulação com clonidina, teste de estimulação
Ambas são nonapeptídeas e diferem somente pelos AA nas
com glucagon-propranolol, teste de estimulação com
posições 3 e 8.
arginina ...
–– Para estimular a ACTH.
Oxitocina
• Hipoglicemia induzida por insulina (gold standard).
A hipoglicemia é o principal estímulo para a secreção de É sintetizada no núcleo paraventricular do hipotálamo.
ACTH (ainda mais do que o hipocortisolismo). Logo, ava- –– Ação.
lia-se a estimulação da hipoglicemia na secreção de • Secreção láctea por ação das células mioepiteliais.
ACTH e cortisol. Um cortisol sérico> 550nmol/L define • Contração uterina.
uma resposta adequada ao teste. Até à data, ainda não
existem quaisquer limites universalmente reconhecidos Estímulos: relação sexual e sucção do mamilo.
para a ACTH: geralmente, um pico superior a 140pg/mL
garante uma resposta adequada. ADH
• Teste de estimulação com CRH.
• Teste de estimulação com metirapona (inibidor da 11-ß- É sintetizada no núcleo supra-óptico do hipotálamo.
hidroxilase). –– Ação.
Se o cortisol diminui, a ACTH deve aumentar. • Aumenta a reabsorção da água livre a nível renal agindo
• Teste de estimulação com desmopressina: as células corti- nos recetores V2 que se encontram no túbulo contorcido
cotróficas expressam recetores para a desmopressina. Nos distal e nos ductos coletores, mantendo, deste modo, a
adenomas secretores de ACTH a resposta aumenta apenas osmolaridade plasmática.
se existir expressão do receptor (cerca de 50% dos casos) • Em doses maiores (do que as fisiológicas) atua nos receto-
–– Para estimular a FSH e LH. res V1, causando vasoconstrição.
• Teste de estimulação com GnRH (teste de Suprefact – ace- É estimulada por:
tato de Buserelin). –– Aumento da osmolaridade plasmática (principal estímulo,
Aumento da FSH e LH cerca de três vezes o valor basal, com devido à ativação dos osmorrecetores hipotalâmicos), dimi-
um aumento geralmente maior de LH em relação a FSH. Os nuição da volemia ou diminuição da pressão arterial (median-
cut-off variam segundo as diferentes condições clínicas e a te a ativação dos barorrecetores nos grandes vasos).
idade do paciente.
–– Fármacos
–– Para estimular a TSH. Anticonvulsivantes (carbamazepina), cloropropamida, clofi-
• Teste de estimulação com TRH. brato, ciclofosfamida, vincristina, morfina.
Aumento da TSH de 5 a 30 mU/L e da PRL (geralmente em
pelo menos o dobro) (Barbieri et al. Prolactin response to É inibida por:
thyrotropin-releasing hormone (TRH) inpatients with hypo- –– Diminuição da osmolaridade plasmática (principal fator),
thalamic-pituitary disease, F&S 1985). aumento na volemia ou aumento da pressão arterial.
–– Álcool, fenitoína, clonidina, clorpromazina.
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Capítulo 2 · Distúrbios da hipófise e do hipotálamo
LH
TSH 2.3. Patologias da hipófise anterior
PRL ADH
GH Oxtocina Hipopituitarismo
FSH
ACTH É definido como o défice de uma ou mais hormonas hipofisá-
rias.
Figura 4. Adenohipófise e neuro-hipófise.
Etiologia
–– Lesões expansivas (causa mais frequente).
• Nas crianças:
2.2. Patologias do hipotálamo
Craniofaringioma (supra-selar).
• Nos adultos:
Etiologia geral das patologias hipotalâmicas Adenoma hipofisário (geralmente intra-selar).
As patologias mais frequentes são os tumores hipotalâmicos. • Metástases (qualquer tumor que tenha tropismo para o
pedúnculo hipofisário), mais frequente nos tumores da
mama e pulmão e nos linfomas.
–– Quistos da bolsa de Rathke.
–– Hemorragia Intraventricular –– Alterações vasculares.
BEBÉS –– Meningite • Síndrome de Sheehan (necrose hipofisária pós-parto).
–– Traumatismos • Necrose isquémica hipofisária (na diabetes).
–– Tumores (glioma ótico, histiocitose X) • Vasculite.
–– Hidrocefalia • Aneurisma da artéria carótida interna (parte intracraniana).
DE UM MÊS –– Meningite • Trombose do seio cavernoso.
AOS 2 ANOS –– Patologias congénitas (síndrome de Laurence- –– Infeções
Moon-Bield e Prader-Willi) Meningite, encefalite, abscessos, etc.
–– Granulomas.
–– Tumores (craniofaringioma, glioma)
DOS 2 AOS Tuberculose, histiocitose, sarcoidose.
–– Meningite
10 ANOS –– Encefalite (viral e desmielinizante) –– Iatrogenia.
• Cirurgia do hipotálamo-hipófise.
–– Tumores (craniofaringioma) • Radioterapia da hipófise ou ao nível da nasofaringe.
–– Traumatismos (fraturas na base do crânio) –– Síndrome da sela vazia.
DOS 10 AOS –– Hemorragia subaracnoidea
–– Aneurisma vascular –– Outras causas.
25 ANOS
–– Doenças inflamatórias e infiltrativas • Malformações ou traumatismos craniofaciais.
(tuberculose, histiocitose) • Hemocromatose por acumulação de ferro nas células gona-
dotróficas (provoca hipogonadismo isolado).
–– Doença de Wernicke • Anorexia nervosa com hipopituitarismo “funcional”.
> DE 25 –– Tumores • Hipofisite autoimune ou linfocítica.
Mais frequente nas mulheres após o parto, está associada
a outras doenças autoimunes. A RM mostra uma imagem
A síndrome de Lawrence-Moon-Bield é caracterizada pela presença
com aumento difuso do volume hipofisário e dilatação do
de atraso mental, obesidade e degeneração retínica na infância (por
pedúnculo hipofisário. Por conseguinte, pode começar por
volta dos 30 anos geralmente ficam cegos). A Síndrome de Prader-
uma diabetes insípida de origem central.
Willi apresenta hipogonadismo
• Síndrome de Kallman-Morsier.
hipogonadotrófico, obesidade, hipotonia muscular e atraso mental.
Disfunção que afeta principalmente os homens com hipo-
gonadismo hipogonadotrófico e que é provocada pelo défi-
Quadro 1. Etiologia das patologias hipotalâmicas. ce isolado de gonadotrofinas devido a um defeito na sua
síntese ou na libertação de GHRH, com anosmia ou hipos-
mia, criptorquidia e malformações renais, sem ginecomas-
tia.
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Manual APNA · Endocrinologia
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Capítulo 2 · Distúrbios da hipófise e do hipotálamo
Levotiroxina
Determinação basal fT4L
TSH/tiroxina Teste de TRH Sempre depois de se ter
e TSH
iniciado os corticosteroides
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Manual APNA · Endocrinologia
Etiologia
–– Idiopática ou primária (o caso mais frequente, em que não
existe evidência de tumor pré-existente).
É mais frequente em mulheres obesas com hipertensão arterial.
–– Secundária a patologia hipofisária (cirurgia ou radioterapia
B hipofisárias, síndrome de Sheehan).
Sinais clínicos
–– É assintomática na maior parte dos casos.
–– Cefaleias (sintoma mais frequente), alterações visuais devido
à compressão do quiasma, rinoliquorreia (pouco frequente).
–– Défice de qualquer das hormonas hipofisárias. Por vezes, pode
ocorrer hiperprolactinemia.
Diagnóstico
–– Estudos hormonais hipofisários.
–– RMN hipofisária - diagnóstico definitivo.
Tratamento
–– Caso seja assintomática:
Não requer tratamento.
–– Se houver alterações visuais ou rinorreia de LCR: cirurgia.
–– Em caso de défice hormonal:
Corrigir o défice
Acromegalia
Etiologia
–– Aumento de GH hipofisária (90%), devido a:
Figura 5. A. Radiografia ao crânio de um doente com adenoma hipofisário (de
• Adenoma hipofisário (o mais frequente).
notar o alargamento da sela túrcica). B. Imagem de RM de adenoma hipofisário.
São geralmente macroadenomas. Os níveis de GH estão
relacionados com o tamanho do tumor. Podem fazer parte
–– Cirurgia transesfenoidal, à exceção do prolactinoma (trata-
de uma síndrome MEN-1.
mento com agonistas dopaminérgicos).
• Rara
Efeitos colaterais: hipopituitarismo, diabetes insípida, rinorreia
Hiperplasia de células somatotróficas, carcinoma hipofisário.
de LCR, perda de visão, paralisia do III nervo craniano, reinci-
dência. Todos estes efeitos colaterais e estas complicações –– Outras causas (muito pouco frequentes).
são mais frequentes no tratamento dos macroadenomas. Aumento da GH extra-hipofisária, aumento de GH-RH de ori-
gem hipotalâmica ou extra-hipotalâmica.
–– Radioterapia.
Em caso de reincidência, se o paciente não puder ser operado Fisiopatologia
e como coadjuvante da cirurgia e do tratamento médico. O
Persiste o ritmo pulsátil de GH, mesmo se com um padrão
objetivo da radioterapia é impedir o crescimento do resíduo
anómalo (perde-se o pico do sono). Também pode segregar PRL.
tumoral e controlar a secreção hormonal. No entanto, tem
uma latência de ação de anos desde a sua administração e é
Manifestações clínicas
contraindicada em lesões que envolvam o quiasma ótico.
Atualmente, a técnica mais utilizada é a radioterapia estereo- –– Crescimento das extremidades (mãos, pés, prognatismo com
táxica fracionada (REF), que permite um menor comprometi- má oclusão dental), aumento dos tecidos moles, macroglos-
mento do tecido saudável adjacente. sia, bócio, cardiomegalia e visceromegalia).
Outra técnica possível é a radiocirurgia, que consiste em irra- –– HTA, sudorese, cefaleia, síndrome da apneia do sono (SAOS),
diar a lesão com uma dose elevada única (pode utilizar-se artropatia, neuropatia periférica (síndrome do túnel cárpico).
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Capítulo 2 · Distúrbios da hipófise e do hipotálamo
HTA e aumento da
mortalidade cardiovascular
–– RM Hipotálamo-hipofisária com gadolínio
–– Campimetria ocular
Diabetes mellitus
Tratamento
Túnel do carpo
A primeira opção de tratamento é a cirurgia, estando o trata-
Risco de tumor do cólon mento farmacológico colocado em segunda linha nos recentes
algoritmos terapêuticos, com a radioterapia como última opção
Impotência terapêutica.
Galactorreia
–– Cirúrgico (de eleição).
Cirurgia transesfenoidal. Efeitos colaterais: reincidência e
hipopituitarismo ( são mais frequentes num macroadenoma).
–– Tratamento médico.
• Análogos da somatostatina.
Indicados na fase pré-cirúrgica, nas reincidências após a
cirurgia ou radioterapia, em pacientes não operáveis ou
naqueles que recusam a cirurgia: octreotido ou lanreotido,
pasireotido (análogo de descoberta recente, com afinidade
para o recetor da somatostatina 5 vezes superior em rela-
ção aos outros análogos).
Os efeitos colaterais mais frequentes destes fármacos são
os distúrbios gastrointestinais, com um maior risco de
desenvolver a longo prazo colelitíase e diabetes mellitus.
• Pegvisomanto (GH modificada que age como um antago-
Figura 6. Manifestações clínicas da acromegalia. nista do recetor).
Os níveis de GH não diminuem ao contrário dos de IGF-1.
• Agonistas dopaminérgicos.
Exames laboratoriais Como coadjuvantes dos análogos de somatostatina (não
muito eficazes). São usados porque na acromegalia a bro-
–– Hiperfosfatemia e hipercalciúria sem hipercalcemia. mocriptina inibe a produção de GH.
–– Resistência à insulina com hiperglicemia e hiperinsulinismo. –– Radioterapia.
Nos casos de reincidência, persistência da doença após a
Diagnóstico
cirurgia transesfenoidal ou recusa da cirurgia por parte do
A concentração basal de GH não é válida para o diagnóstico, paciente. Contraindicada na presença de distúrbios visuais
dado que tem uma secreção pulsátil. (causa edema cerebral e lesões da via ótica irreversíveis).
–– IGF-1 elevada para o sexo e idade do paciente (teste de rastreio). –– Critérios de tratamento.
–– Ausência de supressão de GH 2 horas após teste de carga de IGF-1 dentro dos limites normais para idade e sexo do pacien-
glicose (75 g de glicose). te e GH após PTOG <1 ng/ml através de RIA. O objetivo do
–– É o exame mais específico para o diagnóstico de acromegalia. tratamento é aumentar a expectativa de vida e melhorar a
Na acromegalia duas horas antes do início do PTOG: GH> 1 qualidade de vida.
ng / ml RIA, com IRMA> 0,3 ng / ml.
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Manual APNA · Endocrinologia
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ma 2 · Hipotálamo-hipófisis
Ginecomastia
estrés y
–– Ginecomastia fisiológica.
a de fár- Bebés, adolescentes, idosos.
–– Ginecomastia patológica.
, lesiones • Défice de produção ou da ação da testosterona.
Hipogonadismo (síndrome de Klinefelter...), hiperprolacti-
pofisaria). nemia, insuficiência renal.
• Aumento da produção de estrogénio.
Tumores testiculares secretores de estrogénio, tumores
secretores de hCG (pulmões, testículos), hepatopatia, des-
nutrição, hipertiroidismo, patologia adrenal.
te (MIR). • Fármacos.
minan en
Estrogénio, antiandrogénicos, cimetidina, omeprazol, inibi-
e igual de BB
nden a ser dores da ECA, antagonistas do cálcio, opióides, cetocona-
tico debi- zol, espironolactona, metronidazol.
identes. • Idiopática.
Lembre-se…
Uma ginecomastia repentina num homem sugere
un tumor testicular secretor:
β-hCG (o mais frequente) = Seminoma
e la secre-
d, oligoa- Estrogénio (segregado pelas células de Sertoli ou Leydig)
rosis.
alea, alte-
ismo.
Outros adenomas hipofisários
urante el
ste creci- Adenoma secretor de ACTH
É a doença de Cushing (ver capítulo correspondente). Os níveis
Figura 8. Prolactinoma
Figura 8. Prolactinomagigante. A.RM
gigante. A. Ressonância Magnética
sagital potenciada en T1. Sagital aumentada
B. RM coronal,
em T1. B. RM coronal,
potenciada en T2, queaumentada em T2, de
muestra expansión mostrando expansão
la silla turca da sela turca e
y desplazamiento
de ACTH estão inadequadamente normais ou ligeiramente
isuales e del nervio óptico.
deslocamento do nervo óptico. aumentados.
disminu-
Tradicionalmente tem sido utlizada a bromocriptina. Novos Adenoma secretor de TSH
fármacos,
Tratamiento como a cabergolina ou a quinagolida, têm
Valores elevados ou inadequadamente normais de TSH associa-
demonstrado
• Indicaciones uma eficácia semelhante
de tratamiento com10,
(MIR 16, 86; MIR menos
73; MIR)efeitos
entes en dos a níveis de T4 elevados. Deve efetuar-se o diagnóstico dife-
colaterais e são uma alternativa em pacientes que não res-
- Macroprolactinomas: siempre deben tratarse. rencial com resistência às hormonas tiroideias através de RM
pondem ao tratamento com bromocriptina. Os efeitos cola-
hipotálamo-hipofisária (geralmente são macroadenomas visíveis
terais mais frequentes con
- Microprolactinomas: sãosíntomas
náuseas, vómitos
molestos, e hipotensão
o alto riesgo
de osteoporosis, o mujeres na RM), quociente da subunidade α/TSH (> 1 no adenoma por
ortostática. A cabergolina emasintomáticas con deseo
doses elevadas, comoges- aquelas
tacional. excessiva libertação da subunidade α) e teste de TRH (não pro-
ones ade- utilizadas na Sidoença
no se trata, se realizará un
de Parkinson, control
está periódico
associada ao dedesen-
nemia. los niveles de PRL. voca o aumento de TSH no adenoma mas na resistência). Clini-
volvimento de valvulopatias (aórtica e mitral). Deve realizar-se
• Tipo de tratamiento camente manifesta-se com hipertiroidismo e bócio difuso asso-
a no fun- um ecocardiograma antes do início do tratamento e um con-
ciados a sintomas locais causados pelo tamanho do tumor.
trole periódico durante
- Tratamiento médicoo mesmo.
con agonistas dopaminérgicos:
es eltransesfenoidal.
tratamiento de elección tanto en micro como en Adenoma secretor de gonadotrofinas
>200 es –– Cirurgia
e correla- macroprolactinomas (MIR). Reducen los niveles de PRL y
Indicada em caso de insucesso ou intolerância ao tratamento Segregam principalmente FSH e a subunidade α, dado que a
actinoma. el tamaño tumoral (en algunos casos incluso desaparece). hipersecreção de LH isolada é rara. Geralmente estes macroade-
médico e na presença
Clásicamente se ha de redução
utilizado do campo visual,
la bromocriptina. que
Tanto la não
melhora com o tratamento médico. A cirurgia apresenta uma nomas são diagnosticados a partir de sintomas compressivos.
baixa taxa de cura, por isso é necessário um tratamento sub- Os sintomas não compressivos mais frequentes são: nos
23 sequente com agonistas dopaminérgicos.
homens, macro-orquidia e alterações menstruais nas mulheres.
–– Radioterapia.
Está reservada para os prolactinomas que apresentam reinci-
2.4. Disturbios da neuro-hipófise CO
dência após a cirurgia e não respondem ao tratamento médico. C
MD, D
Prolactinoma e gravidez A ADH ou vasopressina regula a concentração de urina a nível
–– Microprolactinoma. renal, atuando sobre os recetores localizados no túbulo contor-
Suspender o tratamento com agonistas dopaminérgicos e moni- cido distal e no ducto coletor, mantendo assim a osmolaridade
torizar os níveis de PRL; se PRL>400 μg/l, retomar o tratamento plasmática.
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Manual APNA · Endocrinologia
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Capítulo 2 · Distúrbios da hipófise e do hipotálamo
23
Manual APNA · Endocrinologia
Diagnóstico diferencial
Lembre-se…
O diagnóstico diferencial deve ser realizado com outras causas
de hiponatremia (estuda-se em Nefrologia). As ações endócrinas do lítio
Estimula a PTH – hipercalcemia
Tratamento Inibe a ação da ADH no túbulo de conexão → DIN
Inibe a libertação das hormonas tiroideias →Hipotiroidismo primário.
O tratamento de eleição será determinado, principalmente,
pela doença de base, pelos sintomas do paciente e pela rapidez
com que surge. Dado que na SIADH existe um excesso de água Importante: nunca se deve administrar tolvaptan associado ou
livre total e um défice relativo de sódio, as possibilidades tera- no mesmo dia do que a solução fisiológica hipertónica. No pri-
pêuticas incluem: meiro dia da administração de tolvaptan não deve associar- se
1. Tratamento da doença de base ou suspensão do fár- a restrição hídrica nem a furosemida.
maco desencadeante, se possível.
2. Restrição da ingestão de líquidos (500-1.000ml/dia). Aporte
de sódio por via oral. Tratamento da SIADH
3. Diuréticos:
• Diuréticos da ansa (furosemida).
Eliminam proporcionalmente mais água do que sódio e Sintomas moderados/graves Sintomas leves/moderados
ajudam a corrigir a hiponatremia. Manifestação aguda <48 h Manifestação não-aguda >48 h
• Vaptanos (geralmente Na+ <120 mEq/l) (geralmente Na+ >120 mEq/L)
São antagonistas dos receptores V2 para a vasopressina
(conivaptan EV, tolvaptan oral). Existem três recetores Solução salina Calcular
hipertónica a 3% (Na+ urina + K+ urina) / Na plasma
para a vasopressina: V1a, que produz vasoconstrição,
V1b, que induz a libertação de ACTH e V2 que medeia o
efeito antidiurético a nível renal. Os Vaptanos induzem a <0,5 0,5-1
diurese hipotónica sem envolver a excreção de eletrólitos >1
Restrição hídrica Restrição hídrica Tolvaptan
(são os únicos diuréticos “aquaréticos”), fazendo com a 1.000 mL/dia a 500 mL/dia
que aumente o nível de sódio plasmático. Estes fármacos
são eficazes não só no tratamento da hiponatremia euvo- Figura 9. Algoritmo do tratamento da SIADH. Bibliografia: Algoritmo do trata-
lémica (SIADH), como também na hipervolémica (cirrose mento de consenso na hiponatremia. Documento de consenso da SEN, SEEN e
hepática, insuficiência cardíaca...), ainda que na Europa SEMI.
estejam autorizados apenas para a SIADH. Ainda existe
pouca experiência na sua utilização na prática clínica, mas
são considerados os mais adequados para a gestão da
SIADH. Possíveis limitações para a sua utilização: custo
elevado, sede intensa, subida muito rápida da natremia
quando combinada com a restrição hídrica.
4. “Tóxicos” renais.
Demeclociclina, lítio. Diminuem a resposta renal à ADH
(causam diabetes insípida nefrogénica) e incrementam a eli-
minação de água. No entanto, ambos os fármacos têm
potenciais efeitos colaterais. Geralmente não são utilizados.
5. Fluidoterapia
Está indicada na SIADH aguda e sintomática. Utiliza-se
geralmente a solução fisiológica (0,9%) nas hiponatremias
moderadas e a solução salina hipertónica (3%) nos quadros
graves.
A solução fisiológica pode agravar a hiponatremia na fase
aguda, por isso é aconselhado, atualmente, o uso de solu-
ção salina hipertónica no caso de hiponatremias agudas
graves com sintomas neurológicos importantes, enquanto
que a solução fisiológica deve ser usada nas formas leves ou
crónicas.
A correção do nível de sódio deve ser feita com atenção
para evitar a desmielinização osmótica (ou mielólise pôntica
central) que pode manifestar-se quando se aumenta o Na
+> 6-8 mEq/l em 24 horas.
24
Capítulo 3
CO
Distúrbios da glândula tiroideia A
MD, D
Calcitonina
HPT
IPT É sintetizada nas células C ou parafoliculares da tiroide, de ori-
gem neuroendócrina.
TRH
A secreção de calcitonina é estimulada pela hipercalcemia e em
HPF
IPF teoria causa hipocalcemia. Apesar disso, a calcitonina nos seres
humanos não é clinicamente relevante para a regulação do cál-
TSH cio plasmático. Inibe a reabsorção óssea, sendo na realidade
Tiroides
Tiroide utilizada no tratamento da osteoporose.
A TSH não intervém na sua regulação mas sim o cálcio plasmá-
Prealbumina
TBPA
T4 + TBG T3 tico.
Albúmina
Albumina A hipercalcemia faz com que aumente a calcitonina e a hipocal-
-–Amiodarona
Amiodarona cemia diminui-a.
–- Propiltiouracilo
Propiltiouracil Para identificar algumas formas subclínicas é utilizado o teste de
–- Propranolol
Propanol
–- Dexametasona
Dexametasona estimulação com pentagastrina (ou gluconato de cálcio); alguns
–- Contrastes
Contrastes yodados
Iodados minutos após a administração verifica-se um aumento significa-
tivo de calcitonina nas hipercalcitoninemias neoplásicas.
Figura 1. Regulação hormonal da tiroide
25
Manual APNA · Endocrinologia
}
vio traqueal e calcificações).
T4 T3 TC cervical e do tórax (no bócio mergulhante).
T3 com rT3
fT4L e TSH dentro
do normal ou
rT3 Tratamento
Não existe tratamento padrão. Perante um paciente assintomá-
Figura 3. Síndrome do doente eutiroideu. tico:
1. Observação ao longo do tempo (espere e veja).
Tratamento com levotiroxina em doses supressivas (de
3.3. Bócio simples modo a manter a TSH em limites inferiores ao normal com
fT4L normal). Atualmente, não existe evidência para reco-
Trata-se do aumento da glândula tiroideia não induzido por mendar o uso de levotiroxina em doses supressivas nos
processos inflamatórios ou neoplásicos, com níveis normais de locais com ingestão adequada de iodo.
hormonas tiroideias e TSH. Pode ser multinodular ou difuso.
2. Radioiodo (I131).
–– Bócio endémico. De eleição em pacientes de elevado risco cirúrgico e sinais
Quando afeta mais de 10% da população de um lugar. clínicos de compressão. Efeitos colaterais: tiroidite pós-
Depende geralmente do défice de iodo. radioiodo (pode manifestar-se como um aumento transitó-
–– Bócio esporádico. rio de bócio e exacerbar os sinais clínicos de compressão) e
Mais frequente nas mulheres. hipotiroidismo.
3. Cirurgia
Etiologia
Se o paciente apresentar sintomas de compressão ou quan-
–– Défice de iodo. do se suspeita de uma neoplasia.
Causa mais frequente de bócio endémico.
–– Substâncias bociogénicas
• Alimentos (Brassicaceae ou Cruciferae): Profilaxia
Couves, nabos, couve-lombarda, brócolos, repolho, man-
dioca, milho. Sal e água iodada, em zonas com deficiência de iodo.
• Medicamentos
Lítio (o principal), antitiroideus, ácido para-aminossalicílico,
fenilbutazona, contrastes iodados, perclorato de potássio, 3.4. Hipotiroidismo
tiocianato.
• Administração crónica de iodo. Défice de secreção de hormonas tiroideias, mais frequente nas
Amiodarona, expectorantes, tintura de iodo, iodopovidona. mulheres acima dos 60 anos.
–– Disormonogénese.
Alterações congénitas da síntese das hormonas tiroideias Etiologia
entre as quais está a síndrome de Pendred (bócio simples ou
com hipotiroidismo e surdez neurogénica). Doença devido a –– Hipotiroidismo primário (95%).
um defeito mutacional da pendrina, transportador de iodo Devido a patologia tiroideia primária.
na membrana apical das células da tiroide e no ouvido interno. • Défice endémico de iodo (a causa mais frequente a nível
global).
26
Capítulo 3 · Distúrbios da glândula tiroideia
Lembre-se…
Sinais clínicos
A madarose (perda de pelos das pestanas e sobrancelhas) não
é patognomónica da patologia tiroideia e pode ser vista
Infância noutras doenças como a sífilis, lepra ou dermatite atópica
O hipotiroidismo neonatal (congénito) é difícil de reconhecer (estuda-se em Dermatologia).
clinicamente. Pode manifestar-se de forma inespecífica, com
rejeição de alimentos, choro rouco, sonolência, icterícia persis-
tente, hérnia umbilical, obstipação ou defeitos no encerramen-
Coma mixedematoso
to das fontanelas. Não se verifica baixo peso ao nascimento
porque o crescimento intrauterino não é regulado pelas hormo- Manifesta-se, principalmente, nos pacientes idosos com hipoti-
nas tiroideias. roidismo grave não tratado, na presença de um fator desenca-
deante. Entre estes últimos é particularmente evidente a expo-
Para evitar o atraso do diagnóstico, é realizado globalmente um
sição ao frio, infeções, cirurgia... Pode apresentar elevada
rastreio neonatal de hipotiroidismo congénito, através do
mortalidade se não for reconhecido, por isso é necessário ter
doseamento da TSH, efetuado entre o 3º e o 5 dia com sangue
uma forte suspeita clínica para o seu diagnóstico. Sintomas:
obtido do calcanhar.
hipotermia, hipoventilação e insuficiência respiratória, bradicar-
Se não for diagnosticado e tratado adequadamente, verificam- dia acentuada, hiponatremia, mixedema (infiltração da substân-
-se alterações graves no desenvolvimento físico e mental que cia fundamental da derme e de outros tecidos por parte dos
levam a um quadro clínico denominado cretinismo: atraso glicosaminoglicanos).
mental, baixa estatura com atraso na idade óssea, distensão
abdominal, pele seca e fácies típica com edema periorbital e
macroglossia. Quando o hipotiroidismo não é congénito, mas Diagnóstico
manifesta-se antes dos dois anos, pode também evoluir para
um quadro de cretinismo com atraso mental. –– TSH
Contrariamente, quando se manifesta após os 2 anos, geral- O elemento mais útil para o diagnóstico. Aumentada no hipo-
mente não apresenta atraso mental. Nestes casos, manifesta-se tiroidismo primário (95% dos hipotiroidismos) e diminuída ou
com baixa estatura, atraso na maturação sexual e da puberda- inadequadamente normal no hipotiroidismo secundário e ter-
de, dificuldade na aprendizagem, apatia e letargia. ciário. É, em geral, o primeiro teste a ser realizado quando se
suspeita de hipotiroidismo.
Adultos –– fT4L.
Diminuída, com exceção do hipotiroidismo subclínico (TSH
Trata-se de um quadro clínico insidioso e progressivo. elevada e fT4L normal).
–– Sintomas –– Anticorpos antitiroideus.
Cansaço, diminuição do apetite, intolerância ao frio, tendên- aTPO e / ou TG frequentemente elevados no hipotiroidismo
cia a sonolência, dificuldade de concentração, aumento de autoimune.
peso, obstipação, depressão, demência.
27
Manual APNA · Endocrinologia
28
Capítulo 3 · Distúrbios da glândula tiroideia
TSH <10 mU/L TSH ≥10 mU/L TSH <10 mU/L TSH ≥10 mU/L
Não Sim
Terapia com L-T4 duran- Não tratar Terapia com L-T4, sobretudo em
Repetir TSH te 3 meses e posterior
após 6 meses Repetir TSH casos com sinais claros de
reavaliação de TSH Após 6 meses hipotiroidismo ou de dislipidemia
* Dependendo das circunstâncias, as pessoas com bócio, dislipidemia, diabetes mellitus e mulheres que planeiam uma gravidez num futuro próximo também podem ser
* Dependendo
abrangidas pela terapiadas
comcircunstâncias,
L-T4. pessoas com bócio, dislipidemia, diabetes mellitus e mulheres que planeiam uma gravidez num futuro
próximo também podem ser abrangidas pela terapia com LT4.
Figura 5. Algoritmo de diagnóstico para o tratamento do Hipotiroidismo Subclínico.
29
Manual APNA · Endocrinologia
–– Oftalmopatia.
Os sinais específicos de hipertiroidismo (retração da pálpebra,
olhar fixo) são reflexo do aumento do tónus adrenérgico e
geralmente desaparecem após a correção do hipertiroidismo.
A oftalmopatia de Graves deve-se ao aumento do tama-
nho dos músculos retro-oculares por infiltração por parte das
células inflamatórias e do depósito de glicosaminoglicanos. A
forma típica manifesta-se na doença de Graves-Basedow.
Quando o paciente não tem hipertiroidismo nem anamnese
de patologia tiroideia denomina-se doença oftálmica de
Graves.
É a causa mais frequente de exoftalmia bilateral e unilateral
nos adultos e é mais comum nas mulheres. É bilateral em
80% dos casos. Existe uma predisposição familiar evidente. O
tabagismo é um fator de risco para o seu desenvolvimento e
está relacionado com a gravidade da patologia.
A evolução da oftalmopatia é independente do hipertiroidis-
mo. Pode piorar se for administrado radioiodo quando a
oftalmopatia está ativa. São características a retração da pál-
pebra superior (sinal de Dalrymple), o défice de convergên-
cia (sinal de Moebius), a diminuição da frequência do piscar
(sinal Stelwag) e o desaparecimento da sinergia óculo-palpe-
bral ao olhar para baixo (sinal de Graeffe: olhando para
baixo, a pálpebra abre em vez de fechar). Outros sinais ocu-
lares: o sinal de Joffroy (perda do enrugamento ao olhar para
cima), sinal de Rosenbach (tremor fibrilar das pálpebras fecha-
das). A forma maligna apresenta inflamação orbitária autoi-
mune, exoftalmia grave, oftalmoplegia progressiva com fibro-
se dos músculos do reto inferior e interno, quemose
conjuntival, ceratite de exposição e até neuropatia ótica com-
pressiva com comprometimento grave da visão.
Figura 7. Exoftalmia, um dos sinais físicos da doença de Graves.
Para o diagnóstico utilizam-se os sinais clínicos (exoftalmome-
tria superior a 20 mm ou assimetria entre os dois globos ocu-
lares superior a 3 mm) e exames de imagem (RM, TC ou eco-
Diagnóstico
grafia que demonstrem o aumento da densidade do
conteúdo orbital e engrossamento devido a fibrose dos mús- –– Hormonas
culos extraoculares, sobretudo, dos reto internos e inferiores). TSH não detetável (na forma isolada, é o exame mais eficien-
te para diagnosticar hipertiroidismo), fT3L e fT4L elevadas (por
–– Mixedema pretibial.
vezes T3 toxicose). Os sinais clínicos de hipertiroidismo com
A dermopatia de Graves consiste em placas pruriginosas de
bócio difuso e exoftálmico em pacientes jovens com TSH
pele hiperpigmentada, saliente e espessa, com aparência de
indetetável e fT4L elevada são suficientes para o diagnóstico.
casca de laranja, na região pré-tibial, que são indolores. Deve-
se à ativação imunológica dos fibroblastos. –– Cintigrafia da tiroide com tecnécio 99 (Tc 99). Hipercaptação
homogénea.
–– Acropatia tiroideia.
Hipertrofia do periósteo das falanges distais que lembra o –– Ecografia da tiroide.
hipocratismo digital. Bócio difuso com aumento acentuado de vascularização no
Tema 3 · Tiroides
Eco-Doppler.
–– Análises clínicas
Os anticorpos antitiroideus podem estar elevados. Os TSI são
mais característicos da doença de Graves, mas todos podem
estar elevados. Com os TSI negativos durante o tratamento
existe uma maior probabilidade de remissão a longo prazo.
–– Alteração noutros exames laboratoriais.
Anemia normocítica ou macrocítica, neutropenia com linfoci-
tose, diminuição do colesterol, aumento de GOT, GPT e fos-
fatase alcalina.
Tratamento
–– Tratamento inicial
• Antitiroideus de síntese (ATS).
Metimazol, carbimazol e propiltiouracil (PTU). Inibem a sín-
tese das hormonas tiroideias. O PTU também inibe a con-
versão periférica de T4 em T3. Os efeitos não se fazem notar
durante as primeiras 1-2 semanas de tratamento devido à
Figura
Figura 6.
6. Oftalmopatía
Oftalmopatia tiroidea.
tiroideia.Exoftalmos
Exoftalmiabilateral.
bilateral, mais acentuada no globo existência em circulação da hormona pré-formada.
ocular direito.
Atravessam a placenta e passam para o leite materno, o
PTU em menor quantidade (de eleição em gestantes). O ausência de neoplasias causadas a longo prazo por I131).
metimazol é primeira linha, exceto: no primeiro trimestre É útil associar os betabloqueantes para prevenir sinais de
de gravidez, na crise tirotóxica, doentes com reação ante- possível hipertiroidismo transitório.
rior ao metimazol. • Cirurgia
Efeitos colaterais: agranulocitose (muito grave, obriga a Tiroidectomia subtotal. Em primeiro lugar, normaliza-se a
interromper o tratamento; manifesta-se de forma súbita, função da tiroide com antitiroideus e, de seguida, associa-
por isso a realização de hemogramas seriados não é útil; o -se Lugol durante alguns dias. Indicada nas recidivas dos
quadro começa geralmente por dor de garganta e febre), seguintes casos: bócios grandes, pacientes jovens, oftal-
erupção cutânea, hepatite; no feto: bócio, hipotiroidismo mopatia grave e doença de Graves com nódulo frio coe-
com o metimazol, além de aplasia da cútis (raro). Existem xistente.
duas formas de administração: em doses elevadas durante Complicações: hemorragia com possível obstrução das vias
todo o tratamento e associando passado um mês a hormo- aéreas, lesão do nervo recorrente com paralisia das cordas
na tiroideia, bloqueando assim totalmente a sua síntese, ou vocais (unilateral: voz bitonal, bilateral: dificuldade respira-
então, iniciar o tratamento com altas doses e reduzi-las tória), hipoparatiroidismo (transitório ou permanente),
posteriormente. Por causa da imprevisibilidade das reações hipotiroidismo (geralmente permanente no caso de tiroi-
aos fármacos antitiroideus, não é útil realizar análises seria- dectomia subtotal) e possíveis reincidências em caso de
das ao sangue mas deve-se aconselhar os pacientes e pres- persistência de resíduos tiroideus abundantes após a inter-
crever imediatamente um hemograma ou análise das tran- venção cirúrgica.
saminases, para que caso existam, respetivamente, sinais
de agranulocitose, (febre, odinofagia) ou de hepatite (icte- Noções da anatomia da tiroide (ver a figura 8).
rícia, prurido), se suspenda atempadamente o fármaco. A O tratamento cirúrgico da tiroide não pode prescindir do conhe-
terapia com fármacos antitiroideus de síntese não visa cimento anatómico da glândula. A tiroide está localizada na região
melhorar o quadro oftalmológico. anterior do pescoço, na parte da frente e lateral da laringe e dos
• Betabloqueantes (propranolol). primeiros anéis traqueais. É formada por dois lobos, direito e
Melhoram as manifestações adrenérgicas e reduzem, em esquerdo, piriformes com ápices no topo, reunidos por uma parte
certa medida, a conversão de T4 em T3. Úteis como trata- transversal, denominada istmo. Em alguns casos (30-50%), da
mento coadjuvante até que os antitiroideus ou iodo radioa- margem superior do istmo parte um prolongamento parenquima-
tivo comecem a ter efeito. toso, o lobo piramidal (ou de Morgagni), que sobe para o alto, em
.• Iodo e contrastes iodados. direção à base da língua, ao longo do percurso do ducto tiroglos-
Bloqueiam a libertação de hormonas tiroideias. Os contras- so, do qual representa o remanescente. A forma, as dimensões e
tes também bloqueiam a conversão de T4 a T3. Devem ser o desenvolvimento do lobo piramidal são variáveis, geralmente
usados com antitiroideus. Úteis na tempestade tiroideia e apresenta forma cónica e pode alcançar o osso hioide.
no controlo da tirotoxicose, caso se manifeste após a admi- A vascularização da tireoide depende da artéria tiroideia supe-
nistração de iodo radioativo. Nos pacientes que tenham rior, da artéria tiroideia inferior e às vezes da artéria tiroideia ima.
que ser sujeitos a intervenção cirúrgica utiliza-se Lugol (tipo A artéria tiroideia superior é o primeiro ramo anterior da caróti-
de iodeto) para diminuir a vascularização da glândula. da externa. Em casos raros, pode ter origem na artéria carótida
• Glicocorticoides comum. A artéria tiroideia inferior provém do tronco tireocervi-
Reduzem a conversão de T4 emT3. Úteis durante a crise cal, ramo da subclávia. A artéria tiroideia ima tem origem dire-
tirotóxica. tamente no arco aórtico ou da artéria braquiocefálica e dirige-se
–– Tratamento definitivo. para a borda inferior do istmo.
O tratamento com antitiroideus de síntese mantido durante 12-
18 meses cura cerca de 30% dos casos. Sempre que se verifique
uma recidiva após a suspensão dos fármacos (70% dos casos),
ou no caso de resistência, não tolerância ou falha de conformi-
dade terapêutica, é indicado um tratamento definitivo com iodo
Artéria tiroideia superior
radioativo ou cirurgia. Se a situação geral do paciente não per-
mite tratamento médico prolongado, como no caso de pacien-
tes idosos ou com cardiopatia, o tratamento com o radioiodo é Veias jugulares internas
a melhor opção no início. Nos indivíduos com mais de 40 anos
pode programar-se o tratamento definitivo desde o início da Artéria tiroideia inferior
doença. A normalização dos anticorpos anti-recetores de TSH
pré-anuncia o sucesso terapêutico.
Artérias carótidas comuns
• Iodo radioativo (I131).
Deve-se suspender os antitiroideus entre 4-7 dias antes
Nervo vago direito
(para aumentar a captação da tiroide de I131) e, se possí-
vel, retomar após 4-7 dias, especialmente no caso de
Nervo laríngeo Nervo vago esquerdo
pacientes em idade avançada ou com cardiopatia, com o
objetivo controlar a possível tirotoxicose após o radioiodo. recorrente direito
Nervo laríngeo
Efeitos colaterais: reincidência, hipotiroidismo, tiroidite, recorrente esquerdo
exacerbação da oftalmopatia. Contraindicações: gravidez e
amamentação (deve evitar-se durante 6-12 meses após a Veia cava superior
sua administração), suspeita de malignidade (presença de Artéria subclávia direita
nódulo), grandes dimensões, oftalmopatia grave (em casos
de oftalmopatia leve, o radioiodo pode ser administrado Figura 8. Glândula Tiroideia. Relação com o nervo recorrente que pode lesio-
depois dos corticosteroides), idade inferior a 20 anos (con- nar-se durante a cirurgia. ©Netter medical illustration used with permission of
troverso, na realidade utiliza-se cada vez mais devido à Elsevier. All rights reserved.
31
Manual APNA · Endocrinologia
–– Tratamento da oftalmopatia.
Os casos leves não requerem tratamento específico. As for-
mas graves são tratadas com glicocorticoides sistémicos ou
imunossupressão e pode ser necessário a radioterapia orbital
ou cirurgia descompressiva (orbital, muscular ou palpebral).
Para o tratamento sintomático usam-se lágrimas artificiais,
oclusões e colírio de guanetidina (para retração palpebral).
Outros procedimentos pressupõem o restabelecimento do
estado de eutiroidismo e a cessação tabágica.
–– Tratamento da dermopatia.
Corticosteroides tópicos.
Doença de Graves-Basedow
32
Capítulo 3 · Distúrbios da glândula tiroideia
33
Manual APNA · Endocrinologia
tomas: agitação, febre com temperatura de 41ºC ou superior, Tiroidite aguda supurativa ou piogénica
taquicardia ou arritmias, insuficiência cardíaca, diarreia, icterícia,
Pouco frequente. Geralmente é causada pela infiltração tiroi-
delírio ou coma.
deia por uma infeção ao nível do pescoço.
Tratamento
Sinais clínicos
–– Medidas gerais de suporte. Febre, dor e sinais inflamatórios localizados (tumefação, calor,
–– Doses elevadas de antitiroideus (de eleição PTU pelo seu efei- eritema). A palpação da tiroide é muito dolorosa. Nas análises
to imediato de diminuição da conversão de T4 em T3). clínicas existem sinais de infeção (leucocitose, ↑ VES...) e função
–– Propanolol. tiroideia normal.
Como tratamento sintomático e para a diminuição da conver-
são de T4 em T3. Tratamento
–– Outros fármacos que diminuem a conversão de T4 em T3. Antibióticos e drenagem, se necessário.
Glicocorticoides, iodo ou contraste iodado (após se ter inicia-
do tratamento com antitiroideus). Tiroidite subaguda de De Quervain ou granulomatosa
O ácido acetilsalicílico está contraindicado, uma vez que com-
pete com as hormonas tiroideias para se ligar às proteínas Etiologia
transportadoras.
Origem vírica. A inflamação da tiroide causa rutura dos folículos
da tiroide e a libertação de hormonas tiroideias pré-formadas,
sem aumentar a sua síntese. Mais frequente nas mulheres.
TSH/fT4L BOCIO TG
↓/↑ Sinais clínicos
BÓCIO ENDÉMICO ou normais Sim ↑
É, geralmente, precedida por uma infeção das vias aéreas supe-
TIROIDITE ↓/↑ Sim/Não Normal ou ↑ riores. Causa astenia, mal-estar geral, febre, dor na tiroide irra-
diada para os ouvidos, mandíbula ou occipital. Verificam-se
FACTÍCIA ↓ / ↑ ou ↓ Não ↓ sintomas de hipertiroidismo em metade dos pacientes, devido à
libertação de hormonas em consequência da inflamação, que
MOLA ↓/↑ Sim ↑ progride para eutiroidismo, seguido em 25% dos casos por
hipotiroidismo com cura ulterior. Através da palpação percebe-
STRUMA Struma: ↓ se uma tiroide aumentada e dolorosa.
METÁSTASES DE CA. ↓/↑ Não
MTS: ↑
FOLICULAR Diagnóstico
↑ ou normal –– Laboratório
TUMOR TSH Sim ↑
/↑ VES elevada (frequente e característica), linfocitose.
–– Estudo hormonal.
Quadro 4. Doenças da tiroide Pode existir hipertiroidismo primário, normofunção da tiroide
ou hipotiroidismo primário.
–– Cintigrafia da tiroide.
Lembre-se… Cintigrafia hipocaptante (ou “branca”).
Etiologia
3.6. Tiroidite Autoimune. Mais frequente nas mulheres, especialmente após
o parto. Pode ocorrer recidiva.
Classificação
–– Tiroidite aguda.
–– Tiroidite subaguda.
• Tiroidite subaguda de De Quervain.
• Tiroidite indolor ou silenciosa.
–– Tiroidite crónica.
• Tiroidite de Hashimoto ou linfocítica crónica.
• Tiroidite de Riedel ou fibrosante.
34
Capítulo 3 · Distúrbios da glândula tiroideia
Figura 13. Cintigrafia da tiroide. Bócio multinodular. Podem ver-se zonas hipo-
captantes alternadas com outras hipercaptantes
35
Manual APNA · Endocrinologia
LINFOCÍTICA LINFOCÍTICA
SUBAGUDA FIBROSANTE
AGUDA TRANSITÓRIA OU CRÓNICA
(DE QUERVAIN) (DE RIEDEL)
SILENCIOSA (DE HASHIMOTO)
Clínico AntiTPO −
O mesmo da infeção AntiTPO + títulos
DIAGNÓSTICO AntiTPO + títulos altos biópsia para
bacteriana AntiTPO − baixos
descartar neoplasia
Em caso de
Da Dor: AINE/ Em caso de Cirurgia (fim
tirotoxicose: β-
Antibioterapia. Em corticosteroides hashitoxicose: como descompressivo)
bloqueadores ±
TRATAMENTO caso de abscessos: Da tirotoxicose: β- doença Graves Em caso de
corticosteroides
drenagem bloqueadores ± Em caso de hipotiroidismo: fT4L
Em caso de hipotiroi-
corticosteroides hipotiroidismo: fT4L
dismo: fT4L
36
Capítulo 3 · Distúrbios da glândula tiroideia
37
Manual APNA · Endocrinologia
–– TIR3: indeterminado, na maior parte lesões foliculares, subdi- Nos restantes casos faz-se a observação e o acompanhamento
visível em TIR3A: de baixo risco, reavaliação com PAAF no por ecografia. Atualmente não existe unanimidade quanto à
período de seis meses, ou acompanhamento atento, TIR3B: terapia supressiva dos nódulos tiroideus, apenas há consenso
suspeita de neoplasia folicular, indicada a intervenção cirúrgi- quanto à necessidade de terapia cirúrgica dos carcinomas dife-
ca; renciados da tiroide.
–– TIR4: alta suspeita de malignidade, recomenda-se o exame (ver as figuras 15 e 16)
extemporâneo intraoperatório.
–– TIR5: maligno, exérese cirúrgica (estuda-se no próximo
capítulo). 3.8. Carcinoma da Tiroide
Os carcinomas da tiroide dividem-se em: carcinomas derivados
do epitélio folicular (diferenciados - papilar e folicular, e indife-
renciados - carcinoma anaplásico), carcinomas derivados das
Nodulo tiroideu células C (carcinoma medular da tiroide), linfoma da tiroide e
metástases.
Ecografia
TSH, fT4L, fT3L
Carcinoma papilar
O mais frequente (70%) e aquele com o melhor prognóstico,
TSH N TSH apresentando dois picos de incidência: o primeiro, entre a
segunda e a terceira década, e o outro mais tardio. É mais
Cintigrafia comum nas mulheres.
Nódulo <1 cm Nódulo
>1cm ou <1cm com Tem um crescimento relativamente lento. É localmente invasivo
Características extensão extratiroideia
Nódulo frio e tende a disseminar-se via linfática (frequentes metástases em
de benignidade evidência de metástases
linfonodais ou à distância gânglios linfáticos), sendo a disseminação sanguínea rara.
Seguimento O carcinoma micropapilar apresenta um tamanho inferior a
ecográfico FNA um centímetro.
e exames do
funcionamento
da tiroide Anatomia patológica
Benigna Maligna
Suspeita Geralmente é não encapsulado, com formação de papilas (gru-
proliferação pos de células epiteliais centradas sobre um eixo vascular), cal-
Seguimento folicular folicular
por ecografia cificações finas nos corpos psamomatosos, células com núcleos
e exames do grandes e oticamente vazios, chamados núcleos em vidro
funcionamento Cirurgia "esmerilado" ou Orphan Annie-eye nuclei. Frequentemente
da tiroide apresentam elementos foliculares e quando são abundantes
Figura 15. Algoritmo de gestão do nódulo tiroideu. denomina-se variante papilar-folicular.
Estudo
Quente (Hipertiroidismo)
Folicular Cintigrafia
Biopsia cirúrgica
Frio (hemitiroidectomia
com istmectomia)
Figura 16. Ação no nódulo tiroideu de acordo com os resultados da PAAF. Bibliografia: Revised American Thyroid Association management guidelines for patients with
thyroid nodules and differentiated thyroid cancer. Thyroid 2009;19(11):1167-214.
38
Capítulo 3 · Distúrbios da glândula tiroideia
Prognóstico
Lembre-se…
Bom. O envolvimento de gânglios linfáticos pelo tumor está
Os corpos PSaMomatosos associado a um maior risco de recorrência, porém, não aumen-
encontram-se no: ta a mortalidade nem piora o prognóstico.
Carcinoma Papilar da tiroide
Carcinoma Seroso do ovário
Meningiomas Carcinoma folicular
É o segundo tumor da tiróide mais frequente. Geralmente ocor-
re entre os 50 e os 60 anos, em mulheres e em áreas geográfi-
cas com défice de iodo. Tende a crescer lentamente e a sua
Sinais clínicos
disseminação, quando ocorre, tende a ser por via hematogénea,
Nódulo tiroideu. Com menos frequência, adenopatias regionais. originando metástases ósseas, pulmonares e sistema nervoso
central. Raramente as metástases podem causar tirotoxicose.
Tratamento
–– Cirurgia Anatomia patológica
A extensão da cirurgia é controversa. Nódulo encapsulado, com céulas organizadas em folículos con-
Em geral, é realizada tiroidectomia total, embora seja aceite a tendo coloide, assemelhando-se a tiroide normal, distingue-se
hemitiroidectomia mais istmectomia em casos selecionados de frequentemente do adenoma por invasão vascular e/ou da cáp-
carcinoma micropapilar (<1 cm) unifocal, na ausência de his- sula. O carcinoma de células oxifílicas ou de Hurthle (células
tória familiar, irradiação cervical e adenopatias regionais. Se a com abundante conteúdo eosinofílico) é uma variante com pior
hemitiroidectomia for realizada e se se confirmar o diagnós- prognóstico.
tico de carcinoma > 1 cm, deve-se intervir novamente e com-
pletar a tiroidectomia. No que diz respeito à linfadenectomia, Sinais clínicos
pode realizar-se linfadenectomia central (gânglios linfáticos Nódulo na região da tiroide. Por vezes, apresenta-se com metás-
paratraqueais, pré-laringeos) profilática na presença de carci- tases no momento do diagnóstico.
noma de grandes dimensões (> 4cm) ou realizar-se apenas se
houver evidência clínica de gânglios linfáticos afetados. A dis- Tratamento
secção dos gânglios linfáticos cervicais laterais é realizada ape- Semelhante ao carcinoma papilar (PNA 2019).
nas em casos de confirmação histológica de envolvimento
destes gânglios linfáticos Prognóstico
–– Ablação de tiróide residual, metástases e tratamento Embora pior do que o do carcinoma papilar, continua a ser um
adjuvante em pacientes de risco médio-elevado com tumor com bom prognóstico, com sobrevivência a longo prazo.
I131 - Iodo 131 (50-100 mCi) O prognóstico é pior com lesões de maiores dimensões.
–– Procedimento realizado com TSH elevada, pois promove a
captação de I131 pela tiróide. Antes do tratamento com Iodo Carcinoma anaplásico da tiroide
131 substitui-se a levotiroxina por tri-iodotironina (T3), pela
sua menor semi-vida, durante 3 semanas e suspende-se 2 Representa 1% dos carcinomas da tiroide. Geralmente diagnos-
semanas antes de I131. Tratamento supressivo de TSH ticado em idosos e tem um ligeiro predomínio nas mulheres.
com levotiroxina Manifesta-se com crescimento rápido e tem grande capacidade
Quando não há evidência de doença residual após vários anos de invasão local. Os carcinomas foliculares e papilares podem
de seguimento, pode-se diminuir o grau de supressão de TSH desdiferenciar-se dando origem a este tumor.
para um valor situado na metade inferior do normal (0,5-2
mU/L).
–– Outras opções terapêuticas
Radioterapia (RT) cervical, quimioterapia sistémica , podendo PAPILAR FOLICULAR
ser considerados novos fármacos, como sorafenib e sunitinib,
em doença recorrente/metastática. FREQUÊNCIA 70% 15%
–– Acompanhamento
• Tireoglobulina. DISSEMI- Linfática: Hematogénea: pulmão,
Útil no seguimento do carcinoma papilar (mas NÃO é diag- NAÇÃO gânglios linfáticos ossos, SNC
nóstico), uma vez que o seu aumento é indicativo da per- FATORES DE
sistência de doença ou metastização. Os anticorpos anti-ti- Irradiação cervical (RT) Défice de iodo
RISCO
reoglobulina também devem ser avaliados, uma vez que a
sua presença pode interferir com o resultado da tireoglobu-
Papilas e folículos Epitélio tiroideu
lina. ANATOMIA
Corpos psamomatosos Invasão da cápsula
• Cintigrafia de corpo inteiro com I131 (4-5 mCi). PATOLÓGICA
(calcif.grão de areia) Subtipo células Hurthle
Realiza-se na presença de sinais de persistência da doença
ou metástases (ex. aumento de tireoglobulina).
• Outras técnicas de imagem (ecografia cervical, radiografia CÁPSULA Não Sim
do tórax, cintigrafia óssea, PET-CT):
Realizam-se quando há aumento da tiroglobulina na pre- PROGNÓSTICO O melhor Bom
sença de uma cintigrafia de corpo inteiro com I131 normal,
tendo o objetivo de avaliar a presença metástases que não Quadro 8. Diferenças entre o carcinoma papilar e folicular da tiróide.
captam com I131.
39
Manual APNA · Endocrinologia
Tratamento Prognóstico
É melhor nos tumores associados a síndrome MEN2A, seguido
–– Cirurgia. dos esporádicos e pior nos associados a MEN2B.
Tiroidectomia total com dissecção dos gânglios linfáticos cen-
trais do pescoço. A linfadenectomia lateral do pescoço é rea-
lizada em caso de suspeita clínica e com base no valor de Linfoma da tiroide
calcitonina. A coexistência de feocromocitoma deve ser
excluída na síndrome MEN2 (A e B), enquanto que neurino- Mais frequente nas mulheres entre 55 e 75 anos, geralmente
mas mucocutâneos e habitus marfanóide podem coexistir na com história de tiroidite de Hashimoto e anticorpos antitiroideus
síndrome MEN2B. positivos. O tipo mais comum é o linfoma histiocítico ou imuno-
blástico.
–– Tratamento com levotiroxina em doses substitutivas e não
supressivas (a TSH não afeta o crescimento das células C).
Tratamento
–– Doença metastática.
Cirurgia, radioterapia e quimioterapia.
Dependendo dos sintomas e volume de doença, pode optar-se
por vigilância, radioterapia, TKIs (inibidores de tirosina cinase)
Prognóstico
ou quimioterapia. Estes doentes devem participar em ensaios
clínicos, se possível. Depende do tipo e da extensão extra-cervical.
40
Capítulo 4
CO
Distúrbios do glândulas adrenais B
MD, D, T, GD
Sinais clínicos
As manifestações clínicas são devidas a:
1. Excesso de glicocorticoides.
2. Efeito mineralocorticoide dos glucocorticoides.
3. Excesso de androgénios.
4. Excesso de ACTH.
41
Manual APNA · Endocrinologia
42
Capítulo 4 · Distúrbios do glândulas adrenais
43
Manual APNA · Endocrinologia
(Ver a figura 5)
Diagnóstico diferencial (síndrome de pseudo-cushing)
ACTH plasmática
<5 >20
ACTH ACTH
entre 5 e 20 ACTH
independente dependente
(SCS)
TC das Supressão
Teste de CRH com doses altas
glândulas
suprarrenais de DXM
RMN TC cervico-toraco-
hipotálamo-hipofisária abdominal
com gadolíneo (ou Octreoscan)
Nenhum
Gradiente Gradiente
ACTH ACTH
44
Capítulo 4 · Distúrbios do glândulas adrenais
45
Manual APNA · Endocrinologia
–– Teste do captopril. último preferido para os homens devido a ter menor efeito
Equivalente ao anterior. A falta de supressão confirma o diag- antiandrogénico em relação à espironolactona).
nóstico. –– No carcinoma:
–– Teste de fludrocortisona. Aminoglutetimida, cetoconazol, mitotano.
É positivo quando a aldosterona não é suprimida (mantendo-
se acima de 5 ng / ml).
HTA resistente
Se o diagnóstico de hiperaldosteronismo for confirmado, é Hipocaliémia
necessário um diagnóstico histológico (adenoma vs hiperplasia Incidentaloma
vs carcinoma).
– Suspender os diuréticos
– Dieta normossódica
Diagnóstico etiológico – Suplemento K apenas se necessário
–– TC das glândulas adrenais. Rastreio
Muito útil especialmente para excluir carcinoma. A diferença
entre adenoma e hiperplasia é difícil de estabelecer porque há Ald / ARP
muitos adenomas pequenos e também muitos incidentalo-
mas não funcionantes.
–– Cintigrafia adrenal com norcolesterol. Ald / ARP Ald / ARP Ald / ARP
Relação <10 Relação >30-50 Relação <25
No adenoma mostra captação unilateral e na hiperplasia bila-
teral (pouco sensível). Pseudohiperal- Hiperaldosteronismo
–– Em caso de dúvidas: dosteronismo secundário:
– hipercortisolismo Suspeita de – HTA essencial
Cateterismo das veias adrenais com determinação da aldoste-
– Toma de alcaçuz Hiperaldosteronismo – HTA renovascular
rona em ambas as glândulas para verificar se existe lateraliza-
– Síndrome de Liddle primário – HTA maligna
ção da secreção. Alguns autores defendem este procedimento – Tumores secretores DOC – Reninoma
alegando que deve ser feito sistematicamente em todos os
pacientes que sejam potenciais candidatos cirúrgicos para Teste de confirmação
confirmar a lateralização antes da cirurgia.
Exame de supressão
Diagnóstico diferencial de aldosterona
– Expansão volume (SF)
–– Hiperaldosteronismo secundário (AR elevada). – Teste captopril
– Teste da fludrocortisona
1. Situações em que há uma depleção de volume, diminui-
– Aldosterona na urina
ção de fluxo renal ou perda de sódio: estenose da artéria de 24 h
renal, síndrome nefrótica, cirrose hepática, insuficiência
cardíaca. Aldosterona
2. Tumores secretores de renina (renal, pulmonar, alguns
casos de Wilms).
3. Síndrome de Bartter (tubulopatia hereditária com perda Não suprime Suprime
de absorção de sais, com normotensão, hipopotassemia e
elevação da renina e aldosterona). Hiperaldosteronismo HTA essencial
4. Nefropatia com perda de sais. primário:
Aldosteronoma
–– Outras síndromes com aumento de mineralocorticoides. vs
1. Síndrome de Liddle (distúrbio familiar caracterizado por Hiperplasia suprarrenal
hipertensão, hipopotassemia e baixas concentrações de
aldosterona e renina, por ganho de função do canal impli- Diagnóstico diferencial
cado na reabsorção de sódio nos túbulos renais).
2. Administração de alcaçuz. O ácido glicirrízico inibe a TC das glândulas suprarrenais
enzima de conversão do cortisol (que tem efeito minera-
locorticóide relevante) em cortisona (metabolito menos Em caso de dúvida:
ativo). Cateterismo
veias suprarrenais
3. Hiperfunção mineralocorticoide não-aldosterónica.
Síndrome de Cushing, adenoma secretor de DOC (desoxi- Figura 6. Algoritmo diagnóstico do hiperaldosteronismo.
corticosterona, precursor esteroide com atividade mineralo-
corticoide), défice de 17-α-hidroxilase ou 11-ß- hidroxilase.
(Ver a figura 6)
Lembre-se…
Tratamento No hiperaldosteronismo primário: ↑ Aldosterona e ↓ Renina
–– Cirurgia no adenoma, na hiperplasia unilateral e no carci
noma. No hiperaldosteronismo secundário: ↑ Aldosterona e ↑ Renina
–– Tratamento médico na hiperplasia bilateral.
No pseudohiperaldosteronismo: ↓ Aldosterona e ↓ Renina
Dieta hipossódica, diuréticos poupadores de potássio (espiro-
nolactona, amilorida, triamtereno, eplerenona, sendo este
46
Capítulo 4 · Distúrbios do glândulas adrenais
47
Manual APNA · Endocrinologia
4.4. Incidentaloma
Síndrome adrenal
de preCushing o Cushing “subclínico” 4.5. Insuficiencia
Adrenalectomia suprarrenal
Tumor noutra
localização
ÉAdenoma
um tumorsuprarrenal con alteración
da supra-renal descobertodedurante
alguna um
de las pruebas
exame de
de hipercortisolismo,
imagem realizado por pero
outrosin llegar Ocorre
motivo. a confirmarse
em 10% el diagnósti-
da popu- Etiología
co desaudável,
lação síndrome85-95%
de Cushing ni presentar
não está los signos ni síntomas
funcionante. Sim Não
típicos del Cushing florido. Se ha relacionado con aumento de
HTA, DM, osteoporosis y eventos cardiovasculares. Primaria (enfermedad de Addison) (MIR)
PAAF Seguimento cada
• Autoinmune (exclui(atrofia
MTS) suprarrenal 6-12 mesesidiopática): la más fre-
cuente. Se destruye selectivamente la corteza adrenal,
Figura 9. Algoritmo diagnóstico
posiblemente de um T
por linfocitos incidentaloma
citotóxicos,suprarrenal. Bibliografia:
afectándose sus 3
Thecapas
American
(primero la glomerular –al principio aparece Association
Association of Clinical Endocrinologists and American aumento
of Endocrine Surgeonsde
de la actividad medical
reninaguidelines
plasmáticafor the management
con niveles deofaldostero-
suprarrenal
incidentalomas. Endocr Pract 2009;15 Suppl 1:1-20
na normales o bajos–, luego la fascicular y luego la reticular).
La clínica aparece cuando se destruye >90% de la glándula.
Puede asociarse
Adenoma adrenal com a otras enfermedades
“possível secreçãoautoinmunes
autónoma de (DM
tipo 1,
cortisol “ vitíligo, enfermedad tiroidea autoinmune…), y a veces
forma parte de un síndrome poliglandular autoinmune (SPA).
Management of adrenal incidentalomas: European Societyof
Un 50-70%Clinical
Endocrinology de pacientes presentaninanticuerpos
Practice Guideline collaborationcontra
with
enzimas de la esteroidogénesis suprarrenal
the European Network for the Study of Adrenal Tumors, (21-hidroxila-
Fass-
sa...) (MIR 10, 72).
nacht M et al, EJE 2016.
• Tuberculosa:
Adenoma adrenal se com
destruyen tantoem
alteração corteza
algunscomo médula,de
dos exames la
más frecuente antiguamente. En la adrenalitis
hipercortisolismo, cortisol sérico pós-Nugent entre 51 e 138tuberculosa,
la /suprarrenal
nmol L, mas sem está hipertrofiada
confirmação inicialmente,
do diagnóstico después de
de síndrome se
produce fibrosis quedando de tamaño normal
Cushing ou apresentação de sinais e sintomas típicos de o atrófica, con
Figura
Figura8.6.Incidentaloma
Incidentalomasuprarrenal
suprarrenaldireito.
derecho. presencia de calcificaciones en el 50% de los casos (MIR).
• Causas infrecuentes: hemorragia bilateral (por sepsis menin-
48 gocócica o síndrome de Waterhouse-Friederichsen, coagulo-
patías o terapia anticoagulante), infarto bilateral, infecciones
por hongos o virus (CMV, VIH…), infiltración (metástasis,
Capítulo 4 · Distúrbios do glândulas adrenais
Etiologia
Vitiligo
Primária (doença de Addison) (e outras doenças
autoimunes)
–– Autoimune (atrofia adrenal idiopática).
A mais frequente. O córtex adrenal é destruído seletivamen-
te, provavelmente por linfócitos T citotóxicos, envolvendo as
suas 3 zonas (em primeiro lugar a glomerular - no início, há
um aumento da atividade da renina plasmática com níveis Hipotensão arterial
normais ou baixos de aldosterona – depois a fasciculada e por Choque (casos agudos)
último a reticulada). Os sinais clínicos manifestam-se quando
há destruição > 90% da glândula. Hiperpigmentação
Dor abdominal cutâneo-mucosa
Pode estar relacionada com outras doenças autoimunes (DM (formas primárias)
tipo 1, vitiligo, doença autoimune da tiroide ...) e, por vezes,
faz parte de uma síndrome poliglandular autoimune (SPA).
Cerca de 50-70% dos pacientes têm anticorpos contra as
enzimas da esteroidogénese adrenal (21-hidroxilase ...).
–– Tuberculose. Perda de peso
São destruídas quer a cortical como a medular. No passado Síndrome constitucional
era a mais frequente. Na adrenalite tuberculosa, a glândula
adrenal é inicialmente hipertrófica, depois manifesta-se a Diminuição dos pelos
fibrose e pode ficar com dimensões normais ou tornar-se púbicos e das axilas
atrófica, apresentando calcificações em 50% dos casos.
–– Causas pouco frequentes.
Hemorragia bilateral (devida a sépsis meningocócica ou sín-
drome de Waterhouse-Friederichsen, coagulopatias ou tera-
pia anticoagulante), enfarte bilateral, infeções micóticas ou
virais (CMV, HIV ...), infiltração (metástase, amiloidose, sarcoi-
dose, hemocromatose), adrenalectomia cirúrgica, adrenoleu-
codistrofia, fármacos (mitotano, metirapona, cetoconazol,
aminoglutetimida).
Secundária
Devido a patologia hipotálamo-hipofisária, com défice de ACTH
ou supressão do eixo pela administração exógena de glicocorti-
Figura 10 Manifestações clínicas de insuficiência suprarrenal.
coides. Nestes casos, são atingidas apenas as zonas fasciculadas
(produção de glicocorticoides) reticulares (produção de andro-
génios), permanecendo intacta a secreção de mineralocorticói-
des. Laboratório
–– Hiponatremia e tendência à hipoglicemia. Manifestam-se na
insuficiência adrenal primária e secundária.
Lembre-se…
–– Hiperpotassemia, hipocloremia e acidose metabólica.
A zona glomerular responde ao sistema Renina- Angiotensina Verificam-se apenas na insuficiência adrenal primária.
–– Anemia normocítica, linfocitose, eosinofilia, neutropenia.
49
Manual APNA · Endocrinologia
50
Capítulo 4 · Distúrbios do glândulas adrenais
51
Capítulo 5
CO
Diabetes mellitus A
MD, D, P, T, GD
53
Manual APNA · Endocrinologia
Entre as 24-48
1ª consulta
semanas
Glicemia
PTGO
em jejum
Glicemia em jejum
≥ 92 mg/dL ou Glicemia
≥ 126 mg/dL 92-125 mg/dL < 92 mg/dL ≥ 180 mg/dL aos 60 min
ou Glicemia
≥ 153 mg/dL aos
120 min
DM pré-gestacional Diabetes
gestacional
Figura 1.Rastreio da diabetes na gravidez.
54
Capítulo 5 · Diabetes mellitus
Manifestações clínicas estas metas é necessário combinar uma dieta adequada para
atingir e manter o peso e a forma, exercício regular, educação
Principais características de DM-1 diabetológica e tratamento farmacológico (insulina e/ou antidia-
béticos orais), além de tratamento agressivo dos outros fatores
–– Geralmente surge na puberdade ou em torno dos 30-40 de risco cardiovascular (tabaco, hipertensão arterial, dislipide-
anos. mia).
–– Aparecimento repentino.
–– Principais sinais clínicos.
Poliúria (crianças: enurese noturna), polidipsia, perda de peso,
polifagia. Mudanças na dieta e no estilo de vida
–– Período de “lua de mel” após o diagnóstico em que diminui
transitoriamente a necessidade de insulina.
HbA1c 6,5-8,5% HbA1c >8,5%
Principais características de DM-2
Metformina
–– Idade.
Muito mais frequente em idade superior a 60 anos. Pode Sintomas de
Não se atinge o hiperglicemia ou
manifestar-se em idade precoce ou mesmo em crianças objetivo em 3 meses Assintomático descompensação
(sobretudo em obesas) aguda
Adicionar 2º ADO
–– Surgimento gradual. ou insulina
Pode passar despercebida por longos períodos de tempo e ser Metformina só Insulina +/-
diagnosticada no momento do aparecimento de complica- Não se atinge ou combinada com Metformina
o objetivo em 3 um outro ADO desde o inicio
ções.
Adicionar 3º ADO
Na Quadro 2 resumem-se as principais diferenças entre os dois ou insulina
tipos de diabetes
Não se atinge
o objetivo em 3 meses
Dieta
TIPO 1 TIPO 2
A dieta deve ser equilibrada, sem diferenças relativamente à da
PREVALÊNCIA Cerca 0,3% Cerca 6-7% população em geral e com conteúdo calórico que permita man-
ter ou atingir o normopeso. O acompanhamento dietético deve
Sempre presente. Por ser mais rigoroso nos pacientes com DM de tipo 2, cujo objetivo
SINTOMA- Muitas vezes modesta
vezes flagrante e de principal é a redução do seu peso corporal (mesmo uma perda
TOLOGIA ou ausente
começo abrupto ponderal ligeira, na ordem dos 5Kg, pode ajudar a melhorar o
perfil glicémico (PNA 2019)).
TENDÊNCIA A
Presente Ausente
CETOSE –– Calorias totais.
Aquelas necessárias para alcançar e manter o normopeso.
Em geral Geralmente
PESO Nos pacientes tratados com insulina, a distribuição dos hidra-
é normal em excesso
tos de carbono deve ser repartida para evitar a hipoglicemia.
IDADE DO Mais frequente Mais frequente –– Proteínas
APARECIMENTO <30 anos > 40 anos 15% da ingestão calórica (0,8-1 g / kg de peso). Em pacientes
APARECI- com nefropatia diabética recomenda-se a sua redução.
Muitas vezes presente
MENTO DE Não antes de alguns –– Hidratos de carbono.
no momento do
COMPLICAÇÕES anos após o diagnóstico 50-60% do aporte energético total, de preferência comple-
CRÓNICAS diagnóstico
xos polissacarídeos de absorção lenta.
INSULINA –– Gorduras
Reduzida ou ausente Normal ou aumentada 30-40% do aporte calórico total. Destas: saturadas
CIRCULANTE
<10%, polinsaturadas <10% e monoinsaturadas 10- 20%.
AUTO- Com uma ingestão de colesterol <200 mg / dia.
Presente Ausente
IMUNIDADE
–– Recomenda-se limitar o consumo de colesterol e sal.
Insulina necessária Dieta, fármacos orais, Limitar também o consumo de álcool a <30 g / dia.
TERAPIA
desde o início. análogos GLP-1, insulina –– Recomenda-se a ingestão de cerca de 30 gramas de fibras por
dia
Quadro 2. Resume as principais diferenças entre os dois tipos de diabetes.
55
Manual APNA · Endocrinologia
Necessidade de insulina
0,5-1 U / kg / dia em DM1 e 0,3-0,5 U / kg / dia em DM2. Variá-
vel de um sujeito para outro e dependente de múltiplos fatores.
A necessidade de insulina é reduzida pela atividade física (que
reduz a resistência à insulina) e pela insuficiência renal (que
reduz a eliminação da insulina), enquanto que aumenta pelo
sedentarismo e stresse (que induz a secreção de hormonas dia-
betogénicas, tais como cortisol e GH).
Tipos de insulinoterapia
56
Capítulo 5 · Diabetes mellitus
TIPO A TIPO B
São pouco frequentes com as atuais insulinas humanas ou É a principal complicação dos diabéticos insulino-tratados e
recombinantes. é mais comum na DM tipo 1 com tratamento Intensivo.
Os pacientes diabéticos ao longo da progressão da sua doença
Alergia à insulina podem apresentar hipoglicemia não detetada, devido à perda
Por anticorpos IgE contra a insulina. Apresenta reações locais da capacidade de secreção de catecolaminas, responsáveis
imediatas (prurido local no sítio da injeção), reações locais tar- pelos sinais clínicos adrenérgicos iniciais (sudorese, nervosismo,
dias (tumefação endurecida) ou reações sistémicas (urticária ou tremores, fome) e por aparecerem exclusivamente sintomas
anafilaxia). Estas últimas são muito raras. As mais frequentes neurológicos (tontura, confusão, distúrbios comportamentais,
são as reações locais. perda de conhecimento e convulsões).
57
Manual APNA · Endocrinologia
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Capítulo 5 · Diabetes mellitus
59
Manual APNA · Endocrinologia
Hipoglicemias longas
Secretagogos ação
SU Renal, hepático Glicemia em jejum e graves Ins. hepática, renal
lenta
↑ ponderal
5.4. Outros Tratamentos –– Deve-se administrar AAS na prevenção secundária nos dia-
béticos com anamnese de distúrbios cardiovasculares
(angina, EAM, by-pass, claudicação, doença vascular periféri-
Transplante de pâncreas ou das células dos ilhéus
ca…) ou de doença cerebrovascular.
pancreáticos
Pouco usado, geralmente realiza-se exclusivamente quando é Objetivos de controle metabólico de acordo com a
necessário um transplante renal, dado que o tratamento imu- Sociedade Americana de Diabetes (ADA)
nossupressor do rim protege simultaneamente o pâncreas.
–– Não fumar.
–– IMC <25 kg / m2
5.5. Autocontrole e monitorização da diabetes - HbA1c <7%.
Personalizar de acordo com o tipo de paciente: jovens sem
Atualmente, a maioria dos pacientes que precisam de insulina comorbidade <6,5%; idosos com complicações crónicas,
efetuam o controle e modificam o tratamento de acordo com a comorbilidade e esperança de vida curta <8%.
determinação da glicemia capilar no domicílio (4-6 determina- –– Glicemia pré-prandial 80-130 mg / dl.
ções diárias). O estudo da glicosúria é pouco usado atualmente –– Glicemia pós-prandial <180 mg / dl.
devido ao fato de ter um baixo valor na monitorização da DM. –– Pressão arterial <140/80 mmHg (nos jovens 130/80 mmHg).
A medição da cetonúria continua a ser importante, especial- Nos pacientes com nefropatia e proteinúria franca > 1 g / dia,
mente na DM tipo 1 descompensada e em doenças intercorren- <130/80 mmHg.
tes, assim como na diabetes gestacional. –– Colesterol LDL <100 mg / dl na DM tipo II, se existir lesão de
A hemoglobina glicada (HbA1c) é um dos componentes da órgão-alvo então <70 mg / dl (DM com dano de órgão é
hemoglobina que está presente nas pessoas normais e aumenta equivalente a risco coronário)
na presença de hiperglicemia. Oferece uma estimativa do con- –– Triglicéridos <150 mg / dl.
trole diabético nos 3 meses precedentes, já que a meia-vida das –– HDL> 40 mg / dl nos homens e 50 mg / dl nas mulheres
hemácias é de 120 dias. A frutosamina também pode servir no
acompanhamento do controle metabólico, principalmente
durante a gravidez (estimativa das três semanas anteriores). 5.6. Complicações metabólicas agudas da
No tratamento integral da diabetes mellitus, além de controlar
diabetes
a glicemia, deve conseguir-se o controle dos outros fatores de Existem três: cetoacidose diabética (CAD), estado hiperglicémi-
risco cardiovascular: co hiperosmolar (EHH) e hipoglicemia.
–– Tabagismo, pressão arterial, lípidos (LDL, HDL, triglicéridos),
obesidade. Cetoacidose diabética (CAD)
–– Recomenda-se AAS (ácido acetilsalicílico) como prevenção
É caracterizada por hiperglicemia, cetonúria/cetonemia e acido-
primária em pacientes com diabetes mellitus e lesões de
se metabólica. Surge com mais frequência na DM tipo 1, mas
órgão-alvo ou em doentes diabéticos com aumento do risco
pode surgir também na de tipo 2.
cardiovascular - condição que inclui a maior parte dos
homens com idade> 50 anos e de mulheres com idade> 60
Etiologia
anos com um outro fator de risco cardiovascular (tabagismo,
HTA, obesidade, albuminúria, antecedentes familiares de Aparecimento da diabetes, omissão ou administração inadequa-
doença cardiovascular ...). da de insulina, stresse (infeção, cirurgia), idiopática. A causa de
agravamento mais frequente é a infeção.
60
Capítulo 5 · Diabetes mellitus
61
Manual APNA · Endocrinologia
Verifica-se uma profunda desidratação causada pela diurese O tipo de líquido a ser administrado é semelhante ao usado
hiperglicémica contínua, sem cetonúria. Infeções ou qualquer na cetoacidose diabética: inicialmente solução fisiológica
causa de desidratação podem ser os fatores desencadeantes. (exceto hipernatremia grave: solução hipotónica), seguida de
glicosada quando a glicemia cai abaixo de 250 mg / dl.
Sinais clínicos –– Insulina
Surge de forma mais lenta, em dias ou semanas. Procedimento semelhante ao da cetoacidose diabética. Às
vezes pode resolver-se o EHH com uma substituição de líqui-
–– Sintomas do SNC:
dos sem necessidade de insulina, mesmo que esta acelere a
Diminuição do nível de consciência até ao coma, convulsões
resposta.
e sinais neurológicos focais (hemiplegia transitória).
–– Potássio.
–– Desidratação extrema, com hipotensão, sinais de hipoperfu-
Administração mais precoce do que na CAD devido a deslo-
são, pele e mucosas secas, aumento da viscosidade sanguínea
camento intracelular do potássio no plasma durante o trata-
e aparecimento de tromboses (EAM, AVC, trombose venosa
mento, que é acelerado na ausência de acidose. Deve- se
profunda).
prestar atenção aos casos de insuficiência renal pré-renal.
–– Infecções frequentes, especialmente pneumonia e sépsis,
–– Bicarbonato de sódio.
devido a microrganismos gram-negativos.
Normalmente não está indicado (somente no caso de acidose
Laboratório láctica).
1. Hiperglicemia extrema (glicemia em torno de 600-1.000 –– Antibióticos
mg/ dl). Em caso de presença ou suspeita de infeção.
2. Osmolaridade sérica muito alta. –– Heparina.
3. Nível de sódio normal ou baixo (hiponatremia compensató- Administração por via subcutânea de heparina de baixo peso
ria) ou alto (por desidratação grave). molecular devido ao risco de trombose.
4. Insuficiência renal aguda pré-renal (com aumento da creati-
nina, BUN e ureia). Evolução
5. Não há acidose metabólica, ou é leve, com HCO3 em torno Mortalidade muito alta (50%), mesmo que dependa da causa
de 20 mEq / l. Se estiver presente e os corpos cetónicos subjacente. A presença de pneumonia gram-negativa ou sépsis
estiverem negativos, deve-se suspeitar de acidose lática por indica um prognóstico desfavorável.
hipoperfusão ou infeção.
6. Geralmente sem aumento de corpos cetónicos. (Ver Quadro 6)
Tratamento
Hipoglicemia
–– Fluidoterapia.
A desidratação é mais intensa na descompensação hiperos- A causa mais frequente de hipoglicemia é a iatrogénica por
molar do que em CAD. O déficit de água livre é geralmente insulina ou sulfonilureias. É mais frequente na DM-1 do
de 10 l. A principal medida para o seu tratamento é a flui- que na DM-2. Ter metas de controle glicémico muito rigoro-
doterapia, que deve corrigir o défice de água livre em 2-3 sas aumenta o risco de hipoglicemia e a gravidade dos episó-
dias. dios.
Respiração de Kussmaul, agitação psicomotora Risco de Diminuição do nível de consciência Risco de fenómenos
SINAIS CLÍNICOS edema cerebral (nas crianças) trombóticos e infeções
Hiperglicemia >600
Hiperglicemia 300-600
Hipopotassemia (reflete o potássio corporal)
Pseudo- hiperpotassemia devido a redistribuição
Hiponatremia falsa (hiperosmolar)
LABORATÓRIO (mas existe ↓ K+ corporal)
Hiperosmolaridade
Acidose metabólica com hiato
Insuficiência renal frequente Acidose
aniónico elevado Cetonemia
metabólica leve ocasional
Quadro 6. Principais diferenças entre CAD e SII. SF = solução fisiológica (0,9%); SG = solução de glicose (5%).
62
Capítulo 5 · Diabetes mellitus
63
Manual APNA · Endocrinologia
Capítulo 6
Hipoglicemia CC
Conceito Diagnóstico
A hipoglicemia é definida pela tríade de Whipple: –– Hipoglicemia em jejum.
–– Sintomas compatíveis com hipoglicemia. • Medir a glicose, insulina, peptídeo C, cortisol e medicamen-
tos (sulfonilureias).
–– Demonstração bioquímica dessa hipoglicemia (glicemia no
• Teste em jejum (para descartar o insulinoma).
sangue venoso <50 mg/dL).
Duração de 72 horas, sempre que não apareçam sintomas;
–– Desaparecimento dos sintomas após ingestão rápida de medir a insulina, glicose e peptídeo C.
hidratos de carbono de rápida absorção. • Hipoglicemia insulínica (para descartar insulinoma e insufi-
ciência adrenal).
Os sintomas classificam-se em: Se a hipoglicemia não se manifesta espontaneamente e a
–– Sintomas adrenérgicos (primeira fase). Podem estar ausentes suspeita é elevada.
em diabéticos com neuropatia autonómica. –– Hipoglicemia pós-prandial.
–– Sintomas neuroglucopénicos (segunda fase): sonolência, Teste de carga oral de glicose, medindo a glicemia e insuli-
cefaleia, distúrbios visuais, confusão, alterações de comporta- na de hora a hora durante 5 horas: pouco sensível e espe-
mento, défice neurológico focal, convulsões e coma. cífico.
–– Hipoglicemia pós-prandial.
Manifestações até 4 horas após a ingestão. Causas:
• Por hiperinsulinismo alimentar.
Após gastrectomia, gastroduodenostomia, piloroplastia ou Insulina exógena Libertação endógena de insulina
vagotomia (síndrome de dumping tardio); por esvaziamen-
to gástrico rápido e absorção repentina de glicose com Medir as sulfonilureias na urina
libertação excessiva de insulina.
• Alterações do metabolismo intermédio.
Intolerância à frutose, galactosemia, sensibilidade à leucina,
glicogenose
• Idiopática. Intoxicação Insulinoma
por sulfonilureias
–– Hipoglicemia em jejum.
Surge numa situação de jejum. Causas: Figura 1. Diagnóstico diferencial de hipoglicemia em jejum hiperinsulinémica.
• Produção insuficiente de glicose.
Défices hormonais (hipopituitarismo, insuficiência adrenal),
defeitos enzimáticos (glicose-6-fosfatase, etc.), défice de subs-
trato (hipoglicemia cetótica nas crianças pequenas, desnutri- Tratamento
ção grave, fase final da gravidez), cirrose hepática (carência de
glicogénio hepático), insuficiência renal grave, etilismo. –– Paciente consciente.
• Devido ao uso excessivo de glicose. Administração oral de hidratos de carbono de absorção rápida.
Hiperinsulinismo (insulinoma, nesidioblastose, insulina exó- –– Paciente inconsciente.
gena, sulfonilureias, anticorpos anti-insulina, filho de mãe Administração intravenosa de solução glicosada até que o
diabética), consumo de glicose por tumores extrapancreá- paciente seja capaz de comer ou glucagon 1 mg intramuscular.
ticos (sarcomas, mesoteliomas e fibromas). –– Tratamento etiológico
64
Capítulo 7
Doenças das glândulas paratiroideas CO
e homeostase do cálcio B
MD, D, T, GD
65
Manual APNA · Endocrinologia
Reabsorção Ca
Hipercalcemia
PTH Excreção P Efeito indireto Reabsorção
Hipofosforemia
↑ síntese vitamina D
Excreção Ca Hipocalcemia
CALCITONINA ↓ Reabsorção
Excreção P Hipofosforemia
Ca/Cr <0,01), ao contrário do hiperparatireoidismo primário As paratiroides podem tornar-se autónomas como no hiper-
(> 0,02). paratiroidismo primário, resultando em hipercalcemia.
–– Intoxicação de vitamina D. Constitui uma indicação cirúrgica.
–– Sarcoidose (por aumento de 1,25 (OH) 2 D ao nível dos granu-
lomas) e outras doenças granulomatosas, como a tuberculose,
lepra, histoplasmose, coccidiomicose, candidíase, doença do
arranhão de gato, silicose, beriliose, doença de Wegener. Causas endocrinológicas da hipercalcemia
–– Síndrome do leite-alcalino. Hiperparatiroidismo primário, hipertiroidismo, insuficiência
–– Fármacos. adrenal, feocromocitoma e vipoma. A acromegalia provoca
Vitamina A, ácido retinoico, estrogénios e antiestrogénios hipercalciúria sem hipercalcemia.
usados no tratamento do cancro da mama, aminofilina EV.
–– Hipercalcemia idiopática na infância (síndrome de Williams).
Malformações congénitas múltiplas (estenose aórtica supra- Sinais clínicos
valvar, atraso mental e dimorfismo facial), associadas à Depende se a doença é aguda ou crónica:
hipercalcemia por causa da hipersensibilidade anormal à
–– Assintomática (achado aleatório).
vitamina D.
–– Crise hipercalcémica com insuficiência renal, encurtamento
–– Associadas a um aumento de remodelação óssea. Hiper
do intervalo QT, arritmias ventriculares, obnubilação progres-
tiroidismo, imobilidade.
siva e coma, pseudo-abdómen agudo (PNA 2019).
–– Hiperparatiroidismo secundário.
–– Formas crónicas.
Hipersecreção de PTH produzida em qualquer situação que
Calcificações metastáticas, nefrolitíase, nefropatia intersticial
predisponha a hipocalcemia e que pode causar alterações
e insuficiência renal crónica.
ósseas características do hiperparatiroidismo. As causas mais
frequentes são a insuficiência renal crónica e hipovitaminose D.
Quase nunca está associada à hipercalcemia, já que o aumento Tratamento
de PTH é secundário à diminuição dos níveis de cálcio, os quais Hidratação agressiva por via endovenosa, possivelmente asso-
podem ser baixos ou normais. Terapia médica direcionada para ciada à furosemida. Os bifosfonatos e em especial o zoledrona-
a integração de cálcio e vitamina D e eliminação de fósforo na to de administração única têm efeito no prazo de 3 dias. Os
dieta, inclusive com a utilização de quelantes. corticosteroides são usados nas hipercalcemias por hiperativa-
–– Hiperparatiroidismo terciário. ção de vit D (linfomas, sarcoidose) ou na intoxicação por vitami-
Quando as paratiroides se tornam autónomas após um perío- na D. A calcitonina também pode ser utilizada, mas tem um
do mais ou menos prolongado de estimulação do hiperpara- custo elevado e causa uma rápida tolerância.
tiroidismo secundário.
Lembre-se…
HPP NEOPLASIA A hidratação com solução salina na hipercalcemia é sempre
necessária porque aumenta a excreção renal de cálcio.
APARE-
Insidioso Agudo Quando se prescrevem corticosteroides?
CIMENTO
1. Causa tumoral
SINTOMAS Não Da neoplasia
2. Dependente da vitamina D
CÁLCIO ↑ ↑
FÓSFORO ↓ ↓ ou ↑
66
Capítulo 7 · Doenças das glândulas paratiroideas e homeostase do cálcio
Hipercalcémia
PTH
N/
Calciúria 24 h Fosforemia
Hiperparatiroidismo 1º Hipercalcémia
(hiperparatiroidismo 3º hipocalciúrica familiar Carcinoma secretor
Vitamina D PTHrp
em caso de ou hiperparatiroidismo
hiperfosfatemia e primário com
insuficiência renal) concomitante
hipovitaminose D
Destruição óssea
– Intoxicação vitamina D – Metástases líticas
– Doenças granulomatosas – Hipertiroidismo
– Linfoma – Intoxicação vitamina A
– Hiperparatiroidismo 2º
67
Manual APNA · Endocrinologia
Tratamento
Cirurgia
É o único tratamento curativo. A técnica cirúrgica varia com
base no envolvimento glandular.
–– Técnicas cirúrgicas.
• Adenoma.
A glândula patológica é removida após examinar as outras,
para excluir a existência de mais do que uma glândula afetada.
• Hiperplasia.
Paratiroidectomia subtotal (exérese completa de três glân-
dulas e parcial da quarta) ou paratiroidectomia total com
transplante de uma parte de uma das glândulas nos mús-
culos do antebraço ou no esternocleidomastoideu.
–– Indicações
• Pacientes com menos de 50 anos.
• Pacientes com mais de 50 anos com:
–– Presença de sinais clínicos: litíase renal, fraturas ósseas,
incluindo subclínicas.
–– Episódios anteriores de hipercalcemia grave.
–– Aumento do cálcio sérico mais de 1 mg / dl acima do limi-
te superior do valor normal.
–– Redução da clearance de creatinina maior que 30% (ou
clearance <60 ml / min).
–– Redução da massa óssea abaixo dos 2,5 desvio-padrão
em comparação com os valores normais do t-score.
–– Dificuldade no acompanhamento. Comorbidades que
complicam a gestão.
–– Vontade do paciente.
A presença de calciúria assintomática superior a 400 mg/24h
associada ao perfil de risco litogénico através do doseamento
dos componentes urinários já se considera também uma indica-
ção cirúrgica.
–– Complicações
As principais complicações são a hipocalcemia e a lesão do
nervo laríngeo recorrente. As causas de hipocalcemia podem
ser variadas:
• Hipoparatiroidismo transitório devido a isquemia e manipu-
lação das glândulas.
Melhora com o cálcio EV em doses baixas e é geralmente
corrigido em 48-72 horas.
• Hipoparatiroidismo pós-cirúrgico persistente.
Típico das cirurgias totais ou subtotais da hiperplasia para-
tiroideia.
Figura 3. Hiperparatireoidismo clássico. A. Crânio com aparência de “sal e Obriga ao tratamento com cálcio e vitamina D para toda a
pimenta”. B. Reabsorção subperióstica de falanges (setas).
vida.
• “Osso esfomeado”.
No hiperparatiroidismo de progressão longa com desmine-
ralização óssea marcada, o osso é submetido a uma mine-
Em caso de reincidência ou persistência da doença após a cirur- ralização rápida após a cirurgia, a qual consome quase todo
gia, são necessários estudos de localização (procura de adeno- o cálcio do sangue. A hipocalcemia é máxima até ao sétimo
mas ectópicos ou de uma quinta glândula): dia e geralmente dura algumas semanas. Pode ser preveni-
–– Ecografia ao pescoço. da pela administração pré-operatória de vitamina D (melho-
ra a mineralização antes da cirurgia, para que aconteça
–– Cintigrafia com subtração Talio-Tecnecio ou tecnécio-
mais lentamente depois da mesma).
99m-MIBI.
–– TC Tratamento médico
Útil em glândulas com localização mediastínica
–– Hidratação adequada.
–– Técnicas invasivas.
–– Evitar diuréticos e imobilidade prolongada.
Arteriografia ou cateterismo venoso seletivo do plexo venoso
tiroideu ou áreas adjacentes, obtendo amostras para dosea- –– Evitar excesso de cálcio na dieta.
mento de PTH. Útil quando não se localizou em exames ante- –– Bisfosfonatos (uso crónico limitado) e estrogénio nas mulhe-
riores. res na pós-menopausa.
68
Capítulo 7 · Doenças das glândulas paratiroideas e homeostase do cálcio
Lembre-se…
A conjugação numa pessoa> 40 anos de osteopenia, poliúria
e urolitíase sugere hiperparatiroidismo primário (doseamento
de cálcio!)
7.4. Hipocalcemia
Mão de obstetra
obstetra
Cálcio sérico inferior a 8,6 mg / dl.
Etiologia
–– Hipoparatiroidismo.
Síndrome de DiGeorge (agenesia do timo e das paratiroides
por falta de diferenciação dos terceiro e quarto arcos bran-
quiais associada a malformações congénitas), síndrome poli-
glandular autoimune de tipo I, hipoparatiroidismo adquirido
(após cirurgia da tiroide ou paratiroide).
–– Hipomagnesemia
Frequente em caso de alcoolismo e desnutrição. Induz resis-
tência à ação da PTH e diminui a sua secreção. Em pacientes Hiperreflexia Sinal de Chvostek
com hipomagnesemia grave, a hipocalcemia não será corrigi-
da sem primeiro normalizar os níveis de magnésio.
–– Má absorção intestinal.
–– Pseudo-hipoparatiroidismo.
Resistência à ação da PTH com aumento dos seus níveis.
–– Hemocromatose e doença de Wilson (por infiltração, respeti-
vamente de ferro e cobre no tecido paratiroideu).
–– Fármacos.
Antiepilépticos, foscarnet, quelantes de cálcio (EDTA, citrato).
Convulsões
–– Hiperfosfatemia aguda.
Insuficiência renal aguda, síndrome de lise tumoral, rabdo- Figura 4. Manifestações clínicas da hipocalcemia.
miólise.
–– Pancreatite aguda.
–– Metástases osteoblásticas. Cancro da próstata e mama. Diagnóstico
–– Alcaloses Hipocalcemia com diminuição de PTH e, frequentemente, hiper-
–– Hipovitaminose D e IRC (associadas ao aumento de PTH). fosfatemia. A hipomagnesemia deve ser excluída.
Corrigir o cálcio através da albumina: é necessário corrigir a
Sinais clínicos calcemia com base nos valores de albuminemia (adicionar 0,8
mg/dl de cálcio para cada g/dl de redução de albuminemia).
Dependendo da rapidez do seu aparecimento, pode ir de assin- Padrão gold standard: medição direta de cálcio ionizado.
tomática até uma eventual emergência médica. Os mais fre-
quentes são os sintomas neuromusculares e neurológicos.
Tratamento
–– Aumento da excitabilidade neuromuscular (tetania). Parestesia
–– Hipocalcemia aguda.
distal e perioral, hiperreflexia, espasmos musculares, sinal de
Gluconato de cálcio ou carbonato de cálcio EV
Trousseau (espasmo carpopodálico: mão de obstetra), sinal
–– Hipocalcemia crónica.
de Chvostek (contração dos músculos faciais quando o nervo
Cálcio oral e 1,25 (OH) 2-vitamina D.
facial é atingido), laringoespasmo.
–– Alongamento do intervalo QT e inversão da onda T.
–– Convulsões. 7.5. Pseudo-hipoparatiroidismo
–– Demência e perturbações extrapiramidais provocadas por cal- Distúrbio hereditário com sinais e sintomas de hipoparatiroidis-
cificação dos gânglios da base. mo, com hipocalcemia e hiperfosfatemia com reduzida fosfatú-
–– Cataratas, calcificações subcutâneas. ria, causado pela resistência periférica à PTH, que se encontra
–– Ansiedade, agitação, até alucinações e psicose franca. elevada.
69
Manual APNA · Endocrinologia
Hipocalcemia
PTH
– Pseudo-hipoparatiroidismo
Vitamina D – Hiperparatiroidismo 2ª a IRC
– Hiperfosfatemia aguda
Défice de Vitamina D
Ineficácia da vitamina D – Défice nutritivo, pouca exposição
– Má absorção intestinal ao sol, alcoolismo
– Raquitismo Vitamina D-dependente – Metabolismo inadequado
tipo 2 (anticonvulsivos, raquitismo
Vitamina D-dependente tipo 1)
Pseudo-hipoparatiroidismo IB
PHT Gs cAMP Ações –– Incapacidade de síntese de cAMP pelo rim após PTH.
–– Nenhuma alteração somática.
–– ↓ Ca, ↑ P, ↑ PTH. Resposta à PTH: não ↑ cAMP, não há fosfa-
túria.
PHP1a PHP1b PHP2
Pseudo-hipoparatiroidismo II
Figura 6. Alterações no pseudo-hipoparatiroidismo. –– Nenhuma resposta fosfatúrica à PTH apesar de se verificar um
aumento cAMP após a infusão de PTH.
Tipos –– Nenhuma alteração somática.
PTH → proteína Gs → cAMP nefrogénico→ eliminação renal de –– ↓ Ca, ↑ P, ↑ PTH. Resposta a PTH: ↑cAMP, não há fosfatúria.
fosfato (fosfatúria) e reabsorção do cálcio.
Pseudo-hipoparatiroidismo
Pseudo-hipoparatiroidismo IA Presença do fenótipo característico sem anomalias bioquímicas
É o mais frequente. (calcemia e fosfatemia normais).
–– Defeito das proteínas Gs. Tratamento
–– Anomalias somáticas.
Osteodistrofia Hereditária de Albright (baixa estatura, fácies Igual ao do hipoparatiroidismo.
arredondada, obesidade, pterígio colli, encurtamento do
(Ver Quadro 3
4º-5º metacarpo).
–– ↓ Ca, ↑ P, ↑ PTH. Resposta à PTH: não ↑ cAMP, não há fosfatúria.
–– Pode estar associado à resistência da tiroide à TSH.
DÉFICE
↑ cAMP RESPOSTA
HIPOCa HIPER P PTH MORFOLOGIA URINÁRIO
PROTEINA G FOSFATÚRICA
APÓS PTH
70
Capítulo 8
Nutrição e obesidade CO
A/B
8.1. Obesidade CO
A Quadro resumo
MD, D, P, T, GD • Normal. • Obesidade grau II.
Definição 18,5-24,9 kg / m2. 35-39,9 kg / m2.
• Excesso de peso grau I. • Obesidade grau III ou severa
Excesso de gordura armazenada no tecido adiposo (nem sem- 25-26,9 kg / m2. ou grave.
pre o excesso de peso é um excesso de gordura). É a doença • Excesso de peso grau II. 40-49,9 kg / m2.
metabólica mais frequente no mundo ocidental. Constitui por 27-29,9 kg / m2. • Obesidade grau IV ou extrema.
si só um fator de risco cardiovascular e está relacionada com • Obesidade grau I. 50 kg / m2.
numerosas complicações, incluindo: 30-34,9 kg / m2.
–– Alterações do metabolismo dos hidratos de carbono.
Hiperinsulinismo com resistência à insulina, intolerância aos
–– Segundo o índice de cintura/coxa.
hidratos de carbono e diabetes mellitus tipo 2.
• Obesidade androide.
–– Hipertensão arterial (HTA). ≥1 em homens e ≥0,9 em mulheres.
–– Dislipidemia. • Obesidade ginoide.
Aumento dos triglicéridos, diminuição de HDL, LDL quantita- <0,95 em homens e <0,8 em mulheres.
tivamente normal, mas qualitativamente alteradas, mais ate-
rogénicas (predomínio do fenótipo b das LDL: pequenas e O risco cardiovascular é maior na obesidade de tipo androide.
densas). Atualmente, mais que o índice cintura/coxa, considera- se o
–– Hipercoagulabilidade. perímetro abdominal como um bom marcador de risco cardio-
Aumento do fibrinogénio e aumento do PAI-1. vascular: risco moderado se> 94 cm nos homens e > 80 cm nas
–– Hiperuricemia. mulheres, risco elevado se> 102 cm nos homens e> 89 cm nas
mulheres.
–– Síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS).
–– Complicações digestivas. –– Segundo a etiologia.
Litíase biliar, refluxo gastroesofágico, esteatose hepática, • Primária (95% dos casos).
colecistite. Etiologia multifatorial. Muitos fatores estão envolvidos,
entre os quais se destaca o papel da leptina.
–– Complicações mecânicas.
• Secundária.
Artroses (no entanto, protege da osteoporose).
Síndrome de Cushing, síndrome de Prader-Willi, síndrome
–– Tumores de Lawrence-Moon-Bardet-Bield, síndrome dos ovários
Cólon e próstata (no homem); ovários, endométrio e mama policísticos, défice de GH, hipotiroidismo, insulinoma, sín-
(em mulheres). dromes hipotalâmicas (tumor, trauma ou lesão).
Transtornos psiquiátricos.
Tratamento
Faz parte da chamada síndrome metabólica, síndrome pluri-
metabólica ou síndrome X. Por todas estas razões, o risco Continuam a existir dois pilares fundamentais que são a dieta e
de aterosclerose (doença cardíaca isquémica, etc.) é muito a atividade física. Devem sempre ser acompanhados por uma
mais elevado nestes pacientes, assim como a sua morbidade/ mudança no estilo de vida para garantir o sucesso terapêutico
mortalidade. As complicações metabólicas estão mais associa- a longo prazo. Uma perda de peso de pelo menos 10% protege
das à gordura visceral do que à gordura subcutânea. A adipo- do ponto de vista do risco cardiovascular (diminuição da morbi-
sidade (ou obesidade abdominal, associada ao aumento da mortalidade e complicações).
gordura visceral, metabolicamente ativa) é inversamente pro-
porcional aos níveis de adiponectina (hormona sintetizada a Dieta hipocalórica (fundamental no tratamento). Equilibrada e
partir do tecido adiposo que aumenta a sensibilidade à insuli- aceite pelo paciente, mantendo a proporção de macronutrientes.
na) e diretamente proporcional à resistência à insulina. É aconselhável diminuir cerca de 500-600 kcal por dia
relativamente à ingestão calórica total anterior. Recomenda-se
Outras complicações associadas à obesidade são o pseudotu-
tomar suplementos vitamínicos se ingerir menos de 1.500 kcal
mor cerebral e, na obesidade infantil, a epifisiólise do fémur e a
/ dia.
idade óssea precoce, além da predisposição à obesidade, diabe-
tes e outros distúrbios metabólicos na vida adulta.
Atividade física
Classificação Recomenda-se a prática de exercícios aeróbicos, adaptando-os
à idade e à forma física do indivíduo.
–– Segundo o índice de massa corporal (IMC) ou índice de O exercício tem inúmeros benefícios: reduz o risco de morbida-
Quetelet, a relação entre o peso corporal (em kg) e o quadra- de cardiovascular, melhora o controle glicémico e a sensibilida-
do da altura (em metros) considera: de à insulina, diminui a pressão arterial, melhora a capacidade
71
Manual APNA · Endocrinologia
pulmonar, ajuda a controlar o peso, diminui o risco de cancro O seu objetivo é obter um estômago menor do que o habitual
do cólon e da mama. Ao mesmo tempo, afeta o perfil lipídico, para induzir a saciedade precocemente. O principal efeito
aumentando os níveis de HDL. colateral é o vómito (se o paciente ingere mais comida do que
Pacientes que iniciam um programa de exercícios intensivos e permite o tamanho do seu estômago). Também se deve avisar
que antes levavam uma vida sedentária devem ser submetidos o paciente para não ingerir líquidos hipercalóricos (eles pas-
a um exame médico para avaliar possíveis riscos, pois, no caso sam rapidamente pelo estômago sem estarem condicionados
de patologia cardíaca o exercício excessivamente intenso pode pela restrição e o paciente ganha peso).
provocar taquiarritmias e enfarte do miocárdio. No entanto, os As técnicas restritivas mais frequentes são a banda gástrica
benefícios decorrentes do exercício excedem estes possíveis ajustável e a gastrectomia tubular. A banda gástrica é colo-
riscos. cada ao redor do estômago e incha graças a um ponto de
acesso subcutâneo permitindo aumentar a restrição gra-
Fármacos dualmente. A gastrectomia tubular é uma técnica que tem
estado muito na moda nos últimos anos e que consiste na
–– Orlistate. conversão do estômago num tubo com capacidade muito
Inibidor da lipase intestinal, o que dificulta a absorção de gor- reduzida.
dura. A esteatorreia é o seu principal efeito colateral.
–– Técnicas malabsortivas
–– Fluoxetina. O seu objetivo é diminuir a porção do intestino pela qual
Indicado na obesidade associada a estados depressivos e passa o alimento. A técnica malabsortiva clássica é o bypass
transtornos obsessivo-compulsivos. jejunoileal. Estas cirurgias são muito eficazes mas têm muitas
–– Naltrexona / Bupropiona. consequências metabólicas, sendo por isso pouco utilizadas
Esta associação demonstrou reduzir o apetite e os "cravings" atualmente.
alimentares, sendo eficaz na perda de peso. –– Técnicas mistas.
–– Liraglutide. As mais utilizadas atualmente. Associam uma componen-
Os análogos de GLP-1 causam saciedade precoce e redução te gastro-restritiva a outro malabsortiva. A técnica principal
do apetite pela sua ação no centro hipotalâmico da fome e é o bypass gastrojejunal. Este último é baseado na cria-
têm sido associados a perdas de peso de até 15% do peso ção de um depósito gástrico de cerca de 30-50 cc que pro-
corporal. O liraglutide foi recentemente aprovado no trata- porciona a componente gastrorestritiva e um Y de Roux
mento da obesidade. que acresce o poder de má absorção. A outra técnica mista
–– Fibra alimentar tem um efeito saciante e deve ser ingerida mais usada é a derivação biliopancreática que tem uma
antes das refeições para diminuir o apetite. componente malabsortiva maior do que o bypass gastroje-
junal.
Cirurgia bariátrica
Lembre-se…
Indicada para pacientes obesos com IMC> 40 kg/m2 ou O padrão gold standard da cirurgia bariátrica atual é o
IMC> 35 kg/m2 com fatores de risco cardiovascular ou com- bypass gastrojenual.
plicações associados, para os quais o tratamento durante
pelo menos um ano com dieta, exercício e fármacos não teve
sucesso. Os pacientes não devem apresentar outras comorbi-
Complicações precoces
dades que diminuam a sua sobrevivência (tumor não tratado)
ou que aumentem excessivamente o risco cirúrgico ou anes- A curto prazo, as complicações são as mesmas de qualquer
tesiológico (hepatopatia grave), além disso, é necessário outra grande cirurgia ao intestino. Contudo, estes pacientes
determinar a ausência de transtornos psiquiátricos. geralmente apresentam comorbidades (DM, HTA ...) que com-
plicam a gestão. As complicações mais frequentes são:
A cirurgia é o único tratamento que demonstrou uma perda
de peso significativa a longo prazo nos pacientes e está asso- –– Hemorragia.
ciada a uma maior sobrevivência. Depois de concluir que o –– Deiscência da anastomose.
paciente pode ser candidato a cirurgia bariátrica deve realizar-se A complicação mais temida, com alta mortalidade. O trata-
um estudo detalhado para decidir qual é a cirurgia a ser realiza- mento deve ser o mais cedo possível.
da. Este estudo inclui a realização de uma gastroscopia que
–– Tromboembolismo pulmonar.
verifica se não há uma patologia ao nível gástrico antes de rea-
O paciente que sofre de obesidade mórbida apresenta um
lizar a intervenção, embora em alguns centros seja realizada
risco de trombose mais elevado, sendo por isso essencial rea-
apenas em pacientes selecionados.
lizar uma adequada profilaxia antitrombótica, a qual se deve
No entanto, as intervenções são muito agressivas e envolvem prolongar mesmo após a alta do paciente.
uma morbi-mortalidade significativa (mortalidade 0.5-1%, mor-
bidade 20-40%) e um índice elevado de consequências a longo
prazo. Complicações a longo prazo
–– Desnutrição.
Lembre-se…
Verifica-se em todos os pacientes em menor ou maior grau.
A indicação para cirurgia bariátrica é determinada com Assim sendo, todos os pacientes que se submeteram a uma
base no IMC> 40, operação cirúrgica bariátrica devem ser considerados como
ou> 35 se houver comorbidades associadas. pacientes crónicos e devem continuar o acompanhamento
com o endocrinologista durante toda a vida. A desnutrição
Técnicas cirúrgicas pode manifestar-se como défice de oligoelementos tais como
o zinco, anemia, hipoproteinemia, etc.
–– Técnicas gastro-restritivas.
72
Capítulo 8 · Nutrição e obesidade
73
Manual APNA · Endocrinologia
74
Capítulo 9
Deficiência e excesso CO
de vitaminas e oligominerais C
D
Definição FATORES
DÉFICE SINAIS CLÍNICOS FACILITADORES
Entende-se por vitamina qualquer composto orgânico essencial
na dieta humana - são indispensáveis à vida e o nosso organismo Alcoolismo,
Cegueira noturna,
é incapaz de os sintetizar autonomamente ou apenas os sintetiza A hiperémese, má absor-
xeroftalmia, depressão
de forma insuficiente. Regra geral, apenas uma pequena quanti- (Retinol) ção de gorduras, des-
imunitária
dade destas substâncias é necessária para suprir as necessidades nutrição, infeções
biológicas. Existem diversas vitaminas e todas elas têm diferentes
Envelhecimento, má
papéis e diferentes graus de reserva biológica.
absorção de gorduras,
São classificadas como lipossolúveis (A, D, E e K) e hidrossolúveis D Raquitismo /
pouca exposição solar,
(todas as restantes). A carência de qualquer vitamina é sempre (Calciferol) Osteomalácia
hiperpigmentação
patológica e as diferentes manifestações clínicas dependem do cutânea
papel de cada uma. A toxicidade por excesso de vitaminas é
muito mais comum com as lipossolúveis; a sobredosagem de Neuropatia periférica,
E Má absorção de
vitaminas hidrossolúveis raramente provoca doença. retinopatia, anemia
(Tocoferol) gorduras
Em caso de necessidade, é possível fazer-se o doseamento des- hemolítica
tas vitaminas ou dos seus metabolitos nos fluidos biológicos. Má absorção de
Hipercoagulabilidade e gorduras, cirrose
K
hemorragias hepática, antibióticos,
Funções dicumarínicos
Beribéri (húmido –
dispneia, edemas; seco
VITAMINA FUNÇÕES BIOLÓGICAS PRINCIPAIS Alcoolismo,
B1 – neuropatia, fraqueza
hiperémese, uso
(Tiamina) muscular, oftalmoplegia,
A Envolvida na função visual, ativação crónico de diuréticos
confusão), encefalopatia
(Retinol) imunológica de Wernicke-Korsakoff
D Essencial no metabolismo fosfocálcico e na
B2 Língua magenta, queilite
(Calciferol) saúde óssea Alcoolismo
(Riboflavina) angular, seborreia
E
Atividade antioxidante Alcoolismo, défice de
(Tocoferol) B3
Pelagra (síndrome 3D: B2, défice de B6,
(niacina,
Envolvida na síntese de fatores da diarreia, dermatite, défice de triptofano
ácido
K coagulação (II, VII, IX, X) e proteínas demência) (pode manifestar-se na
nicotínico)
anticoagulantes (C e S) síndrome carcinoide)
B1 Envolvida no metabolismo de a-cetoácidos e Glossite, afeção do SN
(Tiamina) B6
aminoácidos de cadeia ramificada (neuropatia, depressão, Alcoolismo, isoniazida
(piridoxina)
convulsões)
B2 Envolvida no metabolismo de gorduras,
(Riboflavina) carboidratos e proteínas Anemia megaloblástica
B3 (causa mais comum),
Coenzima em reações B9 Alcoolismo, sulfona-
(niacina, ácido trombocitopenia, leuco-
de oxidação-redução (ácido fólico) midas
nicotínico) penia
Defeitos do tubo neural
B6 Envolvida no metabolismo de aminoácidos,
(piridoxina) conversão de triptofano em niacina Anema megaloblástica, Anemia perniciosa,
B12 neuropatia (degeneração doença do íleo
B9 (cianocoba- medular subaguda com terminal,
Síntese, reparação e metilação de DNA
(ácido fólico) lamina) perda da sensibilidade vegetarianismo estrito,
B12 vibratória e propriocetiva) metformina
Síntese de DNA
(cianocobalamina)
C Escorbuto (doença gengi-
C Atividade antioxidante, absorção de ferro, (ácido val, petéquias, infeções, Alcoolismo, tabagismo
(ácido ascórbico) síntese de colagénio ascórbico) hiperqueratose folicular)
75
Manual APNA · Endocrinologia
FUNÇÕES BIOLÓGICAS
HIPERVITAMINOSE SINAIS CLÍNICOS OLIGOMINERAIS PRINCIPAIS
Ferro Anemia, astenia, pica, coiloníquia Efeitos GIs, lesões orgânicas por sobrecarga de ferro
10.1. Lipoproteínas triglicéridos das VLDL. Através das HDL o colesterol chega ao
fígado, onde é eliminado com a bile.
Estrutura Funções das principais apoproteínas
Núcleo central constituído por triglicéridos (TG) e ésteres de –– As Apo B-100 levam o colesterol do fígado para os tecidos.
colesterol e camada externa formada por fosfolipídios, coleste- É de origem hepática e está presente nas lipoproteínas de
rol não esterificado e apoproteínas. origem hepática (VLDL; IDL; LDL). A captação de LDL por
A síntese do colesterol depende da Acetilcoenzima A, elemento parte dos macrófagos promove a aterogénese.
fundamental do metabolismo dos hidratos de carbono, aminoá- –– A Apo B-48 leva os triglicéridos do intestino para os tecidos.
cidos e ácidos gordos, através da produção de HMG-CoA e, Os triglicéridos são transportados unidos pela Apo B-48 (qui-
seguidamente, do esqualeno. Este elemento é recuperado pela lomicras)e a Apo B-100 (VLDL).
lipólise através da beta- oxidação, via metabólica que causa –– As Apo A retiram o colesterol do plasma (antiaterogénico)
degradação dos ácidos gordos e a libertação da acetilcoenzima levando-o dos tecidos para o fígado.
A. Os fármacos hipolipemiantes agem aumentando a beta- oxi- Uma relação ApoB/ApoA elevada é um fator de risco atero-
dação e, consequentemente, a degradação de ácidos gordos e génico independente.
a produção de acetilcoenzima A. –– As Apo E permitem a captação hepática das lipoproteínas e
encontra-se naquelas que vão para o fígado (quilomicras resi-
duais do intestino, IDL e VLDL do sangue e HDL dos tecidos).
Metabolismo das lipoproteínas As LDLs são livres de Apo-E e são recuperadas pelo fígado
Via exógena através da ligação entre a Apo B-100 e o recetor Apo E / B.
A via exógena transporta os TG da dieta para o tecido adiposo e
o colesterol da dieta para o fígado. Os TG e o colesterol da dieta 10.2. Hiperlipoproteinemia
são incorporados nos quilomicra (QM) que passam através da via
linfática para a circulação geral e trocam apoproteínas com as Conceito
VLDL e HDL, obtendo-se os QM modificados. Os QM modificados
são transformados pela lipoproteína lípase (LPL) do tecido adipo- As hiperlipoproteinemias configuram excessivas concentrações
so e muscular, a qual separa os TG (que permanecem armazena- plasmáticas de colesterol total, triglicéridos ou de ambos. Para
dos nesses tecidos), formando resíduos específicos (núcleo: rico a determinação analítica dos lípidos plasmáticos é importante
em colesterol esterificado que não é solúvel; cobertura: Apo-B48 respeitar um período de jejum de, pelo menos, 12 horas.
e Apo-E), que são degradados pelos hepatócitos.
Classificação fenotípica de Fredickson
Via endógena Na verdade, pouco utilizada no momento (ver Quadro 1 da
próxima página).
A via endógena transporta os TG do fígado para o tecido adiposo
e muscular, o colesterol do fígado para os tecidos periféricos e
Classificação etiológica
restitui parte do colesterol que sobra ao fígado. O TG e o coles-
terol hepático (que derivam da dieta e da conversão do excesso Hiperlipoproteinemias primárias
de hidratos de carbono da dieta) são libertados na circulação
–– Hiperlipidemia combinada familiar (FCHL).
transportados pelas VLDL (que contêm principalmente TG). Estas
• Hereditariedade autossómica dominante.
últimas estão sujeitas à ação da LPL do tecido adiposo e muscular
• Aumento das VLDL e/ou das LDL com três possíveis fenótipos:
descarregando a maior parte dos seus TG e transformando-se em
Hipercolesterolemia (IIa), hipertrigliceridemia (IV) ou hiper-
IDL (núcleo: colesterol e poucos TG; cobertura: Apo-B100 e E). As
colesterolemia + hipertrigliceridemia (IIb). O fenótipo de um
IDL cedem totalmente os TG transformando-se em LDL (núcleo:
mesmo indivíduo pode variar ao longo do tempo.
colesterol; cobertura: B100), que transportam o colesterol para os
• Sinais clínicos.
tecidos. Uma parte das LDL são captadas pelo fígado (captação
Aparecimento na 2ª década de aterosclerose prematura,
mediada pelo recetor da ApoB-100) depositando o excesso de
xantelasma e arco corneal. Associação frequente com a
colesterol e uma outra parte sendo oxidada pela passagem atra-
obesidade, resistência à insulina e a diabetes mellitus (sín-
vés dos tecidos e captada pelo sistema mononuclear fagocitário
drome metabólica).
constituindo a base da placa de ateroma.
• Diagnóstico
Hiperlipoproteinemia (fenótipos IIa, IIb e / ou IV) e deteção
Via inversa de anomalias lipídicas múltiplas em 50% dos familiares de
A via inversa transporta o colesterol remanescente dos tecidos primeiro grau. Para o diagnóstico são necessárias, pelo
periféricos para o fígado para ser eliminado através da via biliar. menos, de três gerações envolvidas.
Na sua passagem através dos tecidos a LCAT (leticina colesterol • Tratamento.
aciltransferase) transporta o colesterol dos tecidos para o núcleo Tem como alvo o lípido predominante no momento do
de HDL e a CETP ( proteína de transferência dos ésteres do coles- estudo.
terol) medeia a troca dos ésteres do colesterol das HDL com os (ver Quadro 2 da próxima página).
77
Manual APNA · Endocrinologia
Leitoso Anel
I QM N ou ↓ ↑↑↑↑ Nenhuma
sobrenadante
IV VLDL N ou ↓ ↑↑ Turvo +
Turvo
V QM e VLDL ↑↑↑ ↑↑↑↑ +
Anel sobrenadante
Quadro 1. Hiperlipoproteinemia.
PREVALÊNCIA NOS
FAMILIARES Sim Sim Não
DE PRIMEIRO GRAU
78
Capítulo 10 · Dislipidemias e distúrbios do metabolismo das lipoproteínas
xantomas planos cutâneos desde o nascimento, nas zonas O índice do tornozelo-braço (ABI, Ankle-Brachial Index)
expostas. revela uma doença subclínica (arteriopatia periférica no
• Diagnóstico paciente assintomático) e mesmo não sendo tecnicamente
Fenótipo IIa e anamnese em 50% dos familiares de primei- uma lesão de órgão geralmente na prática clínica conside-
ro grau. Estudo genético. ra-se como tal.
• Tratamento. –– Equivalente a risco cardiovascular.
Em heterozigotos, dieta e estatinas +/- resinas. Nos homo- Patologias que em si pressupõem um risco cardiovascular
zigotos pode experimentar-se o tratamento com LDL aferé- semelhante ao de ter tido um EAM anterior:
se, anastomose porto-cava e transplante hepático. • EAM prévio, ou revascularização coronária ou morte súbita
–– Hipercolesterolemia poligénica. ressuscitada.
• Herança poligénica, com defeito desconhecido. • AVC ou AIT (Transient Ischemic Attack, acidente isquémico
• É a hiperlipidemia primária mais frequente. transitório) aterotrombóticos, ou estenose carotídea sinto-
• Sinais clínicos mática > 50%.
Risco elevado de aterosclerose coronária e cerebral, mani- • Aneurisma da aorta abdominal. Doença arterial periférica
festando-se a partir da sexta década. ABI <90%.
• Diagnóstico • DM (quando associada a lesão de órgão).
Fenótipo IIa (LDL entre 260-350 mg / dl). • IRC moderada ou grave (TFG <60 ml / min).
• Diagnóstico diferencial com outras formas de hipercoles-
terolemia. Objetivos de controlo
Envolvimento de 10% dos familiares de primeiro grau
(50% nas outras duas) ausência de xantomas tendinosos O controle do risco cardiovascular deve ser multifatorial. É inútil
(presentes na hipercolesterolemia familiar). otimizar um único fator de risco cardiovascular (FRCV) se os
• Tratamento. outros continuarem sem controlo. É fundamental deixar de
Dieta e estatinas. fumar, atingir o peso ideal, praticar exercício físico e o controlo
da PA, DM e das dislipidemias.
Hiperlipoproteinemia secundária Dentro das dislipidemias, o principal FRCV é o colesterol LDL no
–– Hipercolesterolemia. qual se concentra o tratamento, já que o objetivo é fixado em
Hipotiroidismo, anorexia nervosa, síndrome nefrótica. relação ao risco cardiovascular do paciente. Os objetivos de TG,
–– Hipertrigliceridemia. HDL e colesterol não-HDL são iguais para todos os grupos: TG
DM (tipo 1 mal controlado ou tipo 2 mesmo com um bom <150 mg/dl; HDL> 40 mg / dL homens e> 48 mg /dL mulheres;
controlo), obesidade e síndrome metabólica, alcoolismo, uso objetivo do colesterol não-HDL = objetivo LDL + 30 mg/dl.
de fármacos anti-retrovirais (lipodistrofia), contracetivos orais, Para estabelecer o objetivo de controlo do colesterol LDL exis-
insuficiência renal crónica. tem várias linhas diretrizes, tanto norte-americanas quanto
–– Hiperlipidemias mistas. europeias, cujas indicações se sobrepõem substancialmente.
Contracetivos orais, alcoolismo, hipotiroidismo, síndrome
nefrótica, síndrome de Cushing. (ver Quadro 4 da próxima página)
A mais frequente é aquela associada ao DM-2 (hipertrigliceride-
mia com aumento de VLDL, diminuição de HDL e LDL pequenas PACIENTES COM - <75 anos: terapia de alta intensidade.
e densas). No caso de um aumento de TG e LDL no paciente DISTÚRBIO - >75 anos: continuar se já estava sob tera-
diabético, a prioridade do tratamento deve concentrar-se no CARDIOVASCOLAR pêutica. Intensidade moderada.
controle da fração LDL, exceto nos casos em que temos TG>
500, em que o risco de pancreatite é elevado e uma prioridade LDL >190 MG/DL - Terapia de alta intensidade.
no tratamento. OU - Avaliar a associação de outros medica-
TG >500 MG/DL mentos se persistir >190 mg/dl.
Estratificação do risco cardiovascular
DIABÉTICOS ENTRE - Terapia de alta intensidade ou moderada.
No estudo e tratamento do risco cardiovascular é necessário 40-75 ANOS COM - Intensidade elevada se RCV >7,5%.
distinguir três situações: LDL 70-190 MG/DL - <40 anos ou >75 anos: personalizar.
–– Fator de risco.
Circunstância que aumenta o risco de um episódio cardiovas- - RCV >7,5%: iniciar terapia de intensidade
cular. Dividem-se em não alteráveis (sexo, idade, anamnese LDL ENTRE moderada a alta.
familiar) e alteráveis (tabagismo, HTA, DM, dislipidemia ...) 70-190 MG/DL NÃO - RCV 5-7,5%: avaliar o benefício intensi-
(Estuda-se em Cardiologia e Cirurgia Vascular) DIABÉTICOS E SEM dade moderada.
–– Lesão de órgão. DCV - RCV <5%: avaliar outros factores de risco
Não constitui patologia em si, mas revela um dano visceral para identificar um tratamento personali-
causado pela exposição a fatores de risco. A sua presença zado para cada doente.
aumenta o risco de episódios cardiovasculares. São evidentes
quatro localizações: RCV = risco cardiovascular.
• Retinopatia, no fundo do olho. Intensidade alta = rosuvastatina ou atorvastatina em doses elevadas.
Intensidade moderada = rosuvastatina ou atorvastatina em dosagem baixa, o
• Nefropatia, com microalbuminúria e avaliação da filtração
resto das estatinas com dosagem alta. Não se aconselha doses altas de sinvas-
renal. tatina (máximo 40 mg / dia) devido à elevada incidência de efeitos adversos.
• Hipertrofia miocárdica, com o ecocardiograma.
• Dano endotelial, com espessamento médio-intimal Quadro 3. Indicações de tratamento com estatinas de acordo com as diretrizes ame-
(IMT,intima-media thickness) da carótida. ricanas do College of Cardiology / American Heart Association (ACC/AHA) de 2013.
79
Manual APNA · Endocrinologia
MUDANÇA DE ESTILO DE
DEFINIÇÃO OBJETIVO LDL
VIDA**
O SCORE quantifica o risco de um episódio vascular fatal em 10 anos. Existem Quadros para países de alto e baixo risco.
DCV = doença cardiovascular confirmada, ou equivalente de risco cardiovascular.
** Se após 3-6 meses de mudança de estilo de vida não se atinge o valor de LDL, avaliar o início da terapia medicamentosa.
Tratamento –– Contraindicações
Insuficiência renal crónica, insuficiência hepática, crian-
–– Medidas higieno-dietéticas. ças, gravidez.
São sempre as primeiras medidas a serem tomadas e devem • Resinas (colestiramina, colestipol).
ser mantidas mesmo se, de seguida, se utilizarem fármacos. –– Mecanismo de ação.
se utilizam fármacos. Diminuem a absorção de colesterol, bloqueando a circu-
• Calorias necessárias para manter ou atingir o normopeso. lação enterohepática de colesterol e ácidos biliares.
• Gorduras. –– Efeitos.
<35% da dieta (saturada <10%, poliinsaturadas Diminuição de LDL. Podem fazer com que aumente os
<10%, o restante de monoinsaturadas). TG. Não modificam os HDL.
• Colesterol. –– Indicações
<300 mg/dia na prevenção e <200 mg/dia no tratamento. Na hipercolesterolemia pura (fenótipo IIa). Podem ser
• Atividade física (reduz a glicemia e a PA). administradas sozinhas (pouco potentes) ou associadas a
• Controle de fatores de risco cardiovascular: tabaco, HTA, etc. estatinas. Partindo do pressuposto de que não são absor-
–– Eliminar causas secundárias (mau controle da diabetes vidas, são o fármaco de primeira linha no tratamento da
mellitus, obesidade, hipotiroidismo, álcool). hipercolesterolemia em crianças.
–– Fármacos –– Efeitos colaterais.
Se a alteração lipídica persistir após 3-6 meses de medidas Dispepsia. A administração de outros medicamentos
higieno-dietéticas. deve ter um intervalo de várias horas depois da toma das
• Fibratos (gemfibrozil, fenofibrato, bezafibrato). resinas.
–– Mecanismo de ação. • Estatinas (sinvastatina, atorvastatina, rosuvastatina, pra-
Aumento da atividade da lipoproteinolipase. vastatina, lovastatina, fluvastatina).
–– Efeitos. –– Mecanismo de ação.
Diminuição de VLDL e TG, aumento de HDL. Efeito variá- Inibição da HMG-CoA redutase, aumentando o número
vel na LDL. de receptores de LDL.
–– Indicações –– Efeitos.
Nas hipertrigliceridemias e nas dislipidemias mistas nas Diminuição de LDL com ligeiro aumento de HDL e dimi-
quais predomina a hipertrigliceridemia (fenótipos IIb, III, nuição leve de TG (a atorvastatina é a que diminui mais
IV e V). os TG). Foi demonstrado que diminuem a mortalidade
–– Efeitos colaterais. total, a mortalidade coronária e cerebrovascular, tanto na
Distúrbios digestivos, erupções cutâneas, colelitíase, rab- prevenção primária como na secundária. A estatina mais
domiólise (na insuficiência renal crónica e, acima de tudo, potente é hoje a rosuvastatina, superior à atorvastatina
quando associados às estatinas). (a segunda mais potente).
80
Capítulo 10 · Dislipidemias e distúrbios do metabolismo das lipoproteínas
Estatina + ezetimiba
HIPERCOLESTEROLEMIA Estatina Resina ou ezetimiba
Estatina + resina
Ácidos gordos
HIPERTRIGLICERIDEMIA Fibrato Fenofibrato + estatina
omega-3 ou estatina
81
Capítulo 11
Síndrome metabólica CC
Lembre-se…
O LDL elevado não é um critério para determinar a síndrome
metabólica
82
Capítulo 12
Osteoporose. Doença de Paget CO
e outras displasias ósseas A/C
83
Manual APNA · Endocrinologia
84
Capítulo 12 · Osteoporose. Doença de Paget e outras displasias ósseas
12.2. Osteomalacia-raquitismo CO
C Figura 1. Osteomalacia: linhas de pseudofratura Looser-Milkman.
D
Trata-se de um distúrbio caracterizado pela diminuição da minera-
lização óssea, com matriz óssea normal. O raquitismo consiste no
mesmo processo, mas em crianças. (estuda-se em Pediatria). Diagnóstico diferencial
–– Fraqueza muscular
Etiologia Miopatias.
Défice de vitamina D –– Quadros com dor óssea.
Metástases ósseas.
É a causa mais frequente de osteomalacia. Deve-se a: –– Hipocalcemia
–– Fatores intrínsecos. Hipoparatiroidismo.
Défice de aporte (a causa mais frequente), exposição inade- –– Fosfatase alcalina elevada.
quada à luz solar, má absorção intestinal, incluindo doença Hepatopatias (devido a lesão hepática), outras osteopatias
hepatobiliar e insuficiência pancreática crónica. (doença de Paget).
–– Alterações metabólicas
(Ver Quadro 1 da próxima página)
Alterações hepáticas (défice de hidroxilação na posição 25),
insuficiência renal (défice de hidroxilação na posição 1), toma
Tratamento
de antiepilépticos (que transformam o colecalciferol num
metabólito inativo) e duas patologias hereditárias: Destina-se a compensar o défice de vitamina D; em geral há
• Raquitismo hereditário de vitamina D dependente de tipo I, uma boa resposta, especialmente na forma carencial (as altera-
devido a défice de hidroxilação renal (1α-hidroxilase). ções musculares são as primeiras a melhorar, as últimas são as
• Raquitismo hereditário de vitamina D dependente de tipo ósseas).
II, devido à alteração do recetor da vitamina D. –– Défice de vitamina D (carência).
Vitamina D2 (ergocalciferol) ou vitamina D3 (colecalciferol)
Hipofosfatemia oral, com adição de cálcio.
Pode ser causada por um défice no aporte (abuso de antiácidos –– Má absorção intestinal.
à base de alumínio) ou por perda renal (raquitismo hipofosfaté- Vitamina D (50.000-100.000 UI por semana) e cálcio em
mico vitamina D resistente ligado ao cromossoma X, acidose grandes quantidades (4 g de carbonato de cálcio).
tubular renal de tipo I, síndrome de Fanconi).
–– Insuficiência renal crónica.
Calcitriol (0,25 μg / dia) - Hipofosfatemia (osteomalacia resis-
Quadro clínico tente à vitamina D).
Na osteomalacia surge uma dor esquelética difusa (sintoma Fósforo (1-4 g/d) mais calcitriol (0,2 μg/dia).
mais frequente) e uma hiperestesia óssea, acompanhadas de –– Terapia anticonvulsivante.
fraqueza muscular predominantemente proximal. As deformi- Vitamina D (1.000 UI/dia).
dades ósseas são geralmente menos percetíveis do que no caso
anterior. Ao nível do raio X há uma diminuição na densidade
12.3. Doença de Paget CO
óssea e uma estrutura trabecular indistinta (imagem de vidro C
fosco); são características as pseudofraturas de Looser- D
Milkman (linhas radiotransparentes perpendiculares ao córtex). Trata-se de uma doença do tecido ósseo tipicamente focal,
O diagnóstico definitivo é confirmado por biópsia óssea caracterizada por uma anormalidade na remodelação óssea,
(aumento da espessura do tecido osteóide, com um atraso no que se torna excessiva e anárquica, e por uma estrutura anormal
tempo de mineralização superior a 100 dias, detetado através (medula óssea fibrosa, trabéculas ásperas e osso lamelar desor-
da marcação do osso pela tetraciclina). ganizado com imagem em mosaico).
85
Manual APNA · Endocrinologia
–– 25(OH)D ↓
DÉFICE DE VIT. D N/↓ N/↓ ↑ –– 1,25(OH)D2 normal,↓ ou ↑
–– PTH ↑ (hiperparatiroidismo
secundário)
ALTERAÇÕES TUBULARES –– PTH NORMAL
N ↓ N
RENAIS
–– 25(OH)D normal
IRC ↓ ↑ ↑ –– 1,25(OH)D2 ↓
–– PTH ↑ (hiperparatiroidismo
secundário)
HEPATOPATIA OU –– 25(OH)D ↓
OBSTRUÇÃO BILIAR ↓ ↓ ↑
EXTRA-HEPÁTICA
Quadro clínico
A maioria dos pacientes permanecem assintomáticos, pelo
que o diagnóstico geralmente deriva de uma descoberta aci-
dental. A dor óssea espontânea, não relacionada com os
movimentos, é o sintoma clínico mais frequente. Outros sinais
clínicos são o aumento do tamanho do crânio (crânio pagé-
tico), cefaleia, aumento localizado da temperatura devido ao
aumento da rede vascular e o aparecimento de deformidades
típicas, como a tíbia em sabre e o fémur em cajado de pastor.
Podem ser encontradas estrias angioides na retina.
Figura 2. Crânio pagético com zonas de osteoporose circunscrita.
Entre as complicações destacamos:
–– Hipoacusia (devido ao envolvimento dos ossos da audição
ou compressão do VIII par dos nervos cranianos).
–– Compressão nervosa, especialmente intercostal.
–– Aumento do débito cardíaco devido ao aumento da vasculari-
zação e das fístulas arteriovenosas dos ossos, que pode provo-
car insuficiência cardíaca de alto débito e estenose aórtica.
–– Complicações neurológicas devido ao crescimento ósseo ao
nível da base do crânio.
–– Aumento da frequência de litíase urinária devido ao aumento
da calciúria (raramente há hipercalcemia), hiperuricemia e gota.
–– Fraturas patológicas.
–– Anemia de compressão medular.
–– Sarcoma (1% dos casos).
É a complicação mais grave. Trata-se da principal causa de
sarcoma ósseo no adulto. Clinicamente, deve ter-se em con-
sideração na presença de um aumento de dor e de tumefação
em conjunto com um aumento exagerado nos níveis de fos-
fatase alcalina.
Diagnóstico
- Alterações radiográficas.
A pélvis é a estrutura mais afetada, seguida do fémur, crânio,
tíbia, coluna lombo-sagrada, clavículas, costelas ... Existem
duas fases: Figura 3. Tíbia em sabre. A imagem à direita mostra uma varredura óssea com
a extensão da doença.
86
Capítulo 12 · Osteoporose. Doença de Paget e outras displasias ósseas
• Lítica Tratamento
Osteoporose circunscrita.
Na maioria dos casos não requer tratamento, já que a doen-
• Esclerótica.
ça é geralmente localizada e assintomática.
Aumento da densidade óssea mais frequentemente a cargo
dos ossos faciais e das vértebras (vértebra em marfim ou São tratados os pacientes sintomáticos (dor óssea persistente,
com aparência de moldura de quadro), com ampliação compressão nervosa, fraturas repetidas, insuficiência cardíaca
óssea (devido ao aumento do osso cortical subperiosteal). ...), e entre aqueles assintomáticos as indicações para tratamen-
to são as seguintes:
–– Análises laboratoriais
O hemograma e a VS não estão alterados. Pode ser encontra- –– Comprometimento vertebral, dos ossos longos e base do crâ-
da calciúria, mas só raramente hipercalcemia. Os parâmetros nio.
bioquímicos de formação (fosfatase alcalina, osteocalcina, –– Lesões líticas.
pró-colágeno) e reabsorção óssea (fosfatase ácida, piridinoli-
na, deoxipiridinolina e hidroxiprolina) estão geralmente eleva- –– Pacientes jovens com envolvimento articular.
dos. –– Prevenção de artropatia.
–– TAC.
O tratamento de eleição consiste em bifosfonatos, mas a cal-
–– Biópsia óssea (diagnóstico diferencial, se houver suspeita de citonina também é usada.
eventual presença de um sarcoma).
–– Cintigrafia óssea com bifosfonatos marcados com Tc- 99
para determinar a extensão da doença, pode ser usada tam- Lembre-se…
bém na avaliação inicial da doença. A doença de Paget geralmente ocorre de forma assintomática. É a
causa mais frequente de aumento da fosfatase alcalina nos idosos.
lsso faz com que em muitos pacientes assintomáticos seja
diagnosticada durante as consultas de rotina, detetando-se
aumento de fosfatase alcalina.
A bacia é o osso mais afetado em Paget.
A doença de Paget pode causar estenose aórtica (ao contrário de
outras doenças reumáticas associadas à insuficiência aórtica).
87
Capítulo 13
Abordagem ao doente CO
C
com disfunção sexual
D
Medicações (e.g.
Outros: trauma local, cirurgia
Classificação antiestrogénicos, antagonistas
genital, irradiação pélvica,
da GnRH, antiandrogénicos,
É possível classificar a disfunção sexual feminina segundo a sua insuficiência renal e hepática,
bloqueadores dos canais de
etiologia em 4 grandes áreas, não mutuamente exclusivas. Para etilismo, tabagismo
cálcio, antidepressivos)
se poder considerar que se trata de uma verdadeira situação de
disfunção sexual, qualquer uma das áreas a seguir enumeradas
Quadro 1. Principais fatores de risco para a disfunção sexual femi-
tem de estar obrigatoriamente associada a uma sensação de
nina.
“mal-estar”/insatisfação na mulher:
–– Desejo Sexual Hipoativo – Ausência persistente ou recor-
rente de pensamentos sexuais e/ou recetividade a atividade
sexual. Pode ter uma causa endocrinológica, psicológica ou
emocional. Abordagem à doente
–– Perturbação da Excitação Sexual – Inabilidade persistente
ou recorrente para atingir ou manter excitação sexual. História clínica
–– Perturbação do Orgasmo – Perda persistente ou recorrente Interrogar hábitos medicamentosos; antecedentes médicos,
da capacidade de atingir o orgasmo após suficiente estimula- cirúrgicos, psicológicos, obstétricos, ginecológicos; história
ção sexual e excitação. sexual e contexto social. Atentar nas principais doenças que
–– Perturbação de Dor Sexual – Dor genital persistente ou podem cursar com disfunção sexual – diabetes (vasculopatia,
recorrente que inviabiliza o coito. Inclui o vaginismo e a dis- neuropatia), doença cardiovascular, doenças ginecológicas,
pareunia. depressão, ansiedade, doenças neurológicas.
88
Capítulo 14
CO
Tumores neuroendócrinos C
D
Diagnóstico
14.2. Insulinoma
–– Aumento dos níveis de glucagon basal (geralmente> 1.000
ng / l).
É um tumor derivado das células beta do pâncreas que secre-
tam insulina. Nas crianças deve-se distinguir da nesidioblasto- –– Localização. TC ou RM abdominal, cintigrafia com octreótido
se. Em geral é pequeno e único (no MEN 1 tendem a ser múl- (octresocan), eco-endoscopia, PET com Gálio 68 Dotatoc,
tiplos), está localizado no pâncreas e apresenta um arteriografia ...
comportamento indolente (crescimento lento e sem metásta-
ses ao diagnóstico). Um dado a favor de malignidade é a inva- Tratamento
são da veia mesentérica inferior.
A cirurgia é curativa nas formas localizadas. Na doença metás-
Sinais clínicos tica, o octreótido melhora os sintomas (especialmente a derma-
tite), quimioterapia ou quimioembolização. A dermatite pode
–– Hipoglicemia em jejum, com prevalência de sintomas neuro- melhorar com zinco e aminoácidos.
glicopénicos.
–– Aumento de peso devido ao hiperinsulinismo crónico e
aumento da ingestão de glicose para evitar hipoglicemia. 14.4. Somatostatinoma
Derivado de células δ pancreáticas e produz somatostatina. Ten-
Diagnóstico dencialmente é único, grande e apresenta-se com metástases
hepáticas no diagnóstico. Geralmente é pancreático podendo
–– Exame de jejum (72 horas). também localizar-se no intestino delgado.
O diagnóstico é confirmado se houver altos níveis de insulina
plasmática em relação à glicemia (glicose <45 mg / dl com
sintomas de hipoglicemia, relação insulina / glicemia> 0,3). Sinais clínicos
–– Localização (difícil dado o seu pequeno tamanho). A somatostatina é um potente inibidor da secreção hormonal e
TC ou RM abdominal, arteriografia seletiva, amostra venosa pode provocar diabetes adquirida, ainda que ligeira, devido ao
portal trans-hepática, ecografia endoscópica ou intraoperató- efeito inibitório da somatostatina quer na insulina quer no gluca-
ria (exame mais sensível). gon. A estase biliar, secundária à inibição da vesícula biliar, é
responsável por litiase biliar. A motilidade biliar e intestinal altera-
da associada à reduzida secreção pancreática são responsáveis
Tratamento
pela diarreia e esteatorreia. Também pode manifestar-se com
–– Cirúrgico anemia hipocrómica, perda de peso e hipocloridria.
A remoção do tumor é o tratamento de eleição. Se o tumor A tríade clássica de diabetes / colelitíase / diarreia- esteatorreia
não for encontrado pode ser ponderada pancreatectomia pode, no entanto, ser acrescida também por outras manifesta-
parcial. ções clínicas, secundárias à desregulação de outras hormonas.
89
Manual APNA · Endocrinologia
Localização
90
Capítulo 14 · Tumores neuroendócrinos
Células δ
Células ß Células α Células δ
ORIGEM E 40%extra-pancreátios (2ª
Corpo e cauda do pâncreas Corpo e cauda do pâncreas 10-15% intestinal
LOCALIZAÇÃO loc.Intestino delgado) Tumor
10% são múltiplos Tumor único Tumor único
único
Lembre-se…
Entre os tumores neuroendócrinos do pâncreas,o insulinoma é
geralmente pequeno e benigno («insulinoma é insípido»);
enquanto todos os outros são geralmente malignos e grandes (e
também tumores únicos).
Esses tumores podem secretar vários peptídeos simultaneamente,
mesmo que alguns deles não sejam ativos.
Os tumores neuroendócrinos pancreáticos podem estar associados
à MEN 1 (juntamente com adenomas hipofisários e
hiperparatiroidismo).
O tumor carcinoide não se localiza no pâncreas e raramente está
associado a MEN 1. Não se deve confundir a síndrome carcinoide
(rubor, diarreia, broncoespasmo e valvulopatia direita, derivados
serotoninérgicos na urina) com o feocromocitoma (sudorese,
palpitações, cefaleia e hipertensão, derivados catecolaminérgicos
na urina).
91
Capítulo 15
Distúrbios endócrinos múltiplos CC
Distúrbios genéticos nos quais aparecem neoplasias em vários - Carcinoma medular da tiroide (CMT) (90-100%).
órgãos endócrinos, causando síndromes de hipersecreção hor- É sempre a primeira manifestação. Geralmente é multicêntri-
monal. co e bilateral. Costuma manifestar-se na infância. Existe uma
progressão histológica de hiperplasia para CMT. É menos
–– MEN 1 ou síndrome de Wermer.
agressivo do que o esporádico. Antes da cirurgia, é necessário
Tumores da paratiroide, pâncreas e hipófise.
excluir feocromocitoma.
–– MEN 2
–– Feocromocitoma (50%).
Carcinoma medular da tiroide, feocromocitoma e tumores da
Quase sempre intra-supra-renal, com uma predominância de
paratiroide.
secreção de adrenalina relativamente à noradrenalina (fre-
• MEN 2A.
quentemente com ausência de hipertensão arterial). O trata-
Com fenótipo normal.
mento cirúrgico consiste em adrenalectomia unilateral ou
• MEN 2B.
imediatamente bilateral (os tumores unilaterais diagnostica-
Com ganglioneuromas e hábito marfanoide.
dos têm uma probabilidade de 50% de reincidência contrala-
Características teral nos próximos 10 anos).
–– As células envolvidas pertencem ao sistema neuro- endócrino –– Hiperparatiroidismo (20-30%). Geralmente é por hiperplasia.
difuso.
Derivam da crista neural e produzem peptídeos e aminas
endógenas.
–– Progressão histológica.
Hiperplasia → adenoma ou carcinoma.
–– Multicêntricos
Reincidência após a cirurgia. Herança autossómica domi-
nante.
92
Capítulo 15 · Distúrbios endócrinos múltiplos
–– A presença de oncogene RET nos leucócitos de um CMT teo- para a doença e o seu aparecimento ocorre na idade adulta. Tam-
ricamente esporádico converte-o num CMT familiar e obriga bém são mais frequentes no sexo feminino e são mais difundidas,
a fazer despiste individual de feocromocitoma e despiste em particular a SPA tipo III, que é a mais comum.
familiar de MEN 2 e CMTF.
–– Estudo genético familiar. SPA tipo I (ou síndrome de Withacker)
Estudo genético para a identificação do proto-oncogene RET Candidíase mucocutânea (90%), hipoparatiroidismo
no sangue periférico. Está indicado em parentes de primeiro (82%), Doença de Addison (67%), Diabetes Mellitus
grau de MEN 2-A, 2-B ou CMTF. Nos filhos de MEN 2-B, deve (52%). Outras possíveis patologias auto-imunes que podem ser
ser realizado o mesmo, mesmo que não apresentem o fenó- associadas: alopécia (32%), má absorção por enteropatia autoi-
tipo. A ausência de oncogene RET nos descendentes de um mune (22%), hipogonadismo (15-60%), patologia tiroideia
caso de MEN 2 exclui a transmissão da doença, enquanto que (15%), anemia perniciosa (13%), vitiligo (9%), Insuficiência
a sua presença obriga a rastrear CMT e feocromocitoma. Ovárica Primária, queratite bilateral, hepatite por AI, pneumonia
A atitude a ter com os portadores do proto-oncogene RET: por AI, nefrite por AI, pancreatite por AI e asplenia funcional AI.
Candidíase mucocutânea, hipoparatiroidismo e a doença de
–– Prevenção de CMT.
Addison geralmente aparecem nesta ordem cronológica e estão
Não se deve aguardar pela progressão, é aconselhável realizar
quase sempre presentes. No entanto, a presença de dois dos
tiroidectomia profilática total após 5 anos (antes realizava-se
três é suficiente para o diagnóstico ou mesmo apenas uma em
apenas no caso de MEN 2-B), excluindo primeiro feocromocito-
caso de história familiar de SPA.
ma e CMT ativo. A tiroidectomia profilática depois de descartar
o CMT ativo tem taxas de cura de 95-100%. Nem todas as
SPA tipo II (ou síndrome de Schmidt)
mutações RET são indicações para cirurgia profilática imediata.
As mutações do exão 10 e 11 (as mais frequentes, especialmen- Doença de Addison (100%), patologia tiroideia (69%),
te a c634 do exão 10, responsável por 95% das síndromes de Diabetes Mellitus (pode existir ou não).
MEN 2) e da 13 e 16 têm penetrância total para o CMT (mas Outras possíveis doenças auto-imunes que podem ser associa-
apenas 25-50% para feocromocitoma), todos os pacientes aca- das são: Hipogonadismo (5%), vitiligo (5%), miastenia gravis
bam por desenvolver a doença e de forma precoce e, por essa (1-5%), Anemia perniciosa (1%), doença celíaca, alopécia e
razão, operam-se precocemente. Pelo contrário, as mutações do insuficiência ovárica primária (IOP).
exão 14 e 15 estão associadas ao CMTF (não a MEN2) e têm um A insuficiência adrenal está sempre presente e frequentemente
penetrância incompleta, recomendando-se, portanto, despista- constitui o quadro clínico do aparecimento, mesmo que a
gem biológica do CMT com exame de calcitonina / pentagastri- ordem cronológica de aparecimento seja mais variável relativa-
na e operação mais tardia, após 20 anos. mente à SPA de tipo I.
–– Realização do despiste de feocromocitoma. Controle de cate- A doença tiroideia pode manifestar-se como doença de Base-
colaminas urinárias uma vez por ano. dow ou como tireoidite linfocítica crónica de Hashimoto. Está
–– Despiste de hiperparatiroidismo. relacionada com o sistema HLA.
Controle de calcemia duas vezes por ano durante toda a vida,
se MEN 2-A. SPA tipo III
Em famílias com hereditariedade comprovada de CMT, nas Doenças AI da tiroide (100%) associadas a outras mani-
quais a mutação do proto-oncogene RET não foi encontra- festações não incluídas nos quadros anteriores.
da, deve realizar-se o despiste de CMT através do doseamento É a SPA mais frequente e caracteriza-se pela associação entre
de calcitonina após estimulação com pentagastrina (uma vez uma doença autoimune da tiróide e outras doenças autoimunes
por ano). de órgão específicas com a exclusão da doença de Addison.
Subclassificação:
93
Manual APNA · Endocrinologia
por história familiar ou por razões clínicas, é necessário realizar No entanto, embora teoricamente uma doença autoimune se
um exame genético. possa associar com qualquer outra doença autoimune, devemos
pensar que existem combinações preferenciais.
Clínica
Terapia
Os sintomas das várias SPAs estão intimamente ligados às endo-
crinopatias que as caracterizam, além de se poderem dever a Atualmente, a abordagem terapêutica é sintomática para cada
outras doenças endócrinas autoimunes associadas (hipogona- endocrinopatia (geralmente consiste na reposição da hormona
dismo primário, hipofisite autoimune, POF, etc.). Também é fre- secretada pela glândula danificada) e a monitorização dos sin-
quente a associação com patologias autoimunes órgão-especí- tomas é essencial. Em particular, em pacientes com insuficiência
ficas não endócrinas (vitiligo, alopécia, doença celíaca, gastrite adrenal auto-imune, recomenda-se repetir a triagem para doen-
atrófica crónica, hepatite autoimune, etc.). Portanto, é impor- ças da tiroide e diabetes a cada 5 anos, porque 50% deles sub-
tante suspeitar de uma síndrome autoimune poliendócrina tam- sequentemente desenvolvem uma SPA tipo II.
bém na presença de qualquer associação entre estas doenças.
94
Valores normais em endocrinologia
Em endocrinologia é mais importante conhecer os valores limite Não é necessário conhecer as unidades de medida, com exceção
de diagnóstico hormonal relativamente aos valores normais. daquelas especificadas.
Cateterismo seios petrosos positivo (hipofisário) Relação >2 (>3 com CRH)
IMC
Baixo <18,5
Normal 18,5-24,9
Sobrepeso I/II 25-26,9 / 27-29,9
Obesidade I/II 30-34,9 / 35-39,9
Obesidade III/IV 40-49,9 / >50
95
Bibliografia
96
NOTAS
NOTAS