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Os manuais da Academia APNA são uma compilação destinada ao estudo

e preparação da Prova Nacional de Acesso (PNA). Cobrem todo o conteúdo


necessário para o exame, adaptando-se anualmente ao programa oficial.
O objetivo é integrar todas as informações do currículo, evitando o desper-
dício de tempo na procura e compilação de referências bibliográficas. Da
mesma forma, este material exclusivo para a preparação da prova permite
um estudo mais eficiente, pois:

• Evita a duplicação de informações entre vários temas. Como tal, cada


tópico aparece apenas num manual, mesmo que faça parte do conteúdo
de várias especialidades, integrando a perspetiva geral de todas elas.
• Unifica os tópicos relacionados em títulos mais extensos para facilitar o
estudo e reduzir o tempo dedicado a cada um deles. Por esse motivo,
alguns assuntos da lista oficial podem aparecer com diferentes títulos nos
manuais.
• União de cadeiras médicas e cirúrgicas, favorecendo um estudo mais
rápido e integrativo de diversas patologias.
• O conteúdo é realizado e desenvolvido proporcionalmente à importância
do assunto no exame, garantindo uma maior profundidade e dedicação
aos tópicos mais importantes.
• Inúmeras imagens que facilitam a memória visual e treino na resposta a
casos clínicos com imagens.

MANUAL DE ENDOCRINOLOGIA
(Segunda Edição – Prova Nacional de Acesso 2021)

ISBN
978-84-18278-54-9

DEPÓSITO LEGAL
M-26691-MMXIX

APNA • ACADEMIA PNA UNIPESSOAL, LDA.


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Este manual foi impresso em papel ecológico, sustentável e isento de


cloro e foi certificado para as normas FSC (Forest Stewardship Council) e
PEFC (Programme for the Endorsement of Forest Certification).
AUTORES

DIREÇÃO MARTA PLANCHA EDUARDO FRANCO DÍEZ


EDITORIAL AIDA SUÁREZ BARRIENTOS ANTONIO MANCINI
BORJA RUIZ MATEOS MARIA ELENA MAGGIORE
JAIME CAMPOS PAVÓN DARIO GATTI
ÁLVARO FRÍAS SÁNCHEZ

AUTORES PRINCIPAIS

MIGUEL SARAIVA JOÃO PAULO BAPTISTA GODINHO


 entro Hospitalar e Universitário do Porto,
C Hospital Beatriz Ângelo (PT)
Hospital de Santo António (PT)

LUÍS ANDRÉ BAPTISTA


Centro Hospital Vila Nova de Gaia e Espinho (PT)

LISTA GERAL DE AUTORES


AIDA SUÁREZ BARRIENTOS JOSÉ PEDRO MORAIS MACEDO MIGUEL SARAIVA
Clinica Universitaria de Navarra. Madrid (ES) Centro Hospitalar Universitário Santiago Centro Hospitalar e Universitário do Porto,
de Compostela (ES) Hospital de Santo António (PT)
ANA FILIPA PALMA DOS REIS
Hospital de Santo António dos Capuchos. C. H. JOSÉ PEDRO SOUSA
Universitário Lisboa Central (PT)
PATRÍCIA AMOEDO
Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (PT) Hospital Universitário São João, Porto (PT)
ANA MARTINS
LUÍS ANDRÉ BAPTISTA
Centro Hospitalar Universitário de São João (PT) RAPHAEL CURVO
Centro Hospital Vila Nova de Gaia e Espinho (PT)
Hospital Universitário Gregorio Marañón. Madrid
ANA RITA CONSTANTE LUÍS CASTELHANO (ES)
Centro Hospitalar Oeste, Hospital de Caldas
Hospital Egas Moniz (PT)
da Rainha (PT) RAQUEL PRATA SARAIVA
LUÍS LÁZARO FERREIRA Instituto Português de Oncologia de Coimbra (PT)
BRUNO SOUSA Centro Hospital Vila Nova de Gaia e Espinho (PT)
Hospital Garcia da Orta (PT) RENATO MEDAS
LUÍSA PANADÉS DE OLIVEIRA Centro Hospitalar de São João, Porto (PT)
CARLA COSTA Hospital del Mar (ES)
Hospital Beatriz Ângelo (PT)
RODRIGO SARAIVA
MADALENA ROSÁRIO Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte,
CATARINA ABRANTES Hospital de Santa Maria (PT)
Centro Hospitalar de Setúbal Hospital de Santa Maria (PT)
MANUELA FERNANDES ESTEVINHO
CATARINA SOARES Porto (PT) SARA MARIA FONSECA
Hospital Universitario Príncipe de Asturias, Hospital Universitário São João, Porto (PT)
Madrid (ES) MARGARIDA BRÍZIDO
Hospital Beatriz Ângelo (PT) SOFIA ANTUNES DUARTE
CÉSAR SILVA Hospital de Santa Maria. C. H. Universitário
Hospital de Santa Maria (PT) MARGARIDA GONZÁLEZ Lisboa Norte, EPE (PT)
Hospital de Cascais (PT)
DIOGO LACERDA
Hospital Sant’Ana (PT) MÁRIO SOUSA PIMENTA SOFIA LEANDRO
Hospital do Espírito Santo de Évora (PT)
IPO Porto (PT)
INÊS GRÁCIO DE ALMEIDA
Hospital Nossa Senhora do Rosário, MARTA PLANCHA SÓNIA BARROS
Centro Hospitalar Barreiro-Montijo (PT) Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central. Centro Hospitalar Universitário do Algarve
Maternidade Dr. Alfredo da Costa (PT)
JOÃO PAULO BAPTISTA GODINHO TERESA MOTA
Hospital Beatriz Ângelo (PT) MATILDE ALMEIDA E SOUSA Hospital Universitário do Algarve (PT)
Centro Hospitalar Central Universitário
JOANA DA SILVA FERNANDES de Lisboa (PT) TIAGO MAGALHÃES
Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia / Espinho Hospital Universitário São João, Porto (PT)
MIGUEL MIRANDA
JOSÉ DANIEL RODRIGUES Hospital de Santa Maria. C. H. Universitário TOMÁS CARVALHO
Porto (PT) Lisboa Norte, EPE (PT) Hospital de Santa Maria (PT)
ÍNDICE

CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO......................................................................................................... 11
[CI] 1.1. Tipos de hormonas............................................................................................. 11
1.2. Fisiologia hormonal............................................................................................ 11

CAPÍTULO 2. MD, D, T, GD DISTÚRBIOS DA HIPÓFISE E DO HIPOTÁLAMO...................................................... 12


[CO]C 2.1. Introdução.......................................................................................................... 12
2.2. Patologias do hipotálamo................................................................................... 15
2.3. Patologias da hipófise anterior........................................................................... 15
[CO]C MD, D 2.4. Disturbios da neuro-hipófise............................................................................... 21

CAPÍTULO 3. MD, D DISTÚRBIOS DA GLÂNDULA TIROIDEIA................................................................. 25


[CO]A 3.1. Fisiologia............................................................................................................ 25
3.2. Síndrome do doente eutiroideu ou “nonthyroidal illness”.................................. 26
3.3. Bócio simples..................................................................................................... 26
3.4. Hipotiroidismo.................................................................................................... 26
3.5. Hipertiroidismo................................................................................................... 29
3.6. Tiroidite.............................................................................................................. 34
3.7. Nódulo tiroideu.................................................................................................. 37
3.8. Carcinoma da Tiroide......................................................................................... 38

CAPÍTULO 4. MD, D, T, GD DISTÚRBIOS DO GLÂNDULAS ADRENAIS............................................................... 41


[CO]B 4.1. Síndrome de Cushing......................................................................................... 41
4.2. Hiperaldosteronismo primário............................................................................. 45
4.3. Feocromocitoma................................................................................................. 47
4.4. Incidentaloma adrenal........................................................................................ 48
4.5. Insuficiência adrenal........................................................................................... 49
4.6. Hiperandrogenismo de origem adrenal............................................................... 50

CAPÍTULO 5. MD, D, P, T, GD DIABETES MELLITUS............................................................................................... 52


[CO]A 5.1. Tratamento da diabetes mellitus......................................................................... 55
5.2. Insulina............................................................................................................... 56
5.3. Antidiabéticos orais............................................................................................ 58
5.4. Outros Tratamentos........................................................................................... 60
5.5. Autocontrole e monitorização da diabetes......................................................... 60
5.6. Complicações metabólicas agudas da diabetes................................................... 60
5.7. Complicações tardias da Diabetes...................................................................... 63
5.8. Outras complicações da diabetes........................................................................ 63

CAPÍTULO 6. HIPOGLICEMIA....................................................................................................... 64
[CC]
CAPÍTULO 7. MD, D, T, GD DOENÇAS DAS GLÂNDULAS PARATIROIDEAS E HOMEOSTASE DO CÁLCIO.......... 65
[CO]B 7.1. Metabolismo fosfocálcico................................................................................... 65
7.2. Hipercalcemia..................................................................................................... 65
7.3. Hiperparatiroidismo primário.............................................................................. 66
7.4. Hipocalcemia...................................................................................................... 69
7.5. Pseudo-hipoparatiroidismo................................................................................. 69

CAPÍTULO 8. NUTRIÇÃO E OBESIDADE....................................................................................... 71


[CO]A/B
[CO]A MD, D, P, T, GD 8.1. Obesidade.......................................................................................................... 71
[CO]B D 8.2. Desnutrição e avaliação nutricional..................................................................... 73
CAPÍTULO 9. D DEFICIÊNCIA E EXCESSO DE VITAMINAS E OLIGOMINERAIS................................. 75
[CO]C 9.1. Vitaminas........................................................................................................... 75
9.2. Oligominerais..................................................................................................... 76

CAPÍTULO 10. MD, D, P, T, GD DISLIPIDEMIAS E DISTÚRBIOS DO METABOLISMO DAS LIPOPROTEÍNAS.............. 77


[CO]A 10.1. Lipoproteínas...................................................................................................... 77
10.2. Hiperlipoproteinemia.......................................................................................... 77

7
CAPÍTULO 11. SÍNDROME METABÓLICA....................................................................................... 82
[CC]

CAPÍTULO 12. OSTEOPOROSE. DOENÇA DE PAGET E OUTRAS DISPLASIAS ÓSSEAS.................... 83


[CO]A/C
[CO]A D, P, T 12.1. Osteoporose....................................................................................................... 83
[CO]C D 12.2. Osteomalacia-raquitismo.................................................................................... 85
[CO]C D 12.3. Doença de Paget................................................................................................ 85
CAPÍTULO 13. D ABORDAGEM AO DOENTE COM DISFUNÇÃO SEXUAL........................................... 88
[CO]C 13.1. Disfunção Sexual Masculina................................................................................ 88
13.2. Disfunção Sexual Feminina................................................................................. 88

CAPÍTULO 14. D TUMORES NEUROENDÓCRINOS............................................................................. 89


[CO]C 14.1. Gastrinoma........................................................................................................ 89
14.2. Insulinoma.......................................................................................................... 89
14.3. Glucagonoma..................................................................................................... 89
14.4. Somatostatinoma............................................................................................... 89
14.5. Vipoma.............................................................................................................. 90
14.6. Tumor carcinoide............................................................................................... 90

CAPÍTULO 15. DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS MÚLTIPLOS.................................................................. 92


[CC] 15.1. Neoplasias endócrinas múltiplas......................................................................... 92
15.2. Síndrome Poliglandular Autoimune (SPA)........................................................... 93

VALORES NORMAIS EM ENDOCRINOLOGIA........................................................................................................................ 95

BIBLIOGRAFIA...................................................................................................................................................................... 96

[CI] Capítulo introdutório. [CO] Capítulo obrigatório (importância A/B/C segundo a matriz de conteúdos do PNA). [CC] Capítulo complementar
MD: Mecanismo Doença D: Diagnóstico P: Prevenção T: Terapêutica GD: Gestão do Doente

8
ORIENTAÇÕES PNA

A Endocrinologia é uma especialidade de importância alta na PNA relativamente ao número de perguntas a que se refere. Não
é uma especialidade que exija um estudo intensivo, pois não é muito complexa. Assim sendo, é uma área a investir devido à sua
rentabilidade. O tema: Os distúrbios da glândula tiroideia foi o tema mais perguntado, seguido de Doenças das glândulas
paratiroideias e homeostase do cálcio na PNA 2019 na Endocrinologia.
Este manual engloba não apenas a patologia médica e benigna da endocrinologia, mas também a área da neoplasia e cirúrgica,
tornando-se num bom investimento.

Importância do assunto na PNA

0,66% 12,66%
OF GT
0,66% 10,00%
OC PQ

DM IF 9,33%
1,33%

2,66% NF GC 8,66%

3,33% UR CD 7,33%

OT ED 7,33%
3,33%

OR HM
4,00% 6,00%
RM NR
4,66% 6,00%
PN PD
6,00% 6,00%

Distribuição dos capítulos

Capítulo 3. Distúrbios da glândula tiroidea 3

Capítulo 7. Doenças das glândulas paratiroideas


2
e homeostase do cálcio
Capítulo 10. Dislipidemias e distúrbios
2
do metabolismo das lipoproteínas

Capítulo 2. Distúrbios da hipófise e do hipotálamo 1

Capítulo 4. Distúrbios do glândulas adrenais 1

Capítulo 5. Diabetes mellitus 1

Capítulo 12. Osteoporose.


1
Doença de Paget e outras displasias ósseas
CURIOSIDADES

Embora a diabetes seja conhecida desde 1500 a.C., foi somente em 1921 que se
fizeram progressos significativos no conhecimento e tratamento da doença. Ante-
riormente, sabia-se que a laqueação do ducto pancreático em cães levava à dege-
neração das células secretoras de tripsina, enquanto que as ilhotas de Langerhans
permaneciam intactas. No verão de 1921, Banting e Best obtiveram uma amostra
do pâncreas de um cão antes da laqueação dos ductos pancreáticos. De seguida,
administraram parte desse pâncreas com as ilhotas de Langerhans intactas em cães
com diabetes. Foi com grande surpresa que constataram que isso reduzia e inclusi-
vamente fazia desaparecer a glicosúria em cães com diabetes. Tinham descoberto
a insulina proveniente das ilhotas de Langerhans. Graças a estas descobertas, Ban-
ting ganhou o Prémio Nobel da Medicina em 1922.
Capítulo 1
Introdução CI
1.1. Tipos de hormonas Tipos de recetores:

–– Hormonas peptídicas –– Recetores citosólicos.


Para as hormonas esteroides.
–– Hormonas hipofisárias, insulina e glucagon.
–– Recetores nucleares
–– Hormonas esteroides.
Para as hormonas tiroideias.
–– Hormonas gonadais e esteroides adrenais.
–– Recetores de membrana.
–– Hormonas amínicas Para as hormonas peptídicas que agem por ativação de diver-
–– Catecolaminas, hormonas tiroideias sas proteínas:
• Proteína G.
PTH, ACTH, TSH, glucagon e hormonas adrenérgicas.
1.2. Fisiologia hormonal • Tirosina-quinase.
Insulina e IGF-1.
A maioria das hormonas são transportadas no plasma ligadas às • JAK.
proteínas plasmáticas (proteínas de transporte). A fração unida GH e PRL.
às proteínas funciona como reservatório e não se liga ao recetor
das hormonas, daí que em muitas hormonas o que nos interes-
sa não é a concentração total da hormona, mas sim a concen-
tração da hormona livre no plasma (ex. T4 livre, cortisol livre na
urina).
A secreção hormonal é regulada principalmente pela concentra-
ção da própria hormona através de um mecanismo positivo ou
negativo de contrarregulação (feedback). Deste modo, é a
concentração hormonal ou outro tipo de substrato (glicemia
para a insulina, calcemia para a PTH) que regula o aumento ou
diminuição da produção hormonal e permite manter os níveis
hormonais dentro de limites relativamente estreitos.
Exemplos: a hiperglicemia causa a libertação de insulina, a insu-
lina, por sua vez, diminui a glicemia e esta descida da glicemia
inibe a secreção de insulina. A TSH provoca a libertação de T4 e
T3; quando estas últimas aumentam no plasma, inibem por sua
vez a libertação de TSH e regulam deste modo os próprios níveis
plasmáticos.
As hormonas associam-se a um recetor para exercerem a sua ação.

Figura 1. Sistema endocrino

HIDRATOS DE CARBONO LÍPIDOS PROTEINA HÍDRICA (ÁGUA)


CORTISOL Diabetogénico Lipólise ↓ síntese Retenção

GH Diabetogénico Lipólise ↑ síntese Retenção


↓ glicogenólise
INSULINA Lipogénese ↑ síntese Retenção
e gliconeogénese
GLUCAGON Diabetogénico Lipólise
CATECOLAMINA Diabetogénico Lipólise Proteólise

Quadro 1. Ação das hormonas.

11
Capítulo 2
CO
Distúrbios da hipófise e do hipotálamo C
MD, D, T, GD

2.1. Introdução Somatostatina


Composta por 14 aa.
Hormonas hipotalâmicas –– Ação.
As hormonas hipotalâmicas têm principalmente um efeito esti- • Inibe a secreção de GH (ação principal).
mulante sobre a hipófise, com exceção da PRL, na qual predo- • Inibe a secreção de TSH.
mina o efeito inibidor da dopamina. • Inibe a secreção exócrina do pâncreas.
• Inibe a secreção endócrina pancreática da insulina e gluca-
–– TRH. gon com um resultado hipoglicemiante.
Estimula a TSH e a PRL. • Inibe a motilidade gastrointestinal.
–– GnRH (antes chamada LH-RH). Estimula a FSH e a LH (gona- • Reduz o fluxo esplâncnico.
dotrofinas).
–– GHRH. GH-RH
Estimula a GH. Tem duas formas. Uma com 40 aa e outra com 44 aa. É liberta-
–– CRH. da pelos neurónios paraventriculares, supraóticos, arqueados e
Estimula a ACTH. límbicos.
–– Somatostatina. Inibe a GH e TSH.
–– Ação
–– Dopamina (antes denominada PIF). Inibe a PRL.
Estimula a secreção de GH.
–– ADH e oxitocina.
Produzidas pelo hipotálamo e armazenadas na neuro-hipófise. CRH
TRH Composta por 41 aa.
Composta por três aminoácidos (aa) e libertada pelo hipotálamo –– Ação
anterior. Estimula a secreção de POMC (pró-opiomelanocortina), que
de seguida se fragmenta gerando endorfina, MSH (hormona
–– Ação
melano-estimulante) e ACTH. A sua principal ação consiste na
Estimula a secreção da TSH e da prolactina.
estimulação da secreção de ACTH.
GnRH
Dopamina
Composta por 10 aa e libertada pelos neurónios pré-óticos.
Anteriormente também conhecida como “fator inibidor da pro-
–– Ação lactina” ou PIF.
Estimula a secreção de LH e FSH. A sua libertação é pulsátil (a
cada 60-120 minutos) e é necessária para uma resposta hipo-
fisária adequada (libertação de FSH e LH). A sua secreção
pode diminuir e causar hipogonadismo hipogonadotrófico Hipotálamo
em casos de: anorexia nervosa, síndrome de Kallman, inges- (IPT)
tão de opiáceos, hiperprolactinemia ou administração contí-
nua de análogos de GnRH (que inibem a libertação de gona-
dotrofinas devido à dessensibilização das células gonadotróficas
hipofisárias).

Hipófise
(IPF)

Glândula periférica

Figura 1. Hipófise, posição anatómica Figura 2. Regulação do eixo hipotálamo-hipófise- glândulas periféricas.
12
Capítulo 2 · Distúrbios da hipófise e do hipotálamo

–– Ação. A sua secreção é estimulada por:


Inibe a secreção de PRL. Em condições normais, predomi-
–– TRH, VIP e 5HT (serotonina).
na sobre as hormonas que estimulam a síntese de PRL
(TRH e VIP). –– Sucção do mamilo (reflexo de Ferguson-Harris), relações
sexuais, sono, stresse, gravidez e aleitamento.
Hormonas da Hipófise anterior –– Antagonistas da dopamina (butirofenonas, domperidona, sul-
pirida, metoclopramida), haloperidol, risperidona, opiáceos,
GH
metildopa, reserpina, estrogénios (aumentam a síntese e
As células somatotróficas são as mais abundantes na hipófise libertação de prolactina, mas impedem a sua ação periférica),
anterior e a secreção de GH é a primeira a ser afetada, cessan- lesão da parede torácica.
do, no caso de comprometimento gradual da hipófise, como
acontece no hipopituitarismo progressivo nos macroadenomas A sua secreção é inibida por: agonistas dopaminérgicos D2
hipofisários localmente invasivos ou na sequência de radiotera- (levodopa, bromocriptina, apomorfina).
pia na região selar.
–– Ação.
–– GH-RH • Aleitamento materno (induz e mantém a produção de
Estimula a sua síntese leite).
–– Somatostatina Durante a gravidez, aumentam os estrogénios e a PRL,
Inibe a sua síntese favorecendo o desenvolvimento e a diferenciação da glân-
dula mamária; durante o parto, o estrogénio diminui e
A secreção de GH é estimulada por: hipoglicemia, stresse, sono, mantém-se o aumento da PRL, que induz secreção de
exercício físico, etc. leite.
A sua secreção é inibida pela hiperglicemia e pela somatostati- • O seu aumento causa a inibição da GnRH, com hipogona-
na. dismo hipogonadotrófico e diminuição do desejo sexual. A
inibição é realizada indiretamente através da inibição da
A sua libertação é pulsátil e estimulada pelo stresse, portanto, libertação de kisspeptina, um peptídeo hipotalâmico funda-
raramente os níveis basais são indicação para o estudo de pato- mental para a libertação de GnRH (Clarke H, Dhillo WS,
logias que afetam a hormona do crescimento. Jayasena CN. Comprehensive Review on Kisspeptin and Its
–– Ação. Role in Reproductive Disorders. Endocrinol Metab (Seoul).
• Aumenta a síntese hepática da somatomedina C ou IGF-1, 2015 Jun;30(2):124- 41.)
a principal responsável pelo crescimento pós-natal (o cres-
cimento nos períodos pré e neonatais depende principal- ACTH
mente da insulina). Deriva da pró-opiomelanocortina (POMC), que gera por frag-
• Anabolizante (aumenta a síntese proteica e o crescimento mentação ACTH, MSH e ß-endorfina.
dos tecidos). A sua secreção é pulsátil e segue um ritmo circadiano: é maior
• Lipolítica (libertação de ácidos gordos nos adipócitos). nas primeiras horas da manhã (o máximo é às 6h da manhã) e
• Hiperglicemiante diminui no decorrer do dia, tornando-se indetetável à tarde e à
noite, deixando os níveis basais de serem válidos.

GHRH Somatostanina IGF-1


É estimulada por: CRH, hipoglicemia e stresse (incluindo cirurgia
e patologias médicas).
– Hipoglicemia – Hiperglicemia É inibida por: cortisol (feedback negativo).
– Atividade física – Ácidos gordos
– Stresse – Corticosteroides –– Ação.
– Sono (em crónico)
– Traumatismos • Estimula a produção cortisol no córtex adrenal, intervindo
– Sépsis + GH - deste modo na sua resposta neuro- endócrina ao stresse.
A sua ação é rápida: alguns minutos depois de libertada
Outros Outros
– Dopamina – β-adrenérgicos consegue detetar-se um aumento da concentração de este-
– α-adrenérgicos roides no sangue venoso das adrenais.
– Estrogénios • Estimula a produção de androgénios adrenais na camada
– Glucagon
– Vasopressina reticular do córtex adrenal.
• Quando administrada, estimula a secreção de aldosterona
Figura 3. Regulação da hormona do crescimento. no córtex adrenal, mas não influencia o controle da regula-
ção desta hormona.

TSH ou tirotropina
Prolactina (PRL)
A sua estrutura é similar à FSH, LH e gonadotrofina coriónica
Em condições normais, é a única hormona em que predomina (hCG), com as quais tem em comum a subunidade α, sendo a
a inibição (devido à dopamina produzida ao nível hipotalâmico), subunidade ß a que a caracteriza. É estimulada pela TRH e ini-
em detrimento da estimulação (produzida pela TRH). Por este bida pela concentração de T3 e T4, através de feedback negativo.
motivo, no caso de interrupção hipotálamo-hipofisária, como Além disso, a sua libertação é reduzida por: somatostatina,
na secção do pedúnculo hipofisário após traumatismo craniano dopamina e glucocorticoides.
moderado-grave, a secreção de todas as hormonas hipofisárias
diminui, exceto a prolactina, que aumenta a partir do momento –– Ação.
em que cessa a sua inibição hipotalâmica. Estimula a síntese de T4 e T3.

13
Manual APNA · Endocrinologia

FSH e LH Caso se deseje analisar toda a adeno-hipófise, realiza-se uma


São estimuladas pela GnRH e inibidas pelas hormonas sexuais tripla estimulação hipofisária:
(feedback negativo), exceto no momento da ovulação, em que –– Estimulação com TRH.
o aumento de LH induz um aumento de estrogénios que, por Resposta de TSH e PRL.
sua vez, provocam um pico de LH que causa a ovulação (fee-
–– Estimulação com GnRH.
dback positivo).
Resposta de FSH e LH.
–– Ação. –– Estimulação com insulina.
Estimula a síntese de hormonas sexuais: Resposta de GH, ACTH e cortisol.
• Na mulher:
A FSH regula o desenvolvimento do folículo ovárico e esti-
Teste de supressão
mula a secreção de estrogénios por parte do ovário,
enquanto que a LH intervém na ovulação e na manutenção –– Para inibir a GH.
do corpo lúteo. • Teste de supressão (teste de carga de glicose).
• No homem: Em indivíduos saudáveis, a GH diminui atingindo um valor
A LH estimula a síntese e a secreção de testosterona nas inferior a 1 μg/l (0,4 μg/l com IRMA), enquanto que na
células de Leydig e a FSH estimula o desenvolvimento dos acromegalia não é suprimida.
túbulos seminíferos e regula a espermatogénese. –– Para inibir a ACTH.
• Teste de supressão com dexametasona. Utilizado no diag-
Exames diagnósticos da hipófise anterior nóstico da síndrome de Cushing.

Testes de estimulação
–– Para estimular a GH.
Hormonas da neuro-hipófise
• Hipoglicemia induzida por insulina (gold standard). A neuro-hipófise libera duas hormonas: a oxitocina e a ADH ou
Défice completo se GH for <3 μg /l, défice parcial se GH vasopressina. Estas últimas são sintetizadas nos núcleos para-
estiver entre 3 e 10 μg /l, normal se GH for> 10 μg / l. ventriculares e supra-óticos do hipotálamo e daqui são transpor-
• Determinação sérica de GH durante o sono ou durante a tadas através dos axónios (dos nervos) até à hipófise posterior,
atividade física (condições de estimulação). onde são armazenadas nas terminações nervosas em forma de
• Outros. grânulos.
Teste de estimulação com clonidina, teste de estimulação
Ambas são nonapeptídeas e diferem somente pelos AA nas
com glucagon-propranolol, teste de estimulação com
posições 3 e 8.
arginina ...
–– Para estimular a ACTH.
Oxitocina
• Hipoglicemia induzida por insulina (gold standard).
A hipoglicemia é o principal estímulo para a secreção de É sintetizada no núcleo paraventricular do hipotálamo.
ACTH (ainda mais do que o hipocortisolismo). Logo, ava- –– Ação.
lia-se a estimulação da hipoglicemia na secreção de • Secreção láctea por ação das células mioepiteliais.
ACTH e cortisol. Um cortisol sérico> 550nmol/L define • Contração uterina.
uma resposta adequada ao teste. Até à data, ainda não
existem quaisquer limites universalmente reconhecidos Estímulos: relação sexual e sucção do mamilo.
para a ACTH: geralmente, um pico superior a 140pg/mL
garante uma resposta adequada. ADH
• Teste de estimulação com CRH.
• Teste de estimulação com metirapona (inibidor da 11-ß- É sintetizada no núcleo supra-óptico do hipotálamo.
hidroxilase). –– Ação.
Se o cortisol diminui, a ACTH deve aumentar. • Aumenta a reabsorção da água livre a nível renal agindo
• Teste de estimulação com desmopressina: as células corti- nos recetores V2 que se encontram no túbulo contorcido
cotróficas expressam recetores para a desmopressina. Nos distal e nos ductos coletores, mantendo, deste modo, a
adenomas secretores de ACTH a resposta aumenta apenas osmolaridade plasmática.
se existir expressão do receptor (cerca de 50% dos casos) • Em doses maiores (do que as fisiológicas) atua nos receto-
–– Para estimular a FSH e LH. res V1, causando vasoconstrição.
• Teste de estimulação com GnRH (teste de Suprefact – ace- É estimulada por:
tato de Buserelin). –– Aumento da osmolaridade plasmática (principal estímulo,
Aumento da FSH e LH cerca de três vezes o valor basal, com devido à ativação dos osmorrecetores hipotalâmicos), dimi-
um aumento geralmente maior de LH em relação a FSH. Os nuição da volemia ou diminuição da pressão arterial (median-
cut-off variam segundo as diferentes condições clínicas e a te a ativação dos barorrecetores nos grandes vasos).
idade do paciente.
–– Fármacos
–– Para estimular a TSH. Anticonvulsivantes (carbamazepina), cloropropamida, clofi-
• Teste de estimulação com TRH. brato, ciclofosfamida, vincristina, morfina.
Aumento da TSH de 5 a 30 mU/L e da PRL (geralmente em
pelo menos o dobro) (Barbieri et al. Prolactin response to É inibida por:
thyrotropin-releasing hormone (TRH) inpatients with hypo- –– Diminuição da osmolaridade plasmática (principal fator),
thalamic-pituitary disease, F&S 1985). aumento na volemia ou aumento da pressão arterial.
–– Álcool, fenitoína, clonidina, clorpromazina.

14
Capítulo 2 · Distúrbios da hipófise e do hipotálamo

Clínica das patologias hipotalâmicas


Adenohipófise Neuro-hipófise
–– Alterações sexuais.
Hipogonadismo e puberdade precoce (é a manifestação clíni-
ca mais frequente).
–– Diabetes insípida (devido à falta de secreção de ADH).
–– Outras
Transtornos psíquicos, obesidade, bulimia ou anorexia, sono-
lência, desregulação térmica, alterações esfincterianas, disi-
drose.
–– Envolvimento neurológico (pouco frequente).

LH
TSH 2.3. Patologias da hipófise anterior
PRL ADH
GH Oxtocina Hipopituitarismo
FSH
ACTH É definido como o défice de uma ou mais hormonas hipofisá-
rias.
Figura 4. Adenohipófise e neuro-hipófise.
Etiologia
–– Lesões expansivas (causa mais frequente).
• Nas crianças:
2.2. Patologias do hipotálamo
Craniofaringioma (supra-selar).
• Nos adultos:
Etiologia geral das patologias hipotalâmicas Adenoma hipofisário (geralmente intra-selar).
As patologias mais frequentes são os tumores hipotalâmicos. • Metástases (qualquer tumor que tenha tropismo para o
pedúnculo hipofisário), mais frequente nos tumores da
mama e pulmão e nos linfomas.
–– Quistos da bolsa de Rathke.
–– Hemorragia Intraventricular –– Alterações vasculares.
BEBÉS –– Meningite • Síndrome de Sheehan (necrose hipofisária pós-parto).
–– Traumatismos • Necrose isquémica hipofisária (na diabetes).
–– Tumores (glioma ótico, histiocitose X) • Vasculite.
–– Hidrocefalia • Aneurisma da artéria carótida interna (parte intracraniana).
DE UM MÊS –– Meningite • Trombose do seio cavernoso.
AOS 2 ANOS –– Patologias congénitas (síndrome de Laurence- –– Infeções
Moon-Bield e Prader-Willi) Meningite, encefalite, abscessos, etc.
–– Granulomas.
–– Tumores (craniofaringioma, glioma)
DOS 2 AOS Tuberculose, histiocitose, sarcoidose.
–– Meningite
10 ANOS –– Encefalite (viral e desmielinizante) –– Iatrogenia.
• Cirurgia do hipotálamo-hipófise.
–– Tumores (craniofaringioma) • Radioterapia da hipófise ou ao nível da nasofaringe.
–– Traumatismos (fraturas na base do crânio) –– Síndrome da sela vazia.
DOS 10 AOS –– Hemorragia subaracnoidea
–– Aneurisma vascular –– Outras causas.
25 ANOS
–– Doenças inflamatórias e infiltrativas • Malformações ou traumatismos craniofaciais.
(tuberculose, histiocitose) • Hemocromatose por acumulação de ferro nas células gona-
dotróficas (provoca hipogonadismo isolado).
–– Doença de Wernicke • Anorexia nervosa com hipopituitarismo “funcional”.
> DE 25 –– Tumores • Hipofisite autoimune ou linfocítica.
Mais frequente nas mulheres após o parto, está associada
a outras doenças autoimunes. A RM mostra uma imagem
A síndrome de Lawrence-Moon-Bield é caracterizada pela presença
com aumento difuso do volume hipofisário e dilatação do
de atraso mental, obesidade e degeneração retínica na infância (por
pedúnculo hipofisário. Por conseguinte, pode começar por
volta dos 30 anos geralmente ficam cegos). A Síndrome de Prader-
uma diabetes insípida de origem central.
Willi apresenta hipogonadismo
• Síndrome de Kallman-Morsier.
hipogonadotrófico, obesidade, hipotonia muscular e atraso mental.
Disfunção que afeta principalmente os homens com hipo-
gonadismo hipogonadotrófico e que é provocada pelo défi-
Quadro 1. Etiologia das patologias hipotalâmicas. ce isolado de gonadotrofinas devido a um defeito na sua
síntese ou na libertação de GHRH, com anosmia ou hipos-
mia, criptorquidia e malformações renais, sem ginecomas-
tia.

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Manual APNA · Endocrinologia

Sinais clínicos Diagnóstico


–– Alterações visuais. –– Determinação dos níveis basais das hormonas: FSH, LH, estra-
Alteração na perceção das cores (a mais precoce), comprome- diol e testosterona, TSH, T3 livre e T4 livre.
timento do quiasma ótico (quadrantanopsia bitemporal supe- O cortisol basal é útil em caso de suspeita de défice (insufi-
rior seguida de hemianopsia bitemporal). ciência adrenal), mas não de excesso de produção (síndrome
–– Alterações hormonais. de Cushing), dado que é uma hormona influenciada pelo
A ordem habitual do aparecimento dos défices hormonais stresse.
depende do tempo de instauração do processo. Nos casos de –– Determinação hormonal após teste de estimulação (ver
lesão aguda: ACTH, seguida pela LH e FSH, seguidas pela TSH parágrafo anterior).
(com exceção da Síndrome de Sheehan em que a primeira a No diagnóstico do défice de GH, o GH basal não é de grande
ser atingida é a PRL, uma vez que as células lactotróficas da utilidade porque apresenta uma secreção pulsátil. Já a secre-
hipófise aumentaram). Nos casos de lesão progressiva: GH, ção de IGF-1 e da sua proteína transportadora, a IGFBP-3, são
seguida pela FSH e LH, seguidas pela TSH, seguida pela ACTH. estáveis ao longo do dia.
Os sintomas dos défices hormonais são explicados detalhada-
mente nos respetivos capítulos. Resumindo: Os níveis de IGFBP-3 não são tão influenciados pelo estado nutri-
• Défice de GH. cional e são úteis especialmente nas crianças pequenas. Apesar
Nos adultos: atrofia cutânea, diminuição da densidade de existir uma boa correlação entre IGF-1 e os níveis de GH, exis-
óssea, aumento da gordura abdominal e perda de massa tem algumas situações que podem tornar este parâmetro menos
magra. Nas crianças: atraso no crescimento, com idade fiável (nos primeiros estágios de vida os níveis de IGF-1 são muito
óssea inferior à idade cronológica, atraso no desenvolvi- baixos e os níveis normais coincidem com os valores do défice de
mento puberal, micropénis e hipoglicemia. Nos diabéticos: GH; na desnutrição também diminuem os níveis de IGF-1,etc.),
diminuição da demanda de insulina. dado que o padrão gold standard é a realização de um teste de
• Défice de FSH e LH. estimulação (ver parágrafo anterior).
Nas mulheres na pré-menopausa (hipofuncionalidade ová- Geralmente são pedidos dois testes de estimulação para o diag-
rica e diminuição de estrogénio): oligomenorreia e esterili- nóstico. Em pacientes com alterações conhecidas no sistema ner-
dade. Nas mulheres na pós-menopausa: não se verificam voso central ou que apresentam outros défices hormonais hipo-
manifestações clínicas. Nos homens (hipofunção testicular fisários é suficiente um único teste para chegar ao diagnóstico.
e diminuição do tamanho dos testículos): impotência, atro-
Na síndrome de Laron, em que há resistência à ação da GH,
fia testicular, esterilidade, regressão de caracteres sexuais
observam-se elevados níveis de GH e reduzidos de IGF-1. O tra-
secundários. Em ambos os sexos: diminuição da libido,
tamento desta síndrome não prevê a administração de GH mas
diminuição dos pêlos axilares e púbicos, diminuição da den-
sim de IGF-1 recombinante.
sidade mineral óssea.
• Défice de TSH.
Tratamento
Hipotiroidismo sem bócio e clinicamente menos evidente -
hipotiroidismo primário. –– Etiológico.
• Défice de ACTH. Em caso de tumor, cirurgia transesfenoidal ou radioterapia,
Insuficiência adrenal sem hiperpigmentação, hiperpotasse- caso não seja operável. Nos prolactinomas o tratamento
mia ou alterações do pH. Sintomatologia: fadiga, astenia, médico é de eleição (agonistas dopaminérgicos).
letargia, perda de peso, tendência à hipoglicemia, anorexia, –– Substituição das hormonas afetadas. Por ordem de adminis-
náuseas, vómitos e eventual hipotensão ortostática; anemia tração:
normocítica normocrómica, hiponatremia e eosinofilia. A 1. Glicocorticoides
tiroxina faz aumentar as necessidades de corticosteroides e É muito importante que sejam os primeiros a serem admi-
pode levar ao aparecimento de uma crise adrenal em nistrados para evitar uma crise adrenal. Não é necessário
pacientes com hipopituitarismo. Por isso, isso a administra- o tratamento de substituição com mineralocorticoides,
ção de glucocorticoides deve sempre preceder a de levoti- dado que a secreção de aldosterona não é afetada.
roxina no hipopituitarismo. 2. Levotiroxina.
• Prolactina. 3. Substituição gonadal.
O seu défice não é muito comum e não apresenta manifes- • Homem que não deseje ser fértil:
tações clínicas, à exceção da fase pós-parto, em que se Testosterona.
verifica a impossibilidade de amamentar (o primeiro sinto- • Mulher na pós-menopausa:
ma da síndrome de Sheehan). Na maior parte dos casos Não se trata.
(compressão do pedúnculo hipofisário, por ex.: tumor hipo- • Mulher na pré-menopausa que não deseje ser fértil:
fisário), o hipopituitarismo está associado à hiperprolactine- Estrogénios e progesterona.
mia, causando amenorreia, galactorreia, diminuição da • Mulher ou homem que querem ser férteis:
libido e impotência. GnRH ou FSH e LH dependendo do nível da lesão.
• ADH e oxitocina. 4. Substituição com GH, caso seja indicado (ver capítulo
Nas doenças hipofisárias o seu défice é raro, ao contrário correspondente).
das doenças hipotalâmicas, em que geralmente aparece a Nas crianças, a sua substituição é preferível à das hormo-
diabetes insípida e, por vezes, como primeiro sintoma. nas sexuais.
Também é frequente o aparecimento da diabetes insípida 5. Outros.
após trauma por desaceleração (por exemplo após acidente Desmopressina (DDAVP) no caso de diabetes insípida. O
rodoviário) com alongamento do pedúnculo e DI transitório défice de prolactina não é tratado.
que se soluciona, geralmente, com a resolução do trauma.
(Ver Quadro 2)

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Capítulo 2 · Distúrbios da hipófise e do hipotálamo

EIXO HORMONAL TESTES DE ELEIÇÃO TESTES ALTERNATIVOS TRATAMENTO

Exame de ACTH (não discrimina


origem secundária/ primária) Hidrocortisona
ACTH /cortisol Hipoglicemia insulínica
Cortisol basal (<3,5 indica É o primeiro défice a corrigir
insuficiência adrenal)

Levotiroxina
Determinação basal fT4L
TSH/tiroxina Teste de TRH Sempre depois de se ter
e TSH
iniciado os corticosteroides

Teste de GnRH Desejo reprodutivo: LH / FSH


Se existir menstruação ou níveis Teste de estimulação com Nenhum desejo reprodutivo:
LH-FSH/hormonas sexuais
normais de testosterona exclui-se, clomifeno estrogénio / progesterona ou
sem exames posteriores testosterona

GH Hipoglicemia insulínica Determinação basal IGF-1 GH recombinante ou não tratar

PRL Determinação da PRL basal Teste de TRH ou metoclopramida Não é necessário

Quadro 2.Diagnóstico e tratamento do hipopituitarismo

Adenomas hipofisários –– Devido ao efeito de massa


Cefaleia (frequente em tumores volumosos) e alterações
Representam 10% das neoplasias intracranianas. A maioria são
visuais. O defeito campimétrico mais frequente é a hemianop-
benignos e de crescimento lento.
sia bitemporal; quando se estende lateralmente pode invadir
os seios cavernosos causando paralisia oculomotora –a mais
Classificação
frequente é a do III nervo craniano.
Com base no tamanho, classificam-se em microadenomas (<1
–– Apoplexia hipofisária.
cm) e macroadenomas (> 1 cm). Com base na produção hormo-
Hemorragia aguda do adenoma que provoca o aparecimento
nal classificam-se em:
repentino de cefaleias, vómitos, alterações visuais, hipopitui-
–– Secretores de PRL (os mais frequentes, cerca de 40-50%). tarismo (os fenómenos mais graves são a hipotensão causada
Prolactinomas. pelo défice de ACTH e insuficiência adrenal secundária) e
–– Secretores de GH (acromegalia), cerca de 20-25%. diminuição do nível de consciência. Fatores predisponentes
Muitas vezes também produzem PRL. são: a presença de um adenoma previamente detetado, HTA,
gravidez, puerpério, choque, anemia drepanocítica. Existe
–– Secretores de ACTH (doença de
uma tendência à hipoglicemia e hipotensão por défice agudo
Cushing), cerca de 1-2%.
de glicocorticoides. O tratamento consiste em glicocorticoides
–– Secretores de FSH / LH (muito pouco frequentes). em doses elevadas e hidratação endovenosa, além de cirurgia
–– Secretores de TSH (muito pouco frequentes). urgente de descompressão quando há alterações visuais cau-
–– Adenomas não secretores, cerca de 25%. sadas pela compressão da via ótica, dos nervos oculomotores
Por vezes segregam frações de hormonas, como as subunida- (nas hemorragias intracavernosas) ou papiledema.
des alfa. Frequentes em alguns casos (como nos prolactino-
Diagnóstico
mas) e noutros são mesmo dominantes.
–– Estudo hormonal (com os valores basais das hormonas e, se
Os adenomas hipofisários, geralmente esporádicos, podem ter, necessário, após estimulação).
em raríssimos casos, apresentação familiar (complexo de Car- –– Estudo oftalmológico com a realização de campimetria visual
ney, MEN 1, etc.). e tomografia de coerência ótica (OCT) em caso de compro-
Os raríssimos carcinomas hipofisários são secretores (prolactinomas ou metimento dos campos visuais. Esta última técnica ajuda a
secretores de ACTH) e caracterizam-se pela sua resistência aos trata- prever a recuperação da visão após intervenção cirúrgica ao
mentos e por originarem metástases intra- encefálicas ou à distância. adenoma hipofisário. O eventual comprometimento da visão
reentra nos critérios que corroboram a escolha da cirurgia e
Etiologia não do tratamento médico.
Ainda hoje se debate se os adenomas hipofisários representam –– Estudos de imagem.
uma lesão primária da hipófise ou derivam de uma disfunção que De eleição RMN, TC. A radiografia (Rx) ao crânio pode revelar
determina hiperplasia seguida de transformação adenomatosa. o aumento do tamanho da sela túrcica.
A mutação mais frequentemente encontrada nos adenomas Tratamento
hipofisários é a do oncogene gsp.
–– Observação.
Sinais clínicos Nos microadenomas não secretores e assintomáticos, muitas
vezes incidentalomas detetados nos exames efetuados a outros
–– Devido à produção hormonal. locais, efetua-se um acompanhamento com RM seriada.
Produção de hormonas devido ao tumor e/ou aumento da Geralmente não têm tendência a crescer.
PRL por compressão do pedúnculo.

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Manual APNA · Endocrinologia

somente se a lesão for <3 cm e caso se encontre a > 3-5 mm


A do quiasma ótico). Na REF não há limitações relativas à proxi-
midade do quiasma e pode ser usada para lesões <6 cm. A
complicação mais frequente relacionada com esta técnica é o
hipopituitarismo, que se pode se manifestar mais de 10 anos
após a sua aplicação. Assim sendo, é necessário um segui-
mento prolongado destes pacientes. Outras complicações
incluem: alteração do nervo ótico, alterações cognitivas...

Síndrome de sela vazia


Trata-se de uma herniação da cisterna subaracnoideia na sela
túrcica.

Etiologia
–– Idiopática ou primária (o caso mais frequente, em que não
existe evidência de tumor pré-existente).
É mais frequente em mulheres obesas com hipertensão arterial.
–– Secundária a patologia hipofisária (cirurgia ou radioterapia
B hipofisárias, síndrome de Sheehan).

Sinais clínicos
–– É assintomática na maior parte dos casos.
–– Cefaleias (sintoma mais frequente), alterações visuais devido
à compressão do quiasma, rinoliquorreia (pouco frequente).
–– Défice de qualquer das hormonas hipofisárias. Por vezes, pode
ocorrer hiperprolactinemia.

Diagnóstico
–– Estudos hormonais hipofisários.
–– RMN hipofisária - diagnóstico definitivo.

Tratamento
–– Caso seja assintomática:
Não requer tratamento.
–– Se houver alterações visuais ou rinorreia de LCR: cirurgia.
–– Em caso de défice hormonal:
Corrigir o défice

Acromegalia
Etiologia
–– Aumento de GH hipofisária (90%), devido a:
Figura 5. A. Radiografia ao crânio de um doente com adenoma hipofisário (de
• Adenoma hipofisário (o mais frequente).
notar o alargamento da sela túrcica). B. Imagem de RM de adenoma hipofisário.
São geralmente macroadenomas. Os níveis de GH estão
relacionados com o tamanho do tumor. Podem fazer parte
–– Cirurgia transesfenoidal, à exceção do prolactinoma (trata-
de uma síndrome MEN-1.
mento com agonistas dopaminérgicos).
• Rara
Efeitos colaterais: hipopituitarismo, diabetes insípida, rinorreia
Hiperplasia de células somatotróficas, carcinoma hipofisário.
de LCR, perda de visão, paralisia do III nervo craniano, reinci-
dência. Todos estes efeitos colaterais e estas complicações –– Outras causas (muito pouco frequentes).
são mais frequentes no tratamento dos macroadenomas. Aumento da GH extra-hipofisária, aumento de GH-RH de ori-
gem hipotalâmica ou extra-hipotalâmica.
–– Radioterapia.
Em caso de reincidência, se o paciente não puder ser operado Fisiopatologia
e como coadjuvante da cirurgia e do tratamento médico. O
Persiste o ritmo pulsátil de GH, mesmo se com um padrão
objetivo da radioterapia é impedir o crescimento do resíduo
anómalo (perde-se o pico do sono). Também pode segregar PRL.
tumoral e controlar a secreção hormonal. No entanto, tem
uma latência de ação de anos desde a sua administração e é
Manifestações clínicas
contraindicada em lesões que envolvam o quiasma ótico.
Atualmente, a técnica mais utilizada é a radioterapia estereo- –– Crescimento das extremidades (mãos, pés, prognatismo com
táxica fracionada (REF), que permite um menor comprometi- má oclusão dental), aumento dos tecidos moles, macroglos-
mento do tecido saudável adjacente. sia, bócio, cardiomegalia e visceromegalia).
Outra técnica possível é a radiocirurgia, que consiste em irra- –– HTA, sudorese, cefaleia, síndrome da apneia do sono (SAOS),
diar a lesão com uma dose elevada única (pode utilizar-se artropatia, neuropatia periférica (síndrome do túnel cárpico).

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Capítulo 2 · Distúrbios da hipófise e do hipotálamo

–– Galactorreia, alterações menstruais, diminuição da libido e


impotência em caso de concomitância com a hipersecreção IGF-1
de prolactina.
–– Manifestações cardiovasculares, com aumento da mortalida-
Normal Elevada
de cardiovascular.
–– Diabetes mellitus tipo 2, intolerância glicídica ou aumento da
Exclui acromegalia PTOG
necessidade de insulina no doente diabético.
–– Aumenta a incidência de cancro do cólon.
Colonoscopia se > 50 anos, a cada 3-5 anos em caso de Supressão adequada Supressão inadequada
doença ativa, anamnese familiar de tumor do cólon ou a pre- de GH de GH
sença de três ou mais fibromas moles (pólipos fibroepiteliais).
–– Alteração do campo visual. RMN hipofisária

Adenoma Hipofisário Normal


Defeitos campimétricos
Determinar GHRH
Prognatismo Procurar causas
Macroglossia extra-hipofisárias
SAHOS
Figura 7. Algoritmo diagnóstico da acromegalia.
Sudorese

HTA e aumento da
mortalidade cardiovascular
–– RM Hipotálamo-hipofisária com gadolínio
–– Campimetria ocular
Diabetes mellitus
Tratamento
Túnel do carpo
A primeira opção de tratamento é a cirurgia, estando o trata-
Risco de tumor do cólon mento farmacológico colocado em segunda linha nos recentes
algoritmos terapêuticos, com a radioterapia como última opção
Impotência terapêutica.
Galactorreia
–– Cirúrgico (de eleição).
Cirurgia transesfenoidal. Efeitos colaterais: reincidência e
hipopituitarismo ( são mais frequentes num macroadenoma).
–– Tratamento médico.
• Análogos da somatostatina.
Indicados na fase pré-cirúrgica, nas reincidências após a
cirurgia ou radioterapia, em pacientes não operáveis ou
naqueles que recusam a cirurgia: octreotido ou lanreotido,
pasireotido (análogo de descoberta recente, com afinidade
para o recetor da somatostatina 5 vezes superior em rela-
ção aos outros análogos).
Os efeitos colaterais mais frequentes destes fármacos são
os distúrbios gastrointestinais, com um maior risco de
desenvolver a longo prazo colelitíase e diabetes mellitus.
• Pegvisomanto (GH modificada que age como um antago-
Figura 6. Manifestações clínicas da acromegalia. nista do recetor).
Os níveis de GH não diminuem ao contrário dos de IGF-1.
• Agonistas dopaminérgicos.
Exames laboratoriais Como coadjuvantes dos análogos de somatostatina (não
muito eficazes). São usados porque na acromegalia a bro-
–– Hiperfosfatemia e hipercalciúria sem hipercalcemia. mocriptina inibe a produção de GH.
–– Resistência à insulina com hiperglicemia e hiperinsulinismo. –– Radioterapia.
Nos casos de reincidência, persistência da doença após a
Diagnóstico
cirurgia transesfenoidal ou recusa da cirurgia por parte do
A concentração basal de GH não é válida para o diagnóstico, paciente. Contraindicada na presença de distúrbios visuais
dado que tem uma secreção pulsátil. (causa edema cerebral e lesões da via ótica irreversíveis).
–– IGF-1 elevada para o sexo e idade do paciente (teste de rastreio). –– Critérios de tratamento.
–– Ausência de supressão de GH 2 horas após teste de carga de IGF-1 dentro dos limites normais para idade e sexo do pacien-
glicose (75 g de glicose). te e GH após PTOG <1 ng/ml através de RIA. O objetivo do
–– É o exame mais específico para o diagnóstico de acromegalia. tratamento é aumentar a expectativa de vida e melhorar a
Na acromegalia duas horas antes do início do PTOG: GH> 1 qualidade de vida.
ng / ml RIA, com IRMA> 0,3 ng / ml.

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Manual APNA · Endocrinologia

2. Excluir causas fisiológicas (gravidez) e toma de fármacos que


Lembre-se…
aumentam a PRL.
No acromegálico, não há hipercalcemia, mas sim hipercalciuria. 3. Excluir hipotiroidismo, hepatopatia, nefropatia, lesões torá-
Quando se manifesta hipercalcemia, deve-se suspeitar que esta calcemia cicas.
se deva a hiperparatiroidismo primario no contexto de uma MEN1. 4. Excluir prolactinoma (através de RM hipotalâmica- hipofisária).
5. Realizar testes de estímulo à TRH:
Administra-se 200 mcg de TRH para determinar a prolactina
antes e após a administração.
Hiperprolactinemia
É a patologia hipofisária mais frequente. É mais frequente nas Prolactinoma
mulheres. Define-se pela observação de valores de PRL> 25 μg/l, É o adenoma hipofisário mais frequente. Os microprolactino-
ao efetuar a média de várias determinações em condições mas são mais frequentes e predominam nas mulheres (20:1); os
basais (repouso e sem stresse) macroprolactinomas são mais raros e frequentes igualmente em
ambos os sexos (1:1). Os prolactinomas tendem a ter dimensões
Etiologia maiores nos homens por causa do atraso no diagnóstico e pelo
–– Fisiológica facto dos sintomas do hipogonadismo serem menos evidentes.
• Gravidez (segunda causa mais frequente de hiperprolacti-
nemia) e amamentação. Sinais clínicos
• Sono
–– Nas mulheres tratam-se geralmente de microadenomas.
• Stresse.
• Galactorreia.
• Relações sexuais, estimulação da sucção.
• Hipogonadismo hipogonadotrófico, causado pela inibição
–– Fármacos. de secreção de GnRH.
Causa mais frequente de hiperprolactinemia. Sinais clínicos: infertilidade, oligomenorreia, diminuição da
• Antagonistas dos recetores dopaminérgicos. libido, fadiga, osteoporose doença mais arrastada.
–– Metoclopramida, sulpirida, domperidona. • A sintomatologia por compressão é pouco frequente.
–– Fenotiazina (clorpromazina). Cefaleia, alterações visuais, hipopituitarismo.
–– Butirofenonas. • Os macroprolactinomas podem aumentar durante a gravi-
• Outros dez e este crescimento pode trazer frequentemente com-
Estrogénios (anticoncecionais), benzodiazepinas, opiáceos, plicações.
cimetidina, antidepressivos tricíclicos, SSRI, outros (verapa-
–– Geralmente nos homens tratam-se de macroadenomas.
mil, acetato de ciproterona, reserpina, alfa-metildopa).
• Sintomatologia de compressão.
–– Lesões da região hipotálamo-Hipofisária Cefaleia, alterações visuais e hipopituitarismo.
• Hipotálamo • Hipogonadismo hipogonadotrófico.
Qualquer lesão hipotalâmica pode causar hiperprolactine- Impotência, diminuição da libido, infertilidade.
mia devido à queda da dopamina hipotalâmica e conse- • Galactorreia e ginecomastia. Raras nos homens.
quente desinibição da PRL.
• Lesões hipofisárias. Diagnóstico
–– Prolactinoma. –– Determinação da prolactinemia.
–– Tumores mistos (secreção de prolactina e outras hormo- Sempre em condições adequadas e depois de excluir outras
nas). causas de hiperprolactinemia.
–– Tumores que comprimem o pedúnculo hipofisário. • Valores de 25 a 100 μg/l sugerem macroadenoma não
–– Síndrome da sela vazia, causada por compressão do secretor ou hiperprolactinemia por fármacos.
pedúnculo hipofisário. • Valores > 150 μg /l sugerem prolactinoma, se > 200 é inco-
–– Hipofisite linfocítica. mum que não se deva ao prolactinoma. Existe uma corre-
lação entre os níveis de PRL e o tamanho do prolactinoma.
Outras causas
–– Estudos de imagem (ver a figura 8 da próxima página).
–– Hipotiroidismo primário.
RM hipotálamo-hipofisária com meio de contraste (gadolínio).
O aumento do TRH estimula a produção de PRL.
–– Aumento de estrogénios. Tratamento
Cirrose, policistose ovárica, tumores ováricos. Indicações de tratamento
–– Insuficiência renal crónica e insuficiência hepática.
–– Macroprolactinomas.
–– Lesões da parede torácica. Devem sempre ser tratados.
Herpes zoster, queimaduras e traumatismo torácico.
–– Microprolactinomas.
–– Produção ectópica devido a tumores neuroendócrinos (carci- Com sintomas incómodos, alto risco de osteoporose ou mulhe-
noma pulmonar de pequenas células, etc.). res assintomáticas com desejo gestacional. Quando não são
tratados, efetua-se um controlo periódico dos níveis de PRL.
Hiperprolactinemia idiopática
O que fazer em caso de hiperprolactinemia: Tipo de tratamento
1. Confirmar através de um doseamento adequado (na –– Tratamento médico com agonistas dopaminérgicos (PNA
ausência de stresse, a média de três determinações é geral- 2019).
mente realizada: aos 0,+15m e +30m após inserção de É o tratamento de eleição, tanto nos micro como nos macropro-
cânula de punção para evitar hiper-PRL secundária ao lactinomas. Reduzem os níveis de PRL e o tamanho do tumor
stresse da agulha). (em alguns casos levam mesmo ao seu desaparecimento).

20
ma 2 · Hipotálamo-hipófisis

Capítulo 2 · Distúrbios da hipófise e do hipotálamo


• Estudios de imagen: RM hipotalamohipofisaria con contraste
(gadolinio).
maduras y

com bromocriptina. Também se pode manter o tratamento com


(microcí-
A
A bromocriptina (não com o resto dos medicamentos).
–– Macroprolactinoma.
Manter o tratamento com bromocriptina.

Ginecomastia
estrés y
–– Ginecomastia fisiológica.
a de fár- Bebés, adolescentes, idosos.
–– Ginecomastia patológica.
, lesiones • Défice de produção ou da ação da testosterona.
Hipogonadismo (síndrome de Klinefelter...), hiperprolacti-
pofisaria). nemia, insuficiência renal.
• Aumento da produção de estrogénio.
Tumores testiculares secretores de estrogénio, tumores
secretores de hCG (pulmões, testículos), hepatopatia, des-
nutrição, hipertiroidismo, patologia adrenal.
te (MIR). • Fármacos.
minan en
Estrogénio, antiandrogénicos, cimetidina, omeprazol, inibi-
e igual de BB
nden a ser dores da ECA, antagonistas do cálcio, opióides, cetocona-
tico debi- zol, espironolactona, metronidazol.
identes. • Idiopática.

Lembre-se…
Uma ginecomastia repentina num homem sugere
un tumor testicular secretor:
β-hCG (o mais frequente) = Seminoma
e la secre-
d, oligoa- Estrogénio (segregado pelas células de Sertoli ou Leydig)
rosis.
alea, alte-
ismo.
Outros adenomas hipofisários
urante el
ste creci- Adenoma secretor de ACTH
É a doença de Cushing (ver capítulo correspondente). Os níveis
Figura 8. Prolactinoma
Figura 8. Prolactinomagigante. A.RM
gigante. A. Ressonância Magnética
sagital potenciada en T1. Sagital aumentada
B. RM coronal,
em T1. B. RM coronal,
potenciada en T2, queaumentada em T2, de
muestra expansión mostrando expansão
la silla turca da sela turca e
y desplazamiento
de ACTH estão inadequadamente normais ou ligeiramente
isuales e del nervio óptico.
deslocamento do nervo óptico. aumentados.

disminu-
Tradicionalmente tem sido utlizada a bromocriptina. Novos Adenoma secretor de TSH
fármacos,
Tratamiento como a cabergolina ou a quinagolida, têm
Valores elevados ou inadequadamente normais de TSH associa-
demonstrado
• Indicaciones uma eficácia semelhante
de tratamiento com10,
(MIR 16, 86; MIR menos
73; MIR)efeitos
entes en dos a níveis de T4 elevados. Deve efetuar-se o diagnóstico dife-
colaterais e são uma alternativa em pacientes que não res-
- Macroprolactinomas: siempre deben tratarse. rencial com resistência às hormonas tiroideias através de RM
pondem ao tratamento com bromocriptina. Os efeitos cola-
hipotálamo-hipofisária (geralmente são macroadenomas visíveis
terais mais frequentes con
- Microprolactinomas: sãosíntomas
náuseas, vómitos
molestos, e hipotensão
o alto riesgo
de osteoporosis, o mujeres na RM), quociente da subunidade α/TSH (> 1 no adenoma por
ortostática. A cabergolina emasintomáticas con deseo
doses elevadas, comoges- aquelas
tacional. excessiva libertação da subunidade α) e teste de TRH (não pro-
ones ade- utilizadas na Sidoença
no se trata, se realizará un
de Parkinson, control
está periódico
associada ao dedesen-
nemia. los niveles de PRL. voca o aumento de TSH no adenoma mas na resistência). Clini-
volvimento de valvulopatias (aórtica e mitral). Deve realizar-se
• Tipo de tratamiento camente manifesta-se com hipertiroidismo e bócio difuso asso-
a no fun- um ecocardiograma antes do início do tratamento e um con-
ciados a sintomas locais causados pelo tamanho do tumor.
trole periódico durante
- Tratamiento médicoo mesmo.
con agonistas dopaminérgicos:
es eltransesfenoidal.
tratamiento de elección tanto en micro como en Adenoma secretor de gonadotrofinas
>200 es –– Cirurgia
e correla- macroprolactinomas (MIR). Reducen los niveles de PRL y
Indicada em caso de insucesso ou intolerância ao tratamento Segregam principalmente FSH e a subunidade α, dado que a
actinoma. el tamaño tumoral (en algunos casos incluso desaparece). hipersecreção de LH isolada é rara. Geralmente estes macroade-
médico e na presença
Clásicamente se ha de redução
utilizado do campo visual,
la bromocriptina. que
Tanto la não
melhora com o tratamento médico. A cirurgia apresenta uma nomas são diagnosticados a partir de sintomas compressivos.
baixa taxa de cura, por isso é necessário um tratamento sub- Os sintomas não compressivos mais frequentes são: nos
23 sequente com agonistas dopaminérgicos.
homens, macro-orquidia e alterações menstruais nas mulheres.
–– Radioterapia.
Está reservada para os prolactinomas que apresentam reinci-
2.4. Disturbios da neuro-hipófise CO
dência após a cirurgia e não respondem ao tratamento médico. C
MD, D
Prolactinoma e gravidez A ADH ou vasopressina regula a concentração de urina a nível
–– Microprolactinoma. renal, atuando sobre os recetores localizados no túbulo contor-
Suspender o tratamento com agonistas dopaminérgicos e moni- cido distal e no ducto coletor, mantendo assim a osmolaridade
torizar os níveis de PRL; se PRL>400 μg/l, retomar o tratamento plasmática.

21
Manual APNA · Endocrinologia

Diabetes insípida neurogénica ou central O aumento da concentração urinária após a administração


de vasopressina é inferior a 9%.
Consiste na falta de secreção de ADH por parte da neuro-hipó-
• Na diabetes insípida central:
fise.
A osmolaridade urinária não aumenta e não supera a
osmolaridade plasmática após a desidratação, mas ao
Etiologia administrar-se ADH a osmolaridade urinária aumenta mais
–– Primária. de 9% (geralmente > 50% se for completa e entre 9% e
• Idiopática (a causa mais frequente). 50% se for incompleta).
Estes pacientes devem ser monitorizados ao longo do • Na diabetes insípida nefrogénica:
tempo através RM, pois há um risco significativo de apare- A osmolaridade urinária não aumenta e não supera a
cimento de uma patologia hipotalâmica estrutural não osmolaridade plasmática após a desidratação e nem depois
identificável ao diagnóstico. da administração de ADH.
• Hereditária.
–– Autossómica dominante.
APÓS A
–– Ligada ao cromossoma X. APÓS A
RESTRIÇAO
–– Autossómica recessiva. ADMINISTRAÇÃO
HÍDRICA
Na síndrome DIDMOAD ou síndrome de Wolfram, que
combina: diabetes insípida neurogénica, diabetes melli- INDIVÍDUOS Osmu >Osmp Aumento Osmu <9%
tus tipo 1, atrofia ótica, surdez neurossensorial e dilata- SAUDÁVEIS
ção das vias urinárias.
POLIDIPSIA Osmu >Osmp Aumento Osmu <9%
–– Secundária. PRIMÁRIA
• A patologia hipotalâmica.
Tumores ou granulomas hipotalâmicos (metástases, sarcoi- D.I. CENTRAL Osmu <Osmp Aumento Osmu >50%
dose, doença de Hans-Schüller-Christian: tríade de diabetes COMPLETA
insípida, exoftalmia e lesões ósseas), cirurgia hipotalâmico-
D.I. CENTRAL Osmu <Osmp Aumento Osmu 9-50%
-hipofisária (pode ser transitória ou permanente), trauma- PARCIAL
tismo craniano.
• Aos fármacos. D.I.
NEFROGÉNICA Osmu <Osmp Não aumento Osmu
Clorpromazina, fenitoína, álcool. Por traumatismo craniano
(frequente DI transitória por trauma de desaceleração).
Quadro 3. Diagnóstico diferencial entre : DIC, DIN e polidipsia primária.
Sinais clínicos
Os sintomas manifestam-se repentinamente e consistem em Tratamento
poliúria, nictúria e polidipsia. Nas crianças pode manifestar-se
–– Desmopressina (por via intranasal ou oral).
inicialmente por enurese noturna.
De eleição.
Existe uma variante da diabetes insípida com adipsia (falta de
–– Vasopressina em solução aquosa (s.c. ou i.m. a cada 3-6 horas).
um mecanismo da sede adequado na presença de subida da
Nos pacientes inconscientes.
osmolaridade plasmática) devido a uma patologia hipotalâmica
prévia (por exemplo neurossarcoidose com invasão dos neuró- –– Existem outros tratamentos menos eficazes que podem ser
nios responsáveis pelo centro da sede) que induz hipernatremia usados no tratamento da diabetes insípida central parcial: clo-
e uma desidratação muito significativa. rpropamida, carbamazepina e clofibrato.
Lembre-se...
Diagnóstico
Lembre-se…
–– Diminuição da osmolaridade urinária (<300 mOsm / kg) e da
densidade urinária (<1,010). Por ordem de frequência as causas de DIC são as seguintes:
1ª. Idiopática
–– Aumento da osmolaridade plasmática (> 290 mOsm / kg).
2ª Traumatismo craniano
–– Teste da sede, teste de restrição hídrica ou teste de Miller. 3ª Tumores cerebrais
É realizado em caso de dúvida. Não é necessário realizá-lo 4ª Cirurgia hipotalâmica ou hipofisária
quando o paciente apresenta sinais de desidratação, a Osmp
> 295 mOsm/kg ou a concentração de Na+ > 145 mEq / l. Os sinais clínicos típicos relacionados à DI são: uma pessoa jovem
Avalia a capacidade renal de excreção de urina hipertónica na que de repente começa a beber grandes quantidades de água.
presença de restrição hídrica. Após a suspensão da ingestão
de líquidos, determina-se a osmolaridade urinária (Osmu) e a Craniofaringioma é um tumor supra-selar que está relacionado
osmolaridade plasmática (Osmp) e, de seguida, administra-se com: défice de GH, DIC e calcificações supra-selares em forma de
vasopressina (ADH) e faz-se nova avaliação. parêntesis.
• Nos indivíduos com uma função hipofisária normal:
Após a desidratação, a osmolaridade urinária é de duas a Diabetes insípida nefrogénica
quatro vezes mais elevada que a do plasma e não aumenta
mais de 9% após a injeção de vasopressina (a secreção já Ausência de resposta renal completa ou parcial à ADH.
está no nível mais elevado antes da injeção). Etiologia
• Na polidipsia primária (potomania):
A urina é levemente concentrada após a desidratação, mas As formas secundárias são menos frequentes do que as primárias.
aumenta tornando-se superior à plasmática. Nestes casos –– Primária
deve-se prolongar por mais tempo o teste, porque a res- • Recessiva ligada ao cromossoma X que afeta o gene do
posta pode levar várias horas para ocorrer. recetor V2 de ADH.

22
Capítulo 2 · Distúrbios da hipófise e do hipotálamo

–– Secundária. frequente e mais sensível, a hipovolemia é outro estímulo


• Patologias renais. menos frequente mas mais potente); a secreção de ADH faz
Nefropatias crónicas túbulo-glomerulares, policistose renal, aumentar a reabsorção renal de água e compensa o défice.
após uropatias obstrutivas (para curarem é necessário 1-2 O excesso de ADH na ausência de um estímulo fisiológico causa
meses). retenção de água livre e, por conseguinte, a diluição do sódio
• Hipercalcemia, hipopotassemia (insensibilidade à ADH no plasmático e a concentração de sódio na urina: hiponatremia e
túbulo). natriurese.
• Fármacos.
O mecanismo de escape “da antidiurese” é um mecanismo de
Lítio, demeclociclina (tipo de tetraciclina).
proteção contra o excesso de retenção de água e hiponatremia
Tratamento grave em casos de exposição prolongada à ADH. Devido a este
fenómeno, não aparecem edemas na SIADH, uma vez que o flui-
1. Correção de alterações metabólicas (cálcio, potássio).
do extracelular se encontra praticamente em condições normais.
2. Restrição do consumo de sal.
3. Hidroclorotiazida (diuréticos tiazídicos).
Sinais clínicos
4. Como adjuvante: indometacina.
São os próprios sintomas de hiponatremia que dependem dos
valores do sódio plasmático e da velocidade da ocorrência da
Síndrome da secreção inapropriada de ADH (SIADH) mesma (na hiponatremia crónica a sintomatologia é pouco evi-
Devido à secreção inapropriadamente elevada relativamente à dente).
osmolaridade plasmática. É a causa mais frequente de hipona- –– Assintomáticos.
tremia euvolémica. Geralmente hiponatremias leves com uma longa evolução.
–– Sintomas leves/moderados (geralmente Na> 120 mEq/L e
Etiologia aparecimento em > 48 horas).
As causas mais frequentes da SIADH são: doenças pulmonares, Cefaleia, irritabilidade, desatenção, bradipsiquia, anorexia,
neurológicas e os fármacos. náusea, vómito, sonolência. A hiponatremia crónica tem sido
relacionada com a osteoporose, com um maior risco de que-
Patogénese das, com instabilidade e com fraturas.
A hormona antidiurética é responsável pela regulação da osmo- –– Sintomas moderados/graves (geralmente Na <120 mEq / L e
laridade plasmática através do controlo da eliminação da água aparecimento em <48 horas).
livre por parte do rim. O principal estímulo para a ADH é a Fraqueza muscular e hiporreflexia, letargia, coma, convulsões,
desidratação (a hiperosmolaridade plasmática é o estímulo mais dificuldade respiratória...

Critérios de diagnóstico da SIADH


Pressupõe duas condições:
TUMORES (PRODUÇÃO ECTÓPICA) 1. Hiponatremia hipoosmolar normovolémica na ausência de:
Carcinoma do pulmão (sobretudo microcítico), o mais frequente. • Diminuição do volume efetivo circulante (sem edema nem
Outros: cancro da cabeça e do pescoço, neuroendócrinos extrapulmonares… ascite, pressão venosa e tónus ocular normais, sem hipo-
tensão ou ortostatismo).
PATOLOGIA PULMUNAR BENIGNA (SÍNTESE LOCAL) • Toma de diuréticos.
• Insuficiência adrenal, insuficiência renal ou hipotiroidismo.
Pneumonia (especialmente atípica), tuberculose, asma, abscessos, • Situações de estímulo fisiológico à secreção de ADH.
empiema, pneumotórax, insufiência respiratória... Dor, pós-operatório (etc...). Até há pouco tempo a hipo-
natremia pós-cirúrgica era considerada uma causa de
PRODUÇÃO NO SNC (DOENÇAS NEUROLÓGICAS) SIADH. Atualmente é considerada como sobrecarga
Traumatismos, tumores hídrica aguda pós-cirúrgica e é tratada com solução
Alt. vasculares: AVC, hemorragia subaracnoideia fisiológica para normalizar a natremia quando se manifes-
Infeções: meningite, encefalite tam sintomas neurológicos (o tratamento não muda).
Oultros: neurolúpus, privação alcoólica 2. Alterações laboratoriais típicas:
• Hiponatremia (Na <135 mEq/L) hipoosmolar (Osm plasma
FÁRMACOS (MÚLTIPLOS) <275 MOsm/kg).
• Osmolaridade na urina não adequadamente reduzida
Clorpropamida, carbamazepina (e derivados), vasopressina (Osm urina> 100 mOsm/kg).
(e derivados) ciclofosfamida, SSRI (os mais frequentes) • Sódio na urina inapropriadamente alto (Na urina> 40
Oultros: quimioterápicos (vincristina, vinblastina, cisplatina…), mmol/l).
haloperidol, bromocriptina, amitriptilina, IMAO, opiáceos,
AINEs, ácido valpróico, amiodarona, ciprofloxacina…
A determinação dos níveis de ADH é pouco útil. A partir dos
critérios, deduz-se que a SIADH não pode ser diagnosticada com
OUTROS
segurança na presença de grande stresse, dor, hipovolemia,
SIADH hereditária hipotensão ou outros estímulos capazes de induzir a libertação
SIADH idiopática (em idosos sem causa aparente) ventilação de ADH. Além disso, a SIADH caracteriza-se por (embora não
mecânica com pressão positiva, síndrome de Guillain-Barré, sejam critérios de diagnóstico, permitem suspeitar da síndrome):
pós-comissurotomia da válvula mitral, arterite temporal… –– Balanço de potássio e equilíbrio ácido-base inalterado.
–– Hipouricemia.
Quadro 4. Etiologia da SIADH.

23
Manual APNA · Endocrinologia

Diagnóstico diferencial
Lembre-se…
O diagnóstico diferencial deve ser realizado com outras causas
de hiponatremia (estuda-se em Nefrologia). As ações endócrinas do lítio
Estimula a PTH – hipercalcemia
Tratamento Inibe a ação da ADH no túbulo de conexão → DIN
Inibe a libertação das hormonas tiroideias →Hipotiroidismo primário.
O tratamento de eleição será determinado, principalmente,
pela doença de base, pelos sintomas do paciente e pela rapidez
com que surge. Dado que na SIADH existe um excesso de água Importante: nunca se deve administrar tolvaptan associado ou
livre total e um défice relativo de sódio, as possibilidades tera- no mesmo dia do que a solução fisiológica hipertónica. No pri-
pêuticas incluem: meiro dia da administração de tolvaptan não deve associar- se
1. Tratamento da doença de base ou suspensão do fár- a restrição hídrica nem a furosemida.
maco desencadeante, se possível.
2. Restrição da ingestão de líquidos (500-1.000ml/dia). Aporte
de sódio por via oral. Tratamento da SIADH
3. Diuréticos:
• Diuréticos da ansa (furosemida).
Eliminam proporcionalmente mais água do que sódio e Sintomas moderados/graves Sintomas leves/moderados
ajudam a corrigir a hiponatremia. Manifestação aguda <48 h Manifestação não-aguda >48 h
• Vaptanos (geralmente Na+ <120 mEq/l) (geralmente Na+ >120 mEq/L)
São antagonistas dos receptores V2 para a vasopressina
(conivaptan EV, tolvaptan oral). Existem três recetores Solução salina Calcular
hipertónica a 3% (Na+ urina + K+ urina) / Na plasma
para a vasopressina: V1a, que produz vasoconstrição,
V1b, que induz a libertação de ACTH e V2 que medeia o
efeito antidiurético a nível renal. Os Vaptanos induzem a <0,5 0,5-1
diurese hipotónica sem envolver a excreção de eletrólitos >1
Restrição hídrica Restrição hídrica Tolvaptan
(são os únicos diuréticos “aquaréticos”), fazendo com a 1.000 mL/dia a 500 mL/dia
que aumente o nível de sódio plasmático. Estes fármacos
são eficazes não só no tratamento da hiponatremia euvo- Figura 9. Algoritmo do tratamento da SIADH. Bibliografia: Algoritmo do trata-
lémica (SIADH), como também na hipervolémica (cirrose mento de consenso na hiponatremia. Documento de consenso da SEN, SEEN e
hepática, insuficiência cardíaca...), ainda que na Europa SEMI.
estejam autorizados apenas para a SIADH. Ainda existe
pouca experiência na sua utilização na prática clínica, mas
são considerados os mais adequados para a gestão da
SIADH. Possíveis limitações para a sua utilização: custo
elevado, sede intensa, subida muito rápida da natremia
quando combinada com a restrição hídrica.
4. “Tóxicos” renais.
Demeclociclina, lítio. Diminuem a resposta renal à ADH
(causam diabetes insípida nefrogénica) e incrementam a eli-
minação de água. No entanto, ambos os fármacos têm
potenciais efeitos colaterais. Geralmente não são utilizados.
5. Fluidoterapia
Está indicada na SIADH aguda e sintomática. Utiliza-se
geralmente a solução fisiológica (0,9%) nas hiponatremias
moderadas e a solução salina hipertónica (3%) nos quadros
graves.
A solução fisiológica pode agravar a hiponatremia na fase
aguda, por isso é aconselhado, atualmente, o uso de solu-
ção salina hipertónica no caso de hiponatremias agudas
graves com sintomas neurológicos importantes, enquanto
que a solução fisiológica deve ser usada nas formas leves ou
crónicas.
A correção do nível de sódio deve ser feita com atenção
para evitar a desmielinização osmótica (ou mielólise pôntica
central) que pode manifestar-se quando se aumenta o Na
+> 6-8 mEq/l em 24 horas.

24
Capítulo 3
CO
Distúrbios da glândula tiroideia A
MD, D

3.1. Fisiologia feedback negativo: se fT4L e fT3L aumentarem, diminui a TSH.


Se fT4L e o fT3L diminuírem, a TSH aumenta.
Síntese, transporte e metabolismo
Situações em que a conversão periférica de T4 em T3 é
A tiroide produz 100% da tiroxina (T4) plasmática e cerca de reduzida
20% da triiodotironina (T3) plasmática, uma vez que os restan-
tes 80% da T3 derivam da conversão periférica da T4 por parte –– Fisiológicas: Bebés, idosos.
de desiodases de tipo 1 e de tipo 2. –– Jejum e desnutrição.
A T3 é três vezes mais potente do que a T4 e tem uma semivida –– Doença sistémica grave, trauma e fase pós-operatória.
inferior a esta última. A T4 é mais abundante. –– Fármacos:
Propiltiouracilo, dexametasona, propranolol, amiodarona,
A fração metabolicamente ativa é aquela que circula de forma contrastes iodados.
livre, o resto liga-se às proteínas plasmáticas: a mais importante
é a globulina transportadora de tiroxina (TBG, thyroxine-binding
Efeito Wolff-Chaikoff
globulin), que tem uma maior afinidade para a T4 (percentagem
maior de T3 livre que T4 livre), pré- albumina (ou transtirretina) e Bloqueio da organificação do iodo e da síntese das hormonas
albumina. Se existirem alterações na concentração das proteí- tiroideias devido a um excesso de ingestão de iodo; uma tiroide
nas, a concentração das hormonas totais também se altera. Se normal depois de um tempo tende a escapar do bloqueio.
por causas diversas (gravidez, estrogénios, hepatite, cirrose
biliar, porfiria aguda intermitente, infeção por HIV, heroína, clo- Fenómeno de Jod-Basedow
fibrato, metadona, tamoxifeno, 5 Fluorouracil) aumentar a TBG,
aumentam também as hormonas totais, uma vez que as livres Indução de tireotoxicose devido à administração de grandes
permanecem normais. Da mesma forma, quando diminui a TBG quantidades de iodo (fenómeno inverso). Mais frequente na
(androgénios, altas doses de glucocorticoides…) diminuem as tiroide já afetada por uma patologia (bócio multinodular).
hormonas plasmáticas totais e as livres permanecem normais.
Assim, deve-se sempre medir a concentração de hormonas tiroi-
deias livres (fT4L e fT3L). Cerca de 40% da T4 transformam-se a Efeito de Wolff-Chaikoff Efeito Jod-Basedow
nível periférico em T3 ou em T3 reversa (rT3). Esta última apre-
senta reduzidos efeitos metabólicos. Bócio simples ou multinodular

Hipotiroidismo transitório Hipertiroidismo transitório


Ação causado por iodo causado por iodo
As hormonas tiroideias ativam o metabolismo energético
aumentando o consumo calórico, regulam o crescimento e a Figura 2. Efeito de Wolff-Chaikoff e efeito de Jod-Basedow.
maturação dos tecidos e a substituição de todos os substratos,
vitaminas e hormonas.
Tireoglobulina
Regulação
O doseamento de tireoglobulina é útil no acompanhamento do
A TRH hipotalâmica ativa a secreção de TSH que, por sua vez, carcinoma da tiroide (papilar ou folicular) por evidenciar resí-
sua vez estimula a hipertrofia e hiperplasia da tiroide, a síntese duos ou reincidência, ou então no diagnóstico diferencial das
e a secreção hormonal. As hormonas tiroideias, principalmente tireotoxicoses (usado na tireotoxicose factícia).
a T3, inibem a secreção de TSH e TRH. É um exemplo claro de

Calcitonina
HPT
IPT É sintetizada nas células C ou parafoliculares da tiroide, de ori-
gem neuroendócrina.
TRH
A secreção de calcitonina é estimulada pela hipercalcemia e em
HPF
IPF teoria causa hipocalcemia. Apesar disso, a calcitonina nos seres
humanos não é clinicamente relevante para a regulação do cál-
TSH cio plasmático. Inibe a reabsorção óssea, sendo na realidade
Tiroides
Tiroide utilizada no tratamento da osteoporose.
A TSH não intervém na sua regulação mas sim o cálcio plasmá-
Prealbumina
TBPA
T4 + TBG T3 tico.
Albúmina
Albumina A hipercalcemia faz com que aumente a calcitonina e a hipocal-
-–Amiodarona
Amiodarona cemia diminui-a.
–- Propiltiouracilo
Propiltiouracil Para identificar algumas formas subclínicas é utilizado o teste de
–- Propranolol
Propanol
–- Dexametasona
Dexametasona estimulação com pentagastrina (ou gluconato de cálcio); alguns
–- Contrastes
Contrastes yodados
Iodados minutos após a administração verifica-se um aumento significa-
tivo de calcitonina nas hipercalcitoninemias neoplásicas.
Figura 1. Regulação hormonal da tiroide
25
Manual APNA · Endocrinologia

Anticorpos antitiroideus Sinais clínicos


São de vários tipos: os antimicrossomais ou antiperoxidases Geralmente é assintomática, exceto quando causa compressão
(aTPO), os tireoglobulina (aTG) e aqueles dirigidos contra os das estruturas próximas: disfagia, dispneia, comprometimento
recetores da TSH. Podem aparecer nas pessoas sãs, sobretudo do retorno venoso que se acentua quando se levantam os bra-
em idade avançada, mas geralmente aparecem nas doenças da ços (Sinal de Pemberton) causando tontura e síncope. A rouqui-
tiroide autoimunes (doença de Graves, tiroidite de Hashimoto). dão, que se deve à compressão do nervo recorrente é menos
frequente e sugere uma causa neoplásica. Pode surgir dor devi-
do a hemorragia local. Não há sinais ou sintomas clínicos de
3.2. Síndrome do doente eutiroideu ou hiper ou hipofunção da tiroide.
“nonthyroidal illness”
No caso de doenças graves, traumatismos relevantes ou situa- Diagnóstico
ções de stresse, a 5’-monodeiodinase é inibida com diminuição
na conversão periférica de T4 a T3 e um aumento da conversão –– Exame objetivo (inspeção, palpação).
de T4 a rT3, causando uma queda de T3 livre e um aumento de –– Hormonas tiroideias e TSH.
rT3. A fT4L e a TSH podem estar dentro do normal ou diminuí- Podem evidenciar hipotiroidismo ou mais tipicamente eutiroi-
das. Trata-se de um mecanismo adaptativo do metabolismo das dismo; em caso de hipertiroidismo suspeitar de uma evolução
hormonas tiroideias perante uma situação de stress intercorren- “tóxica” do bócio.
te. É um quadro frequente em pacientes nas unidades de cuida- –– Exames de imagem.
dos intensivos com comorbilidade grave e não requer tratamen- Ecografia (fornece informações sobre o tamanho e a eventua­
to. lidade da presença de nódulos)
Cintigrafia da tiroide (em caso de hipertiroidismo)
Radiografia do tórax e pescoço (documenta um eventual des-

}
vio traqueal e calcificações).
T4 T3 TC cervical e do tórax (no bócio mergulhante).
T3 com rT3
fT4L e TSH dentro
do normal ou
rT3 Tratamento
Não existe tratamento padrão. Perante um paciente assintomá-
Figura 3. Síndrome do doente eutiroideu. tico:
1. Observação ao longo do tempo (espere e veja).
Tratamento com levotiroxina em doses supressivas (de
3.3. Bócio simples modo a manter a TSH em limites inferiores ao normal com
fT4L normal). Atualmente, não existe evidência para reco-
Trata-se do aumento da glândula tiroideia não induzido por mendar o uso de levotiroxina em doses supressivas nos
processos inflamatórios ou neoplásicos, com níveis normais de locais com ingestão adequada de iodo.
hormonas tiroideias e TSH. Pode ser multinodular ou difuso.
2. Radioiodo (I131).
–– Bócio endémico. De eleição em pacientes de elevado risco cirúrgico e sinais
Quando afeta mais de 10% da população de um lugar. clínicos de compressão. Efeitos colaterais: tiroidite pós-
Depende geralmente do défice de iodo. radioiodo (pode manifestar-se como um aumento transitó-
–– Bócio esporádico. rio de bócio e exacerbar os sinais clínicos de compressão) e
Mais frequente nas mulheres. hipotiroidismo.
3. Cirurgia
Etiologia
Se o paciente apresentar sintomas de compressão ou quan-
–– Défice de iodo. do se suspeita de uma neoplasia.
Causa mais frequente de bócio endémico.
–– Substâncias bociogénicas
• Alimentos (Brassicaceae ou Cruciferae): Profilaxia
Couves, nabos, couve-lombarda, brócolos, repolho, man-
dioca, milho. Sal e água iodada, em zonas com deficiência de iodo.
• Medicamentos
Lítio (o principal), antitiroideus, ácido para-aminossalicílico,
fenilbutazona, contrastes iodados, perclorato de potássio, 3.4. Hipotiroidismo
tiocianato.
• Administração crónica de iodo. Défice de secreção de hormonas tiroideias, mais frequente nas
Amiodarona, expectorantes, tintura de iodo, iodopovidona. mulheres acima dos 60 anos.
–– Disormonogénese.
Alterações congénitas da síntese das hormonas tiroideias Etiologia
entre as quais está a síndrome de Pendred (bócio simples ou
com hipotiroidismo e surdez neurogénica). Doença devido a –– Hipotiroidismo primário (95%).
um defeito mutacional da pendrina, transportador de iodo Devido a patologia tiroideia primária.
na membrana apical das células da tiroide e no ouvido interno. • Défice endémico de iodo (a causa mais frequente a nível
global).

26
Capítulo 3 · Distúrbios da glândula tiroideia

• Hipotiroidismo autoimune (causa mais frequente nos países –– Sinais.


desenvolvidos). Voz rouca, pele seca, perda de pelos, rarefação do terço distal
Hipotiroidismo de origem autoimune (causa mais frequente das sobrancelhas (sinal de Hertoghe), macroglossia, edema,
no mundo ocidental): tiroidite de Hashimoto, causa mais cardiomegalia, bradicardia sinusal ou bloqueio atrioventricu-
frequente de hipotiroidismo adquirido, pode estar associa- lar, derrame pericárdico, diminuição da necessidade de insu-
do a outras doenças autoimunes, endócrinas e não endó- lina em diabéticos, reflexos tendinosos lentos (PNA 2019).
crinas (Síndromes Poliglandulares Autoimunes). - Doenças associadas.
• Disgenesia da tiroide (causa mais frequente de hipotiroidis- Síndrome da apneia obstrutiva do sono, síndrome do túnel do
mo congénito). carpo, rabdomiólise, ataxia cerebelar.
Aplasia, hipoplasia, glândula ectópica.
• Desormonogénese.
• Hipotiroidismo transitório.
Tiroidite subaguda indolor, tiroidite subaguda de Quervain.
• Ablação da tiroide (hipotiroidismo transitório ou permanen-
te). Iodo radioativo, cirurgia da tiroide, irradiação de neo-
plasias ao nível do pescoço.
• Fármacos que contêm iodo ou interferem com a sua orga-
nificação (amiodarona, lítio, tionamidas, perclorato de
potássio, tiocianato).
Devido ao efeito de Wolff-Chaikoff (mais frequente em
pacientes com doença tiroideia autoimune prévia e nos
fetos).
–– Hipotiroidismo secundário.
De origem hipofisária.
Hipotiroidismo Hipertiroidismo
–– Hipotiroidismo terciário.
De origem hipotalâmica. Figura 4. Expressão facial em Hipo e hipertiroidismo.
–– Resistência periférica às hormonas tiroideias (raro).

Lembre-se…
Sinais clínicos
A madarose (perda de pelos das pestanas e sobrancelhas) não
é patognomónica da patologia tiroideia e pode ser vista
Infância noutras doenças como a sífilis, lepra ou dermatite atópica
O hipotiroidismo neonatal (congénito) é difícil de reconhecer (estuda-se em Dermatologia).
clinicamente. Pode manifestar-se de forma inespecífica, com
rejeição de alimentos, choro rouco, sonolência, icterícia persis-
tente, hérnia umbilical, obstipação ou defeitos no encerramen-
Coma mixedematoso
to das fontanelas. Não se verifica baixo peso ao nascimento
porque o crescimento intrauterino não é regulado pelas hormo- Manifesta-se, principalmente, nos pacientes idosos com hipoti-
nas tiroideias. roidismo grave não tratado, na presença de um fator desenca-
deante. Entre estes últimos é particularmente evidente a expo-
Para evitar o atraso do diagnóstico, é realizado globalmente um
sição ao frio, infeções, cirurgia... Pode apresentar elevada
rastreio neonatal de hipotiroidismo congénito, através do
mortalidade se não for reconhecido, por isso é necessário ter
doseamento da TSH, efetuado entre o 3º e o 5 dia com sangue
uma forte suspeita clínica para o seu diagnóstico. Sintomas:
obtido do calcanhar.
hipotermia, hipoventilação e insuficiência respiratória, bradicar-
Se não for diagnosticado e tratado adequadamente, verificam- dia acentuada, hiponatremia, mixedema (infiltração da substân-
-se alterações graves no desenvolvimento físico e mental que cia fundamental da derme e de outros tecidos por parte dos
levam a um quadro clínico denominado cretinismo: atraso glicosaminoglicanos).
mental, baixa estatura com atraso na idade óssea, distensão
abdominal, pele seca e fácies típica com edema periorbital e
macroglossia. Quando o hipotiroidismo não é congénito, mas Diagnóstico
manifesta-se antes dos dois anos, pode também evoluir para
um quadro de cretinismo com atraso mental. –– TSH
Contrariamente, quando se manifesta após os 2 anos, geral- O elemento mais útil para o diagnóstico. Aumentada no hipo-
mente não apresenta atraso mental. Nestes casos, manifesta-se tiroidismo primário (95% dos hipotiroidismos) e diminuída ou
com baixa estatura, atraso na maturação sexual e da puberda- inadequadamente normal no hipotiroidismo secundário e ter-
de, dificuldade na aprendizagem, apatia e letargia. ciário. É, em geral, o primeiro teste a ser realizado quando se
suspeita de hipotiroidismo.

Adultos –– fT4L.
Diminuída, com exceção do hipotiroidismo subclínico (TSH
Trata-se de um quadro clínico insidioso e progressivo. elevada e fT4L normal).
–– Sintomas –– Anticorpos antitiroideus.
Cansaço, diminuição do apetite, intolerância ao frio, tendên- aTPO e / ou TG frequentemente elevados no hipotiroidismo
cia a sonolência, dificuldade de concentração, aumento de autoimune.
peso, obstipação, depressão, demência.

27
Manual APNA · Endocrinologia

–– Outras alterações A correção farmacológica com tiroxina melhora os sintomas e


Hiponatremia, aumento do colesterol e/ou triglicéridos (no diminui o risco de progressão para hipotiroidismo clínico.
hipotiroidismo primário), aumento de CPK e GOT (no hipoti-
Antes de iniciar o tratamento é necessário confirmar o resultado
roidismo primário, até mesmo rabdomiólise), anemia (normo-
dos dados laboratoriais com algumas semanas de intervalo.
cítica ou macrocítica).
A levotiroxina deve ser tomada, pelo menos, 60 minutos antes
do pequeno almoço (ou 3 horas após a refeição da noite) e
TSH FT4L T3 algum tempo após algumas substâncias que inibem a sua absor-
HIPOTIROIDISMO ção, como sulfato de ferro ou carbonato de cálcio.
Alta Normal Normal
SUBCLÍNICO
Indicações para o tratamento substitutivo com
HIPOTIROIDISMO levotiroxina (ver a figura 5 na página seguinte):
Alta Baixa Baixa
CLÍNICO
1. Pacientes com idade ≤65-70 anos com TSH> 10 mU / L inde-
HIPOTIROIDISMO Baixa ou pendentemente da presença de sintomas.
Baixa Baixa
SECUNDÁRIO normal 2. Pacientes ≤65-70 anos com TSH ≤10 mU / L na presença de
sintomas. Na ausência de sintomatologia compatível com
DOENÇA SISTÉMICA Normal Normal (ou
Baixa hipotiroidismo subclínico deve reavaliar-se a função tiroideia
EUROTIROIDEIA (ou baixa) baixa)
no prazo de 6 meses.
HIPERTIROIDISMO 3. Pacientes com idade> 70 anos, somente na presença de TSH>
Baixa Normal Normal
SUBCLÍNICO 10 mU / L, dislipidemia ou sinais claros de hipotiroidismo.
4. Pacientes submetidos a hemitiroidectomia com hipotiroidis-
HIPERTIROIDISMO mo subclínico persistente.
Baixa Alta Alta
CLÍNICO
5. Pacientes com Hipotiroidismo Subclínico associado a bócio
TIROTOXICOSE FACTÍCIA simples ou nodular.
Baixa Alta Alta 6. Mulheres grávidas com TSH> 2,5 mU / L no primeiro trimes-
T4
tre,> 3,0 mU / L no segundo trimestre e> 3,0 mU / L no
TIROTOXICOSE FACTÍCIA terceiro trimestre.
Baixa Baixa Alta
T3 7. Mulheres que pretendem planear uma gravidez para breve,
HIPERTIROIDISMO NORMAL com TSH> 2,5 mU / L.
Alta Alta
SECUNDÁRIO (ou alta)
Não há evidência de que o tratamento com L-T4 favoreça perda
RESISTÊNCIA PERIFÉRICA de peso em pacientes obesos com hipotiroidismo subclínico leve
NORMAL
HORMONAS Alta Alta (TSH <10 mU / L). Além disso, quando se opta por não tratar
(ou alta)
TIROIDEIAS com levotiroxina, é necessário reavaliar a função tiroideia e os
autoanticorpos antitiroideus passadas 8 a 12 semanas e, no
Quadro 1. Hormonas nas diferentes patologias da tiroide. caso de normalização espontânea da TSH, com ausência de sin-
tomas, de anticorpos antitiroideus ou de bócio, não são neces-
sários outros exames. Contrariamente, se o hipotiroidismo sub-
Tratamento
clínico persistir, a função tiroideia deve ser reavaliada a cada 6
Baseia-se na compensação do défice com levotiroxina exógena. meses durante, pelo menos, 2 anos e, mais tarde, anualmente.
As linhas de orientação mais recentes do European Thyroid
–– Em doentes cardiopatas ou idosos, inicia-se com doses baixas
Journal sublinham como a concentração de Ab-TPO pode
e aumenta-se a dosagem progressivamente.
decrescer ao longo do tempo, todavia a repetição do seu dosea-
–– No hipotiroidismo hipofisário ou hipotalâmico deve excluir-se mento não é útil na monitorização do hipotiroidismo.
uma insuficiência adrenal associada e, na presença da mesma,
começar o tratamento com glicocorticoides antes do de levoti-
Meta a atingir: nas últimas linhas de orientação da European
roxina, com o objetivo de evitar uma crise adrenal aguda.
Thyroid Association recomenda-se uma dose inicial de levotiro-
–– Ajuste da dose. xina de 50-100 μg / dia ou 1,6 μg / kg / dia.
No hipotiroidismo primário baseia-se na TSH (deve ser nor-
Geralmente é mais eficaz começar com a dosagem completa,
mal), enquanto que no hipotiroidismo secundário e terciário,
exceto em pacientes com doença cardíaca isquémica, em que é
em que a TSH não é muito útil, o objetivo é manter a fT4L
mais seguro começar com doses baixas (25 μg / dia) e, poste-
próxima dos limites superiores do normal.
riormente, ir aumentando gradualmente (em 25 μg a cada 2-3
Hipotiroidismo subclínico semanas). Esta abordagem é recomendada nos idosos mesmo
na ausência de uma doença cardíaca concomitante.
A prevalência de hipotiroidismo subclínico é de 4-10% na popu-
lação geral e de 7-26% na população idosa. O principal objetivo do tratamento com Levotiroxina é a manu-
tenção da TSH plasmática no intervalo de referência (0.4- 4); em
Trata-se de uma condição em que os níveis de fT4L ainda estão
idosos (> 70 anos), níveis de TSH mais altos (4-6) são considera-
dentro dos limites normais, mas a TSH está aumentada. Pode estar
dos aceitáveis. É necessário repetir a dosagem da TSH 4-6 sema-
associado a sintomas não específicos de hipotiroidismo, assim
nas após o início ou modificação do tratamento com Levotiro-
como a dislipidemias (em especial hipercolesterolemia), aumento
xina. Em caso de necessidade de maiores dosagens de
de risco cardiovascular, síndrome metabólica e aterosclerose.
Levotiroxina relativamente às expectáveis com base no Peso
Cerca de 2% dos doentes progride, anualmente, para para Corporal do paciente, deve considerar-se a possibilidade de dis-
hipotiroidismo franco (cerca de 4% se tiverem autoanticorpos túrbios gastrointestinais associados, como gastrite atrófica ou
positivos). HP, ou doença celíaca.

28
Capítulo 3 · Distúrbios da glândula tiroideia

Idade ≤ 70 anos Idade > 70 anos

TSH <10 mU/L TSH ≥10 mU/L TSH <10 mU/L TSH ≥10 mU/L

Sintomas* Terapia com L-T4

Não Sim

Terapia com L-T4 duran- Não tratar Terapia com L-T4, sobretudo em
Repetir TSH te 3 meses e posterior
após 6 meses Repetir TSH casos com sinais claros de
reavaliação de TSH Após 6 meses hipotiroidismo ou de dislipidemia

* Dependendo das circunstâncias, as pessoas com bócio, dislipidemia, diabetes mellitus e mulheres que planeiam uma gravidez num futuro próximo também podem ser
* Dependendo
abrangidas pela terapiadas
comcircunstâncias,
L-T4. pessoas com bócio, dislipidemia, diabetes mellitus e mulheres que planeiam uma gravidez num futuro
próximo também podem ser abrangidas pela terapia com LT4.
Figura 5. Algoritmo de diagnóstico para o tratamento do Hipotiroidismo Subclínico.

Coma mixedematoso • Tumor trofoblástico (secretor ß-HCG, que sendo semelhan-


Tratamento de suporte (fluidoterapia), hidrocortisona por via te à TSH estimula a tiroide).
endovenosa e levotiroxina por via endovenosa, eventualmente Coriocarcinoma, mola hidatiforme, carcinoma embrionário
associada à liotironina (T3 exógena). A administração atempada do testículo.
de hidrocortisona é essencial para evitar uma crise adrenal. • Resistência hipofisária às hormonas tiroideias.
Monitorizar durante o tratamento o doseamento de hormonas
tiroideias a cada 1-2 dias, e posteriormente de TSH. Doença de Graves-Basedow
É a causa mais frequente de hipertiroidismo e é 10 vezes mais
frequente nas mulheres e nas pessoas com predisposição fami-
3.5. Hipertiroidismo liar (está relacionada com HLA DR3 e B8). É caracterizada por
hipertiroidismo primário com bócio difuso, oftalmopatia infiltra-
tiva e mixedema pré-tibial.
Conceitos
–– Tirotoxicose. Etiologia
Excesso de hormonas tiroideias circulantes (endógenas ou A sua etiologia é autoimune, podendo associar-se a outras
exógenas). doenças autoimunes. São produzidos anticorpos que se ligam
–– Hipertiroidismo. aos recetores da tiroide (TRAB, entre eles os anticorpos estimu-
Excesso de produção hormonal da tireoide. ladores do recetor de TSH: TSAB ou TSI) e que induzem a ativa-
ção (efeito TSH-like), verificando-se o crescimento da tiroide
Geralmente a fT4L e a fT3L estão aumentadas. A fT3L pode estar (bócio) e um aumento da síntese das hormonas tiroideias (hiper-
elevada com fT4L normal (toxicose T3) no adenoma tóxico, na tiroidismo primário).
doença de Graves, no bócio multinodular tóxico e nas fases
iniciais da doença de Hashimoto (Hashitoxicose). Quadro clínico
• Sintomas.
Nervosismo, labilidade emocional, tremores, palpitações,
Etiologia dispneia, intolerância ao calor, perda de peso apesar do
aumento da ingestão de alimentos, hiperdefecação, altera-
–– Doença de Graves-Basedow (causa mais frequente).
ções menstruais, apatia em idosos.
–– Bócio multinodular tóxico ou doença de Plummer (causa mais • Sinais.
frequente em idosos). Bócio difuso (pode-se auscultar um sopro ou é palpável um
frémito), taquicardia, arritmias (fibrilação atrial, resistente
–– Adenoma tóxico.
ao tratamento com digoxina), aumento da necessidade de
–– Outros insulina nos diabéticos, retração palpebral com sinal de
• Tiroidite subaguda de De Quervain; Moebius (perda de convergência ocular) e de Von Graefe
• Tiroidite pós-parto ou silenciosa ou indolor; (retração da pálpebra quando se baixa o olhar), pele quen-
• Induzido por iodo (efeito Jod-Basedow): amiodarona, meios te e húmida, hiperidrose, onicólise (unhas de Plummer),
de contraste iodados; hiperreflexia tendinosa.
• Tirotoxicose factícia: Toma de T4 ou T3. • Sintomas cardiovasculares.
• Hipertiroidismo secundário ou terciário. Adenoma hipofi- Hipertensão arterial de predomínio sistólico. Geralmente é
sário secretor de TSH. nos idosos que existe maior incidência da insuficiência car-
• Tecido tiroideu ectópico (secretor de T4 e / ou T3). díaca com fibrilhação auricular, aumento do débito cardía-
Struma ovarii (tipo de tumor ovárico), metástases secretoras co e resistência às doses usuais de digitálico.
do carcinoma folicular da tiroide.

29
Manual APNA · Endocrinologia

–– Oftalmopatia.
Os sinais específicos de hipertiroidismo (retração da pálpebra,
olhar fixo) são reflexo do aumento do tónus adrenérgico e
geralmente desaparecem após a correção do hipertiroidismo.
A oftalmopatia de Graves deve-se ao aumento do tama-
nho dos músculos retro-oculares por infiltração por parte das
células inflamatórias e do depósito de glicosaminoglicanos. A
forma típica manifesta-se na doença de Graves-Basedow.
Quando o paciente não tem hipertiroidismo nem anamnese
de patologia tiroideia denomina-se doença oftálmica de
Graves.
É a causa mais frequente de exoftalmia bilateral e unilateral
nos adultos e é mais comum nas mulheres. É bilateral em
80% dos casos. Existe uma predisposição familiar evidente. O
tabagismo é um fator de risco para o seu desenvolvimento e
está relacionado com a gravidade da patologia.
A evolução da oftalmopatia é independente do hipertiroidis-
mo. Pode piorar se for administrado radioiodo quando a
oftalmopatia está ativa. São características a retração da pál-
pebra superior (sinal de Dalrymple), o défice de convergên-
cia (sinal de Moebius), a diminuição da frequência do piscar
(sinal Stelwag) e o desaparecimento da sinergia óculo-palpe-
bral ao olhar para baixo (sinal de Graeffe: olhando para
baixo, a pálpebra abre em vez de fechar). Outros sinais ocu-
lares: o sinal de Joffroy (perda do enrugamento ao olhar para
cima), sinal de Rosenbach (tremor fibrilar das pálpebras fecha-
das). A forma maligna apresenta inflamação orbitária autoi-
mune, exoftalmia grave, oftalmoplegia progressiva com fibro-
se dos músculos do reto inferior e interno, quemose
conjuntival, ceratite de exposição e até neuropatia ótica com-
pressiva com comprometimento grave da visão.
Figura 7. Exoftalmia, um dos sinais físicos da doença de Graves.
Para o diagnóstico utilizam-se os sinais clínicos (exoftalmome-
tria superior a 20 mm ou assimetria entre os dois globos ocu-
lares superior a 3 mm) e exames de imagem (RM, TC ou eco-
Diagnóstico
grafia que demonstrem o aumento da densidade do
conteúdo orbital e engrossamento devido a fibrose dos mús- –– Hormonas
culos extraoculares, sobretudo, dos reto internos e inferiores). TSH não detetável (na forma isolada, é o exame mais eficien-
te para diagnosticar hipertiroidismo), fT3L e fT4L elevadas (por
–– Mixedema pretibial.
vezes T3 toxicose). Os sinais clínicos de hipertiroidismo com
A dermopatia de Graves consiste em placas pruriginosas de
bócio difuso e exoftálmico em pacientes jovens com TSH
pele hiperpigmentada, saliente e espessa, com aparência de
indetetável e fT4L elevada são suficientes para o diagnóstico.
casca de laranja, na região pré-tibial, que são indolores. Deve-
se à ativação imunológica dos fibroblastos. –– Cintigrafia da tiroide com tecnécio 99 (Tc 99). Hipercaptação
homogénea.
–– Acropatia tiroideia.
Hipertrofia do periósteo das falanges distais que lembra o –– Ecografia da tiroide.
hipocratismo digital. Bócio difuso com aumento acentuado de vascularização no
Tema 3 · Tiroides
Eco-Doppler.
–– Análises clínicas
Os anticorpos antitiroideus podem estar elevados. Os TSI são
mais característicos da doença de Graves, mas todos podem
estar elevados. Com os TSI negativos durante o tratamento
existe uma maior probabilidade de remissão a longo prazo.
–– Alteração noutros exames laboratoriais.
Anemia normocítica ou macrocítica, neutropenia com linfoci-
tose, diminuição do colesterol, aumento de GOT, GPT e fos-
fatase alcalina.

Tratamento
–– Tratamento inicial
• Antitiroideus de síntese (ATS).
Metimazol, carbimazol e propiltiouracil (PTU). Inibem a sín-
tese das hormonas tiroideias. O PTU também inibe a con-
versão periférica de T4 em T3. Os efeitos não se fazem notar
durante as primeiras 1-2 semanas de tratamento devido à
Figura
Figura 6.
6. Oftalmopatía
Oftalmopatia tiroidea.
tiroideia.Exoftalmos
Exoftalmiabilateral.
bilateral, mais acentuada no globo existência em circulação da hormona pré-formada.
ocular direito.
Atravessam a placenta e passam para o leite materno, o

Figura 8. Ecografía doppler de tiroides de una enfermedad de Graves, en la que


30 se obseva hipervascularización difusa (patognomónico de esta enfermedad).
Capítulo 3 · Distúrbios da glândula tiroideia

PTU em menor quantidade (de eleição em gestantes). O ausência de neoplasias causadas a longo prazo por I131).
metimazol é primeira linha, exceto: no primeiro trimestre É útil associar os betabloqueantes para prevenir sinais de
de gravidez, na crise tirotóxica, doentes com reação ante- possível hipertiroidismo transitório.
rior ao metimazol. • Cirurgia
Efeitos colaterais: agranulocitose (muito grave, obriga a Tiroidectomia subtotal. Em primeiro lugar, normaliza-se a
interromper o tratamento; manifesta-se de forma súbita, função da tiroide com antitiroideus e, de seguida, associa-
por isso a realização de hemogramas seriados não é útil; o -se Lugol durante alguns dias. Indicada nas recidivas dos
quadro começa geralmente por dor de garganta e febre), seguintes casos: bócios grandes, pacientes jovens, oftal-
erupção cutânea, hepatite; no feto: bócio, hipotiroidismo mopatia grave e doença de Graves com nódulo frio coe-
com o metimazol, além de aplasia da cútis (raro). Existem xistente.
duas formas de administração: em doses elevadas durante Complicações: hemorragia com possível obstrução das vias
todo o tratamento e associando passado um mês a hormo- aéreas, lesão do nervo recorrente com paralisia das cordas
na tiroideia, bloqueando assim totalmente a sua síntese, ou vocais (unilateral: voz bitonal, bilateral: dificuldade respira-
então, iniciar o tratamento com altas doses e reduzi-las tória), hipoparatiroidismo (transitório ou permanente),
posteriormente. Por causa da imprevisibilidade das reações hipotiroidismo (geralmente permanente no caso de tiroi-
aos fármacos antitiroideus, não é útil realizar análises seria- dectomia subtotal) e possíveis reincidências em caso de
das ao sangue mas deve-se aconselhar os pacientes e pres- persistência de resíduos tiroideus abundantes após a inter-
crever imediatamente um hemograma ou análise das tran- venção cirúrgica.
saminases, para que caso existam, respetivamente, sinais
de agranulocitose, (febre, odinofagia) ou de hepatite (icte- Noções da anatomia da tiroide (ver a figura 8).
rícia, prurido), se suspenda atempadamente o fármaco. A O tratamento cirúrgico da tiroide não pode prescindir do conhe-
terapia com fármacos antitiroideus de síntese não visa cimento anatómico da glândula. A tiroide está localizada na região
melhorar o quadro oftalmológico. anterior do pescoço, na parte da frente e lateral da laringe e dos
• Betabloqueantes (propranolol). primeiros anéis traqueais. É formada por dois lobos, direito e
Melhoram as manifestações adrenérgicas e reduzem, em esquerdo, piriformes com ápices no topo, reunidos por uma parte
certa medida, a conversão de T4 em T3. Úteis como trata- transversal, denominada istmo. Em alguns casos (30-50%), da
mento coadjuvante até que os antitiroideus ou iodo radioa- margem superior do istmo parte um prolongamento parenquima-
tivo comecem a ter efeito. toso, o lobo piramidal (ou de Morgagni), que sobe para o alto, em
.• Iodo e contrastes iodados. direção à base da língua, ao longo do percurso do ducto tiroglos-
Bloqueiam a libertação de hormonas tiroideias. Os contras- so, do qual representa o remanescente. A forma, as dimensões e
tes também bloqueiam a conversão de T4 a T3. Devem ser o desenvolvimento do lobo piramidal são variáveis, geralmente
usados com antitiroideus. Úteis na tempestade tiroideia e apresenta forma cónica e pode alcançar o osso hioide.
no controlo da tirotoxicose, caso se manifeste após a admi- A vascularização da tireoide depende da artéria tiroideia supe-
nistração de iodo radioativo. Nos pacientes que tenham rior, da artéria tiroideia inferior e às vezes da artéria tiroideia ima.
que ser sujeitos a intervenção cirúrgica utiliza-se Lugol (tipo A artéria tiroideia superior é o primeiro ramo anterior da caróti-
de iodeto) para diminuir a vascularização da glândula. da externa. Em casos raros, pode ter origem na artéria carótida
• Glicocorticoides comum. A artéria tiroideia inferior provém do tronco tireocervi-
Reduzem a conversão de T4 emT3. Úteis durante a crise cal, ramo da subclávia. A artéria tiroideia ima tem origem dire-
tirotóxica. tamente no arco aórtico ou da artéria braquiocefálica e dirige-se
–– Tratamento definitivo. para a borda inferior do istmo.
O tratamento com antitiroideus de síntese mantido durante 12-
18 meses cura cerca de 30% dos casos. Sempre que se verifique
uma recidiva após a suspensão dos fármacos (70% dos casos),
ou no caso de resistência, não tolerância ou falha de conformi-
dade terapêutica, é indicado um tratamento definitivo com iodo
Artéria tiroideia superior
radioativo ou cirurgia. Se a situação geral do paciente não per-
mite tratamento médico prolongado, como no caso de pacien-
tes idosos ou com cardiopatia, o tratamento com o radioiodo é Veias jugulares internas
a melhor opção no início. Nos indivíduos com mais de 40 anos
pode programar-se o tratamento definitivo desde o início da Artéria tiroideia inferior
doença. A normalização dos anticorpos anti-recetores de TSH
pré-anuncia o sucesso terapêutico.
Artérias carótidas comuns
• Iodo radioativo (I131).
Deve-se suspender os antitiroideus entre 4-7 dias antes
Nervo vago direito
(para aumentar a captação da tiroide de I131) e, se possí-
vel, retomar após 4-7 dias, especialmente no caso de
Nervo laríngeo Nervo vago esquerdo
pacientes em idade avançada ou com cardiopatia, com o
objetivo controlar a possível tirotoxicose após o radioiodo. recorrente direito
Nervo laríngeo
Efeitos colaterais: reincidência, hipotiroidismo, tiroidite, recorrente esquerdo
exacerbação da oftalmopatia. Contraindicações: gravidez e
amamentação (deve evitar-se durante 6-12 meses após a Veia cava superior
sua administração), suspeita de malignidade (presença de Artéria subclávia direita
nódulo), grandes dimensões, oftalmopatia grave (em casos
de oftalmopatia leve, o radioiodo pode ser administrado Figura 8. Glândula Tiroideia. Relação com o nervo recorrente que pode lesio-
depois dos corticosteroides), idade inferior a 20 anos (con- nar-se durante a cirurgia. ©Netter medical illustration used with permission of
troverso, na realidade utiliza-se cada vez mais devido à Elsevier. All rights reserved.

31
Manual APNA · Endocrinologia

–– Tratamento da oftalmopatia.
Os casos leves não requerem tratamento específico. As for-
mas graves são tratadas com glicocorticoides sistémicos ou
imunossupressão e pode ser necessário a radioterapia orbital
ou cirurgia descompressiva (orbital, muscular ou palpebral).
Para o tratamento sintomático usam-se lágrimas artificiais,
oclusões e colírio de guanetidina (para retração palpebral).
Outros procedimentos pressupõem o restabelecimento do
estado de eutiroidismo e a cessação tabágica.
–– Tratamento da dermopatia.
Corticosteroides tópicos.

Doença de Graves-Basedow

(Nos indivíduos com


ATS 12-18 m (30% de remissão) mais de 40 anos
doses elevadas doses baixas programa-se desde
doses elevadas doses elevadas+L-T4 IT = istmo tiroideio. T = traqueia
o início I-131ou cirurgia)
Figura 10. Bócio multinodular. Ecografia tiroideu que mostra um nódulo de
Cura (30%) Reincidência (70%) grandes dimensões do lado direito (rodeado por um círculo).

I131 Cirurgia Diagnóstico


–– Hormonas
Figura 9.Tratamento da doença de Graves.
TSH não detetável, fT3L e fT4L elevadas.
–– Ecografia e cintigrafia da tiroide com Tc99. Presença de
131 nódulos hipo e hipercaptantes (alternando-se entre frios e
I CIRURGIA quentes).
MODALI- Suspender ATS 4-7 dias
DADE Tiroidectomia subtotal e Tratamento
antes e retomar 4-7 dias
ADMINIS- lugol prévio –– I131
depois
TRAÇAO Em doses mais elevadas do que na doença de Graves.
LATÊNCIA 6-12 m NÃO –– Cirurgia. Tiroidectomia total ou subtotal.
Se o paciente for jovem, o tamanho for grande e existir a
Persistência de hipoti- suspeita de malignidade.
Persistência de
COMPLI- roidismo. Lesão do nervo
Hipertiroidismo
CAÇÕES Tiroidite
laríngeo superior Adenoma tóxico
Hematomas/hemorragias
É mais frequente entre os 30 e os 50 anos com predomínio nas
Gravidez e amamentação mulheres. É causado por um único adenoma que tem geralmen-
Dúvidas de malignidade Risco cirúrgico te grandes dimensões (ou por vezes vários adenomas), numa
CI
Grandes dimensões elevado glândula que de resto é normal. A malignidade é muito rara. A
Crianças palpação da tiroide mostra um único nódulo.
Bócio multinodular/ade-
Diagnóstico
noma tiroideu:
Bócio multinodular Hormonas: TSH indetetável, fT3L e fT4L elevadas. É a causa mais
INDICA- nos jovens, grande ou
Adenoma tiroideu frequente de T3 toxicose.
ÇÕES Doença de Graves
dúvidas de malignidade
Doença de Graves: Ecografia e cintigrafia da tiroide com Tc99: nódulo único hiper-
idem + oftalmopatia captante com supressão do resto da glândula.
Tratamento
Quadro 2. Opções de tratamento na doença de Graves.
I131 em doses elevadas. Dado que capta unicamente a zona,
pode restaurar o funcionamento subsequente da glândula e
Bócio multinodular tóxico restabelecer o eutiroidismo.
É a causa mais frequente de hipertiroidismo nos idosos, sendo Cirurgia: é preferível uma remoção parcial (lobectomia ou ist-
mais frequente nas mulheres. mectomia).

Sinais clínicos Efeito Jod-Basedow


Os sintomas de hipertiroidismo costumam ser menos difusos do
Mais frequente nas regiões com deficiência de iodo por se
que na doença de Graves, uma vez que é possível que predomi-
tomarem medidas para aumentar a sua ingestão, ou em pacien-
nem os sintomas cardiovasculares e de apatia. Pode causar sin-
tes com bócio multinodular tratados com altas doses de iodeto
tomas compressivos. O bócio é multinodular e pode ser retroes-
ou com fármacos contendo iodo (amiodarona, expetorantes,
ternal.
meio de contraste iodado).

32
Capítulo 3 · Distúrbios da glândula tiroideia

Tireotoxicose factícia total, de T3 e de TBG, na presença de fT3L e de TSH normais.


Devido à ingestão voluntária ou involuntária de grandes quan- A TSH pode estar ligeiramente baixa no primeiro trimestre por-
tidades de hormonas tiroideias. Mais frequente nas mulheres que a β-HCG estimula ligeiramente os recetores de TSH da tirói-
com alterações psiquiátricas, excesso de peso ou obesos e de. No entanto, a partir do segundo trimestre normaliza.
pacientes previamente tratados com hormonas tiroideias ou O diagnóstico de hipertiroidismo na gravidez pode, por isso, ser
com história familiar. Não apresentam bócio. difícil e é baseado na associação de T4 livre elevada com TSH
baixa e com ecografia compatível (glândula com baixa eco-
Diagnóstico genicidade e muito vascularizada no eco-Doppler).
–– Estudo hormonal. O tratamento de eleição para a gestante com hipertiroidismo
Diminuição da tireoglobulina, supressão da TSH, aumento de são os antitiroideus (o propiltiuracil é aquele que atravessa
fT3L e fT4L quando se toma T4 e de fT3 com diminuição de fT4L menos a barreira placentária e, portanto o de eleição no primei-
quando se toma T3. ro trimestre; de seguida passa-se geralmente para o metimazol,
–– Ecografia e cintigrafia da tiroide com Tc99. porque existe um risco de insuficiência hepática aguda com o
Tiroide isoecoica e cintigrafia hipocaptante (“tiroide branca”). propiltiouracil).
Os antitiroideus são administrados na dose mínima eficaz, com o
Hipertiroidismo secundário ou terciário objetivo de obter níveis maternos de fT4L e fT3L nos limites supe-
riores da normalidade para prevenir o hipotiroidismo no feto. Se
Geralmente, é causado por um macroadenoma hipofisário os antitiroideus forem insuficientes e o paciente continuar a apre-
secretor de TSH. sentar sintomas, podem associar-se beta-bloqueantes em doses
baixas, mas devem ser evitados no terceiro trimestre.
Diagnóstico
O iodo radioativo e os iodetos estão contraindicados.
–– Bócio difuso
Muito raramente se opta por tratamento cirúrgico devido aos
–– Estudo hormonal.
riscos relacionados com a cirurgia e a anestesia, quer para mãe
Aumento de fT3L e fT4L com TSH elevada ou inadequadamen-
quer para o feto. Caso seja necessário, é preferível no final do
te normal, aumento da subunidade α da TSH, ausência de
segundo trimestre ou no início do terceiro.
resposta da TSH ao teste de TRH.
–– Ecografia e cintigrafia da tiroide com Tc99. Bócio difuso
hipercaptante. Hipertiroidismo devido a amiodarona
–– RM hipotálamo-hipofisária com meio de contraste.
Ocorre durante a administração deste fármaco. Existem dois
Macroadenoma hipofisário.
tipos:
–– Diagnóstico diferencial com resistência hipofisária às hormo-
nas da tiroide. –– Tipo 1 ou hipertiroidismo com hipercaptação.
A cintigrafia está normal ou hipercaptante e o eco-Doppler
Hipertiroidismo por tecido tiroideu ectópico mostra um aumento da vascularização. Tratamento: antitiroi-
deus.
Devido à existência de metástases do carcinoma folicular da
–– Tipo 2 ou tiroidite por amiodarona.
tiroide ou struma ovarii.
Na cintigrafia apresenta baixa captação de iodo e existe um
aumento de IL-6. Utilizar glicocorticoides como tratamento.
Diagnóstico
–– Ausência de bócio.
–– Estudo hormonal. TIPO I TIPO II (TIROIDITE)
Aumento de fT3L e fT4L com supressão de TSH.
–– Cintigrafia com Tc99 de corpo inteiro. Cintigrafia hipocaptante
Cintigrafia Normal / ↑
Supressão da captação da tiróide, uma vez que existe uma ("tiróide branca")
captação a nível ovárico ou na sede das metástases do carci- Eco-Doppler com ↑
noma folicular da tiroide. IL-6 ↑ ↑ ↑
da vascularização

Tumores trofoblásticos Tratamento com antitiroideus Tratamento com glicocorticóides

Surge na sequência da produção excessiva de ß- hCG que, pela


Quadro 3. Hipertiroidismo causado pela amiodarona..
semelhança com TSH, estimula a tiroide: no coriocarcinoma,
mola hidatiforme ou carcinoma embrionário do testículo.
Na prática clínica, uma elevada percentagem de pacientes apre-
Diagnóstico senta valores de hipertiroidismo de tipo misto causado por
–– Bócio difuso. amiodarona, tornando-se necessário para o controlar ambos os
–– Estudo hormonal. tratamentos: antitiroideus e corticosteroides. Assim, é necessá-
Aumento de fT3L e fT4L com supressão do TSH, ß- hCG muito rio fazer uma avaliação de TSH, fT3L, fT4L antes da administra-
elevada. ção de Amiodarona, e a cada 3-6 meses durante o tratamento.
–– Ecografia e cintigrafia da tiroide com Tc99.
Bócio difuso hipercaptante. Tempestade tiroideia
Pode verificar-se em qualquer tipo de hipertiroidismo. Geral-
Hipertiroidismo durante a gravidez mente, há um aumento dos sinais e sintomas da tireotoxicose
Durante a gravidez ocorrem alterações fisiológicas no metabo- nos pacientes não tratados ou que não cumprem o tratamento.
lismo das hormonas tiroideias. Há um aumento dos níveis de T4 É uma situação de emergência que apresenta os seguintes sin-

33
Manual APNA · Endocrinologia

tomas: agitação, febre com temperatura de 41ºC ou superior, Tiroidite aguda supurativa ou piogénica
taquicardia ou arritmias, insuficiência cardíaca, diarreia, icterícia,
Pouco frequente. Geralmente é causada pela infiltração tiroi-
delírio ou coma.
deia por uma infeção ao nível do pescoço.
Tratamento
Sinais clínicos
–– Medidas gerais de suporte. Febre, dor e sinais inflamatórios localizados (tumefação, calor,
–– Doses elevadas de antitiroideus (de eleição PTU pelo seu efei- eritema). A palpação da tiroide é muito dolorosa. Nas análises
to imediato de diminuição da conversão de T4 em T3). clínicas existem sinais de infeção (leucocitose, ↑ VES...) e função
–– Propanolol. tiroideia normal.
Como tratamento sintomático e para a diminuição da conver-
são de T4 em T3. Tratamento
–– Outros fármacos que diminuem a conversão de T4 em T3. Antibióticos e drenagem, se necessário.
Glicocorticoides, iodo ou contraste iodado (após se ter inicia-
do tratamento com antitiroideus). Tiroidite subaguda de De Quervain ou granulomatosa
O ácido acetilsalicílico está contraindicado, uma vez que com-
pete com as hormonas tiroideias para se ligar às proteínas Etiologia
transportadoras.
Origem vírica. A inflamação da tiroide causa rutura dos folículos
da tiroide e a libertação de hormonas tiroideias pré-formadas,
sem aumentar a sua síntese. Mais frequente nas mulheres.
TSH/fT4L BOCIO TG
↓/↑ Sinais clínicos
BÓCIO ENDÉMICO ou normais Sim ↑
É, geralmente, precedida por uma infeção das vias aéreas supe-
TIROIDITE ↓/↑ Sim/Não Normal ou ↑ riores. Causa astenia, mal-estar geral, febre, dor na tiroide irra-
diada para os ouvidos, mandíbula ou occipital. Verificam-se
FACTÍCIA ↓ / ↑ ou ↓ Não ↓ sintomas de hipertiroidismo em metade dos pacientes, devido à
libertação de hormonas em consequência da inflamação, que
MOLA ↓/↑ Sim ↑ progride para eutiroidismo, seguido em 25% dos casos por
hipotiroidismo com cura ulterior. Através da palpação percebe-
STRUMA Struma: ↓ se uma tiroide aumentada e dolorosa.
METÁSTASES DE CA. ↓/↑ Não
MTS: ↑
FOLICULAR Diagnóstico
↑ ou normal –– Laboratório
TUMOR TSH Sim ↑
/↑ VES elevada (frequente e característica), linfocitose.
–– Estudo hormonal.
Quadro 4. Doenças da tiroide Pode existir hipertiroidismo primário, normofunção da tiroide
ou hipotiroidismo primário.
–– Cintigrafia da tiroide.
Lembre-se… Cintigrafia hipocaptante (ou “branca”).

Na presença de um nódulo frio, NÃO utilizar I131! Tratamento


É aconselhável tratar o hipertiroidismo subclínico (TSH <0,1 e Sintomático:
hormonas tiroideias normais) em todos os pacientes > 65 anos,
com fatores de risco cardiovascular, osteoporose, mulheres na –– Ácido acetilsalicílico (ou outros AINEs), glicocorticoides se o
menopausa em tratamento com estrogénios, corticóides e comprometimento for relevante.
bifosfonatos e em pacientes sintomáticos. –– No caso de hipertiroidismo.
Propranolol, nenhum antitiroideu (não há aumento da síntese
Tiroxicose factícia: hipertiroidismo, com cintigrafia suprimida e hormonal).
tireoglobulina baixa. Sem bócio.
Tiroidite subaguda silenciosa ou indolor

Etiologia
3.6. Tiroidite Autoimune. Mais frequente nas mulheres, especialmente após
o parto. Pode ocorrer recidiva.
Classificação
–– Tiroidite aguda.
–– Tiroidite subaguda.
• Tiroidite subaguda de De Quervain.
• Tiroidite indolor ou silenciosa.
–– Tiroidite crónica.
• Tiroidite de Hashimoto ou linfocítica crónica.
• Tiroidite de Riedel ou fibrosante.

34
Capítulo 3 · Distúrbios da glândula tiroideia

CINTIGRAFIAS HIPERCAPTANTES CINTIGRAFIAS HIPOCAPTANTES

DESCRIÇÃO CAUSAS DESCRIÇÃO CAUSAS

Estimulação recetor TSH:


– Doença de Graves Tirotoxicose factícia
Cintigrafia hipocaptante
Hipercaptação difusa – TSHoma Tiroidite
Cintigrafia de corpo inteiro
– Hiperprodução β-hCG (mola, Fenómeno de Jod- Basedow
suprimida
coriocarcinoma)

BMNT (bócio multinodular tóxico) Cintigrafia hipocaptante Metástases Ca Foliculares


Hipercaptação nodular
Adenoma tóxico Cintigrafia de corpo inteiro positiva Struma ovarii

Quadro 5. Captação cintigráfica de algumas doenças da tiroide.

Figura 11. Cintigrafia da tiroide. Pode observar-se um nódulo tiroideu hipercap-


tante que anula quase completamente o resto da glândula (ponta da seta).

Figura 13. Cintigrafia da tiroide. Bócio multinodular. Podem ver-se zonas hipo-
captantes alternadas com outras hipercaptantes

Figura 12.Cintigrafia da tiroide. Doença de Graves. Pode observar-se hipercap-


tação difusa e um aumento do tamanho da tiroide.
Figura 14. Cintigrafia da tiroide. Nódulo frio.

35
Manual APNA · Endocrinologia

Sinais clínicos Tiroidite de Hashimoto (PNA 2019)


Verifica-se uma fase de hipertiroidismo seguida de eutiroidismo
e, em metade dos casos, de hipotiroidismo transitório. Reapare- Etiologia
ce em 20% dos casos e cerca de um terço dos pacientes desen- Autoimune, mais comum nas mulheres e pode estar associada
volvem hipotiroidismo permanente no decorrer dos 10 anos de a outras patologias autoimunes.
acompanhamento. A tiróide não se encontra dolorosa e pode
aumentar de tamanho. Sinais clínicos
Às vezes pode estar associada a bócio indolor. Função tiroideia
Diagnóstico inicialmente normal e seguida de hipotiroidismo primário. Pode
–– Laboratório surgir ocasionalmente uma hashitoxicose (hipertiroidismo com
VES normal, subida dos anticorpos tiroideus (aTPO e aTG). títulos elevados de anticorpos aTPO). Apresenta um maior risco
de linfoma da tiroide.
–– Estudo hormonal.
Pode existir hipertiroidismo primário, normofunção da tiroide
Diagnóstico
ou hipotiroidismo primário.
–– Cintigrafia da tiroide. –– Laboratório
Hipocaptação ou ausência de captação (cintigrafia “branca”). Subida dos anticorpos antitiroideus (aTPO e aTG).
–– Estudo hormonal.
Tratamento Pode existir hipertiroidismo primário (raro), normofunção
Propranolol na fase de tireotoxicose. Na fase hipotiroideia pode tiroideia ou hipotiroidismo primário.
ser necessário o tratamento com levotiroxina. –– Cintigrafia da tiroide (não é necessária). Captação irregular.
–– PAAF – (punção aspirativa por agulha fina) (não necessária).
Tiroidite de Riedel Infiltração linfocítica da glândula.
Pouco frequente, uma evolução rara da tiroidite de Hashimoto. –– Biópsia (não necessária).
Fibrose da tiroide e das estruturas adjacentes, com endureci- Infiltrado linfonuclear com centros germinativos, atrofia foli-
mento dos tecidos do pescoço, por vezes associada a fibrose cular, eventuais células Hürthle.
mediastínica e retroperitoneal. Faz parte do diagnóstico diferen-
cial com o carcinoma anaplásico da tiroide. Tratamento
Substitutivo com levotiroxina. Na hashitoxicose, o tratamento é
Tratamento igual ao da doença de Graves mas é usado com menor frequên-
Cirurgia com fim descompressivo e para a distinguir de uma cia o tratamento ablativo, dado que o hipertiroidismo geralmen-
neoplasia maligna. te é transitório e a evolução natural é para o hipotiroidismo.

TIROIDITE DOLOROSA TIROIDITE INDOLOR

LINFOCÍTICA LINFOCÍTICA
SUBAGUDA FIBROSANTE
AGUDA TRANSITÓRIA OU CRÓNICA
(DE QUERVAIN) (DE RIEDEL)
SILENCIOSA (DE HASHIMOTO)

–– Bacteriana –– Viral –– Autoimune –– Autoimune –– Idiopática


–– Inflamação local –– Bócio –– Bócio com –– Bócio com –– Bócio de
–– Febre, mal estar –– Febrícula, mialgias consistência consistência elástica consistência dura
geral –– ↑ VES aumentada Tirotoxicose inicial –– Eventuais sintomas
CARACTERÍSTICAS –– Possível abcesso –– Frequente –– Possível tirotoxicose improvável compressivos
tirotoxicose aguda inicial (hashitoxicose) –– Por vezes
–– Possível infeção de –– Por vezes –– Frequente hipotiroi- hipotiroidismo
outras vias respira- hipotiroidismo dismo definitivo
tórias concomitantes (1ª causa)

Clínico AntiTPO −
O mesmo da infeção AntiTPO + títulos
DIAGNÓSTICO AntiTPO + títulos altos biópsia para
bacteriana AntiTPO − baixos
descartar neoplasia

Em caso de
Da Dor: AINE/ Em caso de Cirurgia (fim
tirotoxicose: β-
Antibioterapia. Em corticosteroides hashitoxicose: como descompressivo)
bloqueadores ±
TRATAMENTO caso de abscessos: Da tirotoxicose: β- doença Graves Em caso de
corticosteroides
drenagem bloqueadores ± Em caso de hipotiroidismo: fT4L
Em caso de hipotiroi-
corticosteroides hipotiroidismo: fT4L
dismo: fT4L

36
Capítulo 3 · Distúrbios da glândula tiroideia

vascular ou capsular da amostra cirúrgica como critério de


TIROIDITE malignidade.
TIROIDITE DE DOENÇA DE
LINFOCÍTICA Carcinoma papilar: são típicos os corpos de Psammoma e as célu-
HASHIMOTO GRAVES
TRANSITÓRIA las com núcleos grandes e claros com inclusões intranucleares.
Carcinoma medular: são típicas as células de citoplasma granu-
AntiTPO
(ANTIMICRO- + ++++ ++ lar, com núcleo excêntrico e positivas à calcitonina e substância
SSOMAL) amiloide no estroma tingido com vermelho de Congo.
Nos nódulos císticos benignos, a PAAF pode ser curativa. No
ANTI TIREO- caso da deteção de células foliculares, a PAAF é válida mas não
+ ++++ ++ como diagnóstico, porque pode tratar-se de um adenoma ou
GLOBULINA
de um carcinoma.
TSI - - ++++ Recomenda-se:
–– Nos nódulos ≥1 cm com elevada ou moderada suspeita eco-
Quadro 7. Anticorpos nas doenças da tiroide. gráfica de malignidade;
–– Nos nódulos ≥ 1,5 cm nos nódulos com suspeição baixa.

Não se recomenda nos nódulos puramente císticos.


3.7. Nódulo tiroideu

Caraterísticas Cintigrafia da tiroide


Os nódulos frios ou hipocaptantes são com maior frequência
É mais frequente nas mulheres. A probabilidade de um nódulo malignos do que os quentes. Deve realizar-se especialmente no
solitário da tiroide ser maligno é de 5-6%. Quanto aos nódulos caso do hipertiroidismo clínico ou subclínico (se as hormonas da
frios da tiroide 80% são adenomas benignos e 20% são malig- tiroide estão normais, o nódulo ficará frio ou hipocaptante na
nos. Os nódulos quentes da tiroide são quase sempre benignos. maior parte dos casos).
Fatores de suspeita de malignidade
Ecografia da tiroide
1. <16 anos ou> 45 anos.
2. ♂. As lesões sólidas ou mistas são com maior frequência malignas
3. Radioterapia à cabeça, pescoço ou mediastino na infância. do que as císticas. É importante avaliar o tamanho do nódulo no
4. Nódulo frio na cintigrafia. acompanhamento.
5. Antecedentes familiares de cancro da tiroide ou MEN 2. Critérios ecográficos de malignidade: hipoecogenicidade, mar-
6. Fatores localizados: gens irregulares, microcalcificações, “mais alto que largo”,
• > de 3 cm. extensão extratiroideia, cístico com área sólida excêntrica, vas-
• consistência dura. cularização intranodular.
• ausência de dor.
• Adenopatias. Radiografia ao pescoço e tórax
• Crescimento rápido.
As calcificações pontilhadas e finas sugerem a presença de cor-
• Envolvimento do nervo recorrente. Dispneia, tosse ou
pos psamomatosos (típicos do carcinoma papilar), as calcifica-
mudança no tom de voz.
ções mais densas sugerem a presença de carcinoma medular.
• Sintomas compressivos ou ligação a estruturas próximas.
Também serve para avaliar o desvio traqueal.
7. Características ecográficas de malignidade. Hipoecogenicidade,
hipervascularização, microcalcificações.
Marcadores tumorais
Sinais Clínicos O carcinoma medular provoca a elevação da calcitonina basal,
sobretudo após estímulo com pentagastrina, e do antígeno car-
Tumor na superfície anterior do pescoço, com ou sem adenopa- cinoembrionário (CEA, Carcinoembryonic antigen). A Tireoglo-
tias e que pode causar sintomas compressivos (disfagia, disp- bulina não é útil no diagnóstico de carcinomas epiteliais, mas
neia, paralisia do nervo recorrente com tom de voz bitonal: sim no acompanhamento.
sugere malignidade).
FDG PET
Diagnóstico
Captação focal no âmbito de um nódulo detetado na ecografia
aumenta o risco de malignidade.
Estudo hormonal
Geralmente normal . Com TSH suprimida, o mais provável é que
se trate de um nódulo quente que é confirmado pela cintigrafia.
Tratamento
Punção aspirativa por agulha fina (Fine Needle Classificação citopatológica:
Aspiration, FNA)
–– TIR1: sem diagnóstico, repetir se existirem características sus-
Melhor método de diagnóstico. Permite diferenciar de forma peitas;
confiável os nódulos malignos dos benignos, à exceção de
lesões foliculares (podem ser adenomas foliculares ou carcino- –– TIR2: benigno, acompanhamento ecográfico, repetir apenas
mas foliculares) nos quais é necessário demonstrar a invasão em caso de forte suspeita;

37
Manual APNA · Endocrinologia

–– TIR3: indeterminado, na maior parte lesões foliculares, subdi- Nos restantes casos faz-se a observação e o acompanhamento
visível em TIR3A: de baixo risco, reavaliação com PAAF no por ecografia. Atualmente não existe unanimidade quanto à
período de seis meses, ou acompanhamento atento, TIR3B: terapia supressiva dos nódulos tiroideus, apenas há consenso
suspeita de neoplasia folicular, indicada a intervenção cirúrgi- quanto à necessidade de terapia cirúrgica dos carcinomas dife-
ca; renciados da tiroide.
–– TIR4: alta suspeita de malignidade, recomenda-se o exame (ver as figuras 15 e 16)
extemporâneo intraoperatório.
–– TIR5: maligno, exérese cirúrgica (estuda-se no próximo
capítulo). 3.8. Carcinoma da Tiroide
Os carcinomas da tiroide dividem-se em: carcinomas derivados
do epitélio folicular (diferenciados - papilar e folicular, e indife-
renciados - carcinoma anaplásico), carcinomas derivados das
Nodulo tiroideu células C (carcinoma medular da tiroide), linfoma da tiroide e
metástases.
Ecografia
TSH, fT4L, fT3L
Carcinoma papilar
O mais frequente (70%) e aquele com o melhor prognóstico,
TSH N TSH apresentando dois picos de incidência: o primeiro, entre a
segunda e a terceira década, e o outro mais tardio. É mais
Cintigrafia comum nas mulheres.
Nódulo <1 cm Nódulo
>1cm ou <1cm com Tem um crescimento relativamente lento. É localmente invasivo
Características extensão extratiroideia
Nódulo frio e tende a disseminar-se via linfática (frequentes metástases em
de benignidade evidência de metástases
linfonodais ou à distância gânglios linfáticos), sendo a disseminação sanguínea rara.
Seguimento O carcinoma micropapilar apresenta um tamanho inferior a
ecográfico FNA um centímetro.
e exames do
funcionamento
da tiroide Anatomia patológica
Benigna Maligna
Suspeita Geralmente é não encapsulado, com formação de papilas (gru-
proliferação pos de células epiteliais centradas sobre um eixo vascular), cal-
Seguimento folicular folicular
por ecografia cificações finas nos corpos psamomatosos, células com núcleos
e exames do grandes e oticamente vazios, chamados núcleos em vidro
funcionamento Cirurgia "esmerilado" ou Orphan Annie-eye nuclei. Frequentemente
da tiroide apresentam elementos foliculares e quando são abundantes
Figura 15. Algoritmo de gestão do nódulo tiroideu. denomina-se variante papilar-folicular.

Algoritmo de gestão de nódulos tiroideus com base no resultado da PAAF

Malignidade Cirurgia oncológica


(tiroidectomia total)

Benignidade Seguimento ecográfico

Estudo
Quente (Hipertiroidismo)

Folicular Cintigrafia

Biopsia cirúrgica
Frio (hemitiroidectomia
com istmectomia)

Não Seguimento ecográfico

Persiste não Fatores de risco


Não conclusiva Repetir FNA conclusiva De malignidade?
Biopsia cirúrgica
Sim (hemitiroidectomia
com istmectomia)

Figura 16. Ação no nódulo tiroideu de acordo com os resultados da PAAF. Bibliografia: Revised American Thyroid Association management guidelines for patients with
thyroid nodules and differentiated thyroid cancer. Thyroid 2009;19(11):1167-214.

38
Capítulo 3 · Distúrbios da glândula tiroideia

Prognóstico
Lembre-se…
Bom. O envolvimento de gânglios linfáticos pelo tumor está
Os corpos PSaMomatosos associado a um maior risco de recorrência, porém, não aumen-
encontram-se no: ta a mortalidade nem piora o prognóstico.
Carcinoma Papilar da tiroide
Carcinoma Seroso do ovário
Meningiomas Carcinoma folicular
É o segundo tumor da tiróide mais frequente. Geralmente ocor-
re entre os 50 e os 60 anos, em mulheres e em áreas geográfi-
cas com défice de iodo. Tende a crescer lentamente e a sua
Sinais clínicos
disseminação, quando ocorre, tende a ser por via hematogénea,
Nódulo tiroideu. Com menos frequência, adenopatias regionais. originando metástases ósseas, pulmonares e sistema nervoso
central. Raramente as metástases podem causar tirotoxicose.
Tratamento
–– Cirurgia Anatomia patológica
A extensão da cirurgia é controversa. Nódulo encapsulado, com céulas organizadas em folículos con-
Em geral, é realizada tiroidectomia total, embora seja aceite a tendo coloide, assemelhando-se a tiroide normal, distingue-se
hemitiroidectomia mais istmectomia em casos selecionados de frequentemente do adenoma por invasão vascular e/ou da cáp-
carcinoma micropapilar (<1 cm) unifocal, na ausência de his- sula. O carcinoma de células oxifílicas ou de Hurthle (células
tória familiar, irradiação cervical e adenopatias regionais. Se a com abundante conteúdo eosinofílico) é uma variante com pior
hemitiroidectomia for realizada e se se confirmar o diagnós- prognóstico.
tico de carcinoma > 1 cm, deve-se intervir novamente e com-
pletar a tiroidectomia. No que diz respeito à linfadenectomia, Sinais clínicos
pode realizar-se linfadenectomia central (gânglios linfáticos Nódulo na região da tiroide. Por vezes, apresenta-se com metás-
paratraqueais, pré-laringeos) profilática na presença de carci- tases no momento do diagnóstico.
noma de grandes dimensões (> 4cm) ou realizar-se apenas se
houver evidência clínica de gânglios linfáticos afetados. A dis- Tratamento
secção dos gânglios linfáticos cervicais laterais é realizada ape- Semelhante ao carcinoma papilar (PNA 2019).
nas em casos de confirmação histológica de envolvimento
destes gânglios linfáticos Prognóstico
–– Ablação de tiróide residual, metástases e tratamento Embora pior do que o do carcinoma papilar, continua a ser um
adjuvante em pacientes de risco médio-elevado com tumor com bom prognóstico, com sobrevivência a longo prazo.
I131 - Iodo 131 (50-100 mCi) O prognóstico é pior com lesões de maiores dimensões.
–– Procedimento realizado com TSH elevada, pois promove a
captação de I131 pela tiróide. Antes do tratamento com Iodo Carcinoma anaplásico da tiroide
131 substitui-se a levotiroxina por tri-iodotironina (T3), pela
sua menor semi-vida, durante 3 semanas e suspende-se 2 Representa 1% dos carcinomas da tiroide. Geralmente diagnos-
semanas antes de I131. Tratamento supressivo de TSH ticado em idosos e tem um ligeiro predomínio nas mulheres.
com levotiroxina Manifesta-se com crescimento rápido e tem grande capacidade
Quando não há evidência de doença residual após vários anos de invasão local. Os carcinomas foliculares e papilares podem
de seguimento, pode-se diminuir o grau de supressão de TSH desdiferenciar-se dando origem a este tumor.
para um valor situado na metade inferior do normal (0,5-2
mU/L).
–– Outras opções terapêuticas
Radioterapia (RT) cervical, quimioterapia sistémica , podendo PAPILAR FOLICULAR
ser considerados novos fármacos, como sorafenib e sunitinib,
em doença recorrente/metastática. FREQUÊNCIA 70% 15%
–– Acompanhamento
• Tireoglobulina. DISSEMI- Linfática: Hematogénea: pulmão,
Útil no seguimento do carcinoma papilar (mas NÃO é diag- NAÇÃO gânglios linfáticos ossos, SNC
nóstico), uma vez que o seu aumento é indicativo da per- FATORES DE
sistência de doença ou metastização. Os anticorpos anti-ti- Irradiação cervical (RT) Défice de iodo
RISCO
reoglobulina também devem ser avaliados, uma vez que a
sua presença pode interferir com o resultado da tireoglobu-
Papilas e folículos Epitélio tiroideu
lina. ANATOMIA
Corpos psamomatosos Invasão da cápsula
• Cintigrafia de corpo inteiro com I131 (4-5 mCi). PATOLÓGICA
(calcif.grão de areia) Subtipo células Hurthle
Realiza-se na presença de sinais de persistência da doença
ou metástases (ex. aumento de tireoglobulina).
• Outras técnicas de imagem (ecografia cervical, radiografia CÁPSULA Não Sim
do tórax, cintigrafia óssea, PET-CT):
Realizam-se quando há aumento da tiroglobulina na pre- PROGNÓSTICO O melhor Bom
sença de uma cintigrafia de corpo inteiro com I131 normal,
tendo o objetivo de avaliar a presença metástases que não Quadro 8. Diferenças entre o carcinoma papilar e folicular da tiróide.
captam com I131.

39
Manual APNA · Endocrinologia

Anatomia patológica –– Acompanhamento


Não encapsulado, indiferenciado, com abundantes mitoses e As cintigrafias com I131 e tireoglobulina não têm utilidade,
atipias celulares, em que predominam células gigantes multinu- pois as células C não captam iodo nem produzem tireoglobu-
cleadas e anomalias do fuso mitótico. Uma coloração imuno- lina.
-histoquímica positiva para queratina e vimentina confirma o
diagnóstico.
Carcinoma diferenciado (papilífero/folicular) da tiroide
Tratamento
< 1 cm, monofocal,
Tratamento é sobretudo paliativo com controlo sintomático ade-
ausência de adeno-
quado. patias e de extensão
extratiroideia
Prognóstico
Mau prognóstico, com sobrevivência mediana 6 meses. Hemitiroidectomia +
Tiroidectomia total
Istmectomia
(± linfadenectomia)
Carcinoma medular + dose ablativa de I-131
+ levotiroxina TG e ECO anual
Tem origem nas células C ou parafoliculares e produz calcitoni-
na. É o terceiro mais frequente após o carcinoma papilar e foli- Ecografia da tiroide,
TG com TSH elevada
cular, acometendo um pouco mais as mulheres. A disseminação
(cada 6-12 meses)
à distância ocorre por via hematogénea, afetando o pulmão,
osso, fígado e glândulas adrenais.
Em 80% dos casos é esporádico e em 20% familiar, com here- TG com valores TG em valores
ditariedade autossómica dominante associada frequentemente TG indetetável Inferiores aos superiores ao
a mutações no proto-oncogene RET; podem ocorrer casos fami- ECO normal normais normal,
liares isolados ou associados a MEN 2A e 2B, existindo algorit- ECO normal resíduos na ECO
mos para a deteção do proto- oncogene RET nestas situações
TG basal
(estuda-se no capítulo 9.1. Neoplasias endócrinas múlti-
ECO anual
plas. Genética em MEN2). TG após Suspender
TG após estimulação estimulação levotiroxina e realizar
Anatomia patológica com TSH cada 3-5 anos com TSH dose ablativa com I-131,
em 1-2 anos Avaliação cirúrgica após
Células grandes com citoplasma granular e núcleo excêntrico,
imunoperoxidase positiva à calcitonina e substância amiloide no Figura 17. Tratamento e seguimento do tumor diferenciado da tiroide.
estroma que apresenta birrefringência verde e fica colorida com
vermelho do Congo.

Tratamento Prognóstico
É melhor nos tumores associados a síndrome MEN2A, seguido
–– Cirurgia. dos esporádicos e pior nos associados a MEN2B.
Tiroidectomia total com dissecção dos gânglios linfáticos cen-
trais do pescoço. A linfadenectomia lateral do pescoço é rea-
lizada em caso de suspeita clínica e com base no valor de Linfoma da tiroide
calcitonina. A coexistência de feocromocitoma deve ser
excluída na síndrome MEN2 (A e B), enquanto que neurino- Mais frequente nas mulheres entre 55 e 75 anos, geralmente
mas mucocutâneos e habitus marfanóide podem coexistir na com história de tiroidite de Hashimoto e anticorpos antitiroideus
síndrome MEN2B. positivos. O tipo mais comum é o linfoma histiocítico ou imuno-
blástico.
–– Tratamento com levotiroxina em doses substitutivas e não
supressivas (a TSH não afeta o crescimento das células C).
Tratamento
–– Doença metastática.
Cirurgia, radioterapia e quimioterapia.
Dependendo dos sintomas e volume de doença, pode optar-se
por vigilância, radioterapia, TKIs (inibidores de tirosina cinase)
Prognóstico
ou quimioterapia. Estes doentes devem participar em ensaios
clínicos, se possível. Depende do tipo e da extensão extra-cervical.

40
Capítulo 4
CO
Distúrbios do glândulas adrenais B
MD, D, T, GD

Glândula adrenal 4.1. Síndrome de Cushing


Está dividida em duas partes: a cortical e a medular. Na parte É um distúrbio clínico causado pelo excesso de glicocorticoides.
cortical são produzidos: mineralocorticoides (zona glomerular), Verifica-se um aumento do cortisol que não é reduzido com o
glicocorticoides (zona fasciculada) e androgénios (zona reticula- feedback inibidor, o que faz com que se perca o ritmo circadia-
da). As catecolaminas são produzidas na parte medular. no de cortisol. Pode dever-se a um excesso de cortisol pela
Os glicocorticoides são responsáveis por inúmeras funções: hipersecreção patológica de ACTH (por parte da hipófise ou por
aumento dos substratos energéticos com aumento da glicoge- tumores ectópicos) que estimula continuamente a glândula
nólise hepática, aumento da proteólise com excreção renal de adrenal (ACTH dependente) ou então, pela hipersecreção pri-
azoto, aumento da lipólise periférica e lipogénese nas reservas mária do cortisol por parte da glândula adrenal ou pela admi-
centrais, inibição da resposta imunitária, aumento na excreção nistração exógena de corticoides (ACTH independente). No
renal de água. primeiro caso, a ACTH será inadequadamente normal ou eleva-
A produção de glicocorticoides é regulada pela ACTH que deri- da e no segundo resulta diminuída e indetetável.
va da pró-opiomelanocortina e cuja libertação é controlada, por
sua vez, pela CRH, pela concentração plasmática de cortisol
livre, pelo stresse e pelo ciclo vigília- sono. Etiologia
A produção de androgénios também é regulada pela ACTH. Já
a secreção de mineralocorticoides é regulada pelo sistema reni- (Ver Quadro 1 da próxima página)
na-angiotensina-aldosterona, que depende principalmente da
volémia, da osmolaridade plasmática, da ativação por parte do ACTH – dependente
sistema nervoso ortossimpático. –– Doença de Cushing (causa mais frequente da síndrome de
Nos rins, no aparelho justaglomerular, as células justaglomeru- Cushing endógeno nos adultos).
lares (barorreceptores), coadjuvadas pela mácula densa (qui- Deve-se à produção excessiva de ACTH de origem hipofisá-
miorreceptores), asseguram a produção de renina, que conver- ria (microadenoma mais frequente do que macroadenoma)
te o angiotensinogénio produzido no fígado em angiotensina I, ou de CRH de origem hipotalâmica. Mais frequente nas
convertida então em angiotensina II no leito vascular pulmonar. mulheres.
A angiotensina II causa a libertação de aldosterona e tem uma –– Devido à produção excessiva de ACTH ou CRH ectópica.
série de outras funções: causa vasoconstrição periférica, aumen- Produzida geralmente pelo microcitoma pulmonar (oat cell
ta a secreção de ADH e a reabsorção de sódio e água nos rins carcinoma), pelo carcinoide brônquico ou outros (tumores do
com consequente aumento da volémia plasmática, estimula a timo, pâncreas ou ovários, carcinoma medular da tiroide ...).
sensação de sede ao nível central e aumenta a função e a remo- Deve-se suspeitar nos pacientes fumadores com clínica carac-
delação cardíaca. terística e alcalose metabólica hipopotassémica.
Na verdade, a ACTH também desenvolve a sua atividade a mon-
tante da produção hormonal, ativando a síntese de pregnenolona ACTH-independente
ao nível do córtex adrenal, que é o precursor de glicocorticoides –– Iatrogénico por administração de corticosteroides exógenos
(cortisol), mineralocorticoides (corticosterona, da qual deriva a (causa mais frequente).
aldosterona) e hormonas sexuais (dehidroepiandrosterona). Nestes casos, as determinações de cortisol no sangue e na
urina são baixas.
–– Origem adrenal.
Cortex suprarrenal Adenoma (causa adrenal mais comum nos adultos), carcino-
ma (causa endógena mais comum na infância), hiperplasia
Medula suprarrenal adrenal macronodular, displasia micronodular pigmentada
familiar (adrenal pigmentada, associada a nevos azuis, mixo-
Cápsula suprarrenal mas cutâneos, mamários, atriais no complexo de Carney).

Sinais clínicos
As manifestações clínicas são devidas a:
1. Excesso de glicocorticoides.
2. Efeito mineralocorticoide dos glucocorticoides.
3. Excesso de androgénios.
4. Excesso de ACTH.

Figura 1. Glândula suprarrenal. © Asklepios Medical Atlas / Science Photo


Library

41
Manual APNA · Endocrinologia

DOENÇA CUSHING CUSHING ECTÓPICO


CUSHING IATROGÉNICO CUSHING ADRENAL
(ACTH HIPOFISARIA) (ACTH ECTÓPICO)

O mais frequente dos


FREQUÊNCIA O mais frequente 10% dos endógenos O menos frequente
endógenos
Fenótipo não Cushingoide
Hiperglicemia
Fenótipo Cushingoide
Ativação do recetor
Fenótipo Cushingoide Fenótipo Cushingoide Virilização,
SINAIS CLÍNICOS mineralocorticoide por excesso
Hiperglicemia Hiperglicemia distúrbios menstruais
de glicocorticoides
Hipopigmentação Possível presença Eventual ginecomastia
(hiperaldosteronismo:
hiperpigmentação Hipopigmentação
alcalose, hipoK+)
Hiperpigmentação
Cortisol elevado
PERFIL Cortisol baixo Cortisol elevado Cortisol elevado ACTH suprimida
HORMONAL ACTH suprimida ACTH normal/elevada ACTH elevada ↑ androgénios (DHEA) e
17-OH-progesterona

Quadro1. Diferenças entre a síndrome de Cushing segundo a etiologia.

–– Sinais e sintomas: fenótipo cushin-


goide (obesidade troncular, “fácies
Alterações psiquiátricas em lua cheia”, “bossa de búfalo”,
(psicose esteroidal) depósito de tecido adiposo ao nível
das cavidades supraclaviculares), atro-
Acne e pletora facial
(face de lua cheia) fia muscular proximal (miopatia cor-
Bossa de búfalo tisólica), estrias violáceas (estrias
Por excesso de profundas vermelho-púrpura), fragi-
glicocorticoides lidade capilar, hiperaldosteronismo,
astenia, acne, edema, dor óssea,
cólica renal, alterações psiquiátricas,
paragem no crescimento das crianças.
–– Laboratório: intolerância aos hidratos
de carbono (diabetes mellitus em
20%), osteoporose, hipercalciúria e
Obesidade troncular litíase renal, poliglobulia, neutrofilia,
(manifestação mais frequente)
–– eosinopenia, linfopenia
Devido ao efeito mineralo- –– Hipernatremia, hipopotassemia,
corticoide dos glicocorticoi- alcalose metabólica
Estrias des (se predominam, dire-
violáceas cionam para ACTH ectópico)
Miopatia por
corticosteroides Por excesso de androgénios –– Alterações menstruais nas mulhe-
(fraqueza muscular (no caso da síndrome de res e sinais de virilização (direcio-
proximal) Cushing ACTH dependente e nam para carcinoma adrenal)
de carcinoma adrenal) –– Atrofia testicular no homem
Hirsutismo e virilização Por excesso de ACTH devido –– Hiperpigmentação
(indicam carcinoma SR)
ao efeito nos recetores de
Osteoporose MSH (no caso de síndrome de
Cushing ACTH dependente,
especialmente se for ectópico)

Quadro 2. Sinais clínicos da síndrome de Cushing.


Fragilidade capilar
Hematomas

Figura 2. Manifestações clínicas da síndrome de Cushing.

42
Capítulo 4 · Distúrbios do glândulas adrenais

Diagnóstico –– Teste de supressão com altas doses de dexametasona, 2 mg


a cada 6 horas por 48 horas (teste de Liddle) ou dose única
Diagnóstico sindrómico
noturna de 8 mg às 23.00 do dia anterior à dosagem do
–– Rastreio. cortisol (8 a.m).
• Teste de supressão rápida com dexametasona 1 mg (teste Supressão se o cortisol plasmático diminui abaixo de 50% do
de Nugent). valor basal, remete para etiologia hipofisária. Se não suprime,
Cortisol plasmático <1,8 μg / dl às 8h da manhã do dia remete para síndrome de Cushing de ACTH ectópico. A
seguinte exclui a síndrome de Cushing. queda abaixo de 90% é menos sensível mas mais específica
• Cortisol livre na urina de 24 horas (cortisolúria)> 100-150 no diagnóstico da doença de Cushing.
μg / 24 h. Com cortisolúria > 3 vezes o limite máximo, o –– Teste de CRH.
diagnóstico é altamente provável. O exame deve ser repe- Administra-se CRH EV e determinam-se os valores do cortisol
tido e devem realizar-se também mais exames para confir- e de ACTH. Se aumentam remetem para a doença de
mação. Cushing. Se não aumentam em pelo menos 35% (cut-off não
• A avaliação da perda do ritmo circadiano do cortisol através universalmente reconhecido), sugerem a síndrome de
do cortisol da saliva das 23 horas > 0,33 μg / dl sugere a Cushing ectópico.
síndrome de Cushing; > 0,55 μg/ l atinge especificidade de
–– Determinações hormonais.
100%, o teste deve ser repetido para confirmação.
Os tumores ectópicos apresentam a co-secreção de outras
–– Confirmação hormonas em 70% dos casos, por isso, medir os níveis de
• Exame de supressão com doses baixas com 0,5 mg de calcitonina, gastrina, somatostatina pode ajudar a realizar o
dexametasona a cada 6 horas durante 48 horas (ou 2 mg diagnóstico.
em dose única à noite). Diagnóstico sugestivo se o cortisol
–– Ressonância magnética hipofisária com gadolínio (pode ser
plasmático pós-supressão for superior a 1,8 μg / dl.
normal em 50% dos casos de Cushing hipofisário, especial-
• Ritmo de cortisol.
mente na presença de microadenomas <6mm).
Confirma-se o diagnóstico se o cortisol salivar após as 23
horas for> 7 μg / dl e exclui-se se for <1,8 μg / dl. –– Cateterismo dos seios petrosos inferiores. Dosagem de ACTH
nos seios petrosos e ao nível venoso periférico basal e após
administração de 100 μg de CRH: relação >2 entre os seios e
o periférico a nível basal e >3 pós-CRH indica a origem hipo-
Diagnóstico sindrómico fisária; >1,4 entre a direita e a esquerda lateraliza o tumor.
–– TC das adrenais (na síndrome de Cushing ACTH- independente).
Primeiro rastreio Teste de Nugent ou cortisolúria –– Cintigrafia com octreotida (Octreoscan).
Em caso de suspeita de síndrome de Cushing ectópica com
+
exames de imagem negativos (geralmente têm recetores para
Teste de Liddle com dose baixa a somatostatina).
Confirmação (2 mg de DXM) ou cortisol noturno
ou Cortisolúria > 3 vezes o nível normal –– Teste da metirapona
Utilizado nos EUA. Administra-se metopirona oral (bloqueia a
produção de cortisol devido à inibição da enzima11-ß-hidro-
Diagnóstico etiológico Determinação da ACTH plasmática
xilase, que faz com que aumente o metabolito precedente,
nomeadamente o 11-desoxicortisol). Determina-se a ACTH e
Aumentada ou o 11- desoxicortisol. Se aumentam remetem para a doença
normal Diminuída
de Cushing. Se não aumentam, sugerem a síndrome de
Cushing ectópica.
IPF-IPT
ECTÓPICO ADRENAL

CUSHING CUSHING CUSHING


Figura 3.Diagnóstico da síndrome de Cushing. ADRENAL HIPOFISÁRIO ECTÓPICO

Diagnóstico etiológico ACTH


↓↓ ↑ ↑↑↑↑
PLASMA
–– Determinação de ACTH plasmática.
Permite distinguir entre a síndrome de Cushing ACTH depen- TESTE DE Microadenoma:
dente (ACTH ≥20 pg / ml) e ACTH independente (<5pg/ml: SUPRESSÃO suprime
- Não suprime
baixa). Valores de ACTH intermédios entre 5 e 20 pg/ml COM DOSES Macroadenoma:
requerem teste de confirmação de um diagnóstico seguro de ELEVADAS não suprime
ACTH dependente ou não.
↑ ACTH Nenhuma
O teste necessário nestes casos é o teste de CRH (Ver Quadro TESTE DE CRH -
e cortisol resposta
1 da página anterior).
• No caso da síndrome de ACTH - independente: Deve-se pro- TESTE DA ↑ ACTH Nenhuma
curar uma causa adrenal (adenoma, carcinoma ou hiperpla- -
METIRAPONA e 11 DOC resposta
sia nodular), por isso deve-se fazer uma TC das supra-renais.
• No caso da síndrome de ACTH - dependente: CATETERI- Relação Relação
Os valores de ACTH não fazem uma distinção entre produção ZAÇÃO - >2 pré-CRH / <2 pré-CRH /
hipofisária e a ectópica (mesmo que a ectópica tenha geral- SEIOS >3 pós-CRH <3 pós-CRH
mente valores mais altos) e, por isso, devem realizar-se exames
posteriores. Quadro 3. Diagnóstico etiológico da síndrome de Cushing.

43
Manual APNA · Endocrinologia

A forma mais frequente de S. de Cushing é aquela que


resulta da toma de fármacos com atividade glicocorticoide Teste de Liddle com doses altas
(por exemplo as cortisonas), que colateralmente vão inibir a
hipófise (suprimindo a produção de ACTH) e, consequente- Suprime Não suprime
mente, o córtex adrenal (produção de cortisol e androgénios
adrenais suprimida). Quando a toma destes fármacos se pro- Microadenoma Teste de
longa no tempo, podem observar-se alterações na anatomia hipofisário estimulação
da supra-renal, em especial atrofia cortical bilateral ao nível
da zonas reticulada e fasciculada (ou seja, onde são normal-
+ -
mente produzidos o cortisol e os androgénios adrenais),
sendo poupada a zona glomerular (onde são produzidos os Macroadenoma Ectópico
mineralocorticoides regulados pelo eixo renina- angiotensi- hipofisário
na-aldosterona, normalmente funcionante) assim como a
medular. Figura 4. Diagnóstico da síndrome de Cushing ACTH-dependente.

(Ver a figura 5)
Diagnóstico diferencial (síndrome de pseudo-cushing)

Obesidade, depressão, alcoolismo e as doenças associadas a Tratamento


elevados níveis de stresse podem dar falsos positivos em alguns
Doença de Cushing
dos exames diagnósticos da síndrome de Cushing. A síndrome
de Cushing episódica ou cíclica pode ser a causa de falsos nega- –– Cirurgia Transesfenoidal (tratamento de eleição/primeira
tivos e, por isso, caso a suspeita seja elevada, é conveniente escolha: 80-90% de cura).
repetir os exames periodicamente. O cortisol livre urinário pare- Se a cirurgia for resolutiva, manifesta-se uma insuficiência
ce ser o teste mais específico neste caso. Para o diagnóstico adrenal transitória subsequente que geralmente fica curada
diferencial de pseudo-cushing usa-se o teste de dexametasona. no decurso de 6-8 meses. Por vezes, manifesta-se um hipopi-
No Cushing não suprime a produção de cortisol, mas sim no tuitarismo definitivo.
caso de pseudo cushing. –– Se não for resolutiva
Radioterapia hipofisária

ACTH plasmática

<5 >20
ACTH ACTH
entre 5 e 20 ACTH
independente dependente
(SCS)
TC das Supressão
Teste de CRH com doses altas
glândulas
suprarrenais de DXM

Inibição Nenhuma inibição


<4 cm >6 cm (queda do cortisol (queda do cortisol
geralmente geralmente >50-90%) <50-90%)
adenoma carcinoma
Teste de
estimulação (CRH/
desmopressina)
Nenhuma Resposta
resposta de ACTH
Resposta Nenhuma resposta

RMN TC cervico-toraco-
hipotálamo-hipofisária abdominal
com gadolíneo (ou Octreoscan)

Imagem Nenhuma imagem Imagem

Doença Cateterismo Cushing


Cushing dos seios petrosos ectópico

Nenhum
Gradiente Gradiente
ACTH ACTH

SCA =Síndrome de Cushing Adrenal


Figura 5. Algoritmo diagnostico do hipercortisolismo.

44
Capítulo 4 · Distúrbios do glândulas adrenais

–– Se a doença persistir: –– Carcinoma (<1%).


Adrenalectomia bilateral (que implica insuficiência adrenal Muitas vezes tem grandes dimensões e secreta outras hormo-
definitiva e por consequência tratamento substitutivo com nas além de aldosterona (associada à síndrome de Cushing ou
glicocorticoides e mineralocorticoides para toda a vida). É fun- hiperandrogenismo).
damental a administração de hormonas de substituição antes –– Aldosteronismo sensível aos glicocorticoides ou
da radioterapia hipofisária para evitar a síndrome de Nelson Hiperaldosteronismo familiar tipo 1 (transmissão autossómica
(crescimento de adenoma hipofisário secretor de ACTH após dominante).
remoção de duas glândulas adrenais saudáveis num paciente A secreção de mineralocorticoides nestes pacientes é regula-
com doença de Cushing que apresenta hiperpigmentação e da pela ACTH que deste modo aumenta em todas as situa-
sinais de compressão). ções em que a ACTH também aumenta. O tratamento é feito
com glicocorticoides, os quais reduzem a ACTH.
Síndrome de Cushing Adrenal
–– Adrenalectomia Sinais clínicos e laboratoriais
Unilateral no adenoma e carcinoma, bilateral em hiperplasia
nodular e displasia micronodular. O diagnóstico de hiperaldosteronismo primário é de vital impor-
tância porque o estímulo contínuo devido a um excesso de
–– Tratamento médico. aldosterona implica um maior risco cardiovascular (maior inci-
Fármacos adrenais nos carcinomas não operáveis: mitotano dência de enfarte do miocárdio, AVC, arritmias) e a sua terapia
(de eleição), cetoconazol, aminoglutetimida ou metopirona. específica diminui o risco de eventos cardiovasculares.
Síndrome de Cushing por ACTH ectópica –– HTA (PA diastólica maior ou igual a 110 mmHg), sem edemas.
–– Cirurgia realizada no tumor secretor de ACTH. –– Hipocaliemia (potássio <3,5 mEq/L).
–– Se não for possível ou não for curável: Adrenalectomia bilate- Causa fraqueza muscular, rabdomiólise, parestesias, polidip-
ral ou fármacos específicos. sia e poliúria (DIN, diabetes insípida nefrogénica), achatamen-
to da onda T, onda U proeminente e infradesnivelamento do
Tratamento médico segmento ST. Cerca de 50% não apresentam hipopotasse-
Antes da cirurgia ou se não houver outra possibilidade terapêu- mia, especialmente quando seguem uma dieta baixa em
tica para controlar o hipercortisolismo, administram-se fármacos sódio.
adrenais: cetoconazol (de eleição na patologia benigna), –– Alcalose metabólica.
metopirona, aminoglutetimida ou mitotano (este último no car- –– Hipernatremia.
cinoma adrenal). –– Hipomagnesemia.

Lembre-se… Seria oportuno realizar um rastreio de hiperaldosteronismo pri-


mário em caso de:
A síndrome de Cushing ectópica pode não ter as manifestações e
características da síndrome de Cushing habituais e pode –– HTA> 150/100 em pelo menos três medições, com hiperten-
manifestar-se principalmente como intolerância à glicose são resistente ao tratamento com 3 medicamentos ou bem
(hiperglicemia), alcalose hipopotassémica, miopatia proximal e controlada com 4 medicamentos.
hiperpigmentaçao. Esta última ocorre especialmente quando a –– Pacientes com HTA +hipocaliemia (espontânea ou induzida
causa é um tumor agressivo e neste caso não há um fenótipo por diuréticos).
cushingóide porque não tem tempo para se desenvolver.
–– HTA na presença de incidentaloma adrenal.
–– HTA e histórico familiar de HTA de aparecimento precoce ou
AVC em idade jovem.
–– Pacientes hipertensos com familiares em primeiro grau com
4.2. Hiperaldosteronismo primário hiperaldosteronismo primário.
–– Pacientes hipertensos com apneia do sono.
Epidemiologia
Causa de 1-2% de hipertensão arterial (pode chegar a Diagnóstico sindrómico
10%, de acordo com os estudos mais recentes). Mais fre-
quente na mulher. É a causa endocrinológica mais frequen- –– Dieta normossódica e suspensão de fármacos (em caso de
te de hipertensão arterial, à exceção do uso de contraceti- necessidade de medicamentos anti-hipertensivos podem ser
vos orais. usados alfa-bloqueadores e antagonistas do cálcio).
–– O exame inicial de rastreio do hiperaldosteronismo primário é
Etiologia a relação aldosterona/ atividade da renina plasmática
(PNA 2019).
–– Adenoma (síndrome de Conn). Quando > 30 é sugestivo; > 50 é quase diagnóstico.
É a causa mais frequente. Geralmente ocorre nas mulheres O quociente elevado não confirma por si o diagnóstico e é
entre os 30 e os 50 anos de idade. necessário realizar um exame de confirmação.
–– Hiperplasia –– Teste de sobrecarga salina (2 litros de solução fisiológica
Manifesta-se, principalmente, nos homens entre os 40 e os 0,9% EV em 2 horas).
50 anos de idade. Nos indivíduos saudáveis a carga de sódio suprime a secreção
Alterações bioquímicas menores. Muito raramente pode ser de aldosterona. A falta de supressão de aldosterona confirma
unilateral. o diagnóstico. Pode tornar-se perigosa no caso de HTA grave,
na insuficiência cardíaca, nos idosos, nas crianças ...

45
Manual APNA · Endocrinologia

–– Teste do captopril. último preferido para os homens devido a ter menor efeito
Equivalente ao anterior. A falta de supressão confirma o diag- antiandrogénico em relação à espironolactona).
nóstico. –– No carcinoma:
–– Teste de fludrocortisona. Aminoglutetimida, cetoconazol, mitotano.
É positivo quando a aldosterona não é suprimida (mantendo-
se acima de 5 ng / ml).
HTA resistente
Se o diagnóstico de hiperaldosteronismo for confirmado, é Hipocaliémia
necessário um diagnóstico histológico (adenoma vs hiperplasia Incidentaloma
vs carcinoma).
– Suspender os diuréticos
– Dieta normossódica
Diagnóstico etiológico – Suplemento K apenas se necessário
–– TC das glândulas adrenais. Rastreio
Muito útil especialmente para excluir carcinoma. A diferença
entre adenoma e hiperplasia é difícil de estabelecer porque há Ald / ARP
muitos adenomas pequenos e também muitos incidentalo-
mas não funcionantes.
–– Cintigrafia adrenal com norcolesterol. Ald / ARP Ald / ARP Ald / ARP
Relação <10 Relação >30-50 Relação <25
No adenoma mostra captação unilateral e na hiperplasia bila-
teral (pouco sensível). Pseudohiperal- Hiperaldosteronismo
–– Em caso de dúvidas: dosteronismo secundário:
– hipercortisolismo Suspeita de – HTA essencial
Cateterismo das veias adrenais com determinação da aldoste-
– Toma de alcaçuz Hiperaldosteronismo – HTA renovascular
rona em ambas as glândulas para verificar se existe lateraliza-
– Síndrome de Liddle primário – HTA maligna
ção da secreção. Alguns autores defendem este procedimento – Tumores secretores DOC – Reninoma
alegando que deve ser feito sistematicamente em todos os
pacientes que sejam potenciais candidatos cirúrgicos para Teste de confirmação
confirmar a lateralização antes da cirurgia.
Exame de supressão
Diagnóstico diferencial de aldosterona
– Expansão volume (SF)
–– Hiperaldosteronismo secundário (AR elevada). – Teste captopril
– Teste da fludrocortisona
1. Situações em que há uma depleção de volume, diminui-
– Aldosterona na urina
ção de fluxo renal ou perda de sódio: estenose da artéria de 24 h
renal, síndrome nefrótica, cirrose hepática, insuficiência
cardíaca. Aldosterona
2. Tumores secretores de renina (renal, pulmonar, alguns
casos de Wilms).
3. Síndrome de Bartter (tubulopatia hereditária com perda Não suprime Suprime
de absorção de sais, com normotensão, hipopotassemia e
elevação da renina e aldosterona). Hiperaldosteronismo HTA essencial
4. Nefropatia com perda de sais. primário:
Aldosteronoma
–– Outras síndromes com aumento de mineralocorticoides. vs
1. Síndrome de Liddle (distúrbio familiar caracterizado por Hiperplasia suprarrenal
hipertensão, hipopotassemia e baixas concentrações de
aldosterona e renina, por ganho de função do canal impli- Diagnóstico diferencial
cado na reabsorção de sódio nos túbulos renais).
2. Administração de alcaçuz. O ácido glicirrízico inibe a TC das glândulas suprarrenais
enzima de conversão do cortisol (que tem efeito minera-
locorticóide relevante) em cortisona (metabolito menos Em caso de dúvida:
ativo). Cateterismo
veias suprarrenais
3. Hiperfunção mineralocorticoide não-aldosterónica.
Síndrome de Cushing, adenoma secretor de DOC (desoxi- Figura 6. Algoritmo diagnóstico do hiperaldosteronismo.
corticosterona, precursor esteroide com atividade mineralo-
corticoide), défice de 17-α-hidroxilase ou 11-ß- hidroxilase.

(Ver a figura 6)
Lembre-se…
Tratamento No hiperaldosteronismo primário: ↑ Aldosterona e ↓ Renina
–– Cirurgia no adenoma, na hiperplasia unilateral e no carci­
noma. No hiperaldosteronismo secundário: ↑ Aldosterona e ↑ Renina
–– Tratamento médico na hiperplasia bilateral.
No pseudohiperaldosteronismo: ↓ Aldosterona e ↓ Renina
Dieta hipossódica, diuréticos poupadores de potássio (espiro-
nolactona, amilorida, triamtereno, eplerenona, sendo este

46
Capítulo 4 · Distúrbios do glândulas adrenais

4.3. Feocromocitoma Diagnóstico


Não há consenso acerca do melhor exame diagnóstico. As
Características metanefrinas livres do plasma (em posição supina) e as metane-
frinas fracionadas na urina são habitualmente realizados como
É um tumor com origem nas células cromafins do sistema sim-
primeira escolha. A sua sensibilidade é superior ao doseamento
pático da glândula adrenal que segue a “regra dos 10%”: 10%
das catecolaminas e do ácido vanilmandélico na urina.
são extra-adrenais, 10% ocorrem na infância, 10% são familia-
res (feocromocitoma familiar ou fazem parte da síndrome de –– Exames farmacológicos. Raramente são indicados.
MEN 2), 10% são bilaterais, 10% são malignos e 10%são silen- • Teste de supressão.
ciosos. Nos adultos é mais comum nas mulheres, enquanto que Clonidina (não suprime os níveis de catecolaminas no feo-
na infância a maioria ocorre no sexo masculino. cromocitoma, mas fá-lo na HTA essencial), fentolamina
O paranganglioma é um tumor derivado de células cromafins extra- (diminui a PA no feocromocitoma).
-adrenais dos gânglios paravertebrais do tórax, abdómen e pélvis. • Teste de provocação.
Exame de provocação de glucagon.
Fisiopatologia Os resultados destes exames podem ser influenciados por:
Produzem, armazenam e secretam catecolaminas: noradrenalina tratamento com labetalol, antidepressivos tricíclicos, IMAO,
e adrenalina. Os extra-adrenais secretam apenas noradrenalina. reserpina, clonidina, clofibrato, carbidopa, alfa- metildopa,
Em alguns casos produzem exclusivamente adrenalina, sobretudo guanetidina, salicilato e tetraciclinas, frutas secas, baunilha,
quando estão associados a MEN. Podem secretar outros peptí- banana, cafeína, chá, chocolate, devendo ser previamente
deos, como cromogranina A, somatostatina, PTH-like, etc. suspensos
–– Cromogranina A.
Sintomatologia Encontra-se aumentado em 80% dos feocromocitomas,
podendo também estar aumentado em outros tumores neu-
Deve-se suspeitar quando o paciente tem os seguintes 5 sinto-
roendócrinos.
mas: HTA (é a manifestação mais frequente), hiperidrose, hiper-
metabolismo, hiperglicemia e cefaleia.
–– Paroxismos ou crises. Localização do tumor
São caracterizados pela tríade: cefaleia, sudorese e palpita-
As técnicas mais utilizadas são as seguintes:
ções, podendo ter HTA paroxística. Fatores desencadeantes
das crises: aumento da pressão (ou compressão) na área do –– TC ou RM abdominal.
tumor, atividade física, stress psicológico, micção (feocromo- Muito sensíveis (88-100%), menos específicas.
citoma da bexiga), angiografia, intubação, anestesia geral, A TC é o exame de primeira escolha pela excelente resolução
parto, medicamentos (metoclopramida, fenotiazina, beta- espacial.
bloqueadores, simpaticomiméticos, opiáceos, SSRI, tricíclicos, A RM evidencia uma alta intensidade de sinal em T2 no local
inibidores da MAO), alguns alimentos contendo tirosina correspondente à lesão.
(queijo, chocolate, vinho tinto). –– Cintilografia com MIBG-I 131(metaiodobenzilguanidina),
–– HTA mantida. sobretudo se se encontra fora da glândula suprarrenal.
Geralmente é grave e quase sempre resistente ao tratamento.
Podem apresentar-se complicações de HTA: hipertrofia ven-
tricular, retinopatia hipertensiva, hemorragia cerebral ...
–– Arritmias cardíacas, angina ou enfarte do miocárdio (dado o
aumento do consumo de oxigénio), nervosismo, obstipação,
calor, dispneia, parestesia, hipertermia, hematúria (feocromo-
citomas do aparelho urinário), fenómeno de Raynaud ou live-
do reticular, midríase, colelitíase (até 20% dos casos).
Também pode apresentar-se como insuficiência cardíaca sem
causa aparente numa mulher grávida.
–– Análises clínicas
Aumento do hematócrito, hipercalcemia.
–– Doenças associadas.
–– MEN 2A: carcinoma medular da tiroide, hiperparatiroidismo
primário, líquen amiloidótico cutâneo.
–– MEN 2B: carcinoma medular da tiroide, neurinomas mucocu-
tâneos, malformações esqueléticas e habitus marfanóide e
ganglioneuromas intestinais.
–– Síndrome VHL: hemangioblastomas SNC, angiomas da retina,
carcinoma renal de células claras, tumores neuroendócrinos e
cistoadenomas serosos do pâncreas, tumores do saco endolin-
fático.
–– NF1: neurofibromas, manchas cutâneas cor de café com leite,
hamartomas da íris (nódulos de Lisch), sardas axilares e ingui-
nais, gliomas do SNC.
Figura 7. Cintigrafia com MIBG num feocromocitoma (exame mais específico).

47
Manual APNA · Endocrinologia

Outros exames que podem ser realizados: Objetivos


–– Aortografia abdominal (após o bloqueio α.) 1. Excluir a produção hormonal (tumor funcionante).
Se os exames de imagem anteriores forem negativos. • Catecolaminas e/ou metanefrinas na urina de 24 h.
–– Cateterismo e recolha de amostras de sangue venoso a diver- Feocromocitoma.
sos níveis, na veia cava superior e inferior. • Cortisolúria 24 horas e/ou teste de Nugent, ACTH.
Síndrome de Cushing.
–– Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF) contraindicada.
• S-DHEA e 11-desoxicortisol (carcinoma adrenal),
–– Octreoscan e PET também são úteis (especialmente para os 17-OH-progesterona (hiperplasia adrenal congénita).
extra-adrenais e nas metástases de feocromocitoma maligno). • Eletrólitos (síndrome de Conn).
Somente no caso de HTA ou hipopotassemia é recomen-
Tratamento dável solicitar os valores de aldosterona e da atividade da
Cirúrgico renina plasmática.
2. Excluir malignidade.
É o tratamento de eleição. Adrenalectomia laparoscópica. Antes
Nas massas não funcionantes com base nas características
da intervenção cirúrgica é necessário tratamento pré-operatório
morfológicas dos exames de imagem (TC e RM). A PAAF
de, pelo menos, 10-14 dias com fenoxibenzamina. Após a cirur-
sob controle radiológico é um procedimento que se desti-
gia pode verificar-se hipotensão.
na exclusivamente a excluir a presença de metástases nos
pacientes com incidentaloma adrenal e anamnese de neo-
Médico plasia maligna, tendo sempre em mente excluir o feocro-
–– Tratamento pré-operatório mocitoma (ou preparar o paciente com alfa e beta blo-
• Bloqueador α (indicado nos dias anteriores à cirurgia). queadores) ANTES de fazer qualquer procedimento
Fentolamina por via endovenosa nas crises. Como trata- invasivo em massas adrenais suspeitas. Em geral: <4 cm
mento de manutenção: fenoxibenzamina ou doxazosina. benigno, > 6 cm, ainda que com características de benig-
• Bloqueador ß. nidade, obrigam a excluir carcinoma (recomenda-se a
Deve realizar-se após o a-bloqueador para evitar crises cirurgia). Massas entre 4-6 cm, avaliar de acordo com as
hipertensivas (os receptores ß1 e ß2 são bloqueados, sendo características radiológicas.
estes últimos vasodilatadores). Indicado em casos de arrit-
mias ou angina.
Incidentaloma suprarrenal
–– O feocromocitoma não operável.
Metiltirosina (inibidor da síntese de catecolaminas). TC
Se o diagnóstico de feocromocitoma for realizado durante a
gravidez, a atitude terapêutica varia de acordo com a fase de
gestação. Se ocorrer durante o primeiro trimestre, trata-se o <4 cm e imagem benigna >4 cm ou imagem maligna
paciente com fenoxibenzamina e, posteriormente, remove-se o
tumor. Se o diagnóstico ocorrer no terceiro trimestre realiza-se Rastreio da função suprarrenal Nunca PAAF
inicialmente tratamento anti-adrenérgico seguido de cesariana
Manual AMIR · Endocrinología
e só posteriormente se procede à excisão do tumor.
1. Descartar Tumor funcionante
Funcionante Não funcionante 2. Sempre suprarrenalectomia

4.4. Incidentaloma
Síndrome adrenal
de preCushing o Cushing “subclínico” 4.5. Insuficiencia
Adrenalectomia suprarrenal
Tumor noutra
localização
ÉAdenoma
um tumorsuprarrenal con alteración
da supra-renal descobertodedurante
alguna um
de las pruebas
exame de
de hipercortisolismo,
imagem realizado por pero
outrosin llegar Ocorre
motivo. a confirmarse
em 10% el diagnósti-
da popu- Etiología
co desaudável,
lação síndrome85-95%
de Cushing ni presentar
não está los signos ni síntomas
funcionante. Sim Não
típicos del Cushing florido. Se ha relacionado con aumento de
HTA, DM, osteoporosis y eventos cardiovasculares. Primaria (enfermedad de Addison) (MIR)
PAAF Seguimento cada
• Autoinmune (exclui(atrofia
MTS) suprarrenal 6-12 mesesidiopática): la más fre-
cuente. Se destruye selectivamente la corteza adrenal,
Figura 9. Algoritmo diagnóstico
posiblemente de um T
por linfocitos incidentaloma
citotóxicos,suprarrenal. Bibliografia:
afectándose sus 3
Thecapas
American
(primero la glomerular –al principio aparece Association
Association of Clinical Endocrinologists and American aumento
of Endocrine Surgeonsde
de la actividad medical
reninaguidelines
plasmáticafor the management
con niveles deofaldostero-
suprarrenal
incidentalomas. Endocr Pract 2009;15 Suppl 1:1-20
na normales o bajos–, luego la fascicular y luego la reticular).
La clínica aparece cuando se destruye >90% de la glándula.
Puede asociarse
Adenoma adrenal com a otras enfermedades
“possível secreçãoautoinmunes
autónoma de (DM
tipo 1,
cortisol “ vitíligo, enfermedad tiroidea autoinmune…), y a veces
forma parte de un síndrome poliglandular autoinmune (SPA).
Management of adrenal incidentalomas: European Societyof
Un 50-70%Clinical
Endocrinology de pacientes presentaninanticuerpos
Practice Guideline collaborationcontra
with
enzimas de la esteroidogénesis suprarrenal
the European Network for the Study of Adrenal Tumors, (21-hidroxila-
Fass-
sa...) (MIR 10, 72).
nacht M et al, EJE 2016.
• Tuberculosa:
Adenoma adrenal se com
destruyen tantoem
alteração corteza
algunscomo médula,de
dos exames la
más frecuente antiguamente. En la adrenalitis
hipercortisolismo, cortisol sérico pós-Nugent entre 51 e 138tuberculosa,
la /suprarrenal
nmol L, mas sem está hipertrofiada
confirmação inicialmente,
do diagnóstico después de
de síndrome se
produce fibrosis quedando de tamaño normal
Cushing ou apresentação de sinais e sintomas típicos de o atrófica, con
Figura
Figura8.6.Incidentaloma
Incidentalomasuprarrenal
suprarrenaldireito.
derecho. presencia de calcificaciones en el 50% de los casos (MIR).
• Causas infrecuentes: hemorragia bilateral (por sepsis menin-
48 gocócica o síndrome de Waterhouse-Friederichsen, coagulo-
patías o terapia anticoagulante), infarto bilateral, infecciones
por hongos o virus (CMV, VIH…), infiltración (metástasis,
Capítulo 4 · Distúrbios do glândulas adrenais

Cushing declarado. Tem sido associado ao aumento de HTA, Sinais clínicos


DM, osteoporose e de eventos cardiovasculares. Nestes casos,
na ausência de sinais de malignidade da lesão adrenal e de –– Início insidioso e lentamente progressivo.
comorbilidade, recomenda-se um acompanhamento clínico –– Astenia, anorexia, perda de peso, náuseas e vómito, dor
(comorbidade associada) e bioquímico (cortisol após bloquea- abdominal, tendência à hipotensão, perda de pêlos axilares e
dor). púbicos na mulher (por défice de androgénios adrenais), dimi-
nuição da necessidade de insulina em pacientes diabéticos.
Lembre-se… –– Na insuficiência adrenal primária:
Hiperpigmentação da pele e mucosas (especialmente nas
Nunca realizar a PAAF de uma massa adrenal zonas descobertas, dobras, aréolas, cicatrizes e zonas subme-
sem ter excluído previamente feocromocitoma. tidas a fricção ou pressão).

Deve-se excluir o feocromocitoma ainda antes


de realizar uma TC por meio de contraste.

4.5. Insuficiência adrenal

Etiologia
Vitiligo
Primária (doença de Addison) (e outras doenças
autoimunes)
–– Autoimune (atrofia adrenal idiopática).
A mais frequente. O córtex adrenal é destruído seletivamen-
te, provavelmente por linfócitos T citotóxicos, envolvendo as
suas 3 zonas (em primeiro lugar a glomerular - no início, há
um aumento da atividade da renina plasmática com níveis Hipotensão arterial
normais ou baixos de aldosterona – depois a fasciculada e por Choque (casos agudos)
último a reticulada). Os sinais clínicos manifestam-se quando
há destruição > 90% da glândula. Hiperpigmentação
Dor abdominal cutâneo-mucosa
Pode estar relacionada com outras doenças autoimunes (DM (formas primárias)
tipo 1, vitiligo, doença autoimune da tiroide ...) e, por vezes,
faz parte de uma síndrome poliglandular autoimune (SPA).
Cerca de 50-70% dos pacientes têm anticorpos contra as
enzimas da esteroidogénese adrenal (21-hidroxilase ...).
–– Tuberculose. Perda de peso
São destruídas quer a cortical como a medular. No passado Síndrome constitucional
era a mais frequente. Na adrenalite tuberculosa, a glândula
adrenal é inicialmente hipertrófica, depois manifesta-se a Diminuição dos pelos
fibrose e pode ficar com dimensões normais ou tornar-se púbicos e das axilas
atrófica, apresentando calcificações em 50% dos casos.
–– Causas pouco frequentes.
Hemorragia bilateral (devida a sépsis meningocócica ou sín-
drome de Waterhouse-Friederichsen, coagulopatias ou tera-
pia anticoagulante), enfarte bilateral, infeções micóticas ou
virais (CMV, HIV ...), infiltração (metástase, amiloidose, sarcoi-
dose, hemocromatose), adrenalectomia cirúrgica, adrenoleu-
codistrofia, fármacos (mitotano, metirapona, cetoconazol,
aminoglutetimida).

Secundária
Devido a patologia hipotálamo-hipofisária, com défice de ACTH
ou supressão do eixo pela administração exógena de glicocorti-
Figura 10 Manifestações clínicas de insuficiência suprarrenal.
coides. Nestes casos, são atingidas apenas as zonas fasciculadas
(produção de glicocorticoides) reticulares (produção de andro-
génios), permanecendo intacta a secreção de mineralocorticói-
des. Laboratório
–– Hiponatremia e tendência à hipoglicemia. Manifestam-se na
insuficiência adrenal primária e secundária.
Lembre-se…
–– Hiperpotassemia, hipocloremia e acidose metabólica.
A zona glomerular responde ao sistema Renina- Angiotensina Verificam-se apenas na insuficiência adrenal primária.
–– Anemia normocítica, linfocitose, eosinofilia, neutropenia.

49
Manual APNA · Endocrinologia

Diagnóstico diano do cortisol) ou dexametasona 0,5 mg à noite; deve-se


duplicar a dose nas situações de stresse ou infeção e adminis-
O exame diagnóstico de eleição na insuficiência adrenal (ISR)
trar por via parentérica em caso de vómito. Os pacientes
primária é o teste de estimulação com ACTH (250 μg). Inclui
devem usar uma pulseira de identificação. No caso de inter-
uma determinação de cortisol basal (<3 μg / dl confirma ISR,>
venção cirúrgica estabelece-se um esquema de substituição
18 μg / dl exclui ISR) e uma determinação de cortisol estimulada.
parentérica (com altas doses em caso de intervenções maio-
Quando o cortisol basal não é diagnóstico (entre 3 e 18 μg / dl)
res) que vai desde o dia da operação até o paciente retornar
avalia-se o estimulado: o cortisol deve ser > 18 μg / dl numa
à nutrição oral.
supra-renal saudável (se após a estímulo <18 μg / dl indica ISR
primária). O teste de ACTH com doses baixas (1 μg) teria uma –– Mineralocorticoides.
sensibilidade maior no diagnóstico de insuficiência adrenal Fludrocortisona. São necessários somente na insuficiência
secundária. adrenal primária. O melhor parâmetro de controle da dose de
fludrocortisona é a atividade da renina plasmática.
–– Níveis de ACTH.
Para diferenciar entre ISR primária (ACTH elevada) e secundá-
ria (ACTH normal ou baixa). Insuficiência adrenal aguda ou crise addisoniana
–– Exame de hipoglicemia insulínica.
Realiza-se no caso de uma elevada suspeita de ISR secundária, Causa mais frequente
avaliando a resposta de ACTH e de cortisol, após indução de Suspensão repentina de corticosteroides em pacientes com
stresse hipoglicémico, se os valores após estímulo com ACTH insuficiência adrenal secundária devido à administração crónica
estiverem normais. A adrenal pode responder à ACTH exóge- dos mesmos. Outras causas: situações de stresse agudo em
na e o valor do cortisol pode ser normal após estimulação até pacientes com insuficiência adrenal primária ou destruição súbi-
ao momento em que se manifesta a atrofia da zona fascicu- ta das adrenais num paciente previamente saudável (hemorra-
lada- reticulada após cerca de 6 semanas do fim da síntese de gia bilateral).
ACTH.
–– A determinação de renina e aldosterona é útil para determi- Sinais clínicos
nar o défice de mineralocorticoides. Crise addisoniana: astenia intensa, náusea, vómitos, diarreia e
–– Teste de metirapona (inibidor de enzima 11 beta- hidroxilase): dores abdominais, desidratação intensa e hipotensão podem
permite detetar a integridade do eixo através do doseamento provocar colapso, coma e morte.
de ACTH e 11DOC (substrato da enzima) após administração
do inibidor. Em caso de integridade, a ACTH e 11-DOC Tratamento
aumentam; em caso de insuficiência adrenal secundária, não
aumentam. Urgente, feito por via endovenosa com doses altas de hidro-
cortisona e suplementação de água e sódio com uma solução
fisiológica por via endovenosa. Dado que apresentam ten-
Suspeita de insuficiência suprarrenal dência à hipoglicemia, devemos associar uma solução de gli-
cose para preveni-la ou tratá-la. É muito importante procurar
Teste de ACTH a causa.
1. Recolher cortisol basal
2. Administrar ACTH
3.Recolher cortisol após 30 minutos (estimulado)
Lembre-se…
Avaliar o cortisol basal Quando se administram doses de glicocorticoides muito elevadas e
superiores a 50 mg (como ocorre antes de uma cirurgia ou em
situações de stresse) não é necessário administrar
<3 µg/dl 3-18 µg/dl >18 µg/dl mineralocorticoides pelo efeito mineralocorticoide dos
glucocorticoides destas doses.
Confirma ISR Avaliar cortisol estimulado Exclui ISR

<18 µg/dl >18 µg/dl


4.6. Hiperandrogenismo de origem adrenal
Confirma ISR Exclui ISR Pode dever-se a hiperplasia adrenal congénita ou a um tumor
primária
Possível ISR maligno das glândulas adrenais (geralmente associado a secre-
secundária ção de outros hormonas).
(avaliar teste
hipoglicemia em
caso de elevada
suspeita) Hiperplasia adrenal congénita (HAC)
Carência de algumas enzimas envolvidas na esteroidogénese
Figura 11. Diagnóstico da insuficiência suprarrenal (ISR).
adrenal, transmite-se por via autossómica recessiva. Existe um
comprometimento global ou parcial da síntese dos glicocorticoi-
Tratamento des (com aumento de ACTH e hipertrofia das glândulas adre-
nais) e mineralocorticoides, com aumento de androgénios. A
–– Glicocorticoides
sintomatologia é variável: grave ou clássica (pré-natal) e não
Hidrocortisona 20 mg / dia, dividida em 3 doses (administrar
clássica (pós-natal).
a maior parte da dose pela manhã para simular o ritmo circa-

50
Capítulo 4 · Distúrbios do glândulas adrenais

Tipos níveis dos 17-OH-progesterona. As formas não clássicas


podem não ser detetadas no rastreio.
–– Défice de 21-hidroxilase.
• Em caso de dúvida:
O mais frequente. Apresenta-se com hipocortisolismo, hipe-
Estímulo com ACTH, induzindo-se assim o aumento de 17-
randrogenismo e possível perda salina. Há um aumento de
OH-progesterona.
17-OH-progesterona.
• O estudo genético é necessário para confirmação e obriga-
–– Défice de 11-hidroxilase. tório para aconselhamento genético ao casal.
Em paralelo com hiperandrogenismo e HTA. Existe um
–– Tratamento.
aumento de 11-desoxicortisol.
• Glicocorticoides
–– Défice de 3-ß-hidroxiesteróide-desidrogenase. Apresenta- Hidrocortisona ou dexametasona. As mesmas precauções
se como uma virilização nas mulheres e virilização insuficiente da insuficiência adrenal.
nos homens, com possível perda salina. • Em caso de perda salina: Mineralocorticoides.
• Na gravidez:
Défice de 21-hidroxilase. Deve administrar-se dexametasona à mãe desde a concep-
- Sinais clínicos ção até à confirmação de que o feto é do sexo masculino,
• Formas clássicas: virilização simples com perda de sais. podendo, nesse caso, suspender-se o tratamento. Se for
Grande excesso de androgénios. menina deve continuar para a evitar a virilização fetal devi-
–– Hiperandrogenismo fetal. do ao excesso de androgénios, uma vez que a administra-
Virilização do feto feminino: causa mais frequente de ção de um glicocorticoide exógeno suprime a produção de
pseudo- hermafroditismo feminino (é a causa mais fre- ACTH fetal, diminuindo o estímulo nas glândulas adrenais
quente de genitália ambígua no nascimento). e a produção de androgénios. No entanto, não existe um
–– Crise de perda salina (mais frequente nos homens devido consenso global sobre o tratamento com dexametasona na
a diagnóstico tardio). gravidez.
Entre a 2ª a 4ª semana: crise hipovolémica com hipona- –– Diagnóstico diferencial.
tremia, hiperpotassemia, acidose metabólica, alterações • Carcinoma adrenal secretor de androgénios.
eletrolíticas, hipoglicemia, colapso e morte. Deve efetuar- Geralmente tem grandes dimensões. Existem níveis muito
-se um diagnóstico diferencial com a estenose pilórica altos de DHEAS e na urina de 17-cetosteróides.
(hipopotassemia e alcalose metabólica). • Tumores ováricos virilizantes com valores normais de
• Formas não clássicas. DHEAS e 17-cetosteroides. No entanto, também têm eleva-
Hiperandrogenismo pós-natal, com crescimento acelerado, dos níveis de testosterona. O tumor virilizante mais fre-
acne, hirsutismo, distúrbios menstruais (oligomenorreia) e quente é o arrenoblastoma.
virilização. • Formas não clássicas podem ser confundidas com SOPC
–– Diagnóstico (Síndrome do Ovário Policístico).
• Aumento de 17-OH-progesterona no plasma.
Efetua-se um rastreio neonatal após as 48 horas através de

51
Capítulo 5
CO
Diabetes mellitus A
MD, D, P, T, GD

Conceito –– Além da diabetes também são conhecidos outros estados de


alterações glicémicas.
A Diabetes mellitus compreende uma série de condições carac-
Os seguintes valores dos principais parâmetros glicémicos são
terizadas pela carência na secreção ou ação da insulina, que
considerados dignos de atenção dado que identificam sujeitos
causa alterações no metabolismo dos hidratos de carbono, gor-
em risco de diabetes e doenças cardiovasculares. Esta condição é
duras e proteínas, resultando numa hiperglicemia crónica res-
classificada nas orientações mais recentes como “pré-diabetes”:
ponsável, entre outras, por complicações vasculares e neuropá-
• Glicemia em jejum 100-125 mg/dl (glicemia alterada em
ticas.
jejum ou impaired fasting glucose, IFG);
• Glicemia 2 horas após carga oral da glicose 140-199 mg/dl
Epidemiologia (tolerância reduzida à glicose ou impaired glucose toleran-
ce, IGT);
É considerada a doença endocrinológica mais frequente, espe- • HbA1c 42-48 mmol/mol (6,00-6,49%).
cialmente pela difusão da diabetes tipo 2. De salientar que a OMS (Organização Mundial da
Saúde;WHO, World Health Organization) indica para o diag-
nóstico de IFG valores de glicemia 110-125 mg/dl e não rati-
Diagnóstico ficou o uso de hemoglobina glicada para a definição dos
estados de disglicemia não diagnosticados como diabetes,
Rastreio dado que existem diversas situações em que a HbA1C não se
–– Indicações conjuga bem com a glicemia, tais como défice de ferro, ane-
• Idade acima dos 45 anos. mia hemolítica, talassemia, várias hemoglobinopatias, esfero-
• História familiar de diabetes mellitus (familiar de primeiro citose hereditária e insuficiência renal e hepática avançadas.
ou de segundo grau).
• Obesidade ou excesso de peso. Classificação
IMC> 25 kg/m2 ou superior a pelo menos 20% relativa-
mente ao peso ideal. Diabetes Mellitus Tipo 1
• Presença de outros fatores de risco cardiovascular, como Causada pela destruição das células β-pancreáticas que provoca
hipertensão arterial ou dislipidemia. uma carência total de insulina, os pacientes precisam da admi-
• Alteração da glicemia em jejum ou intolerância à glicose ou nistração de insulina desde o início e apresentam risco de cetoa-
DM gestacional. cidose:
• História de fetos macrossómicos, abortos ou morbidade –– Diabetes mellitus tipo 1 com base autoimune.
perinatal. –– Diabetes mellitus tipo 1 com base idiopática.
• Todas as mulheres grávidas no primeiro trimestre e entre as –– Diabetes, Latent Autoimmune Diabetes in Adults:
24 e as 28 semanas de gestação. É semelhante a DM tipo I, mas caracterizada por um desen-
• Síndrome de resistência à insulina (síndrome metabólica). volvimento lento e com início na idade adulta. Não há crité-
• Síndrome do ovário policístico, acantose nigricans. rios de diagnóstico padronizados, do ponto de vista clínico,
–– Métodos de rastreio. suspeita-se de LADA se houver uma ou mais das seguintes
Recomenda-se a medição da glicose basal, à exceção das características:
mulheres grávidas às quais se aconselha também realizar o • Idade < 50 anos;
teste oral de tolerância à glicose (TOTG) com 75 g. • IMC< 25 kg / m2;
• Anamnese positiva para doenças autoimunes, familiaridade
Critérios de diagnóstico
para diabetes tipo 1 ou doenças autoimunes;
–– Diabetes mellitus. • Necessidade de terapêutica insulínica nos primeiros 6 a 12
• Paciente sintomático. meses após o diagnóstico. A idade de começo >50 anos e a
Glicemia ocasional maior ou igual a 200 mg/dl, associada presença de sobrepeso não devem, no entanto, excluir à
aos principais sinais clínicos da diabetes (poliúria, polidipsia, priori o diagnóstico de LADA quando se satisfazem os
polifagia e perda de peso) ou cetoacidose. outros critérios. Os testes de diagnóstico úteis para confir-
• Paciente assintomático. mar a suspeita clínica de LADA são a determinação de
Necessidade de duas determinações positivas, geralmente autoanticorpos (GADA, IA-2A) e a avaliação da função das
em dois dias diferentes, entre: células beta através da medição do peptídeo C basal ou
–– Glicemia basal ≥126 mg / dl. após estimulação com glucagon. Este teste deve ser realiza-
–– Glicemia ≥200 mg /dl duas horas após TOTG com 75 g do em jejum e consiste numa amostra basal e numa recolha
de glicose. Aconselhável para pacientes com um valor de 6 minutos após a injeção EV de 1 mg de glucagon. Valores
glicemia em jejum maior ou igual a 126 mg / dl. do peptídeo C <0,2 nmol/l a nível basal ou <0,6 nmol/l após
–– HbA1c ≥ 48 mmol / mol (≥6,5%). a estimulação são indicativos de um grave défice de secre-
–– Intolerância à glicose ou intolerância aos hidratos de ção de insulina e da necessidade de tratamento com insuli-
carbono. na. Valores de glicemia >180 mg/dl contraindicam a realiza-
• Glicemia 2 horas após um TOTG de 75 g entre 140 e 200 ção do teste, dado que a hiperestimulação da célula beta
mg/dl. daí resultante induziria a uma sobreavaliação da secreção de
• Pessoas diagnosticadas com intolerância à glicose mostram insulina. O teste é útil para enquadrar o diagnóstico e prog-
um risco maior de desenvolverem hiperglicemia em jejum nóstico nos casos de classificação incerta, mas não é o único
ou diabetes sintomática. critério em que se deve basear a escolha terapêutica.
52
Capítulo 5 · Diabetes mellitus

Diabetes mellitus tipo 2


TOTG DIAGNÓSTICO (75 gr)
É causada pela resistência à insulina e pode estar associada a TEMPOS GLICEMIA NO PLASMA
um défice parcial de secreção de insulina, que geralmente pro- VENOSO (mg/dl)
gride no tempo sem levar a uma carência absoluta da hormona.
0 min 92
Diabetes gestacional
Causada por defeitos funcionais semelhantes aos da diabetes 1 hora 180
de tipo 2, é diagnosticada pela primeira vez durante a gravidez
e geralmente regride após o parto, reaparecendo com fre- 2 hora 153
quência anos depois e com as características da diabetes de
tipo 2. Quadro 1.TOTG, valores de diagnóstico para GDM.
A avaliação inicial de uma mulher grávida deve incluir dois aspe-
tos: rastreio de diabetes manifesta (overt diabetes in pregnancy)
e diabetes gestacional (DMG). (ver a figura 1 na página seguinte)
1. Diagnóstico de diabetes manifesto.
Os mesmos critérios usados fora da gravidez (glicemia em Outros tipos específicos de diabetes
jejum ≥126 mg/dl, glicemia casual ≥200 mg / dl ou HbA1c
–– Defeitos genéticos da célula beta. Diabetes MODY.
≥ 48 mmol/mol (≥6,5%).
A MODY (Maturity-Onset Diabetes of the Young) é uma
2. Rastreio de DMG.
forma monogénica de diabetes relativamente rara (1-2% dos
Baseia-se na determinação de uma glicemia em jejum no
casos de diabetes), caracterizada por transmissão autossómi-
primeiro trimestre e/ou um TOTG com 75g de glicose entre
ca dominante. Atualmente, estão descritos cerca de dez dife-
a 24ª-28ª semana de gestação.
rentes defeitos genéticos que, através de diversos mecanis-
Fatores de risco para DMG: mos, levam a uma alteração funcional das células beta
pancreáticas (entre as mais conhecidas, estão as mutações no
–– Histórico positivo de diabetes em parentes de primeiro grau;
gene do fator hepatonuclear 4 alfa, no da glicoquinase, no
–– Diabetes gestacional anterior;
fator hepatonuclear 1alfa, no fator promotor da insulina 1, no
–– Macrossomia fetal em gestações anteriores;
fator hepatonuclear 1 beta e no fator de diferenciação neu-
–– Excesso de peso ou obesidade (BMI≥ 25 kg / m2);
rogénica 1).
–– Idade ≥35 anos;
Os critérios clínicos para a identificação de MODY são os
–– Grupos étnicos de alto risco (Sul da Ásia, Oriente Médio,
seguintes:
Caraíbas).
• Idade do aparecimento habitualmente <25 anos;
Considera-se que o rastreio com uma mini-carga de 50 g de • Controlo metabólico mantido sem insulina superior a 2
glicose não é recomendado porque está desatualizado. O teste anos;
de diagnóstico preferido atualmente consiste numa curva de • Hereditariedade autossómica dominante (pelo menos três
carga oral com 75 g de glicose (TOTG 75 g), doseando a glice- gerações de indivíduos que sofrem de diabetes na árvore
mia em intervalos de 60 e 120 minutos. genealógica);
O diagnóstico da diabetes gestacional é definido pela presença • Ausência de autoimunidade.
de um ou mais valores iguais ou superiores aos indicados na Na presença de uma suspeita clínica bem fundamentada de
Quadro 1 ou por uma glicemia em jejum na primeira consulta MODY é necessário dirigir-se a laboratórios de referência
pré-natal entre 92 e 126 mg/dl. Mulheres com DMG devem para caracterização do defeito genético. A identificação de
submeter-se a um TOTG 75 g para despiste de diabetes mellitus MODY é relevante para o enquadramento do prognóstico
tipo 2, 6 a 8 semanas após o parto. O controlo subsequente do paciente e porque indica a necessidade de rastreio na
deve incluir um TOTG 75 a cada 3 anos. Se houver uma altera- família.
ção na tolerância glicémica (IFG ou IGT), o exame deve ser repe-
–– Defeitos genéticos na ação da insulina.
tido todos os anos.
Síndrome de resistência à insulina de tipo A e B, leprechaunis-
mo, Síndrome de Rabson-Mendelhall e diabetes lipoatrófico.
Procedimento para a realização do exame com carga
oral de glicose: –– Doenças de pâncreas exócrino (diabetes mellitus pancreático):
devido à destruição do pâncreas.
–– O exame de carga oral de glicose deve ser realizado de manhã Pancreatite crónica, carcinoma pancreático, hemocromatose,
em jejum. fibrose cística, pancreatectomia.
–– A carga glicémica deve ser administrada numa concentração –– Endocrinopatias (devidas ao aumento das hormonas diabeto-
de 25% (75 g de glicose dissolvida em 300 cc de água). génicas). Acromegalia, feocromocitoma, síndrome de
–– Durante o teste a mulher deve assumir a posição sentada e Cushing, glucagonoma, aldosteronismo primário, hipertiroi-
abster-se da ingestão de alimentos e de fumar. dismo, somatostatinoma.
–– Nos dias anteriores ao exame, a alimentação é livre e deve –– Induzido por fármacos e substâncias tóxicas.
incluir pelo menos 150 g de hidratos de carbono/dia. Diuréticos tiazídicos, glicocorticoides, estrogénios e anticon-
–– O doseamento da glicemia deve ser realizado no plasma uti- cetivos orais, everólimus e diazóxido
lizando métodos enzimáticos, sendo desaconselhado o uso –– Infeções
de glicómetros. Rubéola congénita; citomegalovírus, coxsackie.
–– Síndromes genéticas associadas a diabetes.
O teste de carga de glicose não deve ser realizado na presença Síndrome de Down, Klinelfelter, Turner, Wolfram (DM + DIC
de doenças concomitantes (gripe, estados febris, etc.). + atrofia ótica + surdez neurossensorial), ataxia de Friedrich,

53
Manual APNA · Endocrinologia

Rastreio de Diabetes gestacional

Entre as 24-48
1ª consulta
semanas

Glicemia
PTGO
em jejum

Glicemia em jejum
≥ 92 mg/dL ou Glicemia
≥ 126 mg/dL 92-125 mg/dL < 92 mg/dL ≥ 180 mg/dL aos 60 min
ou Glicemia
≥ 153 mg/dL aos
120 min

DM pré-gestacional Diabetes
gestacional
Figura 1.Rastreio da diabetes na gravidez.

Coreia de Huntington, distrofia miotónica, síndrome de –– Fisiopatologia.


Prader Willi, síndrome de Lawrence-Moon- Bield, porfirias. Dá-se a destruição das células β do pâncreas devido a meca-
nismos principalmente mediados por células e em segundo
Lembre-se… lugar de tipo humoral (autoanticorpos). Verificam-se sinais de
imunidade celular (insulite: infiltração das ilhotas de
O uso de termos como DMID e DMNID são obsoletos. São Langerhans por parte dos linfócitos T citotóxicos e macrófa-
utilizados porque a denominação insulinodependente fazia gos) e humoral (autoanticorpos: em relação a insulina -AAI-,
referência à necessidade de insulina para evitar a cetoacidose e foi das ilhotas - ICA, da descarboxilase do ácido glutâmico-Anti-
associada no passado a DM tipo 1. No entanto, uma vez que -GAD-, de uma fosfatase de proteínas-quinase -HTA2-). Os
muitos pacientes como DM tipo 2 necessitam de tratamento com dois últimos (anti-GAD e HTA2) são os mais específicos e por
insulina, os termos insulinodependentes e não insulinodependentes isso têm um maior valor diagnóstico.
não devem ser usados.

Diabetes mellitus tipo 2


Patogénese
–– Predisposição genética.
Diabetes mellitus tipo 1 A DM tipo 2 é uma doença poligénica em que os fatores
Estão envolvidos quer fatores genéticos quer ambientais que genéticos são mais importantes do que na diabetes tipo
induzem uma ativação imunológica com destruição das células 1 (maior associação hereditária). Não foi encontrada nenhu-
ß produtoras de insulina. A diabetes manifesta-se clinicamente ma correlação com o sistema HLA. Apresenta uma agregação
quando mais de 90% das células ß são destruídas (não há familiar relevante e uma taxa de correspondência nos gémeos
envolvimento das células α ou do pâncreas exócrino). monozigóticos de quase 100%.
–– Fatores ambientais.
–– Predisposição genética.
Idade, obesidade, vida sedentária.
A predisposição para desenvolver DM tipo 1 é hereditária. O
risco máximo dá-se nos gémeos monozigóticos de pacientes –– Fisiopatologia.
afetados (entre 35 e 50%). A presença de DM nos pais Os pacientes com DM tipo 2 apresentam dois defeitos: resis-
aumenta o risco de DM na prole, com um fenómeno de tência à ação da insulina nos tecidos periféricos e anomalias
imprinting: o risco de diabetes é maior quando é o pai que é da secreção da mesma com hiperinsulinismo. É provável que
afetado pela doença. Está relacionada com HLA DR3 ou DR4. ambos os defeitos sejam necessários para que a diabetes se
manifeste.
–– Fatores ambientais.
A maioria dos autores acredita que a resistência à insulina seja
Atuam como gatilhos da resposta imunitária num indivíduo
primária e o hiperinsulinismo secundário, ou que a secreção de
geneticamente predisposto.
insulina aumente para compensar a situação de resistência.
• Vírus.
Assim, a diabetes (hiperglicemia) manifesta-se quando a secre-
Estão envolvidos os vírus de Coxsackie B4, o vírus da rubéo-
ção dos ilhéus se deteriora ou não pode ser induzida hiperinsu-
la, CMV, retrovírus, etc.
linemia compensatória, tendo como consequência um défice
• Alimentos.
relativo de insulina.
Exposição ao leite de vaca nos estágios iniciais da nutrição.

54
Capítulo 5 · Diabetes mellitus

Manifestações clínicas estas metas é necessário combinar uma dieta adequada para
atingir e manter o peso e a forma, exercício regular, educação
Principais características de DM-1 diabetológica e tratamento farmacológico (insulina e/ou antidia-
béticos orais), além de tratamento agressivo dos outros fatores
–– Geralmente surge na puberdade ou em torno dos 30-40 de risco cardiovascular (tabaco, hipertensão arterial, dislipide-
anos. mia).
–– Aparecimento repentino.
–– Principais sinais clínicos.
Poliúria (crianças: enurese noturna), polidipsia, perda de peso,
polifagia. Mudanças na dieta e no estilo de vida
–– Período de “lua de mel” após o diagnóstico em que diminui
transitoriamente a necessidade de insulina.
HbA1c 6,5-8,5% HbA1c >8,5%
Principais características de DM-2
Metformina
–– Idade.
Muito mais frequente em idade superior a 60 anos. Pode Sintomas de
Não se atinge o hiperglicemia ou
manifestar-se em idade precoce ou mesmo em crianças objetivo em 3 meses Assintomático descompensação
(sobretudo em obesas) aguda
Adicionar 2º ADO
–– Surgimento gradual. ou insulina
Pode passar despercebida por longos períodos de tempo e ser Metformina só Insulina +/-
diagnosticada no momento do aparecimento de complica- Não se atinge ou combinada com Metformina
o objetivo em 3 um outro ADO desde o inicio
ções.
Adicionar 3º ADO
Na Quadro 2 resumem-se as principais diferenças entre os dois ou insulina
tipos de diabetes
Não se atinge
o objetivo em 3 meses

5.1. Tratamento da diabetes mellitus Insulino-terapia


+/- metformina
A terapia para a diabetes deve concentrar-se na correção da
hiperglicemia e de outros fatores de risco cardiovascular presen- Figura 2. Tratamento de DM tipo 2.
tes, porque o risco cardiovascular aumenta de maneira expo-
nencial nos diabéticos com outros fatores de risco. Para alcançar

Dieta
TIPO 1 TIPO 2
A dieta deve ser equilibrada, sem diferenças relativamente à da
PREVALÊNCIA Cerca 0,3% Cerca 6-7% população em geral e com conteúdo calórico que permita man-
ter ou atingir o normopeso. O acompanhamento dietético deve
Sempre presente. Por ser mais rigoroso nos pacientes com DM de tipo 2, cujo objetivo
SINTOMA- Muitas vezes modesta
vezes flagrante e de principal é a redução do seu peso corporal (mesmo uma perda
TOLOGIA ou ausente
começo abrupto ponderal ligeira, na ordem dos 5Kg, pode ajudar a melhorar o
perfil glicémico (PNA 2019)).
TENDÊNCIA A
Presente Ausente
CETOSE –– Calorias totais.
Aquelas necessárias para alcançar e manter o normopeso.
Em geral Geralmente
PESO Nos pacientes tratados com insulina, a distribuição dos hidra-
é normal em excesso
tos de carbono deve ser repartida para evitar a hipoglicemia.
IDADE DO Mais frequente Mais frequente –– Proteínas
APARECIMENTO <30 anos > 40 anos 15% da ingestão calórica (0,8-1 g / kg de peso). Em pacientes
APARECI- com nefropatia diabética recomenda-se a sua redução.
Muitas vezes presente
MENTO DE Não antes de alguns –– Hidratos de carbono.
no momento do
COMPLICAÇÕES anos após o diagnóstico 50-60% do aporte energético total, de preferência comple-
CRÓNICAS diagnóstico
xos polissacarídeos de absorção lenta.
INSULINA –– Gorduras
Reduzida ou ausente Normal ou aumentada 30-40% do aporte calórico total. Destas: saturadas
CIRCULANTE
<10%, polinsaturadas <10% e monoinsaturadas 10- 20%.
AUTO- Com uma ingestão de colesterol <200 mg / dia.
Presente Ausente
IMUNIDADE
–– Recomenda-se limitar o consumo de colesterol e sal.
Insulina necessária Dieta, fármacos orais, Limitar também o consumo de álcool a <30 g / dia.
TERAPIA
desde o início. análogos GLP-1, insulina –– Recomenda-se a ingestão de cerca de 30 gramas de fibras por
dia
Quadro 2. Resume as principais diferenças entre os dois tipos de diabetes.

55
Manual APNA · Endocrinologia

Atividade física de tipo 2 de longa data. A hiperglicemia pós- prandial é um


fator de risco cardiovascular independente nos pacientes diabé-
A prática de exercício físico regular (exercícios aeróbicos) ofere-
ticos (estudo DECODE).
ce muitos benefícios no controlo metabólico, e diminui o risco
cardiovascular. Em caso de terapia com insulina é necessário o Pode administrar-se através de múltiplas injeções subcutâneas
ajuste da dose e das quantidades necessárias de hidratos de de insulina ou através de uma bomba de infusão contínua por
carbono, dado que com a atividade física a resistência à insulina via subcutânea.
diminui. –– Múltiplas injeções subcutâneas de insulina. Administração de
Em pacientes >35 anos, sedentários, que iniciem uma atividade 3-4 injeções diárias de insulina com ajuste da dosagem em
física intensa, lembre-se de realizar um ECG de esforço. função da auto-monitorização glicémica. Este tratamento
Contraindicações: melhora o controle metabólico, mas implica um risco maior
de aparecimento de hipoglicemia.
–– Controle metabólico não eficaz.
–– Bomba subcutânea para infusão contínua de insulina.
–– Diabetes muito instável.
Pequeno dispositivo conectado a um cateter colocado a nível
–– Complicações crónicas graves.
subcutâneo que administra insulina de forma contínua, admi-
–– Cetoacidose.
nistrando uma dose basal e um bólus antes das refeições.
Mesmo que o controle glicémico seja bom, NÃO mede a gli-
5.2. Insulina cemia e portanto, não substitui o autocontrole. Além disso,
existe o risco de hipoglicemia assim como de cetoacidose se
Está indicada na diabetes mellitus tipo 1 desde o aparecimento for interrompido ou se a infusão terminar acidentalmente.
da doença. Na diabetes mellitus tipo 2, administra-se quando Não ficou provado ser mais eficaz do que as múltiplas inje-
não se consegue obter um bom controlo glicémico apesar da ções para o controlo da diabetes. Em vez disso, demonstrou
dieta, atividade física e antidiabéticos orais, na presença de sin- reduzir o número e a gravidade das hipoglicemias, assim
tomas de carência insulínica como sinal clínico principal (perda como aumentou a flexibilidade e a qualidade da vida dos
de peso) ou após uma descompensação aguda (cetoacidose, pacientes.
estado hiperosmolar). –– Contraindicações para tratamento intensivo. Situações em
que a hipoglicemia pode ser perigosa:
• Hipoglicemias frequentes graves ou diabéticos com neuro-
Transporte de glicose patia autonómica grave, por existir um risco de que a hipo-
A ação da insulina no transporte de glicose para o interior das glicemia passe despercebida.
células é mediada por alguns transportadores (pertencentes à • Cardiopatia isquémica e outras cardiopatias.
família GLUT), entre eles o mais conhecido é o GLUT-4. Em • Doença cerebrovascular.
condições normais este transportador encontra-se ao nível • Crianças.
citoplasmático, mas a ligação da insulina ao recetor da mem- • Doenças sistémicas importantes (insuficiência renal ou
brana estimula a sua translocação para a membrana, o que hepática).
permite a entrada de glicose hemática no interior da célula.
Quando a concentração de glicose no sangue normaliza e a
insulina é eliminada, as moléculas de GLUT 4 são lentamente
removidas da membrana plasmática e endocitadas nas vesícu-
las intracelulares.

Necessidade de insulina
0,5-1 U / kg / dia em DM1 e 0,3-0,5 U / kg / dia em DM2. Variá-
vel de um sujeito para outro e dependente de múltiplos fatores.
A necessidade de insulina é reduzida pela atividade física (que
reduz a resistência à insulina) e pela insuficiência renal (que
reduz a eliminação da insulina), enquanto que aumenta pelo
sedentarismo e stresse (que induz a secreção de hormonas dia-
betogénicas, tais como cortisol e GH).

Tipos de insulinoterapia

Tratamento insulínico intensivo


É o tratamento de eleição para a maior parte dos pacientes
diabéticos tipo 1 para reduzir a incidência de complicações
microvasculares e macrovasculares. O tratamento intensivo
reduz complicações microangiopáticas e macroangiopáticas,
sendo mais eficaz na prevenção da retinopatia diabética (estudo
DCCT na DM tipo 1). Além disso, existe uma correlação entre o
controlo glicémico medido pela HbA1c e as complicações
microangiopáticas (estudo UKPDS na DM 2).
O papel da monitorização da glicemia na redução de risco car- Figura 3. Locais de injeção de insulina.
diovascular ainda não foi determinado em pacientes com DM

56
Capítulo 5 · Diabetes mellitus

Tipos de insulina Resistência à insulina


No quadro seguinte estão descritos os diversos tipos de insulina É a necessidade de grandes quantidades diárias de insulina para
disponíveis e o seu perfil de ação: controlar a hiperglicemia. Pode dever-se a um defeito:
–– Pré-recetor.
Insulina anormal ou anticorpos anti-insulina.
INÍCIO DE AÇÃO PICO DURAÇÃO
–– Recetor
Diminuição do número de recetores ou da ligação da insulina.
ANÁLOGOS
–– Pós-recetor
RÁPIDOS
(LISPRO, 10-20 min 30-90 min 2-5 h Anomalias na transmissão do sinal.
ASPART,
GLULISINA) A mais frequente nos diabéticos de tipo 1 é a resistência de tipo
pré-recetor por parte dos anticorpos anti-insulina IgG. O trata-
mento consiste na administração de corticosteroides.
RÁPIDA OU
30-60 min 2-4 h 6-8 h Existem múltiplas síndromes relacionadas com a resistência à
REGULAR
insulina. A acanthosis nigricans (hiperpigmentação da pele que
NPH 2-4 h 6-10 h 10-18 h é geralmente encontrada nas dobras de trás e laterais do pesco-
ço, axilas, virilhas e outras regiões) constitui um sinal da mesma:
INSULINA
2-3 h Ausente 16-20 h –– Obesidade (causa mais frequente). Especialmente se houver
DETEMIR
um defeito pós-receptor.
INSULINA
GLARGINA 2-3 h Ausente 20-24 h –– Síndrome de resistência à insulina tipo A.
Mulheres jovens com hirsutismo e ovário poliquístico (sinto-
INSULINA mas de hiperandrogenismo). Deve-se à ausência ou disfunção
DEGLUDEC 2-3 h Ausente 40-42 h
do receptor. O tratamento é realizado com sensibilizadores de
insulina (biguanida e tiazolidinediona).
Quadro 3. Tipos de insulina. –– Síndrome da resistência à insulina do tipo B.
Mulheres mais velhas com sinais de doença autoimune. Deve-
Insulina bifásica: misturas com proporções pré-determinadas de se aos anticorpos contra o receptor da insulina. O tratamento
diversos tipos de insulina (rápida com NPH, análogos de ação faz-se com corticosteroides. Se não forem suficientemente
rápida com NPH modificada), com uma maior proporção de eficazes, podem-se utilizar imunossupressores e como a últi-
NPH. ma opção azatioprina. Em alguns casos a transição para um
A insulina glargina, assim como a detemir e mais ainda a deglu- análogo da insulina pode ser útil.
dec, são administradas uma vez por dia e não têm um pico. –– Estados de lipodistrofia (parcial ou generalizada). Tratamento
Também causam menos hipoglicemias do que a insulina NPH. anti-retroviral do HIV.
–– Outros
Leprechaunismo, ataxia-telangiectasia, síndromes de Rabson
Mendenhall, de Werner, de Alström e de hiperplasia pineal
distrofia miotónica de Steiner.

TIPO A TIPO B

Lispro Alterações pós-recetor Anticorpos contra


Sinais clínicos: mulheres com o recetor de insulina
Regular hiperandrogenismo e acantose Sinais Cínicos: por vezes
nigricans hipoglicemia por anticorpos
NPH
Tratamento: metformina, ativadores
Basal tiazolidinediona Tratamento: corticosteroides

Quadro 4. Quadros de resistência à insulina.


0 6 12 18 24 30 36 42 48

Figura 4. Tipos de insulina.


Complicações não imunológicas da terapia com insulina
Complicações imunológicas da terapia com insulina Hipoglicemia

São pouco frequentes com as atuais insulinas humanas ou É a principal complicação dos diabéticos insulino-tratados e
recombinantes. é mais comum na DM tipo 1 com tratamento Intensivo.
Os pacientes diabéticos ao longo da progressão da sua doença
Alergia à insulina podem apresentar hipoglicemia não detetada, devido à perda
Por anticorpos IgE contra a insulina. Apresenta reações locais da capacidade de secreção de catecolaminas, responsáveis
imediatas (prurido local no sítio da injeção), reações locais tar- pelos sinais clínicos adrenérgicos iniciais (sudorese, nervosismo,
dias (tumefação endurecida) ou reações sistémicas (urticária ou tremores, fome) e por aparecerem exclusivamente sintomas
anafilaxia). Estas últimas são muito raras. As mais frequentes neurológicos (tontura, confusão, distúrbios comportamentais,
são as reações locais. perda de conhecimento e convulsões).

57
Manual APNA · Endocrinologia

O tratamento depende da condição do paciente: em pacientes 5.3. Antidiabéticos orais


conscientes administram-se inicialmente hidratos de carbono de
rápida absorção oral (açúcares) e de seguida de absorção pro- Não estão indicados na DM de tipo 1. A Metformina é consi-
longada. Nos pacientes inconscientes, opta-se por glicose EV ou derada o fármaco de primeira linha para tratamento da doen-
glucagon i.m. ça, desde que não haja contraindicações ou efeitos colaterais.
De seguida, a terapia será otimizada com outros antidiabéticos
Lipodistrofia atrófica orais ou insulina caso não se consiga obter controle glicémico
Pode verificar-se nos locais da injeção de insulina, mas é rara adequado (HbA1c > 6,5-7%). De qualquer forma, logo que sur-
quando se emprega insulina humana. Consiste numa perda ja a doença, todos os pacientes devem iniciar alterações do esti-
de gordura subcutânea e previne-se alternando os locais da lo de vida, nomeadamente, na dieta e atividade física.
injeção.
Secretagogos
Edema insulínico
Sulfonilureias
Edema auto-resolutivo nas extremidades e nas pálpebras que
aparece no início do tratamento com insulina em pacientes dia- –– Mecanismo de ação.
béticos crónicos mal controlados. Estimulam a libertação de insulina pelas células ß (secretago-
gos).
Presbiopia de insulina –– Tipos.
Ocorre como consequência de variações importantes na glice- Os mais utilizados atualmente são: glibenclamida, glipizida,
mia, sendo mais frequente após o início do tratamento com gliclazida, glimepirida e gliquidona. Todos eles apresentam
insulina e deve-se à diminuição da glicemia de uma forma rápi- um metabolismo misto renal e hepático, com exceção da gli-
da. Cura-se espontaneamente da mesma forma que a prece- quidona (é metabolizada pelo fígado e pode ser usada no
dente comprometimento renal leve) e da glipizida (é metabolizada
pelo rim e pode ser usado na insuficiência hepática leve a
Efeito Somogyi moderada).
Trata-se de hiperglicemia de rebote após um episódio de hipo- –– Indicações
glicemia, devido à libertação de hormonas contra- reguladoras. Na DM tipo 2 em pacientes com normopeso ou discreto
É mais frequente na população pediátrica. Deve suspeitar-se na sobrepeso.
presença de hiperglicemia matinal com hipoglicemia noturna. –– Efeitos colaterais.
Deve reduzir-se a dose de insulina lenta durante a noite. • Hipoglicemia (especialmente se tiver uma meia-vida prolon-
gada: glibenclamida).
Fenómeno de alvorada Estas hipoglicemias são mais graves e duradouras que
Hiperglicemia nas primeiras horas da manhã devido à secreção aquelas causadas pela insulina.
noturna de GH durante o sono. Previne-se aumentando a dose • Aumento de peso.
de insulina. Esse fenómeno é especialmente frequente em ado- –– Contraindicações
lescentes devido ao aumento da intensidade noturna dos picos Crianças, DM-1, insuficiência renal ou hepática e stresse inter-
de GH durante a fase de crescimento. Por isso, a hiperglicemia corrente.
matinal pode ser consequente ao fenómeno de Somogyi notur-
no ou ao fenómeno de alvorada. A distinção entre os dois é Novos secretagogos de acção rápida (repaglinida,
importante pela diferente abordagem terapêutica que envol- nateglinida)
vem. Efetua-se determinando a glicose às 3 da manhã (diminuí- –– Mecanismo de ação.
da no efeito Somogyi e elevada no fenómeno de alvorada). Estimulam a libertação de insulina com um perfil de ação mais
rápido e breve do que as sulfonilureias (pico mais precoce e
meia-vida menor). A eliminação é principalmente biliar e
podem-se utilizar em casos de insuficiência renal leve ou
moderada, especialmente a repaglinida. A nateglinida tem
um pico de secreção que é ainda mais precoce.
Hiperglicemia matinal
–– Indicações
Glicemia às 3 da manhã As mesmas indicações das sulfonilureias, com maior controle
da glicemia pós-prandial.

Diminuída Normal ou aumentada


Sensibilizantes de insulina
Efeito Somogyi Fenómeno de alvorada
Hiperglicemia matinal em Hiperglicemia Biguanidas (metformina)
resposta à hipoglicemia noturna (por aumento de GH)
Deve-se diminuir a dose Deve-se aumentar a dose –– Mecanismo de ação.
noturna de insulina de insulina noturna
Inibem a gliconeogénese hepática, melhorando a sensibilida-
de hepática à insulina.
Figura 5. Diagnóstico diferencial das hiperglicemias matinais.
–– Indicações
É o antidiabético de primeira escolha na DM2. Particularmente
eficaz se existir obesidade ou sobrepeso com resistência à
insulina.

58
Capítulo 5 · Diabetes mellitus

–– Efeitos colaterais. O efeito incretínico está diminuído na DM de tipo 2, devido a


Os distúrbios mais frequentes são os digestivos e o mais uma diminuição dos níveis de GLP-1 e da função de GIP.
grave, mas pouco frequente, é a acidose láctica. Não provo-
cam hipoglicemias por si só. Mecanismo de ação
–– Contraindicações –– Potenciam o efeito incretínico.
Idade> 80 anos, insuficiência renal, depuração da creatinina Aumentam a secreção de insulina das células ß pancreáticas
<30 ml/min, insuficiência hepática, insuficiência cardíaca de forma glicose-dependente (portanto não produzem hipo-
exacerbada, insuficiência respiratória, aterosclerose, alcoolis- glicemia).
mo, stresse intercorrente (doença ou cirurgia), crianças.
–– Reduzem a secreção inadequada de glucagon (típica na DM 2).
–– Atraso no esvaziamento gástrico.
Derivados de tiazolidinas ou tiazolinedionas ou
glitazonas (rosiglitazona e pioglitazona) –– Perda de peso (muito variável, cerca de 8-10 kg).
–– Aumento da secreção por parte das células ß pancreáticas
–– Mecanismo de ação.
(análogos de GLP 1).
Ativam os recetores PPAR-γ, aumentando a sensibilidade à
insulina a nível periférico (músculo e tecido adiposo).
(Ver Quadro da próxima página)
–– Indicações
Para pacientes com DM tipo 2 com sobrepeso ou obesidade.
Podem ser administrados com metformina ou sulfonilureias Grupos farmacológicos
ou em monoterapia, se a metformina não for tolerada ou for 1. Inibidores da enzima dipeptidil peptidase (DPP-4), enzi-
contraindicada. Atualmente, não são recomendados nem ma responsável pela degradação de GLP-1. A sitagliptina, a
como primeira nem como segunda linha. vildagliptina, a saxagliptina, a linagliptina, aumentam os
–– Efeitos colaterais. níveis de GLP-1 endógeno.
Retenção de líquidos. Hepatotoxicidade e ganho de peso (à • Indicações.
custa dos líquidos). Osteoporose e aumento de fraturas. Em combinação com metformina, sulfonilureias, glitazo-
Aumento do risco cardiovascular e elevação do LDL com rosi- nas ou insulina. Em monoterapia, quando a dieta e a ati-
glitazona (retirada do mercado europeu). A Pioglitazona vidade física por si só não conseguem um bom controlo e
aumenta o risco de cancro de bexiga. a metformina não é adequada pelas contraindicações ou
intolerância.
–– Contraindicações
• Efeitos colaterais.
Insuficiência hepática, insuficiência cardíaca, gravidez e ama-
Cefaleias, mal-estar pós-prandial, hipoglicemia (apenas
mentação. A combinação com insulina é contraindicada, já
quando combinados com outros fármacos).
que ambos causam retenção hidrossalina e combinados
2. Agonistas de GLP-1 resistentes à degradação por parte
podem piorar a insuficiência cardíaca em pacientes de risco.
do DPP-4.
Exenatida, liraglutida e dulaglutida (administração subcutâ-
Inibidores de α-glicosidade (acarbose, miglitol) nea).
• Indicações
Mecanismo de ação Tratamento da diabetes mellitus tipo 2 associado à met-
Inibição de α-glicosidases intestinais, retardando a absorção de formina e / ou sulfonilureia nos pacientes que não atin-
hidratos de carbono, uma vez que impedem a clivagem dos gem um controle glicémico adequado com as doses máxi-
dissacarídeos em monossacarídeos. mas toleradas destes tratamentos orais.
• Efeitos colaterais.
Desconforto abdominal, cefaleia, diminuição do apetite.
Efeitos colaterais Perda de peso significativa. Risco de pancreatite aguda.
Flatulência. Não provocam hipoglicemia por si só, mas esta
pode manifestar-se se associados a outros antidiabéticos orais.
Neste caso deve-se tratar-se com glicose e não com sacarose,
devido ao atraso da sua absorção.
Inibidores do co-transportador de sódio-glicose tipo 2
(SGLT2)
Contraindicações
Empagliflozina, dapagliflozina, canagliflozina
Gravidez, crianças, doenças intestinais crónicas.
–– Mecanismo de ação.
Nova classe de fármacos que tem como objetivo terapêutico
Incretinas inibir a reabsorção renal de glicose. Facilita a perda de cerca
de 70 g de glicose por dia (causando glicosúria), diminui os
Denomina-se efeito incretínico o efeito fisiológico que consis- níveis de glicose plasmáticos e parece conseguir reduzir um
te na maior secreção de insulina após hiperglicemia causada pouco o peso e a pressão arterial dos pacientes.
pela ingestão oral de glicose em relação à mesma hiperglicemia
–– Efeitos colaterais.
causada por via intravenosa.
Os principais efeitos colaterais são: risco de desidratação e
É produzido pela ação de peptídeos gastrintestinais, basica- infeções genitais.
mente o GLP-1 e o GIP, conhecidos mundialmente como incre-
tinas.

59
Manual APNA · Endocrinologia

GRUPO M. AÇÃO METABOL VANTAGENS DESVANTAGE NS CI

Hipoglicemias longas
Secretagogos ação
SU Renal, hepático Glicemia em jejum e graves Ins. hepática, renal
lenta
↑ ponderal

Meglitinida Secretagogos ação Glicemia PP Hipoglicemias curtas


Hepático Ins. hepática
“glinida” rápida Ins. renal ↑ ponderal
insuf renal, hepática,
Biguanidas ↓ resistência ↓ ponderal Sintomas digestivos
Hepático cardíaca exacerbada,
(metformina) insulina “central” Não hipoglic. Ac lático (raro)
respiratória. Etilismo
Retenção H2O
↓ res. insulina Hepático Ins. hepática e cardíaca
TZD “glitazonas” Não hipoglic. ↑ RCV
“periférico” -PPAR-
Fraturas ósseas

Inibidores da Glicemia PP Ins. hepática e


Pouco eficaz
glucosidase Intestinal, hepático Não hipoglic. doenças intestinais
Flatulência
intestinal Intestino curto

Quadro 5. Resumo da ação e efeitos colaterais dos antidiabéticos orais.

5.4. Outros Tratamentos –– Deve-se administrar AAS na prevenção secundária nos dia-
béticos com anamnese de distúrbios cardiovasculares
(angina, EAM, by-pass, claudicação, doença vascular periféri-
Transplante de pâncreas ou das células dos ilhéus
ca…) ou de doença cerebrovascular.
pancreáticos
Pouco usado, geralmente realiza-se exclusivamente quando é Objetivos de controle metabólico de acordo com a
necessário um transplante renal, dado que o tratamento imu- Sociedade Americana de Diabetes (ADA)
nossupressor do rim protege simultaneamente o pâncreas.
–– Não fumar.
–– IMC <25 kg / m2
5.5. Autocontrole e monitorização da diabetes - HbA1c <7%.
Personalizar de acordo com o tipo de paciente: jovens sem
Atualmente, a maioria dos pacientes que precisam de insulina comorbidade <6,5%; idosos com complicações crónicas,
efetuam o controle e modificam o tratamento de acordo com a comorbilidade e esperança de vida curta <8%.
determinação da glicemia capilar no domicílio (4-6 determina- –– Glicemia pré-prandial 80-130 mg / dl.
ções diárias). O estudo da glicosúria é pouco usado atualmente –– Glicemia pós-prandial <180 mg / dl.
devido ao fato de ter um baixo valor na monitorização da DM. –– Pressão arterial <140/80 mmHg (nos jovens 130/80 mmHg).
A medição da cetonúria continua a ser importante, especial- Nos pacientes com nefropatia e proteinúria franca > 1 g / dia,
mente na DM tipo 1 descompensada e em doenças intercorren- <130/80 mmHg.
tes, assim como na diabetes gestacional. –– Colesterol LDL <100 mg / dl na DM tipo II, se existir lesão de
A hemoglobina glicada (HbA1c) é um dos componentes da órgão-alvo então <70 mg / dl (DM com dano de órgão é
hemoglobina que está presente nas pessoas normais e aumenta equivalente a risco coronário)
na presença de hiperglicemia. Oferece uma estimativa do con- –– Triglicéridos <150 mg / dl.
trole diabético nos 3 meses precedentes, já que a meia-vida das –– HDL> 40 mg / dl nos homens e 50 mg / dl nas mulheres
hemácias é de 120 dias. A frutosamina também pode servir no
acompanhamento do controle metabólico, principalmente
durante a gravidez (estimativa das três semanas anteriores). 5.6. Complicações metabólicas agudas da
No tratamento integral da diabetes mellitus, além de controlar
diabetes
a glicemia, deve conseguir-se o controle dos outros fatores de Existem três: cetoacidose diabética (CAD), estado hiperglicémi-
risco cardiovascular: co hiperosmolar (EHH) e hipoglicemia.
–– Tabagismo, pressão arterial, lípidos (LDL, HDL, triglicéridos),
obesidade. Cetoacidose diabética (CAD)
–– Recomenda-se AAS (ácido acetilsalicílico) como prevenção
É caracterizada por hiperglicemia, cetonúria/cetonemia e acido-
primária em pacientes com diabetes mellitus e lesões de
se metabólica. Surge com mais frequência na DM tipo 1, mas
órgão-alvo ou em doentes diabéticos com aumento do risco
pode surgir também na de tipo 2.
cardiovascular - condição que inclui a maior parte dos
homens com idade> 50 anos e de mulheres com idade> 60
Etiologia
anos com um outro fator de risco cardiovascular (tabagismo,
HTA, obesidade, albuminúria, antecedentes familiares de Aparecimento da diabetes, omissão ou administração inadequa-
doença cardiovascular ...). da de insulina, stresse (infeção, cirurgia), idiopática. A causa de
agravamento mais frequente é a infeção.

60
Capítulo 5 · Diabetes mellitus

Fisiopatologia bomba de infusão contínua, a um ritmo de 6-10 UI / hora


A CAD é o resultado da combinação de um défice de insulina e para a correção da acidose (pH e HCO3). Se a glicose não
de um excesso-relativo ou absoluto de glucagon. O excesso de diminuir em 2-4 horas, dobrar a dose administrada (pode
glucagon estimula a gliconeogénese e a glicogenólise (causan- haver resistência à insulina devido a corpos cetónicos).
do hiperglicemia) e também estimula a cetogénese (síntese dos Quando a glicemia é <250 mg / dl e o pH > 7,30 (indepen-
corpos cetónicos a partir dos ácidos gordos livres). O défice de dentemente da cetonúria), pode-se passar para a insulina
insulina impede a captação de glicose por parte dos tecidos regular subcutânea (administrando a primeira dose de insuli-
periféricos piorando a hiperglicemia. na subcutânea uma hora antes de retirar a bomba). A glicose
plasmática diminui sempre mais rapidamente do que os cor-
Desta forma, manifesta-se uma hiperglicemia grave (com gli-
pos cetónicos no plasma, mas a administração de insulina
cosúria, diurese osmótica e desidratação) associada a cetone-
deve continuar até ao desaparecimento da acidose e da ceto-
mia (acidose metabólica com anion GAP elevado e cetonúria).
se (se necessário associada à glicose).
–– Fluidoterapia.
Sinais clínicos
O défice de líquidos é geralmente de 3-5 l; inicialmente é
Ocorrem entre 8-12 horas. Além dos principais sinais clínicos administrada uma solução fisiológica e quando a glicemia cai
característicos da diabetes, verifica-se: abaixo de 250 mg/dl deve juntar-se uma solução de glicose a
–– Hálito cetónico (odor frutado, de “maçã”). 5% pela mesma via para evitar hipoglicemia e edema cerebral
–– Respiração de Kussmaul (taquipneia para compensar a acido- e a continuação da cetogénese.
se metabólica, por vezes, associada a dificuldade respiratória). –– Potássio.
–– Náusea, vómito, dor abdominal (devido aos corpos cetóni- Ao tratar com insulina o potássio retorna ao compartimento
cos). intracelular e cai no plasma, portanto a suplementação é sem-
–– Desidratação (secura das mucosas) e hipotensão. pre necessária. O momento da sua administração depende
–– Alteração do estado de consciência: estupor até ao coma. A dos valores iniciais do potássio. Apenas se o potássio inicial
presença de febre sugere infeção. for alto (> 5 mEq / l) não se administra nas primeiras duas
horas. Nos outros casos (potássio normal ou baixo) deve-se
Laboratório suplementar com potássio desde o início. Em caso de hipopo-
–– Hiperglicemia (> 300 mg / dl). tassemia, atrasar o tratamento com insulina até à suplemen-
–– Presença de corpos cetónicos no plasma e / ou na urina (ace- tação com potássio.
toacetato e ß-hidroxibutirato). –– Bicarbonato de sódio.
–– Acidose metabólica (pH <7,30 e / ou HCO3 <15 mEq / l) com Indicado em pacientes com acidose grave (pH <7 ou HCO3 -
aumento do anion GAP <5mmol/l), especialmente em casos de hipotensão ou taquip-
–– Diminuição de HCO3 plasmático. neia significativas. Deve manter-se o aporte até ao momento
–– Leucocitose (não indica necessariamente infeção). em que o pH atinge 7,2.
–– Potássio inicialmente normal ou elevado (variável), que de –– Antibioticoterapia
seguida desce para valores abaixo dos limites normais. Deve-se iniciar a antibioticoterapia de amplo espectro quando
–– Hipertrigliceridemia. se confirma ou se suspeita de infeção como causa desenca-
–– Hipomagnesemia. deante ou precipitante.
–– Hiponatremia (devido a hiperglicemia ou pseudo- hiponatre- –– Heparina.
mia de hipertrigliceridemia). A sua administração profilática subcutânea deve ser conside-
–– Insuficiência renal aguda pré-renal (causada por desidratação). rada em casos de CAD grave ou de aparecimento em idade
–– Aumento da amilase sérica (para excluir a pancreatite: lipase avançada.
sérica), aumento das transaminases e de CPK.
Critérios de resolução
Diagnóstico diferencial Considera-se que a cetoacidose foi resolvida quando o paciente
O diagnóstico diferencial da acidose com hiato aniónico ele- atinge uma glicemia inferior a 250, pH ≥ 7,30 e se negativiza a
vado inclui situações de diminuição da excreção renal de ácidos cetonemia. Pode retomar-se a alimentação oral e passar-se à
orgânicos (insuficiência renal aguda ou crónica agudizada), de insulina por via subcutânea.
aumento do aporte (intoxicação por salicilato, metanol, etileno-
glicol ou aldeídos) ou de produção endógena (acidose láctica e Prognóstico
cetoacidose). A mortalidade é <5% e deve-se principalmente ao processo sub-
Para diagnosticar a cetoacidose, deve medir-se a cetonemia jacente que desencadeou o quadro de CAD (infecção, EAM...).
(existem exames rápidos ao sangue capilar) ou, na sua ausência, A principal complicação é o edema cerebral, que se manifesta
aos corpos cetónicos da urina. Entre as causas da cetoacidose, nas crianças e pode ser mortal; não se conhece exatamente a sua
além da cetoacidose diabética, destacam-se: causa, mas acredita-se que se deve a uma substituição excessiva
–– Alcoolismo de água livre que altera a osmolaridade plasmática.
Apresenta glicemia normal ou apenas ligeiramente elevada
(<200 mg / dl). Às vezes a cetoacidose alcoólica apresenta-se Estado hiperosmolar hiperglicémico
com hipoglicemia e acidose láctica associada. (coma hiperosmolar hiperglicémico)
–– Jejum prolongado.
Apresenta glicemia normal ou baixa. É uma complicação típica da DM tipo 2, embora possa surgir
também na DM tipo1.
Tratamento
–– Insulina. Fisiopatologia
É a principal medida no tratamento da CAD. Administra-se Os pacientes têm insulina suficiente (endógena ou exógena)
insulina regular ou rápida, por via endovenosa, com uma para evitar a cetose, mas não para controlar a hiperglicemia.

61
Manual APNA · Endocrinologia

Verifica-se uma profunda desidratação causada pela diurese O tipo de líquido a ser administrado é semelhante ao usado
hiperglicémica contínua, sem cetonúria. Infeções ou qualquer na cetoacidose diabética: inicialmente solução fisiológica
causa de desidratação podem ser os fatores desencadeantes. (exceto hipernatremia grave: solução hipotónica), seguida de
glicosada quando a glicemia cai abaixo de 250 mg / dl.
Sinais clínicos –– Insulina
Surge de forma mais lenta, em dias ou semanas. Procedimento semelhante ao da cetoacidose diabética. Às
vezes pode resolver-se o EHH com uma substituição de líqui-
–– Sintomas do SNC:
dos sem necessidade de insulina, mesmo que esta acelere a
Diminuição do nível de consciência até ao coma, convulsões
resposta.
e sinais neurológicos focais (hemiplegia transitória).
–– Potássio.
–– Desidratação extrema, com hipotensão, sinais de hipoperfu-
Administração mais precoce do que na CAD devido a deslo-
são, pele e mucosas secas, aumento da viscosidade sanguínea
camento intracelular do potássio no plasma durante o trata-
e aparecimento de tromboses (EAM, AVC, trombose venosa
mento, que é acelerado na ausência de acidose. Deve- se
profunda).
prestar atenção aos casos de insuficiência renal pré-renal.
–– Infecções frequentes, especialmente pneumonia e sépsis,
–– Bicarbonato de sódio.
devido a microrganismos gram-negativos.
Normalmente não está indicado (somente no caso de acidose
Laboratório láctica).
1. Hiperglicemia extrema (glicemia em torno de 600-1.000 –– Antibióticos
mg/ dl). Em caso de presença ou suspeita de infeção.
2. Osmolaridade sérica muito alta. –– Heparina.
3. Nível de sódio normal ou baixo (hiponatremia compensató- Administração por via subcutânea de heparina de baixo peso
ria) ou alto (por desidratação grave). molecular devido ao risco de trombose.
4. Insuficiência renal aguda pré-renal (com aumento da creati-
nina, BUN e ureia). Evolução
5. Não há acidose metabólica, ou é leve, com HCO3 em torno Mortalidade muito alta (50%), mesmo que dependa da causa
de 20 mEq / l. Se estiver presente e os corpos cetónicos subjacente. A presença de pneumonia gram-negativa ou sépsis
estiverem negativos, deve-se suspeitar de acidose lática por indica um prognóstico desfavorável.
hipoperfusão ou infeção.
6. Geralmente sem aumento de corpos cetónicos. (Ver Quadro 6)
Tratamento
Hipoglicemia
–– Fluidoterapia.
A desidratação é mais intensa na descompensação hiperos- A causa mais frequente de hipoglicemia é a iatrogénica por
molar do que em CAD. O déficit de água livre é geralmente insulina ou sulfonilureias. É mais frequente na DM-1 do
de 10 l. A principal medida para o seu tratamento é a flui- que na DM-2. Ter metas de controle glicémico muito rigoro-
doterapia, que deve corrigir o défice de água livre em 2-3 sas aumenta o risco de hipoglicemia e a gravidade dos episó-
dias. dios.

CETOACIDOSE DIABÉTICA DESCOMPENSAÇÃO HIPEROSMOLAR

O défice de insulina causa a cetogénese. Causa mais Desidratação osmótica


ETIOLOGIA frequente: défice primário de insulina Geralmente manifesta-se por desidratação
Também pode ser desencadeada por uma infeção ou pancreatite (vómito, gastroenterite aguda) ou infeções

Respiração de Kussmaul, agitação psicomotora Risco de Diminuição do nível de consciência Risco de fenómenos
SINAIS CLÍNICOS edema cerebral (nas crianças) trombóticos e infeções

Hiperglicemia >600
Hiperglicemia 300-600
Hipopotassemia (reflete o potássio corporal)
Pseudo- hiperpotassemia devido a redistribuição
Hiponatremia falsa (hiperosmolar)
LABORATÓRIO (mas existe ↓ K+ corporal)
Hiperosmolaridade
Acidose metabólica com hiato
Insuficiência renal frequente Acidose
aniónico elevado Cetonemia
metabólica leve ocasional

Muito importante: insulina EV Mais importante: hidratação (10 litros SF)


–– Hidratação (SF) –– Adicionar SG 5% quando glicemia <200-250
–– Adicionar SG 5% quando glicemia <250 –– Insulina EV (doses baixas)
TRATAMENTO –– Sempre K+. Não de início se >5,0. Atrasar a insulina até –– K+ com base na potassemia (não se existir
normalizar K+ se <2,5. hiperpotassemia)
–– Bicarbonato (se pH <7,00, bicarbonato <5 acidose láctica –– Bicarbonato (se acidose láctica)
associada ou hiperpotassemia grave)

Quadro 6. Principais diferenças entre CAD e SII. SF = solução fisiológica (0,9%); SG = solução de glicose (5%).

62
Capítulo 5 · Diabetes mellitus

Principais fatores desencadeantes Microangiopatia diabética


–– Omissão ou atraso de uma refeição. Retinopatia diabética
–– Atividade física muito intensa.
(Estuda-se em Oftalmologia)
–– Administração de insulina ou excesso de ADO.
Lembrar que na insuficiência renal a necessidade de insulina Nefropatia diabética
diminui.
(Estuda-se em Nefrologia)
Fisiopatologia
Neuropatia diabética
Quando a glicemia diminui, são ativados dois mecanismos com-
(Estuda-se em Neurologia e Neurocirurgia)
pensatórios: diminuição da libertação de insulina e aumento das
hormonas contrarreguladoras, principalmente o glucagon, além
de catecolaminas, que atuam na fase aguda (na hipoglicemia Macroangiopatia diabética
prolongada é o cortisol e GH que agem). Num paciente diabé- A macroangiopatia é a principal causa de morte nos diabéticos
tico de longa duração, a resposta das hormonas contrarregula- e deve-se ao aparecimento prematuro e generalizado de ate-
dores é alterada e, dado que os sintomas adrenérgicos iniciais rosclerose. Os sintomas variam dependendo da localização:
dependem das catecolaminas, podem ocorrer hipoglicemias
que não são percebidas pelo paciente. –– Artérias coronárias.
Envolvimento mais generalizado e periférico. O enfarte do
Sinais clínicos miocárdio silencioso é mais comum na diabetes e deve-se
suspeitar sempre quando se manifestam sintomas súbitos de
–– Sintomas adrenérgicos. insuficiência ventricular esquerda num paciente diabético.
Palpitações, sudorese, tremores, nervosismo, fome. Podem
–– Artérias cerebrais. AVC.
estar ausentes em diabéticos com neuropatia autonómica.
–– Artérias periféricas.
–– Sintomas neuroglucopénicos.
Claudicação intermitente, gangrena, úlcera vasculopática e
Cefaleias e sonolência até convulsões e coma.
impotência de origem vascular no homem.
Tratamento
Consiste na suplementação de glicose. Se possível (de acordo 5.8. Outras complicações da diabetes
com o estado de consciência), o mais apropriado seria por via
oral, administrando líquidos com glicose, rebuçados ou hidratos Para a prevenção e tratamento da macroangiopatia diabética é
de carbono de absorção rápida (por exemplo 3 saquetas de tão importante um bom controlo da glicemia como o controlo
açúcar de café, que correspondem a 15 g). adequado da pressão arterial e da dislipidemia e o abandono do
tabagismo.
No caso de diminuição do estado de consciência deverá ser
administrada solução glicosada por via endovenosa. Se o
paciente está fora do hospital ou se a infusão de glicose EV não
Infeções
for eficaz, administra-se glucagon por injeção subcutânea ou Mais frequentes e mais graves em comparação com as da popu-
intramuscular, que é eficaz especialmente na DM tipo 1. lação geral. Geralmente as que se relacionam com a diabetes
são as seguintes:
–– Otite externa maligna (causada pela Pseudomonas aerugi-
5.7. Complicações tardias da Diabetes nosa)
Na DM de tipo 1 desenvolvem-se geralmente cerca de 15 - 20 (Estuda-se em Otorrinolaringologia).
anos após o aparecimento da diabetes. Na DM tipo 2 tais com- –– Mucormicoses.
plicações podem já estar presentes no momento do diagnósti- Geralmente ocorre durante ou após um episódio de cetoaci-
co. dose diabética
A causa das complicações diabéticas provavelmente é multifa- (Estuda-se nas doenças Infeciosas e em Microbiologia).
torial. Vamos tentar explicar o papel da hiperglicemia em tais –– Colecistite enfisematosa.
complicações a partir de diferentes mecanismos: (Estuda-se em Gastrenterologia e Cirurgia geral).
–– A hiperglicemia grave satura a via glicolítica ativando a via dos –– Infeções do Aparelho urinário e pielonefrite enfisema-
polióis, através da qual a glicose é reduzida a sorbitol pela tosa.
enzima aldoreductase; o sorbitol é tóxico para os tecidos e (Estuda-se em urologia)
está especialmente envolvido na patogénese de neuropatia e
retinopatia. Dislipidemia diabética
–– A glicosilação das proteínas no organismo (hemoglobina, Secundária ao défice de insulina. O padrão de dislipidemia mais
albumina, proteínas cristalinas, colagénio, lipoproteínas, etc.), frequente é o de tipo IV (aumento de VLDL). A dislipidemia
altera a função das mesmas. diabética é caracterizada pelo aumento de triglicerideos com
diminuição em HDL e LDL pequenas e densas. Manifesta-se em
Mas não devemos esquecer que, além da hiperglicemia crónica, diabéticos tipo 1 inadequadamente controlados e em diabéticos
os distúrbios metabólicos que acompanham a diabetes, como a tipo 2, mesmo com bom controle metabólico.
dislipidemia, o tabagismo e a hipertensão arterial, influenciam
no desenvolvimento e no prognóstico de complicações.
Hiperviscosidade sanguínea e aumento da agregação
plaquetária

63
Manual APNA · Endocrinologia

Hipoaldosteronismo hiporrenimérico (acidose tubular Pé diabético


renal tipo IV) Pacientes diabéticos estão mais predispostos ao aparecimento
Hiperpotassemia e hiponatremia. Trata-se com fludrocortisona de úlceras ao nível das extremidades inferiores, que muitas
(mineralocorticoide sintético) ou furosemida se o paciente for vezes passam despercebidas devido ao aparecimento da própria
hipertenso neuropatia diabética e das alterações macrovasculares. Portan-
to, é importante informar adequadamente o paciente sobre o
tratamento e a observação diária dos pés. Quando surgem estas
Lesões cutâneas
úlceras, o paciente deve iniciar o tratamento precoce que prevê
(Estuda-se em Dermatologia) repouso, escarectomia cirúrgica, tratamento localizado e, no
caso de infeção, o uso de antibióticos de amplo espectro.

Capítulo 6
Hipoglicemia CC
Conceito Diagnóstico
A hipoglicemia é definida pela tríade de Whipple: –– Hipoglicemia em jejum.
–– Sintomas compatíveis com hipoglicemia. • Medir a glicose, insulina, peptídeo C, cortisol e medicamen-
tos (sulfonilureias).
–– Demonstração bioquímica dessa hipoglicemia (glicemia no
• Teste em jejum (para descartar o insulinoma).
sangue venoso <50 mg/dL).
Duração de 72 horas, sempre que não apareçam sintomas;
–– Desaparecimento dos sintomas após ingestão rápida de medir a insulina, glicose e peptídeo C.
hidratos de carbono de rápida absorção. • Hipoglicemia insulínica (para descartar insulinoma e insufi-
ciência adrenal).
Os sintomas classificam-se em: Se a hipoglicemia não se manifesta espontaneamente e a
–– Sintomas adrenérgicos (primeira fase). Podem estar ausentes suspeita é elevada.
em diabéticos com neuropatia autonómica. –– Hipoglicemia pós-prandial.
–– Sintomas neuroglucopénicos (segunda fase): sonolência, Teste de carga oral de glicose, medindo a glicemia e insuli-
cefaleia, distúrbios visuais, confusão, alterações de comporta- na de hora a hora durante 5 horas: pouco sensível e espe-
mento, défice neurológico focal, convulsões e coma. cífico.

Etiologia Hipoglicemia hiperinsulinémica


A causa individual mais frequente em adultos é a hipoglicemia
iatrogénica da insulina ou sulfonilureias. Peptídeo C

–– Hipoglicemia pós-prandial.
Manifestações até 4 horas após a ingestão. Causas:
• Por hiperinsulinismo alimentar.
Após gastrectomia, gastroduodenostomia, piloroplastia ou Insulina exógena Libertação endógena de insulina
vagotomia (síndrome de dumping tardio); por esvaziamen-
to gástrico rápido e absorção repentina de glicose com Medir as sulfonilureias na urina
libertação excessiva de insulina.
• Alterações do metabolismo intermédio.
Intolerância à frutose, galactosemia, sensibilidade à leucina,
glicogenose
• Idiopática. Intoxicação Insulinoma
por sulfonilureias
–– Hipoglicemia em jejum.
Surge numa situação de jejum. Causas: Figura 1. Diagnóstico diferencial de hipoglicemia em jejum hiperinsulinémica.
• Produção insuficiente de glicose.
Défices hormonais (hipopituitarismo, insuficiência adrenal),
defeitos enzimáticos (glicose-6-fosfatase, etc.), défice de subs-
trato (hipoglicemia cetótica nas crianças pequenas, desnutri- Tratamento
ção grave, fase final da gravidez), cirrose hepática (carência de
glicogénio hepático), insuficiência renal grave, etilismo. –– Paciente consciente.
• Devido ao uso excessivo de glicose. Administração oral de hidratos de carbono de absorção rápida.
Hiperinsulinismo (insulinoma, nesidioblastose, insulina exó- –– Paciente inconsciente.
gena, sulfonilureias, anticorpos anti-insulina, filho de mãe Administração intravenosa de solução glicosada até que o
diabética), consumo de glicose por tumores extrapancreá- paciente seja capaz de comer ou glucagon 1 mg intramuscular.
ticos (sarcomas, mesoteliomas e fibromas). –– Tratamento etiológico

64
Capítulo 7
Doenças das glândulas paratiroideas CO
e homeostase do cálcio B
MD, D, T, GD

7.1. Metabolismo fosfocálcico Calcitonina


É sintetizada pelas células parafoliculares da tiroide ou célu-
Cálcio
las C.
O cálcio encontra-se no plasma de três formas diferentes: ligado Funções: inibe a reabsorção óssea, causando hipocalcemia e
às proteínas (principalmente albumina), na forma ionizada (cál- hipofosfatemia, embora não tenha sido demonstrado que
cio iónico) e complexado com citrato e fosfato. O cálcio ioniza- desempenhe um papel importante na homeostase do cálcio.
do ou livre é o único fisiopatologicamente ativo. A proporção Regulação: a sua libertação é estimulada pela hipercalcemia.
de cálcio ionizado modifica-se com base na concentração das
proteínas plasmáticas (em caso de hipoalbuminemia o cálcio
total existente é baixo, mas com uma fração livre dentro do Vitamina D
normal) e segundo o pH que modifica a ligação do cálcio às A vitamina D não ativa obtém-se pela conversão por parte dos
proteínas (a alcalose provoca baixa de cálcio ionizado e a acido- raios solares do precursor 7-dehidrocolesterol ou diretamente
se o seu aumento). O cálcio é absorvido no intestino delgado através da dieta: D2 (ergocalciferol: vegetais) e D3 (colecalcife-
proximal sob a influência da vitamina D na forma ativa. A exi- rol: animais).
gência diária é igual a 800-1.200 mg /dia.
Para ser ativada, a vitamina D deve ser submetida a uma hidro-
xilação a nível hepático e outra a nível renal.
Paratormona (PTH) Vitamina D → 25 (OH) D (hidroxilação hepática: calcidiol) →
Síntese nas glândulas paratiroides. A sua função é manter a 1,25 (OH) 2 D (hidroxilação renal): metabolito ativo (calcitriol).
calcemia dentro dos limites normais. Ações: a vitamina D facilita a absorção intestinal de cálcio, esti-
Funções: ativa a reabsorção óssea dos osteoclastos através da mula a reabsorção óssea mediada por RANKL, a mineralização
expressão de RANKL nos osteoblastos, ativa a reabsorção tubu- da matriz óssea, a produção de osteocalcina e osteopontina,
lar renal de cálcio e inibe a de fósforo e ativa nos rins a 1-hidro- aumenta a reabsorção tubular de cálcio.
xilação de 25-hidroxi-vitamina D. Provoca hipercalcemia e hipo-
fosfatemia em caso de hiperparatiroidismo primário.
Regulação: a hipocalcemia faz aumentar a sua libertação e a 7.2. Hipercalcemia
hipercalcemia faz com que diminua.
Cálcio plasmático corrigido> 10,4 mg / dl. Padrão gold stan-
dard: medição direta do cálcio ionizado.

Glândulas paratiroides superiores Etiologia


–– Hiperparatiroidismo primário (causa mais frequente de hiper-
calcemia).
Em ordem decrescente de frequência: adenoma, hiperplasia,
Artéria tiroideia superior carcinoma.
–– Tumores malignos (causa mais frequente de hipercalcemia
em pacientes hospitalizados).
Por destruição óssea (mieloma múltiplo, cancro de mama)
Artérias carótidas comuns (PNA 2019), por aumento dos níveis de 1,25 (OH) 2 D (linfo-
mas), por PTH- like (carcinoma epidermoide do pulmão, rim,
Nervo vago
Artéria tiroideia inferior
direito
sistema geniturinário, tumores da cabeça e do pescoço e
tumores do fígado). Nestes casos, o tratamento deve ser dire-
Veias jugulares internas Esófago cionado para o controle do tumor e, se necessário, comple-
mentado pelo tratamento médico da hipercalcemia.
Nervo vago esquerdo Artéria subclávia
–– Fármacos. Lítio, tiazídicos.
direita
–– Hipercalcemia hipocalciúrica familiar (herança autossómica
dominante por mutação do recetor do sensor do cálcio CaSR),
Nervo laríngeo Traqueia mutação na qual o sensor responsável pela produção de PTH
recorrente esquerdo permanece ativo em níveis de calcemia mais elevados. Provoca
hipercalcemia leve assintomática e hipocalciúria com níveis
Nervo laríngeo de PTH inadequadamente normais ou mesmo ligeira-
recorrente direito mente elevados. Não se recomenda tratamento (nem médi-
co nem paratiroidectomia), uma vez que geralmente é assin-
Glândulas paratiroideias inferiores
tomática e também porque o tratamento não corrige a
hipercalcemia. Carateriza-se por uma baixa excreção de cálcio
Figura 1. Paratiroides. ©Netter medical illustration used with permission of
Elsevier. All rights reserved.
na urina em relação à creatinina (quociente de depuração de

65
Manual APNA · Endocrinologia

RINS DIGESTIVO OSSOS EFEITO GLOBAL

Reabsorção Ca
Hipercalcemia
PTH Excreção P Efeito indireto Reabsorção
Hipofosforemia
↑ síntese vitamina D

Reabsorção Ca Absorcão Ca Hipercalcemia


VITAMINA D Reabsorção
Reabsorção P Absorcão P Hiperfosforemia

Excreção Ca Hipocalcemia
CALCITONINA ↓ Reabsorção
Excreção P Hipofosforemia

Quadro 1. Regulação hormonal do cálcio.

Ca/Cr <0,01), ao contrário do hiperparatireoidismo primário As paratiroides podem tornar-se autónomas como no hiper-
(> 0,02). paratiroidismo primário, resultando em hipercalcemia.
–– Intoxicação de vitamina D. Constitui uma indicação cirúrgica.
–– Sarcoidose (por aumento de 1,25 (OH) 2 D ao nível dos granu-
lomas) e outras doenças granulomatosas, como a tuberculose,
lepra, histoplasmose, coccidiomicose, candidíase, doença do
arranhão de gato, silicose, beriliose, doença de Wegener. Causas endocrinológicas da hipercalcemia
–– Síndrome do leite-alcalino. Hiperparatiroidismo primário, hipertiroidismo, insuficiência
–– Fármacos. adrenal, feocromocitoma e vipoma. A acromegalia provoca
Vitamina A, ácido retinoico, estrogénios e antiestrogénios hipercalciúria sem hipercalcemia.
usados no tratamento do cancro da mama, aminofilina EV.
–– Hipercalcemia idiopática na infância (síndrome de Williams).
Malformações congénitas múltiplas (estenose aórtica supra- Sinais clínicos
valvar, atraso mental e dimorfismo facial), associadas à Depende se a doença é aguda ou crónica:
hipercalcemia por causa da hipersensibilidade anormal à
–– Assintomática (achado aleatório).
vitamina D.
–– Crise hipercalcémica com insuficiência renal, encurtamento
–– Associadas a um aumento de remodelação óssea. Hiper­
do intervalo QT, arritmias ventriculares, obnubilação progres-
tiroidismo, imobilidade.
siva e coma, pseudo-abdómen agudo (PNA 2019).
–– Hiperparatiroidismo secundário.
–– Formas crónicas.
Hipersecreção de PTH produzida em qualquer situação que
Calcificações metastáticas, nefrolitíase, nefropatia intersticial
predisponha a hipocalcemia e que pode causar alterações
e insuficiência renal crónica.
ósseas características do hiperparatiroidismo. As causas mais
frequentes são a insuficiência renal crónica e hipovitaminose D.
Quase nunca está associada à hipercalcemia, já que o aumento Tratamento
de PTH é secundário à diminuição dos níveis de cálcio, os quais Hidratação agressiva por via endovenosa, possivelmente asso-
podem ser baixos ou normais. Terapia médica direcionada para ciada à furosemida. Os bifosfonatos e em especial o zoledrona-
a integração de cálcio e vitamina D e eliminação de fósforo na to de administração única têm efeito no prazo de 3 dias. Os
dieta, inclusive com a utilização de quelantes. corticosteroides são usados nas hipercalcemias por hiperativa-
–– Hiperparatiroidismo terciário. ção de vit D (linfomas, sarcoidose) ou na intoxicação por vitami-
Quando as paratiroides se tornam autónomas após um perío- na D. A calcitonina também pode ser utilizada, mas tem um
do mais ou menos prolongado de estimulação do hiperpara- custo elevado e causa uma rápida tolerância.
tiroidismo secundário.

Lembre-se…
HPP NEOPLASIA A hidratação com solução salina na hipercalcemia é sempre
necessária porque aumenta a excreção renal de cálcio.
APARE-
Insidioso Agudo Quando se prescrevem corticosteroides?
CIMENTO
1. Causa tumoral
SINTOMAS Não Da neoplasia
2. Dependente da vitamina D
CÁLCIO ↑ ↑

FÓSFORO ↓ ↓ ou ↑

PTH ↑↑ ↓↓ 7.3. Hiperparatiroidismo primário


É a causa mais frequente de hipercalcemia seguida de neopla-
Quadro 2. Hiperparatiroidismo e neoplasia. sia. Mais comum em mulheres entre 45 e 60 anos.

66
Capítulo 7 · Doenças das glândulas paratiroideas e homeostase do cálcio

Hipercalcémia

PTH

N/

Calciúria 24 h Fosforemia

Hiperparatiroidismo 1º Hipercalcémia
(hiperparatiroidismo 3º hipocalciúrica familiar Carcinoma secretor
Vitamina D PTHrp
em caso de ou hiperparatiroidismo
hiperfosfatemia e primário com
insuficiência renal) concomitante
hipovitaminose D

Destruição óssea
– Intoxicação vitamina D – Metástases líticas
– Doenças granulomatosas – Hipertiroidismo
– Linfoma – Intoxicação vitamina A
– Hiperparatiroidismo 2º

Figura 2. Diagnóstico diferencial da hipercalcémia.

O diagnóstico baseia-se nos valores de PTH elevado ou inade- –– Manifestações gastrointestinais.


quadamente normal em comparação com os valores de hiper- Dor abdominal, vómitos, pancreatite, úlcera duodenal (nos
calcemia. casos de MEN 1 relacionada ao gastrinoma: síndrome de
Zollinger-Ellison).
–– Manifestações reumatológicas.
Etiologia Pseudo-gota, condrocalcinose.
Adenoma paratiroideu único: o mais frequente. –– Ceratopatia em banda
Hiperplasia da paratiroide: 15-20%. A maioria hereditários:
MEN 1 e MEN 2A. Diagnóstico
Adenoma paratiroideu duplo ou múltiplo: pouco frequente.
Hipercalcemia
Carcinoma paratiroideu : muito pouco frequente.
Deve excluir-se a pseudohipercalcemia, que pode dever-se à
hemoconcentração ou hiperproteinemia, basicamente hiperal-
Sinais clínicos buminemia. Pode existir hiperparatiroidismo primário normo-
–– Hipercalcemia assintomática (forma mais frequente). calcémico e, por isso, pode ser útil a determinação do cálcio
–– Hiperparatiroidismo primário normocalcémico: iónizado.
Valores de PTH aumentados em concomitância com os valo-
res de cálcio dentro dos limites, distingue-se do hiperparati- PTH elevada
roidismo secundário. Deve determinar-se simultaneamente com a calcemia. Ambos
–– Hiperparatiroidismo clássico (menos frequente). os exames são fundamentais para o diagnóstico.
–– Envolvimento renal (atualmente pouco frequente)
Nefrolitíase (cálculos de oxalato de cálcio e fosfato de cálcio) Hipofosfatemia
e nefrocalcinose (que causa poliúria e insuficiência renal a
longo prazo). Por vezes o fósforo está normal.
–– Envolvimento ósseo:
Osteíte fibrocística: diminuição do número de trabéculas, Hipercalciúria
aumento de osteoclastos gigantes multinucleados nas áreas É frequente, mesmo podendo manifestar-se calciúria dentro
festonadas da superfície óssea (lagoas de howship) e fibroses, da norma e hipocalciúria em concomitância com hipovitami-
reabsorção subperiosteal das falanges e do crânio com aspe- nose D.
to de sal e pimenta. O envolvimento renal e do osso geral-
mente não são concomitantes. Localização
–– Osteoporose Estudos de localização pré-operatória NÃO são necessários. O
–– Manifestações neuromusculares. Fraqueza muscular proximal. procedimento mais útil é o exame das glândulas por parte de
–– Manifestações neuropsicofísicas. um cirurgião especialista (“O único estudo de localização
Alteração das capacidades de concentração, depressão. necessário é encontrar um cirurgião especialista “).

67
Manual APNA · Endocrinologia

Tratamento
Cirurgia
É o único tratamento curativo. A técnica cirúrgica varia com
base no envolvimento glandular.
–– Técnicas cirúrgicas.
• Adenoma.
A glândula patológica é removida após examinar as outras,
para excluir a existência de mais do que uma glândula afetada.
• Hiperplasia.
Paratiroidectomia subtotal (exérese completa de três glân-
dulas e parcial da quarta) ou paratiroidectomia total com
transplante de uma parte de uma das glândulas nos mús-
culos do antebraço ou no esternocleidomastoideu.
–– Indicações
• Pacientes com menos de 50 anos.
• Pacientes com mais de 50 anos com:
–– Presença de sinais clínicos: litíase renal, fraturas ósseas,
incluindo subclínicas.
–– Episódios anteriores de hipercalcemia grave.
–– Aumento do cálcio sérico mais de 1 mg / dl acima do limi-
te superior do valor normal.
–– Redução da clearance de creatinina maior que 30% (ou
clearance <60 ml / min).
–– Redução da massa óssea abaixo dos 2,5 desvio-padrão
em comparação com os valores normais do t-score.
–– Dificuldade no acompanhamento. Comorbidades que
complicam a gestão.
–– Vontade do paciente.
A presença de calciúria assintomática superior a 400 mg/24h
associada ao perfil de risco litogénico através do doseamento
dos componentes urinários já se considera também uma indica-
ção cirúrgica.
–– Complicações
As principais complicações são a hipocalcemia e a lesão do
nervo laríngeo recorrente. As causas de hipocalcemia podem
ser variadas:
• Hipoparatiroidismo transitório devido a isquemia e manipu-
lação das glândulas.
Melhora com o cálcio EV em doses baixas e é geralmente
corrigido em 48-72 horas.
• Hipoparatiroidismo pós-cirúrgico persistente.
Típico das cirurgias totais ou subtotais da hiperplasia para-
tiroideia.
Figura 3. Hiperparatireoidismo clássico. A. Crânio com aparência de “sal e Obriga ao tratamento com cálcio e vitamina D para toda a
pimenta”. B. Reabsorção subperióstica de falanges (setas).
vida.
• “Osso esfomeado”.
No hiperparatiroidismo de progressão longa com desmine-
ralização óssea marcada, o osso é submetido a uma mine-
Em caso de reincidência ou persistência da doença após a cirur- ralização rápida após a cirurgia, a qual consome quase todo
gia, são necessários estudos de localização (procura de adeno- o cálcio do sangue. A hipocalcemia é máxima até ao sétimo
mas ectópicos ou de uma quinta glândula): dia e geralmente dura algumas semanas. Pode ser preveni-
–– Ecografia ao pescoço. da pela administração pré-operatória de vitamina D (melho-
ra a mineralização antes da cirurgia, para que aconteça
–– Cintigrafia com subtração Talio-Tecnecio ou tecnécio-
mais lentamente depois da mesma).
99m-MIBI.
–– TC Tratamento médico
Útil em glândulas com localização mediastínica
–– Hidratação adequada.
–– Técnicas invasivas.
–– Evitar diuréticos e imobilidade prolongada.
Arteriografia ou cateterismo venoso seletivo do plexo venoso
tiroideu ou áreas adjacentes, obtendo amostras para dosea- –– Evitar excesso de cálcio na dieta.
mento de PTH. Útil quando não se localizou em exames ante- –– Bisfosfonatos (uso crónico limitado) e estrogénio nas mulhe-
riores. res na pós-menopausa.

68
Capítulo 7 · Doenças das glândulas paratiroideas e homeostase do cálcio

–– Controlo periódico de possíveis alterações renais ou ósseas


que possam requerer um tratamento cirúrgico.

Lembre-se…
A conjugação numa pessoa> 40 anos de osteopenia, poliúria
e urolitíase sugere hiperparatiroidismo primário (doseamento
de cálcio!)

7.4. Hipocalcemia
Mão de obstetra
obstetra
Cálcio sérico inferior a 8,6 mg / dl.

Etiologia
–– Hipoparatiroidismo.
Síndrome de DiGeorge (agenesia do timo e das paratiroides
por falta de diferenciação dos terceiro e quarto arcos bran-
quiais associada a malformações congénitas), síndrome poli-
glandular autoimune de tipo I, hipoparatiroidismo adquirido
(após cirurgia da tiroide ou paratiroide).
–– Hipomagnesemia
Frequente em caso de alcoolismo e desnutrição. Induz resis-
tência à ação da PTH e diminui a sua secreção. Em pacientes Hiperreflexia Sinal de Chvostek
com hipomagnesemia grave, a hipocalcemia não será corrigi-
da sem primeiro normalizar os níveis de magnésio.
–– Má absorção intestinal.
–– Pseudo-hipoparatiroidismo.
Resistência à ação da PTH com aumento dos seus níveis.
–– Hemocromatose e doença de Wilson (por infiltração, respeti-
vamente de ferro e cobre no tecido paratiroideu).
–– Fármacos.
Antiepilépticos, foscarnet, quelantes de cálcio (EDTA, citrato).
Convulsões
–– Hiperfosfatemia aguda.
Insuficiência renal aguda, síndrome de lise tumoral, rabdo- Figura 4. Manifestações clínicas da hipocalcemia.
miólise.
–– Pancreatite aguda.
–– Metástases osteoblásticas. Cancro da próstata e mama. Diagnóstico
–– Alcaloses Hipocalcemia com diminuição de PTH e, frequentemente, hiper-
–– Hipovitaminose D e IRC (associadas ao aumento de PTH). fosfatemia. A hipomagnesemia deve ser excluída.
Corrigir o cálcio através da albumina: é necessário corrigir a
Sinais clínicos calcemia com base nos valores de albuminemia (adicionar 0,8
mg/dl de cálcio para cada g/dl de redução de albuminemia).
Dependendo da rapidez do seu aparecimento, pode ir de assin- Padrão gold standard: medição direta de cálcio ionizado.
tomática até uma eventual emergência médica. Os mais fre-
quentes são os sintomas neuromusculares e neurológicos.
Tratamento
–– Aumento da excitabilidade neuromuscular (tetania). Parestesia
–– Hipocalcemia aguda.
distal e perioral, hiperreflexia, espasmos musculares, sinal de
Gluconato de cálcio ou carbonato de cálcio EV
Trousseau (espasmo carpopodálico: mão de obstetra), sinal
–– Hipocalcemia crónica.
de Chvostek (contração dos músculos faciais quando o nervo
Cálcio oral e 1,25 (OH) 2-vitamina D.
facial é atingido), laringoespasmo.
–– Alongamento do intervalo QT e inversão da onda T.
–– Convulsões. 7.5. Pseudo-hipoparatiroidismo
–– Demência e perturbações extrapiramidais provocadas por cal- Distúrbio hereditário com sinais e sintomas de hipoparatiroidis-
cificação dos gânglios da base. mo, com hipocalcemia e hiperfosfatemia com reduzida fosfatú-
–– Cataratas, calcificações subcutâneas. ria, causado pela resistência periférica à PTH, que se encontra
–– Ansiedade, agitação, até alucinações e psicose franca. elevada.

69
Manual APNA · Endocrinologia

Hipocalcemia

PTH

– Hipoparatiroidismo congénito Fosforemia


– Hipoparatiroidismo adquirido
– Hipomagnesémia
(Hipoparatiroidismo funcional)

– Pseudo-hipoparatiroidismo
Vitamina D – Hiperparatiroidismo 2ª a IRC
– Hiperfosfatemia aguda

Défice de Vitamina D
Ineficácia da vitamina D – Défice nutritivo, pouca exposição
– Má absorção intestinal ao sol, alcoolismo
– Raquitismo Vitamina D-dependente – Metabolismo inadequado
tipo 2 (anticonvulsivos, raquitismo
Vitamina D-dependente tipo 1)

Figura 5. Diagnóstico diferencial da hipocalcémia.

Pseudo-hipoparatiroidismo IB
PHT Gs cAMP Ações –– Incapacidade de síntese de cAMP pelo rim após PTH.
–– Nenhuma alteração somática.
–– ↓ Ca, ↑ P, ↑ PTH. Resposta à PTH: não ↑ cAMP, não há fosfa-
túria.
PHP1a PHP1b PHP2
Pseudo-hipoparatiroidismo II
Figura 6. Alterações no pseudo-hipoparatiroidismo. –– Nenhuma resposta fosfatúrica à PTH apesar de se verificar um
aumento cAMP após a infusão de PTH.
Tipos –– Nenhuma alteração somática.
PTH → proteína Gs → cAMP nefrogénico→ eliminação renal de –– ↓ Ca, ↑ P, ↑ PTH. Resposta a PTH: ↑cAMP, não há fosfatúria.
fosfato (fosfatúria) e reabsorção do cálcio.
Pseudo-hipoparatiroidismo
Pseudo-hipoparatiroidismo IA Presença do fenótipo característico sem anomalias bioquímicas
É o mais frequente. (calcemia e fosfatemia normais).
–– Defeito das proteínas Gs. Tratamento
–– Anomalias somáticas.
Osteodistrofia Hereditária de Albright (baixa estatura, fácies Igual ao do hipoparatiroidismo.
arredondada, obesidade, pterígio colli, encurtamento do
(Ver Quadro 3
4º-5º metacarpo).
–– ↓ Ca, ↑ P, ↑ PTH. Resposta à PTH: não ↑ cAMP, não há fosfatúria.
–– Pode estar associado à resistência da tiroide à TSH.

DÉFICE
↑ cAMP RESPOSTA
HIPOCa HIPER P PTH MORFOLOGIA URINÁRIO
PROTEINA G FOSFATÚRICA
APÓS PTH

HIPO PTH Sim ↓ N Não + +

PHP IA Sim ↑ Alterada Sim − −

PHP IB Sim ↑ N Não − −

PHP II Sim ↑ N Não + −

PPHP Não Normal Alterada Sim + +

Quadro 3. Hipoparatiroidismo e tipos de pseudo-hipoparatiroidismo.

70
Capítulo 8
Nutrição e obesidade CO
A/B

8.1. Obesidade CO
A Quadro resumo
MD, D, P, T, GD • Normal. • Obesidade grau II.
Definição 18,5-24,9 kg / m2. 35-39,9 kg / m2.
• Excesso de peso grau I. • Obesidade grau III ou severa
Excesso de gordura armazenada no tecido adiposo (nem sem- 25-26,9 kg / m2. ou grave.
pre o excesso de peso é um excesso de gordura). É a doença • Excesso de peso grau II. 40-49,9 kg / m2.
metabólica mais frequente no mundo ocidental. Constitui por 27-29,9 kg / m2. • Obesidade grau IV ou extrema.
si só um fator de risco cardiovascular e está relacionada com • Obesidade grau I. 50 kg / m2.
numerosas complicações, incluindo: 30-34,9 kg / m2.
–– Alterações do metabolismo dos hidratos de carbono.
Hiperinsulinismo com resistência à insulina, intolerância aos
–– Segundo o índice de cintura/coxa.
hidratos de carbono e diabetes mellitus tipo 2.
• Obesidade androide.
–– Hipertensão arterial (HTA). ≥1 em homens e ≥0,9 em mulheres.
–– Dislipidemia. • Obesidade ginoide.
Aumento dos triglicéridos, diminuição de HDL, LDL quantita- <0,95 em homens e <0,8 em mulheres.
tivamente normal, mas qualitativamente alteradas, mais ate-
rogénicas (predomínio do fenótipo b das LDL: pequenas e O risco cardiovascular é maior na obesidade de tipo androide.
densas). Atualmente, mais que o índice cintura/coxa, considera- se o
–– Hipercoagulabilidade. perímetro abdominal como um bom marcador de risco cardio-
Aumento do fibrinogénio e aumento do PAI-1. vascular: risco moderado se> 94 cm nos homens e > 80 cm nas
–– Hiperuricemia. mulheres, risco elevado se> 102 cm nos homens e> 89 cm nas
mulheres.
–– Síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS).
–– Complicações digestivas. –– Segundo a etiologia.
Litíase biliar, refluxo gastroesofágico, esteatose hepática, • Primária (95% dos casos).
colecistite. Etiologia multifatorial. Muitos fatores estão envolvidos,
entre os quais se destaca o papel da leptina.
–– Complicações mecânicas.
• Secundária.
Artroses (no entanto, protege da osteoporose).
Síndrome de Cushing, síndrome de Prader-Willi, síndrome
–– Tumores de Lawrence-Moon-Bardet-Bield, síndrome dos ovários
Cólon e próstata (no homem); ovários, endométrio e mama policísticos, défice de GH, hipotiroidismo, insulinoma, sín-
(em mulheres). dromes hipotalâmicas (tumor, trauma ou lesão).
Transtornos psiquiátricos.
Tratamento
Faz parte da chamada síndrome metabólica, síndrome pluri-
metabólica ou síndrome X. Por todas estas razões, o risco Continuam a existir dois pilares fundamentais que são a dieta e
de aterosclerose (doença cardíaca isquémica, etc.) é muito a atividade física. Devem sempre ser acompanhados por uma
mais elevado nestes pacientes, assim como a sua morbidade/ mudança no estilo de vida para garantir o sucesso terapêutico
mortalidade. As complicações metabólicas estão mais associa- a longo prazo. Uma perda de peso de pelo menos 10% protege
das à gordura visceral do que à gordura subcutânea. A adipo- do ponto de vista do risco cardiovascular (diminuição da morbi-
sidade (ou obesidade abdominal, associada ao aumento da mortalidade e complicações).
gordura visceral, metabolicamente ativa) é inversamente pro-
porcional aos níveis de adiponectina (hormona sintetizada a Dieta hipocalórica (fundamental no tratamento). Equilibrada e
partir do tecido adiposo que aumenta a sensibilidade à insuli- aceite pelo paciente, mantendo a proporção de macronutrientes.
na) e diretamente proporcional à resistência à insulina. É aconselhável diminuir cerca de 500-600 kcal por dia
relativamente à ingestão calórica total anterior. Recomenda-se
Outras complicações associadas à obesidade são o pseudotu-
tomar suplementos vitamínicos se ingerir menos de 1.500 kcal
mor cerebral e, na obesidade infantil, a epifisiólise do fémur e a
/ dia.
idade óssea precoce, além da predisposição à obesidade, diabe-
tes e outros distúrbios metabólicos na vida adulta.
Atividade física
Classificação Recomenda-se a prática de exercícios aeróbicos, adaptando-os
à idade e à forma física do indivíduo.
–– Segundo o índice de massa corporal (IMC) ou índice de O exercício tem inúmeros benefícios: reduz o risco de morbida-
Quetelet, a relação entre o peso corporal (em kg) e o quadra- de cardiovascular, melhora o controle glicémico e a sensibilida-
do da altura (em metros) considera: de à insulina, diminui a pressão arterial, melhora a capacidade

71
Manual APNA · Endocrinologia

pulmonar, ajuda a controlar o peso, diminui o risco de cancro O seu objetivo é obter um estômago menor do que o habitual
do cólon e da mama. Ao mesmo tempo, afeta o perfil lipídico, para induzir a saciedade precocemente. O principal efeito
aumentando os níveis de HDL. colateral é o vómito (se o paciente ingere mais comida do que
Pacientes que iniciam um programa de exercícios intensivos e permite o tamanho do seu estômago). Também se deve avisar
que antes levavam uma vida sedentária devem ser submetidos o paciente para não ingerir líquidos hipercalóricos (eles pas-
a um exame médico para avaliar possíveis riscos, pois, no caso sam rapidamente pelo estômago sem estarem condicionados
de patologia cardíaca o exercício excessivamente intenso pode pela restrição e o paciente ganha peso).
provocar taquiarritmias e enfarte do miocárdio. No entanto, os As técnicas restritivas mais frequentes são a banda gástrica
benefícios decorrentes do exercício excedem estes possíveis ajustável e a gastrectomia tubular. A banda gástrica é colo-
riscos. cada ao redor do estômago e incha graças a um ponto de
acesso subcutâneo permitindo aumentar a restrição gra-
Fármacos dualmente. A gastrectomia tubular é uma técnica que tem
estado muito na moda nos últimos anos e que consiste na
–– Orlistate. conversão do estômago num tubo com capacidade muito
Inibidor da lipase intestinal, o que dificulta a absorção de gor- reduzida.
dura. A esteatorreia é o seu principal efeito colateral.
–– Técnicas malabsortivas
–– Fluoxetina. O seu objetivo é diminuir a porção do intestino pela qual
Indicado na obesidade associada a estados depressivos e passa o alimento. A técnica malabsortiva clássica é o bypass
transtornos obsessivo-compulsivos. jejunoileal. Estas cirurgias são muito eficazes mas têm muitas
–– Naltrexona / Bupropiona. consequências metabólicas, sendo por isso pouco utilizadas
Esta associação demonstrou reduzir o apetite e os "cravings" atualmente.
alimentares, sendo eficaz na perda de peso. –– Técnicas mistas.
–– Liraglutide. As mais utilizadas atualmente. Associam uma componen-
Os análogos de GLP-1 causam saciedade precoce e redução te gastro-restritiva a outro malabsortiva. A técnica principal
do apetite pela sua ação no centro hipotalâmico da fome e é o bypass gastrojejunal. Este último é baseado na cria-
têm sido associados a perdas de peso de até 15% do peso ção de um depósito gástrico de cerca de 30-50 cc que pro-
corporal. O liraglutide foi recentemente aprovado no trata- porciona a componente gastrorestritiva e um Y de Roux
mento da obesidade. que acresce o poder de má absorção. A outra técnica mista
–– Fibra alimentar tem um efeito saciante e deve ser ingerida mais usada é a derivação biliopancreática que tem uma
antes das refeições para diminuir o apetite. componente malabsortiva maior do que o bypass gastroje-
junal.

Cirurgia bariátrica
Lembre-se…
Indicada para pacientes obesos com IMC> 40 kg/m2 ou O padrão gold standard da cirurgia bariátrica atual é o
IMC> 35 kg/m2 com fatores de risco cardiovascular ou com- bypass gastrojenual.
plicações associados, para os quais o tratamento durante
pelo menos um ano com dieta, exercício e fármacos não teve
sucesso. Os pacientes não devem apresentar outras comorbi-
Complicações precoces
dades que diminuam a sua sobrevivência (tumor não tratado)
ou que aumentem excessivamente o risco cirúrgico ou anes- A curto prazo, as complicações são as mesmas de qualquer
tesiológico (hepatopatia grave), além disso, é necessário outra grande cirurgia ao intestino. Contudo, estes pacientes
determinar a ausência de transtornos psiquiátricos. geralmente apresentam comorbidades (DM, HTA ...) que com-
plicam a gestão. As complicações mais frequentes são:
A cirurgia é o único tratamento que demonstrou uma perda
de peso significativa a longo prazo nos pacientes e está asso- –– Hemorragia.
ciada a uma maior sobrevivência. Depois de concluir que o –– Deiscência da anastomose.
paciente pode ser candidato a cirurgia bariátrica deve realizar-se A complicação mais temida, com alta mortalidade. O trata-
um estudo detalhado para decidir qual é a cirurgia a ser realiza- mento deve ser o mais cedo possível.
da. Este estudo inclui a realização de uma gastroscopia que
–– Tromboembolismo pulmonar.
verifica se não há uma patologia ao nível gástrico antes de rea-
O paciente que sofre de obesidade mórbida apresenta um
lizar a intervenção, embora em alguns centros seja realizada
risco de trombose mais elevado, sendo por isso essencial rea-
apenas em pacientes selecionados.
lizar uma adequada profilaxia antitrombótica, a qual se deve
No entanto, as intervenções são muito agressivas e envolvem prolongar mesmo após a alta do paciente.
uma morbi-mortalidade significativa (mortalidade 0.5-1%, mor-
bidade 20-40%) e um índice elevado de consequências a longo
prazo. Complicações a longo prazo
–– Desnutrição.
Lembre-se…
Verifica-se em todos os pacientes em menor ou maior grau.
A indicação para cirurgia bariátrica é determinada com Assim sendo, todos os pacientes que se submeteram a uma
base no IMC> 40, operação cirúrgica bariátrica devem ser considerados como
ou> 35 se houver comorbidades associadas. pacientes crónicos e devem continuar o acompanhamento
com o endocrinologista durante toda a vida. A desnutrição
Técnicas cirúrgicas pode manifestar-se como défice de oligoelementos tais como
o zinco, anemia, hipoproteinemia, etc.
–– Técnicas gastro-restritivas.

72
Capítulo 8 · Nutrição e obesidade

–– Colelitíase. (doenças, queimaduras, cirurgia), no crescimento e na gravidez.


Devido a alterações na circulação entero-hepática. Manifesta- O valor biológico das proteínas depende sobretudo do conteú-
se em 50% dos pacientes, daí que se realize frequentemen- do dos aminoácidos essenciais, os quais existem em maior
te uma uma colecistectomia profilática durante a intervenção. quantidade nas proteínas animais e em menores quantidades
–– Diarreia. nas de origem vegetal: ovalbumina (100%)> lactalbumina> pro-
A componente malabsortiva da cirurgia bariátrica faz com teína de carne> soja> cereais> leguminosas> legumes.
que os alimentos ingeridos, sobretudo aqueles ricos em gor-
duras, sejam expelidos pelas fezes. Deste modo, os pacientes Hidratos de carbono
submetidos a técnicas malabsortivas que ingerem muitas gor- Devem corresponder a 50-60% do valor calórico total. A glico-
duras não ganham peso, mas muitas vezes têm uma diarreia se é a fonte de energia fundamental para o SNC e as células do
fétida que pode ser incapacitante (esteatorreia). sangue. É preferível o consumo de hidratos de carbono comple-
–– Vómito. xos ou de absorção lenta (polissacarídeos como o amido).
É mais frequente nas técnicas gastrorrestritivas.
Lípidos
Lembre-se… Devem corresponder a 30-35% do valor calórico total. A distri-
buição de gordura deve ser <10% da saturada (gordura animal,
Um paciente que foi submetido a uma intervenção
natas), 10% polinsaturada (ácidos gordos, ômega-3 e ômega-6:
devido a obesidade associada a comorbidade com dor
peixe azul) e as restantes monoinsaturadas (azeite virgem).
no hipocôndrio direito pode sofrer de colelitíase.
Recomenda-se um consumo máximo de 300 mg / dia de coles-
terol.

Cirurgia metabólica Vitaminas


A cirurgia metabólica nasceu quando os cirurgiões bariátricos se São classificadas como lipossolúveis (A, D, E, K) e hidrossolúveis
aperceberam que a cirurgia bariátrica melhorava a diabetes asso- (todas as outras, que não se acumulam e cuja sobredosagem
ciada à obesidade, mesmo antes do paciente ter perdido peso. não provoca doenças).
Isto acontece provavelmente pela diminuição da resistência à A sua carência, no entanto, é sempre patológica e as diferentes
insulina devido a mecanismos ainda hoje desconhecidos. manifestações clínicas dependem do papel de cada molécula.
A cirurgia metabólica tem como objetivo operar os pacientes
diabéticos não obesos para corrigir a diabetes e não ape- Minerais e oligoelementos
nas para que percam peso. É utilizada apenas em pacientes Na maioria dos casos, o seu aporte é garantido por uma dieta
com DM-2, já que o objetivo é melhorar a resistência à insulina equilibrada. No entanto, devemos ter em conta que tanto o seu
(não faz sentido em pacientes com DM-1). défice como o seu excesso podem dar origem a patologias.
As técnicas cirúrgicas utilizadas são adaptações da cirurgia
bariátrica. A cirurgia metabólica está ainda no início e não se Avaliação do estado nutricional
conhece a técnica mais apropriada ou quais os pacientes que
podem beneficiar dela. Nem se sabe a partir de que momento
o balanço entre os riscos da cirurgia e a diabetes pende a favor -Calórico.
da cirurgia. Peso e recente perda de peso (o mais importante), IMC, pre-
Este campo é um dos mais dinâmicos e vanguardistas da cirur- gas cutâneas.
gia atual e tenta induzir uma mudança de mentalidades para –– Proteico
converter uma doença classicamente médica, tal como a diabe- • Muscular
tes, numa doença cirúrgica. Índice de creatinina/altura.
• Visceral.
–– Albumina
8.2. Desnutrição e avaliação nutricional CO Meia-vida longa (20 dias), por isso tem um valor limitado
B em doenças agudas e como marcador da resposta ao
D suporte nutricional em períodos de tempo curtos.
Requisitos nutricionais –– Transferrina
Meia-vida de 8-10 dias.
Energéticos
–– Pré-albumina. Meia-vida de 2 dias.
As necessidades energéticas diárias ou o gasto energético total –– Proteína que fixa o retinol. Meia-vida de 10-12 horas.
é a soma de:
–– Gasto energético basal (CEB). Nenhuma destas últimas é útil para avaliar o estado nutricional
Medição da quantidade de energia consumida em repouso nas hepatopatias, em que a síntese proteica já está alterada. A
(manutenção das funções vitais); é calculado por meio da fór- pré-albumina e a proteína de ligação ao retinol também aumen-
mula de Harris-Benedict. tam na insuficiência renal.
–– Atividade física.
Desnutrição
–– Energia devida à termogénese induzida pela dieta.

Proteínas Marasmo ou desnutrição calórica


Devem corresponder a 10-15% do valor calórico total. As Desnutrição crónica devido essencialmente à diminuição da
necessidades diárias mínimas são de 0,8-1 g / kg / dia e são ingestão de calorias com diminuição de peso corporal, diminui-
maiores com o aumento dos níveis de stresse do paciente ção da gordura corporal e das proteínas somáticas (emagreci-

73
Manual APNA · Endocrinologia

mento excessivo de membros e tronco, diminuição da circunfe- nostomia).


rência muscular do braço <60%) com uma aparência de “pele
e ossos”. Esses indivíduos não apresentam edema e este é um Administração: na sonda nasogástrica (SNG) realiza-se de for-
sinal importante que distingue o marasmo da desnutrição pro- ma intermitente (a cada 4-6 horas ou contínua nos casos de alto
teica. risco de aspiração), enquanto que nas sondas intestinais faz-se
de forma contínua durante um período variável (de 8 a 24
Kwashiorkor ou desnutrição proteica horas). Deve ser feita uma nutrição pós-pilórica se existirem pro-
blemas de esvaziamento gástrico.
Desnutrição aguda (semanas) devido à diminuição do aporte
proteico ou no caso das necessidades proteicas aumentarem, Contraindicações: obstrução intestinal, íleo intestinal, fístulas
como em situações de stress (infeções graves, intervenções intestinais de alto débito (> 500 ml / dia) e alergia ao material
cirúrgicas, etc.). O peso corporal, a gordura subcutânea e a das sondas.
repartição das proteínas somáticas são respeitadas (aparência Complicações (menos frequentes do que na nutrição parentéri-
enganosa de “bem nutrido”). Existe uma importante diminui- ca): diarreia, vómito, aspiração pulmonar, obstrução das son-
ção das proteínas viscerais com edema secundário à hipoprotei- das.
nemia. Tem pior prognóstico do que a desnutrição calórica e há
uma maior predisposição para contrair infeções. Nutrição parentérica
Administração de elementos nutritivos na corrente sanguínea.
Mista ou caquexia ou desnutrição proteico-calórica Pode ser parcial, quando o aporte EV complementa o aporte
Manifesta-se em pacientes com marasmo que apresentam um entérico, ou total quando a totalidade das necessidades nutri-
processo agudo causador de stresse. É a forma mais comum em cionais são supridas desta forma. Com base na via de acesso
populações hospitalares. pode ser periférica (veia cefálica ou basílica) ou central (veia
subclávia ou jugular interna). As vias periféricas são utilizadas
Síndrome de Realimentação durante períodos curtos, porque quando prolongados causam
Pode acontecer quando a comida é reintroduzida a pacientes flebites.
previamente desnutridos (anorexia nervosa, idosos, pacientes
com cancro, alcoólatras ...). Manifesta- se com sobrecarga de Indicações
volume e alterações iónicas, tais como hipofosfatemia, hipopo- Quando não é possível satisfazer as necessidades nutricionais do
tassemia, hipomagnesemia e hipocalcemia. Pode ter complica- paciente com patologias médicas ou cirúrgicas durante mais de
ções potencialmente fatais, como arritmias, insuficiência cardía- 7 dias pela via digestiva:
ca, enfarte do miocárdio, fraqueza muscular, confusão ou crises
–– Fístulas intestinais de alto débito.
comiciais. O tratamento consiste na diminuição do aporte nutri-
cional e na correção das alterações eletrolíticas. Como preven- –– Pancreatite aguda grave.
ção é importante começar a alimentação de forma progressiva, Em alternativa pode-se utilizar a nutrição entérica administra-
tendo corrigido antes as alterações iónicas presentes. da em posição pós-pilórica (sonda nasojejunal).
–– Peritonite com íleo intestinal.
Nutrição artificial –– Síndrome do intestino curto. Ressecção intestinal major.
–– Obstrução intestinal.
Indicações –– Intolerância à nutrição entérica.
–– Não ingestão de alimentos nos últimos 7 dias. –– Enterite devido a radio ou quimioterapia.
–– Impossibilidade de alimentar-se pelo menos durante 10 dias.
Complicações
–– Perda de peso aguda superior a 10% do peso habitual.
–– Mecânicas.
Nutrição entérica Pneumotórax, trombose, embolia gasosa.
Sempre que possível, é a melhor opção (ou seja, com o aparelho –– Metabólicas
digestivo funcionante), já que é mais fisiológica, apresenta Hiperglicemia, sobrecarga de líquidos, hipofosfatemia.
menos complicações e é mais económica. –– Infecciosas.
A nutrição entérica pode ser administrada por via oral ou no Sépsis devido à contaminação do cateter.
caso de não ser possível (como na disfagia, coma, anorexia), por –– Hepáticas.
via enteral através de sonda (sonda nasogástrica, nasoduodenal, Aumento das transaminases, colestase hepática, hipertriglice-
nasojejunal) ou ostomia quando se prevê que a nutrição entéri- ridemia
ca se prolongue para além de 4-6 semanas (gastrostomia, jeju-

74
Capítulo 9
Deficiência e excesso CO
de vitaminas e oligominerais C
D

9.1. Vitaminas Défices vitamínicos

Definição FATORES
DÉFICE SINAIS CLÍNICOS FACILITADORES
Entende-se por vitamina qualquer composto orgânico essencial
na dieta humana - são indispensáveis à vida e o nosso organismo Alcoolismo,
Cegueira noturna,
é incapaz de os sintetizar autonomamente ou apenas os sintetiza A hiperémese, má absor-
xeroftalmia, depressão
de forma insuficiente. Regra geral, apenas uma pequena quanti- (Retinol) ção de gorduras, des-
imunitária
dade destas substâncias é necessária para suprir as necessidades nutrição, infeções
biológicas. Existem diversas vitaminas e todas elas têm diferentes
Envelhecimento, má
papéis e diferentes graus de reserva biológica.
absorção de gorduras,
São classificadas como lipossolúveis (A, D, E e K) e hidrossolúveis D Raquitismo /
pouca exposição solar,
(todas as restantes). A carência de qualquer vitamina é sempre (Calciferol) Osteomalácia
hiperpigmentação
patológica e as diferentes manifestações clínicas dependem do cutânea
papel de cada uma. A toxicidade por excesso de vitaminas é
muito mais comum com as lipossolúveis; a sobredosagem de Neuropatia periférica,
E Má absorção de
vitaminas hidrossolúveis raramente provoca doença. retinopatia, anemia
(Tocoferol) gorduras
Em caso de necessidade, é possível fazer-se o doseamento des- hemolítica
tas vitaminas ou dos seus metabolitos nos fluidos biológicos. Má absorção de
Hipercoagulabilidade e gorduras, cirrose
K
hemorragias hepática, antibióticos,
Funções dicumarínicos

Beribéri (húmido –
dispneia, edemas; seco
VITAMINA FUNÇÕES BIOLÓGICAS PRINCIPAIS Alcoolismo,
B1 – neuropatia, fraqueza
hiperémese, uso
(Tiamina) muscular, oftalmoplegia,
A Envolvida na função visual, ativação crónico de diuréticos
confusão), encefalopatia
(Retinol) imunológica de Wernicke-Korsakoff
D Essencial no metabolismo fosfocálcico e na
B2 Língua magenta, queilite
(Calciferol) saúde óssea Alcoolismo
(Riboflavina) angular, seborreia
E
Atividade antioxidante Alcoolismo, défice de
(Tocoferol) B3
Pelagra (síndrome 3D: B2, défice de B6,
(niacina,
Envolvida na síntese de fatores da diarreia, dermatite, défice de triptofano
ácido
K coagulação (II, VII, IX, X) e proteínas demência) (pode manifestar-se na
nicotínico)
anticoagulantes (C e S) síndrome carcinoide)
B1 Envolvida no metabolismo de a-cetoácidos e Glossite, afeção do SN
(Tiamina) B6
aminoácidos de cadeia ramificada (neuropatia, depressão, Alcoolismo, isoniazida
(piridoxina)
convulsões)
B2 Envolvida no metabolismo de gorduras,
(Riboflavina) carboidratos e proteínas Anemia megaloblástica
B3 (causa mais comum),
Coenzima em reações B9 Alcoolismo, sulfona-
(niacina, ácido trombocitopenia, leuco-
de oxidação-redução (ácido fólico) midas
nicotínico) penia
Defeitos do tubo neural
B6 Envolvida no metabolismo de aminoácidos,
(piridoxina) conversão de triptofano em niacina Anema megaloblástica, Anemia perniciosa,
B12 neuropatia (degeneração doença do íleo
B9 (cianocoba- medular subaguda com terminal,
Síntese, reparação e metilação de DNA
(ácido fólico) lamina) perda da sensibilidade vegetarianismo estrito,
B12 vibratória e propriocetiva) metformina
Síntese de DNA
(cianocobalamina)
C Escorbuto (doença gengi-
C Atividade antioxidante, absorção de ferro, (ácido val, petéquias, infeções, Alcoolismo, tabagismo
(ácido ascórbico) síntese de colagénio ascórbico) hiperqueratose folicular)

Quadro 1. Funções biológicas das vitaminas. Quadro 2. Défices vitamínicos.

75
Manual APNA · Endocrinologia

Excesso de vitaminas Funções

FUNÇÕES BIOLÓGICAS
HIPERVITAMINOSE SINAIS CLÍNICOS OLIGOMINERAIS PRINCIPAIS

A Cefaleia (pseudotumor cerebral), Estrutura dentária e óssea, integra


(Retinol) astenia, hipercalcemia múltiplos sistemas enzimáticos, função
Cálcio
neuromuscular, atividade hormonal,
D coagulação
Hipercalcemia
(Calciferol)
Integra múltiplos sistemas enzimáticos,
B3 Cobre absorção de ferro, síntese de
Flushing (só ocorre com doses
(niacina, ácido neurotransmissores
farmacológicas de niacina)
nicotínico)
Transferência de oxigénio, eritropoiese,
Ferro
B6 divisão celular, síntese de DNA
Neuropatia sensitiva, ataxia
(piridoxina)
Flúor Estrutura dentária e óssea
Quadro 3. Hipervitaminoses. Estrutura dentária e óssea, função
Fósforo muscular, síntese proteica, tampão
biológico (fosfato)
9.2. Oligominerais Iodo Componente das hormonas tiroideias

Replicação de DNA, transcrição genética,


Definição
Magnésio regulação da secreção de hormonas
Oligominerais são substâncias inorgânicas essenciais ao fun- peptídicas
cionamento do nosso organismo, estando envolvidas em várias
funções distintas. À semelhança do que acontece com as Poder antioxidante, constituinte das
Selénio
vitaminas, por norma apenas uma pequena quantidade destas deiodinases
substâncias é necessária para suprir as necessidades biológicas. Múltiplas funções biológicas, incluindo
O nosso organismo necessita de diferentes quantidades de cada Zinco replicação de DNA e estabilização de
oligomineral e as necessidades podem variar ao longo da vida proteínas
(dependem da idade, sexo, estado de saúde, gravidez, etc).
Em caso de necessidade, é possível fazer-se o doseamento dos Quadro 4. Funções biológicas dos principais oligominerais.
diferentes oligominerais nos fluidos biológicos.

Défice e excesso de oligominerais

OLIGOMINERAIS DÉFICE TOXICIDADE

Cálcio Osteopenia, osteoporose Insuficiência renal, nefrolitíase

Anemia, defeitos na queratinização e pigmentação Insuficiência renal, insuficiência hepática, tremor,


Cobre
do cabelo depressão da consciência

Ferro Anemia, astenia, pica, coiloníquia Efeitos GIs, lesões orgânicas por sobrecarga de ferro

Flúor Cáries dentárias Fluorose, osteosclerose

Osteomalácia, fraqueza muscular, rabdomiólise,


Fósforo Hipocalcemia
parestesias, confusão

Iodo Bócio, hipotiroidismo, cretinismo Disfunção tiroideia, erupção acneiforme

Astenia, síndromes neurológicas, parestesias, Vasodilatação, fraqueza muscular,


Magnésio
hipocalcemia diarreia

Fragilidade do cabelo e unhas, miopatia, labilidade


Selénio Cardiomiopatia, Insuficiência cardíaca
emocional, hálito com odor a alho

Atraso do crescimento, dermatite, diarreia,


Náuseas/vómitos, febre, redução da absorção de
Zinco disfunção imunológica, hipogonadismo, malfor-
cobre, anemia
mações congénitas

Quadro 5. Deficiência e excesso dos principais oligominerais.


76
Capítulo 10
Dislipidemias e distúrbios CO
A
do metabolismo das lipoproteínas MD, D, P, T, GD

10.1. Lipoproteínas triglicéridos das VLDL. Através das HDL o colesterol chega ao
fígado, onde é eliminado com a bile.
Estrutura Funções das principais apoproteínas
Núcleo central constituído por triglicéridos (TG) e ésteres de –– As Apo B-100 levam o colesterol do fígado para os tecidos.
colesterol e camada externa formada por fosfolipídios, coleste- É de origem hepática e está presente nas lipoproteínas de
rol não esterificado e apoproteínas. origem hepática (VLDL; IDL; LDL). A captação de LDL por
A síntese do colesterol depende da Acetilcoenzima A, elemento parte dos macrófagos promove a aterogénese.
fundamental do metabolismo dos hidratos de carbono, aminoá- –– A Apo B-48 leva os triglicéridos do intestino para os tecidos.
cidos e ácidos gordos, através da produção de HMG-CoA e, Os triglicéridos são transportados unidos pela Apo B-48 (qui-
seguidamente, do esqualeno. Este elemento é recuperado pela lomicras)e a Apo B-100 (VLDL).
lipólise através da beta- oxidação, via metabólica que causa –– As Apo A retiram o colesterol do plasma (antiaterogénico)
degradação dos ácidos gordos e a libertação da acetilcoenzima levando-o dos tecidos para o fígado.
A. Os fármacos hipolipemiantes agem aumentando a beta- oxi- Uma relação ApoB/ApoA elevada é um fator de risco atero-
dação e, consequentemente, a degradação de ácidos gordos e génico independente.
a produção de acetilcoenzima A. –– As Apo E permitem a captação hepática das lipoproteínas e
encontra-se naquelas que vão para o fígado (quilomicras resi-
duais do intestino, IDL e VLDL do sangue e HDL dos tecidos).
Metabolismo das lipoproteínas As LDLs são livres de Apo-E e são recuperadas pelo fígado
Via exógena através da ligação entre a Apo B-100 e o recetor Apo E / B.
A via exógena transporta os TG da dieta para o tecido adiposo e
o colesterol da dieta para o fígado. Os TG e o colesterol da dieta 10.2. Hiperlipoproteinemia
são incorporados nos quilomicra (QM) que passam através da via
linfática para a circulação geral e trocam apoproteínas com as Conceito
VLDL e HDL, obtendo-se os QM modificados. Os QM modificados
são transformados pela lipoproteína lípase (LPL) do tecido adipo- As hiperlipoproteinemias configuram excessivas concentrações
so e muscular, a qual separa os TG (que permanecem armazena- plasmáticas de colesterol total, triglicéridos ou de ambos. Para
dos nesses tecidos), formando resíduos específicos (núcleo: rico a determinação analítica dos lípidos plasmáticos é importante
em colesterol esterificado que não é solúvel; cobertura: Apo-B48 respeitar um período de jejum de, pelo menos, 12 horas.
e Apo-E), que são degradados pelos hepatócitos.
Classificação fenotípica de Fredickson
Via endógena Na verdade, pouco utilizada no momento (ver Quadro 1 da
próxima página).
A via endógena transporta os TG do fígado para o tecido adiposo
e muscular, o colesterol do fígado para os tecidos periféricos e
Classificação etiológica
restitui parte do colesterol que sobra ao fígado. O TG e o coles-
terol hepático (que derivam da dieta e da conversão do excesso Hiperlipoproteinemias primárias
de hidratos de carbono da dieta) são libertados na circulação
–– Hiperlipidemia combinada familiar (FCHL).
transportados pelas VLDL (que contêm principalmente TG). Estas
• Hereditariedade autossómica dominante.
últimas estão sujeitas à ação da LPL do tecido adiposo e muscular
• Aumento das VLDL e/ou das LDL com três possíveis fenótipos:
descarregando a maior parte dos seus TG e transformando-se em
Hipercolesterolemia (IIa), hipertrigliceridemia (IV) ou hiper-
IDL (núcleo: colesterol e poucos TG; cobertura: Apo-B100 e E). As
colesterolemia + hipertrigliceridemia (IIb). O fenótipo de um
IDL cedem totalmente os TG transformando-se em LDL (núcleo:
mesmo indivíduo pode variar ao longo do tempo.
colesterol; cobertura: B100), que transportam o colesterol para os
• Sinais clínicos.
tecidos. Uma parte das LDL são captadas pelo fígado (captação
Aparecimento na 2ª década de aterosclerose prematura,
mediada pelo recetor da ApoB-100) depositando o excesso de
xantelasma e arco corneal. Associação frequente com a
colesterol e uma outra parte sendo oxidada pela passagem atra-
obesidade, resistência à insulina e a diabetes mellitus (sín-
vés dos tecidos e captada pelo sistema mononuclear fagocitário
drome metabólica).
constituindo a base da placa de ateroma.
• Diagnóstico
Hiperlipoproteinemia (fenótipos IIa, IIb e / ou IV) e deteção
Via inversa de anomalias lipídicas múltiplas em 50% dos familiares de
A via inversa transporta o colesterol remanescente dos tecidos primeiro grau. Para o diagnóstico são necessárias, pelo
periféricos para o fígado para ser eliminado através da via biliar. menos, de três gerações envolvidas.
Na sua passagem através dos tecidos a LCAT (leticina colesterol • Tratamento.
aciltransferase) transporta o colesterol dos tecidos para o núcleo Tem como alvo o lípido predominante no momento do
de HDL e a CETP ( proteína de transferência dos ésteres do coles- estudo.
terol) medeia a troca dos ésteres do colesterol das HDL com os (ver Quadro 2 da próxima página).

77
Manual APNA · Endocrinologia

↑ LIPOPROTEÍNA C PLASMÁTICO TG PLASMÁTICOS SORO A 4º C ATEROGENICIDE

Leitoso Anel
I QM N ou ↓ ↑↑↑↑ Nenhuma
sobrenadante

IIA LDL ↑↑ N Transparente +++


FENÓTIPO

IIB LDL e VLDL ↑↑ ↑↑ Turvo +++

III QM e resíduos de VLDL ↑↑ ↑↑↑ Turvo +++

IV VLDL N ou ↓ ↑↑ Turvo +

Turvo
V QM e VLDL ↑↑↑ ↑↑↑↑ +
Anel sobrenadante

Quadro 1. Hiperlipoproteinemia.

HCL COMBINADA DISBETALIPOPROTEI-


HCL FAMILIAR HCL POLIGÉNICA
FAMILIAR NEMIA FAMILIAR

PREVALÊNCIA 0,2% 1-2% 3-4% Muito rara

HEREDITARIEDADE AD monogénica AD Poligénica AR

PATOLOGIA Defeito do recetor LDL Desconhecida Desconhecida Alteração da Apo E

IDADE DE >20 anos


Nascimento Geralmente >20 anos 4º-5º década de vida
APARECIMENTO mas também na infância

COLESTEROLEMIA Heterozigotos 300-500 300-1.000 e


260-350 280-320
(MG/DL) Homozigotos >600 TG de 200 a 1.000

Aumento de LDL e/ou VLDL Aumento de IDL e VLDL


LIPOPROTEÍNAS Aumento de LDL Aumento de LDL
Diminuição de HDL Diminuição de HDL e LDL

XANTOMAS Frequentes Pouco frequentes Ausentes Palmares e túbero- eruptivos

CARDIOPATIA 30-55 anos Nos


45-55 anos 60 anos >40 anos
ISQUÉMICA homozigóticos <20 anos

PREVALÊNCIA NOS
FAMILIARES Sim Sim Não
DE PRIMEIRO GRAU

ASSOCIAÇÃO COM DM,


50% 50% 10-20%
HTA E OBESIDADE

Quadro 2. Hiperlipidemias primárias mais frequentes.

–– Hipercolesterolemia familiar (FI) (PNA 2019).


• Hereditariedade monogénica autossómica dominante
(conhece-se o gene, mais de 900 mutações) com alta pene-
trância. É a doença genética monogénica mais comum.
• Defeito no recetor da LDL com aumento dos níveis de LDL
(260-600 mg / dl nos heterozigotos e 600-1.000 mg / dl
nos homozigotos).
• Sinais clínicos
Os heterozigotos: aparecimento por volta dos 30-40 anos
de aterosclerose coronária e EAM precoce (probabilidade
de 50% de problemas coronários antes dos 60 anos nos
homens não tratados). Xantomas tendinosos (muito típi-
Figura 1. Xantelasmas. cos), xantelomas e arco corneal. Em indivíduos homozigo-
tos (muito pouco frequente) manifesta-se mais precoce-
mente com aterosclerose coronária antes dos 10 anos e

78
Capítulo 10 · Dislipidemias e distúrbios do metabolismo das lipoproteínas

xantomas planos cutâneos desde o nascimento, nas zonas O índice do tornozelo-braço (ABI, Ankle-Brachial Index)
expostas. revela uma doença subclínica (arteriopatia periférica no
• Diagnóstico paciente assintomático) e mesmo não sendo tecnicamente
Fenótipo IIa e anamnese em 50% dos familiares de primei- uma lesão de órgão geralmente na prática clínica conside-
ro grau. Estudo genético. ra-se como tal.
• Tratamento. –– Equivalente a risco cardiovascular.
Em heterozigotos, dieta e estatinas +/- resinas. Nos homo- Patologias que em si pressupõem um risco cardiovascular
zigotos pode experimentar-se o tratamento com LDL aferé- semelhante ao de ter tido um EAM anterior:
se, anastomose porto-cava e transplante hepático. • EAM prévio, ou revascularização coronária ou morte súbita
–– Hipercolesterolemia poligénica. ressuscitada.
• Herança poligénica, com defeito desconhecido. • AVC ou AIT (Transient Ischemic Attack, acidente isquémico
• É a hiperlipidemia primária mais frequente. transitório) aterotrombóticos, ou estenose carotídea sinto-
• Sinais clínicos mática > 50%.
Risco elevado de aterosclerose coronária e cerebral, mani- • Aneurisma da aorta abdominal. Doença arterial periférica
festando-se a partir da sexta década. ABI <90%.
• Diagnóstico • DM (quando associada a lesão de órgão).
Fenótipo IIa (LDL entre 260-350 mg / dl). • IRC moderada ou grave (TFG <60 ml / min).
• Diagnóstico diferencial com outras formas de hipercoles-
terolemia. Objetivos de controlo
Envolvimento de 10% dos familiares de primeiro grau
(50% nas outras duas) ausência de xantomas tendinosos O controle do risco cardiovascular deve ser multifatorial. É inútil
(presentes na hipercolesterolemia familiar). otimizar um único fator de risco cardiovascular (FRCV) se os
• Tratamento. outros continuarem sem controlo. É fundamental deixar de
Dieta e estatinas. fumar, atingir o peso ideal, praticar exercício físico e o controlo
da PA, DM e das dislipidemias.
Hiperlipoproteinemia secundária Dentro das dislipidemias, o principal FRCV é o colesterol LDL no
–– Hipercolesterolemia. qual se concentra o tratamento, já que o objetivo é fixado em
Hipotiroidismo, anorexia nervosa, síndrome nefrótica. relação ao risco cardiovascular do paciente. Os objetivos de TG,
–– Hipertrigliceridemia. HDL e colesterol não-HDL são iguais para todos os grupos: TG
DM (tipo 1 mal controlado ou tipo 2 mesmo com um bom <150 mg/dl; HDL> 40 mg / dL homens e> 48 mg /dL mulheres;
controlo), obesidade e síndrome metabólica, alcoolismo, uso objetivo do colesterol não-HDL = objetivo LDL + 30 mg/dl.
de fármacos anti-retrovirais (lipodistrofia), contracetivos orais, Para estabelecer o objetivo de controlo do colesterol LDL exis-
insuficiência renal crónica. tem várias linhas diretrizes, tanto norte-americanas quanto
–– Hiperlipidemias mistas. europeias, cujas indicações se sobrepõem substancialmente.
Contracetivos orais, alcoolismo, hipotiroidismo, síndrome
nefrótica, síndrome de Cushing. (ver Quadro 4 da próxima página)
A mais frequente é aquela associada ao DM-2 (hipertrigliceride-
mia com aumento de VLDL, diminuição de HDL e LDL pequenas PACIENTES COM - <75 anos: terapia de alta intensidade.
e densas). No caso de um aumento de TG e LDL no paciente DISTÚRBIO - >75 anos: continuar se já estava sob tera-
diabético, a prioridade do tratamento deve concentrar-se no CARDIOVASCOLAR pêutica. Intensidade moderada.
controle da fração LDL, exceto nos casos em que temos TG>
500, em que o risco de pancreatite é elevado e uma prioridade LDL >190 MG/DL - Terapia de alta intensidade.
no tratamento. OU - Avaliar a associação de outros medica-
TG >500 MG/DL mentos se persistir >190 mg/dl.
Estratificação do risco cardiovascular
DIABÉTICOS ENTRE - Terapia de alta intensidade ou moderada.
No estudo e tratamento do risco cardiovascular é necessário 40-75 ANOS COM - Intensidade elevada se RCV >7,5%.
distinguir três situações: LDL 70-190 MG/DL - <40 anos ou >75 anos: personalizar.
–– Fator de risco.
Circunstância que aumenta o risco de um episódio cardiovas- - RCV >7,5%: iniciar terapia de intensidade
cular. Dividem-se em não alteráveis (sexo, idade, anamnese LDL ENTRE moderada a alta.
familiar) e alteráveis (tabagismo, HTA, DM, dislipidemia ...) 70-190 MG/DL NÃO - RCV 5-7,5%: avaliar o benefício intensi-
(Estuda-se em Cardiologia e Cirurgia Vascular) DIABÉTICOS E SEM dade moderada.
–– Lesão de órgão. DCV - RCV <5%: avaliar outros factores de risco
Não constitui patologia em si, mas revela um dano visceral para identificar um tratamento personali-
causado pela exposição a fatores de risco. A sua presença zado para cada doente.
aumenta o risco de episódios cardiovasculares. São evidentes
quatro localizações: RCV = risco cardiovascular.
• Retinopatia, no fundo do olho. Intensidade alta = rosuvastatina ou atorvastatina em doses elevadas.
Intensidade moderada = rosuvastatina ou atorvastatina em dosagem baixa, o
• Nefropatia, com microalbuminúria e avaliação da filtração
resto das estatinas com dosagem alta. Não se aconselha doses altas de sinvas-
renal. tatina (máximo 40 mg / dia) devido à elevada incidência de efeitos adversos.
• Hipertrofia miocárdica, com o ecocardiograma.
• Dano endotelial, com espessamento médio-intimal Quadro 3. Indicações de tratamento com estatinas de acordo com as diretrizes ame-
(IMT,intima-media thickness) da carótida. ricanas do College of Cardiology / American Heart Association (ACC/AHA) de 2013.

79
Manual APNA · Endocrinologia

MUDANÇA DE ESTILO DE
DEFINIÇÃO OBJETIVO LDL
VIDA**

RISCO BAIXO SCORE <1% <116 mg/dl Sempre

RISCO MEDIO SCORE 1-5% <100 mg/dl (PNA 2019) Sempre

Um único FRCV muito


elevado (Col tot>310
mg/dL ou PA ≥180/110
RISCO ALTO mmHg); DM sem outros FR; <70 mg/dl ou reduzir >50% Sempre
insuficiência renal mode- do valor inicial
rada (GFR 30–59 mL/min);
SCORE ≥5% e <10%

DCV; DM com dano de


órgão como proteinúria ou
fatores de risco CV major <55 mg/dl ou reduzir >50%
RISCO MUITO ALTO como o tabaco, hipertensão Sempre
do valor inicial
ou dislipidemia; insuficiênc-
ia renal severa (GFR <30
mL/min); um SCORE ≥10%

O SCORE quantifica o risco de um episódio vascular fatal em 10 anos. Existem Quadros para países de alto e baixo risco.
DCV = doença cardiovascular confirmada, ou equivalente de risco cardiovascular.
** Se após 3-6 meses de mudança de estilo de vida não se atinge o valor de LDL, avaliar o início da terapia medicamentosa.

Quadro 4. Objetivos de controle do LDL da Sociedade Europeia de Cardiologia (2019).

Tratamento –– Contraindicações
Insuficiência renal crónica, insuficiência hepática, crian-
–– Medidas higieno-dietéticas. ças, gravidez.
São sempre as primeiras medidas a serem tomadas e devem • Resinas (colestiramina, colestipol).
ser mantidas mesmo se, de seguida, se utilizarem fármacos. –– Mecanismo de ação.
se utilizam fármacos. Diminuem a absorção de colesterol, bloqueando a circu-
• Calorias necessárias para manter ou atingir o normopeso. lação enterohepática de colesterol e ácidos biliares.
• Gorduras. –– Efeitos.
<35% da dieta (saturada <10%, poliinsaturadas Diminuição de LDL. Podem fazer com que aumente os
<10%, o restante de monoinsaturadas). TG. Não modificam os HDL.
• Colesterol. –– Indicações
<300 mg/dia na prevenção e <200 mg/dia no tratamento. Na hipercolesterolemia pura (fenótipo IIa). Podem ser
• Atividade física (reduz a glicemia e a PA). administradas sozinhas (pouco potentes) ou associadas a
• Controle de fatores de risco cardiovascular: tabaco, HTA, etc. estatinas. Partindo do pressuposto de que não são absor-
–– Eliminar causas secundárias (mau controle da diabetes vidas, são o fármaco de primeira linha no tratamento da
mellitus, obesidade, hipotiroidismo, álcool). hipercolesterolemia em crianças.
–– Fármacos –– Efeitos colaterais.
Se a alteração lipídica persistir após 3-6 meses de medidas Dispepsia. A administração de outros medicamentos
higieno-dietéticas. deve ter um intervalo de várias horas depois da toma das
• Fibratos (gemfibrozil, fenofibrato, bezafibrato). resinas.
–– Mecanismo de ação. • Estatinas (sinvastatina, atorvastatina, rosuvastatina, pra-
Aumento da atividade da lipoproteinolipase. vastatina, lovastatina, fluvastatina).
–– Efeitos. –– Mecanismo de ação.
Diminuição de VLDL e TG, aumento de HDL. Efeito variá- Inibição da HMG-CoA redutase, aumentando o número
vel na LDL. de receptores de LDL.
–– Indicações –– Efeitos.
Nas hipertrigliceridemias e nas dislipidemias mistas nas Diminuição de LDL com ligeiro aumento de HDL e dimi-
quais predomina a hipertrigliceridemia (fenótipos IIb, III, nuição leve de TG (a atorvastatina é a que diminui mais
IV e V). os TG). Foi demonstrado que diminuem a mortalidade
–– Efeitos colaterais. total, a mortalidade coronária e cerebrovascular, tanto na
Distúrbios digestivos, erupções cutâneas, colelitíase, rab- prevenção primária como na secundária. A estatina mais
domiólise (na insuficiência renal crónica e, acima de tudo, potente é hoje a rosuvastatina, superior à atorvastatina
quando associados às estatinas). (a segunda mais potente).

80
Capítulo 10 · Dislipidemias e distúrbios do metabolismo das lipoproteínas

ALTERNATIVA SE ALTERNATIVA EM CASO DE


1ªESCOLHA
CONTRAINDICADO INSUCCESSO

Estatina + ezetimiba
HIPERCOLESTEROLEMIA Estatina Resina ou ezetimiba
Estatina + resina

Ácidos gordos
HIPERTRIGLICERIDEMIA Fibrato Fenofibrato + estatina
omega-3 ou estatina

HIPERLIPEMIA MISTA Estatina ou fibrato Fibrato ou estatina Fenofibrato + estatina

Quadro 5. Seleção de medicamentos hipolipemiantes.

–– Indicações • Outros medicamentos cada vez menos utilizados hoje:


Hipercolesterolemias e dislipidemias mistas em que pre- –– Probucol. Diminui o LDL.
domina a hipercolesterolemia. A sua associação é indica- –– Seleção de medicamentos hipolipemiantes (ver Quadro 5).
da com as resinas na hipercolesterolemia grave. Nas dis-
lipidemias mistas graves pode associar-se aos fibratos (e
o fibrato de eleição para ser associado é o fenofibrato), TG
embora isso aumente o risco de rabdomiólise (a cerivas-
tatina foi retirada do mercado devido a maior risco de Controlo DM e peso, atividade física e dieta, abandono do álcool
rabdomiólise). Para o evitar deve ser feito um acompa-
nhamento cuidadoso dos níveis de CPK. TG 200-500, TG 200-500,
TG >500
–– Efeitos adversos. sem doença coronária com doença coronária
Distúrbios gastrointestinais, mialgias, artralgias, aumento
de transaminases e CPK, rabdomiólise (aumento do risco Fibrato
<2 FR ≥2 FR (evitar pancreatite)
se associado a fibratos, insuficiência renal, hipotiroidismo).
–– Contraindicações
Medidas dietéticas, Estatinas Juntar estatinas
Em crianças, grávidas e na insuficiência hepática. Acompanhamento (controlar col.
(controlo col. Não-HDL)
• Ezetimiba. avaliar fibrato Não-HDL)
Inibe a lipase intestinal com melhor tolerância do que as
resinas. O seu tratamento combinado com estatinas permi- estatina ou
te maior redução do colesterol. adicionar fibrato
(controlo TG)
• Ácido nicotínico.
O seu efeito mais importante é o aumento dos níveis de
HDL. Em doses elevadas diminui o LDL e a produção hepá- Figura 2. Gestão da hipertrigliceridemia. O objetivo fundamental é o controlo da
hipercolesterolemia (colesterol não-HDL), exceto quando os triglicerídeos são>
tica de VLDL.
500, uma vez que há um risco de pancreatite aguda.

81
Capítulo 11
Síndrome metabólica CC

A síndrome metabólica define-se pela coexistência de vários


CRITÉRIOS DA SÍNDROME METABÓLICA
fatores que predispõem a doenças cardiovasculares. Não preci-
SEGUNDO ATPIII (NA PRESENÇA DE TRÊS DOS SEGUINTES)
sa de um tratamento específico, apenas de controle de cada um
dos fatores de risco. –– Glicose basal> 100 mg / dl (ou tratamento antidiabético)
Existem diferentes critérios para a definição da síndrome meta- –– Obesidade abdominal (> 102 cm nos homens,> 88 nas mulheres)
bólica, os mais utilizados são os da ATP-III (quadro em anexo) e –– HDL baixo (<40 nos homens, <50 nas mulheres)
da IDF. Os critérios da IDF são praticamente os mesmos que os –– TG aumentados> 150 mg / dl (ou tratamento hipolipemiante)
da ATPIII, exceto que a obesidade central é um critério obriga- –– PA> 130/85 (ou tratamento hipotensivo)
tório e varia segundo as raças, sendo mais severa na ATPIII (nos
homens> 90-94 cm e nas mulheres 80-90 cm). Quadro 1. Critérios para a síndrome metabólica segundo ATPIII.

Lembre-se…
O LDL elevado não é um critério para determinar a síndrome
metabólica

82
Capítulo 12
Osteoporose. Doença de Paget CO
e outras displasias ósseas A/C

12.1. Osteoporose CO –– Outros.


A Artrite reumatoide, sarcoidose.
D, P, T
A osteoporose é uma condição patológica caracterizada por uma
Epidemiologia e etiopatogenia
redução acentuada da massa óssea, resultando numa diminui-
ção da sua resistência e num aumento do risco de fraturas. As É a doença óssea metabólica mais comum: afeta 30- 40% de
alterações macroestruturais responsáveis por este quadro são o todas as mulheres pós-menopáusicas e cerca de 15% dos
afinamento da cortical e a rarefação de trabéculas esponjosas. homens com mais de 75 anos.
Podemos distinguir formas de osteoporose primárias e formas As fraturas patológicas afetam com maior frequência o corpo
secundárias. vertebral (osteoporose pós-menopausa) e o colo do fémur
A osteoporose primária (dependendo da localização) pode ser (osteoporose senil).
classificada em: O aparecimento da osteoporose baseia-se na perda do equilí-
brio entre a atividade dos osteoblastos (diminuída na forma
–– Formas generalizadas (envolvendo todo o esqueleto).
senil) e dos osteoclastos (aumentados na pós- menopausa). A
• Osteoporose pós-menopáusica (ou tipo I).
massa óssea estará assim quantitativamente diminuída mas
A redução de estrogénio aumenta a atividade osteoclástica.
qualitativamente normal.
• osteoporose senil (ou tipo II).
Ligada a alterações do metabolismo do cálcio devido ao Os fatores de risco modificáveis, determinantes na quebra deste
envelhecimento (por exemplo, redução da absorção de equilíbrio, são: défice de estrogénio, atividade física limitada,
nutrientes). exposição solar reduzida, tabagismo, álcool, desnutrição, baixo
• osteoporose idiopática juvenil (rara). peso corporal, hipercalciúria ...
Patogénese desconhecida. Fatores de risco não modificáveis são: défice de estrogénio (para
–– Formas localizadas (que afeta apenas determinados seg- mulheres na pós-menopausa), somatotropina, testosterona
mentos ósseos). (tanto para homens como mulheres na senilidade), idade avan-
• Osteoporose por imobilização e/ou desuso. O alectua- çada, raça caucasiana, hereditariedade e todas as patologias
mento envolve uma reabsorção óssea acentuada. que causam osteoporose secundária.
• Osteoporose devido flogose articular.
Do tecido inflamatório são libertadas citocinas que estimu-
Quadro clínico
lam a atividade osteoclástica. É um processo que decorre de forma assintomática até que
• Osteoporose por algodistrofia (doença de Sudeck). aconteça uma fratura.
Geralmente afeta uma mão ou um pé depois de um trau- –– Fraturas vertebrais.
ma, evidenciando distúrbios tróficos marcados. Podem causar dor aguda súbita, que se resolve com repouso
• Osteoporose migratória regional. Afeta pacientes e terapia analgésica, ou uma dor crónica após esforços de
jovens, é transitória e abrange os membros inferiores na flexão da coluna. Causam cifose progressiva e diminuição da
zona periarticular (anca, joelho, tornozelo). altura devido ao encunhamento vertebral. As zonas mais fre-
A osteoporose secundária (quase sempre na forma generaliza- quentemente afetadas são as últimas vértebras dorsais (T8-
da) é causada por: T12) e as primeiras vértebras lombares (L1-L3).
A presença de fraturas acima de D4 deve fazer-nos pensar em
–– Alimentação errada.
fraturas patológicas por metástases.
Baixa ingestão de cálcio, excesso de proteínas, consumo de
álcool. –– Fraturas dos ossos longos.
Causam dor súbita acompanhada de impotência funcional.
–– Endocrinopatias.
Os segmentos ósseos mais afetados são o colo do fémur e a
Hiperparatiroidismo, doença de Cushing, hipertiroidismo,
extremidade distal do rádio (fratura de Colles). Zonas menos
hipogonadismo, Défice de GH, hiperprolactinemia.
frequentes são as costelas, a extremidade proximal do úmero
–– Doenças do trato gastrointestinal. e os ossos do metatarso.
Doença celíaca, doença de Crohn, intolerância à lactose,
hemocromatose, hepatopatias crónicas, gastrectomia e redu-
Diagnóstico
zida absorção intestinal de nutrientes e vitamina D.
–– Doenças que causam acidose. –– Clínico
Diabetes mellitus, DPOC, insuficiência renal crónica. Evidência de fraturas com relativo aparecimento de dor e défi-
ce funcional.
–– Hemopatia.
Mieloma múltiplo, linfomas, talassemia, drepanocitose –– RX tradicional
Observam-se alterações quando a perda óssea é >30%.
–– Fármacos osteopenizantes.
Continua a ser o exame mais adequado para identificar as
Corticosteroides, antiepiléticos, heparina, diuréticos da ansa,
fraturas. Nos ossos longos permite-nos notar o afinamento da
anticoagulantes orais.
cortical e um alargamento da medular. A nível vertebral veri-
–– Neoplasias fica-se a perda da posição horizontal, o realce dos discos
Tumores primários dos ossos e metastáticos, melanoma. intervertebrais e o achatamento dos corpos vertebrais.

83
Manual APNA · Endocrinologia

–– Densitometria. colaterais. o tratamento com estrogénio na mulher em fase


A densitometria óssea é a técnica que permite fazer o diagnós- pós-menopausa pode ser indicado quando a sintomatologia
tico de osteoporose (PNA 2019), medindo quantos desvios- climatérica é persistente e quando não são tolerados outros
-padrão (DS) separam a densidade mineral óssea do paciente medicamentos.
do T- score, que é a densidade média de referência em jovens • Contraindicações absolutas.
saudáveis do mesmo sexo: Anamnese positiva para cancro de útero ou da mama,
• < -1 DS = Normal. melanoma, TEP recente, doença hepática grave, obesidade
• Desde -1 a -2,5 DP = Osteopenia. crónica, HTA grave.
• >-2,5 DS = osteoporose. • Contraindicações relativas.
As indicações da densitometria são as seguintes: Pancreatite, tabagismo, endometriose, TVP, mastopatia
• Fratura não traumática. fibrocística grave. Aumentam o risco de desenvolver cancro
• Mulheres na pós-menopausa com idade <65 anos e com da mama a partir dos 5 anos de tratamento; o seu uso requer
um ou mais fatores de risco. a realização de exames ginecológicos e mamografias anuais.
• Todas as mulheres com idade> 65 anos. –– Moduladores seletivos do recetor de estrogénio SERM
• Pacientes com alterações vertebrais ou osteopenia, docu- (raloxifeno, bazedoxifeno e tamoxifeno).
mentados com relatórios radiológicos. Reduzem a mudança e perda de massa óssea. Além disso,
• Pacientes em tratamento prolongado com corticosteroides. reduzem o risco de cancro da mama e melhoram o perfil
• Hiperparatiroidismo primário ou secundário assintomático. lipídico, embora isso não esteja relacionado com um efeito
protetor para distúrbios cardiovasculares. O raloxifeno e o
Diagnóstico diferencial bazedoxifeno não aumentam nem diminuem o risco de tumor
O diagnóstico diferencial deve ser abordado em outras patologias: endometrial comparados ao placebo, enquanto o tamoxifeno
aumenta o risco. Ambos os fármacos aumentam o risco de
–– Osteomalacia.
tromboembolismo, embora o risco seja maior com o tamoxi-
Apresenta um quadro radiológico e densitométrico seme-
feno. O raloxifeno não diminui o aparecimento de afronta-
lhante, mas ao nível plasmático e urinário verifica-se a redu-
mentos. As indicações destes fármacos são muito rigorosas.
ção da concentração de cálcio, fósforo e vitamina D.
–– Calcitonina.
–– Doença de Paget.
Hormona polipeptídica sintetizada nas células C parafolicula-
Aumentam os níveis plasmáticos de fosfatase alcalina e níveis
res da tiroide. Atua nos osteoclastos inibindo a reabsorção
urinários de hidroxiprolina.
óssea. O aumento do risco de desenvolver neoplasias é a
–– Osteogénese imperfeita. razão pela qual é pouco usada atualmente.
Caracterizada pela cor azul da esclera, por alterações nos
–– Cálcio
dentes e ligamentos, bem como deformidades esqueléticas
O consumo mínimo adequado para adultos é de 1 g /dia e 1,5
bem marcadas.
g/dia para mulheres grávidas. Durante a lactação e após a
menopausa, quando não é suficientemente fornecido através
Prevenção da dieta, são adicionados suplementos de cálcio às refeições.
Baseia-se principalmente no exercício físico, na eliminação de Hoje não é um medicamento de primeira escolha. Além disso,
substâncias tóxicas, ingestão adequada de leite e derivados e alguns estudos recentes relacionaram a toma de cálcio com o
exposição adequada à luz solar. A atividade física é uma medida aparecimento de eventos vasculares.
não farmacológica que contribui para otimizar o aumento de –– Teriparatida (polipeptídeo sintético, recombinante, do
massa óssea em pessoas jovens / adultas e também está com- PTH humano, aminoácidos 1-34).
provado que previne quedas em idosos, impedindo indireta- Estimula a formação óssea. É eficaz na redução do risco de fratu-
mente o desenvolvimento de fraturas. ra nas mulheres com osteoporose. Também é eficaz nos homens.
É o único fármaco que aumenta a densidade mineral óssea.
Tratamento farmacológico –– Denosumab.
É um anticorpo monoclonal humano que se dirige e une com
–– Bifosfonatos (alendronato, risedronato, zoledronato ...).
grande afinidade e especificidade ao RANK-Ligante. É indica-
Inibidores da reabsorção óssea, indicados nas formas com
do na osteoporose em mulheres na pós-menopausa com ele-
aumento da absorção ou alta remodelação. São a primeira esco-
vado risco de fratura visto que reduz o risco de fraturas verte-
lha no tratamento de formas graves, naquelas induzidas por
brais, não vertebrais e da anca. Dada a inibição que exerce
esteroides e na osteoporose de mulheres na pós-menopausa.
nos osteoclastos e na reabsorção óssea, tem efeitos colaterais
Entre seus efeitos colaterais, encontramos:
semelhantes aos dos bifosfonatos: foram descritos casos de
• Distúrbios gastrintestinais (incluindo esofagite, especial-
osteonecrose da mandíbula e de fraturas atípicas.
mente do alendronato).
• Osteonecrose da mandíbula (1/100.000 pacientes/ano em –– Vitamina D (800 UI / dia).
tratamento). É recomendada na osteoporose senil em conjunto com uma
Aparece principalmente em pacientes com processos neo- eventual suplementação de cálcio, especialmente em pacien-
plásicos tratados com bifosfonatos endovenosos, como o tes institucionalizados ou acamados, que têm pouca exposi-
ácido zoledrónico ou em pacientes que foram submetidos ção à luz solar.
a intervenção odontológica. –– Fluoreto de sódio.
• Fraturas subtrocantéricas atípicas do fémur (<30 casos / Estimula os osteoblastos e produz um aumento das trabéculas
100.000 pacientes/ano de tratamento). Surge em pacientes ósseas sem modificar o osso cortical. Indicado na osteoporose
sob tratamento prolongado com bifosfonatos. senil com fraturas vertebrais e baixa densidade da massa óssea.
–– Estrogénios. –– Tiazidas.
O recurso ao tratamento com estrogénio tem diminuído sig- Os diuréticos tiazídicos têm efeitos diferentes nos eletrólitos
nificativamente devido às suas contraindicações e efeitos e no metabolismo mineral, incluindo a redução da excreção

84
Capítulo 12 · Osteoporose. Doença de Paget e outras displasias ósseas

urinária do cálcio e o aumento da excreção urinária de sódio,


fosfato e magnésio. Ficou comprovado (em estudos transver-
sais) que aumentam a massa óssea e reduzem a Incidência de
fraturas. Além disso, têm um efeito sobre a diferenciação dos
osteoblastos. As tiazidas estão indicadas em doentes com
osteoporose e com hipercalciúria.
–– Anabolizantes.
Na osteoporose do homem com hipogonadismo.
–– Ranelato de estrôncio.
Embora tenha demonstrado eficácia na prevenção de fraturas
vertebrais e não vertebrais, dados recentes mostram global-
mente um aumento do risco de enfarte do miocárdio, portan-
to, o seu uso não é recomendado em pacientes com anam-
nese da cardiopatia isquémica.
Do mesmo modo, foi descrita uma maior incidência de doen-
ças tromboembólicas e reações dermatológicas graves, tais
como DRESS (Drug Rash with Eosinophilia and Systemic
Symptoms)[erupção cutânea por fármacos com eosinofilia e
sintomas sistémicos]

12.2. Osteomalacia-raquitismo CO
C Figura 1. Osteomalacia: linhas de pseudofratura Looser-Milkman.
D
Trata-se de um distúrbio caracterizado pela diminuição da minera-
lização óssea, com matriz óssea normal. O raquitismo consiste no
mesmo processo, mas em crianças. (estuda-se em Pediatria). Diagnóstico diferencial
–– Fraqueza muscular
Etiologia Miopatias.
Défice de vitamina D –– Quadros com dor óssea.
Metástases ósseas.
É a causa mais frequente de osteomalacia. Deve-se a: –– Hipocalcemia
–– Fatores intrínsecos. Hipoparatiroidismo.
Défice de aporte (a causa mais frequente), exposição inade- –– Fosfatase alcalina elevada.
quada à luz solar, má absorção intestinal, incluindo doença Hepatopatias (devido a lesão hepática), outras osteopatias
hepatobiliar e insuficiência pancreática crónica. (doença de Paget).
–– Alterações metabólicas
(Ver Quadro 1 da próxima página)
Alterações hepáticas (défice de hidroxilação na posição 25),
insuficiência renal (défice de hidroxilação na posição 1), toma
Tratamento
de antiepilépticos (que transformam o colecalciferol num
metabólito inativo) e duas patologias hereditárias: Destina-se a compensar o défice de vitamina D; em geral há
• Raquitismo hereditário de vitamina D dependente de tipo I, uma boa resposta, especialmente na forma carencial (as altera-
devido a défice de hidroxilação renal (1α-hidroxilase). ções musculares são as primeiras a melhorar, as últimas são as
• Raquitismo hereditário de vitamina D dependente de tipo ósseas).
II, devido à alteração do recetor da vitamina D. –– Défice de vitamina D (carência).
Vitamina D2 (ergocalciferol) ou vitamina D3 (colecalciferol)
Hipofosfatemia oral, com adição de cálcio.
Pode ser causada por um défice no aporte (abuso de antiácidos –– Má absorção intestinal.
à base de alumínio) ou por perda renal (raquitismo hipofosfaté- Vitamina D (50.000-100.000 UI por semana) e cálcio em
mico vitamina D resistente ligado ao cromossoma X, acidose grandes quantidades (4 g de carbonato de cálcio).
tubular renal de tipo I, síndrome de Fanconi).
–– Insuficiência renal crónica.
Calcitriol (0,25 μg / dia) - Hipofosfatemia (osteomalacia resis-
Quadro clínico tente à vitamina D).
Na osteomalacia surge uma dor esquelética difusa (sintoma Fósforo (1-4 g/d) mais calcitriol (0,2 μg/dia).
mais frequente) e uma hiperestesia óssea, acompanhadas de –– Terapia anticonvulsivante.
fraqueza muscular predominantemente proximal. As deformi- Vitamina D (1.000 UI/dia).
dades ósseas são geralmente menos percetíveis do que no caso
anterior. Ao nível do raio X há uma diminuição na densidade
12.3. Doença de Paget CO
óssea e uma estrutura trabecular indistinta (imagem de vidro C
fosco); são características as pseudofraturas de Looser- D
Milkman (linhas radiotransparentes perpendiculares ao córtex). Trata-se de uma doença do tecido ósseo tipicamente focal,
O diagnóstico definitivo é confirmado por biópsia óssea caracterizada por uma anormalidade na remodelação óssea,
(aumento da espessura do tecido osteóide, com um atraso no que se torna excessiva e anárquica, e por uma estrutura anormal
tempo de mineralização superior a 100 dias, detetado através (medula óssea fibrosa, trabéculas ásperas e osso lamelar desor-
da marcação do osso pela tetraciclina). ganizado com imagem em mosaico).

85
Manual APNA · Endocrinologia

CÁLCIO SÉRICO FOSFATO SÉRICO FOSFATASE ALCALINA OUTROS

–– 25(OH)D ↓
DÉFICE DE VIT. D N/↓ N/↓ ↑ –– 1,25(OH)D2 normal,↓ ou ↑
–– PTH ↑ (hiperparatiroidismo
secundário)
ALTERAÇÕES TUBULARES –– PTH NORMAL
N ↓ N
RENAIS
–– 25(OH)D normal
IRC ↓ ↑ ↑ –– 1,25(OH)D2 ↓
–– PTH ↑ (hiperparatiroidismo
secundário)
HEPATOPATIA OU –– 25(OH)D ↓
OBSTRUÇÃO BILIAR ↓ ↓ ↑
EXTRA-HEPÁTICA

Quadro 1. Análise laboratorial. N = normal.

Afeta com maior frequência os homens e a sua incidência


aumenta com a idade. A sua etiologia é desconhecida, mas a
presença de inclusões virais (paramixovírus, como o sarampo,
VRS ou cinomose canina) no núcleo dos osteoclastos sugere a
possibilidade de uma origem viral em indivíduos geneticamente
predispostos (15% têm anamnese familiar positiva).

Quadro clínico
A maioria dos pacientes permanecem assintomáticos, pelo
que o diagnóstico geralmente deriva de uma descoberta aci-
dental. A dor óssea espontânea, não relacionada com os
movimentos, é o sintoma clínico mais frequente. Outros sinais
clínicos são o aumento do tamanho do crânio (crânio pagé-
tico), cefaleia, aumento localizado da temperatura devido ao
aumento da rede vascular e o aparecimento de deformidades
típicas, como a tíbia em sabre e o fémur em cajado de pastor.
Podem ser encontradas estrias angioides na retina.
Figura 2. Crânio pagético com zonas de osteoporose circunscrita.
Entre as complicações destacamos:
–– Hipoacusia (devido ao envolvimento dos ossos da audição
ou compressão do VIII par dos nervos cranianos).
–– Compressão nervosa, especialmente intercostal.
–– Aumento do débito cardíaco devido ao aumento da vasculari-
zação e das fístulas arteriovenosas dos ossos, que pode provo-
car insuficiência cardíaca de alto débito e estenose aórtica.
–– Complicações neurológicas devido ao crescimento ósseo ao
nível da base do crânio.
–– Aumento da frequência de litíase urinária devido ao aumento
da calciúria (raramente há hipercalcemia), hiperuricemia e gota.
–– Fraturas patológicas.
–– Anemia de compressão medular.
–– Sarcoma (1% dos casos).
É a complicação mais grave. Trata-se da principal causa de
sarcoma ósseo no adulto. Clinicamente, deve ter-se em con-
sideração na presença de um aumento de dor e de tumefação
em conjunto com um aumento exagerado nos níveis de fos-
fatase alcalina.

Diagnóstico
- Alterações radiográficas.
A pélvis é a estrutura mais afetada, seguida do fémur, crânio,
tíbia, coluna lombo-sagrada, clavículas, costelas ... Existem
duas fases: Figura 3. Tíbia em sabre. A imagem à direita mostra uma varredura óssea com
a extensão da doença.

86
Capítulo 12 · Osteoporose. Doença de Paget e outras displasias ósseas

• Lítica Tratamento
Osteoporose circunscrita.
Na maioria dos casos não requer tratamento, já que a doen-
• Esclerótica.
ça é geralmente localizada e assintomática.
Aumento da densidade óssea mais frequentemente a cargo
dos ossos faciais e das vértebras (vértebra em marfim ou São tratados os pacientes sintomáticos (dor óssea persistente,
com aparência de moldura de quadro), com ampliação compressão nervosa, fraturas repetidas, insuficiência cardíaca
óssea (devido ao aumento do osso cortical subperiosteal). ...), e entre aqueles assintomáticos as indicações para tratamen-
to são as seguintes:
–– Análises laboratoriais
O hemograma e a VS não estão alterados. Pode ser encontra- –– Comprometimento vertebral, dos ossos longos e base do crâ-
da calciúria, mas só raramente hipercalcemia. Os parâmetros nio.
bioquímicos de formação (fosfatase alcalina, osteocalcina, –– Lesões líticas.
pró-colágeno) e reabsorção óssea (fosfatase ácida, piridinoli-
na, deoxipiridinolina e hidroxiprolina) estão geralmente eleva- –– Pacientes jovens com envolvimento articular.
dos. –– Prevenção de artropatia.
–– TAC.
O tratamento de eleição consiste em bifosfonatos, mas a cal-
–– Biópsia óssea (diagnóstico diferencial, se houver suspeita de citonina também é usada.
eventual presença de um sarcoma).
–– Cintigrafia óssea com bifosfonatos marcados com Tc- 99
para determinar a extensão da doença, pode ser usada tam- Lembre-se…
bém na avaliação inicial da doença. A doença de Paget geralmente ocorre de forma assintomática. É a
causa mais frequente de aumento da fosfatase alcalina nos idosos.
lsso faz com que em muitos pacientes assintomáticos seja
diagnosticada durante as consultas de rotina, detetando-se
aumento de fosfatase alcalina.
A bacia é o osso mais afetado em Paget.
A doença de Paget pode causar estenose aórtica (ao contrário de
outras doenças reumáticas associadas à insuficiência aórtica).

Figura 4. Osteoporose circunscrita à rótula.

Figura 5. Padrão vertebral num caso típico de Paget.

87
Capítulo 13
Abordagem ao doente CO
C
com disfunção sexual
D

13.1. Disfunção Sexual Masculina Distúrbios neurológicos


A abordagem ao doente com disfunção sexual masculina é (e.g. AVC, lesão medular, Doença cardiovascular
explanada no manual de Urologia. parkinsonismo)

Distúrbios endocrinológicos Fatores psicológicos (e.g.


(diabetes, hipogonadismos, eventos de vida stressantes,
13.2. Disfunção Sexual Feminina hiperprolactinemia) história de abuso sexual)

Medicações (e.g.
Outros: trauma local, cirurgia
Classificação antiestrogénicos, antagonistas
genital, irradiação pélvica,
da GnRH, antiandrogénicos,
É possível classificar a disfunção sexual feminina segundo a sua insuficiência renal e hepática,
bloqueadores dos canais de
etiologia em 4 grandes áreas, não mutuamente exclusivas. Para etilismo, tabagismo
cálcio, antidepressivos)
se poder considerar que se trata de uma verdadeira situação de
disfunção sexual, qualquer uma das áreas a seguir enumeradas
Quadro 1. Principais fatores de risco para a disfunção sexual femi-
tem de estar obrigatoriamente associada a uma sensação de
nina.
“mal-estar”/insatisfação na mulher:
–– Desejo Sexual Hipoativo – Ausência persistente ou recor-
rente de pensamentos sexuais e/ou recetividade a atividade
sexual. Pode ter uma causa endocrinológica, psicológica ou
emocional. Abordagem à doente
–– Perturbação da Excitação Sexual – Inabilidade persistente
ou recorrente para atingir ou manter excitação sexual. História clínica
–– Perturbação do Orgasmo – Perda persistente ou recorrente Interrogar hábitos medicamentosos; antecedentes médicos,
da capacidade de atingir o orgasmo após suficiente estimula- cirúrgicos, psicológicos, obstétricos, ginecológicos; história
ção sexual e excitação. sexual e contexto social. Atentar nas principais doenças que
–– Perturbação de Dor Sexual – Dor genital persistente ou podem cursar com disfunção sexual – diabetes (vasculopatia,
recorrente que inviabiliza o coito. Inclui o vaginismo e a dis- neuropatia), doença cardiovascular, doenças ginecológicas,
pareunia. depressão, ansiedade, doenças neurológicas.

De todas, as perturbações do desejo sexual e da excitação Exame físico


sexual (incluindo falta de lubrificação) são as mais frequentes.
Não esquecer de incluir exame da genitália (incluindo clítoris)
e do pavimento pélvico (identificação de prolapsos ou outras
Fatores de risco patologias estruturais).
Os fatores de risco para a disfunção sexual feminina são
semelhantes aos descritos para a masculina: doenças cardio- Exames laboratoriais
vasculares, doenças endocrinológicas, doenças neurológicas, Doseamento de estradiol, FSH, LH. Ponderar dosear androgé-
distúrbios psicológicos e hábitos tabágicos e medicamentosos. nios, hemograma, função renal e hepática e perfil lipídico.

88
Capítulo 14
CO
Tumores neuroendócrinos C
D

Constituem um grupo heterogéneo de neoplasias que têm ori- –– Médico.


gem nas células neuroendócrinas derivadas da crista neural, nas Refeições frequentes com hidratos de carbono de absorção
glândulas endócrinas e de outras estruturas histológicas simila- lenta para evitar hipoglicemia, diazóxido, acarbose/verapamil
res. Essas células dividem-se durante o desenvolvimento embrio- (diminuem a absorção intestinal de hidratos de carbono) e
nário para todo o organismo e, portanto, estas neoplasias octreótido. Na doença metastática: quimioterapia com
podem encontrar-se em vários órgãos. estreptozotocina e doxorrubicina; everolimus.
Alguns marcadores plasmáticos destes tumores são: cromo-
granina A e enolase neurónio específica. No estudo anatomo-
patológico a coloração para a cromogranina ou sinaptofisina
14.3. Glucagonoma
sugerem a origem neuroendócrina. Deriva das células α do pâncreas e produz glucagon. Geralmen-
São tumores neuroendócrinos: cancro de pulmão de peque- te é grande (> 5 cm), único, localizado no pâncreas (cauda) e
nas células, feocromocitoma, neuroblastoma, tumores endó- apresenta comportamento maligno, podendo manifestar-se
crinos pancreáticos (insulinoma, glucagonoma ...), carcinoi- com metástases hepáticas no diagnóstico.
des, carcinoma medular da tiroide. Neste capítulo vão ser
abordados tumores neuroendócrinos pancreáticos e o tumor
Sinais clínicos
carcinoide.
Determinados por excesso de glucagon, originando a síndrome
dos 4D: diabetes (sem cetoacidose), dermatite (eritema migra-
14.1. Gastrinoma tório necrolítico), depressão, trombose venosa profunda (deep
vein trombosis). Também é frequente apresentar anemia e per-
da de peso.
(Estuda-se em gastroenterologia e Cirurgia Geral)

Diagnóstico
14.2. Insulinoma
–– Aumento dos níveis de glucagon basal (geralmente> 1.000
ng / l).
É um tumor derivado das células beta do pâncreas que secre-
tam insulina. Nas crianças deve-se distinguir da nesidioblasto- –– Localização. TC ou RM abdominal, cintigrafia com octreótido
se. Em geral é pequeno e único (no MEN 1 tendem a ser múl- (octresocan), eco-endoscopia, PET com Gálio 68 Dotatoc,
tiplos), está localizado no pâncreas e apresenta um arteriografia ...
comportamento indolente (crescimento lento e sem metásta-
ses ao diagnóstico). Um dado a favor de malignidade é a inva- Tratamento
são da veia mesentérica inferior.
A cirurgia é curativa nas formas localizadas. Na doença metás-
Sinais clínicos tica, o octreótido melhora os sintomas (especialmente a derma-
tite), quimioterapia ou quimioembolização. A dermatite pode
–– Hipoglicemia em jejum, com prevalência de sintomas neuro- melhorar com zinco e aminoácidos.
glicopénicos.
–– Aumento de peso devido ao hiperinsulinismo crónico e
aumento da ingestão de glicose para evitar hipoglicemia. 14.4. Somatostatinoma
Derivado de células δ pancreáticas e produz somatostatina. Ten-
Diagnóstico dencialmente é único, grande e apresenta-se com metástases
hepáticas no diagnóstico. Geralmente é pancreático podendo
–– Exame de jejum (72 horas). também localizar-se no intestino delgado.
O diagnóstico é confirmado se houver altos níveis de insulina
plasmática em relação à glicemia (glicose <45 mg / dl com
sintomas de hipoglicemia, relação insulina / glicemia> 0,3). Sinais clínicos
–– Localização (difícil dado o seu pequeno tamanho). A somatostatina é um potente inibidor da secreção hormonal e
TC ou RM abdominal, arteriografia seletiva, amostra venosa pode provocar diabetes adquirida, ainda que ligeira, devido ao
portal trans-hepática, ecografia endoscópica ou intraoperató- efeito inibitório da somatostatina quer na insulina quer no gluca-
ria (exame mais sensível). gon. A estase biliar, secundária à inibição da vesícula biliar, é
responsável por litiase biliar. A motilidade biliar e intestinal altera-
da associada à reduzida secreção pancreática são responsáveis
Tratamento
pela diarreia e esteatorreia. Também pode manifestar-se com
–– Cirúrgico anemia hipocrómica, perda de peso e hipocloridria.
A remoção do tumor é o tratamento de eleição. Se o tumor A tríade clássica de diabetes / colelitíase / diarreia- esteatorreia
não for encontrado pode ser ponderada pancreatectomia pode, no entanto, ser acrescida também por outras manifesta-
parcial. ções clínicas, secundárias à desregulação de outras hormonas.

89
Manual APNA · Endocrinologia

Diagnóstico Sinais clínicos


–– Doença localizada.
Valores elevados de somatostatina.
No intestino delgado podem causar dor abdominal (50%),
obstrução intestinal (30%) ou hemorragia digestiva (10%).
No apêndice, são geralmente assintomáticos e encontrados
Tratamento
incidentalmente durante a apendicectomia por outra causa.
O octreótido ajuda a controlar os sintomas. Nas formas locali- –– Síndrome carcinoide (por hipersecreção de serotonina).
zadas o tratamento é a cirurgia com colecistectomia. Na pre- Rubor facial (95%) (figura 1), diarreia secretora (80%), car-
sença de metastização, realiza-se terapêutica sistémica com diopatia valvular direita (por fibrose endocárdica, mais fre-
quimioterapia. quentemente insuficiência tricúspide) e broncoespasmo.
São necessárias grandes quantidades circulantes de seroto-
nina para desencadear o quadro. Ocorre nos tumores extrain-
14.5. Vipoma testinais ou intestinais com metástases hepáticas. No caso dos
carcinóides intestinais localizados, a serotonina libertada é
Tumor que secreta o peptídeo intestinal vasoativo (VIP). Origi- metabolizada no fígado e não atinge a circulação sistémica.
na-se das células δ do pâncreas, é grande, único e frequente- –– Pelagra (défice de niacina, provocado pela diminuição de trip-
mente maligno. tofano que é utilizado para sintetizar serotonina).
Síndrome 3D “demência, dermatite em áreas foto-expostas e
diarreia”.
Sinais clínicos

Síndrome de Werner-Morrison Diagnóstico


Também chamado de cólera pancreática ou síndrome de WDHA –– Aumento dos níveis de serotonina e seus derivados.
(watery diarrhea with hypokalemia and achlorhydria). Diarreia De eleição o doseamento de ácido 5-hidroxi-indolacético
secretora (> 3 l / dia, não resolvendo com jejum) com desidrata- (5HIIA) na urina 24h, assim como o doseamento da serotoni-
ção e alterações hidroeletrolíticas secundárias (hipocaliémia, na e 5- hidroxitriptofano (5HT e 5HTP).
hipoclorémia, acidose metabólica com anion gap normal, insu-
–– Localização.
ficiência renal).
TC, octreoscan (mais de 75% destes tumores apresentam
Também se pode verificar hiperglicemia, hipercalcemia, hipofos- recetores de somatostatina).
fatemia e hot flashes.
Tratamento
Tratamento –– Cirurgia na doença localizada gastrointestinal.
–– Na doença metastática realiza-se octreótido, TKI (inibidores
É importante corrigir a desidratação e as alterações eletrolíticas. da tirosina kinase) e inibidores da mTOR.
A síndrome responde a octreótido/ lanreótido +/- glucocorticoi- –– Controlo sintomático com antidiarreicos (loperamida), anti-his-
des. A cirurgia é curativa na doença localizada. Na doença tamínicos (rubor) ou broncodilatadores (se broncoespasmo).
metastática, realiza-se quimioterapia ou quimioembolização.
(Ver Quadro da próxima página)

14.6. Tumor carcinoide

É o tumor neuroendócrino mais frequente do sistema digestivo


(na maioria dos casos, tem origem nas células enterocromafins).
Secreta sobretudo serotonina (com menos frequência ACTH,
ADH ...).

Localização

–– A localização mais comum dos carcinoides intestinais é o


apêndice, seguida do intestino delgado (especialmente íleo) e
do cólon.
Os carcinóides apendiculares são geralmente pequenos (<1
cm) e têm comportamento benigno. Os do íleo e cólon são
frequentemente grandes (> 2 cm) e apresentam comporta-
mento maligno (disseminação local linfática ou hematogénica
para o fígado).
–– Os carcinoides extraintestinais são raros e localizam- se prin-
cipalmente nos brônquios (carcinoide brônquico, não relacio-
nado com tabaco). Figura 1. Rubor facial e do pescoço num paciente com síndrome carcinoide.

90
Capítulo 14 · Tumores neuroendócrinos

INSULINOMA GLUCAGONOMA SOMATOSTATINA VIPOMA

Células δ
Células ß Células α Células δ
ORIGEM E 40%extra-pancreátios (2ª
Corpo e cauda do pâncreas Corpo e cauda do pâncreas 10-15% intestinal
LOCALIZAÇÃO loc.Intestino delgado) Tumor
10% são múltiplos Tumor único Tumor único
único

Grande e maligno 75%


Pequeno e benigno Grande e maligno
COMPORTAMENTO metástases ao dx (sinais Grande e maligno
(sinais clínicos precoces) (sinais clínicos tardios)
clínicos tardios)

HORMONAS Insulina Glucagon Somatostatina VIP

MEN I Frequente Ocasional Não Raro

Síndrome dos 4 D: Cólera pancreática ou


Por efeito inibidor de SS:
Diabetes (sem cetoacidose) síndrome Werner-Morrison:
Diabetes
DADOS CLÍNICOS Hipoglicemia em jejum Depressão Dermatite Diarreia secretora
Colelitíase
Aumento de peso (eritema Hipocaliémia
Esteatorreia
necrolítico migrante) Hipocloridria
Diarreia
Deep vein thrombosis Acidose metabólica

Teste em jejum 72h:


DIAGNÓSTICO Níveis elevados de
↓glicemia ↑insulina Glucagon basal >1.000 Níveis elevados de VIP
BIOQUÍMICO somatostatina
↑peptídeo C

DIAGNÓSTICO TC ou RM abdominal, arteriografia seletiva, ecoendoscopia,


LOCALIZAÇÃO ecografia intra-operatória, amostra venosa portal trans-hepática, octreoscan

TRATAMENTO Refeições frequentes Dermatite: zinco


Pág. 83 Correção hidro-eletrolítica
SINTOMÁTICO Diazóxido e aminoácidos Octreótido Octreótido +/-
Octreótido Octreótido glicocorticoides

TRATAMENTO DOENÇA. Cirurgia Cirurgia Cirurgia + colecistectomia Cirurgia


LOCALIZADA

Terapia com radiofármacos (Lutécio ou ítrio)


DOENÇA Terapias alvo (sunitinib, everolimus)
DOENÇA METASTÁTICA Quimioterapia (regime baseado na estreptozotocina o temozolamida)
Quimioembolização arterial hepática

Quadro1. Tumores neuroendócrinos pancreáticos.

Lembre-se…
Entre os tumores neuroendócrinos do pâncreas,o insulinoma é
geralmente pequeno e benigno («insulinoma é insípido»);
enquanto todos os outros são geralmente malignos e grandes (e
também tumores únicos).
Esses tumores podem secretar vários peptídeos simultaneamente,
mesmo que alguns deles não sejam ativos.
Os tumores neuroendócrinos pancreáticos podem estar associados
à MEN 1 (juntamente com adenomas hipofisários e
hiperparatiroidismo).
O tumor carcinoide não se localiza no pâncreas e raramente está
associado a MEN 1. Não se deve confundir a síndrome carcinoide
(rubor, diarreia, broncoespasmo e valvulopatia direita, derivados
serotoninérgicos na urina) com o feocromocitoma (sudorese,
palpitações, cefaleia e hipertensão, derivados catecolaminérgicos
na urina).

91
Capítulo 15
Distúrbios endócrinos múltiplos CC

15.1. Neoplasias endócrinas múltiplas MEN 2 -A ou síndrome de Sipple

Distúrbios genéticos nos quais aparecem neoplasias em vários - Carcinoma medular da tiroide (CMT) (90-100%).
órgãos endócrinos, causando síndromes de hipersecreção hor- É sempre a primeira manifestação. Geralmente é multicêntri-
monal. co e bilateral. Costuma manifestar-se na infância. Existe uma
progressão histológica de hiperplasia para CMT. É menos
–– MEN 1 ou síndrome de Wermer.
agressivo do que o esporádico. Antes da cirurgia, é necessário
Tumores da paratiroide, pâncreas e hipófise.
excluir feocromocitoma.
–– MEN 2
–– Feocromocitoma (50%).
Carcinoma medular da tiroide, feocromocitoma e tumores da
Quase sempre intra-supra-renal, com uma predominância de
paratiroide.
secreção de adrenalina relativamente à noradrenalina (fre-
• MEN 2A.
quentemente com ausência de hipertensão arterial). O trata-
Com fenótipo normal.
mento cirúrgico consiste em adrenalectomia unilateral ou
• MEN 2B.
imediatamente bilateral (os tumores unilaterais diagnostica-
Com ganglioneuromas e hábito marfanoide.
dos têm uma probabilidade de 50% de reincidência contrala-
Características teral nos próximos 10 anos).
–– As células envolvidas pertencem ao sistema neuro- endócrino –– Hiperparatiroidismo (20-30%). Geralmente é por hiperplasia.
difuso.
Derivam da crista neural e produzem peptídeos e aminas
endógenas.
–– Progressão histológica.
Hiperplasia → adenoma ou carcinoma.
–– Multicêntricos
Reincidência após a cirurgia. Herança autossómica domi-
nante.

MEN 1 ou síndrome de Werner


–– Hiperparatiroidismo (80-100%).
É a manifestação mais comum em indivíduos com MEN 1 e
geralmente a mais precoce. Ao contrário dos casos esporádi-
cos, geralmente deve-se a hiperplasia em vez de adenomas
(recidivas frequentes após a cirurgia). Podem apresentar
nefrolitíase recorrente.
–– Tumores pancreáticos (80%). Figura 1. Feocromocitoma num paciente com MEN 2-A
Os mais frequentes são os gastrinomas, seguidos dos insuli-
nomas. No entanto, a secreção mais frequente é a do poli-
peptídeo pancreático (PP), já que na maioria dos casos produ-
zem várias hormonas diferentes. Geralmente manifestam-se MEN 2-B
contemporaneamente ao envolvimento das paratiroides.
–– Tumores hipofisários (50-60%). –– Ganglioneuromas mucosos (quase 100% dos casos).
O prolactinoma é o tumor hipofisário mais comum em MEN1, Manifestação mais precoce, aparecem no rosto, na língua, no
seguido pelo GHoma. aparelho digestivo.
–– Genética de MEN-1. –– Hábito marfanóide.
O defeito é encontrado no cromossoma 11 (hereditariedade Pectus excavatum, cifose dorsal, membros longos e finos.
AD) onde se encontra um gene supressor tumoral produtor –– Carcinoma medular da tiroide (100%).
de uma proteína chamada menina, que controla o crescimen- Mais agressivo que MEN 2-A e esporádico (pode apresentar
to, a diferenciação e a morte celular. metástases mesmo antes do primeiro ano).
–– Feocromocitoma (50%)
–– Rastreio.
• Análise genética ao sangue da família para detetar porta- Genética de MEN 2
dores do gene.
• Portadores do gene. O proto-oncogene RET (cromossoma 10) é responsável pelos
Efetuar uma vez por ano o controle de PRL, IGF-1, cromo- carcinomas medulares da tiroide (CMT) familiares, nas suas três
granina A, glicose basal, insulina, pró-insulina, glucagon, variantes: MEN 2-A, MEN 2-B e carcinoma medular da tiroide
gastrina, cálcio sérico e PTH. Realizar a cada 3 anos uma familiar (CMTF). Também é encontrado em 8-25% dos leucóci-
tomografia computadorizada do abdómen / octreoscan / tos dos pacientes com CMT aparentemente esporádicos.
RMN abdominal e a cada 3-5 anos RMN da hipófise. As suas implicações clínicas são hoje, principalmente, duas:

92
Capítulo 15 · Distúrbios endócrinos múltiplos

–– A presença de oncogene RET nos leucócitos de um CMT teo- para a doença e o seu aparecimento ocorre na idade adulta. Tam-
ricamente esporádico converte-o num CMT familiar e obriga bém são mais frequentes no sexo feminino e são mais difundidas,
a fazer despiste individual de feocromocitoma e despiste em particular a SPA tipo III, que é a mais comum.
familiar de MEN 2 e CMTF.
–– Estudo genético familiar. SPA tipo I (ou síndrome de Withacker)
Estudo genético para a identificação do proto-oncogene RET Candidíase mucocutânea (90%), hipoparatiroidismo
no sangue periférico. Está indicado em parentes de primeiro (82%), Doença de Addison (67%), Diabetes Mellitus
grau de MEN 2-A, 2-B ou CMTF. Nos filhos de MEN 2-B, deve (52%). Outras possíveis patologias auto-imunes que podem ser
ser realizado o mesmo, mesmo que não apresentem o fenó- associadas: alopécia (32%), má absorção por enteropatia autoi-
tipo. A ausência de oncogene RET nos descendentes de um mune (22%), hipogonadismo (15-60%), patologia tiroideia
caso de MEN 2 exclui a transmissão da doença, enquanto que (15%), anemia perniciosa (13%), vitiligo (9%), Insuficiência
a sua presença obriga a rastrear CMT e feocromocitoma. Ovárica Primária, queratite bilateral, hepatite por AI, pneumonia
A atitude a ter com os portadores do proto-oncogene RET: por AI, nefrite por AI, pancreatite por AI e asplenia funcional AI.
Candidíase mucocutânea, hipoparatiroidismo e a doença de
–– Prevenção de CMT.
Addison geralmente aparecem nesta ordem cronológica e estão
Não se deve aguardar pela progressão, é aconselhável realizar
quase sempre presentes. No entanto, a presença de dois dos
tiroidectomia profilática total após 5 anos (antes realizava-se
três é suficiente para o diagnóstico ou mesmo apenas uma em
apenas no caso de MEN 2-B), excluindo primeiro feocromocito-
caso de história familiar de SPA.
ma e CMT ativo. A tiroidectomia profilática depois de descartar
o CMT ativo tem taxas de cura de 95-100%. Nem todas as
SPA tipo II (ou síndrome de Schmidt)
mutações RET são indicações para cirurgia profilática imediata.
As mutações do exão 10 e 11 (as mais frequentes, especialmen- Doença de Addison (100%), patologia tiroideia (69%),
te a c634 do exão 10, responsável por 95% das síndromes de Diabetes Mellitus (pode existir ou não).
MEN 2) e da 13 e 16 têm penetrância total para o CMT (mas Outras possíveis doenças auto-imunes que podem ser associa-
apenas 25-50% para feocromocitoma), todos os pacientes aca- das são: Hipogonadismo (5%), vitiligo (5%), miastenia gravis
bam por desenvolver a doença e de forma precoce e, por essa (1-5%), Anemia perniciosa (1%), doença celíaca, alopécia e
razão, operam-se precocemente. Pelo contrário, as mutações do insuficiência ovárica primária (IOP).
exão 14 e 15 estão associadas ao CMTF (não a MEN2) e têm um A insuficiência adrenal está sempre presente e frequentemente
penetrância incompleta, recomendando-se, portanto, despista- constitui o quadro clínico do aparecimento, mesmo que a
gem biológica do CMT com exame de calcitonina / pentagastri- ordem cronológica de aparecimento seja mais variável relativa-
na e operação mais tardia, após 20 anos. mente à SPA de tipo I.
–– Realização do despiste de feocromocitoma. Controle de cate- A doença tiroideia pode manifestar-se como doença de Base-
colaminas urinárias uma vez por ano. dow ou como tireoidite linfocítica crónica de Hashimoto. Está
–– Despiste de hiperparatiroidismo. relacionada com o sistema HLA.
Controle de calcemia duas vezes por ano durante toda a vida,
se MEN 2-A. SPA tipo III
Em famílias com hereditariedade comprovada de CMT, nas Doenças AI da tiroide (100%) associadas a outras mani-
quais a mutação do proto-oncogene RET não foi encontra- festações não incluídas nos quadros anteriores.
da, deve realizar-se o despiste de CMT através do doseamento É a SPA mais frequente e caracteriza-se pela associação entre
de calcitonina após estimulação com pentagastrina (uma vez uma doença autoimune da tiróide e outras doenças autoimunes
por ano). de órgão específicas com a exclusão da doença de Addison.
Subclassificação:

15.2. Síndrome Poliglandular Autoimune (SPA) –– Spa IIIA:


Tiroidopatia autoimune +Endocrinopatias
A presença simultânea de duas ou mais patologias endócrinas –– SPA IIIB:
autoimunes determina o quadro das síndromes poliglandulares Tiroidopatia autoimune + gastrite crónica com ou sem ane-
autoimunes (SPA), uma doença autoimune órgão-específica mia perniciosa.
caracterizada pela presença de auto- anticorpos circulantes. –– SPA IIIC:
Embora historicamente estivessem diferenciadas em dois qua- Tiroidopatia autoimune + dermopatia, neuropatias e hemo-
dros sindrómicos (SPA-I e SPA-II), atualmente, estão subdividi- patias.
das em quatro grupos com base nas diferentes manifestações –– SPA IIID:
clínicas que as caracterizam, embora, na realidade, só em alguns Tiroidopatia autoimune + colagenopatias, reumopatias e vas-
casos essas manifestações se desenvolvam de forma síncrona e culites.
permaneçam inalteradas no tempo. Por este motivo, o paciente
pode ser inserido num tipo de SPA numa primeira avaliação e, SPA tipo IV
logo que as condições clínicas se alterem, ser enquadrado numa
Tiroidopatia autoimune associada a outras doenças endócrinas
outra SPA.
não descritas nas SPA anteriores. Combinações que não entram
A SPA de tipo I é determinada pela mutação de um único gene no SPA I-II-III.
envolvido na regulação do sistema imunológico (AIRE, gene
regulador autoimune), é transmitido de forma autossómica
recessiva e manifesta-se precocemente. É muito raro e afeta Diagnóstico
igualmente ambos os sexos. Em outras síndromes pelo contrário, O diagnóstico é baseado na clínica e na detecção de autoanti-
há inúmeros fatores que conferem predisposição ou proteção corpos orgão-específicos. Se se suspeitar de uma SPA do tipo I,

93
Manual APNA · Endocrinologia

por história familiar ou por razões clínicas, é necessário realizar No entanto, embora teoricamente uma doença autoimune se
um exame genético. possa associar com qualquer outra doença autoimune, devemos
pensar que existem combinações preferenciais.
Clínica
Terapia
Os sintomas das várias SPAs estão intimamente ligados às endo-
crinopatias que as caracterizam, além de se poderem dever a Atualmente, a abordagem terapêutica é sintomática para cada
outras doenças endócrinas autoimunes associadas (hipogona- endocrinopatia (geralmente consiste na reposição da hormona
dismo primário, hipofisite autoimune, POF, etc.). Também é fre- secretada pela glândula danificada) e a monitorização dos sin-
quente a associação com patologias autoimunes órgão-especí- tomas é essencial. Em particular, em pacientes com insuficiência
ficas não endócrinas (vitiligo, alopécia, doença celíaca, gastrite adrenal auto-imune, recomenda-se repetir a triagem para doen-
atrófica crónica, hepatite autoimune, etc.). Portanto, é impor- ças da tiroide e diabetes a cada 5 anos, porque 50% deles sub-
tante suspeitar de uma síndrome autoimune poliendócrina tam- sequentemente desenvolvem uma SPA tipo II.
bém na presença de qualquer associação entre estas doenças.

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Valores normais em endocrinologia

Em endocrinologia é mais importante conhecer os valores limite Não é necessário conhecer as unidades de medida, com exceção
de diagnóstico hormonal relativamente aos valores normais. daquelas especificadas.

CONCEITO VALORES NORMAIS


Microadenoma/macroadenoma hipofisário (cm) <1 / >1

Dx acromegalia: níveis de GH após TOTT >1(RIA) / >0,4(IRMA)

Prolactina NORMAL <25

HiperPRL “provavelmente funcional” 25-100

HiperPRL “provavelmente por prolactinoma” >100

TSH NORMAL 0,5-5

Cushing ACTH dependente/independente >20 / <5

Cortisol livre urinário positivo rastreio/confirmação >100 / >300 ou 3x o limite NORMAL

Nugent positivo (DXM 1mg) >1,8

Liddle positivo (DXM 2 mg) >1,8

Liddle forte (DXM 8 mg) Suprime >50%

Cortisol salivar 23 h positivo >0,33

Cortisol plasmático basal 23 h positivo >7

Cateterismo seios petrosos positivo (hipofisário) Relação >2 (>3 com CRH)

Cortisol plasmático basal 9 h (Addison) positivo <3 (>18 exclui)

Cortisol plasmático após ACTH (Addison) positivo <18

Glicemia basal NORMAL/alterada em jejum /DM (mg/dl) <100 / 100-125/ ≥126

TOTG normal/intolerância a HC/DM (mg/dl) <140 / 140-199 / ≥200

HbA1c normal/pré-diabetes/DM (%) <5,7 / 5,7-6,4 / ≥6,5

Cálcio sérico total (mg/dl) adequar com base na albumina! 8,1-10,4

IMC
Baixo <18,5
Normal 18,5-24,9
Sobrepeso I/II 25-26,9 / 27-29,9
Obesidade I/II 30-34,9 / 35-39,9
Obesidade III/IV 40-49,9 / >50

Perímetro addominal normal (cm) <94 homem / <80 mulher

Obesidade addominal (cm) ≥102 homem / ≥89 mulher

Colesterol total normal (mg/dL) <200

LDL normal (mg/dL) Com base no objetivo

HDL normal (mg/dL) >40 homem / >50 mulher

Triglicéridos normais (mg/dL) <150 (homem se >200)

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Bibliografia

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NOC DGS 018/2013
• Prescrição da Osteodensitometria na Osteoporose do Adulto
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NOTAS
NOTAS

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